Grandes
Construcoes construção, infraestrutura, concessões e sustentabilidade
Nº 0 - Novembro/2009 - www.grandesconstrucoes.com.br
INFRAESTRUTURA
um salto para o desenvolvimento Os desafios da Engenharia brasileira para atender as demandas da Copa 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, deixando um legado positivo para a sociedade
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The Group
Editorial
Uma nova revista para os novos tempos O Brasil está entrando em um novo ciclo de desenvolvimento, que, esperamos, seja sustentável e duradouro. Para investidores do mundo inteiro, somos a “bola da vez”, o mais promissor entre os países emergentes. Com o know how de quem sobreviveu a múltiplas turbulências econômicas, nas últimas décadas, o País se recupera com rapidez dos efeitos da crise econômica iniciada nos Estados Unidos, que contaminou o sistema financeiro mundial. Mantivemos a inflação sob controle, os juros e o desemprego em trajetória de queda, a concessão de crédito e as reservas internacionais em níveis satisfatórios. Coube ao setor da Construção, como grande gerador de emprego e renda, importante participação nesse processo, ao lado da indústria automobilística e de bens de consumo -- amparadas pela série de medidas de estímulo editadas pelo governo federal. Para a Construção, esse papel foi assegurado, em grande parte, pela manutenção dos investimentos em infraestrutura, habitação e saneamento, previstos no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Hoje a indústria da Construção congrega mais de 205 mil empresas em todo o País, desde grandes expoentes da engenharia mundial até pequenas empresas que promovem a interiorização do desenvolvimento. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em seu levantamento preliminar do desempenho da economia em 2008, o setor obteve incremento notável, naquele ano, crescendo 8%, muito acima do aumento de 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Já na estimativa do Sindicato da Construção Civil de Grandes Estruturas no Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), esse percentual pode chegar a 10%, considerando outros indicadores além da produção física dos materiais de construção. Segundo o IBGE, a Construção também teve uma participação relevante na Formação Bruta de Capital Fixo, que cresceu 13,8% em 2008 e representou 19% do PIB, a mais alta taxa de investimentos desde o início da série histórica do instituto, em 2000. Em 2008, os investimentos em construção foram estimados em R$ 206,8 bilhões pelo IBGE, o que significou um aumento de 8,9% em relação a 2007. A força de impulsão dessa indústria também pode ser medida pela sua capacidade de geração de empregos. Conforme a última Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade-SP) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o número de empregados do setor, em seis das principais regiões
metropolitanas do País registrou, em setembro último, alta de 16,2% em relação ao mesmo mês de 2008. Isso representou a criação de 155 mil postos de trabalho, quase três vezes mais que as vagas criadas pelo setor de serviços no mesmo período. Por todos esses fatores, os setores da Construção e Engenharia no Brasil estavam, há muito tempo, precisando de um veículo de informação que retratasse com fidelidade a dimensão alcançada e que reconhecesse a sua importância no contexto da economia do País, com uma linha editorial ancorada nos fundamentos básicos do bom jornalismo: isenção, imparcialidade, compromisso com a verdade, atualidade das informações, profundidades nas análises e espírito crítico. A revista Grandes Construções nasce com a missão de suprir esta lacuna, tornando-se leitura obrigatória da elite econômica do Brasil -- empresários e executivos das grandes empresas de construção, engenharia, concessionárias de infraestrutura; investidores, formadores de opinião, tomadores de decisão, responsáveis por compra de equipamentos e contratação de serviços; líderes setoriais, representantes dos segmentos da indústria e políticos que atuam no setor, entre outros. Sempre atenta às novidades e fatos relevantes do mercado, Grandes Construções informará aos seus leitores, de forma simples e direta, sobre grandes projetos em desenvolvimento no mundo, novos métodos, as novas tendências, novas tecnologias e novos equipamentos, estreitando vínculo entre engenheiros, técnicos e compradores em potencial com as modernas tecnologias e seus principais fornecedores. O Brasil está emergindo da crise mundial mais forte, mais confiante e mais respeitado entre as nações, num cenário onde informação e conhecimento são importantes diferenciais. Neste contexto, é imperativo que empresas e profissionais estejam atualizados, acompanhando as mudanças, deixando o velho para trás e encarando os novos tempos municiados com informação de qualidade. Grandes Construções é fruto desta revolução tecnológica que estaremos vivendo num futuro próximo e ao mesmo tempo, agente número 1 na veiculação das informações sobre essas mudanças. Conte conosco e boa leitura!
Afonso Celso Mamede Presidente da Sobratema
Novembro 2009 / A
Índice
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Editorial
Uma nova revista para os novos tempos Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção Diretoria Executiva e Endereço para correspondência: Av. Francisco Matarazzo, 404 cj. 401 – Água Branca São Paulo (SP) – CEP 05001-000 Tel.: (55 11) 3662-4159 – Fax: (55 11) 3662-2192 Comitê Executivo
Presidente: Afonso Celso Legaspe Mamede Vice-Presidente: Carlos Fugazzola Pimenta Vice-Presidente: Eurimilson João Daniel Vice-Presidente: Ivan Montenegro de Menezes Vice-Presidente: Jader Fraga dos Santos Vice-Presidente: Jonny Altstadt Vice-Presidente: Mário Sussumo Hamaoka Vice-Presidente: Múcio Aurélio Pereira de Mattos Vice-Presidente: Octávio Carvalho Lacombe Vice-Presidente: Paulo Oscar Auler Neto Vice-Presidente: Silvimar Fernandes Reis Diretor Executivo: Paulo Lancerotti
6 10
Jogo Rápido
Jogos Olímpicos e Copa 2014
Entraemcampoumnovociclode desenvolvimento para o Brasil
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Artigo de José Roberto Bernasconi: Seremos vitrines ou vidraças
Diretoria Técnica
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Álvaro Marques Júnior (Atlas Copco) - André G. Freire (Terex) - Augusto Paes de Azevedo (Caterpillar) - Benito Francisco Bottino (Odebrecht) - Carlos Arasanz (Eurobrás - ALEC) - Cláudio Afonso Schmidt (Odebrecht) - Dionísio Covolo Jr (Metso) - Edson R. Del Moro (Yamana Mineração) - Eduardo M. Oliveira (Santiago & Cintra) - João Miguel Capussi (Scania) - Felipe Sica Soares Cavalieri (Brasil Máquinas de Construção - Hyundai) - Gilberto Leal Costa (Odebrecht) - Gino Raniero Cucchiari (New Holland) - João Lázaro (CCCC) - José Germano Silveira (Sotreq - Caterpillar) - Ledio Augusto Vidotti (GTM Máquinas e Equipamentos) - Luis Afonso Pasquotto (Cummins) - Luiz Carlos Furtado (CR Almeida) - Luiz Gustavo Pereira (Tracbel - Volvo) - Marcos Bardella (Brasif - Case) - Mario Humberto Marques (AG) - Nathanael P. Ribeiro Jr (Auxter - JCB) - Permínio A. Maia de Amorim Neto (Getefer) - Ramon Nunes Vazquez (Mills) - Ricardo Pagliarini Zurita (Liebherr) - Rissaldo Laurenti Júnior (Carraro S.A.) - Roberto Mazzutti (Auxter - JCB) - Sérgio Barreto da Silva (GDK) - Valdemar Shinhiti Suguri (Komatsu) - Yoshio Kawakami (Volvo)
Entrevista com Luiz Fernando Pires
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Estádios brasileiros reprovados para a Copa 2014
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Diretor Regional
Petrônio de Freitas Fenelon (MG) VPS Engenharia e Estudos Wilson de A. Meister (PR) Ivaí Engenharia de Obras S/A José Luiz P. Vicentini (BA/CE) Terrabrás Terraplanagens do Brasil S/A Laércio de F. Aguiar (PE/AL/PB/RN) Construtora Queiroz Galvão S/A Antonio Almeida Pinto (CE/PI/MA) Construtora Queiroz Galvão S/A
Grandes
Construcoes Diretor Executivo: Hugo Ribas Editor: Paulo Espírito Santo Revisão: Luci Kasai
Medo do apagão dos transportes
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Construção Imobiliária
Déficit habitacional é desafio para governantes e para Engenharia brasileira
Energia
Publicidade: Carlos Giovanetti (gerente comercial),
Maria de Lourdes e José Roberto R. Santos Projeto Gráfico
Diagrama Marketing Editorial “Grandes Construções” é uma publicação mensal, de circulação nacional, sobre obras de Infraestrutura (Transporte, Energia, Saneamento, Habitação Social, Rodovias e Ferrovias); Construção Industrial (Petróleo, Papel e Celulose, Indústria Automobilística, Mineração e Siderurgia); Telecomunicações; Tecnologia da Informação; Construção Imobiliária (Sistemas Construtivos, Programas de Habitação Popular); Reciclagem de Materiais e Sustentabilidade, entre outros.
Tiragem nº 0: 2 mil exemplares. Tiragem normal: 12 mil exemplares Periodicidade: mensal. Impressão: Parma Membro da Anatec
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Pré-Sal desafia a indústria mundial
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Capa: criação de Felipe Escosteguy
Jogo Rápido
entra em operação experimental
O gasoduto Urucu-CoariManaus começou a operar, em caráter experimental, no dia 3 de outubro. Inicialmente, a Petrobras fornecerá os 5,5 milhões de m3 do combustível à Companhia de Gás do Estado do Amazonas (Cigás). Cinco milhões serão destinados às termelétricas da capital e aos sete municípios que estão no trecho da obra. O restante servirá para abastecer as
indústrias, o comércio e o transporte. Com 661 km de extensão, o gasoduto Urucu-Coari-Manaus permitirá levar ao mercado o gás natural produzido na Bacia do Solimões, no Amazonas. Com 52,8 bilhões de m³, o Amazonas detém a segunda maior reserva de gás natural do país, atrás apenas do Rio de Janeiro. Os investimentos exigidos pelo empreendimento são da ordem de R$ 3,5 bilhões.
