Experiências de Permanência Urbana / Setor Pedro Ludovico

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ExperiĂŞncias de PermanĂŞncia Urbana/ Setor Pedro Ludovico

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Casa fora de Casa - 2018


O projeto Experiências de Permanência Urbana nasceu de uma iniciativa vinculada ao projeto “Casa fora de casa” e ao escritório de arquitetura Sobeurbana. A ação busca explorar os aspectos urbanos visíveis e invisíveis que tangem o Setor Pedro Ludovico. Contribuindo dessa forma para uma visão não convencional do bairro, um documento que pretende colaborar com futuras intervenções e discussõe sobre no Setor.

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EXPERIÊNCIAS


Rodrigo Vieira Martins

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Que espaço é esse? memória/ afeto/ pertencimento

Captar a subejtividade do espaço. Desde o início de nossa experiência no Setor Pedro Ludovico, tivemos como um dos principais objetivos entender o espaço em seus pormenores. Não somente do ponto de vista normatiado, aqui denominado: fatos e dados. Mas principalmente sob a ótica da peculiaridade, uma busca pela compreensão da subjetividade existente na conformação dos lugares do bairro. Como meio de construir um produto que desse conta dessa percepção, que nos parecia essencial, executamos ações que intitulamos experiências de permanência. Assim cada um dos pesquisadores poderia captar um pequeno trecho de peculiaridade existente no bairro. A experiência “Que espaço é esse?” buscou ocupar-se da memória, afeto, relação dos moradores com o espaço público e pertencimento. Assim tais elementos registrados sob a perspectiva do usuário seriam de grande valia e serviriam posteriormente como complemento dos dados já coletados. A experiência baseou-se em expor aos moradores registros fotográficos de alguns pontos do Setor Pedro, demarcados em nosso trabalho como potentes. Em seguida os moradores deveriam apresentar sua visão a respeito do espaço ali exibido. Sensações, lembranças, odores, vontades, inseguranças, indiferença ou mesmo eventos que já ocorreram naquele lugar. Esse relato serviria como forma de desenhar a subjetividade impregnada no ponto escolhido.

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Após definida a metodologia fui a campo em dois dias diferentes para captação das informações. Encontrei bastante resistência, mesmo me identificando como pesquisador ligado a uma ação que está ocorrendo no bairro as pessoas me viam com desconfiança. Acredito que o fato de gravar um registro de sua voz também as inibia. Após algumas tentativas frustradas comecei a ter êxito.

Como forma de expressar de forma gráfica as narrativas da experiência, compus um material que contém os relatos mais interessantes dos moradores. Com o intuito de mapear, mesmo que superficialmente, a relação dos usuários do espaço com os pontos escolhidos e assim contribuir para as futuras intervenções.

Eentender o lugar a partir da subjetividade do usuário do espaço. Trancendendo o mapemanto comum. O primeiro entrevistado foi Lucas, um jovem de 20 anos que se mostrou bastante interessado. Fui exibindo as imagens e de início ele não entendeu bem do que se tratava. Porém, ao observar que as imagens eram de seu bairro as respostas ficaram mais empolgadas, ele parecia querer ostentar a qualidade dos espaços de seus bairro, sempre com um sentimento de nostalgia, relembrando onde brincava, onde passou, onde morou. Em todas as entrevistas sentimentos de nostalgia, afeto, aborrecimento e raiva se manifestavam. O que demonstrava a efetividade da ação em captar a perspectiva dos moradores frente as nossas impressões iniciais. A sequência de entrevistas se seguiu, o calor era intenso no bairro e as pessoas sempre estavam apressadas. Quando paravam, respondiam rápido e com certa irritação. Além de respostas comuns que sempre empurravam a culpa da falta de estrutura dos lugares para os “governantes”, outra observação possível sobre o bairro é que as pessoas não utilizam com frequência o lugar onde moram.

É aqui ó, tem até meu boteco! Eu moro aqui há 54 anos, eu montei esse espaço! Eu já fiz aqui 30 campeonato de golzinho, pra vc ver... aqui é uma quadra de futebol! Isso aqui já foi “bão demais!” Hoje ninguém joga mais bola na rua! !Sobre Parque Infantil Iroci –

Foto: Jardim Botânico, um dos espaços análisado pelos moradores do bairro.

Foto: Avenida Antônio Mauro Borges, um dos espaços análisado pelos moradores do bairro.

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Rodrigo Vieira Martins

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Que espaço é esse? Frases Marcantes

Lucas – É

aqui no Pedro Ludovico, lá no negócio de polícia civil, acho que é detran né? Sobre Sede da Giro.

Essa alameda da Antono Martins Borges, tem um parque, uma criança caiu lá um dia desses teve um ferimento muito sério e que as autoridades tem que tomar providencia !Sobre Parque Infantil

Juscelino Kubitschek – Esse

aqui é o Teminal Isidória, o lugar que eu trabalhei 15 anos como motorista de ônibus. Antigamente tava mal desejado, hoje tá bem organizandinho!” Sobre Terminal Isidória

Maria Aparecida –

Elísio – _

Luzia –Agora,

terminal de ônibus é um problema sério, falta de segurança, de infraestrutura é... Segurança para as pessoas, fora e dentro do ônibus, sempre uso com muito medo! Sobre Terminal Isidória

Na pracinha, onde tem a marcenaria do Wilson. Eu usava aqui quando eu era pequeno, eu brincava muito aqui com meus amigos... o kauwan e o Matheus. Mas agora já tá tudo bagunçado, pode ver que o ferro de exercício já tá amassado” Sobre Avenida Antônio Mauro Borges.

