F OTOS DE PA S CA L M A NN A ER T S C U R A D O R I A D E A N N VA E S S E N
F OTOS DE PA S CA L M A NN A ER T S C U R A D O R I A D E A N N VA E S S E N
2 de marรงo a 28 de abril de 2013
CAIXA Cultural Sรฃo Paulo
A CAIXA é uma das principais patrocinadoras da cultural brasileira e destina, anualmente, mais de R$ 60 milhões de seu orçamento para patrocínio a projetos culturais em espaços próprios e espaços de terceiros, com mais ênfase para exposições de artes visuais, peças de teatro, espetáculos de dança, shows musicais, festivais de teatro e dança em todo o território nacional, e artesanato brasileiro. Os projetos patrocinados são selecionados via edital público, uma opção da CAIXA para tornar mais democrática e acessível à participação de produtores e artistas de todas as unidades da federação e mais transparente para a sociedade o investimento dos recursos da empresa em patrocínio. Composta por 60 imagens fotográficas, a exposição “Elas” apresenta vasto conteúdo textual e reúne o testemunho da resistência e visibilidade das mulheres em quatro continentes do planeta. A pesquisa do fotógrafo Pascal Mannaerts, realizada ao longo de dez anos, revela a identidade do universo feminino, expondo seus conflitos, dificuldades, resistência e feminilidade.
Ao revelar a rigidez dos valores morais e culturais nas quais mulheres tem que sobreviver, a exposição contribui para tornar a sociedade consciente da real situação da mulher no mundo, promovendo seu reconhecimento como sujeitos de direito e como agentes fundamentais para as transformações sociais ocorridas nas últimas décadas. Desta maneira, a CAIXA promove um diálogo entre a cultura nacional e o retrato de uma realidade global, retribuindo à sociedade brasileira a confiança e o apoio recebidos ao longo de seus 152 anos de atuação no país. Para a CAIXA, a vida pede mais que um banco. Pede investimento e participação efetiva no presente, compromisso com o futuro do país e criatividade para conquistar os melhores resultados para o povo brasileiro. CAIXA Econômica Federal
De origem belga, Pascal Mannaerts é fotógrafo autodidata. Começou a se interessar pela fotografia a partir de sua experiência como advogado. Trabalha para o governo da Bélgica, na área de imigração, e é responsável pelo julgamento de pedidos de estrangeiros para a permanência no país. Ao longo de quinze anos, ouviu histórias de refugiados, exilados políticos, expatriados e imigrantes de muitos países, o que lhe despertou grande interesse por viajar o mundo e conhecer, de perto, os contextos em que essas pessoas estavam inseridas. Viajou mais de cinquenta países, em quatro continentes do globo, e construiu um belo acervo constituído de imagens e textos, colhidos da vivência com indivíduos e da imersão em distintas realidades sociais.
Com especial interesse na Índia, país a que retorna com frequência, contribuiu como voluntário da Fundação Mother House, da missionária católica Madre Teresa, em Calcutá. Dessa experiência, Pascal herdou a consciência do papel das mulheres na sociedade, e passou a documentá-las com obstinação. Colaborou para importantes publicações, como a revista francesa Geo Magazine e a editora americana Lonely Planet. Também participou de inúmeras exposições coletivas e individuais, dentre elas “Calcutta, under the fever of a dark sun”, “India” e “Children”, organizadas pela Comissão Europeia de Direitos Humanos. A exposição “Elas” reúne algumas das mais belas amostras de seu trabalho sobre mulheres, com retratos tocantes e imagens vibrantes de suas vidas diárias, muitas vezes marcadas por dificuldades e injustiças, mas também permeadas pela beleza e força.
Viajante compulsivo e fotógrafo, Pascal Mannaerts tem uma capacidade única de penetrar na alma de seu tema e dela extrair aquilo que o torna estranhamente singular e surpreendentemente universal. Num piscar de olhos, ele consegue estabelecer uma relação de confiança e intimidade com qualquer um que cruze seu caminho – seja ele um estudante do Tibete, um casal de idosos na Bolívia, ou um chefe de tribo no Baixo Vale do Omo, na Etiópia. Não há necessidade de longas introduções. Toda a comunicação acontece de forma espontânea e natural, principalmente através de sorrisos e do contato visual. Os obstáculos que possam existir entre o artista e as pessoas que ele retrata – nacionalidade, religião, educação ou língua – parecem se dissipar instantaneamente através da lente de sua câmera. Um pequeno milagre acontece em cada imagem. O que torna seu trabalho único, mesmo para o viajante mais experiente, é o sereno e lindo respeito e consideração com que ele retrata seus temas.