INVESTIMENTO
R$ 1 bilhão para obras em rodovias O governo federal publicou decreto no Diário Oficial da União, de 23 de outubro, criando um adicional de R$ 1 bilhão para obras na área de transportes (incluindo rodovias federais). O decreto também cancelou R$ 1 bilhão de obras que estavam sendo feitas pelo Ministério dos Transportes, em sua maior parte no Nordeste. Em Pernambuco, por exemplo, o decreto retirou R$ 5,2 milhões que seriam usados
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na manutenção da BR-232, rodovia que liga o Recife a Salgueiro, no sertão pernambucano, passando por Caruaru. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério dos Transportes, a iniciativa foi apenas um remanejamento dos recursos de obras que não estavam andando num ritmo considerado satisfatório pelo governo federal. O decreto também retirou R$ 201 milhões que seriam empregados em obras de manuten-
Hidrelétrica de Santo Antônio tem licença confirmada A Advocacia-Geral da União (AGU) conseguiu manter, na Justiça Federal, em Rondônia, a licença de instalação da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira. As organizações não governamentais de defesa do meio ambiente tinham ajuizado uma ação civil pública contra o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Agência Nacional de Águas (Ana), a União e a empresa Madeira Energia S.A., pedindo a suspensão imediata da licença emitida para a usina, alegando irregularidades ambientais. Na decisão, a Justiça Federal acatou a argumentação da AGU de que a suspensão da licença ambiental não poderia ocorrer porque todas as recomendações emitidas no parecer técnico do Ibama foram cumpridas pelo empreendedor responsável pela obra. Foto: Agência Brasil
Gasoduto Urucu-Coari-Manaus
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Jogo Rápido
Sai licença ambiental para o Porto Sudeste
Petrobras e UFRJ
inauguram laboratório O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) inauguraram, no dia 27 de outubro, na Ilha do Fundão, a fase I do Laboratório de Engenharia, Aplicação e Desenvolvimento em Instrumentação, Automação, Controle, Otimização e Redes de Campo (LEAD). Em um prédio de 150 m², o LEAD terá como principal atribuição identificar e explorar rotas tecnológicas, desenvolver conhecimentos e avaliar tecnologias. Em área disponibilizada pela UFRJ, a Petrobras investiu em infraestrutura e na aquisição de equipamentos. O Programa de Engenharia Elétrica (PEE) da COPPE/UFRJ foi escolhido pela Petrobras como parceiro na construção do laboratório por ser um programa de pós-graduação avaliado com nota máxima pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. A fase II do LEAD, atualmente em pré-licitação para construção, ocupará uma área de 1.800 m² no Parque Tecnológico da UFRJ, onde já existe, desde 2003, o LabOceano, resultado de parceria bem-sucedida entre a Petrobras e a COPPE/UFRJ. A inauguração do laboratório reforça a estratégia de desenvolvimento em conjunto de novas tecnologias, o que traz benefícios tanto para as universidades, que realizam suas pesquisas acadêmicas em laboratórios de ponta, quanto para a Petrobras, que ao compartilhar conhecimentos cria competências para superar seus desafios tecnológicos e empresariais.
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Maquete eletrônica do Porto Sudeste
A LLX Logística S.A., integrante da holding EBX, do empresário Eike Batista, obteve a licença ambiental prévia para a construção do Porto Sudeste, com capacidade para movimentar 50 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Localizado no município de Itaguaí, a 80 km da cidade do Rio de Janeiro, o porto será a principal via de exportação do minério de ferro produzido nas minas do Sistema Sudeste da MMX, braço de mineração da holding, em Minas Gerais. O projeto já foi enquadrado pelo BNDES para fins de financiamento de longo prazo.
Mais rendimento e assepsia na lubrificação em campo A Gascom, uma das maiores fabricantes brasileiras de equipamentos e apoio logístico operacional, apresentou ao mercado, em outubro, o ProLub Press, um comboio pressurizado, desenvolvido para abastecer e lubrificar máquinas que operam no campo ou na obra. O equipamento é constituído por vasos pressurizados que garantem alto rendimento, segurança e assepsia necessária para evitar a contaminação. Uma novidade em tecnologia incorporada ao equipamento são os carretéis retráteis com retração por mola, que evitam que as mangueiras, medindo 15 metros, se
Marรงo 2009 / A
Jogos Olímpicos OlímpicoseeCopa Copa2014 2014 Jogos
Entra em campo um novo ciclo de
desenvolvimento para o Brasil
O
s anos de 2014 e 2016 tornaram-se novos marcos na história recente e para o futuro do Brasil. Nessas datas o País sediará dois dos mais importantes torneios desportivos do planeta – a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, respectivamente – o que representa uma oportunidade de mostrar à comunidade internacional sua capacidade de organização e planejamento, maturidade da Engenharia, força econômica para captar investimentos e garra para superar dificuldades e vencer desafios. Mas basta um olhar mais atento pra perceber que essas datas representam muito mais: são uma oportunidade única para que finalmente seja elaborado um projeto de Nação para o Brasil, deixando de lado o estigma de país de terceiro mundo, consolidando sua posição ao lado das nações que mais crescem na
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economia mundial. Todos os planos de obras que estão sendo elaborados, todas as expectativas, todos os projetos de investimentos, têm como horizonte essas duas datas. Para José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), entidade, que congrega mais de 10 mil empresas, os riscos são grandes, mas as oportunidades são maiores ainda (leia artigo nesta edição). Ele lembra que podemos nos espelhar no modelo bem-sucedido de Barcelona, na Espanha, que ao sediar as Olimpíadas de 1992, usou a oportunidade para dar uma virada em sua história, recuperando sua infraestrutura urbana, revitalizando áreas degradadas, construindo instalações permanentes que se integraram ao cenário da cidade. A elevação da qualidade de vida pra a sociedade foi notável, levando Barcelona a figurar
Estádio Olímpico de Atenas, na Grécia, palco de competições e das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de 2004
entre as mais bonitas e prósperas cidades do mundo e um dos principais destinos turísticos. Mas há também o exemplo de Atenas, na Grécia, que sediou os Jogos de 2004, sob denúncias de desvio de dinheiro e superfaturamentos. As estimativas iniciais do governo grego apontavam para um custo de 4,6 bilhões de euros para organizar os Jogos, mas, ao final do programa de obras, os números oficiais deram conta de que o custo total foi de 7 bilhões de euros – o equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Para piorar o quadro, a aplicação dos recursos
se revelou equivocada e não se reverteu em benefícios permanentes para a população, depois do evento.
Oportunidades de negócio Para os setores da Engenharia e a indústria da Construção no Brasil, que já demonstraram sua força como principais indutores da recuperação da economia brasileira pós-crise financeira mundial, o momento é especialmente oportuno e encerra grandes possibilidades de crescimento. Somente para os Jogos Olímpicos, a estimativa dos investimentos necessários é de cerca de R$ 30 bilhões de acordo com o Ministério do Tu-
rismo. Para a realização da Copa de 2014, ainda não há um orçamento definido, mas a estimativa é de aproximadamente R$ 100 bilhões segundo o Sinaenco. São cifras sem precedentes na história do esporte nacional, que incluem investimentos públicos e privados em infraestrutura de transporte, saneamento, recuperação do meio ambiente, segurança, ampliação da rede hoteleira, além da reforma e construção de estádios e arenas desportivas, por exemplo. Só para a reforma de 14 estádios e a construção de outros quatro, o orçamento chega a R$ 2 bilhões, segundo estudo
Novembro 2009 / 11
Jogos Olímpicos e Copa 2014 entregue pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) à Fifa. A expectativa é de que os impactos desses eventos sobre a economia brasileira sejam duradouros, do ponto de vista de geração de trabalho e renda. Estudo elaborado pela Fundação Instituto de Administração (FIA), da Universidade de São Paulo (USP), projeta um impacto econômico dos investimentos nos Jogos Olímpicos acima de R$ 100 bilhões, com repercussões até 2027. Estima-se que, só com os Jogos, serão cerca de 100 mil empregos diretos, não apenas no Rio, uma vez que os fornecedores da cadeia da Construção, a serem contratados, estão espalhados por vários outros estados. Na verdade, mais da metade da massa salarial e dos empregos serão gerados fora do Rio. O retorno dos investimentos será coberto, basicamente, pelo aumento da atividade econômica antes, durante e, principalmente, depois dos Jogos, com o consequente aumento no volume de impostos arrecadados.
tura foi o evento com maior audiência televisiva até hoje. Durante os jogos, circularam em Pequim cerca de 300 mil pessoas credenciadas, incluindo atletas, técnicos, membros do COI e das federações, mais de 70 mil voluntários e 50 mil profissionais de segurança. Foi a maior cobertura de mídia até hoje, com cerca de 30 mil jornalistas e profissionais da imprensa produzindo mais de 5.000 horas de transmissão em alta definição para cerca de 200 países em 16 dias de competição. Aproximadamente 400 mil espectadores por dia assistiram às diversas competições em Pequim. Nos 37 locais de competição e 87 locais de treinamento foram realizados um total de 302 eventos. Os números dão a dimensão da responsabilidade do Brasil em sediar a
competição. O mundo estará de olho não só nos lances dos jogos, mas em cada ponto da organização, seja no tocante às instalações dos estádios, seja na infraestrutura de transporte, na segurança e no conforto oferecido aos visitantes pela rede hoteleira. “É fundamental discutir as necessidades de investimentos e o cronograma das obras para o mundial. É essencial destacar também a importância do planejamento e da contratação de projetos executivos para a realização de obras de qualidade, que são imprescindíveis ao evento e que devem constituir um legado para a sociedade, alerta José Roberto Bernasconi. “Não podemos perder esta chance. Os eventos podem ser uma excelente vitrine ou uma frágil vidraça. Devemos decidir que Brasil queremos em 2017”, ressalta.
