Sarau da Biblio 2012

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SARAU DA BIBLIO

Coletivo Sarau da Biblio Organização Cristine Vargas Djeanne Firmino de Almeida Solange A. Santana Colaboradores Abraão Antunes Agamenon Picole Ana Marysa Caroline Panzini

Caderno

Felipe Salles Fernanda Diaz Marina Macambyra

de Escritos

Maristela Lira Patrícia Pimenta Ravi Novaes

dos Alunos de

Robson Asthoffen

Biblioteconomia da

Roberto Oliveira

ECA/USP

Vagner Rodolfo Capa Ana Marysa Diagramação Djeanne Firmino de Almeida Solange A. Santana

São Paulo 2012


Sobre o Sarau

O Sarau da Biblio é uma iniciativa conjunta dos estudantes do curso de Biblioteconomia da ECA/USP.

O primeiro sarau, idealizado pelo aluno Vagner Rodolfo, fez parte das atividades de greve no final do ano de 2011. Aconteceu de maneira muito tímida no corredor do CBD, mas deixou clara a possibilidade de uma atividade a ser retomada.

No início de 2012, a aluna Cristine Vargas começou a 'agitar' o pessoal para um novo sarau a ser realizado na semana dos calouros... Então, chegamos aqui, de maneira um tanto mais organizada e com um maior número de colaboradores.

A segunda edição, no dia 29 de fevereiro de 2012 - ano bissexto - apresentou exposição de poemas nas paredes e móbiles, fotografias, textos de blogs... Nessa edição, contamos com a poética presença do grupo Groselhanas - ‘a poesia pelo coletivo., no limiar de sua essência: pura’, formado por alunos do departamento que partilham o gosto pela poesia; com alunos dos cursos de Artes Cênicas e Educomunicação; e com alunos e parceiros da Biblio - ECA/USP. O Sarau da Biblio visa promover manifestações artísticas em suas múltiplas vertentes e de maneira fluída - poesia, música, fotografia, literatura - prezando pelo compartilhamento de experiências, ideais, gostos e ideias.

Nada mais natural do que realizar um sarau na Biblio - não pela nossa óbvia (e estreita) relação com os livros e literatura, mas sim, pela quantidade gritante de produções poético-literárias pelo departamento. Há uma urgência por se expressar e realizar coisas, urgência esta muito comumente abafada pelos corredores do prédio central da ECA. Esse caderno reúne textos de blogs, poemas, pensamentos e todos os escritos destinados ao Sarau da Biblio de 2012. Aqui, você encontrará produções poéticas coletivas; o lirismo individual dos poetas da biblio; e textos aguçados sobre aleatoridades e o curioso universo CBDiano.

Coletivo Sarau da Biblio


Sumário SUMÁRIO FANTÁSTICO MUNDO DE H ...................................................................................... 6 Senhor de Argos ............................................................................................................... 6 Ao último instante ......................................................................................................... 7 Hoje eu quero ser triste, ............................................................................................... 8 Consciente Plágio*.......................................................................................................... 9 Repentinamente* ......................................................................................................... 10 Dia após dia* ................................................................................................................. 11 Acróstico III* .................................................................................................................... 12 No fim do caminho* .................................................................................................. 13 SINAIS ................................................................................................................................ 15 rdvr-TT ............................................................................................................................. 15 aquarela matinal ........................................................................................................ 16 Outra chuva sobre a cidade ................................................................................... 17 cimentaram-na ............................................................................................................ 18 Ícaro! ................................................................................................................................... 19 [o corpo ] .......................................................................................................................... 20 Sê .......................................................................................................................................... 21 GROSELHANAS............................................................................................................. 23 "Individualmentem" ................................................................................................... 23 “Motivo”............................................................................................................................ 24 Trêmula ............................................................................................................................ 26 esfíngica ............................................................................................................................ 27 Carta Celeste ................................................................................................................... 28 PARA EXPOR E IMPOR........................................................................................... 29 Virtum/Vitrum ............................................................................................................. 34 Os Covardes ..................................................................................................................... 39 [Poemas datilografados] ........................................................................................... 41 PERIFERIA/SP ............................................................................................................. 46 To be black ..................................................................................................................... 47 Reencontro ...................................................................................................................... 48 INSTRUÇÕES PARA COMUNHÃO........................................................................ 50 DORSO SELVAGEM .................................................................................................... 52


Sala de espera ................................................................................................................ 54 Conjugação da Ausente ........................................................................................... 56 O país de uma nota só .............................................................................................. 58 MST - FLORIÔ ............................................................................................................... 59 MST ..................................................................................................................................... 60 HORAS & DEVANEIOS .............................................................................................. 62 Red hot chili pepper ................................................................................................. 63 Borboletas ........................................................................................................................ 65 Ratos e homens ............................................................................................................. 66 The watcher .................................................................................................................... 68 Só Saussure explica .................................................................................................... 69 Olhos .................................................................................................................................. 70 Beleza? .............................................................................................................................. 71 Conhecer ou não conhecer?.................................................................................... 72 O extermínio da vontade ......................................................................................... 74 A educação pela noite ............................................................................................... 76 Top 10 - Momentos Surreais do CBD ............................................................... 78 FANZINE THESAURUS REX ................................................................................... 82 Vol. 1, edição 1 ............................................................................................................. 82 Vol. 1, edições 2 e 3. ................................................................................................. 84 Vol. 1, edições 4 e 5. ................................................................................................. 85 Vol. 2, edições 6 e 7 ................................................................................................... 86 Vol. 2, edição 8. ............................................................................................................ 87 Vol. 2, edição 9 ............................................................................................................. 88



FANTÁSTICO MUNDO DE H Agamenon

Senhor de Argos

Minha solidão aumenta como nuvens de chuva E se esvai, de repente, no meu caminho, Como milhares de perfeitos cachos de uva Pisados que se transformam em vinho. - Eles me odiaram sem motivo e me julgaram sem defesa. Condenaram-me como um morto-vivo, Com uma morte sem presteza. Uniram minha sorte e fobias num enlace E cortaram meu destino em várias tiras Para, perdido, nunca mais me encontrar. E na máscara imunda da minha face, Talharam a maior das mentiras: “ ... este, que aceitou seu veredicto sem lutar...”. [H & M. F.] H (σύ ο ίδιος γνωρίζει*) * "Conhece a ti mesmo"

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Ao último instante

E ela, finalmente, chegou! Então entrego-me por inteiro, Pois não sei o que mais verdadeiro: O que eu era ou o que agora sou. Peço nesse momento derradeiro Que cada pessoa que os olhos enxugou Olhe bem para o sepulcro onde estou E deixem-me como de Primeiro. A vida bateu-me a porta E abriu-me o Portal do Destino, Lugar de todas as incertezas. (Por isso, peço:) não quero ouvir nenhum hino, Para não transformar risos em tristezas; Algo que ainda é vivo, em coisa morta!

