Lollapalooza 2011 - Chicago

Page 1

84

ValeViver ENTRETENIMENTO

Agora é a nossa vez! Em 2012 o Brasil vai receber um dos maiores festivais de música do mundo, a revista valeparaibano esteve no Lollapalooza, em Chicago, e conferiu o que podemos esperar na edição que acontece em São Paulo nos dias 7 e 8 de abril Adriano Pereira Chicago (EUA)

O

Lollapalooza é muito mais do que um festival, ou, como gostam de falar os empresários, é um benchmark, ou seja, uma marca firme e referencial no mercado. Criado em 1991 por Perry Farrell, vocalista da banda Jane’s Addiction, o evento completou em agosto 20 anos de existência numa festa de três dias em Chicago, nos Estados Unidos. Uma das grandes novidades anunciadas por lá foi a ampliação internacional do festival, e isso inclui o Brasil. O Lollapalooza acontecerá nos dias 7 e 8 de abril de 2012 no Jockey Club, em São Paulo, e a revista valeparaibano esteve em Chicago para saber porque este evento é tão especial e o que podemos esperar para a edição brasileira. Desde que foi criado, o Lollapalooza estabeleceu um novo conceito para festivais de música. Antes de tudo, Perry Farrell queria

Domingo 4 Setembro de 2011

85

Fotos: Flávio Pereira


Domingo 6 Junho de 2010

ValeViver

86

MULTIDÃO Parece uma bagunça, mas a organização do Lollapalooza é impecável

que o evento fosse itinerante, que reunisse novos artistas com nomes consagrados e que fosse além dos espetáculos de música. De um festival com seis bandas em 1991 para o atual com 130 atrações espalhadas em oito palcos numa área de 1,3 quilômetro quadrado muita água rolou. No início, até um circo de horrores acompanhava a caravana do Lollapalooza. Autalmente, iniciativas ecológicas, de incentivo ao produtor local, de voluntariado entre outras fazem parte do cardápio. É importante ressaltar que não são essas ações que vendem o festival. Por exemplo, o SWU se vende no Brasil como um evento da sustentabilidade, e a característica acaba se transformando em assunto principal. No Lollapalooza estas coisas estão lá, mas a música fica em primeiro lugar. É fácil entender. Durante os três dias de festival em Chicago o calor beirou os 35º C, e a organização do evento ressaltou a importância de se hidratar, mas foi além, instalou dezenas de pontos na área do Grant Park onde o público poderia gratuitamente encher garrafas com água fresca. Ao mesmo tempo em que 35 restaurantes de Chicago

serviam o público diariamente com iguarias que iam do famoso cachorro quente a uma lagosta empanada, existia uma área com produtos orgânicos para os mais saudáveis. Para os ecológicos, um programa para calcular a quantidade de carbono que você emitiria nos três dias e compensar pagando por esses créditos, ou, se preferisse, poderia pegar um saco plástico e sair catando latas pela área do parque em troca de uma camiseta. Além claro, das centenas de voluntários que estavam lá para trabalhar de verdade, não para assistir aos shows de graça. Mas nada, nada disso foi focado em qualquer campanha marqueteira, o Lollapalooza vende música antes de tudo. E até nessa área uma parceria com o Berklee College of Music ofereceu uma bolsa de estudos completamente bancada pelo festival para um aluno que estivesse disposto a participar de uma audição. “Sempre me perguntam isso: você imaginaria que chegaria a este ponto? Eu sempre respondo: não sabíamos, mas estávamos preparados. No início esperava que 10 mil malucos fossem me seguir pelos

Estados Unidos, hoje são 90 mil malucos por dia. Estamos indo para o Brasil com essa mesma ideia, de sermos mais do que um simples festival, mas que a música seja o principal. O mundo fica mais forte no final de semana em que o Lollapalooza acontece, a música tem o poder de mudar a vida”, diz Perry Farrell. Neste ano, o festival já havia expandido seus horizontes realizando uma edição no Chile, a primeira fora dos Estados Unidos. “Isso foi possível porque conhecemos jovens e bons produtores nos quais pudemos confiar. No Brasil foi a mesma coisa. Agora, imaginem uma mistura de Carnaval com Lollapalooza? Será ótimo em São Paulo”, brinca Farrell. Organização Segundo o secretário de turismo de Chicago, Don Welsh, 40% da audiência do Lollapalooza vem de fora do Chicago e ele chega a afirmar que os três dias de evento formam o “maior final de semana” da cidade. Não é para menos. São injetados US$ 85 milhões na economia local durante o fes-