Visibilidade absoluta
Entre 1 milhão e 3 milhões de visitantes, somando atletas, comissões técnicas, torcedores e jornalistas dos mais diversos recantos do planeta. Essa é a estimativa de público para a Copa de 2014, no Brasil, segunda a Fifa. Mas a exposição que o evento alcançará será infinitamente maior, se forem consideradas as transmissão dos jogos pelos meios de comunicação. Só para se ter uma ideia, durante a Copa de 2006, a Alemanha recebeu cerca de 3 milhões de visitantes, nos 30 dias do evento. Mas a avaliação da Fifa é de que cada jogo foi assistido pela TV por cerca de 260 milhões de pessoas, em 240 países. No acumulado, aproximadamente 30 bilhões de telespectadores acompanharam os jogos. Os números de audiência dos Jogos Olímpicos de Beijing, em 2008, também não ficaram atrás. Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), esse foi o evento com maior audiência acumulativa de todos os tempos. Duas em cada três pessoas no planeta assistiram a pelo menos algum tipo de cobertura do torneio. A cerimônia de aber-
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Projeto de reforma do estádio Mineirão, em Belo Horizonte (MG)
Maquete eletrônica do Estádio do Maracanã, reformado e com a cobertura das arquibancadas
Jogos Olímpicos e Copa 2014
Seremosvitrinesouvidraças José Roberto Bernasconi* Exemplodosproblemasoriginadosdessafaltadeplanejamentoforamasobrasdos JogosPan-americanosde2007noRiodeJaneiro.Acapitalcariocapraticamentenão se beneficiou dos investimentos realizados
“O
RiodeJaneirofoiescolhidopeloComitê Olímpico Internacional (COI), nodia2deoutubro,emCopenhague, Dinamarca,comosededosJogosOlímpicosde2016. Essaconquista,énecessáriodizer,deve-seemgrande parteaotrabalhoprofissionalderelaçõespúblicas desenvolvidohámaisdedoisanospelasautoridades brasileiras,especialmenteaquelasligadasaoesporte (MinistériodoEsporte,ComitêOlímpicoBrasileiroe Itamaraty),comopresidenteLulaàfrente,juntamentecomogovernodoestadoedacapital.Àsjustas comemoraçõespelaconquistadaprimeiraOlimpíada aserrealizadanaAméricadoSul,porém,somam-se asnecessáriasaçõesqueprecisamserrealizadasafim dequeoeventomarqueumaviradanacapitalcarioca edeixeumlegadopositivo,paraseushabitantes,para o incremento do turismo e ao País. Entreessasações,oplanejamentoéofatoressencial paraarealizaçãobem-sucedidadosJogosOlímpicos 2016,aexemplodoqueaconteceuemBarcelona1992e vemacontecendoemLondres,emsuapreparaçãopara sediarasOlimpíadas2012.Nocasobrasileiro,háafeliz coincidênciadeoRiodeJaneiroserumadassedesda Copa2014emuitasdasobrasqueserãorealizadasparao CampeonatoMundialdeFuteboldevemnecessariamenteserpensadasparaaproveitamentonosJogosOlímpicos, especialmenteaquelasligadasàinfraestruturaurbana –demobilidadeurbana(metrô,corredoresdeônibus, estacionamentos,entreoutras),aeroviária,deportos,de ampliação da rede hoteleira e também esportiva. Outraquestãofundamentalaserresolvidanainfraestruturarefere-seaosaneamento,emtodasassuas vertentes:água,esgoto,drenagemdaságuaspluviais eresíduossólidos,ouseja,coletaedestinaçãodolixo. Paraisso,éabsolutamenteurgentequeasautoridadesfederais,estaduaisemunicipaisseunampara aproveitarasinergiaentreosdoiseventos–Copa 2014eOlimpíadas2016–paraeliminar,deumavez portodas,apoluiçãodabaíadaGuanabara,programa quejáduraquaseduasdécadas,consumiumaisde 1bilhãodedólaresenãoresolveuoproblema.Para
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isso,alémdosnecessáriosinvestimentosem coletaetratamentodoesgotourbanoena implantaçãodeinterceptoresoceânicos,é precisofazer,principalmente,arealizaçãode campanhasdeesclarecimentoqueatinjam apopulaçãocomoumtodoeimpeçamque muitos,comoaconteceatualmente,joguem lixonarua,noscórregoserios,provocandoenchentesetodaasortedeproblemas sanitários.Somentecomacolaboraçãodos cidadãos a questão do lixo e da limpeza urbana,comconsequênciasnaprevençãode enchentes, poderá ser resolvida. Estaéaúnicaformadesuperaradeficiência crônicadoBrasilemplanejamento,nassuas diversasesferasdepoder(federal,estaduale municipal).Oplanejamentovemfalhando seguidamente,comoscustosdecorrentes:obras executadasàspressas,semprojetosdetalhados quedefinamtécnicasconstrutivas,especificaçõesdosserviçosemateriais,cronogramade execuçãoeorçamentorigorosos.Exemplodos problemasoriginadosdessafaltadeplanejamentoforamasobrasdosJogosPan-americanosde
2007noRiodeJaneiro.Acapitalcariocapraticamentenãosebeneficioudosinvestimentos realizados.AsobrasparaaCopa2014easOlimpíadas2016sãoaoportunidadedeaproveitara intensasinergiaentreosdoiseventos,miraros ensinamentosdahistóriarecenteereverteresse quadro.Senão,osquase30bilhõesdereaisque são previstoscomoinvestimentonapreparação paraasOlimpíadaspodemnãosersuficientes ou,piorainda,nãodeixarnenhumaconsequência positiva para a sociedade. E,paraseterumbomprojeto,énecessário planejar,quesignificapensarantesparafazermelhor.Tambéménecessáriorespeitaro tempoparaasuaelaboração,enfimrespeitar aengenharia.Istoporque,comopreconiza oSinaenco,“antesdeumaboaobra,existe sempre um bom projeto”. Éprecisotrabalharapartirdeagora,ainda commaisafincoparadesenvolverrápidae eficientementeosprojetosdecadaestádio, praça,rodoviaouaeroportoqueprecisaremos para2014e2016.Háaquigraveriscoparaa arquiteturaeengenhariadeprojetosbrasilei-
ras.Algunspoderãosertentadosacontratar, semlicitação,escritóriosestrangeiros,soba alegaçãodequeestesjátêmexperiênciano projetodeestádios,padrãoFifaoupadrão COI.Ajustificativaseráadesempre:“Comojá estamosatrasados,nãohátempoaperdercom demoradaslicitações”.Nãopodemosdesperdiçaressasrarasoportunidadesparadesenvolver acompetênciadasempresasbrasileiras,competênciaessaquepoderáserexportadanos megaeventosesportivosmundiais,nofuturo. Organizar a Copa e as Olimpíadas é um desafioparatodososbrasileiros.Oprincipal problemaestánainfraestrutura.NãopodemoscorreroriscodefazeraCopa2014eas Olimpíadas2016enãodeixarnenhumresultadoimportanteparaascidadesenvolvidas. O melhor resultado da Copa 2014 e das Olimpíadas2016éoBrasil2017,olegado positivodesseseventosparanossopaís.” (*)JoséRobertoBernasconiépresidentedoSindicato da Arquitetua e da Engenharia (Sinaenco) Novembro 2009 / 15
Jogos Olímpicos e Copa 2014
Parcerias, mas com planejamentoetransparência LuizFernandoPires*
A
iniciativaprivadatemgrandeinteresseemparticipar dosinvestimentoseminfraestruturaparaosjogosdaCopade 2014edasOlimpíadasde2016.Mas sentefaltadeumarcabouçojurídico quegarantaequilíbrioeconômicofinanceiroaosinvestimentos.Exigem aindainstrumentosqueassegurem a transparência da aplicação dos recursoseoplanejamentoadequado doprogramadeobras.Quemafirma issoéLuizFernandoPires,presidente do Sinduscon – MG. Com a experiência de quem ajudou a escrever a história da Engenharia do Brasil, atuando em empreendimentosdossetorespúblicoseprivados,emsegmentoscomo siderurgia,metalurgia,saneamento, mineração,químico/farmacêutico, saneamentoeobras-de-arteespeciais, Piresalertaqueadefiniçãodasprioridadesnãopodesersubordinadaa interessespolíticos,masacritérios estritamentetécnicos.Sobacoordenaçãodeprofissionais qualificados. Sãoposiçõesquetraduzemaspreocupaçõesdoempresariadodosetor,nessemomentotãoimportanteparaa história do Brasil. Com a palavra, Luiz Fernando Pires. Revista Grandes Construções – O que a indústria daconstruçãoesperadesseciclodecrescimentoquese aproxima?Oquefazerparaquenãosejaumsurtopassageiro,masumprocessodedesenvolvimentoeconômicoe tecnológico permanente? Luiz Fernando Pires – Esperamos que o ciclo de crescimentosejaretomado,masdemaneirasustentávele commaisplanejamento.Nãonoritmodesenfreadoque vivíamosnoperíodoanterioràcriseeconômicamundial. Paraissoéfundamentalqueasempresaseosórgãospúblicosinvistamemumplanejamentoadequadoparaosseus empreendimentos,reforçandosempreaimportânciado
