ESTUDO SOBRATEMA DO MERCADO BRASILEIRO DE EQUIPAMENTOS PARA CONSTRUÇÃO • 2012-17
Sumário
Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção 2012-17 Parte A ..............................................................................................................3 • Metodologia do estudo .......................................................................... 4 • Brasil no contexto mundial ..................................................................... 6 • Pesquisa Sobratema 2012-2013 ........................................................... 12 • Sondagem dos compradores ................................................................ 16 Brian Nicholson, MiniMax Editora Especializada Ltda., Consultor da Sobratema
Parte B ............................................................................................................21 • O mercado de máquinas de construção ............................................... 25 • Conjuntura econômica nacional ............................................................ 29 • Conjuntura econômica internacional .................................................... 44 • Principais mercados de equipamentos de construção .......................... 51 • Mercado na América Latina .................................................................. 72 • Mercado brasileiro: projeções até 2017 ................................................ 83 Rubens Sawaya, Insight Consultoria Econômica, Consultor da Sobratema
As opiniões refletidas nos comentários não representam, necessariamente, a posição da Sobratema.
São Paulo, Novembro, 2012
Copyright © Sobratema 2012
PARTE A • Metodologia do estudo • Brasil no contexto mundial • Pesquisa Sobratema 2012-2013 • Sondagem dos compradores
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Metodologia do Estudo Sobratema Agora no seu sexto ano, o Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção visa oferecer aos setores público e privado, à mídia e ao público em geral uma visão melhor do tamanho, importância e perspectivas de um segmento essencial da economia. Não se trata de uma simples contabilização da produção – o Brasil é produtor e exportador tradicional de algumas categorias de equipamentos – mas sim uma estimativa da demanda interna total. Ou seja: Produção nacional, menos exportação, mais importação. Importante também notar que o Estudo Sobratema abrange mais que os equipamentos de movimentação de terra (a chamada “linha amarela”); inclui também outros itens de peso nas compras do setor de construção como equipamentos de manuseio, guindastes e telehandlers. Contempla ainda as compras de equipamentos de construção pelos setores de mineração e agricultura, mas sem somar os equipamentos específicos destes setores, por exemplo, colheitadeiras. Também inclui uma estimativa da demanda, somente pelo setor de construção, de caminhões rodoviários – principal, mas não somente basculantes pesados e semi-pesados usados para transportar pedra e terra. Conduzido anualmente, o Estudo Sobratema recebe informações de várias fontes, e todas as informações quantitativas e qualitativas fornecidas pelas empresas são mantidas em sigilo. Assim, o Estudo calcula e divulga somente dados agregados, nunca market share. Além de oferecer um raio-x anual do setor, o Estudo Sobratema apresenta estimativas para o próximo ano, e projeções para crescimento ao longo dos próximos cinco anos, bem como uma estimativa do crescimento da frota, e uma ampla análise dos drivers econômicos relevantes. O Estudo Sobratema conta com a participação de muitas empresas atuantes no Brasil – fabricantes, importadoras e distribuidoras de equipamentos – bem como várias construtoras, mineradoras e empresas de rental. Também recebe a colaboração de associados individuais, e o apoio valioso dos diretores regionais da Sobratema.
O Estudo Sobratema • Começou em 2007 • Estudo de demanda no mercado brasileiro: “produção menos exportação mais importação” • Linha amarela + manuseio + caminhões + tratores de pneu • Inclui equipamentos de construção na mineração e agricultura • Inclui caminhões + tratores comprados pelo setor de construção • Feito anualmente em outubro; publicado novembro/dezembro • Baseado em fontes múltiplas • Dados das empresas são mantidas em sigilo • Não calcula nem divulga participação de empresas individuais (market share) • Projeção econométrica cinco anos (Rubens Sawaya)
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Estrutura institucional do Estudo Sobratema O Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção é conduzido para a Associação por consultores externos, com a supervisão do Grupo de Apoio Sobratema (GAS). Este grupo é composto de diretores voluntários da Sobratema que também são executivos em empresas de construção e outras empresas ligadas ao setor com larga experiência na área de equipamentos. Este grupo reúne ampla experiência e conhecimento do setor de equipamentos de construção, não somente no Brasil, mas também na América Latina, sendo que suas empresas atuam, hoje, em outros 10 países da região. E várias delas trabalham também em outros continentes. É relevante observar que os dados sigilosos das empresas que participam no Estudo não são repassados ao GAS, que recebe e avalia somente os dados agregados.
Grupo de Apoio Sobratema
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O mercado mundial Uma função do Estudo Sobratema é de situar o mercado brasileiro de equipamentos para construção dentro do contexto internacional. Dessa maneira, o Estudo oferece parâmetros importantes para as empresas, o governo e a mídia, e se tornou ainda mais importante devido ao crescimento do mercado brasileiro, à crise internacional e aos novos cenários do mercado global para equipamentos. O gráfico, que agrega principalmente equipamentos de movimentação de terra, e alguns equipamentos de manuseio e pavimentação, mostra como a demanda total global caiu do seu pico de 940 mil de unidades em 2007 para 690 mil em 2009. A recuperação se iniciou em 2010 e acelerou bastante em 2011, superando a marca pré-crise com volume total estimado em 1.020 mil. Mas sofreu um aparente revés em 2012. As estimativas e projeções – da consultoria britânica Off-Highway Research (OHR) – indicam que a demanda global voltou brevemente ao seu nível pré-crise em 2011, e estará de novo naquele nível, ou acima dele, a partir de 2013, com uma taxa de crescimento composto até 2016 de pouco menos de 4% ao ano. É um cenário que compara desfavoravelmente com os anos dourados de antes da crise, quando as vendas globais expandiram em quase 10% ao ano.
O mundo sofre uma nova queda Demanda mundial para equipamentos
Fonte: Off-Highway Research, Londres Inclui linha amarela (menos compactadores), e alguns equipamentos de manuseio e pavimentação Obs: O ponto mais alto do mercado mundial, em 2007, era estimado anteriormente em um milhão de máquinas, mas isso caiu para aproximadamente 940 mil após uma revisão estatística.
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A “queda” de 2012 As estimativas para o mercado mundial indicam uma queda em torno de 9% em 2012. Visto isoladamente, seria possível imaginar que tal queda serve como prenúncio de uma nova recessão no setor – a temida “double-dip” ou dupla recessão, com duas quedas intercaladas por uma breve e imperfeita recuperação. Mas, a queda em 2012 reflete essencialmente vendas bem acima do esperado em 2011, junto com a expectativa de uma reversão à trajetória prevista em 2013. A linha preta no gráfico indica as previsões anteriores para o mercado mundial, da mesma fonte, feitas no ano passado. Onde que o setor cresceu acima do esperado em 2011? Em muitos mercados, incluindo a Europa e a América do Norte, ambos com vendas da ordem de 25% a 30% acima do previsto, e na China, com vendas naquele ano em torno de 10% melhores. As vendas também voltaram com certa força em muitos outros mercados menores, supridos em boa parte por exportações em alta dos centros produtores de equipamentos.
Mas de fato, era o crescimento de 2011...
Fonte: Off-Highway Research, Londres Inclui linha amarela (menos compactadores), e alguns equipamentos de manuseio e pavimentação
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Raio-X mundial Os 925 mil equipamentos vendidos ao redor do mundo em 2012 (pela estimativa preliminar) representam um valor total aproximado de US$100 bilhões, o que daria uma média de aproximadamente US$108 mil cada. Este preço médio internacional seria algo como dois terços daquele percebido no Brasil. Pesam os encargos maiores no Brasil, mas também o preço muito menor na China, que corresponde a quase 40% da demanda global, e eventuais variações na composição do perfil de demanda em países diferentes.
O mercado mundial em 2012 (basicamente linha amarela) • 925 mil unidades (escavadeiras hidráulicas 39%; pás carregadeiras 24% • US$100 bilhões • O Brasil, hoje, representa em torno de 3% do mercado mundial
... e os grandes mercados • China: -22% em 2012; +7% em 2013; depois recuperação moderada- crescimento mais lento, com grande excesso de capacidade de produção • Índia +6% em 2012; +15% em 2013; depois crescimento firme • Europa: -10% em 2012; -6% em 2013; depois recuperação lenta • EUA: +6% em 2012; -5% em 2013; depois recuperação firme Fonte principal: Off-Highway Research, Londres Inclui linha amarela (menos compactadores), e alguns equipamentos de manuseio e pavimentação
O Brasil e as grandes economias mundiais O mercado de automóveis novos não espelha o mercado de equipamentos de construção – os drivers são bem diferentes – mas é um termômetro importante da saúde geral de uma economia. Isso porque, para adquirir um automóvel novo, o comprador comum precisa normalmente de três coisas: crédito, salário, e a confiança de que não vai perder o emprego. O gráfico traça as vendas mensais de automóveis e veículos leves novos no Brasil, nos Estados Unidos e na União Europeia (15 países), igualando os três mercados em forma de índice e usando as vendas médias de 2006 – último ano completo antes da crise – como base. As vendas são sempre a média móvel dos últimos 12 meses, para eliminar as grandes variações sazonais. Podemos ver que:
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• Os EUA já estavam com vendas em queda antes da crise, e caíram para 60% do seu nível pré-crise durante 2009. Desde então vem numa recuperação lenta, mas constante – reflexo da economia. • Inicialmente, as vendas na União Europeia (15 países mais antigos) resistiram mais que nos EUA, e nunca chegaram a cair tanto quanto naquele país, mas a recuperação ensaiada em 2009 logo perdeu força. Entraram de novo em lenta queda a partir de 2010 – reflexo dos conhecidos problemas do bloco. • O gráfico mostra que na segunda metade de 2012, a recuperação relativa da economia norte-americana ultrapassou a dos países europeus, com o agravante para os europeus de que as tendências são em direções opostas: recuperação lenta mas firme, contra declínio constante. • A economia brasileira – e as vendas de automóveis – quase parou no final de 2008 como reflexo da crise internacional. Mas o baque era de curtíssima duração, porque a economia nacional e o setor financeiro estavam essencialmente saudáveis e governo federal rapidamente tomou medidas de estímulo, e o mercado cresceu bem até 2011. Na segunda metade de 2012 as vendas reagiram aos novos estímulos oferecidos pelo governo. Mas, há uma diferença importante entre os dois estímulos – no primeiro, a economia em geral voltou rapidamente, mas em 2012 muitos setores não acompanharam o arranque anabolizado do setor automobilístico – entre eles, a construção e o setor de equipamentos. • O Brasil hoje tem mercado de automóveis quase duas vezes o tamanho de 2006, enquanto os Estados Unidos e a Europa continuam abaixo dos seus níveis pré-crise. É uma indicação de quanto está mudando o perfil da economia mundial, com reflexos inevitáveis para o setor de equipamentos.
História recente das economias: Brasil, EUA e EU-15 Desempenho econômico, pela ótica das vendas de automóveis
Fontes principais dos dados primários: Brasil, Anfavea; EUA, BEA; EU-15, ACEA. Brasil + EUA registro de automóveis e veículos leves; EU-15 só automóveis. Nacionais + importados. Sem ajuste sazonal. Elaboração: MiniMax Editora
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Distribuição do mercado mundial China recua um pouco As mudanças e tendências acima resumidas geraram uma enorme redistribuição no mercado global para equipamentos de construção. Como mostra o gráfico de composição percentual, a seguir, o mercado se transformou nos últimos anos. Em 2004 as duas maiores praças no Primeiro Mundo – Europa e América do Norte – somavam 51% da demanda global, enquanto os três grandes emergentes – Brasil, Índia e China – totalizavam 23%, sendo o Brasil somente 1% do total. Em poucos anos, a situação se inverteu. Estima-se que em 2011 a Europa e América do Norte responderam, juntas, por 25% do mercado mundial, enquanto os três grandes emergentes somaram 51%. Em 2010, bem no rastro da crise, o desequilíbrio era ainda maior: 24% contra 60%. Este realinhamento do mercado global já estava acontecendo de forma lenta mas natural e inevitável, devido ao crescimento das economias emergentes, principal mas não unicamente os bem conhecidos BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China. Mas a crise nas economias mais ricas, junto com o impacto bem menor na maioria dos grandes emergentes, foi como um choque sísmico no mercado global. No gráfico, fica claro que o peso principal das mudanças aconteceu num curto espaço de tempo, entre 2007 e 2010. Não há expectativa de o mundo voltar à situação pré-crise. O esperado era de uma recuperação lenta das economias mais atingidas, deixando o mercado mundial com a distribuição (em 2015, porque são sempre previsões de quatro anos) conforme mostrada na caixa da direita. Mas, 2012 trouxe um fato novo – a percepção de que as previsões iniciais quanto ao crescimento futuro do mercado chinês seriam superdimensionadas, ao mesmo tempo em que muitos mercados alcançaram um desempenho melhor que previsto em 2011. Assim, a participação da China no mercado mundial, que no auge de 2010 ficava em nada menos 51%, caiu para estimados 43% em 2011 e vem se encolhendo para “meros” 37% em 2016. Importante notar que não se trata de uma expectativa de diminuição absoluta no tamanho do mercado daquele país, mas sim do seu crescimento mais lento que o resto do mundo. O Brasil, neste quadro, ficou com 3% em 2011 e pode alcançar 4% em 2016 – a depender da confirmação das projeções de crescimento do setor no mundo, e também no Brasil – as taxas empregadas no Estudo Sobratema são descritas na Parte B deste relatório.
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A China ainda brilha, mas um pouco menos Variação anual na distribuição percentual do mercado mundial de equipamentos de construção
Inclui linha amarela (menos compactadores), e alguns equipamentos de manuseio e pavimentação Fontes: Off-Highway Research, Londres + dados brasileiros da Sobratema + Abimaq; elaboração MiniMax Editora
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Um mercado menor que o esperado A tabela mostra os principais resultados do Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção para 2012. Cabem vários comentários: • 2011: Os dados representam a estimativa final para aquele ano. O Estudo Sobratema sempre faz uma revisão das estimativas do ano passado, tendo em mão dados finais de várias fontes. Os ajustes mais significativos (em termos proporcionais) foram feitos nas categorias de retroescavadeiras e plataformas aéreas (ajustados para cima) e telehandlers e compressores portáteis (para baixo). Levando em conta todas as categorias, a revisão gerou um aumento de 3,2% na linha amarela, e um decréscimo de menos de 1% no total geral. • 2012 – linha amarela: As estimativas atuais para o ano em curso apontam para um mercado de 29.760 equipamentos – uma queda de quase 3%, comparado com a estimativa final para 2011. Isso contrasta com uma previsão, no Estudo Sobratema do ano passado, de crescimento de 9% neste segmento. Trata-se, portanto, de um erro de previsão de 12 pontos percentuais. As quedas maiores vieram nas categorias de motoniveladoras e rolos, não por coincidência equipamentos bastante empregados em obras rodoviárias, um setor com desempenho bastante aquém do esperado em 2012. • 2012 – total geral: A estimativa para 2012 foi rebaixada para 68.040 unidades, uma queda de 19% comparada com a estimativa final para 2011, e frente uma expectativa original de crescimento de em torno de 5%. Essa queda foi em maior parte resultado da queda forte nas vendas de caminhões rodoviários para o setor de construção, sendo que caminhões têm um peso grande no resultado final – entre 40% e 50%, a depender do ano. Após a forte antecipação das vendas de caminhões em 2011, devido à introdução este ano do Proconve-7, já era esperado um resfriamento das vendas em 2012. Mas, a marcha lenta geral da infraestrutura acabou gerando uma queda bem maior que o previsto. Também houve queda forte nos compressores e telehandlers (manipuladores), este um equipamento que aparentemente vai demorar mais que previsto para se firmar na cultura brasileira.
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Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção – 2012-13
Vendas internas (inclusive importados)
2011*
2012
%
Tratores de esteira
1.270
1.350
6
Retroescavadeiras
8.930
9.380
5
Pás carregadeiras
5.225
5.225
0
Escavadeiras hidráulicas (excluindo mini)
6.350
5.850
-8
Mini-escavadeiras (< 12 toneladas)**
800
950
19
Caminhões fora de estrada
170
250
47
Motoniveladoras
2.300
1.680
- 27
Rolos compactadores
2.300
1.610
- 30
Minicarregadeiras (skid steers)
3.300
3.465
5
30.645
29.760
-3
1.380
1.000
- 28
Gruas
320
330
3
Guindastes: lança treliçada e telescópica (exclui guindauto)
700
810
16
Plataformas aéreas
4.200
5.460
30
Telehandlers
1.000
600
- 40
Tratores de pneu**
3.100
2.650
- 15
Subtotal: demais equipamentos
10.700
10.850
1
Subtotal: principais equipamentos de construção
41.345
40.610
-2
Caminhões rodoviários**
42.200
27.430
- 35
Total: principais equip. de construção
83.545
68.040
- 19
Subtotal: linha amarela
Compressores portáteis
*2011 – dados revisados; **Estimativa da demanda na construção
13
Crescimento razoável em 2013 A tabela mostra as previsões do Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção para 2013. As projeções econométricas até 2017 aparecem no final da Parte B, após a análise econômica. Neste momento, é conveniente lembrar a metodologia do Estudo Sobratema. A projeção para o ano que vem se baseia principalmente na visão dos fabricantes e importadores de equipamentos que participam do Estudo, mas embute também informações e previsões de outras fontes e a visão dos consultores e dos membros do Grupo de Apoio Sobratema. Na maioria das categorias da linha amarela, as expectativas das empresas participantes eram positivas, variando entre 5% e 20%. Nas outras categorias de equipamentos houve uma variação maior de previsões – uma categoria, por exemplo, recebeu previsões entre 50% negativo e 53% positivo. É importante entender que as taxas individuais e gerais indicadas na tabela embutem, tanto por parte das empresas ouvidas, tanto por parte dos consultores e dos membros do Grupo de Apoio, uma avaliação do provável desempenho em 2013 dos vários setores demandantes de equipamentos de construção, que por sua vez implica em hipóteses sobre o crescimento econômico do país e, principalmente, o progresso (ou falta de) dos inúmeros projetos de infraestrutura. Mais informações sobre o desempenho recente dos setores demandantes de equipamentos de construção se encontram na Parte B deste relatório.