H (A morte começa no nascimento)

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Hoje eu quero ser triste, não sentir alegria por nada, ficar na minha, solitário, imaginando a monotonia da estrada. Hoje eu quero ser infeliz, não fazer ninguém rir, não encontrar ninguém conhecido, para não dizer o que ninguém merece ouvir. Hoje eu quero ficar triste, ser o mais distante de um amigo, refletir sobre tudo que existe e descobrir: por que de novo comigo? Hoje eu quero ficar sozinho, assim me sinto mais completo. Afinal, confiar nunca é o melhor caminho quando se convive com o incerto... * escrita em 15/11/2006. H (às vezes, a solidão é o melhor remédio)

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Consciente Plágio* Depois de alguns dias de férias em Curitiba (que logo, merecerá um post!), aqui estou de volta para a realidade desmedida dessa cidade. Pois bem, deixando isso de lado por enquanto, fecho o ano postando uma das minhas poesias favoritas, que foi inspirada no poema "Psicologia de um vencido", do magnífico Augusto dos Anjos:

Eu, irmão do desespero e da agonia Pai do vento e de cada instante Sofro, desde o derradeiro dia, O mal da flecha alucinante. Um mal feito de veneno e alegria, Uma mistura que me deixa delirante, E me faz com que sorria A cada momento certo e errante. Logo o coração – esse bruto coração – Foi enganar-me tão certamente, Uma traição que odeio e gosto ... Pois se for para sofrer, que seja paixão; Se for para trair, que não seja aparente, Esse sentimento que é o Amor, isso eu aposto! * Escrita em 14/06/2000. Feliz Ano-Novo a todos. Degustem com parcimônia tudo que esse dia pode, deve e irá (ou não) significar e proporcionar... Nos vemos em 2009. H (mais torrado que amendoim! rs)

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Repentinamente* Tem dias em que aquelas lembranças voltam com toda a força e nitidez; Tem dias em que, por mais que eu queira, nem um vulto delas vejo; Tem dias em que sinto um nó apertado na garganta, me impedindo de gritar! Tem dias que, quando a garganta está livre, parece que é a palavra que não quer sair! Tem dias que a vontade de poder voltar atrás se confunde com a própria vontade de viver. Tem dias que a vontade de esquecer tudo é tão forte quanto o instinto de sobrevivência. Tem dias em que a visão mais simplória já enche meus olhos de lágrimas. Tem dias em que a raiva não me permite nem ver minha imagem refletida num espelho. Tem dias em que peço uma chance para poder viver aqueles dias novamente. Tem dias em que adoraria poder nunca ter vivido aqueles dias repentinamente...

* Escrita em 20/12/2005 H (arrependido não é bem a palavra...)

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Dia após dia*

Um dia difícil pode começar com um tropeço; vinte minutos a mais de sono; um banho gelado; uma roupa manchada; um ônibus lotado. Esse mesmo dia pode continuar difícil com um atraso; com uma bronca do chefe; um almoço rápido; uma reunião sem contexto; aquele trabalho urgente minutos antes do fim do expediente. E esse mesmo dia pode permanecer difícil nas três horas de trânsito na volta para casa; numa ligação desejada num momento inoportuno; na chuva que nos pega desprevinidos; no jantar solitário e insosso; na insônia das altas horas. Esse dia difícil pode com tudo e com todos; a única coisa com a qual ele não pode é com a nossa vontade de enfrentá-lo.. dia após dia

H (I'm back, baby!) * escrita em 25/03/2009

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Acróstico III* Sentir o peito num nó apertado Entender porque o choro é tão salgado Não se encontrar em nenhum lugar Ter de repente uma vontade de voltar Inundar-me de boas lembranças Reafirmar minhas esperanças Sabendo que o futuro a Deus pertence Através da garra, todo perdedor vence. Únicos e descontentes Dias e dias nunca diferentes Assim passar tempos afim Depois pensar: “o que é melhor pra mim?” Etâ pergunta difícil de responder...! Sabe bem que o melhor pra mim é você!!!

H (sem comentários) * Escrita em 10/12/2003

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No fim do caminho* Cada percalço, uma usura Todo motivo, uma bagagem. Antes daqui, nenhuma miragem Depois de lá, sempre tontura. Aquilo que vem, parece mais além. Daquele que vai e some, logo perto. Do pé-ante-pé trôpego e incerto Surge a cor, a forma, o desdém. Se cada descaminho é uma opção, Então quem pode ter as respostas Para as perguntas que tanto almejo? Ninguém. Eis aqui, então, o meu ensejo: Leve em frente sua trajetória de apostas Que eu sigo com minha vida de solidão.

(Agamenon Leite) * Escrita em 31/03/2001

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SINAIS Abraão

rdvr-TT por teu chão vertem-se lágrimas por teu chão sorrisos se esbarram tudo aí fica difuso tal qual sonho de criança berço de (des)esperanças rodoviária do tietê

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aquarela matinal

luzes distantes, tintas como chicote borrþes brancos distorcem o colorido do corte na manhã d’um prado calmo interior

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OUTRA CHUVA SOBRE A CIDADE Tempesteia contra São Paulo e a chuva inunda o asfalto difunde o desastre e o desencontro abate despossuídos, que ao fim do dia queriam apenas graça plena n’as vielas Trovões ressoam espantando os pássaros que vieram refugiar-se no meu quarto Relâmpagos Fotógrafos do Absoluto São a luz dessa noite em pleno dia Irmãos! Outros nossos Irmãos desfalecem em meio ao transitar Revoltados, uma chegada pontual algo idílico é O Caos é Inevitável, a Cidade Inefável As sarjetas recebem finalmente a Poesia mas há muito mais detritos A chuva na metrópole tem uma Canção Negro Drama...

*Poesia Incidental: A Chuva sobre a Cidade (Ledo Ivo)

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quantos sacos de cimento há em ti & quantos socos, sofrimento

existência predial insistência [contra] para o tempo regido por cimento [suor e sangue] com a cidade elevada, a consciência para o fundo da Terra - que já não é mais terra:

cimentaram-na

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Ícaro!

depois de pouca leitura da falta de postura Ícaro! às alturas

as asas de Ícaro! eram fogo-prometéicas as asas de Ícaro! um fim homérico tiveram

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[o corpo ]

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sê! sê tudo sedimente em ti todos sentimentos sensíveis a teu ser sê! sem medo seja: já

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GROSELHANAS ‘a poesia pelo coletivo. No limiar de sua essência: pura’

"Individualmentem" Tomo o coletivo solitário papéis e braços e sapatos e hálitos e aparelhos ....................... Não bom-diam-me.... estálticos espreiticos ermosurbãnicos ................................................................. Sento-me num meiodia no chão da Praça do relógio manada-Discente automáticos ultrapassam-me Determinados vão sua individual parte do trabalho coletivo farão Torre de capim ! protocolares reprodutores.... noite amordaçada O sol não esperou calculamos ainda mais zumbis amanhã didáticos Individualizadamente didáticos

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“Motivo” voltavolta voltavolta voltavolta voltavolta voltavolta voltavolta Carpe diem Por favor ! passando-no... s enquantos [Meu bisavô] ..... ........ ... . .. ? . . Ajudem-me a limpar a casa ! Será que cego estou? , Ansiedade imensa porta fechada É v ão? É fresta Ferrugem... Degredo Ocaso Poeira Cinza Deste porto nunca dantes navegado ............ ...... ! .... ... . . ficafikaficafika ficafikaficafika ficafikaficafika ficafikaficafika . . . . .......... ........ ..... . . . Amenófis lV Átila Gandhi Jesus Cleópatra Zumbi Madre Teresa Che São Francisco [minha bizavó] Hó antiquíssimos Impérios ! ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ z Inte grarei-me à terra. ,,,,,,,, , ciranda

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Lancheira catapora giz Amarelinha

groselha algodĂŁo-doce aniversĂĄrio

chuva

ra gi gi ra amora

desenho - Tem alguĂŠm ai?