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estudoprofundodaengenharia,antes de se iniciar as obras. Grandes Construções – O que fazerparaincentivaraparticipaçãoda iniciativaprivadanosinvestimentos,por meiodeconcessões,emespecialnoque dizrespeitoàconstruçãooumodernizaçãodosistemaviárioedasarenas desportivas,deacordocomasexigências daFederaçãoInternacionaldeFutebol (Fifa)edoComitêOlímpicoInternacional, para a realização dos jogos? Luiz Fernando Pires – O governoprecisaestimularessaparticipação pormeiodeeditaiscujasexigências sejamcabíveis.Nãoadiantacolocarem napraçaeditaiscomoutorgasaltíssimasouquesejaminviáveiseconomicamente.Aparticipaçãodainiciativa privadanessetipodeinvestimentoé comprovadamenteumsucessoem todosospaísesdesenvolvidosecontribui em muito para a construção e modernizaçãodainfraestruturadesses países.Cabeaogovernobrasileiroadotarmodelos-bemsucedidosnoexterioreadequá-losànossa realidade. GrandesConstruções–Comoasempresasconseguirãofinanciarsuasparticipaçõesnessesempreendimentos? Existem hoje instrumentos eficazes para isso? LuizFernandoPires– Após o ápice da crise,osbancos nacionaiseinternacionaisvoltaramaofertarcréditoparaesse tipodenegócio,noentantooBNDEScontinuasendo,noBrasil,aprincipalreferênciaparaessestiposdeprojetos.Osinstrumentosdisponíveisnosmercadoshojesãoadequados;omaior problemaestánaformataçãodosprojetosenãonosinstrumentos de financiamento. Grandes Construções – O Brasil dispõe de um arcabouçojurídico,quedêsegurançaaoinvestidorprivadoegarantaoequilíbrioeconômico-financeirodosinvestimentos? Luiz Fernando Pires – Não, infelizmente o nosso país aindaconvivecomumacertainsegurançajurídica.Ogoverno
aindatemgrandeinfluêncianasdecisõesdoJudiciário–Supremo TribunalFederal(STF)eSuperiorTribunaldeJustiça(STJ),oque muitasvezespodeprejudicaroequilíbrioeconômico-financeiro dosinvestimentos.Éimportantedestacarquehouveumaevolução nosúltimosanos,masasombradainsegurançaaindaéforte. GrandesConstruções–Comogarantirqueasinstalações permanentes,aseremconstruídas,nãosetornem“elefantesbrancos”equeosinvestimentosnãosepercam, construindoequipamentos não integrados à vida das cidades? LuizFernandoPires–Éfundamentalqueexistaumplanejamentovoltadoparalongoprazo,ouseja,queestasconstruções tragambenefíciosparaascomunidadesnofuturo,enãosomente durante a Copa ou os Jogos Olímpicos. Grandes Construções – Existe o receio de que a movimentaçãodetãograndesrecursosemtãocurtoespaçode tempocrieoportunidadesparadesviosdeverbas,corrupção, superfaturamentoseoutrasaçõesdessetipo.Queinstrumentosdefiscalizaçãoasociedadepodecriarparacontrolaraaplicação real dos recursos, e de forma correta? Luiz Fernando Pires – Hoje em dia já existe uma grande fiscalizaçãofeitapeloTribunaldeContasdaUnião(TCU)epelo MinistérioPúblico,queconseguemacompanharcomrigoro andamentodasprincipaisobrasdopaís,portantonãovejoanecessidadedecriaçãodemaisinstrumentos.Éimportantedestacar queaatuaçãodafiscalizaçãodeveterfocoeisençãoenãoterum caráter pirotécnico em busca de exposição na mídia. Grandes Construções – Uma das críticas ao Programa deAceleraçãodoCrescimento(PAC),dogovernofederal,éque nãoháumplanejamentoefetivodas obras,oquecontribuipara alentidãodoandamentodoprograma.Falou-seaténacriaçãode umórgãocomesseobjetivo,formadopelasempresasdeEngenhariaeConstrução.Nãoháoriscodissoserepetirnasobrasdos JogosOlímpicosedaCopa?Seriaviávelacriaçãode comitêsde planejamentoenvolvendoosgovernos(federal,estaduaisemunicipais) e representantes da iniciativa privada? Luiz Fernando Pires – Como disse, o planejamento é o principalpilarparaobomandamentodequalquerprojeto,seja ele o PAC ou as obras da Copa e das Olimpíadas. A criação de órgãocomesseintuitoéimportante,masdevesegarantirque serãocolocadaspessoasqualificadastecnicamenteparaplanejar as obras e não sob critérios políticos. Grandes Construções – No caso do Pré-Sal, como garantirqueboapartedasencomendasaseremfeitasnaindústriade insumoseequipamentosfiqueaquinoBrasil?Comoaproveitar paraaumentaracapacidadedeproduçãodanossaindústrianaval efazercomqueoBrasilpasseacontarcomumaindústriacom tecnologiadepontaemsondas,sistemadesubmarino,devasos flexíveis, válvula etc.? Luiz Fernando Pires – Em primeiro lugar, é importante queogovernocrieestímulosparaaindústria,mediantebenefíciosfiscaiselinhasdecréditoparainvestimento.Oempresariado brasileiroéempreendedoreperfeitamentecapazdeabsorveressa demanda,masénecessárioquetenhamoestímuloparapoderdesenvolver a indústria das tecnologias citadas. (*) Luiz Fernando Pires é presidente do Sinduscon – MG
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Uma nova revista para os novos tempos! www.grandesconstrucoes.com.br
Jogos Olímpicos e Copa 2014
Estádios brasileiros reprovados para a Copa
P
raticamente nenhum estádio brasileiro atende a todas as exigências da Federação Internacional de Futebol (Fifa), para a realização dos jogos da Copa 2014. De forma geral, são praças esportivas ultrapassadas e antigas, que padecem de um longo processo de falta de manutenção e atualização tecnológica. Tampouco foram dimensionadas, em sua maior parte, para o público esperado nas competições internacionais, ou possuem, em seu entorno, áreas para estacionamento de veículos, acessibilidade e infraestrutura de transporte. Isso foi o que constataram os estudos realizados pelo escritório Castro Mello – Arquitetura Esportiva, do arquiteto Eduardo de Castro Mello, e pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco). Adequar os estádios aos padrões necessários para o campeonato mundial, ou construir novas instalações, exigirá um grande esforço de Engenharia, seguido de pesados
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investimentos. Isso sem falar na corrida contra o tempo. De acordo com o levantamento, os estádios brasileiros são muito velhos e foram projetados para receber tanto competições de atletismo quanto de futebol, num mesmo espaço. De acordo com as exigências da Fifa, a preferência é por estádios sem pista de atletismo. São os chamados estádios-arena, que colocam as arquibancadas a até seis metros do campo de jogo. Diferentemente dos estádios olímpicos que, por serem dotados de pista, mantêm a torcida a uma distância mínima de 15 ou 20 metros. A federação exige ainda que os estádios tenham cobertura em toda a área da arquibancada. A instalação dessas estruturas deverá encarecer os custos de adaptação dos estádios existentes, adicionando mais peso às edificações. Entre os estádios disponíveis, vários têm potencial para serem adaptados, como Mineirão, Mané Garrincha e Beira
Rio. Outros dificilmente conseguirão ser adaptados, por estarem encravados em áreas densamente povoadas, onde não há espaço suficiente para a instalação de infraestrutura de apoio, como estacionamentos. Para um estádio com capacidade de 60 mil lugares, por exemplo, prevê-se um estacionamento para 10 mil veículos, o que demandaria uma área de cerca de 250 mil m².
Tratamento diferenciado
Para dar celeridade nos projetos, sem correr o risco da perda dos prazos por causa da lentidão na tramitação dos processos, nas reformas dos estádios, ou construção de novas instalações, terão que ser adotados procedimentos diferenciados para o licenciamento das obras da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Quem defende essa tese é o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão. Ele apresentou ao presidente da República,
Maquete virtual do complexo desportivo Beira Rio, em Porto Alegre (RS)
Luiz Inácio Lula da Silva, ao presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a sugestão de criação de um Manual de Licenciamento das obras desses dois eventos esportivos. “Construir todas as estruturas de que precisamos para os dois megaeventos com os processos que temos hoje será impossível. É preciso que haja uma linha de licenciamento para a Copa e para as Olimpíadas, sem que haja perda de qualidade na fiscalização e no controle”, disse o presidente da CBIC. Paulo Simão falou também sobre a necessidade de o setor participar de um grande debate sobre os gargalos do país, sobretudo com relação aos excessos cometidos por órgãos de fiscalização. “Quem tem irregularidade, que pague por ela. Mas temos de conter os excessos da fiscalização dos órgãos públicos. Temos de repensar muitas coisas”, afirmou.
Estudos preliminares para os projetos dos estádios já foram preparados e visam mostrar para a Fifa a viabilidade de realização das obras. Veja a seguir, as principais características do estádios existentes, de acordo com o estudo do Sinaenco.
Morumbi, em São Paulo
• O estádio Cícero Pompeu de Toledo (o Morumbi), propriedade do São Paulo Futebol Clube, é o mais indicado para sede dos jogos da Copa 2014. Pode abrigar com facilidade mais de 60 mil torcedores dentro dos padrões de conforto da Fifa. • Os maiores problemas estão do lado de fora do estádio, nas dificuldades de acesso e estacionamento que hoje afetam a cidade de São Paulo. Para atender às necessidades da Copa, o projeto de reforma do Morumbi prevê a construção de um edifício para 4.800 carros.