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Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção – 2012-13
Vendas internas (inclusive importados)
2011*
2012
%
2013
%
Tratores de esteira
1.270
1.350
6
1.420
5
Retroescavadeiras
8.930
9.380
5
10.320
10
Pás carregadeiras
5.225
5.225
0
5.750
10
Escavadeiras hidráulicas (excluindo mini)
6.350
5.850
-8
6.730
15
Mini-escavadeiras (< 12 toneladas)**
800
950
19
1.090
15
Caminhões fora de estrada
170
250
47
200
- 20
Motoniveladoras
2.300
1.680
- 27
2.300
37
Rolos compactadores
2.300
1.610
- 30
1.930
20
Minicarregadeiras (skid steers)
3.300
3.465
5
3.810
10
30.645
29.760
-3
33.550
13
1.380
1.000
- 28
1.100
10
Gruas
320
330
3
360
10
Guindastes: lança treliçada e telescópica (exclui guindauto)
700
810
16
930
15
Plataformas aéreas
4.200
5.460
30
6.010
10
Telehandlers
1.000
600
- 40
750
25
Tratores de pneu**
3.100
2.650
- 15
3.180
20
Subtotal: demais equipamentos
10.700
10.850
1
12.330
13
Subtotal: principais equipamentos de construção
41.345
40.610
-2
45.880
13
Caminhões rodoviários**
42.200
27.430
- 35
30.200
10
Total: principais equip. de construção
83.545
68.040 - 19
76.080
12
Subtotal: linha amarela
Compressores portáteis
*2011 – dados revisados; **Estimativa da demanda na construção
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A sondagem das compradoras Na reta final do Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção – 2012-17, foram ouvidas 29 empresas que compram equipamentos, na sua maioria construtoras, mas também algumas empresas de rental. A sondagem – conduzida com a ajuda dos diretores regionais da Sobratema – incluiu empresas sediadas em varias capitais – Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre – e com perfis e tamanhos bastante diferentes. Embora limitada, estatisticamente, pelo tamanho da amostra, a sondagem oferece informações interessantes sobre o ânimo e expectativas do setor, e seus principais problemas. A seguir, os resultados completos, com comentários.
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Um ano bem parecido com o ano anterior O quadro mostra a avaliação das empresas quanto ao ano de 2012. Talvez o resultado mais impressionante seria de como a avaliação deste ano bate com aquela de 2011. O grupo sondado em 2012 era um pouco maior que o grupo ouvido em 2011, mas os dois incluem muitas das mesmas empresas. Isso permite uma comparação geral entre os dois anos. Os gráficos mostram, nas barras azuis, o número absoluto de respondentes em cada pergunta, enquanto os algarismos nos círculos vermelhos indicam o ranking do mesmo quesito no ano passado. Assim, podemos dizer que em ambos os anos, o mercado de construção não correspondeu às expectativas de quem demanda – ou não – equipamentos. Isso dito, foi um ano no qual o setor demandou quase o mesmo volume de equipamentos de movimentação de terra que em 2011, que por sua vez foi ano recorde no país. Portanto, embora conste como um ano que não correspondeu totalmente às expectativas, dificilmente podemos chamar de “ruim” um mercado que demandou tantos equipamentos. Mais uma vez, os principais problemas citados foram atraso em obras e falta de mão de obra especializada. E como no ano passado, o atraso no licenciamento surge como a principal razão para o atraso nas obras. Como observamos no ano passado, trata-se de um problema contornável – falta introduzir procedimentos mais eficientes no sistema. Não deixa de ser interessante o maior destaque recebido pelo problema “liberação de verba”, que em 2011 foi bem menos citado. Isso, embora o governo federal em nenhum momento anunciasse corte nas verbas para o setor de infraestrutura – pelo contrário, sempre deixou entender que as obras do PAC seriam preservadas de qualquer medida de contenção de gastos. Outros problemas específicos mencionados por construtoras incluíram: greves; invasão de obras por índios; suspensão temporária de licenças concedidas; aumento do custo de insumos; e a elevação das exigências trabalhistas e dos impostos do governo federal. Problemas mencionados por locadores: inadimplência de clientes; e devolução de equipamentos. A visão de quem compra* • 2012 foi difícil, mas não terrível • Problemas basicamente iguais 2011 • Muita esperança para 2013
*Sondadas 29 compradoras de equipamentos – 21 construtoras e 8 locadoras – de vários tamanhos, em Salvador, BH, Rio, São Paulo, Curitiba e P. Alegre
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Esperança quanto a 2013 O Governo Federal anunciou, no segundo semestre de 2012, várias medidas para estimular a economia, entra as quais um grande programa de concessões para a iniciativa privada de rodovias, ferrovias e outros projetos de infraestrutura, alguns provavelmente na forma de parcerias público-privadas. O gráfico a seguir mostra que este pacote criou bastante expectativa no setor. Mas, resta saber se o governo vai conseguir colocar os projetos escolhidos para andar no ritmo necessário, e com estruturação financeiro-jurídica convidativa para o setor privado. Há comentários adicionais sobre essa questão na segunda parte deste relatório. Pacote do governo O governo federal recentemente anunciou um grande pacote de concessões na área da infraestrutura. Qual sua avaliação:
*Sondadas 29 compradoras de equipamentos – 21 construtoras e 8 locadoras – de vários tamanhos, em Salvador, BH, Rio, São Paulo, Curitiba e P. Alegre
Compras menores; preços em queda? A metade das empresas ouvidas na Sondagem de Compradores indicou ter comprado menos equipamentos de construção em 2012, comparado com seu planejamento inicial. Mas, a outra metade fez compras iguais ou até maiores que era esperado. Este quadro mais ou menos equilibrado de certa maneira corresponde ao desempenho das vendas de equipamentos da linha amarela, que essencialmente andou de lado durante 2012, com pequena queda de 3%. Talvez como reflexo de um mercado que revelou demanda abaixo do nível inicialmente esperado, a metade das empresas disse perceber preços mais convidativos durante 2012. Uma das empresas ouvidas entendeu que a concorrência de novos equipamentos asiáticos com preços menores estava forçando uma diminuição geral nos preços; outra empresa – que percebeu preços estáveis em 2012 – entendeu que a necessidade dos fornecedores de manter seu nível de faturamento num mercado retraído os impedia de acompanhar a inflação, o que seria efetivamente uma queda no preço real. A Sondagem convidou as empresas a comentar o possível impacto das taxas muito baixas do FINAME, para a compra de equipamentos novos de construção de fabricação nacional. Uma das construtoras indicou que financiamento a 2,5% estimularia a opção de compra, em vez da reforma de equipamentos usados. Por outro lado, na visão de outra empresa, as condições tão convidativas para a aquisição de equipamentos novos estaria criando uma situação de maior dificuldade para se livrar dos usados. 18
Compras
Preços
Comparado com sua expectativa para 2012, sua compra de equipamento de construção até agora, foi:
Sua empresa percebeu alguma tendência de preço para equipamentos novos de construção em 2012?
*Sondadas 29 compradoras de equipamentos – 21 construtoras e 8 locadoras – de vários tamanhos, em Salvador, BH, Rio, São Paulo, Curitiba e P. Alegre
A Copa: alegria de alguns Há alguns anos, o setor de construção no Brasil – e por tabela, o setor de equipamentos de construção – começou a se animar com o volume de obras a ser gerado pelos dois grandes eventos esportivos previstos a acontecer no país: a Copa do Mundo FIFA 2014, e os Jogos Olímpicos 2016. Com a Copa acontecendo em 12 cidades e os Jogos concentrados no Rio, e com o governo anunciando dezenas de obras de mobilidade urbana nessas várias praças, falava-se de um “boom” nos dois setores. O Estudo Sobratema sempre aconselhou cautela, no sentido de que as obras destes eventos teriam sem dúvida grande visibilidade, principalmente os estádios, mas representavam uma parcela menor do conjunto total de projetos de infraestrutura previstos para acontecer no Brasil nestes anos. De fato, as obras nos estádios criaram uma boa demanda para certos tipos de equipamentos, com destaque para guindastes, gruas e telehandlers. Todos os estádios da Copa agora se encontram em obras, alguns até na reta final, mas houve atraso em vários projetos de mobilidade urbana e expansão aeroportuária. Resta saber até que ponto estes projetos restantes e outros associados aos eventos – inclusive investimentos privados – possam criar demanda adicional nos próximos anos. As empresas participantes na Sondagem de Compradores revelaram posturas variadas quanto aos eventos esportivos.
Copa + Olimpíadas Sua empresa (sua clientela, no caso de uma locadora) já conseguiu serviço por conta destes grandes eventos (estádio, obras de mobilidade urbana, aeroporto, etc)?
*Sondadas 29 compradoras de equipamentos – 21 construtoras e 8 locadoras – de vários tamanhos, em Salvador, BH, Rio, São Paulo, Curitiba e P. Alegre
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O papel do governo As empresas participantes na Sondagem de Compradores foram convidadas a tecer comentários sobre o mercado e fatores relevantes. A seguir, comentários selecionados:
Comentários selecionados - 2012 • O governo investiu muito e de uma forma desordenada. • Falta de projetos bem definidos + planejamento adequado. • Escândalos travaram totalmente os novos projetos e reduziram o ritmo das obras em andamento pela falta de liberação dos recursos. • Copa de 2014 – as obras de mobilidade que eram a grande esperança para alavancar o setor de construção não ocorreram. • Existe obra, existe dinheiro; falta a definição da disputa política do governo.
Comentários selecionados - 2013 • 2013 será muito ruim: os leilões das grandes hidrelétricas estão travados por problemas de licenciamento e áreas indígenas. • Obras de mobilidade para a Copa já não há tempo; importantes projetos na área de ferrovias estão travados. • O governo tende a segurar recursos para repetir em 2014 o boom de obras (em 2010). • Novo programa (de concessões) do governo deve privilegiar empresas maiores/mais capitalizadas, mas deve movimentar o mercado de máquinas. • O provável reaquecimento de demanda em 2013 pode acarretar falta de equipamentos e reajuste de preços.
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PARTE B • O mercado de máquinas de construção • Conjuntura econômica nacional • Conjuntura econômica internacional • Principais mercados de equipamentos de construção • Mercado na América Latina • Mercado brasileiro: projeções até 2017
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Introdução
Imaginava-se que com a nova presidente – agora em seu segundo ano de mandato – considerada “mãe do PAC”, fosse continuar seu trabalho focando nos necessários investimentos na precária infraestrutura brasileira. Para nossa surpresa, não foi isso que ocorreu e ainda há dúvidas se retomará no próximo ano o papel que a elegeu. Se tivermos sorte, talvez nossa presidente esteja aplicando a velha tática de fazer com que os investimentos governamentais em infraestrutura elevem-se em anos eleitorais. Teremos novamente eleição em 2014. No início de 2011, já havíamos sentido os sinais de que o novo governo seguiria uma política econômica restritiva em termos de gastos públicos e desaceleração do PAC. A pressão dos mercados financeiros era forte pela elevação das taxas de juros e garantia de superávit fiscal diante da ideia de uma excessiva aceleração da economia com impacto inflacionário. Esse medo se tornou falso dado do mergulho sofrido pela economia mundial em crise, principalmente atingindo a Europa, puxando a economia brasileira também para baixo. Essas políticas restritivas do início de 2011 aprofundaram a pressão da desaceleração da economia brasileira. Apesar das políticas “macroprudenciais” que abriam certo espaço para o início da queda nas taxas de juros, praticamente não houve reação da economia. O ano de 2011 não foi tão ruim para o setor de máquinas da construção pesada, dado que este vinha com forte aceleração do ano de 2010 e, como é característico do setor da construção, manteve um crescimento inercial, mas em desaceleração. Iniciamos 2012 ainda com algum otimismo de que as políticas restritivas internas seriam revistas diante do agravamento da crise internacional. Havia certo consenso de que o governo tinha exagerado na dose de políticas restritivas em 2011. Imaginávamos que as obras apontadas no PAC poderiam ser retomadas, que os investimentos privados voltariam, e que veríamos o ano de 2012 com crescimento do PIB, pelo menos, próximo dos 4%. Ao contrário, no início do ano o Governo anuncia mais cortes de gastos públicos. Somente em meados de 2012 com medidas de incentivos fiscais,
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queda mais acentuada das taxas de juros e desvalorização cambial, o Governo pretendia acelerar a economia. As medidas tomadas para aceleração da economia, apesar de extremamente importantes, foram muito tímidas. Teremos um crescimento fraco em torno de 1,5%, muito aquém do esperado. No segundo semestre de 2012 ensaia-se uma retomada lenta do crescimento, se é que solidificará essa tendência. Mesmo assim, ainda não há certeza que se caracterizará como uma “tendência de crescimento” para o próximo ano. Mas para tal, são necessárias ações mais intensas do que as até agora tomadas pelo governo, principalmente pela retomada mais imediata das obras de infraestrutura mais urgentes e que constavam do PAC II. Esperamos por esse caminho que ocorra uma recuperação econômica, bem com o dos investimentos em infraestrutura com efeitos positivos sobre o setor de máquinas da construção. O PAC concessões constitui-se como uma ação positiva ao procurar envolver os setores privados nos investimentos em infraestrutura. Apesar disso, seus resultados são lentos por conta da complexidade na estruturação das operações. Seu impacto será visto apenas ao final de 2013 e nos anos seguintes. A queda na taxa de juros ajuda muito ao Programa, dado que este se torna uma oportunidade de aplicação dos recursos privados que antes se concentravam no ganho fácil dos juros pagos sobre a segura dívida pública. Assim, é uma medida fundamental para o futuro. O problema do PAC concessões é o tempo envolvido nos processos de estruturação das operações concessões e no tipo de obra que envolve. Seria recomendável para retomar o crescimento do setor da construção e da venda de máquinas já em 2013 que aquelas obras que não foram transferidas para o PAC concessões fossem levadas adiante com os recursos existentes. A queda nos juros também liberou recursos públicos para investimentos que deveriam ser carreados para essas obras. O que diminui a disponibilidade de recursos públicos é a queda na arrecadação pela falta de crescimento. A retomada do crescimento econômico resultante de uma política de investimento em infraestrutura mais direta impactaria positivamente a arrecadação, de modo a manter o nível endividamento público como proporção do PIB não apenas controlado, mas em queda, como se observou nos anos recentes de crescimento econômico. As desonerações fiscais ajudaram a não deixar a economia mergulhar em uma desaceleração maior, mas são pouco eficientes para provocar uma aceleração do crescimento, o que só ocorre com a retomada dos investimentos privados. Desonerações têm impacto positivo quando os empresários estão ansiosos por realizar novos investimentos, o que farão apenas com um horizonte de crescimento de médio prazo. A retomada dos investimentos do PAC poderia criar esse horizonte de segurança. A desvalorização cambial foi também uma medida bastante positiva apesar de tímida em seu tamanho. De fato o risco de pressão inflacionária é real, dada a forma como as empresas produtivas nacionais estão atreladas 23
a fornecedores estrangeiros. É bastante positiva e terá um efeito a médio e longo prazos para incentivar a substituição de importações por produção local, elevando a renda internamente, o que é de suma importância tanto para o crescimento econômico, como, principalmente, para a retomada da trajetória de crescimento da construção civil. A dificuldade será enfrentar o debate que se avizinha com os economistas favoráveis à elevação das taxas de juros exaltando o risco inflacionário. Afirmam que a economia não pode crescer, focados em uma visão contábil de custos pela elevação dos salários. Esquecem-se que a forma natural de desenvolvimento econômico é via elevação de salários com as empresas ganhando mais pela elevação recíproca de suas vendas e não por elevação de preços. A economia toda tende a ganhar. Em época de crise mundial, aproveitar o tamanho do mercado brasileiro é fundamental. Basta apenas controlar a taxa de câmbio para não deixar esse dinamismo vazar para importações. A economia mundial deve continuar sua trajetória de declínio. Como havíamos previsto, na Europa ganhou poder a escola de pensamento econômico que preconiza políticas restritivas. Dentro dessa linha, a estagnação da economia europeia deve se manter. A recuperação da economia Norte-americana também deverá ser muito lenta, a depender do desenrolar do quadro eleitoral. Assim, não podemos contar com uma melhora nesse cenário para nosso futuro. A China também desacelerou seu crescimento. Pouco em relação ao que os mais “catastrofistas” previam. O Governo chinês dificilmente deixará a economia crescer abaixo dos 7,5%. Anunciou um novo pacote de investimentos em infraestrutura para manter a tendência. Há uma população enorme que ainda não se beneficiou do crescimento dos últimos anos e espera ansiosamente por sua inclusão. Gradativamente as políticas internas incentivam uma melhor distribuição de renda, via até elevação de salários, transferindo o fluxo dinâmico das exportações para o consumo interno. A América Latina, importante comprador de máquinas e equipamentos dos fabricantes nacionais vê suas economias desacelerarem como impacto direto do baixo crescimento mundial no caso dos exportadores de commodities. A queda nos preços (menos na quantidade) gerou problemas nas contas externas dos países. Sofrem também o impacto da desaceleração brasileira, principalmente no caso da Argentina, dado que o Brasil é seu principal mercado, principalmente de produtos industrializados. Assim, sua retomada do crescimento depende hoje muito mais da reação brasileira. Se o Brasil crescer mais, também venderemos mais máquinas e mais obras para a América Latina dado que nossos vizinhos se beneficiam de nosso crescimento. Precisamos de estratégia para evitar que a China continue a crescer nesse espaço.