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TTrrêêm muullaa Mais uma noite com ela em sonhos me atravessados... Que de tão claros ultrapassam o pesadelo de acordado E que todos me avisam que foram apenas sonhados O que me parecia tão presente, tão em formas, tão em cheiros, tão em hálito Mas que acordei e que tudo retornou em esferas sonadas... E que realmente me sinto acordado Pois essa ausência é mais real que se têm pensado Em vida em inútil travessia Que me despertem então... Que já confundo ela a um ser alado

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esfíngica

ou About a bitch ou Clitórica ou ...aquela que não fala com estranhos na fila do teatro. Há uma garota que mora nesse bairro E que têm a pele rosada E que sorri sempre ao vento E faz charme de brava Na babilônia do asfalto Vênus de mármore desbotada Carrega em segredo consigo Um eterno beijo guardado narcísica Olhos fixos no Pinheiros... Balérica ...mais solitária que uma paulistana

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Carta Celeste

Imagine que nosso planeta seja uma pequena esfera... cujo meio coincida com o centro de uma imensa esfera Chamada pelos astrônomos pelo nome de celeste esfera... Inscrita em planos reflexos às linhas imaginárias da terra Linhas estas que são contrárias ao eixo medial da terra.

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PARA EXPOR E IMPOR Rob Ashtoffen

Os frascos de sonífero vociferam! Acordem! Porque nada mudou Passar pela porta ao lado oposta No oposto é afirmar a porta ela mesma.

Sentar o rabo na cadeira é afirmar a cadeira e o cóccix

Tirar docemente as mechas da fronte é afirmar aquilo que não está escancarado Mas mostra frestas.

Vestígio de Virgílio Homem de fé que olhou para todos vocês reunidos hoje aqui e disse:

Quantos aqui evitam, a todo custo, o sofrimento?

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P’ra parar de vez Prateleiras e coleções De desavenças privações De fome, gula.

A morte cerca por ambos os lados Extremos encarcerados Dilacera quem me ouve falar

O caminho do meio é a vida.

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A ciência é uma mentira que se finge de verdade com data de validade Como um pote de azeitona Tudo depende da conserva, se for uma boa conserva dura mais tempo. Se não, enlatam em outro pote de azeitona e põe-se outro conservante melhor Mas é claro, tudo estraga.

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Ramifico uma dança com as pernas trançadas Rígidas, pedra pura como qual num transe Dos espíritos que tomam um corpo ao seu centro e extremidades A dança faz ventar nos olhos Embeleza o rosto de quem o toca O ar expandido pelo poder de quem mexe Da vida em trânsito, articulação Remédio para o pó que se desfaz E nele estamos Como ele solidificamos os gritos contrários Os silêncios roubados As baterias rarefeitas em vida Os ácidos que não mais corroem Absorvem vida e cântaros que parem rios Os lagos da salvação fedem e açoitam a pele Urticária, maltratamento, rebuliço Luzes, cruz, arma sedenta Suor, sangue, minhas partes Rezo, o demônio ensina Sacramento, em cima a criatura vê Com olhos do momento, repleto Remelento Aconchegado e acompanhado dos riscos Marcados pelas costas, ombros e dedos. Relampejo, Relampejo.

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Sentir dentro dos tubos Vejo turvo Não se almeje para tanto O som que seu espírito emite assemelha-se ao rasgar de panos secos Lambida do cão doente Vista turva da tempestade que nos banha Os tubos se fecham Me impedem o voto do homem mais simpático Que ama as crianças E as engorda para não causarem problemas maiores Sou uma delas Sou você Sou o Espírito vendido Sou o demônio arrependido Que leu tudo o que Salomão ensinou e praticou Com a benção das sombras e com a dádiva da luz És seco, sou orvalho De pedra firme, sente-se fogo Sou molhado e infértil.

(escrito numa tarde qualquer, tanto faz, isso se esquecerá) Ele adquire vários formatos Da fumaça preta dos carros às alíneas do seu contrato Retráctil moderno, mãe dos pais Dono de toda terra Não faz por temer Sorri perante a guerra É que todo demônio é rasteiro visto depois.

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Virtum/Vitrum Uma pessoa, uma mente, um espírito, um tempo, uma obra deve estilhaçar-se como vidro, ao ponto de atingir as pessoas que estão mais próximas. Os estilhaços que restaram espalhados podem ser potencialmente uma ferida no corpo de quem eventualmente for tocado pelos pedaços de vidro pontiagudos. Também é possível que alguém ferido pelos cacos consiga extrai-los, analisálos. Há aqueles que se concentram não nos cacos, mas na ferida, no gosto do sangue no vidro. Não deixe que limpem os cacos de vidro espalhados. Nunca. Eles sempre serão pontiagudos.

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Aqueles que querem seus sonhos realizados ou mesmo almejados Que saiam por aquele corredor Que desçam já as escadas e não contem os degraus Tenham pressa em se despedir Aqui é folha branca, carta na mão Aqui não é ali, ou dentro da cabeça de vocês

Estacionários, realizários, todos esquecem de si E de você Especialmente esquecido por um número e um papel

Beijos dos amigos, abraços caridosos Não necessitam de processo seletivo

Cozido, remoído É fato dado do segundo retratado no olhar que despe Acabo com a graça no olhar E foda-se sua família Como se vê o mar?

Se entrega, sem pestaneios, rodear ou alarme.

Sou teu, acordei de um sonho, volto a dormir para continuá-lo.

Sou gêmeos e não sei o que levar. Perdoe-me, mas estou certo.

De qualquer modo, a verdade vem depois.

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Você está rodeado de mulheres vestidas com burcas.

Por todos os lados.

Tem gente que diz que a verdade está noutro lado do véu.

Mas para se atrever a tirar o véu tem que ter muita coragem.

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A

Verdade

vem

depois

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Há um homem. Acorda em uma sala monocromática. Ao abrir dos olhos percebe uma mulher a sua frente e uma porta atrás dela. A mulher tranca a porta e engole a chave. O homem agora se torna o prisioneiro. O prisioneiro terá de esperar 3 dias para a mulher defecar a chave. Ele espera. Ela defeca, e então o prisioneiro obtém a chave e abre a porta com sucesso. Noutro lado da porta, que é mesmo lado em que o prisioneiro está, há uma sala totalmente espelhada. Pelo reflexo do espelho a sua frente, o prisioneiro vê outra porta fechar e a mulher engolir a chave. Ele novamente espera 3 dias. Nada acontece. Espera mais 3 dias. Mais 2 dias... O desespero e a fraqueza. A morte envolta em gás. Nas veias do desespero, o prisioneiro rasga com suas unhas a barriga da mulher procurando a chave. No mar de tripas ele acha a chave. Abre a porta e o mesmo lugar encabeça-se para baixo. Com o olhar invertido, o prisioneiro vê a mulher de abdome costurado, engolindo a chave. Ele não conhece a paciência, a espera. Não mais. Destroça a mulher e nada acha. Divide-a em milhões de pedaços, um deles, a cabeça. Nada acha, ainda resta a cabeça. Penetra no crânio esfacelando-o. Na massa encontra uma porta. Sem chave, sem maçaneta.

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Os Covardes

O covarde ilude-se, pois antecipa os ferimentos antes mesmo do corte. A covardia é a palavra de ordem da sociedade brasileira. A covardia está em todo lugar, dentro da mentalidade, diluída nas calçadas que pisamos. É o medo, ilusão da modernidade que guia a mente e oblitera as ações de muitos. A partir da covardia os corajosos perpetuam-se, porém com uma parcimônia que parece derivada de cultos secretos.