Maracanã, no Rio de Janeiro
• O Rio de Janeiro, conta com o Estádio
Jornalista Mário Filho, mais conhecido como Maracanã, templo mundial do futebol. Inaugurado em 1950, o estádio sediou a Copa do Mundo daquele ano. • Para 2014, entre outras adaptações, será construída uma nova cobertura para o estádio. O projeto prevê ainda a construção de um prédio para estacionamento, acima das linhas das concessionárias de trens metropolitanos Supervia e do Metrô-RJ, com cerca de 3.500 vagas. O custo previsto da reforma é de mais de R$ 400 milhões. • O Maracanã precisaria corrigir a visibilidade prejudicada nas primeiras fileiras atrás das cabines; refazer o acesso para portadores de necessidades especiais; e reformar os sanitários. A reforma do Maracanã será resultado de Parceria Público Privada (PPP). • O Rio de Janeiro tem ainda o Engenhão, Estádio Olímpico João Havelange, concluído em 2007 para os Jogos Pan-Americanos. Ele tem capacidade para
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Jogos Olímpicos e Copa 2014 para shows e sistema de segurança, com mais de 200 câmeras. • O estádio está passando por reformas que permitirão a instalação de cinco mil novos assentos em seu anel inferior, elevando o número de lugares para 31 mil. Em 2012 espera-se que a capacidade seja elevada para 41 mil pessoas. • Também estão sendo feitas melhorias na área VIP, salas de imprensa e estacionamentos. Todas as reformas e ampliações serão realizadas com investimentos privados e terão sustentação econômica em função dos jogos dos campeonatos estaduais e nacionais.
Mané Garrincha, em Brasília
Paulo Safady Simão, presidente da CBIC
45 mil pessoas e servirá como centro de treinamento para a Copa. Porém, construído em uma região distante e deteriorada da cidade, precisa ter sua acessibilidade equacionada.
Mineirão, em Belo Horizonte
• Batizado oficialmente de Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, inaugurado em 1965, tem capacidade para 81 mil pessoas. Uma vez reformado, ele poderá atender às condições da Fifa. A maior parte das intervenções de que ele necessita está relacionada aos problemas de visibilidade e segurança. • Os placares sobre a arquibancada e grades na separação das torcidas comprometem a visibilidade em vários pontos do estádio. • Os pilares e as molas que dão reforço à sustentação da arquibancada superior atrapalham a visão da arquibancada inferior para o campo.
Arena da Baixada, em Curitiba
• Curitiba conta com o Estádio Joaquim Américo Guimarães, o Arena da Baixada, do Clube Atlético Paranaense, que tem características multiuso, equipado com vestiários, camarotes, camarins
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• Construído em 1974, o Mané Garrincha conta com complexo esportivo com vestiários, sala de fisioterapia, alojamento, restaurante e academias. • Pode acolher 45 mil pessoas, mas uma reforma já programada vai aumentar sua capacidade para 70 mil lugares. • Além de alterações no gramado e nas arquibancadas, o estádio ganhará uma cobertura, um setor para lojas e empreendimentos comerciais e 12 rampas de acesso. • O investimento previsto para o estádio é de R$ 400 milhões.
Verdão, em Cuiabá
• O Estádio Governador José Fragelli, o Verdão, está passando por um programa de reforma, orçado em R$ 350 milhões, com previsão de conclusão em dezembro de 2012. Com a reforma, a nova arena terá capacidade para 48 mil torcedores e uma área com camarotes, tribuna de honra e gabinetes de imprensa. • A reforma pretende ainda transformar o Verdão em uma arena multiuso, que também possa acolher shows e outros eventos de grande público. • O plano estadual para a Copa 2014 prevê ainda a implantação de quatro Centros de Treinamento, que seriam instalados nas cidades de Chapada dos Guimarães, Barão de Melgaço, Lago do Manso e Várzea Grande.
Castelão, em Fortaleza
• O estádio do Castelão, ou Plácido Castelo, é o mais moderno do Ceará, com 58 mil lugares numerados. Conta com
vestiários, camarins-suítes, camarotes climatizados, e bares panorâmicos. Para adequar-se às exigências da Fifa, o estádio precisaria aumentar seu número de vagas de estacionamento interno e externo e também melhorar a oferta de cabines para a imprensa. • Graças a investimentos privados da ordem de R$ 400 milhões, o Castelão está sendo reformado de forma a se tornar um espaço multiuso, com utilização comercial de suas áreas, onde acontecerão shows. A receita dará retorno aos investidores. Estrutura da arquibancada do estádio da Fonte Nova, em Salvador, que cedeu, causando a morte de sete torcedores
Vivaldão, de Manaus
• Para a Copa de 2014, está prevista a demolição do Estádio Vivaldo Lima, o Vivaldão, e a construção de uma nova arena multiuso. A capacidade será de cerca de 48 mil assentos e terá 11 mil vagas de estacionamento, no estádio e imediações. • O projeto é orçado em cerca de R$ 580 milhões e as obras deverão ser concluídas até o primeiro semestre de 2013. • A expectativa é de que a obra se pague pelo aumento do turismo na região, que é o grande objetivo de Manaus com a Copa. O mais provável é que o governo do estado aloque recursos públicos para o empreendimento.
Estádio das Dunas, em Natal
Estádio da Arena da Baixada, reformado, em imagem virtual
• O Estádio das Dunas, planejado no modelo de parceria público-privada, prevê investimento de R$ 300 milhões. Será concluído até o primeiro semestre de 2013. • Para não se tornar um “elefante branco”, o principal desafio do estádio é obter sua sustentação econômica, que não pode depender apenas da receita de jogos de futebol, mas sim de outras fontes de renda.
Gigante da Beira-Rio, em Porto Alegre
Maquete eletrônica do estádio Mané Garrincha, em Brasília
• Conhecido como o Gigante da Beira-Rio, o estádio José Pinheiro Borda, pertencente ao Sport Club Internacional, já está passando por reforma. Sua adaptação aos padrões da Fifa deverá custar cerca de R$ 120 milhões. • Foram iniciadas as obras da arquibancada e da cobertura. O cálculo estrutural está em estágio avançado. Hoje, o Beira Rio conta com 56 mil lugares e a meta é passar a oferecer 60 mil assentos, contando com a ampliação da arquibancada inferior e novos
camarotes. • Algumas reformas já foram concluídas, como é o caso do novo setor administrativo e da nova loja do clube. O museu está em obras, com inauguração prevista para breve. Todas as reformas devem ser finalizadas entre o final de 2012 e o primeiro semestre de 2013.
Cidade da Copa, em Recife • Recife quer construir a Cidade da Copa, uma nova infraestrutura esportiva e urbana para receber a competição. O estádio terá lugar para 45.500 mil pessoas, e, embora as obras ainda não tenham sido iniciadas, a conclusão está revista para 2011. • Para que o projeto seja iniciado, é necessário convencer os principais times da região, Sport e Náutico , a passarem seus jogos no local, de forma a viabilizar o empreendimento economicamente. • Em favor dessa alternativa há uma regra em gestação na CBF que, se for aprovada, obrigará a realização dos jogos do Brasileirão e da Copa do Brasil em estádios padrão Fifa, após 2014.
Fonte Nova, em Salvador • O governo da Bahia pretende reformar o estádio da Fonte Nova com investimentos públicos e privados. Com conclusão prevista para 2011, o estádio contaria com 44.100 lugares. • O problema da proposta é a sustentação econômica do estádio após o fim da Copa, já que a receita não poderá depender apenas do esporte em função do baixo valor dos ingressos. A arena deverá ser multiuso, com estrutura para receber outros eventos.
Estádio Castelão, em Fortaleza, CE
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Jogos Olímpicos e Copa 2014
Medo do apagão dos transportes
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T
ransporte e acessibilidade são itens que se encontram no topo da lista dos desafios e dos investimentos, tanto para a Copa 2014 quanto para os Jogos Olímpicos. É preciso garantir que não haverá um colapso no trânsito das cidades, oferecendo transporte seguro e confortável para a população e para os visitantes. Os Jogos Olímpicos de Atlanta (EUA), em 1996, por exemplo, foram marcados por problemas no transporte, que deixaram milhares de torcedores esperando nos pontos de ônibus, e atletas chegando atrasados para as competições. No Brasil, esse é um nicho na qual a iniciativa privada poderá ter grande participação, em parceria com o poder público. “Infelizmente, o Brasil não tem uma infraestrutura para transportes organizada e capaz de suportar um crescimento mais acelerado da economia. Por isso, se mostra cada vez mais necessário abrir o leque para a participação da iniciativa privada no setor, não somente por necessidade, mas também pela convicção de que esta é uma alternativa conveniente, com ganhos sociais e econômicos.” Quem afirma isso é Moacyr Servilha Duarte, presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Para ele, a legislação em vigor já permite soluções criativas na definição de parcerias entre empresas privadas e o poder público. “É importante destacar que o cenário positivo para a iniciativa privada foi construído a partir de meados da década de 1990. Mudanças significativas na condução da economia e a estabilidade política registradas nestes período garantiram esses avanços. No âmbito político, o respeito aos contratos firmados pelo poder público com a iniciativa privada contribuiu para maior estabilidade do ambiente regulatório, viabilizando o investimento privado em infraestrutura, que vem ganhando cada vez mais força”, diz Servilha Duarte. Com um sistema de metrô limitado (37 km) que não alcança a região da Barra da Tijuca, onde se concentrará a maior parte das arenas esportivas para as Olimpíadas, o Rio de Janeiro tem no transporte um possível gargalo. Para evitar isso, as autoridades prometem tirar do papel projetos para o uso de ônibus em corredores exclusivos como parte de um investimento total em transportes de US$ 5 bilhões. Os sistemas de BRTs, ou Bus Rapid Transit, que utilizam ônibus de alta capacidade, capazes de atender a demandas muito próximas das indicadas para sistemas de metrôs, quando bem operados, são as alternativas. As vantagens sobre os metrôs estão, sobretudo, na rapidez da implantação e construção dos projetos, e nos seus custos, já que a construção de um quilômetro de BRT exige, em média, US$ 10 milhões em investimentos, contra US$ 100 milhões por quilômetro construído de um sistema de metrô. Para o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e responsável pela implantação do modelo de transporte da capital paranaense, copiado em todo o mundo, os sistemas de ônibus de alta capacidade são a solução para a mobilidade em pelo menos 40 cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes. Lerner crê que os ônibus são mais flexíveis para atender demandas a específicas, como é o caso da Copa do Mundo de 2014. Veja na tabela as prioridades para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, na área de transporte e acessibilidade, e os principais problemas das 12 cidades-
-sedes dos jogos da Copa, na área de transporte e mobilidade.