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O mercado de máquinas da construção Tanto a produção nacional de máquinas, como as vendas internas, sentiram a desaceleração dos investimentos na construção pesada e infraestrutura, bem como na construção civil. O ano de 2012 foi de desaceleração e refletiu a tendência que se estabeleceu em 2011 quando se iniciou o processo, acompanhando a queda nas taxas de crescimento econômico. Medidas tímidas macroeconômicas não reverteram a tendência. De qualquer forma, vale destacar que o mercado de máquinas da construção está, no Brasil, em um novo patamar em termos de volume. Apenas na linha amarela, hoje supera as 30 mil máquinas vendidas por ano. Quando iniciamos este estudo em 2007, o volume vendido alcançava menos de um terço disso. Isso significa que hoje, quando se aponta queda ou estagnação nas vendas, a referência está localizada em um patamar de vendas muito mais elevado. Também merece destaque a elevação das importações de máquinas da construção pesada, o que era pouco usual no passado e envolvia apenas alguns tipos especiais. O próprio crescimento do mercado brasileiro, bem como a valorização cambial e a oferta crescente dos fabricantes chineses no mercado de máquinas contribuíram para essa elevação.
O mercado brasileiro Mesmo com a desaceleração atual, estima-se que este ano as vendas atinjam 29 mil equipamentos da linha amarela, com uma queda de cerca de 3% sobre 2011. O volume de equipamentos importados, que vinha se acelerando em 2011, diminuiu seu ritmo ao longo de 2012, apresentando uma queda de 14% na comparação de janeiro a agosto deste ano com o mesmo período do ano passado. Se tomarmos todos os equipamentos acompanhados por este estudo, as vendas em 2012 devem atingir 68 mil equipamentos, contra 84 mil vendidos em 2011, apresentando uma queda de 18,6%, percentual que se deve principalmente a queda nas vendas de caminhões. Quando retirados esses equipamentos, as vendas praticamente empatam com 2011. É interessante notar que a partir de agosto, as vendas de equipamentos produzidos no Brasil se elevam de forma mais acelerada que a parte de equipamentos importados. Provavelmente esse movimento se deva a dois fenômenos: à política de crédito especial para máquinas do PSI administrado pelo BNDES; à desvalorização cambial do final do primeiro semestre.
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Esses dados projetam uma tendência de melhora nos últimos meses de 2012, tendência que pode se manter em 2013 a depender da retomada dos investimentos em infraestrutura, o que se espera.
Venda de máquinas - quantidade total
Fonte: Insight
Venda de máquinas
Fonte: Insight
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Taxa de variação - importações - Linha Amarela
Fonte: Insight
Em 2012, mais uma vez, foram as máquinas ligadas às obras de infraestrutura de transportes que apresentaram as maiores quedas nas vendas. Destacam-se as motoniveladoras e os rolos compactadores com quedas de 27% e 30% sobre o ano passado e praticamente foram responsáveis pela queda nos equipamentos da linha amarela. De outro lado, vale destacar o crescimento das vendas de retroescavadeiras (5%) e de tratores de esteira (6%), demonstrando que o setor foi mantido provavelmente por pequenas obras ligadas às eleições e prefeituras.
Produção nacional Se as vendas não foram tão baixas em 2012, pela recuperação do segundo semestre e pelo envolvimento de um volume significativo de importados que no ano passado atingia 30% do total, a produção nacional ainda apresentou um crescimento muito baixo. Entre janeiro e agosto de 2012, a produção nacional de máquinas e equipamentos da construção apresentava uma queda de 18% quando comparado com 2011. Provavelmente os fabricantes se encontravam com estoques indesejados acumulados ainda em 2011 diante da frustração de expectativas no crescimento das vendas daquele ano. Também, a crescente concorrência com importados provavelmente fez com que os fabricantes buscassem garantir entregas imediatas com medo de perder a oportunidade diante de uma elevação de demanda. A partir segundo semestre de 2012, essa elevação de demanda por equipamentos deverá melhorar apesar de tímida, incentivada pelas políticas de subsídios e de incentivos a compras governamentais.
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Bens de capital para construção – produção física
Fonte: IBGE
Programas de incentivo à aquisição de equipamentos Visando tanto estimular obras de infraestrutura, principalmente a retomada das vendas de equipamentos para construção, o Governo Federou criou dois mecanismos de incentivo à compra de máquinas da construção pesada e civil. Em junho deste ano, criou o PAC equipamentos para incentivar compras governamentais no valor de R$8,4 bilhões de diversos equipamentos, inclusive equipamentos da construção pesada envolvendo R$4,4 bilhões.
Compras covernamentais - Linha Amarela - 2º sem. 2012 Equipamentos
Unidades
Valor (R$ milhões)
Caminhões
8.000
2.280
Patrulha Agrícola
3.000
870
Retroescavadeiras
3.591
650
Motoniveladoras
1.330
639
50
14
15.971
4.452
Perfuratrizes Total Fonte: Governo Federal
Esses R$8,4 bilhões somam-se aos R$42,6 bilhões que já estavam sob a responsabilidade do orçamento público no PAC II. A política de crédito do BNDES dentro do PSI foi a outra medida importante que serviu para incentivo às vendas de equipamentos para construção fabricados no Brasil. O BNDES baixou as
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taxas de juros para a compra de máquinas da construção para 2,5% ao ano, tornando-a negativa em termos reais – quando descontada a inflação. Soma-se a isso, a permissão do governo para a depreciação acelerada dos equipamentos que passa de 48 meses para 12 meses, um incentivo a mais para aquisição. Essa é uma medida pontual anunciada para elevar as vendas no segundo semestre de 2012 e certamente seu impacto já está se fazendo sentir. Em princípio, o benefício deve terminar em dezembro de 2012. Mas, acreditamos que sua continuidade dependerá do tamanho da reação das vendas e da produção de fabricantes internos. Essas medidas explicam em parte a razão das vendas nesse segundo semestre de 2012 apresentarem alguma elevação, mas principalmente as vendas de equipamentos fabricados no Brasil. Por isso, essas vendas têm crescido acima dos equipamentos importados.
Conjuntura nacional Em 2011, primeiro ano do novo governo, havíamos sido surpreendidos pelas políticas restritivas ao crescimento econômico e cortes nos gastos públicos realizados. A expectativa era de que a denominada “mãe do PAC” continuasse as políticas de investimento e de crescimento econômico. Não foi o que ocorreu. Pressionada pelos apocalípticos economistas de banco que apostavam em uma explosão inflacionária, não foi possível nem dar atenção ao fato de que a economia mundial despencava com a crise europeia, o que já seria suficiente para desacelerar a economia brasileira. Diante da tendência desenhada em 2011, apesar de algum movimento positivo como as quedas nos juros e princípio de desvalorização cambial, se imaginava que poderia haver mudança de rumo em 2012 uma vez que era extremamente necessário para não deixar a economia mergulhar em desaceleração. De qualquer forma, o primeiro semestre desse ano corria e nada se via de mudança significativa para a retomada da economia. Ao contrário, foi anunciado mais cortes nos gastos públicos. Novas medidas “macroprudenciais” foram tomadas de forma a tentar destravar a economia sem interferir nas expectativas inflacionárias. Se de um lado envolviam diminuição nos gastos públicos e controle sobre o crédito, de outro permitiram uma desvalorização na taxa de câmbio e uma queda mais forte na taxa de juros básica. Ao longo do ano, essas medidas foram complementadas por incentivos fiscais de diversas ordens, dirigidos a setores específicos. Vale lembrar que, apesar da incessante pressão para cortes nos gastos públicos, o que prejudica as políticas de crescimento, a dívida pública sobre o PIB se encontra em seu nível mais baixo em muitos anos, cerca de 35% do PIB. A redução dessa relação nos últimos anos deve-se ao crescimento econômico e à formalização da economia, tanto do mercado de trabalho, como as próprias empresas que puderam pagar seus impostos. O declínio do crescimento certamente diminui o superávit primário, mas não deve ser tomado como um problema, desde que a economia volte a crescer. De qualquer forma, estão de volta os economistas “catastrofistas” apostando no “descontrole” fiscal e na volta da inflação. Defendem um maior aperto fiscal e elevação das taxas de juros. Apontam que a economia brasileira não pode crescer acima de 3%. Se essas ideias ganharem espaço, provavelmente teremos um 2013 muito ruim. O crescimento econômico com a elevação
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da oferta de produtos e da renda até via elevação de salários, rebate positivamente sobre a arrecadação fiscal e todos ganham. Os empresários poderiam compensar a elevação de seus custos com salários com o aumento de suas vendas. Aí sim, teríamos desenvolvimento econômico e do padrão de vida de todos.
PIB e produção Ao longo do ano as estimativas de crescimento do produto foram caindo. Espera-se para 2012 que o crescimento do PIB fique em torno de 1,5%. As medidas para retomada do crescimento que começaram a timidamente mostrar seus efeitos no segundo semestre, pouco conseguiram modificar essa trajetória descendente. O crescimento do PIB no primeiro semestre de 2012 atingiu 0,6% em comparação com o mesmo período de 2011. O nível de investimentos (formação bruta de capital fixo) caiu para o nível de 17% sobre o PIB contra os 19% apresentados nos anos de crescimento, que ainda eram considerados baixos diante das necessidades para um crescimento sustentável no longo prazo sem pressões inflacionárias ou sobre importações. Pelo gráfico “PIB e Formação Bruta de Capital” pode-se visualizar a queda nos níveis de investimento no primeiro semestre, bem como a queda na produção. O segundo semestre desenha uma retomada. Taxas de crescimento do mês de setembro, se anualizada, prenunciam um uma elevação do PIB superior a 3%, o que levaria ao crescimento previsto em 2012 para 1,5%, mas preconizaria crescimento acima dos 3,5% em 2013 mantida essa tendência do segundo semestre.
PIB – taxas de crescimento T/T Ajustado Sazonalmente
Fonte: IBGE
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PIB e formação bruta de capital fixo
Fonte: IBGE
Variação percentual
Fonte: IBGE
A queda na produção industrial pode ser vista no gráfico. Um processo que se iniciou ainda em 2011 e que não apresentou modificação ao longo do primeiro semestre de 2012. As políticas de incentivo, a queda na taxa de juros e a desvalorização cambial começaram a surtir efeito no segundo semestre de 2012, mas ainda de forma bastante tímida. Não é possível desenhar uma tendência clara. Medidas de incentivos fiscais e de cortes nas taxas de juros são muito eficientes em provocar crescimento econômico quando os empresários estão ávidos para investir diante de perspectivas de 31
ganhos futuros bastante positiva e, esses incentivos lhes serviriam como fontes de recursos adicionais para o investimento desejado. Não é esse exatamente o caso no momento atual em que vivemos. Os empresários encontram-se muito apreensivos com os rumos da economia mundial e os reais impactos que terá sobre a economia brasileira. Não vislumbram um cenário interno positivo, uma vez que não foram tomadas, como em 2009, medidas diretamente para aceleração do crescimento, tais como investimento público em infraestrutura. De outro lado, principalmente para a indústria brasileira, ventos de baixo otimismo sopram ainda de nossos principais parceiros da América do Sul que depois de fortes crescimentos, acompanhando o Brasil, apresentam declínio.
Produção – indústria geral (com ajuste sazonal)
Fonte: IBGE
De qualquer forma e de maneira positiva, olhado para os gráficos da produção industrial, pode-se ver que em agosto as curvas se inclinam para cima, demonstrando uma tendência à recuperação. Vale destacar que todos os segmentos da indústria fundamentais – tais como a indústria de bens de capital e máquinas e equipamentos – apresentam a mesma tendência de elevação no segundo semestre de 2012, depois de fortes quedas em 2011 e no primeiro semestre deste ano. De outro lado, a indústria de insumos para a construção civil foi a única que manteve certa estabilidade ao longo do período analisado, apresentando um crescimento de 2,8% no período de janeiro a agosto de 2012 em relação ao ano passado.
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Produção indústria (sem ajuste sazonal)
Fonte: IBGE
A forte queda no crescimento econômico em 2011, com destaque para o setor industrial como um todo pode ser vista em janeiro pela queda na utilização da capacidade instalada. Esse indicador ficou abaixo do registrado em 2010 ao longo de todo ano. A situação da produção industrial piorou no primeiro semestre de 2012. A falta de investimentos na indústria é relativamente grave, dado que dificulta qualquer política de crescimento sustentável sem pressões inflacionárias diante da baixa oferta de produtos para os mercados.
Utilização da capacidade instalada – indústria – média
Fonte: IPEADATA/FGV
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A desvalorização cambial, apesar de muito tímida, está ajudando a reverter esse quadro. O problema é que levará tempo diante do fato de que a estrutura produtiva industrial brasileira hoje é extremamente dependente de importações de partes, peças e componentes que entram na linha de montagem. Isso significa que grandes desvalorizações cambiais podem provocar mais inflação do que substituição de importações. Por outro lado, uma desvalorização cambial tímida pode não ser suficiente para demonstrar aos agentes produtivos que essa será a política a ser adotada, não permitindo que eles apostem em investir na produção dentro das fronteiras do país. Novo pacote de estímulo à indústria Preocupado com a enorme desaceleração que vinha sofrendo a produção industrial, o Governo criou, no início do ano, um programa especial de incentivos ao crescimento industrial. O pacote que pode ser visto na tabela, criou incentivos da ordem de R$60 bilhões. Destes, R$45 bilhões referem-se a um novo aporte de recursos ao BNDES, dos quais, R$10 bilhões já foram passados ao banco. Hoje, o passivo do Banco com o tesouro atinge R$360 bilhões, dados repasses anteriores e durante a crise. O objetivo dessa medida foi demonstrar aos empresários que não faltarão recursos para aqueles que quiserem investir. Apesar disso, faltam ainda tomadores. Também se destacam as medidas de incentivos fiscais, destinadas principalmente para alguns segmentos de bens de consumo duráveis. As compras governamentais e o aporte ao PSI que foram mencionados acima, também são relevantes. Com o objetivo ainda de incentivar a indústria nacional, o governo elevou as tarifas sobre importações de máquinas e equipamentos de 14% para 25%, envolvendo principalmente pás carregadeiras e escavadeiras. Pacote de estímulos em 2012 em R$ bilhões Renúncia fiscal líquida Compras governamentais Expansão do Proex Valor presente da equalização do PSI Novo aporte do Tesouro ao BNDES Total
3,1 3,9 1,9 6,5 45,0 60,4
Fonte: Ministério da Fazenda
Fica clara pelo conjunto de medidas a intenção do Governo. O problema central é que não está surtindo o efeito necessário diante das incertezas que os empresários carregam quanto ao futuro. Nesse caso, a única solução concreta para de fato acelerar o crescimento seria colocar novamente em prática o PAC ou alguma reformulação do tipo. No programa, à época de sua criação, foram garantidos investimentos públicos em infraestrutura diretamente realizados pelo Estado com algum tipo de parceria privada, mas sob seu total controle para ganhar agilidade de curto prazo. No passado, a garantia de execução das obras e do aporte de recursos gerou, então, uma expectativa de crescimento econômico que levou os empresários a reboque. A desvalorização cambial desta vez não deixaria a dinâmica desse crescimento “vazar” para importações, incentivando a produção internamente. 34
Muitos pensam que foi apenas com incentivos ao consumo que havia sido provocado o crescimento econômico dos últimos anos. Mas, esse estudo demonstrou em diversos momentos a importância das obras de infraestrutura para a aceleração anterior até mesmo à crise de 2008, bem como para não deixar o país sofrer muito com a paralisação mundial a partir de 2009.