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O valor da coragem deve ser mantido longe da mente dos covardes, estes por sua vez, são o alimento do poder de alguns imorais corajosos. O ser humano é potência movido através do motor da coragem. Os covardes temem o que não vêem, temem o caos, e portanto sufocam vivências e rastros de liberdade. Por que do medo? Para dar espaço e encher a pança da satisfação dos corajosos. Os corajosos que não utilizam os cordeiros covardes para seus intuitos imorais são corajosos para a vida. Não temem o caos, a mudança, o desequilíbrio. Ora, se a vida não é composta desses elementos! A entropia irá dilacerar os covardes e lhes causar dor. A partir da dor temos as reclamações. Os covardes clamam, pois não aceitam a vida como um ente querido.

Escrito em um ônibus e no meio da avenida paulista. As ideias não pedem licença para nascer, assim como nós.

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[Poemas datilografados]

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PERIFERIA/SP São Paulo de centros e periferias. São Paulo de contornos e descontornos Periferia/SP. Aqui, periferia não é somente aquilo que está ao redor. A periferia está em todo lugar Ao lado no centro na margem margem através da janela do carro na calçada na praça na marquise, forçando nosso olhar a perceber as vidas insinuantemente periféricas. - Seja bembem-vindo à Periferia/SP.

Solange Santana

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TO BE BLACK Fui ver Miles Fui sentir Miles Fui viver Miles Lá estava ele música - e trompete. Queria ouvi-lo como a um velho amigo. Bebemos, rimos, choramos. Inquieto, provocador, no cadafalso, sussurrando, revelou um desejo: - To be White! Nas entrelinhas angústia, dor, desamor - quem sabe alguma frustação humilhação pungente Meu caro amigo, não estamos imunes. Não é fácil. Queremos Miles.

Solange Santana

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REENCONTRO

Faltam quinze minutos - e o resto da minha vida para o acaso. Eu mesmo atravesso meu caminho todos os dias e, entre idas e vindas, me reencontro - infinitamente.

Solange Santana

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Instruções para comunhão Nosso espaço é catedral Antes de adentrá-lo, Tire não somente os sapatos Mas também as pedras Que fazem você permanecer em lugares seguros

Dispa-se de suas roupas E de tudo que possa Fazer sombra entre nós E ainda, dispa-se de você mesmo Deixe apenas a parte que reflete em nós o mais de nós mesmos

Ao sair, revista-se de tudo, Retome a si mesmo, como Se nunca estivesse estado Em uma catedral

Quando nascer o sol e iluminar sua pele O cheiro de nossos espíritos se expandirá E, sutilmente, você será mais do que fomos Cristine Vargas

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Dorso selvagem Um tiro certeiro No dorso selvagem na hora exposta aberto entreaberto um pouco de raiva o corpo nascido na entranha do mundo velho conciso o esforรงo noturno de ser mais um vivo na terra antiga no poรงo profundo a รกgua retira nesse deserto o grรฃo de areia aquele que sente a dor

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na penumbra o bicho robusto que cresce na veia que morre sozinho aquele que chove aquele que vive o que há por dentro do copo vazio? O que anda por cima da minha cabeça? As costas feridas Já foram macias Aquele felina Na fotografia Esconde a dor Por trás da retina Diluí sua vida Na saia cumprida

Diana Tsonis

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Sala de espera Que jĂĄ estejam abertas as portas da aldeia da terra reclusa Meus tornozelos sĂŁo prateados percorrem o dia Ladrilho madeira sobre a vertigem Por entre a gente por entre a seiva bruta tingida Homem- utopia cabelo enrolado barba de linho Surge na frente da fera retida lhe tira a garra tampa os ouvidos Desperta a fera do sono do dia da sombra na fresta do sonho perdido

Diana Tsonis

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Conjugação da Ausente Foram precisos mais dez anos e oito quilos Muitas cãs e um princípio de abdômen (Sem falar na Segunda Grande Guerra, na descoberta da penicilina e na desagregação do átomo) Foram precisos dois filhos e sete casas (Em lugares como São Paulo, Londres, Cascais, lpanema e Hollywood) Foram precisos três livros de poesia e uma operação de apendicite Algumas prevaricações e um exequatur Fora preciso a aquisição de uma consciência política E de incontáveis garrafas; fora preciso um desastre de avião Foram precisas separações, tantas separações Uma separação... Tua graça caminha pela casa Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes A cabeça enterrada nos ombros qual escura Rosa sem haste. És tão profundamente Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento. A cadeira é cadeira e o quadro é quadro Porque te participam. Fora, o jardim Modesto como tu, murcha em antúrios A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te Quer. És vegetal, amiga... Amiga! direi baixo o teu nome Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta Que te emoldura, fatigada, e ao Corredor que pára Para te andar, adunca, inutilmente Rápida. Vazia a casa Raios, no entanto, desse olhar sobejo Oblíquos cristalizam tua ausência. Vejo-te em cada prisma, refletindo Diagonalmente a múltipla esperança E te amo, te venero, te idolatro Numa perplexidade de criança.

Vinícius de Moraes por Patrícia Pimenta

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Elá virá, a revolução conquistará a todos o direito não somente ao pão mas, também, à poesia.

Leon Trotsky

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O país de uma nota só Não pretendo nada, nem flores, louvores, triunfos. nada de nada. Somente um protesto, uma brecha no muro, e fazer ecoar, com voz surda que seja, e sem outro valor, o que se esconde no peito, no fundo da alma de milhões de sufocados. Algo por onde possa filtrar o pensamento, a idéia que puseram no cárcere. A passagem subiu, o leite acabou, a criança morreu, a carne sumiu, o IPM prendeu, o DOPS torturou, o deputado cedeu, a linha dura vetou, a censura proibiu, o governo entregou, o desemprego cresceu, a carestia aumentou, o Nordeste encolheu, o país resvalou. Tudo dó, tudo dó, tudo dó... E em todo o país repercute o tom de uma nota só... de uma nota só... Carlos Marighella

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MST - FLORIÔ Arroz deu cacho e o feijão floriô Milho na palha, coração cheio de amor. Povo sem terra fez a guerra por justiça Visto que não tem preguiça este povo de pegar Cabo de foice, também cabo de enxada Pra poder fazer roçado e o Brasil alimentar. Com sacrifício debaixo da lona preta Inimigo fez careta mas o povo atravessou Romperam cercas que cercam a filosofia De ter paz e harmonia para quem planta o amor. Erguendo a fala gritando Reforma Agrária Porque a luta não pára quando se conquista o chão Fazendo estudo, juntando a companheirada Criando cooperativa para avançar a produção.

(Zé Pinto)

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MST O poder preocupado Em manter o capital Longe do risco, da crise Em escala universal Fecham os olhos, adormecem Ante à questão social. Ele bem que poderia Numa ação prioritária, Em respeito ao compromisso Feito com a classe operária, Sem o neoliberalismo, Fazer a reforma agrária. Trecho O Cordel da Reforma Agrária

Na luta de classes todas as armas são boas Pedras Noites Poemas. Paulo Leminski

Seleção de poemas ‘arte e política’ por Vagner Rodolfo

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HORAS & DEVANEIOS O Horas & Devaneios, blog de Maristela Lira (horasdevaneios.blogspot.com), é famoso no Departamento da Biblio, referência citada até pelos professores, mas dependendo do professor isso não quer dizer tanta coisa assim. Com uma escrita invejável, muito bem articulada e fluída, os textos do blog caminham entre o cômico e o existencialismo com plena maestria. Não conhece? Leia a seguir textos selecionados pela própria Maristela.

