Saúde, doença e economia, mais ou menos

Page 1

Saúde, doença e economia, mais ou menos Por incrível que pareça, o conceito de saúde e sustentabilidade ainda causa certa estranheza em boa parte das pessoas. Isso se deve a colocarmos o nosso lado material-econômico à frente do próprio bem-estar. “Saúde não é ausência de doença. Saúde é bem-estar físico, mental, emocional e espiritual. O corpo, o material é só uma ferramenta para atingirmos uma evolução espiritual” (Nuno Cobra). Pois bem, em última análise, saúde é paz de espírito, alegria de viver, disposição, entusiasmo. Questões que se conquistam pela evolução espiritual, que não deve ser confundida com religião. Vale dizer também que qualquer religião ou filosofia do bem, “usada” sem fanatismo, pode se transformar em poderoso instrumento para a evolução espiritual. Vivemos num mundo material a começar pela nossa casa maior, nosso corpo. Negar o materialismo, condená-lo, só vai contribuir para aumentá-lo. O mesmo ocorre com nossos defeitos e imperfeições. Quando negamos e nos defendemos sem assumir nossas fragilidades, elas aumentam de tamanho. O primeiro passo para nossa evolução espiritual (saúde plena) é acolher nossos defeitos, nosso materialismo, e perceber que muitas qualidades poderão “brotar” a partir desse lado sombrio. Afinal, um defeito numa dada situação pode se transformar numa qualidade em outra e vice-versa. A diferença entre o veneno e o remédio sempre será a dose. Uma vez feito isso, usar o material como instrumento para uma evolução espiritual. A questão é que o material deve ser o meio e não o fim. Infelizmente, ainda vivemos numa sociedade que encara o econômico como um fim em si mesmo. O econômico, o material, deve ser um instrumento para o bem-estar das pessoas e não o inverso. Saúde tem muito a ver com o vazio. Sono, alimentação sem exagero nem pressa, atividade física moderada, meditação para uma mente tranquila custam pouquíssimo dinheiro. Custam tempo, esse sim distribuído de modo igual a todos nós. Pensar em saúde e sustentabilidade hoje é pensar em trabalhar menos para que todos possam ter direito ao trabalho. Ou trabalhar mais para dar um pouco de sossego para os workaholics. É comemorar o avanço tecnológico sem medo de que


ele roube nossos empregos. O problema não é a tecnologia que desemprega. A questão é a nossa psicopatia e a falta de cuidado que temos individual e coletivamente. Em termos de economia, a doença e o desperdício ainda são poderosos argumentos. Vivemos numa era de abundância material e a falta de cuidado e o retrabalho ainda geram muitos empregos. E no fundo, ao invés de se cuidar, a maioria ainda espera ser cuidada. Optar pela própria saúde é ser médico de si mesmo. Ainda somos ótimos “enxugadores de gelo”. Ganhamos para desperdiçar boa parte ou a maior ou a melhor parte. Somos 7 bilhões no planeta, de 15 a 30% passando fome ou subnutridos e os demais desperdiçando 40% de toda a comida produzida. Quando concebermos a saúde plena, o que inclui a solidariedade e a caridade... quando isso acontecer vai sobrar muito tempo. Continuaremos a trabalhar, menos inseguros e apegados. Os sufocados trabalharão menos e os folgados um pouco mais. Trabalharemos menos para pagar contas e mais para a construção de relacionamentos, troca de experiências e conhecimentos. O presente/futuro é do intangível, do não material. Fernando Ortolani - Coach, Consultor e Catalisador Mestre em Administração pela FEA/USP


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.