São Paulo
• O sistema de transporte público conta com uma grande estrutura de linhas de ônibus com mais de 14 mil veículos, além de metrô e trens, conectados pelo sistema de interligação EMTU. • A rede de trens e metrô ainda está longe de atender adequadamente a população. Por isso, o governo implantou um ambicioso programa de expansão da rede existente, e de modernização do sistema de trens urbanos, com o objetivo de constituir-se uma única malha de transportes integrados que terá o padrão de qualidade de metrô. Sistemas de BRTs e Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), ciclovias e ônibus comuns complementariam a rede.
Rio de Janeiro
• Para sediar a Copa 2014, o Rio de Janeiro terá como maior desafio a melhoria da infraestrutura para acessibilidade às áreas de expansão urbana, como a Barra de Tijuca; contar com transporte de alta capacidade e investir na qualidade do transporte. • As exigências da Fifa em relação aos sistemas de transportes coincidem com algumas ações iniciadas pelo governo do Rio,
Moacyr Servilha Duarte, presidente da ABCR
como as obras do Arco Metropolitano, com 145 km, que integra os eixos rodoviários; a Via Light, que interligará o subúrbio do Rio com a região metropolitana de Nova Iguaçu; os corredores expressos de ônibus; e a expansão e modernização do metrô.
Belo Horizonte
• Entre os desafios que Belo Horizonte deve enfrentar está o transporte. O traçado do metrô e a macroestrutura viária e de transportes da capital mineira, dispostos predo-
minante nos eixos norte e oeste, reforçam a concentração e as deficiências na articulação espacial da região metropolitana, abrindo diversas frentes para investimentos em transporte coletivo. • A acessibilidade ao estádio deverá ser garantida por um sistema de transporte de massa, próximo e ligado aos principais polos geradores de viagens da cidade. Nos municípios maiores da RMBH, o sistema deverá ser de alta capacidade, como o metroviário ou de trens metropolitanos. • O Plano de Mobilidade Urbana para a Copa 2014, apresentado pelo Ministério do Turismo, prevê para Belo Horizonte apenas R$ 211,7 milhões para 5,5 km de corredores de ônibus.
Curitiba
• Curitiba planeja muitas melhorias para seu sistema viário, que já é considerado modelo. A cidade programa investimentos na ordem de R$ 400 milhões para o Núcleo Urbano Central. Está prevista, ainda, a construção de 53,6 km de vias para um corredor metropolitano de ônibus. • A prefeitura municipal planeja ainda a implantação de um metrô elevado, que em sua primeira fase ocuparia 13 km da BR116 e atenderia a 183 mil pessoas/dia. • Veículos biarticulados expressos conec-
Sistema de trens de subúrbio do Rio de Janeiro, passa ao lado do Maracanã, mas precisa de mais trens para atender à demanda atual
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Jogos Olímpicos e Copa 2014 RIO DE JANEIRO: AÇÕES PRIORITÁRIAS AÇÃO
OBJETIVO / DESCRIÇÃO
SISTEMA FERROVIÁRIO PRÓ 21 Aquisição de novos trens
Melhoria operacional do sistema. Adequação às necessidades da Região Metropolitana e às exigências do COI. Aumento da freqüência e oferta de lugares nos trens para atender à demanda da população e dos Jogos.
PRÓ 21
Reforma da Estação São Cristóvão, com previsão da integração trem – metrô – ônibus. Readequação da Estação Maracanã, que passa a inteReforma da Estação São Cristóvão grar trem e metrô e servir a todos os ramais ferroviários. Ambas servem e construção da nova Estação ao Estádio do Maracanã. Maracanã - Mangueira PRÓ 21 Reformas de estações ferroviárias que atenderão as instalações olímpicas
Reformas das estações Deodoro, Vila Militar, Magalhães Bastos, Engenho de Dentro e D. Pedro II, para possibilitar o acesso universal. Reforma das estações ferroviárias Mercadão e Penha, para integração com o BRT do Corredor T5.
SISTEMA METROVIÁRIO Acessibilidade às estações Ligação Linhas 1 e 2 e construção Estação Cidade Nova Implantação da Linha 4
Dotar as estações de equipamentos para atendimento a portadores de deficiência; oferecer acessibilidade às estações. Extensão de 2,5 km da Linha 2, interligando-a à Linha 1, criando uma nova possibilidade de traçado, sem transferência entre a Estação de Pavuna e General Osório. Eliminação do desconforto na integração das duas linhas na Estação Estácio. Possibilidade alternativa ao BRT Zona Sul – Barra.
SISTEMA RODOVIÁRIO
Implantação do Corredor T5 com BRT
Implantação do BRT Zona Sul – Barra
Implantação da Ligação C com BRT
Implantação do BRT do Corredor da Av. Brasil
Atendimento de demanda elevada de transportes em eixo transversal Norte-Sul (Penha-Barra), integrando aos eixos radiais, minimizando a necessidade de deslocamentos em direção ao centro da cidade e, portanto, contribuindo para a redução de congestionamentos. Racionalização do uso do Corredor T5, operando um sistema tronco-alimentador em via segregada do tráfego geral, reduzindo tempo de viagem e integrando com o trem e o Metrô. Atendimento de demanda elevada de transportes no eixo Zona SulBarra. Sistema tronco-alimentador a ser operado em via segregada, do Terminal Alvorada (Barra) à Estação de Metrô General Osório (Ipanema). Constituído por duas linhas troncais (paradora e expressa) alimentadas por sistema de ônibus. Possibilidade de “up-grade” para a Linha 4 do Metrô. Incremento da acessibilidade da população de Realengo, Magalhães Bastos, Deodoro, Boiúna, Guerenguê, e Curicica à Baixada de Jacarepaguá, Av. Brasil e Linha Amarela. O projeto prevê sistema tronco-alimentador, em via segregada, de Deodoro à Barra da Tijuca, integrando-se ao trem na região de Deodoro. A elevada demanda será atendida por duas linhas troncais (paradora e expressa), a serem operadas por ônibus articulados, definido a partir da racionalização do atual sistema de ônibus. Vias para tráfego particular com caráter expresso, com possibilidade de cobrança de pedágio Racionalização do uso do corredor Av. Brasil, Av. Francisco Bicalho, Av. Pres. Vargas e Av. Rio Branco, reduzindo número de ônibus, emissão de poluentes e tempo de viagem. Pelo projeto, as viagens intermunicipais são interrompidas no Trevo das Margaridas e os passageiros com destino ao centro da cidade, transferidos para veículos expressos articulados.
SISTEMA VIÁRIO
Maior fluidez de tráfego no corredor Radial Oeste - Av. 24 de Maio (entre Maracanã e Engenhão), facilitando o deslocamento entre a Área Desobstrução e alargamento do Central e a Zona Norte da Cidade, reduzindo tempo de viagem e poCorredor Maracanã – Engenhão luição do ar. O projeto compreende a duplicação da Av. 24 de Maio e a retirada da ocupação irregular sobre a Av. Radial Oeste. Aumento da capacidade da via, melhorando a fluidez dos veículos que se deslocam entre Linha Amarela/ Jacarepaguá/ Deodoro e Barra/ Duplicação da Av. Salvador Allende Recreio. O projeto inclui a implantação de duas pistas centrais com três faixas e duas pistas laterais com duas faixas. E, ainda, ciclovia ao longo do trecho, conectada às ciclovias existentes na redondeza. Aumento da capacidade das vias, melhorando a fluidez dos veículos Duplicação do trecho final da Av. que se deslocam entre a Baixada de Jacarepaguá e as Zona Norte, Abelardo Bueno e da Av. Ayrton Suburbana e Oeste da Cidade, através da Linha Amarela, Corredor T5 Senna e Ligação C.
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tam terminais integrados em diferentes regiões do município por trajetos desprovidos de paradas intermediárias e vias exclusivas que facilitam a circulação. A cidade também é dotada de ciclovias que interligam seus parques e logradouros.
Brasília
• Nesse momento, o poder público estuda a implantação de um sistema de BRT ou VLT, que completará o atendimento à população feito pelo metrô, que conta com 42,38 km de linhas em funcionamento, 23 estações, uma frota de 20 trens, e transporta uma média de 150 mil passageiros/dia. • O governo do Distrito Federal planeja incentivar o transporte por bicicleta, e criou o maior programa cicloviário do país (Pedala-DF), que terá 600 km até 2010.
Cuiabá
• A capital mato-grossense tem um dos melhores sistemas de transporte público de ônibus do país. Hoje, todo ponto de ônibus é um terminal de integração. O transporte público é feito por ônibus coletivo e táxis, além de micro-ônibus e moto-táxi, já regulamentados pela Câmara Municipal. Todos os ônibus são monitorados por satélite por meio de GPS, além de 89% dos veículos possuírem ar-condicionado e cerca de 67%, rampa elevatória para cadeirantes e deficientes físicos. • O maior projeto a ser desenvolvido na cidade para o transporte público é a construção do VLT de Cuiabá e Várzea Grande, inteiramente elevado. Há também a intenção de se criar linhas executivas intermunicipais para os 10 municípios da futura Região Metropolitana de Cuiabá.