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Red hot chili pepper

Como não tenho nada mais interessante para escrever sobre, vou agraciá-los com as vicissitudes recentes de minha humilde existência. Pois bem. Dia desses, estava eu no ônibus afrouxa-pregas quando percebi que havia esquecido a marmita minha de quase todo dia em casa. Um mero percalço, já que milagrosamente eu estava abastada no dia (10 conto). Se isso tivesse acontecido semana passada, precisaria ter vendido meu corpo no Putusp em troca de alimentos. Mas como lá estava eu e lá estava o dinheiro, pensei: "Suave, manolo. Vou comer sanduíche na tia". A "tia" é uma entidade culinária que estabeleceu sua aprazível barraquinha nos fundos da ECA. A comida é boa, mas nada me tira da cabeça que a mulher mata pelo menos três galinhas gordas para confeccionar (sim, "confeccionar" é a palavra) o famigerado "Frangão", lanche que tranquilamente alimentaria três famílias durante um ou dois dias. Como meu espírito de aventura não estava particularmente aguçado na ocasião, resolvi pegar algo mais sóbrio: o sanduíche de frango desfiado com cenoura. Mal sabia eu que acabaria me fodendo de qualquer forma. Recebi meu bem fornido lanche e, adepta dos condimentos como sou, lepidamente fui em direção ao catchup. Parti para a agressividade: eu não coloquei catchup no pão: eu despejei catchup no pão. Como a coisa estava um pouco líquida demais, para fins de comparação, se a bisnaga fosse um caminhão-pipa, teria abastecido um bairro inteiro. A moça da barraca me olhou de forma um tanto quanto suspeita, mas atribuí isso à minha estranheza natural. Quando ela me perguntou "catchup ou maionese, mocinha?", murmurei um "não, só o catchup mesmo" e agradeci, sem entender.

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Só percebi que algo estava errado quando senti o bafo quente que emanava do sanduíche. Me sentei para comer e assim que minha língua tocou no primeiro fiapo de cenoura, minhas suspeitas foram confirmadas: o diabo do catchup era pimenta. Vejam: como sou pobre e pão dura, comprar outro lanche estava fora de cogitação, até porque eu iria precisar do restante do dinheiro para outra coisa. As opções, portanto, se resumiam a duas: comer o sanduíche que o capiroto beijou ou passar fome. Invoquei os genes baianos herdados de minha mãe e resolvi tentar. Dei a primeira bocada no pão. TENSO. Lacrimejei, mas como o frango bem temperado contrabalanceava um pouco o ardor, me reanimei para a batalha. À medida que eu comia o negócio ficava mais ardido. Comecei a suar, mas isso até que foi legal, já que estava frio. A frase "tonight we dine in hell" fez um sentido totalmente novo para mim. Os acólitos de Satanás devem se banhar naquele molho. Não me sentia assim desde aquela noite em que bebi pinga com morango na balada gótica. Sinceramente acho que a pinga era mais fraca. Apesar das adversidades, estava me saindo bem até chegar ao meio do sanduíche. Lá se encontrava uma poça feita de uma quantidade obscena de pimenta. Tentei atacar pelos flancos, mas a estratégia falhou. Naquele ponto eu já estava soltando labaredas pela boca. Foi então que me ocorreu o óbvio: separar os ingredientes apimentados. Ideia de merda. Quando puxei a cenoura, o frango foi junto, e meu saudável lanche se transformou em pão com alface. Ainda com um pouco de pimenta. Comi, né? Fazer o quê? Acabando de degustar meu saboroso almoço, fui escovar os dentes enquanto colhia os louros da vitória. A alegria durou pouco Assim que me levantei, minha boca começou a latejar. Ardia que era uma porra! Passei o resto do dia bebendo água e temendo por minha integridade, pois não houve um momento em que eu não me recordasse do fatídico dia em que meu pândego tio resolveu comer um vidro inteiro de pimenta. Mas como isso já passaria dos limites de intimidade estabelecidos para este texto, basta dizer que passo bem e que meus advogados não foram acionados. Mas pô, colocar pimenta sem rótulo no balcão da barraquinha já é falta de sacanagem!

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Borboletas

Se levarmos em consideração somente o fator "tempo", a vida não é boa nem bela. Se compararmos de forma meramente numérica as horas de felicidade ou simples satisfação e as horas de tédio ou desgosto, a perspectiva desvelada é um tanto quanto nefasta. Tentamos nos enganar, porém. Viramos os dias do avesso procurando instantes. Buscamos momentos nas pessoas queridas ou nos desconhecidos mais interessantes. Somos todos míopes apertando os olhos em busca de beleza neste mundo desfocado. Fato é que, analisando friamente, não há nada de particularmente encantador no cotidiano. Estamos sempre sozinhos com nossos pensamentos, querendo estar em outro lugar ou em outras companhias. Se estivermos no lugar certo, o relógio sempre nos alcança. Infelizmente, a vida realmente é efêmera, mas a existência, não. E o que temos de suportar por conta de migalhas! Me pergunto se o que fazemos com elas não se trata da verdadeira multiplicação dos pães. Mesmo cientes das adversidades, esperamos os minutos por horas a fio. É o que nos mantêm vivos, afinal. Mas como não reparar em nossa tolice? Caçamos borboletas com redes furadas.

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Ratos e homens

E quando eu pensava que a casa nova não renderia mais assunto, eis que surge a surpresa: outros seres habitam minha residência. Começou de forma inocente: ouvi passos acima da minha cabeça e automaticamente concluí que se tratava de um assentamento de gatos vivendo no telhado, pois dias antes um membro do clã havia tentado se infiltrar pela minha janela. Provavelmente um informante coletando dados sobre os invasores do andar de baixo (Urso – meu excelentíssimo namorado - e eu, no caso). Concluindo que não representávamos qualquer ameaça, o espião resolveu nos deixar viver. Tudo correu bem. Até aquela fatídica tarde. Certo dia, assim como quem não quer nada, o filho do dono da casa soltou à queima-roupa: "Ó, eu vou dar um conselho pra vocês: fechem a janela quando vocês saírem porque o telhado tá empesteado de ratos. O negócio aqui é feio..." Até então eu não sabia, mas a Vila Carrão é famosa por seus ratos gigantes - ou capivaras pequenas; depende da interpretação. Foi o que bastou para que o pânico tomasse conta do meu ser. Naquela mesma noite, em meio aos habituais passos no telhado, um som se eleva nos ares: - SQUÍÍÍÍÍC!!! O inconfundível som das dores da agonia. Estava confirmado: roedores. E o que é pior: roedores brincando de Tom e Jerry bem em cima de mim. Só que, no caso, o Jerry não deu tanta sorte. Ou deu, né? Vai saber... Se qualquer dia desses eu me deparar com um esqueleto de gato em frente à minha porta não vou me surpreender.