Elizete – _

Esse aqui é no Jardim Botânico, um espaço de lazer onde a gente entra pra apreciar não só a questão da natureza, mas também... pra poder conversar com os amigos, aqui é muito bom, um banquinho pra gente poder sentar se divertir, comer algum lanche” Sobre Jardim Botânico.

Isso aqui eu já banhei muito aqui, há 35 anos atrás aqui era um paraiso, aqui era uma lagoa limpinha, era lida! Fizeram muito show aqui! Eu já pesquie aqui!I” Sobre Jardim Botânico.

Iroci –

Fernando –Isso

Fernando –Isso

aqui é lá na mata, né Zé? Jardim botânico! Lá embaixo, lá é legal! Sobre Jardim Botânico

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aqui já foi bom um dia, tá abandonado. Já era! Sobre Praça dos Esportes

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Aline Lopes de Almeida

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Criança Fora deCasa_Por um setor mais inclusivo

“Vários estudos mostram que investir na infância com custos financeiros relativamente reduzidos, tem um efeito multiplicador que se traduz em ganhos significativos não só a nível individual, mas também para as sociedades e as economias dos países (UNICEF, 2012).” Durante uma sessão de cinema na rua organizada pelo Casa Fora de Casa, várias crianças saíram de suas casas e foram acompanhadas com os pais - ou não - até o local. Lá, elas brincaram, pularam, riram e foram crianças com tudo que o ambiente lhes ofereciam. Era pouco. Alguns pufes e a grama. Depois da sessão me peguei pensando em como as crianças se apropriavam dos espaços com as poucas coisas que ali existiam. Fiquei me questionando sobre o espaço que elas tinham na cidade, naquele setor que, teoricamente, é para todos. Acessível, seria a palavra. Vi, porém, que não é tão simples assim. Aqueles que deveriam crescer com o sentimento de pertencimento e de cuidado com as cidades são os mais negligenciados. Faltam espaços que consigam suprir as necessidades de uma criança, como investigar, experimentar e brincar. As ruas, quando pouco movimentadas, deveriam ser transformadas em um local para jogar futebol, mas pouco se vê acontecendo. As calçadas deveriam ser sempre cheias de

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crianças brincando na frente de suas casas, construindo e experimentando a vida na cidade, mas o que vemos são ruas desertas. Um dos motivos, muito provavelmente, seja o medo do perigo que muitos pais sentem ao deixar seus filhos expostos nas ruas do setor.

Após essa experiência foi possível ver que o Setor Pedro não acolhe crianças, a partir do momento que não possibilita e/ou não fomenta uma vida de brincadeiras nas ruas, o que acaba gerando a tal da insegurança e mais ruas desertas.

Como encontrei poucas crianças nas ruas (as poucas que encontrava, estavam indo para a escola com os pais), decidi procurar por crianças nos parques. Primeira tentativa, Jardim Botânico. Nenhuma criança. Em pleno Domingo, dia mais provável para encontrar pais com seus filhos no parque. Segunda tentativa, Parque Areião, quarta-feira pela parte da manhã. 3 crianças, sendo duas bebês. Não conformada, continuei à procura de crianças pelo parque Areião que, afinal, é um dos parques mais visitados da cidade. Fiquei assustada ao ver que não havia uma criança em nenhum dos parquinhos do Parque. Decidi entrevistas algumas pessoas que eram moradoras do Setor Pedro e que estavam no parque e um vendedor de água de côco, e eles me garantiram que durante o final de semana a quantidade de crianças no parque era maior. Fiquei um pouco mais aliviada, apesar de ficar mais evidente que as crianças dali só podiam experienciar o setor durante o final de semana. É triste ver que um setor tão grande e diverso como o Pedro Ludov ico não pos s ui equipamentos voltados aos pequenos, mas inaugura espaços com equipamentos de ginástica para adultos.

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João Henrique de Morais

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Bola na Rua

Para a realização desse exercício de permanência, um campinho de rua foi o que motivouaescolhadaatividade. Como parte do exercício de compreensão do setor Pedro,foiproposto durante nossas reuniões o exercício de permanência em algum ponto do setor. Durante esse exercício poderíamos entender melhor como é a movimentação do local e de alguma forma participar, quebrando assimumpoucodorotineiro noespaço. Aolongodasvisitas aosetorparareconhecimento encontrei um lugar próximo ao jardim botânico que possuía algumas linhas feitas com tinta no chão, marcando os limites de um campinho no asfalto. Esse lugar estava bem localizado, próximo ao jardim, em uma avenida com muitas árvores ao redor, avenida Antônio Martins Borges, possuía até uma arquibancada de concreto. Mas todas as vezes em que passei por ele, estava servindo apenas como estacionamentodecarros. Gostei do lugar e da idéia de poder passar um tempo jogando bola na rua novamente, coisa queerameupassatempo quandocriança. Levando a idéia para a reunião, levantaram os questionamentos de como poderia conseguir atrair pessoas para meu exercício de permanência e como poderia melhorar a idéia de ir jogar bola na rua, já que com isso, possivelmente não conseguiria propor uma ação em que alguma menina ou mulher se sentisse com vontade de participar.

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Passei a semana pensando em como poderia melhoraraatividadeetorna-lámaisatrativapara qualquer pessoa que passasse pelo local e decidi trocar minha idéia de jogar futebol por algo como vôlei ou três cortes. Jogos que quando criança, todos meus amigos jogavam. E para ajudar a quebrar um pouco o gelo com as pessoas, convidei minha irmã para participar comigo. Uma presença feminina poderia dar mais tranquilidadeparaoutrasmulheres

Continuei jogando bola até que apareceu o primeiro menino, tinha cerca de dez anos e se sentou em um banco próximo. O chamei para brincar comigo e com minha irmã mas ele estava meio aborrecido com algo e quis ficar apenas olhando.