Emprego e renda É interessante notar que, apesar da queda na produção industrial que já dura mais de um ano, os níveis de emprego e renda se mantêm elevados na economia. Esse fato é muito importante para não gerar problemas, principalmente, no mercado imobiliário e no crédito à pessoa física. O “boom” das vendas no mercado imobiliário endividaram as famílias por um longo período de tempo e uma queda no emprego ou mesmo na renda poderia ser, neste momento, mais desastroso para o setor da construção civil que analisaremos mais à frente. Devemos esperar que o nível de emprego e renda se mantenha nos próximos anos, baseado inclusive na recuperação industrial, garantindo a adimplência dos mutuários da casa própria, bem como o crescimento desse contingente de pessoas. A manutenção dos níveis de emprego, ou desemprego baixo, deve-se em grande parte ao setor serviços e à própria indústria da construção civil. A taxa de desemprego vem se mantendo abaixo dos 6% no início do segundo semestre de 2012. A tendência era de crescimento do desemprego até os sinais de recuperação da atividade econômica.
Taxa de desocupação
Fonte: IBGE
Embora essa taxa seja considerada por muitos como próxima ao limite de “pleno emprego”, esse conceito não leva em consideração a qualidade dos empregos que ainda é muito baixa. Muitos trabalhadores gostariam de ter atividades mais bem remuneradas ou estão em situação de subemprego ou por falta de oportunidade, ou por falta de qualificação.
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O setor da construção civil é um exemplo. Nos últimos anos elevou em muito o nível de exigência de qualificação da mão de obra. Por isso, não encontra empregados condizentes com as novas exigências. Antigamente, esse era o setor que empregava a população de mais baixa qualificação, realidade que não é mais verdadeira. A modernização do sistema construtivo, se de um lado exige maior qualificação da mão de obra, de outro também libera contingentes de trabalhares e implica em elevação da produtividade. Os mesmos motivos que seguram o nível de emprego relativamente elevado, garantem o nível de rendimento médio elevado. Em setembro de 2012, o valor do rendimento atingiu R$1.771,20, cerca de 4,3% superior ao mesmo mês do ano passado embora não tenha se elevado em relação a agosto de 2012. Pode-se notar pelo gráfico “Rendimento Médio Real do Trabalho” a estabilidade da curva no ano de 2012, demonstrando que parou de crescer neste ano.
Rendimento médio real do trabalho
Fonte: IBGE
O ponto que se deseja destacar dessa análise do emprego é sua relação tanto com o crescimento da produção industrial que envolve a construção de galpões industriais, bem como do mercado de construção residencial que é fortemente dependente da renda de longo prazo. Pela análise acima, fica claro que os sinais de recuperação desses indicadores ainda são tênues apesar de já mostrarem sinais de recuperação que podem ter impactos positivos nos próximos anos nesses segmentos da construção que impacta.
Crédito O principal fornecedor de crédito para investimentos na economia brasileira é o BNDES. Não foi por falta de recursos financeiros para investimentos produtivos de longo prazo que a economia entrou em desaceleração. Ao contrário, em 2012 sobraram recursos no BNDES com taxas bastante 36
convidativas para todo o setor industrial e de infraestrutura. Somente em projetos de infraestrutura, o banco financiou até julho de 2012, R$153 bilhões, parte do valor total dos projetos que alcançam R$263 bilhões. É interessante notar pelo gráfico “Operações de Crédito Totais Público e Privado” como, a partir da crise de 2008, o crédito público foi mantido em ascensão, enquanto a participação privada diminuiu. O fornecimento de crédito pelo setor privado concentrou-se nos últimos anos no segmento de bens de consumo para famílias. Esse movimento tornou-se mais forte em 2010 e depois se arrefeceu diante da desaceleração de 2011 e 2012, levando risco de inadimplência das famílias que só não se materializou de forma significativa devido à manutenção do nível de renda média e do emprego, como apontado anteriormente. As quedas nas taxas de juros trouxeram novos problemas de rentabilidade para esse tipo de crédito ao consumo para os bancos privados. Muitos tiveram que renegociar dívidas e viram sua rentabilidade diminuir. De outro lado, o crescimento do crédito público deveu-se em parte à elevação de sua participação no financiamento ao consumo. Mas, muito mais importante, fato que já vinha acontecendo durante o ciclo de crescimento, foi o papel dos bancos públicos nos programas de governo com destaque ao Minha Casa Minha Vida que tem a Caixa Econômica Federal como seu principal agente.
Operações de crédito totais público e privado
Fonte: BCB
Quanto à participação do BNDES, apesar desta continuar central, o nível de desembolsos teve uma pequena elevação de 3,2% no período entre janeiro a setembro, quando comparado com o mesmo período de 2011. Foram desembolsados R$94 bilhões no período. Vale destacar que esse nível de desembolsos fica muito aquém do que vinha ocorrendo em anos anteriores, apresentando uma queda razoável. No mesmo período, entre janeiro e setembro de 2010, haviam sido desembolsados quase R$130 bilhões, fechando aquele ano com R$168 bilhões.
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Em 2011, o total de desembolsos do BNDES atingiu R$139 bilhões. Para este ano, estão previstos desembolsos da ordem de R$145 bilhões, volume que pode ser alcançado diante do crescimento dos pedidos de crédito nesse segundo semestre. Os programas de incentivo à tomada de crédito, principalmente aqueles ligados ao PSI que impactam diretamente o Finame, estão tendo um desempenho importante nesse segundo semestre.
Desembolso total do sistema BNDES
Fonte: BNDES
Tomando-se apenas o Finame, os desembolsos do primeiro semestre deixaram a desejar. Caíram 25% em relação a 2011, demonstrando a queda no investimento. Atingiram R$22,5 bilhões em desembolsos nesse ano. Grande parte da queda deve-se ao financiamento de caminhões, que ficou muito abaixo do ano passado, um período atípico por conta da mudança de legislação ambiental que levou as empresas a substituírem sua frota em 2011. Dados mais recentes do Finame quanto ao desempenho no segundo semestre de 2012, ainda que preliminares, demonstram um volume mensal de desembolsos duas vezes maior do que do primeiro semestre. Isso se deve à política de queda na taxa de juros do programa PSI, no financiamento de bens de capital, incentivo que está previsto para terminar em dezembro deste ano. Olhando para o gráfico “Desembolso Finame” por segmentos, apesar de em todos eles haver queda em relação ao ano passado, pode-se notar uma reversão dessa tendência de queda nos desembolsos em julho.
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Desembolso Finame - máquinas e equipamentos nacionais
Fonte: BNDES
Dados mais recentes abarcando o volume de consultas ao BNDES (pedido de financiamento que pode se transformar em desembolsos) mostram um crescimento de 64% apenas em setembro. Apenas para projetos de infraestrutura, elevaram-se 62% e para projetos industriais 30%. Esses números indicariam uma retomada dos investimentos com impactos para os próximos meses. Ao que tudo indica, de maneira tímida, o mercado de máquinas e equipamentos da construção estaria aproveitando em parte esses benefícios propostos pelo Finame para o segmento. As taxas de juros reais são hoje negativas para máquinas da construção. O problema é que os compradores de máquinas, mesmo com incentivos, estão com um parque bastante jovem e não teriam ainda motivos para trocar os equipamentos. Nesse segmento, sem novas obras e, com a parada ocorrida em 2011 e no primeiro semestre de 2012, incentivos como esses são positivos, mas com impacto tímido. Sem uma política de novas obras, as construtoras não renovam seu parque de máquinas. Estas são adquiridas, de preferência, no início de obras garantidas. Por outro lado, diante da expectativa de um diferente 2013, há construtores que preferem investir em novas máquinas agora para não perder as concorrências futuras. Esse fato deve estar promovendo o crescimento de parte das vendas agora com incentivo do Finame.
Setor externo Finalmente em março deste ano ocorreu uma desvalorização cambial mais permanente, apesar de tímida. De um lado a crise mundial com a saída de capitais e, de outro, a política de juros baixos do governo, foram fatores que permitiram esse movimento.
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Isso era importante diante da pressão que vinha sofrendo a indústria nacional pela concorrência internacional. O câmbio valorizado explicava em grande parte o baixo investimento na produção industrial. Era mais barato importar partes, peças e componentes, ou até mesmo produto acabado em qualquer análise de custo. O impacto negativo do câmbio valorizado é a transferência de renda e emprego da economia nacional para países estrangeiros, diminuindo o poder de compra interno das famílias, a renda interna. Apesar da desvalorização que levou o dólar para R$2,00, muitos analistas ainda julgam esse nível ainda tímido. Alguns argumentam que um câmbio competitivo seria da ordem de R$2,50. Isso ajudaria a deslanchar o investimento interno mais rapidamente.
Taxa de câmbio
Fonte: IPEA
No mesmo sentido, a desvalorização cambial ajuda ainda na manutenção da rentabilidade das exportações de commodities. Com a baixa na taxa de crescimento da economia chinesa, e diante da crise mundial, principalmente na Europa, os mercados especulativos de commodities pararam de pressionar os preços internacionais para cima. Esse fato gerou uma perda do valor exportado desses produtos, como se verá mais a frente. Comparando-se o período de janeiro a setembro de 2012 contra o mesmo período de 2011, a exportação de produtos básicos em valor caiu 5,4%, refletindo a queda nos preços. O problema da queda nos preços das commodities é seu reflexo na queda do saldo da balança comercial brasileira. Isso seria um problema dado o nível estrutural das importações brasileiras, até agora sustentadas pelo superávit na pauta de produtos primários.
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Balança comercial
Fonte: BCB
Ao longo dos anos, a exportação de manufaturados vem perdendo espaço. Comparando-se o período de janeiro a setembro de 2012 com 2011, a queda foi de 2,5%. Essa situação pode se agravar pela queda nas exportações brasileiras, principalmente de produtos industrializados para os países da América Latina, para onde se destinam 40% das exportações de manufaturados. Tomando-se o gráfico “Exportação de produtos manufaturados” pode-se notar claramente a tendência de queda desde a segunda metade de 2011.
Percentual do total exportado
Fonte: BCB
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Entre janeiro e agosto de 2012 contra o mesmo período de 2011, as exportações para a Argentina caíram 16%. De outro lado, as exportações da Argentina para o Brasil, declinaram 8%. Esse país representa 7,5% das do total de exportações brasileiras, com destaque para produtos manufaturados. De outro lado, as exportações brasileiras para os EUA começam a demonstrar recuperação. Cresceram 18% na comparação do acumulado até setembro de 2012 sobre o mesmo período de 2011. A pauta para os EUA compõe-se principalmente de produtos manufaturados, de certa forma, compensando a queda para a Argentina. Muitas empresas multinacionais localizadas no Brasil são tradicionalmente exportadoras para aquele país. A desaceleração daquela economia impacta as exportações de manufaturados.
Exportação de produtos manufaturados
Fonte: MDIC
As exportações brasileiras, principalmente de produtos básicos, devem continuar fortes em termos de quantidade, embora seja visível a queda nos preços. Isso se deve à continuidade do crescimento chinês. Hoje esse país é responsável 18% das exportações brasileiras.
42
Exportações – principais países
País
Jan-set2012
Jan-set2011
Var. %
US$ milhões
Par. %
US$ milhões
Par. %
China
32.294
18
33.570
18
Estados Unidos
20.586
11
18.560
10
11
Argentina
13.475
7
16.890
9
-20
Países Baixos (Holanda)
10.869
6
10.381
5
5
Japão
5.616
3
6.703
4
-16
Alemanha
5.421
3
6.780
4
-20
Índia
3.865
2
2.637
1
47
Venezuela
3.746
2
3.013
2
24
Itália
3.570
2
4.126
2
-13
-4
Chile
3.305
2
3.925
2
-16
Reino Unido
3.289
2
3.738
2
-12
Coréia, República da (Sul)
3.167
2
3.242
2
-2
França
3.117
2
3.361
2
-7
México
3.048
2
2.976
2
2
Bélgica
2.894
2
2.928
2
-1
Espanha
2.846
2
3.548
2
-20
Rússia, Federação da
2.404
1
3.744
2
-36
Arábia Saudita
2.168
1
2.607
1
-17
Colômbia
2.120
1
1.927
1
10
Fonte: MDIC
Tendências para economia brasileira Problemas:
• Crise mundial + ação tímida do Governo = expectativas • Política de equilíbrio fiscal impede aceleração PAC • Plano de isenção fiscal baixo impacto Queda nas taxas de juros ainda não tem resultado
• Indústria não recupera o investimento • Tem pouco efeito quando as expectativas são negativas • Produção industrial melhora pouco no 2º semestre
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Desvalorização cambial
• Crise internacional impede um impacto maior • Queda no preço dos produtos importados • Baixa de preços nas exportações • Protecionismo Argentino prejudica indústria nacional • Falta de investimentos impede substituição de importados. Conclusão
• A economia só voltará a crescer com mudanças mais radicais • Mantida a situação, crescimento só será retomado 2ºS 2013 • Crescimento PIB 2013 pode atingir 4%, mas são necessárias ações mais contundentes.
Conjuntura internacional A crise internacional de fato afetou a economia brasileira. Seu impacto poderia ser menor se o Governo tivesse adiantado medidas mais contundentes para a economia nacional já no ano passado. Além disso, as medidas adotadas foram tímidas como já apontado. Assim, a crise provocou desaceleração na economia brasileira, bem como nas economias latino-americanas. A desaceleração do Brasil agravou a situação dos países latino-americanos, principalmente a Argentina, provocando uma perigosa onda de declínios. Esse movimento geral tem causado uma queda nas vendas de máquinas no Brasil bem como nas exportações brasileiras o que vem afetando o setor industrial em geral, além das máquinas da construção. Sair dessa situação depende muito do Brasil desenhar uma política anticíclica para, inclusive recuperar seus parceiros da América do Sul. A situação europeia e dos EUA estão longe de serem resolvidas. Como apontado no ano passado, até agora, tanto na economia europeia como Norte-americana, estão vencendo as ideias conservadoras. Os pacotes de ajuste fiscal com corte em gastos públicos que imaginam ser centrais para tentar tirar as economias da crise tem apenas aprofundado a recessão e o desemprego, principalmente na Europa. Conforme projeções do próprio FMI, o crescimento da economia europeia deve ser praticamente nulo em 2013. A expectativa de recuperação nos próximos anos, a continuar o tipo de política atual, não se concretizará. De outro lado, o próprio FMI está otimista quanto ao crescimento Chinês. Isso é possível diante do tipo de economia daquele país. O Governo atua diretamente sobre o investimento e obras de infraestrutura para não deixar a economia desacelerar. Há um enorme contingente populacional à espera para participar do crescimento chinês como consumidor e não ficará contente caso isso de-
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more muito tempo. O Estado sabe disso e já tomou medidas para manter o ritmo, pelo menos em torno de 7,5% ao ano. Isso já seria positivo para as exportações de commodities brasileiras. Há certo otimismo quanto à retomada da economia Norte-americana que pode se concretizar. Está ocorrendo nos EUA uma ação de parte do próprio setor produtivo no sentido de reverter o declínio da economia do país, que se desenha desde que as grandes empresas produtoras de bens de consumo se deslocaram para a China. As políticas do novo governo, qualquer que seja o candidato ganhador, podem caminhar neste sentido. A diferença entre os candidatos é o grau de belicismo em suas ações internacionais.
Variações do PIB e projeções de 2011 à 2017 2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
PIB Mundial
3,8
3,3
3,6
4,1
4,4
4,5
4,6
Economias Avançadas
1,6
1,3
1,5
2,3
2,6
2,6
2,6
Estados Unidos
1,8
2,2
2,1
2,9
3,4
3,4
3,3
Área do Euro Alemanha França Itália Espanha Japão Reino Unido Canadá
1,4 3,1 1,7 0,4 0,4 -0,8 0,8 2,4
-0,4 0,9 0,1 -2,3 -1,5 2,2 -0,4 1,9
0,2 0,9 0,4 -0,7 -1,3 1,2 1,1 2,0
1,2 1,4 1,1 0,5 1,0 1,1 2,2 2,4
1,5 1,4 1,5 1,2 1,6 1,2 2,6 2,4
1,7 1,3 1,7 1,4 1,7 1,1 2,6 2,4
1,7 1,3 1,9 1,4 1,7 1,1 2,7 2,3
Asiáticos em Desenvolvimento
7,8
6,7
7,2
7,5
7,6
7,7
7,7
China
9,2
7,8
8,2
8,5
8,5
8,5
8,5
Índia
6,8
4,9
6,0
6,4
6,7
6,9
6,9
Brasil
2,7
1,5
4,0
4,2
4,2
4,1
4,1
México
3,9
3,8
3,5
3,5
3,3
3,3
3,3
América Latina
4,5
3,2
3,9
4,1
4,0
4,0
4,0
Fonte: FMI
Economia norte-americana O crescimento da economia dos EUA ainda deixa muito a desejar. Alcançou 1,3% no segundo trimestre de 2012. Como se pode notar no gráfico “Variação Percentual do PIB Norte Americano”, a tendência continua errática, sem demonstrar um padrão de crescimento. As eleições presidenciais dificilmente modificarão a tendência. Nos EUA os economistas com uma visão diferenciada que poderiam optar pelo incentivo a políticas de crescimento, a exemplo da Europa, também não estão no poder. Houve tentativas do governo em modificar a estratégia, mas sem muito sucesso.
45
O que há de novo é o movimento de empresas produtivas no sentido de apoiar estratégias mais voltadas ao crescimento com base em investimentos. Mas, sem uma influência sobre a política econômica, será difícil ter resultado significativo.