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Só sei que, apesar da insistência da mídia em tentar incutir na minha mente que ratos são criaturas simpáticas e amigáveis, a menos que esses ratos lavem o pé, façam a volta e ponham a roupa de paxá*, está declarada a guerra. Minha carta de intenções será entregue hoje, ao pôr-do-sol. Pretendo desde já arquitetar uma estratégia para rechaçar qualquer tentativa de conquista de território. Construirei trincheiras com as caixas da mudança e o dinheiro destinado à compra do liquidificador será remanejado para fins armamentícios. Estou pensando em uma bazuca e granadas de mão para dar início às hostilidades. Como toda guerreira digna de assim ser chamada, não desistirei até conseguir me banhar no sangue de meus inimigos e beber vinho em seus crânios (bom, como estamos falando de ratos, talvez eu pule essa parte). Lutarei com bravura e prefiro morrer a perder a vida, mas se assim tiver que ser, pretendo vendê-la caro e manter a honra. Aqui não tem essa história de rato cozinheiro, rato detetive e rato cavaleiro da Távola Redonda, não. Na vida real, rato bom é rato morto.

* E depois de vários anos, eis que finalmente descubro o que diabos é "paxá": denominação dada entre os turcos aos governadores de províncias do Império Otomano. Correspondia ao título de "Excelência" usado no Ocidente. Na linguagem popular brasileira, o termo é aplicado a quem leva uma vida faustosa, opulenta, cheia de ostentação e ociosa. É também usado na expressão brasileira "sentado como um paxá", que é como sentar-se indisciplinadamente, sem muito estilo, bem à vontade.

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The watcher

Acho que nasci para viver através dos outros. Assim me fazem crer as emoções indiretas. Dos livros, dos filmes, das histórias, enfim. De todas as histórias que não são a minha. A vida exterior é pálida, mas na imaginação desfilam aqueles que personificam a tragicomédia da vida. Holden Caulfield passa perguntando pelos patos; Raskolnikov oculta sua machadinha. Num beco escuro se oculta um inseto, que pode ou não se tratar de Gregor Samsa. Rhett Butler não dá a mínima e o capitão só aproveita o espetáculo, soltando seu bárbaro brado sobre os telhados do mundo. Afastado de todos está o pessimista Schopenhauer, que conversa com o neurótico Alvy Singer sobre o sentido da vida. Acima de todos pousou um corvo. Em meu universo particular, a "veracidade" de seus habitantes não é questionada, mas caso alguém deseje fazê-lo, deixo claro que nem só de invenções vivo eu. Vivo também de momentos presenciados. De amigos conversando nas praças e crianças experimentando o mundo. Gosto de observar e de ouvir. É desta forma que desenvolvo minha percepção das coisas. Fica evidente, então, que fujo da realidade em dois níveis básicos: dou tanto valor aos personagens fictícios quanto aos de carne e osso e permito que sensações e raciocínios alheios me emocionem e me façam pensar. O que sobra de mim mesma em meio a isso tudo? O quanto de mim são os outros? Sinceramente não sei, mas sinceramente não ligo. No meu mundo interior mando eu, e ele é construído da forma que eu quero. Os juízos de valor me incomodam cada vez menos e, além do mais, como diria Machado de Assis, "também se goza por influição dos lábios que narram".

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Só Saussure explica

Sou uma carnívora com problemas de consciência: odeio ser lembrada do fato de que aquilo que estou comendo já foi um ser vivo que provavelmente deixou família e filhos, mas uma dieta vegetariana não funcionaria para mim. Esta minha condição impõe algumas restrições, sendo uma delas um tanto quanto peculiar em seu caráter linguístico: não consigo comer carnes cujos significantes (os nomes) me remetam a um referente concreto (no caso, os bichos ou as partes deles). Vamos utilizar como exemplo o acém: não consigo imaginar um acém saltitando alegremente pelos campos verdejantes, nem associá-lo diretamente ao corpo de uma vaca ou boi. Já a tal da "maminha" é um negócio cruel: mesmo sabendo que não se trata disso, toda vez que escuto esse nome penso numa pobre vaquinha destetada que se encontra privada do direito de amamentar seus bezerrinhos famintos. Isso não acontece somente com carne vermelha: tomemos como exemplo o frango. "Frango" é uma coisa mais abstrata, que não carrega consigo a possibilidade de um rostinho triste que provoque dó. Já "galinha ao molho pardo" é uma completa abominação. Em relação aos peixes isso já não acontece muito. A própria palavra "peixe" não me causa arrepios. Talvez isso se deva ao fato de que não tenho costume de comê-los, mas contanto que nenhum deles se chame "Nemo" ou "Dory", podemos conversar.

Nota: Saussure ("Sosir", para os íntimos) foi um linguista e filósofo suíço cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência e desencadearam o surgimento do estruturalismo. Constitui uma das constantes da temida disciplina "Língua Portuguesa - Redação e Expressão Oral I", juntamente com "O Enigma de Kaspar Hauser".

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Olhos

Gostaria de ter de volta meus olhos de criança. Os aviões voando baixo já não me impressionam tanto. Às vezes me esqueço de olhar a lua. Já não observo durante horas a jornada das formigas. Não que falte o encanto, mas onde está o mistério? Pra quê fui aprender como o avião voa? Por que descobri que dragões não existem? Quando foi que deixei de procurar a cigarra aproveitadora? Não que falte fascínio, mas onde está a contemplação absorta? Por que não posso só ver, sem que meus pensamentos enevoem a vista? E se for para pensar, por que não penso em histórias, por que não invento contos e fábulas, ou mesmo teorias desconexas sobre o reino das miudezas, sobre os instantes? Por que quando os pensamentos vazam sou logo afogada pelas tecnicalidades da minha vida? Não quero saber de diploma, dinheiro e pontos eletrônicos. Quero ver um avião voando baixo numa noite de lua cheia e enxergar formigas onde antes havia estrelas. Quero guardar toda a solenidade para este momento, e deixar que a vida real se vire sem mim.

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Beleza?

Hoje acordei e disse: vou escrever um texto bonito! Mas o que representaria toda essa beleza? Belo pode ser o amor. Mas meu amor é tão calmo, tão simples e tímido que uma mera menção o faria corar. Bela, então, será a amizade. Mas minha amizade é secreta. Se esconde nas entrelinhas dos gestos, embora se mostre evidente para aqueles que sabem olhar. A vida, talvez? Mas não, não é tão bonita, a menos que reescrita. Preenchendo uma folha em branco, é ainda a mesma vida, mas apropriadamente concatenada, refletida e floreada. O texto - esse sim - tem a obrigação de ser bonito, pois pode ser moldado. Está sob controle. É nossa chance de pintar o óbvio das mais variadas cores, ou inventar o que não é, mas poderia ser. As palavras devem ser manuseadas com cuidado, pois são os instrumentos dos que esculpem o mundo. E como eu adoro brincar de escultora, belo, então, será o ato de escrever.

