RELACIONANDO O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS

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ISSN 1678-8419 publicado em 01/11/2008

BLOGS: RELACIONANDO O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS COM AS SITUAÇÕES REAIS DA COMUNIDADE Catiane Mazzoco Paniz catianemail@yahoo.com.br Vanessa dos Santos Nogueira snvanessa@gmail.com

INTRODUÇÃO O blog é hoje uma forma de publicação na web de fácil acesso que oferece opções de se trabalhar além do conteúdo, mas também a autonomia, o respeito pela opinião do outro, o trabalho em equipe, construção coletiva e a inclusão social. O blog é um ambiente aberto, não foi desenvolvido para um uso educacional, mas se afirmamos que a educação deve preparar o aluno para a vida, e oferecer situações que o aluno seja capaz de resolver problemas e fazer escolhas os blogs podem ser um meio de se trabalhar os valores, esse contato com uma comunidade virtual que nos apresenta diversas escolhas, que além do conteúdo a ser desenvolvido podemos aproveitar a tecnologia para aproximar pessoas, que a máquina pode ser utilizada pra expressar sentimentos. Atrás do computador têm uma pessoa com emoções, medos, angústias, sonhos e conhecimentos a compartilhar. O uso de ferramentas como o blog para aumentar o interesse pela aula é extremamente significativo, mas também muito complexo, porque não existem receitas prontas de como fazer funcionar de forma eficaz. É um exercício de erros e acertos, mas que não deve ser deixado de lado, pois seu uso pode trazer benefícios para os educandos e auxiliar no processo de reflexão e construção do conhecimento. Também possibilita ao professor estar constantemente aperfeiçoando-se e refletindo sobre sua prática, já que os alunos questionarão mais, pois serão sujeitos do processo e não meros receptores. A utilização da tecnologia para favorecer o processo de ensino aprendizagem deve criar uma rede de informações favorecendo a construção do conhecimento. A reflexão sobre redes e sua natureza na sociedade humana é, deveras, bastante ampla, encontrando ressonância em todos os campos das ciências. Nesse sentido, é importante

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referenciar o que pensa CAPRA (1996) sobre esse assunto. Para o autor, a rede é um elemento intrínseco do ser humano, sendo parte da constituição do homem desde seu nascimento até sua morte. A essa idéia se soma a questão virtual que, paulatinamente, vem integrando a humanidade numa nova rede de relações que passa também a ser da nossa constituição e natureza. As comunidades virtuais são, nesse caso, um dos elementos desse fenômeno com explicações que transcendem o entendimento no campo da educação. DESENVOLVIMENTO Considerando a realidade que a escola está inserida desenvolvemos atividades relacionando o ensino de ciências com as situações reais da comunidade, assim as interações feitas nos blogs foram para divulgar o trabalho, mobilizar os alunos para participar das companhas de reciclagem de lixo, reaproveitamento do óleo de cozinha para fazer sabão, além de atividades que fizeram os alunos refletirem sobre o conteúdo da disciplina relacionado a temas atuais. A escola onde as referidas experiências foram vivenciadas está situada à Vila Pôrdo-Sol, numa região de ocupação, nascida da antiga fazenda Santa Marta, local que um grupo de famílias pertencentes ao Movimento Nacional de Luta pela Moradia ocupou em dezembro de 1991. Atualmente, o local é de propriedade do Estado do Rio Grande do Sul e está em processo de regularização fundiária. A escola nasceu com a intenção de transformar a vida e a situação das crianças e dos jovens, especialmente dos menos favorecidos, oferecendo-lhes uma educação integral, humana e espiritual, baseada em um amor pessoal para com cada um deles. Os alunos, em sua maioria só têm contato com a tecnologia do computador no ambiente da escola e este trabalho mostra aos educandos uma

nova visão

de

mundo, novas possibilidades e perspectivas.

Antes de iniciar o trabalho foi realizada uma pesquisa em diversos blogs utilizados para fins educacionais onde foi possível perceber o crescente número de professores que estão ingressando em comunidades virtuais em busca de conhecimento e atualização. O interesse dos alunos quando se deparam com as possibilidades oferecidas pelo ciberespaço, surgindo assim a questão de como aproveitar ao máximo esse recurso e quais as direções, guiados nessa reflexão pelo pensamento de CASTELLS (1999, p.436) sobre o surgimento de um novo sistema de comunicação global que “está mudando e