As viagens de Pascal o levaram a quatro continentes: Índia, Bolívia, Peru, Burkina Faso, Mali, Etiópia, Nepal, China, Sri Lanka e Turquia foram alguns de seus destinos. A Índia exerce um fascínio particular sobre ele e para lá regressa com frequência. Em todas as suas viagens, Pascal colheu imagens surpreendentemente belas de mulheres. Naturalmente, elas se tornaram um fio condutor de sua produção fotográfica. Esta exposição reúne algumas das mais belas amostras de seu trabalho sobre mulheres, com retratos tocantes e imagens vibrantes de suas vidas diárias, muitas vezes marcadas por dificuldades e injustiças. Cada retrato destaca a beleza e a força das mulheres, de onde quer que venham. Cada imagem atesta o papel insubstituível da mulher nas sociedades de todo o mundo. Ann Vaessen
Há 3,48 bilhões de mulheres em todo o mundo, o que representa 49,6% da população mundial. Cada uma delas desempenha um papel crucial no desenvolvimento da família, da sociedade, da cultura e da economia; no entanto, as mulheres continuam sofrendo isolamento político e econômico, e ainda precisam lutar por seus direitos mais básicos. Cada vez mais nos aproximamos do equilíbrio entre os sexos na mão de obra que movimenta a economia global, porém a contribuição da força de trabalho das mulheres ainda não obteve o merecido reconhecimento. Muitas vezes, ELAS são submetidas a péssimas condições de trabalho, com menos benefícios de seguridade social do que seus colegas do sexo masculino. A distinção salarial entre os gêneros é recorrente em todo o mundo – mesmo no desempenho das mesmas funções, os salários pagos às mulheres são inferiores aos dos homens. Ainda que a violência seja inadmissível nos dias de hoje, em algumas nações ELAS ainda não estão amparadas pela lei, como ocorre em alguns países árabes. Em outro países, em especial na América Latina, a lei condena a violência, porém as taxas de abusos contra a mulher são alarmantes. No Brasil, pesquisas recentes apontam que aproximadamente metade das mulheres brasileiras já foi vítima de algum tipo de violência. Essa situação não é isolada: o Afeganistão, a República Democrática do Congo, o Paquistão e a Índia es-
tão entre os países que oferecem mais perigo para o gênero. As mulheres também estão em desvantagem quando se trata de saúde. Na África subsaariana, no norte da África e no Oriente Médio, ELAS constituem a maioria dos adultos HIV-positivos, ao passo que, anualmente, ainda morrem muitas mulheres de complicações relacionadas com a gravidez e o parto. O índice de analfabetismo é maior no sexo feminino, todavia, na maioria dos países, a participação das mulheres no ensino superior já ultrapassou a participação dos homens. A qualificação das mulheres é um importante vetor de transformação social, o que vem contribuindo para a valorização e o empoderamento do gênero. Em 2012, 14 mulheres ocupavam cargo de chefia de Estado e outras ocupavam cargos nos altos escalões do governo em todo o mundo. O Brasil faz parte deste grupo exclusivo, tendo Dilma Rousseff em sua presidência. Diante de todos esses desafios, as mulheres continuam sendo pilares para suas comunidades, cuidando de crianças e idosos. ELAS são importantes transmissoras de herança e educação intergerações, e representam poderosos motores de mudança. Esta exposição tem como objetivo prestar uma homenagem à inesgotável energia e força das mulheres, bem como à sua marcante beleza e humanidade – contra todas as probabilidades.
Mulheres trabalhando nas plantações de chá Sri Lanka, março de 2012
Em partes da África e da Ásia, as mulheres estão sob o alto risco do “emprego vulnerável”, muitas vezes trabalhando sem qualquer tipo de segurança contratual ou social. No Sri Lanka, o maior exportador mundial de chá, mais de um milhão de pessoas trabalham nas plantações, a maioria delas da etnia tâmil, que descende de trabalhadores trazidos da Índia pelo Império Britânico. De longe, a maior proporção da força de trabalho é constituída por mulheres, que podem iniciar essa atividade já a partir dos 12 anos. A comunidade de plantadoras de chá é negligenciada há muito tempo, sofrendo de isolamento social, econômico e político. Com salários muito baixos e pobreza amplamente disseminada, famílias inteiras muitas vezes
vivem em moradias muito básicas, na maioria dos casos em pequenas estruturas de um quarto, sem eletricidade, água corrente ou saneamento. Devido à falta educação, a possibilidade de mudar essa situação é muito reduzida. Colhedoras de chá trabalham em pé por horas, carregando sacos pesados de folhas de chá, por encostas íngremes, muitas vezes descalças, em ambiente chuvoso e úmido, recebendo quantias irrisórias por um trabalho extremamente desgastante. Após negociações sindicais, o salário das trabalhadoras de chá mais do que dobrou alguns meses atrás. Mesmo assim, as colhedoras ainda encontram muitas dificuldades de sobrevivência.