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Conhecer ou não conhecer? As dúvidas de René Descartes e David Hume Em meados do século XVIII, durante a chamada Idade Moderna, a dinâmica do pensamento filosófico é alterada quando se observa uma mudança de direcionamento na “grande questão” inspiradora da Filosofia. A discussão sobre a origem do cosmos – trabalhada por filósofos como Platão e Aristóteles e ainda presente na Idade Média - dá lugar a outra pergunta central: é possível conhecer? Os pensadores modernos de então passam a especular sobre o próprio processo do conhecimento, sua legitimidade e extensão. O quanto seria possível, afinal, saber? Entre os filósofos que se ocuparam do tema, dois deles destacam-se por sua importância e pelo contraste de suas ideias: René Descartes e David Hume. Partindo de uma motivação comum, Descartes e Hume tomaram caminhos opostos que divergem particularmente nas abordagens em relação ao papel da dúvida. René Descartes (1596-1650), filósofo, físico e matemático francês, valorizava a Razão. Para ele, o cogito, a intuição primeira, seria algo inato ao homem, anterior e superior ao mundo perceptível. Seu método – o chamado “método cartesiano” - parte dos pressupostos de que tudo emana da mente e de que os pensamentos são nossas principais certezas empíricas. A dúvida é vista como o ponto de partida de sua filosofia, pois seria um artifício para chegarse ao conhecimento verdadeiro através da manobra de desconstrução de certezas aparentes. Duvida-se de cada ideia que não seja clara e distinta e afirma-se que só é dotado de existência aquilo que possa ser provado através da Razão, sendo o grande fato indubitável o próprio ato de duvidar. Ou seja, pode-se duvidar de tudo; menos de que se está duvidando.

Descartes procurando certezas absolutas

Baseando-se neste pensamento, Descartes cria sua asserção mais conhecida: “penso, logo existo”, e parte deste princípio para buscar, então, provar a existência do próprio eu, bem como a existência de Deus.

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David Hume (1711-1776), filósofo, historiador e ensaísta escocês, defendia, por sua vez, a suspensão das certezas. Representante da corrente filosófica conhecida como Empirismo, afirmava que nada é passível de conhecimento conclusivo, com exceção da Matemática. Segundo ele, não há ideias inatas. Nossa fonte de conhecimento são as impressões que recebemos ao interagirmos com o mundo, mas as relações que estabelecemos entre as coisas – como a de causa e efeito, por exemplo – não passam de percepções de regularidades reforçadas pelo hábito e admitidas como convenções, que não representam a verdade absoluta porque não podem ser verificadas. O fato de que uma bola caia após haver sido jogada para cima não quer dizer que um dia ela não possa vir a flutuar.

David Hume trollando a Filosofia

O pensamento de Hume leva a Filosofia a um impasse. Perguntas ainda seriam formuladas, mas a certeza foi posta em dúvida.

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O extermínio da vontade

Após uma festa de gala realizada em uma mansão, os convidados acabam presos em uma sala sem qualquer motivo racional. Mesmo que as portas estejam abertas, simplesmente não conseguem sair, e tampouco alguém de fora pode entrar. Isolados do resto do mundo, sem comida nem água e tendo de conviver entre si, aos poucos as pessoas perdem a pose e revelam suas facetas mais animalescas. Este é o enredo do ótimo filme "O Anjo Exterminador", do diretor Luis Buñuel. A riqueza da obra reside em seu valor como estudo humano e também no instigante mistério: por que os convidados não conseguem sair da sala, afinal? Como pude perceber nas resenhas que li, muitos resolvem deixar essa questão de lado, defendendo que a dúvida é periférica e a falta de uma resposta não afeta em nada a possibilidade de apreciação do desenvolvimento da história. Em vez disso, geralmente focam suas análises no aspecto político-social da trama. Essa leitura é, realmente, possível e até mesmo óbvia, pois Buñuel, simpatizante confesso da esquerda, escolhe a burguesia como classe a ser minuciosamente degradada. Esse fato é especialmente ressaltado quando os criados deixam a mansão antes do término da festa - por uma razão igualmente misteriosa. Também há quem diga que a escolha não carrega necessariamente esse significado. Qualquer grupo social se comportaria de modo semelhante ao ser submetido a tal situação. A opção, então, estaria mais relacionada ao maior contraste observado entre o início e o fim da experiência, já que a posse de muitos bens é comumente associada a uma condição humana mais elevada, mais evoluída. Associação esta que alguns tentam a todo custo validar. Mesmo sendo esse viés sociológico o aspecto mais comentado do filme, ao final eu ainda queria saber por qual motivo - ou talvez fosse mais apropriado dizer "por qual metáfora" - os malditos convidados não podiam sair da porra da sala, pois tenho um fraco pelo sentido das coisas. Não sou tão resignada quanto certos fãs de David Lynch, por exemplo, que diante da

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perplexidade afirmam simplesmente: "É Lynch. Não é pra entender mesmo". Pff. Essa cartilha cinéfila me dá sono às vezes. Mas enfim. À procura da minha metáfora, tentei combinar essa história da burguesia com uma explicação do próprio diretor, que caracterizou a obra como um "estudo da vontade". Depois de pensar um pouquinho, formulei minha interpretação (que é simples - talvez evidente - porém limpinha, ok?): o filme fala sobre a hipocrisia que acaba podando a vontade própria. Sim, pois a festa não poderia ser mais tradicional em termos de falsidade e fingimentos. Embora essa dissimulação sintomática não seja exclusividade da classe dominante, é associada a ela automaticamente. Antes de se perceberem totalmente presos, os personagens já estão enredados por essa teia de relações diplomáticas e convenções sociais. Ao final daquela confraternização indigesta, quando um quer deixar a casa, diz que seria melhor esperar que outro saia primeiro, ou que sairá após todos os demais. Nesse vai-não-vai, acaba não saindo ninguém. Quando são obrigadas a se mascarar demais para satisfazer a necessidade alheia de falsa cortesia, falso afeto ou falso qualquer coisa, as pessoas acabam deixando de lado seus quereres, e com o tempo se esquecem de quem realmente são. A vida dedicada a agradar os outros pode acabar se tornando uma prisão, a ponto de que nos tornemos incapazes de exercer a vontade própria que nos permitiria sair de uma sala. No caso, é a vontade simples do "eu quero", sem maiores considerações. Sem pretender dar spoiler nem nada, preciso também comentar que o final do filme de certa forma valida minha interpretação, pois se passa em uma instituição onde a hipocrisia está ainda mais presente, e infelizmente afeta ainda mais pessoas.

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A educação pela noite

Como trabalho final da famigerada disciplina de Estudos Literários, resolvi analisar duas críticas que discutem o romance "Noite na Taverna", de Álvares de Azevedo. Considerando que a análise se estendeu por 8 páginas, acho melhor não postá-la aqui, mas gostaria de ao menos dar uma pincelada no tema e comentar o texto fantástico do crítico Antonio Candido: "A Educação pela Noite". Nesse ensaio, Candido defende a hipótese de que é possível interpretar "Noite na Taverna" como uma sequência de "Macário", outro dos poucos trabalhos não-poéticos do escritor ultra-romântico. "Macário" apresenta uma premissa deveras faustiana: trata-se, basicamente, de uma conversa entre o personagem que dá título ao livro e o próprio demônio, que tenta subverter o jovem por meio de artimanhas argumentativas carregadas de cinismo. Já "Noite na Taverna" é construído a partir de uma sucessão de contos narrados por cinco homens bêbados, figurantes de uma orgia. Citando o encaixe entre o final daquele romance e o começo deste, Candido propõe a ideia de que o episódio ocorrido na taverna teria sido escolhido pelo demônio como uma demonstração prática que complementaria a formação de seu pupilo. Através dos acontecimentos apropriadamente diabólicos protagonizados por Solfieri, Gennaro, Claudius Hermann e Johann, Macário poderia conhecer a faceta mais obscura dos homens, a escuridão que dá o tom de atos como o incesto, a necrofilia e o assassinato. Ao ser exposto às possibilidades engendradas pela extrema flexibilidade moral e pela propensão à transgressão de normas que determinam os próprios limites entre o agir humano e o comportamento instintivo, estaria sendo submetido a uma espécie de pedagogia satânica. Segundo Candido, esse lado sombrio da humanidade teria como manifestação correlata a noite - tão presente nos escritos de Azevedo -, não somente como um fator externo