Fortaleza
• Fortaleza tem sistema interligado de transporte coletivo, com sete terminais integrados de ônibus urbano, dois terminais não integrados e duas estações rodoviárias. Para receber a Copa, o governo do Ceará pretende ampliar a rede viária estruturante da região metropolitana da capital, beneficiando 13 municípios. • A estimativa de investimentos para 2009 é de R$ 128 milhões em obras e R$ 45 milhões em desapropriações.
Manaus
• A Copa é vista como oportunidade para viabilizar os estudos e projetos para a rápi-
da implantação de sistemas de transportes coletivos de média capacidade, como BRT ou VLT. A cidade tem 1.252 ônibus e está elaborando um programa de reestruturação operacional, para melhorar o atendimento à população.
Natal
• No quesito mobilidade urbana, Natal sofre algumas limitações, com um sistema de trem urbano de qualidade insatisfatória, com 38 km de extensão, 11 estações e capacidade para transportar 4 mil passageiros/ dia. • O sistema de transporte coletivo por ônibus tornou-se obsoleto e não atende às necessidades atuais. Encontra-se em estudo uma licitação para a reestruturação completa do sistema.
Porto Alegre
• A região metropolitana de Porto Alegre abrange mais de 30 municípios, que se ligam à capital pelas rodovias BR-116 e BR-290 (conhecida como a Freeway),
e pela av. Castelo Branco. As opções de transporte público são as 330 linhas urbanas e as 1.882 linhas intermunicipais, além do sistema de trens metropolitanos, cuja ampliação deve custar em torno de R$ 3,7 milhões. • O planejamento da mobilidade urbana da região tem estratégias de implantação da Rede Estrutural Multimodal, com horizontes temporais para os anos de 2013, 2023 e 2033. A cidade planeja ainda um metrô com extensão de 37,4 km e capacidade para 80 mil passageiros por hora. Entretanto, apenas a primeira fase do projeto (com 13,2 km de extensão) deverá ser executada para a Copa.
Salvador
• A principal carência na infraestrutura urbana está na mobilidade. O sistema viário estrutural promoveu a ocupação de áreas adjacentes, o que acaba levando os veículos para as vias principais, gerando enormes congestionamentos nos horá-
rios de pico. Somado a isso está a situação precária do sistema coletivo. • Para atender ao fluxo de pessoas em direção ao estádio, o Governo da Bahia prevê um plano de investimentos da ordem de R$ 1,3 bilhão. A linha 1 do metrô, já existente, será ampliada e deverá atingir a capacidade de 250 mil passageiros/dia, com intervalos de três minutos entre os trens. A linha 2 do metrô vai interligar o aeroporto, o polo hoteleiro e o centro da cidade, e, quando finalizada, deve aliviar o tráfego das rodovias BA-093 e BR-324. • Também está prevista a reestruturação da rede atual de percursos do Sistema de Transporte Público de Salvador e a realocação de estacionamento públicos e privados.
Recife
• A capital pernambucana tem uma frota de aproximadamente 4.600 ônibus, que serve diariamente a 1,7 milhão de pessoas, além do metrô do Recife (Metrorec), que transporta 180 mil passageiros por dia. Novembro 2009 / 27
Construção imobiliária
Déficit habitacional
é desafio para governantes e para Engenharia brasileira
O
s números variam de acordo com o órgão responsável pela pesquisa e com a metodologia empregada. Mas são dramáticos, qualquer que seja a estatística considerada. De acordo com o Ministério das Cidades (MCidades), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) de 2007, o déficit habitacional brasileiro é de 6,273 milhões de domicílios, o que significa dizer que aproximadamente 25 milhões de pessoas - considerando uma média de quatro pessoas por núcleo familiar - vivem hoje em condições de extrema pobreza, sem um teto ou em moradias inadequadas, em locais de risco, sem saneamento básico, energia elétrica ou água encanada. A pesquisa, realizada em parceria com a Fundação João Pinheiro (FJP), órgão oficial de estatística de Minas Gerais, vinculado à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, constatou que a falta de moradias aflige principalmente as famílias que recebem até três salários mínimos. Mais de 90% dos núcleos familiares que demandam moradia fazem parte desse grupo, um padrão se repete em todas as regiões do País. Com a proposta de diminuir esse déficit, o governo federal lançou, em março deste ano, o Plano Nacional de Habitação, batizado politicamente de “Minha casa, minha vida”. O programa conta com recursos da ordem de R$ 34 bilhões e tem como principal meta a construção de 1 milhão de novas moradias até 2010. Para as famílias que recebem até três salários mínimos por mês, está prevista a construção de 400 mil unidades. Para aquelas cuja renda é de três a quatro salários mínimos, serão construídas 200 mil moradias e, para as que ganham entre quatro e cinco salários mínimos, 100 mil habitações. O mesmo número está previsto para as que recebem de cinco a seis salários mínimos. Já para as famílias com renda entre seis e dez salários mínimos, o objetivo é construir 200 mil unidades. A Região Sudeste deverá ser a mais beneficiada, com a construção de 36,4% das unidades. Em seguida, vêm o Nordeste (34,3%), Sul (12%), Norte (10,3%) e Centro-Oeste (7%). Para Roberto Kauffmann, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio de
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Tecnologia trazida do México
Palafitas da favela do Coelho, em Recife (PE)
Janeiro (Sinduscon-Rio), o “Minha casa, minha vida” é o primeiro programa de política nacional de habitação realmente de interesse social, realizado no Brasil. “E para que ele tenha longa duração, o setor da Construção e os movimentos sociais deverão apoiar um Projeto de Emenda Constitucional que está em tramitação no Congresso, que prevê a destinação de recursos permanentes para a Habitação de Interesse Social, a exemplo do que acontece com a Educação e a Saúde”, declarou. Em discurso proferido no dia 1 de
O programa “Minha Casa, Minha Vida” despertou o interesse de uma das maiores construtoras de habitações populares do México, a Homex, que vai erguer cerca de 700 unidades residenciais em São José dos Campos, no interior de São Paulo, até o final deste ano. Este é o primeiro investimento da empresa no Brasil, que vai construir imóveis para famílias com renda mensal entre seis e dez salários mínimos. As habitações custarão a partir de R$ 80 mil e poderão ser financiados pela Caixa Econômica Federal. O déficit habitacional do México é de 6,5 milhões de casas, mas somente no ano passado foram construídas 680 mil moradias contra 120 mil no Brasil. A meta dos mexicanos é ainda mais ambiciosa do que a brasileira: construir 1 milhão de casas/ano, utilizando método construtivo que oferece redução de custos, rapidez de execução e casas resistentes. Os mexicanos querem acabar com o problema nos próximos cinco anos. O método de construção consiste em erguer paredes de concreto utilizando formas metálicas. A construtora já fechou parceria com a Engemix e a Votoraço para viabilizar o projeto. Na primeira fase de investimento, a
Crédito: Manoel Virgílio/PMSC
Arquivo Ministério das Cidades
setembro, no 81º Encontro Nacional da Indústria da Construção, promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), no Rio de Janeiro, Kauffmann defendeu a destinação de 2% do orçamento federal e 1% dos respectivos orçamentos regionais (estados e municípios) para subsidiar e financiar o programa. O líder empresarial revelou que estão sendo colhidas 1 milhão de assinaturas para sensibilizar os parlamentares e aprovar, ainda este ano, o Projeto de Emenda Constitucional. “Assim, em um prazo de até 15 anos, será reduzido drasticamente o nosso enorme déficit habitacional, através de construções formais feitas por empresas construtoras de todos os portes (pequenas, médias e grandes).”
Primeiras casas construídas em São Carlos, pela Rodobens
construtora deve entregar 300 casas até agosto. Serão moradias térreas de dois dormitórios ou sobrados de três quartos. Na segunda etapa, mais 400 unidades devem ser finalizadas até dezembro, entre prédios e novas casas. Também inspirada no modelo mexicano, a construtora Rodobens está utilizando moldes preenchidos com concreto para a construção de 1.198 casas com áreas entre 41m2 e 51 m², em São Carlos, município a 230 km de São Paulo (SP). As formas são construídos com espaços para janelas, portas, fiação, encanamento e demais estruturas da casa. Eduardo Baccarin, engenheiro civil da Rodobens responsável pela obra, explica que em seguida é aplicado um concreto especial, desenvolvido de acordo com as especificações técnicas brasileiras. A massa recebe aditivos químicos e outros produtos para manter a temperatura da casa e garantir a secagem mais rápida. “O conforto térmico é três vezes maior do que as tradicionais casas de alvenaria”, afirma o engenheiro. “As paredes são de três a quatro vezes mais resistentes do que uma moradia de tijolo comum”, ressalta Baccarin. A estrutura da cobertura recebe ainda aço galvanizado no lugar da madeira, garantindo maior durabilidade. Baccarin explica ainda que todo o processo foi homologado pela Caixa Econômica Federal, financiadora das moradias. A empresa já construiu 220 casas e começa outras 220 para outros programas financiados pela Caixa.