Variação percentual do PIB norte-americano
Fonte: BEA
Essa tendência tênue de recuperação da economia dos EUA pode ser vista pela diminuição nas taxas de desemprego que passou de 9,0% em 2011 para 7,8% em 2012.
Taxa de desemprego – EUA
Fonte: BEA
46
Uma recuperação mais sólida da economia Norte-americana seria positiva para o Brasil. Vale lembrar que esse país tem recuperado sua importância como importador de produtos produzidos no país, principalmente por empresas multinacionais dos EUA que aqui se instalaram em sua estratégia de internacionalização. Dentre estas, destaca-se a própria indústria de máquinas da construção pesada.
Europa O problema do agravamento da crise Europeia, além de arrefecer o crescimento chinês pela queda na demanda de seus produtos, é seu impacto sobre o Brasil e sobre o resto da economia Latino-americana. O Brasil tem no mercado Europeu 20% de suas exportações de manufaturados, sendo este o segundo mercado desses produtos após a América Latina; está também acima dos 15% que exporta em manufaturados para os EUA. A crise europeia vem deprimindo economias importantes como a Argentina, criando, como decorrência, problemas para as exportações brasileiras para este país. Se a economia Norte-americana ensaia alguma recuperação, não se vê o mesmo movimento na Europa. O jogo de forças entre os países do Norte e os do Sul continua, o que é ruim para toda a zona do Euro. Os economistas dentro dos governos ainda não perceberam que as políticas de ajuste fiscal apenas continuarão a agravar a situação. Sem crescimento econômico os países da periferia europeia não sairão da situação em que se encontram. De outro lado os bancos alemães e franceses não desejam abrir mão de receber o pagamento de seus títulos sem valor. A recessão mata qualquer possibilidade de gerar receita para o pagamento. O que ocorre é o mesmo de querer receber dívidas de alguém, impedindo-o de trabalhar para gerar a renda necessária que viabilize o pagamento. O gráfico “PIB - Zona do Euro” demonstra claramente como a situação geral se agrava. A queda no PIB é contínua desde 2010 e não existe perspectiva de reversão à vista. Apenas alguns países não submetidos à moeda única tem conseguido realizar uma política econômica mais autônoma.
PIB – zona do Euro (17 países)
Eurostat
47
Seguindo a queda no PIB, o desemprego na Zona do Euro apenas cresce. Seria necessária uma alteração radical na forma de pensar saídas para a região, que privilegiem o crescimento. A Alemanha, líder do Bloco e principal país na definição dos rumos da política até agora adotada, está começando a perceber que uma Europa em recessão é ruim para o próprio país. O risco dos bancos alemães não receberem com a recessão apenas cresce.
Taxa de desemprego zona do Euro (17 países)
Fonte: Eurostat
O Brasil pode, como antes afirmado, realizar ações mais fortes contra o reflexo da crise europeia sobre sua economia. De qualquer forma, essa crise na Zona do Euro está impactando o resto do mundo e, por isso, mesmo com nossas ações, os resultados serão inferiores aos desejados. Infelizmente, não há perspectivas de curto prazo para a Europa sair da crise. Assim, cabe ao governo brasileiro pensar como atuar diante desse cenário para não deixar a economia mergulhar em desaceleração.
China Dentre todos os países, a China é aquele que mais tem atuado no sentido de evitar uma desaceleração em sua economia. Subvertendo as opiniões de alguns economistas que imaginavam o país mergulhando em crise, a China sustenta um crescimento elevado, superior a 7,5% ao ano. O mais surpreendente é que esse crescimento se dá sobre um PIB que já é o segundo maior do planeta. O FMI projeta um crescimento médio para este país de 8% nos próximos anos.
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Crescimento do PIB chinês
Fonte: FMI
Vale destacar que uma queda maior na economia chinesa causaria hoje uma devastação completa na economia mundial. O Brasil e diversos países da América Latina, todos focados na exportação de commodities agrícolas e minério para China teriam grandes problemas a enfrentar. Colocaria em xeque o crescimento brasileiro diante da restrição externa que geraria. O saldo de nossa balança comercial está centrado na China. Dado o tamanho de sua população, adicione-se o fato de que essa população está à espera dos benefícios econômicos. A economia chinesa não pode parar de crescer neste momento em que o grosso desse contingente populacional ainda não foi incluído na modernização do país. Talvez seu espelho ideal de desenvolvimento e consumo seja Cingapura. Assim, o governo chinês não pode abrir mão da expansão. Como se pode ver na tabela, em 2012 o consumo na China está crescendo a taxas superiores às do investimento pela primeira vez. Isso é resultado da ação do governo em alterar o motor dinâmico da economia. A elevação dos salários e o aumento da participação da produção de bens de mais elevada tecnologia (menos intensivos em custo do trabalho) vem permitindo essa mudança.
China – variação percentual
2008
2009
2010
2011
2012
2013
PIB real
9,6
9,2
10,4
9,2
7,8
8,2
Demanda doméstica
9,7
14,0
10,6
10,1
9,4
9,0
Consumo
8,5
9,4
9,2
9,7
10,1
9,7
Investimento
11,1
19,3
12,0
10,5
8,8
8,2
Fonte: FMI
49
De qualquer forma, para esse objetivo, a preservação dos investimentos é muito importante. O país continua investindo quase 48% do seu PIB anualmente para manter a taxa de crescimento. Mesmo que o FMI estime, como demonstra o gráfico, uma queda na participação do investimento no PIB nos próximos anos, ela ainda será extremamente elevada, superando os 44% do PIB em 2017. Assim, preocupado com a desaceleração da economia diante das metas de crescimento chinesas, o Governo do país lançou um novo pacote de investimentos em infraestrutura no valor de US$158 bilhões, cerca de 2% do PIB. Envolve estradas, ferrovias, metrô e instalações para tratamento de água. Com isso, o próprio governo chinês prevê um crescimento de 8% no próximo ano.
China – taxa de investimento
Fonte: FMI
A preservação do desempenho da economia chinesa é uma boa notícia ao Brasil e a diversos países da América Latina. A demanda por commodities daquele país deve continuar elevada. A queda nos preços desses produtos já era esperada, dado que grande parte da elevação anterior resultava de movimentos especulativos que enfraqueceram com a crise financeira. As importações de commodities pela China ainda são crescentes. Assim, mantém-se uma perspectiva positiva para os setores agrícola e mineral brasileiros, embora em menor aceleração, garantindo um crescimento da compra de máquinas e equipamentos da construção.
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Tendências internacionais EUA
• Economia Americana: ligeiros sinais de saída da estagnação • Empresas internas não têm poder de ação • Sem fato novo, o resultado das eleições terá pouco impacto • Expectativa de baixo crescimento entre 1,5% e 2,0% em 2012 Europa
• Jogo de forças: “mercado” ainda vitorioso • Eleva perspectiva de corte de gastos públicos situação se agravou • Euro em risco com as políticas atuais, dificilmente sustentável • Crise passa a atingir toda Europa, inclusive a exportadora Alemanha China
• Queda Crescimento Chinês para 7,5% • Governo promete manter a economia em crescimento • Novo pacote de investimentos • Queda na taxa de juros política expansionista • Mudança dinâmica crescimento interno (elevação salários) Conclusão: economia mundial crescimento baixo nos próximos anos China sustenta
Análise dos principais mercados de máquinas Demanda para infraestrutura As vendas de máquinas e equipamentos para infraestrutura, principalmente na área de transportes, ficaram bastante aquém do desejado. O gráfico “Investimento em Infraestrutura” demonstra claramente a modificação de tendências nos aportes de recursos. Depois do pico de 2008 e 2009, os investimentos vieram caindo com grande destaque para a queda de 2011 de 2,4% com relação ao PIB para pouco mais de 2,0%. Esse nível de investimentos em infraestrutura no Brasil é historicamente baixo. Isso explica diretamente a queda no crescimento das vendas de máquinas da construção nos últimos dois anos.
51
Investimento em infraestrutura
Fonte: InterB
Os dados do “Investimento do Setor Público em Infraestrutura” demonstram claramente a queda no nível de investimentos, corroborando os dados gerais apresentados anteriormente. Os investimentos em rodovias teriam sido reduzidos de quase R$11 bilhões em 2010 para um pouco menos de R$8 bilhões, projetado para 2012.
Investimento do setor público em infraestrutura
Fonte: Ipea
Se em 2011 o acompanhamento do PAC II em relação ao PAC I já demonstrava desaceleração no volume de gastos, em 2012, apesar de mantida a despesa mensal, os gastos ficaram muito aquém do anunciado. Vale lembrar que no acompanhamento da execução dos PAC, sempre ressaltamos que os gastos ficavam abaixo do anunciado. Mesmo assim, o uso do PAC em 2010 como forma de organização
52
dos investimentos em infraestrutura e como elemento norteador para o investimento privado, teve bastante sucesso. Em 2011 os gastos ficaram ainda mais baixos e em 2012 relativamente estáveis. A criação de novos programas como o PAC Concessões e o PAC Equipamentos, mesmo sendo iniciativas muito positivas, não terão o impacto imediato necessário à retomada das vendas de equipamentos. Dados do sistema de Administração Financeira do Governo Federal – SIAF apontam que apenas 48% dos recursos para obras em transportes foram executados. No caso das rodovias, segundo a mesma fonte, estima-se que este ano apenas 58% dos R$13,6 bilhões no orçamento previsto serão gastos, ou R$8 bilhões, e mesmo assim, grande parte relativa a restos a pagar contratados em anos anteriores. As ferrovias também não utilizarão o total de recursos previstos no orçamento. Dos R$2,7 bilhões, apenas R$880 milhões são previstos para serem gastos neste ano. As hidrovias também utilizarão apenas 45% dos R$817 milhões orçado em investimentos. A baixa qualidade dos projetos, desapropriações e lei ambiental são as justificativas oficiais para o baixo investimento em infraestrutura de transportes. De qualquer forma, devem-se somar a essas razões, problemas burocráticos e restrição do uso de recursos. A expectativa para os próximos anos será de que o Governo retome as políticas de investimento do passado que ficaram fora da agenda para acelerar o crescimento das vendas de máquinas e equipamentos da construção.
PAC Concessões Em complemento à estratégia preconizada nos PAC I e II para organizar os investimentos em infraestrutura, em agosto deste ano, o Governo Federal lançou o PAC Concessões. Destacou do PAC projetos na área de transportes que possuem alguma atratividade em termos de rentabilidade futura para conseguir parceria do setor privado. O Programa contempla investimentos em duplicação, construção e modernização de ferrovias e rodovias da ordem de R$133 bilhões que deverão ser aplicados nos próximos 25 anos, sendo R$79,5 bilhões em 5 anos e o restante, R$53,5 de 20 a 25 anos. As obras poderão estruturar seus fundos com financiamento do BNDES com taxas de juros compostas de TJLP mais 1,5% para rodovias, com carência de até três anos e 1% para ferrovias, com carência de 5 anos. Parte dos fundos poderá ser obtida pela emissão de debêntures pela empresa SPE–Sociedade de Propósito Específico, constituída para a obra com garantia também do BNDES. Principais pontos PAC Concessões
• Investimento total: R$133 bilhões: • R$ 79,5 bi em 5 anos • R$ 53,5 bi em 20 a 25 anos • Rodovias: R$ 42 bilhões 7,5 mil km R$ 23 bilhões até 2017 • Ferrovias: R$ 91 bilhões 10,0 mil km R$ 56 bilhões até 2017
• Financiamento BNDES até 65% dos empreendimentos: • Rodovias: TJLP + até 1,5% – carência até 3 anos/ prazo 20 anos • Ferrovias: TJLP + até 1,0% – carência até 5 anos/ prazo 25 anos • BNDES dará garantias ao setor privado – emissão debêntures.
53
Para as concessões de rodovias foram selecionados 9 trechos em oito Estados sob o critério de menor tarifa. A concessionária (SPE) fará investimentos nos primeiros 5 anos do empreendimento. As tarifas só poderão ser cobradas com 10% das obras realizadas. No caso das ferrovias, a nova estruturação envolve uso da estatal Valec (responsável hoje pela construção da Ferrovia Norte-Sul) que comprará toda a infraestrutura física tornado-se a operadora centralizada que venderá por oferta pública os direitos de passagem aos transportadores privados e concessionárias.
Prazos rodovias
Km (mil) Abert. Audiência Púb./Estudos Encerramento Audiência Púb. Publicação do Edital Licitação Contratação
Grupo 1 1,7 ago/12 out/12
Grupo 2 5,8 dez/12 jan/13
dez/12 jan/13 abr/13
mar/13 abr/13 jul/13
Grupo 1 2,6 dez/12 jan/13 mar/13 abr/13 jul/13
Grupo 2 7,4 fev/13 mar/13 mai/13 jun/13 set/13
Fonte: Governo Federal
Prazos ferrovias
Km (mil) Estudos Audiência Pública Publicação do Edital Licitação Contratação Fonte: Governo Federal
Lista de obras PAC Concessões Rodovias
Ferrovias
Rodovias
Ferrovias
BR-101 BA
Ferroanel SP – Tramo norte
BR-267 MS
Salvador - Recife
BR-262 ES/MG
Ferroanel SP – Tramo Sul
BR-060 DF/GO,
BR-153 TO/GO
Acesso ao Porto de Santos
Estrela d’Oeste – Panorama Maracaju
BR-050 GO/MG
Lucas do Rio Verde - Uruaçu
BR-153 GO/MG,
Maracaju – Mafra
BR-163 MT
Uruaçu – Corinto - Campos
BR-262 MG
São Paulo – Mafra - Rio Grande
BR-163 MS,
Rio de Janeiro - Campos - Vitória
BR-116 MG
Açailândia – Vila do Conde
BR-262 MS,
Belo Horizonte – Salvador
BR-040 DF/GO/MG Trechos em Estudos/Avaliação
Fonte: Governo Federal
54
O Governo espera que nos próximos 4 anos sejam investidos R$40 bilhões no pacote de concessões. O objetivo central do programa é atrair investidores do setor privado para projetos de modo a complementar o investimento público em infraestrutura, liberando os recursos do governo para projetos menos atrativos. Em geral, os projetos destacados possuem potencial de retorno financeiro a longo prazo por cobrança de tarifas ou subsídios fiscais. A tentativa de atrair recursos privados para projetos de infraestrutura não é nova. Em moldes diferentes, foi tentada nos anos 90 com pouco sucesso nas áreas de rodovias e ferrovias. Teve êxito para algumas rodovias já construídas pelo Estado com grande movimento de veículos. No caso das ferrovias, deixou sequelas pela falta de investimentos previstos pelas concessionárias, dado que muitas linhas deveriam ser reconstruídas. É importante destacar que a nova política de concessões ocorre em uma época bastante diferente, principalmente no que se refere ao nível de taxas de juros e a presença da ideia de que é possível e necessária uma maior participação do Estado em projetos pouco rentáveis. O problema central na maioria das vezes é que se o retorno financeiro estiver exclusivamente calcado, por exemplo, em tarifa, estas podem se tornar excessivamente elevadas para a sociedade e não resultar em diminuição do chamado “custo Brasil”. As atuais baixas taxas de juros facilitam a atração de investidores que não têm onde aplicar seus recursos ociosos, principalmente fundos de pensão que precisam de segurança e longo prazo. Pode interessar também fundos de aplicação financeira que não mais dispõe das fáceis taxas de juros da dívida pública, portanto, espera-se se interessam pela compra de títulos de participação na SPE. Espera-se também poder atrair investidores estrangeiros. Não há no mundo muitas possibilidades de aplicação rentáveis para o dinheiro que hoje está disponível nos mercados financeiros. Foi despejada uma enorme liquidez pelos bancos centrais dos EUA e Europeu no sistema, sem aplicação rentável e segura. A recriação do Antigo Geipot como EPL-Empresa de Planejamento e Logística, como uma agência Governamental responsável pela articulação dos projetos, também é positiva embora esteja muito mais ligada à parte técnica do que da estruturação financeira. Apesar de importante, a estratégia do programa de concessões envolve uma complexa preparação e a articulação dos projetos. É necessário tempo e expertise para estruturação completa do projeto em termos de engenharia financeira, busca de fundos e de parceiros, além do projeto de engenharia. Assim, para o programa ter sucesso é necessária uma articulação entre setor privado e setor público extremamente eficiente. A participação pública nesse tipo de projeto será central para garantir um mínimo de rentabilidade com baixo impacto sobre as tarifas finais. Essa é outra complexidade que envolve o programa e que, por sua falta nos anos 90, inviabilizou muitas possibilidades. Há poucos casos de sucesso no mundo sem uma forte participação pública diretamente na SPE. A questão central ainda é o tempo de implantação do programa. Mesmo tudo ocorrendo no tempo previsto dentro do cronograma, mesmo descontando o tempo para montagem do “Project Finance”, a entrada em operação dos primeiros projetos só ocorrerá no final de 2013, ficando a maior parte das obras em si, que envolvem diretamente a compra de máquinas, para 2014/15. O problema, portanto, é o tempo que envolverá até seus primeiros impactos sobre a compra de máquinas e equipamentos, a execução em si das obras previstas. Assim, infelizmente, a expectativa é que em tendo sucesso, apenas em 2014 impactará a demanda de máquinas.