Preparação para o dia da ação Para realizar a nova atividade no setor Pedro, escolhi um sábado de manhã (10/03) para ir ao localporserumdiaemqueprovavelmenteamaior partedaspessoasestariamdefolgaemcasa. Nodiaanterior,passeiemumalojadebrinquedos paracomprarumaboladevôleiedeixeitudoque iaprecisarprontodentrodocarro.

Durante a ação também pude conversar com os vizinhos da área. Um senhor que morava de frente aomeiodecampoestacionouocarronalaterale entrou na casa dele. Na saída questionei se haviam muitas crianças que utilizavam o espaço, eledisseserproibidojogarbolalápoiselacaiana casadaspessoas. Conversei também com o senhor do bar. Ele estava animado com o jogo, disse que já organizou campeonatos e que era um sucesso maseraumtrabalhoquenãoeratãogratificantee as vezes acabava ficando no prejuízo. Disse que se for organizar jogos agora, será apenas para jogosfemininos. Fui embora pouco depois de uma da tarde, havia começado a chover e provavelmente não haveriammaisjogaresnarua.

Ocampinhonoiníciodaatividade.

O

dia

da

permanência

no

setor.

Chegando o dia escolhido, tomei um café reforçado, me arrumei e junto com minha irmã, fomosparaocampinhonoasfalto. Chegamosporvoltadedezhorasdamanhã.Não havia nenhuma pessoa utilizando o local, nem o campinhoenemassombrasdasárvoresnolocal. Havia um carro na beirada da linha de tinta no asfalto e um senhor que varria algumas folhas em frenteaumbar. Comecei então a passar o tempo jogando a bolacomminhairmãcomosefosseumaquecimento para o vôlei e aguardamos em tempo atentos ver se alguém passava no local com alguma curiosidadeouinteresseemparticipar. Logo percebi que o senhor que varria as folhar em frente ao bar estava varrendo as folhas no campinho também, na parte que era imediatamente de frente ao seu bar. Deixou uma área limpa comoestavanacalçadadele.

Logodepois,amigosdogrupoqueiriamrealizara permanência no mesmo local chegaram e passamos a observar junto a movimentação no lugar. Um caminhão de serviços da prefeitura estacionou em uma sombra na esquina. Cerca de seis homens fizeram seu almoço e deitaram na calçada por cerca de duas horas. Antes de voltaremaotrabalho. A área que havia sido varrida pelo senhor do bar estava com mesas e bancos agora e logo duas mulheres se sentaram com ele. Junto com essas mulheres viram duas crianças para andar de bicicleta na sombra. Então voltei a jogar e os chamei para participarem. O convite pro vôlei não agradou ele muito mas aceitaram jogar golzinho. Os meninos marcaram os gols com suas chinelaseapartidacomeçou. Foram muitos minutos jogando e depois de um tempo já haviam cinco crianças do setor participando do jogo que durou até a mãe deles irememboraumpoucodepoisdemeiodia.

Jogadoresemcampo.

Conclusão A atividade mostrou que apesar de abandonado, o lugar já foi campo de grandes eventos mas atualmente é pouco utilizado. As crianças que participaram já se conheciam e faziam uso do lugar,mesmoquecompoucafrequência. Os moradores da região ao entorno parecem contra a utilização dele, possivelmente por transtornos no passado, deixando apenas o senhordobarfelizcomautilizaçãodele.

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Leticia Mastrela Gomide

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Espiando a Tenuidade_um olhar para os limites entre o público e o privado

como escreve Ítalo Calvino em As cidades invisíveis.

Tenuidade_ qualidade, condição ou estado do que é tênue. Tênue_ Delgado, fino. Débil, frágil, sutil. Observando a cidade podemos fisgar a linha tênue que a calçada representa nessa fronteira público x privado tão controvertida. De maneira geral a rua é entendida como o espaço público, de zelo do estado, lugar onde não há tanto o sentimento de pertencimento, mas do lado dela está a calçada, essa sim, ocupada e zelada por uma parte da população, onde muitas vezes é vista como extensão da sala ou do quintal. Quando me lancei na experiência de percorrer as ruas do bairro do Setor Pedro Ludovico meu olhar estava voltado para as pessoas que vivem nessa fronteira, caminhando entre uma calçada e outra ,comercializando - os ambulantes. Caminhei por horários variados, pela manhã, pela tarde e ao anoitecer, mas só tive desencontros. Nesta andança comecei a observar a quantidade de pessoas que permaneciam nas calçadas, olhando a vida no bairro acontecer mas em contrapartida os parques e algumas praças sempre estavam bem vazias. Resolvi entrevistar os moradores e fazer 5 perguntas, para tentar entender a relação deles com o próprio bairro e ouvir histórias, já que a memória da cidade é também construída ‘’ das relações entre as medidas de seu espaço e seus acontecimentos do passado: a distância do solo até um lampião...’’