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Energia
Pré-Sal 6.900 caracteres
desafia a indústria mundial “N
ossa demanda está levando a capacidade da indústria mundial ao seu limite. Nosso plano de investimentos – que é o maior do mundo – é um programa estratégico e fundamental, que viabiliza o crescimento da Petrobras, da cadeia de fornecedores e do Brasil. E isso, no futuro, será ainda maior.” A declaração, feita pelo presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, em palestra realizada no Clube Militar, no Rio de Janeiro, no final de outubro, dá a exata dimensão do impacto que a expansão da capacidade de produção da empresa causará junto a toda a cadeia de suprimento para a produção de petróleo e gás, nos próximos anos, não só no Brasil, mas em escala internacional. A afirmação do presidente da Petrobras se respalda no programa de investimentos da estatal, que prevê, segundo sua assessoria de imprensa, a aplicação de recursos da ordem de US$ 174,4 bilhões, nos próximos cinco anos. Só para cobrir as despesas com fornecedores nacionais estão sendo investidos US$ 100,9 bilhões, o que equivale a uma média anual de US$ 20 bilhões. Para atividades de Exploração e Produção, serão destinados US$ 92 bilhões entre 2009 e 2013, sendo US$ 28,9 bilhões para desenvolvimento do Pré-Sal – região que receberá, até 2020, investimentos de US$ 111,4 bilhões. O plano de negócios da empresa prevê a construção de cinco novas refinarias nos próximos 11 anos, praticamente dobrando a atual capacidade de refino no Brasil. São elas a refinaria Abreu e Lima (Pernambuco), Clara Camarão (Rio Grande do Norte), Premium I (Maranhão) e Premium II (Ceará), e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que juntas exigirão um volume de recursos de aproximadamente US$ 47,8 bilhões. As refinarias Premium I e II terão capacidade para produzir 600 mil e 300 mil barris/dia, respectivamente. A Abreu e Lima, que está sendo construída em parceira com a estatal venezuelana PDVSA, adicionará 200 mil barris diários à capacidade de refino da Petrobras. A Clara Camarão, por sua
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Banco de Imagens: Agência Petrobras
vez, contribuirá com 30 mil barris/dia, enquanto o Comperj terá capacidade para refinar 150 mil barris/dia. Está prevista ainda a contratação de 156 embarcações (navios-sondas e plataformas), no período entre 2009 e 2013, além da compra de 28 sondas novas, sete das quais tiveram seus editais para compra publicados no dia 16 de outubro. Outras 19 sondas serão fretadas, desde que sejam construídas no Brasil. O programa, no entanto, tem um grande desafio a ser superado: a capacidade instalada da indústria de bens e serviços, insuficiente para atender às demandas previstas pela
estatal. Para superar essas limitações, a Petrobras poderá recorrer a algumas vantagens competitivas já identificadas, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento da cadeia de suprimentos. Graças à sua capacidade de alavancagem e ao volume de compras envolvido, a empresa poderá, por exemplo, firmar contratos de longo prazo com os fornecedores, o que se traduz em garantia para captação de investimentos. Poderá, ainda, antecipar contratos, dar suporte a fornecedores estratégicos, captar recursos e atrair novos parceiros. Tudo isso alicerçado num programa agressivo de licitações para
enfrentar os desafios de produção dos próximos anos.
Recursos humanos
O presidente da Petrobras destacou ainda a necessidade de investimentos em recursos humanos. “É possível que, no futuro, tenhamos algumas limitações de mão de obra, porque o volume de demanda por técnicos especializados vai crescer. É necessário investir em treinamento, em novas indústrias e densificar a cadeia produtiva, para que o pré-sal possa se desenvolver com a rapidez adequada”, afirmou Gabrielli. Ele ressaltou o papel do Programa de
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Energia
Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp l). De acordo com estimativas da Petrobras, pelo menos 247 mil pessoas terão que ser treinadas até 2013, para atender ao programa de crescimento da empresa. Carlos Maurício de Paula Barros, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), reconhece que a carência por profissionais qualificados neste setor, principalmente para cargos de alto escalão e média gerência, já está sendo sentida no Brasil, tanto para atividades conhecidas como upstream (exploração, perfuração e produção) quanto para downstream (transporte, distribuição e comercialização), equipamentos e construção. “Trata-se de uma área muito aquecida nas várias regiões produtoras do mundo, e agora ainda mais no Brasil”, afirma. Ele lembra que a indústria de petróleo e gás, no Brasil, passou ao largo da crise e das oscilações de preço no mercado internacional, e continua sendo o 32 / Grandes Construções
setor que mais cresce, com projetos de longo prazo e expectativas criadas principalmente a partir da descoberta das reservas na linha do pré-sal. Para o presidente da Abemi, o profissional brasileiro tem boa formação e flexibilidade, o que é fundamental em um mercado onde operam empresas multinacionais. Mas ainda temos grande carência de pessoas com experiência profissional elevada. “A formação técnica ainda está centralizada na Petrobras. Por isso, a atuação de contratações, principalmente para média e alta gerência, se estende a profissionais brasileiros que vivem em outros países e também a executivos de outras nacionalidades. Acredito que o número de brasileiros preparados para as funções demandadas pelo setor só tende a crescer. Essa é uma tendência mundial. Vinte anos atrás, o mercado internacional era dominado por engenheiros britânicos e americanos. Hoje a aposta das empresas é na força de trabalho local”, garante.
Divulgação
Construção de plataformas no estaleiro São Roque do Paraguaçu, na Bahia
Carlos Maurício de Paula Barros, presidente da Abemi
Fotos: Banco de Imagem Agência Petrobras
Navio-plataforma, FPSO São Vicente, operando nos testes de longa duração, no Campo de Tupi
“Trata-se de uma área muito aquecida nas várias regiões produtoras do mundo, e agora ainda mais no Brasil.” De acordo com pesquisa realizada pela Abemi, até 2012, 130 mil pessoas serão capacitadas na área, das quais 90% somente no Estado do Rio de Janeiro. “Ainda assim, mesmo com uma ampla oferta de profissionais em cada um dos mercados domésticos, é preciso ter em mente que é da própria natureza do negócio intercambiar pessoal qualificado nas diversas regiões do mundo. Nenhum país é capaz de atender a todas as suas necessidades apenas com talentos domésticos e, nesse setor, é fundamental a disponibilidade para trabalhar em operações internacionais. Para isso o domínio do idioma Inglês e habili-
dades interpessoais são necessárias”, aconselha dirigente.
Desenvolvimento tecnológico
Outro grande desafio a ser transposto, para a consolidação do plano de negócios da Petrobras, é o desenvolvimento tecnológico. Sergio Gabrielli destaca a importância do investimento em tecnologia: “É fundamental que nossa área trabalhe na fronteira tecnológica. Nesta fronteira mundial, trabalhamos com o nosso Centro de Pesquisas, mas criamos 38 redes temáticas envolvendo mais Novembro 2009 / 33
Energia 70 instituições de pesquisa no Brasil inteiro, com cerca de 422 convênios para pesquisas. Mais do que dar condições para os pesquisadores, estamos montando laboratórios de primeiro mundo nas universidades”. Ele voltou a fazer uma veemente defesa da adoção da política de conteúdo nacional aplicada pela estatal e afirmou que a companhia apenas garante empregos no Brasil em setores da indústria que terão uma "curva de aprendizado" até atingir padrões internacionais de competitividade.
Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras
Testes prosseguem em Tupi A Petrobras retomou, no dia 5 de setembro, a produção de petróleo e gás natural do Teste de Longa Duração (TLD) da área de Tupi, no pré-sal da Bacia de Santos. O poço 3-RJS-646 foi fechado no início de julho de 2009 para a troca da Árvore de Natal Molhada (equipamento submarino de controle de fluxo de poços) e voltou a produzir normalmente. A substituição do equipamento foi realizada com sucesso no prazo de dois meses, inferior ao previsto inicialmente de até quatro meses, e atendeu à rigorosa política de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Companhia. Com a retomada do TLD, a Petrobras continuará a coleta de dados importantes para conhecer o comportamento de longo prazo dos reservatórios em produção, a movimentação e drenagem de fluidos durante a produção e o escoamento submarino, que serão fundamentais para a elaboração do plano de desenvolvimento do pré-sal da Bacia de Santos. A área de Tupi é operada pela Petrobras (65%) em parceria com BG Group (25%) e Galp Energia (10%). No local encontra-se em operação o navio-plataforma FPSO São
Canteiro de obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj)
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Vicente, de extração, armazenamento e transporte de petróleo, fabricado na Cingapura, que tem capacidade de produção de até 40 mil barris/dia. A expectativa da Petrobras é de que o teste dê a dimensão exata do tamanho da reserva, calculada entre 5 e 8 bilhões de barris, permitindo conhecer melhor o mecanismo natural de produção da jazida e outras informações sobre a atividade de exploração no pré-sal, que vão subsidiar os projetos definitivos da área. Em princípio, o óleo de Tupi apresenta características semelhantes ao árabe, de tipo leve, de melhor qualidade e preço. É preciso saber se esse padrão permanece nesta etapa. Também é necessário conhecer qual o comportamento do reservatório durante o processo de extração, uma vez que a camada de sal apresenta instabilidades que podem dificultar os trabalhos. Na fase seguinte dos testes, a Petrobras instalará uma plataforma-piloto, com capacidade para 100 mil barris/dia. Essa unidade deverá entrar em operação no final de 2009 ou início de 2010 e deve operar durante dois anos. Só depois dessa etapa é que a Petrobras começará o trabalho para
instalação de uma plataforma permanente, o que deve ocorrer entre 2011 e 2012. Nos últimos dois anos, foram perfurados dez poços exploratórios na província petrolífera. Todos indicaram a presença de petróleo e gás. Outros nove poços ainda serão perfurados no pré-sal da Bacia de Santos ainda este ano. Apenas Tupi tem metade das reservas comprovadas do País, que são de 13,920 bilhões de barris de petróleo e gás, levando em conta critérios adotados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Para os especialistas da Petrobrás, a maior dificuldade a ser enfrentada no présal não será o tecnológico, mas o logístico. O campo de Tupi fica a uma distância de até 300 km da costa. Nenhum helicóptero hoje apresenta autonomia para percorrer a distância do litoral até o campo. Para se ter idéia da dificuldade, as atividades da Bacia de Campos demandam o transporte diário por helicóptero de até 50 mil trabalhadores. Por volta de 2015, quando a Petrobras pretende produzir 500 mil barris/dia em Tupi, o fluxo de funcionários será semelhante.