55
PAC Concessões Possibilidades de sucesso
• Baixas taxas de juros eleva atratividade Taxa de Retorno (TIR) • Pode interessar a Fundos e Bancos Privados novas oportunidades • Investidores estrangeiros podem ver como oportunidade • Novo modelo deve ter maior participação do Estado • Recriação do GEIPOT para administração do programa • Cria uma expectativa positiva sobre toda a economia Dificuldades
• Terá impacto apenas a partir de 2015 sobre a economia (+5 anos) • Estruturação de projetos elevada complexidade (participantes) • Engenharia financeira complexa (repartição custos e benefícios) • Retorno dos investimentos longo prazo (TIR compatível) • Há poucas experiências de sucesso, mesmo internacionais (Transportes) • Atração de investidores estrangeiros (tentou-se anos 90) • É obrigatório um compromisso Estado diferenciado • O problema da falta de infraestrutura não tem sido recurso
PAC II
A desaceleração do PAC II no novo governo surpreende. Não se imaginava que a nova presidente pudesse deixar de lado o programa que a elegeu. Um início de governo pautado por políticas macroeconômicas de contenção e corte de gastos públicos levou a essa realidade. O único programa que teve total apoio do governo e se manteve central no PAC II foi o Minha Casa Minha Vida que viu os recursos nele aplicados crescerem de uma média mensal de R$4,7 bilhões no PAC I para R$7,2 bilhões no PAC II. O programa foi responsável por mais da metade das ações concluídas que atingiram R$211 bilhões até junho de 2012. Vale lembrar que o Minha Casa Minha Vida conta com recursos da Caixa Econômica Federal, portanto, não contingenciados, bem como com recursos das construtoras privadas. Vale destacar que o valor das ações concluídas de R$211 bilhões do PAC II como um todo representa 29% do total de ações previstas até 2014. Portanto há muito ainda por fazer, o que poderia recolocar o PAC como um artifício anticíclico no sentido da retomada do investimento, promovendo o crescimento econômico pela expectativa positiva que resultaria aos investidores privados, como ocorreu em 2010. Até junho de 2012, foram executados R$324 bilhões do PAC II, 34% dos R$955 bilhões previstos para o período 2011-14. 56
O programa de transporte do PAC II andou de lado. A média de desembolsos mensais para essa rubrica caiu de R$1,42 bilhão para R$1,36 bilhão. Embora essa média tenha melhorado em relação ao ano passado – em setembro de 2011 atingia R$0,18 bilhão – ainda deixa a desejar. Seu impacto sobre a baixa venda de máquinas da construção foi visível. Ações concluídas R$ bilhões 2011 - jun2012
Média mensal PAC 2
Média mensal PAC 1
Transportes
24,4
1,36
1,42
Energia
55,1
3,06
3,23
Cidade Melhor
0,2
0,01
0,07
129,3
7,18
4,72
2,0
0,11
0,22
211,0
11,72
9,65
Minha Casa, Minha Vida Água e luz para todos Total Fonte: Governo Federal
Em termos de ações concluídas, as relações melhoram muito em relação a 2011 na área de transportes. Quando naquele ano apenas pouco mais de R$6 bilhões estavam concluídas nessa rubrica, em 2012, apenas no primeiro semestre, elevou-se para R$18,3 bilhões.
Total das ações concluídas em cada semestre – R$ bilhões 1S-2011
2S-2011
1S-2012
Transportes
0,01
6,09
18,30
Energia
7,70
26,10
21,30
Cidade Melhor
0,03
0,08
0,10
Minha Casa, Minha Vida
38,00
47,10
44,20
Água e luz para todos
0,01
1,79
0,20
45,74
81,17
84,10
Total Fonte: Governo Federal
É condição essencial para a retomada do investimento privado o uso do PAC como sinalizador de tendência positiva sobre o crescimento econômico. Além disso, e mais importante, contribui para diminuir, mesmo que ainda timidamente, os gargalos de infraestrutura que tanto retiram competitividade da economia brasileira. Recentemente, o Governo resolveu destacar parte do Programa para o PAC concessões acima analisado. Apesar de fundamental a tentativa de contar com uma maior parceria do setor privado, das grandes construtoras e fundos financeiros dos bancos, como apontado, a estruturação de projetos complexos leva mais de tempo do que seria necessário para recolocar a economia em rota de crescimento já em 2013. Por isso a retomada do PAC II nos moldes tradicionais seria importante. 57
Desembolsos BNDES em infraestrutura Embora os desembolsos do BNDES tenham apresentado queda relativa ao longo do ano por conta de falta de tomadores de crédito para infraestrutura, o Banco continua sendo, junto com a Caixa Econômica Federal, um importante financiador de projetos nessa área. O BNDES assumiu esse papel central nos últimos 10 anos. Passou de uma média mensal de desembolsos para infraestrutura de R$ 1 bilhão em 2002, para uma média mensal de R$ 3 bilhões em 2012. Esse crescimento da participação do BNDES no financiamento de infraestrutura no Brasil fez com que sua carteira de projetos nessa área – o estoque de projetos apoiados pelo banco – até julho de 2012 atingisse 339 projetos com um valor financiado de R$153 bilhões, compondo recursos para investimentos totais de R$263 bilhões.
Infraestrutura - carteira de projetos do BNDES – em R$ bilhões (jul-2012) Setores Energia Rodovias Portos, Terminais e Armazéns Transporte Dutoviário Ferrovias Transporte Aéreo Navegação Outros Total
Número de Projetos 227 35 38 1 10 5 20 3 339
Valor do Apoio 106 15 13 6 6 4 3 0 153
Investimento Total 168 30 20 9 12 22 3 0 263
Fonte: BNDES
Na comparação com o ano passado, entre janeiro e setembro deste ano foram liberados 18% menos recursos, atingindo apenas R$31 bilhões. Isso demonstra a queda nos investimentos de infraestrutura no Brasil neste ano, explicando diretamente a queda nas vendas de máquinas e equipamentos para construção.
BNDES – desembolso por área
Fonte: BNDES
58
O segmento que mais sofreu com a queda nos desembolsos do BNDES foi transporte terrestre, com um declínio de 36% comparando-se o acumulado de janeiro a setembro de 2012 contra o ano passado. O desembolso nesse período de 2012 atingiu R$13,6 bilhões.
Desembolso BNDES em transportes
Fonte: BNDES
O BNDES não é o principal financiador de projetos de saneamento (água e esgoto), mas vem elevando sua participação ao longo dos anos. Se em 2002 seu desembolso para este segmento atingiu R$54 milhões entre janeiro e setembro, em 2012, no mesmo período, ultrapassa R$1,1 bilhão. Mesmo assim, diante da queda nos investimento em infraestrutura em geral em 2012, os desembolsos para o esse segmento de saneamento básico diminuíram 6,3% sobre o mesmo período de 2011.
Desembolso em água, esgoto e lixo
Fonte: BNDES
59
Como apontado pelo próprio presidente do BNDES, os investimentos necessários para infraestrutura hoje deveria ser da ordem de R$90 a R$100 bilhões por ano. A participação do Banco pode crescer no setor. Recursos não faltaram em 2012. Faltaram tomadores. Como apontado acima na análise do PAC Concessões, é prevista uma participação central do banco no financiamento. Isso é fundamental para a viabilização dos projetos. O BNDES também está atuando como garantidor da emissão de debêntures privadas específicas para investimentos em infraestrutura. As debêntures têm sido utilizadas como complemento de recursos aos financiamentos dados pelo próprio Banco. Já se beneficiaram desse tipo de operação as grandes concessionárias de rodovias bem como usinas hidrelétricas e linhas de transmissão. No PAC Concessões esse complemento será normal e necessário. É importante destacar que o BNDES está estruturado e hoje já possui longa experiência no financiamento de projetos de infraestrutura. Como apontado, não faltam recursos nem conhecimento. Falta uma política pública de investimentos diretos que tragam o setor privado como participante complementar das obras, como foi feito em 2010.
Copa do Mundo e Olimpíadas Apesar de ainda poucas obras concluídas no pacote de investimentos para a Copa do Mundo de 2014, a maioria dos projetos já está em andamento, principalmente os estádios, todos em construção. Dados de abril deste ano apontavam que 32% dos empreendimentos ainda estão em licitação ou em fase de elaboração de projetos. São obras que estão atrasadas em transportes, como mobilidade urbana, portos e aeroportos. Dessa forma, há ainda oportunidades para a venda de máquinas nas obras que ainda estão por acontecer.
Estágio das obras – 101 empreendimentos – abr/12 Concluídos
5%
Em obras
54%
Aguardando Início
9%
Em licitação
17%
Elaboração de Projeto
15%
Fonte: Ministério do Esporte
De outro lado, em relação aos estádios, como todos estão com suas obras já iniciadas e avançadas, não se vislumbra mais a possibilidade de demanda representativa de máquinas para esses projetos.
60
Conclusão estádios Copa 2014 – percentual – set/12 1º Castelão - Fortaleza
87
2º Mineirão - Belo Horizonte
78
3º Mané Garrincha - Brasília
72
4º Fonte Nova - Salvador
70
5º Maracanã - Rio de Janeiro
66
6º Arena Pernambuco - Grande Recife
52
7º Arena Corinthians - São Paulo
49
8º Arena Pantanal - Cuiabá
47
9º Arena da Baixada - Curitiba
45
9º Arena da Amazônia - Manaus
45
11º Beira-Rio - Porto Alegre
33
12º Arena das Dunas - Natal
30
Fonte: Portal 2014
Assim, estima-se que para as obras da Copa, restem oportunidades para o setor de máquinas da construção, mas em menor escala. Demandarão máquinas apenas aquelas que ainda irão começar. Nesse sentido, vale destacar que como os investimentos públicos em infraestrutura estão caminhando muito devagar, há risco de que parte das obras propostas, principalmente de mobilidade urbana, acabe por não acontecer. O metrô de São Paulo é um exemplo. Estava previsto um volume maior de obras que talvez não se concretize no prazo de 2014. No caso das obras ligadas às Olimpíadas, cujo foco principal é o Rio de Janeiro, as obras estão em andamento para o horizonte de 2016. Os investimentos previstos atingem R$12,5 bilhões.
Olimpíadas – investimentos previstos no Dossiê de Candidatura do RJ (R$ milhões) Área
Investimento Público
Investimento Comitê
Total
%
2.590
0
2.590
21
Instalações Esportivas
953
565
1.518
12
Segurança
472
0
472
4
Tecnologia
406
72
477
4
Transportes
7.460
0
7.460
60
Total
11.882
637
12.518
100
95
5
100
Acomodações
% Fonte: Portal da Transparência - CGU
61
Não há muitas informações disponíveis sobre o andamento das obras, mas parte delas já teria começado, principalmente no campo dos transportes, com previsão de término entre 2013 e 2015. Há ainda oportunidades, mas localizadas na cidade do Rio de Janeiro. Olimpíadas – investimentos previstos no Dossiê de Candidatura do RJ (R$ milhões) Projeto
Extensão
Orçamento R$ bi
Conclusão
BRT Transcarioca
39 km
1,88
out/13
BRT Transoeste
56 km
1,27
jun/12
BRT Transolímpica
26 km
1,60
dez/15
BRT Transbrasil
40 km
Indefinido
(projeto) abr/2012
Metrô Linha 4
6 estações
5,00
dez/15
Fonte: Portal 2014 – BRT (Bus Rapid Transit) Corredor de ônibus
Vale destacar que se o projeto Olimpíadas for bem utilizado, as oportunidades e o impacto sobre o crescimento econômico do Rio de Janeiro serão importantes. Estima-se que os investimentos possam ter impacto multiplicador beneficiando os setores da construção civil e diversos segmentos de serviços.
Infraestrutura-problemas e desafios Problemas
Desafios
• PAC concessões è Impacto no futuro
• Não há sinais para recuperação no Curto Prazo
• Faltam investimentos em infraestrutura no presente • Restrição fiscal tem impedido ação pública • Há recursos, mas não há tomadores • Desaceleração do PAC II • Transporte terrestre e saneamento têm sido prejudicados • Copa do Mundo terá impacto menor daqui para frente • Olimpíadas ainda apresenta oportunidades
62
• Há muito a fazer è obras atrasadas • Depende de decisões políticas – Gasto público X Política anti-inflacionária • Com crescimento econômico não há problemas de recursos • Necessidade de ação política para retomada de parte dos investimentos • PAC concessões não resolve situação atual
Demanda para construção civil Construção civil Se em 2011 o segmento da construção civil já havia sofrido com a desaceleração da economia, essa tendência continuou imperando em 2012. Se no ano passado as construtoras viram seus estoques crescerem por conta do volume de empreendimentos iniciados em 2010 que entravam no mercado, 2012 foi o ano de eliminar estoques, sem acréscimos significativos de novos empreendimentos. Como pode ser visto nos dados do mercado imobiliário de São Paulo, que pode ser tomado como exemplo do que aconteceu no resto do país, durante 2011 os lançamentos ainda superaram as vendas devido a projetos iniciados em 2010. Já no primeiro semestre de 2012, as vendas superaram os lançamentos levando os estoques para baixo. Os lançamentos caíram 38% no período de janeiro a agosto de 2012 frente ao mesmo período do ano passado.
Mercado imobiliário – SP
Fonte: Secovi
Estoque de imóveis à venda em São Paulo, capital
Fonte: Secovi - SP
63
Por conta da desaceleração do mercado tanto em 2011 como no primeiro semestre deste ano, diversas construtoras que vinham investindo de forma crescente em novos empreendimentos e terrenos, tiveram problemas de caixa. Muitas delas desfizeram-se de terrenos. Dificultou as vendas fato de os preços dos imóveis terem se elevado excessivamente nos últimos anos superando duas vezes o índice de preços da construção civil (INCC). Houve uma estabilização em valores altos. A percepção geral é que todos os agentes que atuam na construção civil pararam para observar o que poderia vir pela frente. Crescimento do preço do m2 entre ago. 2010 e ago. 2012 Capital Rio de Janeiro
%ago2012/10 68,3
Recife São Paulo Média Belo Horizonte Fortaleza Distrito Federal Salvador
59,3 52,4 50,9 38,3 35,3 30,1 16,4
Fonte: Valor Investe out2012 - Fipe
A queda na construção civil se reflete no PIB da construção e no emprego do setor. Seu crescimento vem desacelerando dando sinais de estabilização. Comparando-se o primeiro semestre de 2012 contra o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de apenas 2,4%. PIB – construção civil
Fonte: IBGE
O nível de emprego no setor começa a sentir a baixa. Se comparados os nove primeiros meses de 2012 com o mesmo período do ano passado, o emprego líquido criado (contratações menos demissões) caiu 11%. O setor contratou menos. Dados mais recentes apontam para uma tendência de queda no emprego. 64
Emprego na construção civil
Fonte: CAGED
A questão central envolvida no desempenho da construção civil se relaciona não apenas à desaceleração da economia que foi um fator crucial para a desaceleração. Mas é importante destacar que o setor ainda não encontrou uma fórmula de crescimento sustentável. A enorme aceleração de preços em todas as grandes capitais é reflexo das dificuldades que o setor encontrou para administrar o crescimento. Praticamente todo o benefício de crédito ao comprador, ampliado de forma impressionante como pode ser visto no gráfico “estoque de crédito habitacional”, se de um lado foi fundamental para o “boom” de crescimento, de outro provocou pressões de demanda. As construtoras e o mercado trataram de repassar essas pressões aos preços, elevando-os mais que os custos de construção, embora acompanhando em parte o crescimento dos preços dos terrenos. A escassez de mão de obra, ou a diminuição da capacidade de suprir a demanda tem também sua responsabilidade sobre os preços.
Estoque de crédito habitacional
Fonte: BCB e CEF
65
Pode-se, portanto, dizer que, desde os preços dos terrenos até os preços dos imóveis em si, subiram de forma exagerada, inflacionando o mercado em taxas desproporcionais ao crescimento da renda das pessoas. Assim, em parte, a retomada do crescimento do setor está relacionada à volta do crescimento econômico eliminando a incerteza, de modo a fazer com que os compradores se sintam seguros em assumir compromissos financeiros de longo prazo. De outra parte, será necessária uma readequação de preços ao mercado, de modo a elevar as vendas e engendrar um crescimento mais organizado no setor. Esse segundo movimento é mais complicado.
Minha casa minha vida O programa Minha Casa Minha Vida continuou ao longo de 2012 a ser o programa do PAC que manteve seu desempenho. Foi também um programa importante para manter algum crescimento no segmento da construção civil no ano, diante da queda na construção residencial no mercado convencional. Desde o início de 2011 até o primeiro semestre de 2012, as ações concluídas do programa somaram R$129 bilhões (veja quadro no item PAC II acima). As ações concluídas no primeiro semestre deste ano somaram R$44 bilhões e superaram o mesmo período do ano passado em quase 16%. Desde o início do programa até agosto de 2012 foram contratadas 1,8 milhões de unidades, 94% delas com apoio da Caixa Econômica Federal. Foram, no mesmo período, concluídas mais de um milhão de unidades e entregues 883 mil. A meta inicial do programa era de 2 milhões de unidades até 2014 do programa em sua segunda fase. Está próximo de atingi-la.