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AS PERGUNTAS Escolhi 5 perguntas mais abrangentes que foram sobre: - O tempo de moradia no Setor Pedro Luduvico - A opinião sobre a insegurança do setor - A freqüência de ida para algum espaço público oferecido pelo setor - A freqüência de ida para alguns eventos temporários, como feiras ou bazares de igrejas, etc. - Um desejo para o setor Com esses pontos conversei com 6 moradores em locais diferentes. Sobre a insegurança as respostas foram praticamente as mesmas : ‘’A insegurança tá em todo lugar da cidade né?’’. O primeiro encontro foi com uma senhora, pelo final da tarde, que estava na calçada trabalhando, possuía uma marcenaria e enquanto conversávamos lixava um móvel. Ela contou que morava a 20 anos no setor, que freqüentava apenas as feiras e sobre os os parques, que costumava ir contou que ia ao Areião e ao parque Flamboyant. Afirmou que preferia lá ao jardim botânico, pois era muito perigoso. Continuei nas ruas próximo a Alameda e encontrei uma senhora bem mais de idade varrendo a calçada. Morava no setor a mais de 50 anos e contou da época em que ia ao córrego areião lavar suas roupas, de quando as crianças brincavam na rua sem o medo se serem atropeladas e os ladrões só roubavam

galinhas. Mencionou o sonho da neta de ser bailarina e a distância que é ofertada as aulas gratuitas, como o transporte público de Goiânia não é eficiente, o sonho não pode ser realizado, já que a vó precisa levar outro neto na escola e o tempo de locomoção não é suficiente para as duas coisas. A terceira entrevistada foi uma moradora que se encontra mais próximo ao areião e que nasceu no bairro, citou a praça dos esportes onde freqüentara e lamentou o descaso atual. As três moradoras entrevistadas no dia citaram o mesmo desejo: A praça dos esportes ativa. No segundo dia de andança, pela manhã, encontrei mais 3 moradoras localizadas no outro extremo do setor. A primeira estava passeando com seus dois pequenos cachorros, e relatou que havia 6 anos que estava no bairro, habitante de um condomínio vertical, sua relação com a vizinhança era praticamente zero, o motivo era o medo. Questionada sobre um desejo para o bairro, revelou que gostaria de pedalar com segurança, mas que não o fazia por falta de ciclovias ou ciclofaixas, estas apenas localizadas em torno do areião. A Quinta entrevistada, que estava sentada na porta de casa, citou uma ação coletiva que experienciou na Alameda João Elías da Silva Caldas. A ilha que hoje é um espaço com bancos e jardim já foi um local de entulho. A situação só foi transformada através da ação dos moradores insatisfeitos que compraram os materiais para a obra, e solicitaram a mão de obra da prefeitura. Quanto ao desejo mencionou o anseio por uma feira coberta, já que a principal do bairro acontece do lado de fora do mercado municipal.

A Sexta e última que se dispôs a responder as perguntas, era uma recente habitante da região, havia se mudado a 6 meses, e disse que estava bastante satisfeita com os serviços que tinha por perto. Sobre o desejo, sentia falta de um local com equipamentos para atividades físicas. Inicialmente os desencontros com os ambulantes no setor foram bastante frustrantes, já que mesmo nos horários em que havia grande chance do encontro não obtive sorte. Em contrapartida caminhando pelas calçadas encontrei bastante permanência dos moradores, inclusive algumas apropriações curiosas, como uma sinuca na calçada. Proseando com os moradores me senti acolhida, e exposta as suas querências, percebi que são ações custariam pouco para se concretizarem se os governantes tivessem o mínimo do interesse na qualidade de vida do povo.

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Roberto Cociello Neto

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Estar no espaço_ Utilizar e entender

Estar - Verbo - Ação Estar, utilizar e entender Setor Pedro Ludovico Predicativo: ter ou apresentar (certa condição física, emocional, material etc., não permanente). Transitivo indireto: encontrar-se (em certo momento ou lugar, transitoriamente). Transitivo indireto: não se mover, não se

Para essa experiência, resolvi utilizar uma prática que já é bem utilizada: alimen tar-se no espaço público. Diariamente vemos isso acontecer com moradores de rua, piqueniques, moradores sentados na porta de casa comendo, espaços privados que utilizam o espaço público como extensão de sua área etc. Contudo, resolvi ir em uma praça próxima a duas escolas do Setor para entender se havia permanência e utilização daquele espaço pelos moradores, pelos estudantes, pelos pais entre outros. Fui em 3 horários: de manhã, na hora do pi-icos onde achei que essa utilização do espaço aconteceria, justamente pela intensidade do uso nesse horário. Por falta de equipamentos urbanos de parado em um ponto de ônibus com cobertura e banco para realizar a análise.

A experiência de permanência propos ta foi usar do espaço para realizar atividade cotidiana (se alimentar) e observar a utilização (ou a falta dela) dos espaços públicos julgados como potenciais. Depois das análises e reconhecimentos dos espaços públicos do Setor Pedro Ludovico, veio a intenção de entender mais profundamente o local com uma experiência de permanência.

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Café da Manhã Pela manhã, comprei um pão e um café em uma padaria na Avenida 4ª Radial, bem próxima ao local de estudo, e fui lá tentar entender a utilização.

Corri porque já estava em cima da hora para a entrada dos alunos do período matutino. Sentado no ponto, comendo meu pão, via, esporadicamente, pessoas chegando

nessa praça. Achei que eram moradores mas utilizavam da praça como extensão

jovens chegando à pé, uma a uma, ou de duas e três, no máximo. Nesse período, não vi uma pessoa sequer utilizar a praça como um lugar de permanência, nem por um minuto. Só de passagem. Fiquei por um tempo a mais no local e fui embora.

comprei um salgado e um refrigerante em uma cantina lá perto tamém. As observações foram as mesmas, o que me causou mais frustração ainda, pois

O Lanche

semana e nem durante a semana.