tival e somente a Fundação dos Parques de Chicago já recebeu US$ 8 milhões em doações feitas pela produção do evento. Mas é o público de 90 mil pessoas por dia que deixa o evento ainda mais brilhante. Desde gente pintada com tinta a “doidos” fantasiados de gambá, o Lollapalooza é uma festa. “O que você acha disso?”, grita um rapaz que fez um bigode com cola colorida no próprio rosto. “Você não consegue definir, não é?”, e sai gargalhando. De fato, a “maluquice” do Lollapalooza não é exclusividade dos artistas. É nesse clima de bagunça organizada que acontece o festival. Logo que os shows acabam, um batalhão de pessoas saem dos bastidores para que tudo fique arrumado para o dia seguinte. E quando você chega, parece que não aconteceu uma festa “daquele” tamanho no dia anterior. Do segundo para o terceiro dia, um temporal desabou sobre Chicago. A lama e as poças d’água viraram parte da paisagem. Antes que alguém pudesse pisar numa das duas, um pelotão de voluntários espalhava cascalho e palha sobre o barro. A segurança é outro aspecto interessante. Você não vê policiais truculentos na entrada do evento, fazendo incursões atrapalhadas no meio da plateia ou ameaçando as pessoas por qualquer besteira. A sensação de segurança é tão grande que o público de crianças é maior do que em qualquer festival de rock realizado no Brasil. Kidzapalooza Aliás, existe uma área específica para os pequenos roqueiros, é o Kidzapalooza. Crianças com menos de 10 anos não pagam para entrar e ainda encontram um espaço criado especialmente para elas. Uma pista de dança, uma oficina de percussão, tendas onde elas podem pintar os cabelos com cores gritantes e até uma loja exclusiva com material de merchandising do evento . Uma tenda, neste espaço, garante que você coloque uma pulseira com todos os dados da criança para o caso dela se perder dos pais. Ainda no campo da organização, é impressionante a pontualidade dos shows. Nenhum dos 130 começou um minuto sequer depois do horário marcado. Em todos os que assistimos, nenhum problema técnico que não tivesse partido da própria banda, e acima de tudo, a qualidade do som chega a se assemelhar a um CD, como no caso do show do Foo Fighters. Havia quem desconfiasse de playback, tamanha a fidelidade sonora.

COLDPLAY Mesmo figurando entre as maiores bandas da atualidade, esse foi o primeiro ano do grupo no festival

87


88

Domingo 6 Junho de 2010

ValeViver

KIDZAPALOOZA Espaço destinado aos roqueiros mirins no festival; abaixo, a lama virou parque de diversões

Curadoria Mas é no campo da música que o Lollapalooza se firma como um dos mais importantes festivais do mundo. “Esperamos 20 anos para estar aqui”, diz Chris Martin, vocalista do Coldplay, ao pisar num dos dois palcos principais. Nesse mesmo palco, no mesmo dia, os novatos do Young The Giant também fizeram sua estreia, ou seja, o mainstream e a produção independente convivendo de maneira democrática e reconhecidamente importante. O Coldplay não foi a única banda “grande” a agradecer por estar ali. Durante o festival quase todos os headliners agradeceram a oportunidade. Esse aspecto é o que dá mais valor à marca Lollapalooza. Tocar neste festival funciona como um aval nesse mercado. “Somos de Chicago e fomos ao primeiro Lollapalooza. É inacreditável e especial tocar nesse evento para qualquer músico que se leve a sério”, diz Tim Nordwind, baixista da banda Ok Go. É um festival que revela talentos. Neste ano, algumas apostas como Imelda May, Fitz & The Tantrums, Foster The People, The Naked and Famous, e outros tantos, saem do palco com esse selo de qualidade e partem para novos rumos em suas carreiras.

Brasil E aqui? Teremos um Lollapalooza neste nível? Com as mesmas intenções, organização e curadoria? Segundo Leo Ganem, diretor geral do projeto no Brasil, será no mínimo parecido. “Queremos fazer desse jeito, com toda a organização que eles mostram. Você nem nota que tem algo errado porque acontece tudo naturalmente. Vamos trabalhar para ter a mesma qualidade musical, com espaço para crianças, e com o mesmo clima de lá”, diz. “Temos que tentar fazer o máximo em todos aspectos. Por exemplo, são 90 mil pessoas e você não se sente num ambiente claustrofóbico, o transporte para chegar e sair do evento funciona perfeitamente, enfim, vamos trabalhar para isso. É claro que eles fazem isso há 10 anos só em Chicago, então esperamos que tenha um ou outro imprevisto, mas vamos nos preparar para isso”, afirmou. A edição brasileira acontece em São Paulo, nos dias 7 e 8 de abril, no Jockey Club. “Eles ficaram impressionados com o espaço do Jockey e exigiram que fosse lá. Teremos pelo menos dois palcos e provavelmente 50 atrações nesses dois dias e o line-up internacional deve seguir o mesmo do Chile, que acontece um pouco antes do que em São Paulo, mas vamos aproveitar algumas atrações que tocaram na edição de Chiacgo deste ano”, afirma Ganem. A curadoria dessas atrações deve passar pelas mãos de Perry Farrell, segundo o empresário. Até o fechamento desta edição nenhum nome havia sido confirmado, mas a aposta é de que do line-up de atrações principais de Chicago, o Foo Fighters confirme a participação em São Paulo. A expectativa de público é de 70 mil pessoas por dia de evento e a intenção dos organizadores é de começar a pré-venda de ingressos em outubro. “Estamos mirando nessa data, ainda não está confirmada, mas estamos trabalhando para isso”, afirma Ganem. A edição brasileira foi possível por uma série de fatores. “O mercado está só começando”, diz Ganem. O câmbio favorável, o local propício para o evento e a vontade de expansão internacional dos organizadores do Lollapalooza permitiram a realização no Brasil. “Espero que tenhamos o reconhecimento de poder ter um festival digno deste nome. Acredito numa experiência familiar, boa e divertida. Se as pessoas saírem de lá felizes, já fico contente”. Nós também. • * Nossa equipe viajou com o apoio cultural da Foot Company

PÚBLICO A plateia do Lollapalooza é uma atração à parte; malucos no bom sentido

89


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.