Programa Minha Casa Minha Vida 1 e 2 Unidades - de 2009 até 15ago/2012 Estado
Contratadas
Concluídas
Entregues
Centro Oeste
192.477
124.827
110.579
Nordeste
470.979
253.183
193.319
Norte
120.796
37.969
28.747
Sudeste
649.162
377.753
314.073
Sul
334.240
233.795
218.447
1.767.652
1.027.527
865.165
Banco do Brasil
31.020
1.829
524
Ministério das cidades
69.442
30.174
17.851
Total do Programa
1.868.114
1.059.530
883.540
Total Caixa
Fonte: CEF
66
O problema da elevação dos preços dos imóveis (abordado no item acima) tem trazido alguns impasses para o programa por conta do teto máximo dos valores dos imóveis envolvidos. Recorrentemente o setor da construção reivindica uma elevação no valor. Recentemente, o Governo cedeu e subiu o teto de valor de R$170 para R$190 mil reais nas Capitais para o imóvel poder participar do Programa. Nas cidades com menos de um milhão de habitantes, passou de R$150 mil para R$170 mil. O problema da elevação do valor é a drenagem dos recursos para imóveis de mais alta renda. O programa não tem tido muitos empreendimentos para a Faixa 1, segmento de baixa renda. Como é uma forma de parceira do setor público com construtoras privadas, essa faixa não tem sido focada por conta de sua baixa rentabilidade para as construtoras. Assim não cumpre um de seus principais objetivos. Mas é importante ressaltar que, dos programas de governo, o Minha Casa Minha Vida vem sendo o único que se mantém a pleno vapor com apoio financeiro da Caixa Econômica Federal. É um programa que, apesar de estar alcançando a meta, tem muito a crescer e continuar, dado o enorme déficit habitacional. Apesar disso, a continuidade de seu sucesso depende do crescimento da renda e do emprego formal. Elevar a renda das famílias que estão na base da pirâmide social é fundamental para o sucesso nas faixas de renda mais baixa. Dessa forma, para continuar benéfico à população bem como às construtoras envolvidas, é necessária a retomada do crescimento econômico.
Problemas e desafios para construção civil Problemas
• Ainda mantém crescimento positivo • Tendência à estagnação • Possível queda nos preços dos imóveis • Sofreu impacto da desaceleração da economia • Incerteza dos agentes é muito grande para compromisso LP Desafios
• Retomada do crescimento econômico (emprego e renda) • Retomada das expectativas dos agentes • Preços precisam baixar
Demanda para mineração e agricultura Mineração A produção brasileira de minério de ferro depende hoje em grande parte do mercado chinês. Apesar de todas as notícias apreensivas sobre o crescimento da economia chinesa, o governo do país tem criado políticas ativas de preservação de taxas de elevação do PIB superiores a 7,5% (veja item deste trabalho específico sobre a economia chinesa).
67
Embora o volume exportado de minério de ferro tenha diminuído 3,1% no acumulado de janeiro a setembro de 2012 sobre o mesmo período do ano passado, o volume vendido para a China caiu apenas 1,7%. Segundo informações daquele país, em agosto as importações chinesas de todo o mundo em toneladas havia crescido 5,7%. Deve-se lembrar de que 46% do minério de ferro brasileiro tem a China como destino. O problema do mercado de minério de ferro para o Brasil não tem sido o volume exportado, pelo menos por enquanto. A questão é a queda nos preços do minério que tem feito a receita das exportações cair. No acumulado do ano até setembro contra 2011, o valor exportado caiu 26% por conta de uma queda nos preços. De qualquer forma, uma queda nos preços nesse momento de crise que atravessa a economia mundial já era esperada. É bom lembrar que, como se torna visível no gráfico “Exportação de Minério de Ferro”, grande parte da elevação de preços nos últimos anos se deveu a movimentos especulativos nos mercados de commodities. Com a crise financeira mundial, esses mercados especulativos tornaram-se menos líquidos e portanto pararam de pressionar os preços. É difícil estimar como se movimentarão esses mercados diante de um possível retorno da liquidez especulativa pelas políticas atuais dos Estados, mas pode-se apostar em uma estabilidade nos níveis atuais.
Exportação de minério de ferro
Fonte: MDIC
Dessa forma, diante da continuidade do crescimento chinês mesmo que a taxas mais modestas, bem como diante da qualidade superior do minério brasileiro, as exportações devem, nos próximos anos, continuar em ritmo de crescimento moderado. De outro lado, a diferença de crescimento do volume exportado do Brasil, em relação à taxa de crescimento do volume importando pela China, demonstra que este país está comprando mais de outros fornecedores.
68
Dada a qualidade do minério de ferro brasileiro, a queda nos preços prejudica os exportadores com minérios inferiores. Isso pode ao contrário do esperado, provocar um crescimento do volume vendido pelo Brasil. Volume vendido
Fonte: Vale
Embora o mercado mundial de minério observe uma ligeira retração, dada a qualidade do minério brasileiro e sua relação de custo, o setor continuará em seu ritmo de produção. A desaceleração neste ano deve ser compensada por um crescimento nos próximos anos mais lento do que nos anos de elevado crescimento chinês. Assim a venda de máquinas da construção para esse setor, utilizada principalmente para abertura de novas minas e ampliação da produção em minas existentes, deve continuar em um crescimento lento, mas estável.
Demanda de máquinas pela agricultura Cana-de-açúcar O setor produtor de cana-de-açúcar não acompanha a tendência internacional dos produtos agrícolas, principalmente no que se refere à produção de grãos. As exportações de açúcar e álcool caíram 26% no acumulado comparado com 2011 de janeiro a setembro em razão da crise internacional. Grande parte de nossas vendas desses produtos destinam-se aos mercados em crise. Essa situação aliada ainda à transformação estrutural produtiva do segmento no Brasil resulta em expectativas de baixo crescimento. No Brasil, o setor sucroalcooleiro passou por um processo de internacionalização recente. Os antigos produtores nacionais passavam por problemas financeiros. Grandes empresas multinacionais adquiriram usinas principalmente na região centro-sul onde estão concentradas 90% da oferta de cana. Antes da crise, essas empresas de energia mundiais buscavam oportunidades de investimento. A crise mundial em parte as afetou. Depois de reestruturarem as dívidas do setor, viram-se sem recursos para investir em novos canaviais. Como resultado, a produção e a área diminuíram. Por esses motivos, o segmento de cana-de-açúcar levará ainda tempo para se recuperar. A safra de 2012/11 apresentou uma queda na produção de 7%. 69
Cana de açúcar
Fonte: IBGE
Soja O segmento de soja continua com força por conta de suas exportações para o principal consumidor, a China. Mesmo assim, a produção caiu 12% na safra 2012 em relação ao ano passado. Isso se deveu a problemas internos. As exportações de soja cresceram 15% no acumulado de janeiro a setembro em comparação com o ano passado, tendo como a China como principal mercado, para onde se destina 70% do volume vendido. A seca nos EUA ajudou o setor com a elevação dos preços vis-à-vis a queda nos preços especulativos. Diante da expectativa de continuidade do crescimento chinês como apontado anteriormente, mesmo que em taxas menos elevadas, o resultado é uma boa expectativa para o setor de soja. Como pode ser visto no gráfico, a área colhida de soja continua em expansão, fato que puxa o mercado de máquinas da construção para o setor agrícola.
Soja
Fonte: IBGE
70
Silvicultura No que se refere ao segmento de madeira em florestas plantadas que demandam máquinas da construção pesada, utilizamos a produção de papel e celulose como indicador de demanda. A produção de papel e celulose segue estável em relação ao ano passado apresentando entre janeiro e agosto contra o mesmo período de 2011 um crescimento praticamente zero. É um setor que sofre com a crise da economia mundial, principalmente a queda na economia europeia. Apesar da especificidade e da vantagem absoluta que o Brasil tem no segmento, o setor deve continuar fraco, uma vez que não se espera uma recuperação das economias importadoras nos próximos anos, como apontado na análise da economia internacional. Esse movimento é visível diante da queda nas exportações de papel e celulose, que apresentou uma queda de 10% no acumulado de janeiro a setembro deste ano em comparação com 2011.
Produção industrial – celulose, papel e produtos de papel
Fonte: IPEADATA
Exportações por produto (base US$)
Fonte: MDIC
71
Problemas e desafios Mineração Problemas
• Preservação das exportações para China è novo pacote infraestrutura • Queda nos preços afeta a produção mundial • Queda nos preços eleva a demanda por minério Brasil (+barato) • Desvalorização cambial aquém do necessário para compensar preços mundiais menores Desafios
• Crise mundial è preços se manterão baixos • Preservação do crescimento chinês • China diversifica seus fornecedores (investimentos África) Agricultura Problemas
• Preservação das exportações para oriente • Entrada de investidores estrangeiros no segmento de Cana-de-açúcar • Sofre è desaceleração da economia mundial Desafios
• Desvalorização cambial ajuda o segmento, mas é insuficiente • Demanda chinesa de soja pode continuar alta • Depende do tempo de duração da crise europeia • Problemas financeiros para produtores de Cana inesperados
Mercado latino-americano É reconhecido o fato de que o Brasil foi escolhido por grande parte dos fabricantes de máquinas e equipamentos da construção pesada por diversos motivos. Dentre os motivos destaca-se a presença já histórica de um parque metalúrgico com “know-how”, mão de obra qualificada e um segmento siderúrgico eficiente e bem estruturado. Mas, outros fatores também têm peso significativo. O tamanho do mercado brasileiro e seu potencial de crescimento pesam a favor. De outro lado está, aliado aos fatores anteriores, a posição geográfica do Brasil em relação aos mercados Latino-americanos.
72
Nos anos 90, quando os segmentos de máquinas e equipamentos estruturavam suas estratégias de produção global, escolheram o Brasil como polo produtor para a América Latina. Além disso, a presença de grandes construtoras brasileiras nesses mercados tem servido como porta de acesso aos fabricantes de máquinas e equipamentos da construção do Brasil. Parte das exportações de equipamentos deve-se a obras dessas construtoras nos países da América do Sul. Financiamentos do BNDES em prol da internacionalização de empresas brasileiras ajudam a incentivar a atividade dessas construtoras no exterior. Em 2011, o Banco desembolsou para essas atividades US$392 milhões para a Venezuela, US$361 milhões para a Argentina e US$96 milhões para o Peru. Para uma primeira aproximação deste mercado, destacamos neste estudo de forma preliminar alguns países para analisar seus mercados de máquinas da construção como oportunidade para o Brasil. Escolhemos Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Venezuela. Estima-se que esses países são responsáveis por 77% das exportações de máquinas para América Latina.
Mercado latino-americano Nos últimos anos, aproveitando tanto o crescimento nos preços das commodities como o crescimento da economia brasileira, todos os países envolvidos nesta mostra mostraram crescimento de seu PIB. A maioria deles, inclusive o Brasil, aproveitou a maré favorável de preços de commodities elevadas ditada pela onda de crescimento chinês. Todos são grandes exportadores de minérios e/ou petróleo. Todos eles também possuem fortes relações com o Brasil. São principalmente importadores de bens manufaturados e de serviços produzidos no país. Ao mesmo tempo, tem também no Brasil um mercado importante para seus produtos.
Produto Interno Bruto
Fonte: BCRA, BCCL, BCCO, BCRP, BCV
Por conta de forte relação econômica com a China e com o Brasil, a desaceleração econômica de ambos – explorada nos itens anteriores deste estudo – teve forte influência na queda das taxas de crescimento dos países escolhidos desde 2011, como pode ser visto no gráfico “taxa de variação do PIB”. 73
Vale destacar que em 2010, Argentina e Peru cresciam a taxas superiores a 10%, Chile a uma taxa de 7% e Colômbia na ordem de 4%. A Venezuela que tem sua economia focada exclusivamente no petróleo não conseguiu sustentar suas taxas de crescimento durante a crise de 2009 e 2010, mas recuperou-se a partir de 2011. Com isso, busca-se demonstrar que o freio sofrido na América Latina em 2012, como no Brasil, foi bastante forte. A economia que mais sofreu o revés, principalmente por sua ligação com o Brasil foi a Argentina. A Argentina tem uma pauta de exportações mais diversificada e necessita do Brasil como mercado. De outro lado, vale destacar, o Brasil também está (como apontado acima) fortemente ligado à Argentina em suas exportações de manufaturados. A queda na economia Brasileira e a desvalorização da moeda nacional foram fatores que criaram grandes problemas para a economia argentina. É em parte por esse motivo que esse país foi obrigado a controlar as importações de produtos manufaturados brasileiros, prejudicando nossa exportação de máquinas e equipamentos como se verá à frente. Grande parte do problema de queda na economia argentina é resultado de questões internas ao país. Ao contrário do Brasil, esse país preservou parcialmente sua economia “dolarizada”. Muitas transações e grande parte de sua poupança são realizadas em dólares, principalmente aquelas no mercado imobiliário. Todos os preços dos terrenos e imóveis são ainda dolarizados, guardando resquícios do passado. Enquanto as exportações estavam bem e os dólares fluíam tranquilamente para a economia, tudo estava bem. Com a queda nas exportações, começou a faltar dólares para os agentes. Isso acabou por gerar uma crise de confiança contra o governo argentino e uma corrida ao dólar que teve que ser estancada com medidas extremamente impopulares, principalmente para a classe média argentina. Esse processo na Argentina se refletiu diretamente nas exportações brasileiras de manufaturados para aquele país. As vendas de máquinas sofreram.
Taxa de variação do PIB
Fonte: BCRA, BCCL, BCCO, BCRP, BCV
74
Olhando-se para o conjunto de países considerados, a crise de 2009 interferiu de maneira negativa nas exportações dos países e, apesar da ligeira retomada até 2011, em grande parte puxada pela manutenção dos preços das commodities e do elevado crescimento brasileiro, em 2012 voltaram a declinar. Esse declínio nas exportações dos países está relacionado diretamente à queda nos preços das commodities bem como com a queda no crescimento econômico brasileiro. Os países selecionados têm grande concentração em produtos minerais, petróleo e agropecuários, todos com forte demanda chinesa.
Concentração pauta de exportação países selecionados Venezuela
95% petróleo
Peru
60% minérios e 10% petróleo
Colômbia
50% petróleo e 15% carvão mineral
Chile
60% minérios
Argentina
25% primários e 35% manufaturados agropecuários
Exportações – total
Fonte: INDEC; INE-CL; DANE; INEI; INE-VE.
Assim, com a crise de 2009 todos os países sofreram queda no saldo de seu Balanço de Transações. Em grande parte, até 2011, deveu-se à queda nos preços e quantidades. Recentemente, no ano de 2012, a queda sofrida deve-se à diminuição nos preços em geral dos produtos exportados e menos nas quantidades. A crise europeia e a desaceleração chinesa diminuiu o apetite dos mercados especulativos de commodities.
75
Saldo da balança comercial
Fonte: INDEC; INE-CL; DANE; INEI; INE-VE.
É importante destacar que nos últimos anos a grande maioria dos países latino-americanos, beneficiada pelo ganho exportador bem como com a relação com o Brasil, realizou políticas de investimento em infraestrutura e construção civil. Como pode ser visto no gráfico “formação bruta de capital fixo” que mede o investimento nos países, apresentou crescimento mesmo durante a crise.
Formação bruta de capital fixo
Fonte: BCRA, BCCL, BCCO, BCRP, BCV
Também, vale destacar, além da infraestrutura, os governos também incentivaram os investimentos em construção civil em geral, com destaque para o Peru e Chile. Isso se deveu à política deliberada dos governos dos países em tentar manter o nível de crescimento, mesmo com a crise, adotando políticas parecidas com as do Brasil. Com isso, conseguiram manter as taxas de desemprego em queda e um determinado nível de crescimento.
76
PIB – construção civil
Fonte: BCRA, BCCL, BCCO, BCRP, BCV
Taxa de desocupação
Fonte: INDEC; INE-CL; DANE; INEI; INE-VE.
Como já apontado acima e pode ser visto no Gráfico “Taxas de Crescimento do PIB”, as políticas de crescimento sofreram um revés em 2012, acompanhando a desaceleração brasileira e chinesa. Atualmente, todos os países se encontram em situações delicadas em seu balanço de pagamentos, dado que são extremamente dependentes de importações, como pode ser visto no Gráfico “Importações”.
77
Importações – total
Fonte: INDEC; INE-CL; DANE; INEI; INE-VE.
Também merece destaque nessa análise do caso de países selecionados da América Latina, a crescente participação da China em seus mercados. O destaque maior deve-se ao fato de, como no Brasil, as vendas de máquinas e equipamentos de construção de origem chinesa está em crescimento, bem como a entrada de empresas de construção e infraestrutura desse país na América Latina em geral. A crescente dependência de exportação de commodities para China levou os países a realizarem acordos comerciais de cooperação bilateral com esse país. A Colômbia, por exemplo, assinou acordo de livre comércio com os chineses. A Venezuela também assinou acordo de cooperação com a China com base na troca de petróleo por máquinas equipamentos e tecnologia e com, especificamente, foco em infraestrutura e construção residencial. Em 2010, o Banco de Desenvolvimento chinês realizou empréstimos de US$37 bilhões para a América Latina, a maior parte para a Venezuela, Equador e Argentina, empréstimo esse atrelado à compra de máquinas e equipamentos de origem chinesa.