Almoço Pela tarde, comprei uma marmita no 4ª Radial com a Avenida Circular, também próxima ao local de estudo. No mesmo ponto de ônibus (por faltar de esse de saída e entrada das escolas. Sentado no ponto, comendo minha marmita,tive as mesmas impressões do período matutino. Pessoas pulverizdas de passagem, esporadicamente, chegando e saindo, como se o espaço nem existisse. Entretanto, o espaço aparentemente não era o único estranho. Eu estava de boa me alimentando e observando quando percebi que eu era o observado. Todos que passavam me olhavam de forma estranha. Penso que se perguntavam o e comendo. Como se fosse uma prática estranha. Contudo, vi duas pessoas no horário de almoço fazendo caminhadas e corridas

Conclusão Frustração e estranheza. O primeiro, meu sentimento quanto à falta de utilização de um Setor tão rico. O segundo, o sentimen to que senti vindo das pessoas quando eu estava utilizando o espaço como estar e para me alimentar. Talvez as pessoas tenham perdido a vontade de estar, talvez nunca a tiveram, talvez o espaço não seja bom, tudo junto.

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Murilo Souza Rodrigues

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Churrasco na Praça

Para a permanência proposta no trabalho, escolhi fazer um churrasco em uma das áreas públicas mal utilizadas do Setor Pedro Ludovico. Logo na primeira reunião do trabalho de levantamento das áreas públicas do setor Pedro Ludovico, foi proposto que em algum momento a análise do lugar fosse feita a partir de uma permanência, ou seja, experiências individuais de análise baseadas em permanecer por algum tempo no local. Portanto, depois de nosso reconhecimen to do bairro e de analises mais “burocráti cas”, voltamos para analisá-lo a partir de uma permanência. Para minha experiência busquei causar algum tipo de provocação na população local. Isso se deu por meio, primeira parte do cotidiano de parte dos moradores, e depois que tivesse estrutura física mínima necessária para a permanência. Sendo assim, o local escolhido para o estudo foi o espaço público localizado na Avenida Antônio Martins Borges.

Se trata de uma praça localizada no Setor Pedro, onde escolhi fazer um churrasco. O foco da provocação foram as formas de uso do espaço público, demonstrando que há liberdade para se fazer até mesmo um churrasco no local. A expectativa era de que houvesse a curiosidade dos moradores e visitantes de saber do que se tratava, ou até mesmo o interesse em participar da ação.

Dia de churrasco.

Conforme o planejado, em uma manhã de sábado, no dia 10 de março, por volta das 9:00 horas, saí de casa em direção ao setor Pedro Ludovico. Minha intenção era comprar todas as coisas que seriam necessárias para o churrasco no próprio setor, e assim foi feito. Comprei carne, carvão, e pão com alho em uma casa de carnes em uma das avenidas mais movimentadas da região, a avenida Leopoldo de Bulhões. Seguindo em

Assim que iniciei o preparo da churrasqueira me deparei com a minha falta de habilidades como churrasqueiro, então contei com a ajuda do João e de sua irmã mais nova para isso. Neste momento reparei que uma viatura da GPT (grupo de planejamento tático), cujo batalhão está instalado no próprio setor, passou ao nosso lado por pelo menos duas vezes. No início, enquanto eu preparava o carvão e a carne, percebemos claramente as limitações do local para se fazer um churrasco, e também o nosso despreparo para preparar um. No início foi claro que todas as pessoas que passavam em volta,

Conclusão

movimentação. No entanto, à medida

únicas pessoas que interagiram com a permanência, além dos participantes do levantamento que estavam ali no dia, foram algumas crianças que jogavam bola na rua na atividade de permanência do João. Depois de aproximadamente 3 horas, encerrei a minha atividade e voltei par a cas a.

um uso curioso do espaço público, porém usual: uma igreja local fazia na calçada um bazar de roupas usadas. Registrei em

experiência divertida encontrar com alguns colegas e fazer um churrasco, apesar das condições um tanto quanto limitadas para tal. Foi impressionante, no entanto, perceber a irrelevância do fato para as pessoas que passaram por ali, o que causou um sentimento de decepção em mim, pois esperava ao menos que houvesse a curiosidade das pessoas para saberem o que fazíamos ali.

extremamente importante para o trabalho. Segui em direção ao ponto combinado, onde encontrei outro membro do trabalho, o João, que me emprestou a churrasqueira de seu avô. Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Donec ac volutpat felis. In pretium porta diam at

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MAPAS


$ $ MAPA_ APROPRIAÇÕES

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MONETARIZADAS

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NÃO MONETARIZADAS

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$ APROPRIAÇÕES 1. ato ou efeito de apropriar(-se), de se tornar próprio, adequado; adequação, pertinência. 2. jur ato de tornar própria (coisa) sem dono ou abandonada; ocupação.

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LIMITE BAIRRO HIDROGRAFIA ÁREA VERDE

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MAPA_ EQUIPAMENTOS

LUGAR PARA CRIANÇAS

ESPORTE

LAZER

MOBILIÁRIO URBANO

SUPERESTRUTURAS

RELIGIÃO

CICLOVIAS

ENSINO

ESTRUTURAS PROVISÓRIAS

EQUIPAMENTOS Todos os bens públicos ou privados, de utilidade pública, destinados à prestação de serviços necessários ao funcionamento da cidade, implantados mediante autorização do poder público, em espaços públicos e privados.

LIMITE BAIRRO HIDROGRAFIA ÁREA VERDE

0

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MAPA_ ESPAÇOS POTENCIAIS

POTENTE

MÉDIO POTENTE

POUCO POTENTE

POTÊNCIA característica do que é potente; poder. 2. capacidade de mover (algo); força.