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mudará para sempre nossa cultura” atribuindo à tecnologia as mudanças culturais a ela associada.” É importante que os educadores estejam inseridos no seu contexto de trabalho e que consigam relacionar os conteúdos de ciências com a realidade na qual seus alunos vivem, pois desta forma, eles poderão ter voz ativa no processo de aprendizagem, pois terão, com certeza muitas coisa para falar. Outro fator importante é que os professores percebam que a utilização de vários recursos de ensino podem tornar suas aulas mais interessantes, participativa e conseqüentemente mais proveitosa pelos alunos, deixando assim, os conteúdos de ciências mais significativos. RESULTADOS Nas aulas de ciências a utilização do blog favoreceu discussões sobre a situação ambiental no mundo, do estado e principalmente sobre a comunidade em que os educandos vivem. Além disso, a utilização do blog possibilitou a integração dos educandos entre si, bem como entre os educandos e a professores e também a reflexão e utilização de outras formas de ensino pela professora.

A utilização de alternativas,

juntamente com uma formação continuada pode tornar as aulas mais interessantes e instigantes para os alunos, fazendo assim, que estes permaneçam na escola. Pode possibilitar ainda aos alunos tornarem-se pessoas mais críticas em relação aos acontecimentos do seu cotidiano, Também possibilitou aos alunos saírem do ambiente da sala de aula, o que para eles sempre foi motivo de alegria. Podemos observar a opinião dos alunos conforme os comentários no Blog: Descobrindo e Compartilhando (2008)

OI! Nós gostamos muito das atividades do laboratório de ciências, mas preferimos a atividade que fizemos do QUEIJO e do IORGUTE. Bom o que aprendemos com esse projeto foi ótimo para todos nós. O que mais gostamos de aprender foi a experiência dos fungos(Balão,fermento...). Uma das nossa sugestões para o próximo semestre é que tenhamos mais aulas práticas. Nós curtimos muito criar a paródia, mais precisamente fizemos sobre as bactérias, para falar com argumentos, gostamos porque tivemos que nos aprofundar melhor nos conteúdos do nosso tema(bactérias), nós tínhamos que resumir o conteúdo fazendo com que as palavras tivessem sentido e que rimassem uma com as outras. Com isso o conteúdo mal entendido foi esclarecido.

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Percebemos que a cada atividade que realizamos utilizando os blogs como uma fonte de interação entre alunos, professores e conteúdo eles se tornam mais críticos e autônomos, expressando seu pensamento com a consciência que sua participação será para enriquecer o trabalho do grupo. A utilização dos blogs favoreceu também aos educandos tornarem-se mais reflexivos e críticos em relação aos assuntos e notícias lidas e estudadas por eles, além de possibilitar a integração com outros educandos. CONCLUSÃO Conceber o ensino de ciências com outras características exige repensar os conteúdos que hoje são ensinados nas escolas, estabelecer novas relações, definir critérios para, selecionar, para fazer opções que o tornem significativo; exige, especialmente que o professor tenha clareza de que esta capacitando o aluno para um viver mais completo. Os saberes para ensinar, são aqueles que os professores constroem no processo de desenvolvimento pessoal e profissional, duram a vida toda e são mobilizados no seu cotidiano, quando estão às voltas com o ato de ensinar, criando estratégias de ação diferenciadas, construindo assim, a crítica no educando para que ele se perceba como um indivíduo questionador. Ensinar, tendo presente que os alunos já pensaram sobre o tema, ou sobe algo relacionado a ele, passa ser uma tarefa muito mais dinâmica e original do que aquela do professor enciclopédia. Segundo André Giordan (1996) as investigações em Didática das Ciências têm introduzido mudanças nas idéias existentes sobre o papel de quem aprende e nas definições de saber. Em geral, esses estudos lidam com a noção de um aluno ator, que constrói no curso de sua história social, seu saber. Este saber vai sendo construído a partir de interações que podem ser confrontos, integrações – entre as representações pessoais e informações obtidas nos diferentes contextos que vive (familiares, escolares...) Aturdido com os apelos da vida diária, as necessidades imediatas da escola, o professor, muitas vezes, sucumbe à rotina e opta pelo caminho mais fácil, pela metodologia mais à “mão”, muitas vezes, resumida ao que o livro didático propõe. O desejo de mudança da prática pedagógica se amplia na sociedade da informação quando o docente se depara com uma nova categoria do conhecimento, 4


denominada digital. Segundo Pierre Lévy (1993), “o conhecimento poderá ser apresentado de três formas diferentes: a oral, a escrita e a digital”. Embora as três formas coexistam, torna-se essencial reconhecer que a era digital vem se apresentando com uma significativa velocidade de comunicação A aquisição de informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, músicas, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor – o papel principal – é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Sobre a formação docente Nóvoa, afirma que: Portanto, uma perspectiva para a formação do professor é a formação-ação proposta: É preciso trabalhar no sentido diversificado dos modelos e das práticas de formação, instituindo novas relações dos professores com o saber pedagógico e cientifico. A formação passa pela experimentação, pela inovação, pelo ensaio de novos modos de trabalho pedagógico. E por uma reflexão crítica sobre a sua utilização. A formação passa por processos de investigação, diretamente articulados com as práticas educativas (1992, p.28).