Mercado de máquinas da construção – América Latina Tomando como primeira aproximação os 5 países selecionados, a partir de dados da ALADI, pode-se ver no Gráfico “Importações de Máquinas” o crescimento das importações desses países no que ser refere a equipamentos para construção civil e pesada. Os dados em valores demonstram a forte elevação na importação de máquinas e equipamentos da construção no período de crescimento econômico desde o início da década de 2000. Isso se deve às políticas de investimentos em infraestrutura e residencial.
78
Importação de máquinas
Fonte: ALADI
Importação de máquinas – total – US$ milhares – CIF
2000 2001
Argentina 91.541 78.339
Chile 75.850 63.321
Colômbia 8.024 14.990
Peru 36.068 30.609
Venezuela 41.692 69.165
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
21.906 79.938 210.040 477.428 566.685 763.852 873.253 346.233 804.078 1.236.350
86.743 94.907 240.019 376.599 436.474 627.003 769.314 528.627 797.639 1.058.554
30.708 51.164 110.777 234.421 385.901 568.964 232.384 104.841 199.290 928.548
12.522 14.982 21.938 44.436 96.763 196.424 422.409 151.060 276.739 367.980
43.554 15.155 80.676 265.388 455.121 806.218 394.263 143.851 64.616 107.461
Fonte: ALADI
Máquinas consideradas na amostra:
Betoneira Bombas para concreto Caminhão fora de estrada Caminhão guindaste Compressor de ar Empilhadeira/Telehandler Escavadeira
Grua Guindaste Mini Carregadeira Mini Escavadeira Motoniveladora Pá carregadeira Pavimentadora
Peneira Vibratória Perfuratriz Plataforma aérea Retroescavadeira Rolo compactador Trator de esteira Trator rodoviário 79
Os dados demonstram ainda que o Brasil teve um histórico de participação nas importações dos países, principalmente no início e em meados da década passada. Em 2011, a participação dos equipamentos originários do Brasil nas importações de máquinas e equipamentos mantinha-se no nível tradicional apenas na Argentina, fato que vem se revertendo em 2012. Verifica-se a perda da participação do Brasil nas compras do Chile, que passou da ordem de 30% no inicio dos anos 2000 para 2,7%; Peru, que já importou 50% e até 70% de seus equipamentos do Brasil e, em 2011, esse valor não passa de 11%. A Venezuela também se destaca pela queda nas importações do Brasil, que já foram da ordem de 15% em meados da década.
Participação percentual das importações originárias do Brasil Argentina
Chile
Colômbia
Peru
Venezuela
2000
40,4
37,5
1,2
4,4
2,9
2001
29,7
32,7
0,6
3,8
5,1
2002
11,3
5,7
0,3
25,6
8,6
2003
68,5
8,3
3,9
69,0
8,1
2004
72,2
6,4
8,4
49,3
1,9
2005
64,7
4,1
4,8
48,6
1,6
2006
54,5
3,2
2,9
37,1
14,6
2007
49,3
3,7
2,4
32,4
15,3
2008
46,0
6,8
1,5
25,1
5,9
2009
34,8
3,6
2,1
13,1
4,4
2010
47,8
4,9
1,9
16,3
4,5
2011
50,3
2,7
0,4
11,0
0,5
Fonte: ALADI
Em contraste, verifica-se um aumento na participação nas importações de máquinas e equipamentos chineses. Menos do que se poderia esperar, essa participação apenas apresentou crescimento significativo na Venezuela que em 2011 importou quase 50% dos equipamentos da China e 30% dos EUA. A Argentina em meados da década passou também a importar desse país, embora 30% de suas máquinas tenham a Europa e os EUA como origem. Destaca-se ainda o Chile que em 2011 importou 70% de seus equipamentos dos EUA e 11% da Europa; a Colômbia que importa 80% do México; e o Peru que divide suas importações entre México (33%), EUA (26%) e Europa (24%).
80
Participação percentual das importações originárias da China Argentina
Chile
Colômbia
Peru
Venezuela
2000
0,5
0,5
0,5
0,4
0,2
2001
0,8
0,7
0,6
0,3
0,4
2002
0,4
0,5
1,7
1,5
0,3
2003
0,6
0,7
0,4
1,2
0,6
2004
0,6
0,4
0,2
1,6
0,1
2005
3,0
1,1
0,5
1,5
0,3
2006
4,3
1,6
0,2
1,1
0,6
2007
8,6
2,0
0,4
1,2
1,0
2008
10,0
2,3
1,9
3,2
2,6
2009
11,4
0,9
3,2
7,9
5,1
2010
11,9
1,4
2,1
5,0
6,7
2011
10,7
2,6
1,0
3,8
49,4
Fonte: ALADI
Dados de exportações brasileiras para os países apontam que do volume de máquinas da construção civil e pesada exportadas pelo Brasil, 48% destinam-se à América Latina, sendo a maior parte (37%) para os países selecionados e 11% para outros países da América Latina.
Participação percentual das exportações brasileiras – máquinas 2005
2010
2011
ago/12
Argentina
14
21
21
14
Chile
7
10
6
7
Colômbia
2
4
3
2
Peru
2
8
6
10
Venezuela
4
1
1
2
América Latina
39
58
48
47
Total Exportado
100
100
100
100
Fonte: AliceWeb
Olhando-se de forma mais detalhada, verifica-se que do total exportado para a América Latina, 44% destinam-se à Argentina, 13% para o Chile e 12% para o Peru. Esse fato destaca a importância da amostra escolhida de países. Além disso, são aqueles em que nossas construtoras atuam.
81
Vale ainda destacar que a Venezuela já foi bem mais importante como país comprador de máquinas e equipamentos do Brasil, com 11% do total exportado para a América Latina em 2005. A perda de importância se deve ao crescimento da participação de outros países nesse mercado, com enorme crescimento da China em 2011, provavelmente em virtude do acordo comercial.
Participação percentual das exportações brasileiras para a América Latina 2005
2010
2011
ago/12
Argentina
36
36
44
31
Chile
18
17
13
15
Colômbia
4
7
6
5
Peru
6
14
12
21
Venezuela
11
1
2
5
América Latina
100
100
100
100
Fonte: AliceWeb
Esse quadro acima exposto revela que as exportações de máquinas do Brasil para a América Latina vêm perdendo espaço para outras fontes a partir de meados da década de 2000. Mesmo a Argentina, nosso principal parceiro comercial, em 2012 teve dificuldades em continuar importando do Brasil. É importante destacar a perda de participação do Brasil na América Latina, tanto no que diz respeito às obras como às vendas de máquinas que acompanham. A China está realizando uma política forte de elevação de sua participação no mercado utilizando-se principalmente do fato de ser o maior comprador de matérias primas dos países selecionados. Está assim realizando acordos comerciais. De outro lado, a crise mundial fez com que outros países como México, EUA e Europa elevassem sua participação no mercado de máquinas Latino-americano, dada a retração em seus próprios mercados. Em termos de tendência de crescimento dos mercados, pesa a forte dependência que os países têm de suas exportações para a China, bem como do crescimento da economia Brasileira. Como apontado, a China deve manter sua taxa de crescimento em torno dos 7,5%. Assim a questão que resta é qual será a tendência de crescimento do Brasil, que, como antes apontado, depende de políticas internas para aproveitar o tamanho de seu mercado e fazê-lo crescer ainda mais. Da mesma forma, as vendas de máquinas para os países da América Latina dependem claramente de uma estratégia internacional. Gradativamente, outros países têm ocupado a posição brasileira. As políticas de desvalorização cambial e de incentivo às exportações podem funcionar. Resta ainda a melhoria da infraestrutura nas fronteiras para melhorar o acesso a esses países. Novamente, há de se enfrentar o problema da infraestrutura interna ao Brasil.
82
Projeções 2013-2017 As estimativas de crescimento para o mercado de máquinas não envolvem ainda o mercado da América Latina. Baseiam-se apenas no mercado nacional brasileiro.
Rumos e tendências Diante do exposto, buscou-se deixar claro que o futuro do mercado de máquinas e equipamentos depende de uma estratégia nacional diante da crise internacional. A retomada já em 2013 das ações na área de infraestrutura são fundamentais para o crescimento do mercado. Dependem de uma reativação sólida do PAC nos moldes de 2009/2010 que virá a se somar em 2014 pelo novo PAC Concessões. Mas, é importante destacar, a economia e os investimentos em infraestrutura não crescerão como se deseja em 2013 se ficarmos esperando os resultados do PAC Concessões. De outro lado, o Brasil também não pode ficar à espera de soluções para as crises europeia e Norte-americana. Não se vislumbra ainda em 2013 uma reversão das tendências de estagnação. Os economistas conservadores e que defendem a recessão devem continuar no próximo ano no poder dado o difícil jogo de interesses financeiros que representam. Talvez a melhor lição fosse tentar acompanhar o exemplo chinês e estruturar um programa de investimentos em infraestrutura, tão necessário ao país. O Brasil dispõe de um grande mercado interno que pode, dentro de certos limites, se autossustentar com investimentos. O crescimento da economia chinesa continuará sendo o motor da economia mundial. Taxas de crescimento desse país acima de 7,5% são extremamente importantes para o Brasil e para o mundo. Sua estratégia de sustentação desse nível de crescimento é invejável. Deve assim ser mantida a demanda por commodities em níveis mais moderados, mas ainda crescentes. Sobe o número de países que competirão com o Brasil nessa área. De outro lado, também não será solução entrar novamente em um tipo de ajuste proposto por alguns economistas ligados aos setores financeiros que anunciam a impossibilidade de um crescimento para o PIB nacional superior a 4% sob o “medo” inflacionário. Optar pelo crescimento é fundamental. Recentemente, a economia brasileira deu sinais claros de que pode crescer com baixo impacto inflacionário. Planejamento e estruturação de estratégias são fundamentais para tal. A estrutura produtiva brasileira, fortemente concentrada, sempre implicará em risco inflacionário, que deve ser administrado com o crescimento da oferta, e não com cortes na renda, emprego, ou seja, na demanda. Por essa razão, uma política de elevação do investimento industrial que tenha impacto positivo sobre a oferta é fundamental. A qualificação de mão de obra é central para elevar a produtividade. No Brasil, elevações da participação dos salários na renda agregada são positivas para a própria sustentação do ciclo de crescimento da oferta, atuando pelo lado da demanda. É necessária uma melhor distribuição de renda, neste sentido, para uma maior sustentabilidade do crescimento endogenamente. A preservação das taxas de juros baixas e de uma taxa de cambio desvalorizada vem a completar o pacote macroeconômico. Devem ser acompanhadas do investimento interno, como apontado. Garantem um crescimento interno, com baixo impacto sobre as importações, beneficia as exportações e, incentiva a produção interna elevando o emprego e a renda. 83
A questão fiscal está bem equacionada. A queda nas taxas de juros liberou recursos para investimento público. O crescimento econômico pode trazer de volta uma elevação nas receitas dando continuidade, com novos investimentos, à queda na relação dívida/PIB. Por esses motivos parece claro que há possibilidades de construção de estratégias de crescimento. Os investimentos em infraestrutura são centrais nessas estratégias. As grandes obras como a Copa do Mundo e as Olimpíadas não devem ter mais fortes impactos na demanda por máquinas e equipamentos. São projetos que já estão em realização. Terão alguma demanda mais localizada. Continuam sendo uma oportunidade de investimentos em mobilidade urbana que ainda não deslancharam. Neste ano de 2012, a queda nas vendas de máquinas e equipamentos não foi tão forte, em parte por conta das eleições municipais, dado que os instrumentos de investimento federal ficaram estacionados (PAC). Em 2013 esperamos uma retomada nas vendas de máquinas pela reativação do PAC, que devem se somar em 2014 ao possível deslanchar das concessões previstas. Destaca-se que em 2014 também teremos eleições presidenciais. Se seguirmos as tendências históricas e adicionamos a elas os novos instrumentos de política e ação do Estado – criados nos últimos anos – será possível que se tenha uma elevação das vendas mais significativa em 2014 sobre 2013.
Quadro de projeções Em 2012 estimamos que as vendas de máquinas e equipamentos devam, até o final do ano, apresentar uma queda de 18,6% com um total de 68 mil máquinas vendidas. Diante de todos os fatos e tendências expostas anteriormente, estimamos que em 2013, coadunando com as projeções de vários fabricantes, o crescimento das vendas deva atingir 11,8% com um total de 76 mil máquinas vendidas. Vale lembrar que em 2010, melhor ano para o setor em termos de crescimento, foram vendidas 70 mil máquinas. Nossas estimativas apontam para um crescimento importante nos segmentos de infraestrutura e construção civil. Claro que isso depende se as estratégias analisadas neste estudo ocorrerem. A partir de 2014, ano eleitoral, estimamos um crescimento médio de 8% até 2017. Apesar da mudança de composição entre os segmentos, o destaque ainda ficaria por conta da demanda para infraestrutura que deverá crescer acima da média. Muita coisa há para se fazer em infraestrutura no Brasil. Apesar do crescimento, visto durante a década de 2000, muito pouco foi feito. O país tem a oportunidade de enfrentar esses gargalos. Projeção do mercado de equipamentos da construção – unidades mil
Infraestrutura Construção civil Mineração Agricultura Total Fonte Insight
84
2011 36 32 12 4 84
2012 30 24 10 4 68
2013 34 27 11 4 76
2014 39 32 12 5 88
2015 42 35 13 5 95
2016 46 37 14 5 103
2017 50 41 15 6 111
Projeção do mercado de equipamentos da construção – taxas de variação % aa 2012 -17,1 -22,5 -19,0 1,3 -18,6
Infraestrutura Construção civil Mineração Agricultura Total
2013 12,5 10,9 11,7 12,2 11,8
2014 15,7 18,1 13,5 9,4 15,9
2015 8,2 8,4 6,7 8,2 8,1
2016 8,6 8,0 6,8 7,1 8,1
2017 8,1 8,5 8,2 7,3 8,2
Fonte Insight
Essas taxas de crescimento são também compatíveis com a projeção do tamanho do parque nacional de máquinas. Estima-se que em 2012 no Brasil existam algo em torno de 455 mil máquinas da construção civil e pesada com até dez anos de idade, e 315 mil com até 5 anos de idade. O elevado volume com 5 anos deve-se às fortes vendas ocorridas nos anos recentes. Assim, com as projeções de vendas de máquinas novas acima apontadas, o parque de máquinas com até dez anos deve crescer em médias superiores a 10%. Dessa forma, o crescimento é bastante significativo. Por outro lado, com a desaceleração do crescimento das vendas em relação aos anos anteriores, o parque de máquinas com até cinco anos de idade deve apresentar um crescimento da ordem de 14% em 2014 pelas razões expostas, mas deve se estabilizar em taxas inferiores até 2017.
Projeção da população de equipamentos com até 10 anos de uso – em mil unidades
Infraestrutura Construção civil Mineração Agricultura Total
2011 177 156 59 17 409
2012 198 172 66 20 455
2013 223 191 74 24 511
2014 254 216 84 28 582
2015 287 243 94 32 655
2016 322 270 104 36 732
2017 348 289 111 41 789
Fonte Insight
População de equipamentos com até 10 anos – variação percentual
Infraestrutura
2012 11
2013 13
2014 14
2015 13
2016 12
2017 8
Construção civil Mineração
10 11
11 12
13 13
12 12
11 11
7 7
Agricultura Total
17 11
18 12
17 14
15 13
14 12
12 8
Fonte Insight
85
Projeção da população de equipamentos com até 5 anos de uso – em mil unidades 2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
Infraestrutura
130
138
150
171
182
190
207
Construção civil
114
117
125
142
150
153
167
Mineração
44
45
49
56
59
61
66
Agricultura
13
15
17
20
22
24
27
Total
301
315
340
388
413
428
467
Fonte Insight
População de equipamentos com até 5 anos – variação percentual 2012
2013
2014
2015
2016
2017
Infraestrutura
5
9
14
6
4
9
Construção civil
2
7
14
6
2
9
Mineração
4
7
14
6
3
9
Agricultura
18
12
18
10
9
10
Total
4
8
14
6
4
9
Fonte Insight
86
O Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção, que vem sendo conduzido anualmente desde 2007, é uma iniciativa da Sobratema. O Estudo atual – 2012-2017 – foi supervisionado pelo Grupo de Apoio Sobratema: • Andrade Gutierrez - Mário Humberto Marques • Camargo Corrêa - Pedro Luiz Giavina Bianchi • Escad - Eurimilson João Daniel • Galvão Engenharia - Silvimar Fernandes Reis • Lequip - Octavio Lacombe • Odebrecht - Afonso Mamede (Presidente da Sobratema) • Odebrecht - Rodrigo Konda • SW Industry/Würth - Rissaldo Laurenti Jr. • Vale - Ivan Montenegro de Menezes Coordenação Sobratema: Nelson Costabile Colaboradores externos:
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