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LIMITE BAIRRO HIDROGRAFIA ÁREA VERDE

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BANCA IMPROVISADA

ÁGUA DE CÔCO MESAS DE BAR

MAPA_ USOS DO ESPAÇO

EXTENSÃO DE COMÉRCIO EXTENSÃO DE COMÉRCIO

USO

EXTENSÃO DE COMÉRCIO EXTENSÃO DE COMÉRCIO

EQUIPAMENTOS DE EXERCÍCIO

ÁGUA DE CÔCO

BANCA PAI E FILHO MESAS DEBRINCANDO BAR

ÁGUA DE CÔCO

NO PARQUINHO

PIT-DOG

PESSOAS CAMINHANDO

USO 1. ato ou efeito de usar(-se). 2. aplicação de um objeto, matéria, ferramenta etc. de acordo com sua natureza, sua função própria; emprego, utilização.

FHANELINHA NO CENTRO ESPÍRITA

-

PESSOAS SENTADAS NO JARDIM

BANCA CHAVEIRO

GOIÁS DA SORTE

VIZINHAS CRIANÇAS CONVERSANDO BRICANDO E LAVANDO O BECO NA RUA

CRIANÇAS BRICANDO NA RUA

PESSOAS CAMINHANDO

CRIANÇAS BRICANDO NA RUA

EQUIPAMENTOS DE GINÁSTICA BANCA

MESAS NA CALÇADA

PESSOAS DA ACADEMIA CAMINHANDO COMERCIOS COM USO DA CALÇADA

ÁGUA DE CÔCO

BANCA

GOIÁS DA SORTE

PESSOAS SENTADAS NO CANTEIRO

BANCA

FEIRA

ANTIGO CAIS

USO DE CALÇADA

VENDENDOR INFORMAL

CRIANÇAS BRICANDO NA RUA

HORTA

LANCHONETE

CARROS - OFICINA

USO DE CALÇADA

COMERCIO COM USO DA CALÇADA COMERCIOS COM USO DA CALÇADA

COMERCIO COM USO DA CALÇADA

ESPORTE VENDA DE FRANGO

COMERCIO COM USO DA CALÇADA

COMERCIO COM USO DA CALÇADA

LANCHONETE CARROS - OFICINA

MATERIAIS DE OBRA

COMERCIO COM USO DA CALÇADA CANTEIRO COM BANCOS

SORVETE CALDO DE CANA COMERCIOS COM USO DA CALÇADAGOIÁS DA SORTE

TENDA DE BEBIDAS LIXO MATERIAIS DE OBRA MATERIAIS DE OBRA

SINUCA - BAR CARRO

SERRALHERIA

CARROS - OFICINA

AMBULANTES NO SEMÁFORO

MATERIAIS DE OBRA

LIMITE BAIRRO HIDROGRAFIA ÁREA VERDE

0

50m

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MAPA_ ZELADORIA

BEM CUIDADO

CUIDADO MÉDIO

MAL CUIDADO

ZELADORIA 1. transitivo direto e transitivo indireto ter zelo por; vigiar, proteger, tomar conta de (alguém ou algo) com toda a atenção, cuidado e interesse; velar. "ainda tão jovem, a moça zelava a mãe e os irmãos" 2. transitivo direto e transitivo indireto interessar-se por, administrar, defender ou tratar de (algo) com empenho, diligência, precisão; velar.

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LIMITE BAIRRO HIDROGRAFIA ÁREA VERDE

0

50m

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CARTOGRAFIAS


CARTOGRAFIA_ DENSIDADE

MUITO DENSO

DENSIDADE MÉDIA

POUCO DENSO

INTENSIDADE 1. qualidade do que é denso, compacto; densidão. 2. fig. riqueza de conteúdo; profundidade emocional ou complexidade intelectual.

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LIMITE BAIRRO HIDROGRAFIA ÁREA VERDE

0

50m

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CARTOGRAFIA_ DIMENSIONAMENTO

GRANDE

DENSIDADE MÉDIA

POUCO DENSO

DIMENSIONAMENTO 1. indicação do conjunto das dimensões de um objeto. "o d. do edifício" 2. ato de dar certa importância a.

LIMITE BAIRRO HIDROGRAFIA ÁREA VERDE

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CARTOGRAFIA_ INTENSIDADE

MUITO INTENSO

INTENSIDADE MÉDIA

POUCO INTENSO

INTENSIDADE 1. qualidade do que é intenso. 2. fon característica da emissão de fonemas ou grupo de fonemas com maior energia do que a dos fonemas ou grupo de fonemas vizinhos.

LIMITE BAIRRO HIDROGRAFIA ÁREA VERDE

0

50m

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CARTOGRAFIA_ SENSAÇÕES

INSEGURANÇA

TEMPERATURA ALTA

TEMPERATURA AMENA

RUÍDO

ODOR DESAGRADÁVEL

MOVIMENTO

SENSAÇÕES 1. fisl psic processo pelo qual um estímulo externo ou interno provoca uma reação específica, produzindo uma percepção. "s. visual, tátil, gustativa, olfativa" 2. conhecimento imediato e intuitivo.