Na perspectiva transformadora de uso das TIC’s na educação, o professor é desafiado a assumir uma postura de aprendiz ativo, crítico e criativo, constante pesquisador sobre o aluno, seu nível de desenvolvimento cognitivo, emocional e afetivo, sua forma de linguagem, expectativas e necessidades, seu contexto e cultura. A partir de uma mudança pessoal e profissional é que se começa a refletir sobre a mudança da escola tradicional para uma escola que incentive a imaginação, a leitura prazerosa,

a

escrita

criativa,

favorecendo

a

iniciativa,

a

espontaneidade,

o

questionamento e a inventividade, de maneira a promover e vivenciar a cooperação, o diálogo, a partilha e a solidariedade. Capra (1996) afirma há a necessidade de uma mudança radical em nossas percepções, no nosso pensamento e nos nossos valores. Porém, ainda não há há o reconhecimento da necessidade dessa mudança por parte dos líderes das corporações, nem dos administradores e professores universitário. Ele prega a mudança da visão de mundo mecanicista de Descartes e de Newton para uma visão holística, ecológica, sustentando que as únicas soluções viáveis, do ponto de vista sistêmico, são as sustentáveis, ou seja, aquelas que propõem soluções aso problemas sem inviabilizar as perspectivas das gerações futuras. O mundo, assim seria uma rede de fenômenos interconectados e interligados, e não uma coleção de objetos isolados. Parece evidente, então, como nos diz (Bruschi), que o olhar dos educadores tem de ultrapassar a “arvore’ que esta a sua frente para que possa atingir a visão mais totalizante da “floresta”.

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Cabe, desta forma, ao professor assumir o papel de protagonista da sua própria formação devendo refletir sobre sua própria prática para superar os obstáculos e aperfeiçoar o processo de ensino – aprendizagem, possibilitando assim um ensino mais reflexivo e autônomo. REFERÊNCIAS [1] BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, 20 de dezembro de 12996. [2] BRASIL. Ministérios da educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Brasília; MEC, 1998. [3] BRUSCHI, Odir. Ensino de Ciências e qualidade de vida: inquietações de um professor. Passo Fundo: UPF, 2002. [4] CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. Ed. Cultrix: São Paulo-SP, 1996. DESCOBRINDO E COMPARTILHANDO, Mundo Científico: Conhecendo os ser es vivos. Disponível em: <http://turmadasantamarta.blogspot.com/>. Acesso em: 05 de setembro de 2008. [5] FAZENDA, Ivani C. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. São Paulo: Papirus, 1994. [6] FERREIRA, Maria Beatriz. A lei 9394/96 e o contexto da formação do alfabetizador. In: RIBAS, Marina Holzmann (org.). Formação de Professores: escolas, práticas e saberes. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 2005. [8] LÉVI, Pierre. A inteligência coletiva. São Paulo: Loyola, 1998. [9] _____.As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática, São Paulo, 1993. [10] NEGROPONTE, Nicholas. A Vida Digital. São Paulo. São Paulo. Cia das Letras, 1995. [11] VALENTE, José Armando. O Computador na Sociedade do Conhecimento. Campinas: UNICAMP/NIED, 1999. _________. O uso inteligente do computador na educação. <htpp://www.proinfo.gov.br/> Acesso em: 01 de abril de 2007.

Disponível

em:

[12] VIEIRA, Martha Barcellos & LUCIANO, Naura Andrade. Construção e Reconstrução de um Ambiente de Aprendizagem para Educação à Distância. Disponível e <http://www2.abed.org.br/visualizaDocumento.asp?Documento_ID=28>. Acesso em: 05 de setembro de 2008. [13] KRASILCHIK, M. O professor e o currículo das ciências. São Paulo: EPU/EDUSP, 1987. [14] WORTMANN, M. L. Currículo e Ciências: as especificidades pedagógicas do ensino de ciências. In: COSTA, M. V. (org). O currículo nos limiares do contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

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