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relacionado ao cenário das narrativas, mas também como um aspecto interno dos personagens, representando nossos sentimentos mais pesados ou escusos. Ao revelar tal aspecto e suas implicações a Macário, o demônio estaria propondo uma espécie de "educação pela noite". Após ter lido o ensaio, me pus a pensar: com demônio ou sem demônio, não passamos nós todos por uma educação pela noite? Que expressão mais adequada se poderia aplicar ao processo da perda da inocência e ao gradual desenvolvimento do cinismo, que só não atinge aqueles que são poupados de enfrentar a realidade? Não seria também uma educação pela noite a melancolia e a angústia derivadas do contato com os abismos de nossas mentes e almas e o encontro - no ponto mais negro do vertiginoso declive - com o vazio da vida? O que é o mundo senão a taverna, palco de uma interminável orgia? Traz o ar convulso e poluído pelas emanações da perversão e crueldade dos homens. Quando não fazemos nós mesmos parte da narrativa, somos todos Macário, observando o espetáculo humano pela janela e tomando conhecimento da verdadeira essência do que se chama "humanidade". Esse tipo de lição não há como esquecer.

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Top 10 - Momentos Surreais do CBD

Presenciei tantos momentos bizarros e simplesmente absurdos protagonizados pelos meus professores durante estes cinco loooongos anos de curso que sinceramente não sei como a ideia não havia me ocorrido antes. Sem citar nomes nem matérias, seleciono agora os 10 "melhores", dos mais irritantes aos mais divertidos. Sintam-se à vontade para complementar, caros colegas. Sintam-se à vontade para rir da minha desgraça, caras pessoas de outros cursos. 10 - Crocodilo Dundee: Já começo desvirtuando a lista, pois este caso não aconteceu no CBD, e nem por "culpa" do venerável docente. Mas como não citar a peculiaridade do momento em que descobrimos que nosso professor de Administração havia lutado contra um JACARÉ para salvar o filho? E lutou com as mãos nuas, manolo! A aula era um porre, mas passei a respeitar a paudurescência do cara depois dessa. 9 - Forçando a amizade: Este não poderia ser descrito como "surreal" propriamente, mas me digam se não é um absurdo chegar na faculdade depois de um dia de trabalho e descobrir que a professora preparou 99 slides de TEXTO! E tendo consciência de que ela realmente pretendia ler TODOS! Só segurando na mão de deus, amigos. 8 - Momento "Nelson Rubens": Professor chega na sala e começa a contar sobre a festa da Globo para a qual havia sido convidado. Passa pelo menos 10 minutos fazendo uma comparação minuciosa entre a beleza da Ana Paula Arósio e a da Maria Fernanda Cândido. Aparentemente a Maria Fernanda Cândido é mais bonita, mesmo sem muita maquiagem no rosto. 7 - Momento "Ford Prefect": O amado mestre disserta sobre o dia em que viu um "homem do poder" de toalha (o cara vestia uma toalha, não o professor). Explora a singularidade da

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situação, já que o homem poderoso encontrava-se em uma posição de vulnerabilidade e... Também não entendi que porra foi essa. 6 - Ao som de Stravinsky: Outra do amado mestre (a última, juro): professor reserva uma aula para falar sobre sua infância. Criança pobre, não tinha acesso à cultura, coisa e tal. O ponto alto fica por conta de seu primeiro contato com a música clássica: se bem me lembro, o padre da cidade tinha uma boa coleção de discos e por algum motivo o tornou responsável pela escolha da "trilha sonora" das missas. Acho que ele estava xeretando, o padre descobriu e fez essa proposta. Uma coisa assim. Parece que um dia o padre queria uma música particularmente impressionante, pois faria uma pregação a respeito do inferno. Amado mestre escolheu "A Sagração da Primavera". E eu só me lembro desse detalhe porque confesso que com essa história eu simpatizei. 5 - Temos que pegar!: Essa professora é campeã: sinceramente não me lembro como chegamos a isso, mas em certo momento da aula ela começou a falar, com detalhes, sobre sua jornada em busca de figurinhas do Pokémon. O filho dela era viciado nisso e as figurinhas acabavam muito rápido. Cobrimos pelo menos quatro bancas de jornal, durante 30, 40 minutos de aula. 4 - Quem mexeu na minha aula?: Primeira aula com o professor novo. Professor este que supostamente traria um sopro de modernidade ao Departamento. Em um momento provavelmente motivado pela mais bizarra livre associação, o homem começa a falar sobre a força do pensamento positivo, que, embora evidenciada no livro "O Segredo", é uma verdade óbvia que todos deveriam conhecer. Principalmente as meninas - elaborou ele -, que devem acreditar que são bonitas ao se olharem no espelho. 3 - Momento "Uma Linda Mulher": A professora do Pokémon ataca novamente, dessa vez para contar sobre o dia em que, ainda aluna, pegou o último ônibus para casa, dormiu, desceu no ponto errado e acabou sendo salva por uma prostituta. A prostituta, muito esperta, chamou um táxi, perguntou para o taxista quanto tempo a corrida demoraria, perguntou o número do telefone da professora e disse que dali a tantos minutos ligaria para a casa dela. Se ela não atendesse, chamaria a polícia. Confesso que simpatizei com essa história também, mas puta que me pariu, né? 2 - Momento "Chico Xavier": Uma amiga minha ficou de saco cheio da aula (ninguém pode culpá-la) e resolveu sacanear o professor: perguntou se, no caso de livros espíritas, o autor principal seria o espírito ou o manolo que psicografou. Juro que passamos a aula inteira discutindo isso. E se não me engano, falamos sobre o mesmo tema novamente em uma aula da professora citada acima.

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1 - Orgia de carboidratos: O primeiro lugar eu reservei para minha aula de ontem, que inspirou este post. Trata-se do momento mais surreal que já tive o desprazer de presenciar na faculdade. Contemplem: a professora transformou a autobiografia dela em um artigo acadêmico que mais parece uma postagem de blog, fez com que a sala inteira lesse e pediu para que discutíssemos. Sei que estávamos falando oficialmente sobre memórias interculturais, mas não pude deixar de questionar a relevância de tópicos como a interculturalidade do macarrão com arroz japonês e os ingredientes que sua mãe usava para fazer um omelete de batata.

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FANZINE THESAURUS REX Caroline Panzini Volume 1, Edição 1, 2010

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Volume 1, Edições 2 e 3, 2010

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Volume 1, Edição 4, 2010; Edição 5, 2011

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Volume 2, Edições 6 e 7, 2011

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Volume 2, Edição 8, 2011

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Volume 2, Edição 9, 2012

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E ao fim, pra que n達o termine assim....

Solange Santana

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Coletivo Sarau da Biblio

Sarau da Biblio Organização Cristine Vargas Djeanne Firmino de Almeida Solange A. Santana

Colaboradores Abraão Antunes Agamenon Picole Ana Marysa Caroline Panzini Felipe Salles Fernanda Diaz Marina Macambyra Maristela Lira Patrícia Pimenta Ravi Novaes Robson Asthoffen Roberto Oliveira Vagner Rodolfo

E-mail saraudabiblio@gmail.com

São Paulo 2012

Este material foi licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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