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LIMITE BAIRRO HIDROGRAFIA ÁREA VERDE

0

50m

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NARRATIVA FICCIONAL


Mais um dia por aí

a crônica de um cachorro derivante nas ruas do Setor Pedro

Luz, calor, passos. Sinto o sol e o barulho do movimento de pessoas por aqui, e acho que é hora de abrir os olhos e acordar. Hoje é um dia daqueles em que o movimento começa cedo, e que tem muita criança para cheirar e brincar. EBA! Me levanto, me sacudo da umidade do orvalho da madrugada, e saio da moita que hoje me hospedou para explorar meus arredores. O aroma é delicioso, de mato molhado, e da terra, e das flores do jardim, e das plantas, e da infinidade de árvores e também, o melhor de todos, de gente e comida! Já consigo ver pessoas pelos caminhos, e são elas que vou seguir. Me aproximo de um grupo, e o rodeio por alguns instantes... e sou ignorado. Parto para a próxima, duas pessoas que caminham juntas. Esses falam comigo, e parecem gostar de mim. Fico feliz! Vou segui-los. Caminho ao lado deles por alguns instantes, e confesso que minha esperança é que eles me deem algo de comer. Mais um tempo e nada. Desacelero meu passo, quando de repente vejo uma criança e seus pais. Espera, ela carrega comida na sua mão, posso sentir daqui, mas não sei bem o que é...ela me viu! E está apontando pra mim, e caminhando em minha direção. Fico muito feliz, mas parece que seus pais não tanto, pois a levantam do chão rapidamente, murmuram alguma bronca, e decidem por mudar a rota e jogar em minha direção um pedaço da comida da menina. Espero o pedaço cair no chão, e como. Não sei o que é, mas é gostoso, e é a minha primeira refeição do dia. Após perder essa amiga, tendo andado até o fim do jardim, decido mudar meus planos e vagar pelas ruas em busca de algo. Devo virar aqui... e agora aqui...epa, acho que já estive por aqui, mas vou virar para aquela direção...não, algo me diz que devo virar para cá! O que será eu não sei, mas não tenho nada a perder. Alguns instantes caminhando e acabo chegando na velha praça de costume. Não há nenhum amigo por aqui hoje, mas há sim algo diferente: é um grupo de pessoas, que não conheço, em volta de uma fumaça e eles conversam alegremente enquanto tiram algo de uma sacola e colocam na fumaça...espera. Estou distante, mas reconheço esse cheiro e é cheiro de comida boa! Me lembro que sempre brigam comigo quando chego perto desse cheiro e peço algo, mas nunca posso deixar de tentar porque é irresistível. Então me aproximo, dessa vez vagarosamente, pelas laterais, rodeando-os algumas vezes com calma pois não posso perder esta opotunidade, até finalmente ser percebido. Um deles vem até mim e fala “Neguinho” algumas vezes, e logo em seguida estende sua mão. Que alegria! Ele acaricia minha cabeça e não consigo me conter, vou pular em cima de sua perna, porque não quero que pare nunca. Mas ele sai, de repente. Poxa, mas e minha comida? Não desistirei, e continuarei por perto. Rondo mais algumas vezes o pessoal, quando de repente algo finalmente é atirado para mim, e é comida! Isso se repete por mais algumas vezes, então me vejo com sombra, companhia e comida, e já posso dizer que daqui não pretendo sair tão cedo. Aproveito então esse momento feliz, pois mesmo que eu queir não durará para sempre. E sobre o resto do dia não pensarei, pois até então tem sido perfeito.


Arquibancada no Setor Pedro Ludovico vem fazendo sucesso pelo surgimento de novos jogadores.

setores de Goiânia (CSG), e logo após contratado pelo Santos (SP) para disputar o campeonato brasileiro de 2010. Leonardo Júnior se destacou por passar por uma boa fase no esporte e vem sendo cotado para junto com a seleção, disputar a copa do mundo. Esse ano, uma nova promessa vem reforçando a história de que a arquibancada possui alguma magia na formação de jogadores. Luís Canhete, 22 anos, passou a infância apenas sentado na arquibancada olhando os jogos e comendo os aperitivos da esquina. Na semana passada quando faltou um jogador para completar um time, Canhete foi convidado para entrar em campo e fez um jogo incrível. Por sorte dele, havia um olheiro no local, provavelmente pela fama do lugar, que imediatamente o convidou para jogar na Europa. Os críticos do esporte estão quase certos que Canhete irá assinar contrato com o Manchester City (Inglaterra) e afirmam que ele até já adquiriu uma residência a 22Km da sede do clube.

Jovens esperando na arquibancada o início de algum jogo.

No início de 1998, toda a avenida Antônio Martins Borges foi reformada, houve uma primeira etapa de duplicação e recapeamento das pistas e a criação da arquibancada para o campo improvisado onde os jovens jogavam bola todos os dias no após às 18:15. A superstição sobre a arquibancada começou quando dois jogadores frequentes aos jogos no campo foram contratados pelo Goiás, principal time do campeonato goiano e estavam se saindo melhor do que a grande maioria dos jogadores, se tornaram destaques e eram constantemente capa dos jornais esportivos. De início, se pensou que o campo era o grande responsável pelo sucesso dos jogadores, mas em 2009, Leonardo Júnior, após passar o ano anterior na arquibancada apenas assistindo aos jogos, foi o grande artilheiro da copa dos

Canhete em sua visita ao Etihad Stadium no último sábado. A torcida está confiante que o atleta poderá ser um grande destaque no time e conquistar mais um título nacional.

Essa semana, após o ocorrido, um fato interessante, e de certa maneira triste, vem chamando a atenção. Os jogadores estão deixando de entrar em campo para ficar apenas sentados na arquibancada. Estão confiantes no sucesso que podem ter se ficarem olhando os jogos ao invés de jogar. Com essa nova atitude da população, os número de jogos despencou e atualmente existe no máximo um por semana.




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AMBULANTE DE SUCESSO

Com esse medo em mente, resolveu inovar. Cansado de se sentir invisível às pessoas e de ninguém se interes sar por aquele espaço, ele resolveu fechar a rua da escola com bancos e criar dezenas de carrinhos de ambulantes de papel. Sem pensar muito, com uma estranha naturalidade e inventivi dade, o ambulante fez uma intervenção perfeita. Carro nenhum passaria mais pela rua. Só seria possível à pé. Todo dia a mesma coisa: vender sorvete na porta das esco las do Setor Pedro Ludovico. Ou melhor: não vender sorvete na porta das escolas do Setor Pedro Ludovico. Tinha um pouco de dinheiro guardado, comprou um carrinho de sorvete e começou sua jornada como ambulante. Estava cansado, era uma das últimas oportunidades que via pra si. Como se realmente fosse. A rotina era a mesma. De manhã, falava pra família que ia arrebentar de vender na porta das escolas do Setor Pedro. Era mais um desejo do que realidade. Quase um mantra. Porque não era bem assim. Tentativas exaustivas atrás de tentativas exaustivas, o ambulante tornáva-se um objeto do lugar. Quase uma hidrante onde cachorros urinam. Ou melhor (talvez pior), quase um banco de praça do Setor Pedro (inexistente e/ou inutilizado). sido um sucesso. Como se successo fosse sinônimo de tempo ocioso. Também, os moradores e usuários do setor estavam nem aí

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na escola e seus pais também. Esses começaram a aproveitar o espaço Com tantas pessoas utilizando aquele espaço, e por períodos indeterminados, elas começaram a se interessar pelos produtos do ambulante. Foi um recorde de vendas durante três dias, até que alguém da por ter aumentado em 100 metros seu trajeto ou ter que estacionar um pouco distante estragou uma experiência muito interessante e a renda de uma família. ousadia e, dessa forma, seus lucros só aumentavam. Depois disso, vieram dezenas de carrinhos de verdade. Ele virou um empreendedor do ramo. que alugavam franquias de carrinhos de ambulantes e mercadorias, tornando-se o ambulante mais bem sucedido de Goiânia e o primeiro a exportar seus serviços para Brasília.

menos ele pensava em alternativas para mudar sua venda e sua vida. O sentimento de invisibilidade era forte nele.

fonte: Estadão

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Utópico

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28/03/2018

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Após realizar as mais diversas pesquisas sobre o comportamento humano, finalmente pude constatar com meus próprios olhos algo magnífico. Assim que iniciei minha jornada pela vida acadêmica ouvi um boato, boato esse repetido por todos os pesquisadores da área de geografia e urbanismo que estavam na universidade naquela época. Segundo estes, existia na América Latina, mais precisamente na cidade de Goiânia, um bairro com o maior movimento de espaço público já presenciado na história da humanidade! Os que diziam já ter visitado contavam com euforia a experiência, sempre com um brilho nos olhos. Os mais fofoqueiros afirmavam que os entusiastas que foram, nunca mais voltaram de lá. Eu, como um cientista cético, mais do que todos os meus colegas, nunca acreditei em tal falácia... Segui minha carreira e me tornei professor, pesquisador e hoje professor titular do curso de Geografia do Impossível, na Universidade da Fantasia, uma das instituições mais respeitadas no mundo. O tempo passou, mas a curiosidade sobre a tal lenda nunca saiu de minha memória. Tive que comprovar. Fui a Goiânia, capital do estado de Goiás com uma caderneta de anotação e uma série de equipamentos para registrar tal fato, nada oficial. Pedi uma afastamento rápido de minhas atividades no curso e parti rumo a essa aventura. No ônibus que peguei que ia de Brasília a Goiânia perguntei se as pessoas sabiam sobre esse tal bairro. Poucas pessoas sabiam do que se tratava. Algums já tinham ouvido falar, mas não sabiam expressar do que se tratava, ali já tive certo arrependimento, mas segui. Chegando em Goiânia fui direto ao bairro especificado, o setor Pedro Ludovico. Segui pela Avenida 90, até chegar próximo a um parque, não acreditei no que meus olhos viram. Em plena segunda feira ás 14:00 horas da tarde as calçadas explodiam de pessoas! O parque estava lotado, era possível ver pessoas nadando no lago do parque, crianças brincando das mais diversas formas, churrascos e festas ocorriam onde menos se esperava! Mais adentro do bairro feiras livres tomavam conta do meu campo de visão, trocas das mais diversas formas se expressavam ali sob meus olhos! Não pude crer quando do meu lado esquerdo avistei plantações e pomares carregados de frutas frescas! Era difícil entender onde o espaço público começava e onde acabava. Os velhos estavam lá, as mulheres estavam lá, as crianças, os mendigos, todos sorriam e desenhavam diante de mim umca cena divina! Chorei, não contive a emoção... Nesse momento pessoas me abraçaram e me levaram para um piquenique em um parque chamado Jardim Botânico, talvez o parque mais belo que já vi na vida. Cerca de 500 pessoas assistiam calmamente a um show musical, tudo isso ocorrendo no meio da tarde de uma segunda feira! Essas pessoas não trabalham? Pensei. De onde vem tanta fartura? Não pude crer... Estaria eu sonhando, será que foi uma ilusão? Como as ruas são tão limpas? Os espaços tão bem cuidados e sempre utilizados, a cada passo dado um sorriso iluminava meu caminho. Saí do bairro ao anoitecer, mesmo antes de ir embora era possível ver que sarais e rodas de viola se formavam em volta de fogueiras, e um cheiro forte de comida quente se espalhava pelo ar. Pela primeira vez na vida tive fé! O Estranho é que ao partir rumo a uma rodovia tudo se transformou. A sensação é que por uma tarde estive em uma dimensão paralela, não duvido... Mesmo que tenha sido um sonho, tenho certeza que nunca mais experimentarei experiência tão gratificante e surpreendente como essa... Fim do relatório.



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