Mulheres na Índia Menina devota de Krishna, Varanasi, junho de 2008 | Peregrinos em Kumbh Mela, Haridwar, abril de 2010 | Ruas de Pushkar, novembro de 2008 | Rangoli, Hampi, março de 2008
De acordo com uma pesquisa global realizada pela Thomson Reuters, a Índia é o quarto país mais perigoso do mundo para mulheres, depois do Afeganistão, Congo e Paquistão. Embora algumas mulheres já tenham alcançado e ainda detenham posições de poder – como presidente, primeiro-ministro, presidente do Parlamento e líder da oposição – ser mulher na Índia exige uma coragem particular. A violência contra as mulheres é alarmante, especialmente nas comunidades rurais. Em 2009, o Registro de Crimes Nacional da Índia apontou 90 mil casos de crueldade cometida por maridos e parentes, mais de 21 mil casos de estupro, 11 mil casos de assédio sexual, além de 5.650 casos de crimes relacionados com o dote. Ataques com ácido a mulheres que recusam proposta de casamento de um homem, ou que pedem divórcio, são realizados como forma de vingança. Esta desfiguração – a maneira mais barata e rápida de arruinar a vida de uma mulher – ocorre ainda, infelizmente, com bastante regularidade.
Segundo a Unicef, 40% dos casamentos infantis no mundo ocorrem na Índia, e 47% das indianas entre 20 e 24 anos se casaram antes da idade legal de 18 anos. Em algumas regiões do país, como no Rajasthan, os homens superam o número de mulheres maciçamente. Os especialistas tendem a sugerir que isso se deve a abortos seletivos e infanticídios femininos. A tradição do dote coloca uma enorme pressão sobre as famílias e, para alguns, ter uma menina é simplesmente inviável financeiramente. Embora a situação das mulheres na Índia seja perturbadora, para dizer o mínimo, a recente cota de 33% de mulheres nas atividades político-populares é uma fonte de grande força e esperança para a defesa de seus direitos. Outra fonte de otimismo pode ser encontrada no fato de que as condições de vida das mulheres têm apresentado considerável melhora em ambientes urbanos com níveis de educação mais elevados.
Fixando a tikka (ritual hindu) Uttar Pradesh, junho de 2008
Na Índia, as mulheres estremecem com a perspectiva de se tornarem viúvas. Para as mais de 40 milhões de viúvas da Índia – que representam 10% da população feminina do país – a vida é o que alguns têm descrito como “sati viva”, numa referência à prática agora proibida de queima da viúva junto ao corpo de seu esposo falecido. Algumas delas têm apenas 10 anos de idade, e são forçadas a passar o resto de seus dias em reclusão ou a ganhar a vida por meio da prostituição. Apenas 28% das viúvas na Índia são elegíveis para pensões e, dessas, menos de 11% de fato recebem aquilo a que têm direito. Se uma mulher não for financeiramente independente, ela estará à mercê de seus pais e da família de seu falecido marido. E se eles não tiverem os recursos – ou a disposição – para cuidar dela e de seus filhos, ela será tratada como uma “intocável”. Algumas acabam em instituições para viúvas, principalmente nas cidades sagradas de Varanasie e Vrindavan. Hoje, muitas viúvas sobrevivem esmolando às margens do sagrado rio Ganges. Em toda a Índia, organizações internacionais e não-governamentais tentam desencadear reformas legislativas para erradicar o preconceito contra as mulheres viúvas. Enquanto a situação das viúvas ainda se constitui em motivo de preocupação nos estados de Bengala e Uttar Pradesh, em outros estados começam a surtir efeito os esforços para reformar a legislação e alterar a mentalidade das pessoas.
Casamento nas margens do Ganges Varanasi, dezembro de 2006
É uma tradição cultural ainda fortemente enraizada na Índia de hoje, cerca de 90% dos casamentos no país são arranjados – jovens indianos aceitam prontamente o cônjuge escolhido por seus pais, ou por uma agência matrimonial. Para eles, casar-se dentro de sua própria casta é crucial para a sua descendência. Ao contrário da alta taxa de divórcio que ocorre nos países ocidentais, os indianos se vangloriam de seus casamentos manterem altos índices de êxito. Alguns deles argumentam que o amor nasce e cresce depois do casamento, enquanto que no casamento ocidental o amor parece evaporar e não resistir às dificuldades da vida. Embora a taxa de divórcio na Índia seja de fato muito baixa, atingindo apenas 1,1%, a taxa de mortalidade em casamentos arranjados é extremamente alta, pois há mulheres que são mortas depois de seu casamento por dote. Mais de 10 mil casos são registrados a cada ano, enquanto que muitas destas mortes nem são reportadas. Felizmente, esse abuso tem-se reduzido consideravelmente no ambiente urbano.
Tribos em perigo na Etiópia Mulher protegendo o gado, Baixo Vale do Omo, novembro de 2011 | Mulher hamar, Turmi, novembro de 2011 | Ritual ukuli, Turmi, novembro de 2011 | Mãe mursi, Baixo Vale do Omo, novembro de 2011
Na Etiópia, a grande maioria das mulheres vive em áreas rurais, participando ativamente do trabalho agrícola e pastoril. Durante toda a vida, essas mulheres enfrentam dificuldades físicas: transportam cargas por longas distâncias, moem milho manualmente, trabalham nas fazendas, criam seus filhos e cozinham. Acredita-se que o Baixo Vale do rio Omo, uma das áreas mais remotas e culturalmente diversificadas do planeta, possa ser o berço da humanidade. A região abriga cerca de 200 mil habitantes, de oito comunidades agropastoris distintas, que vivem lá há mais tempo do que se tem registro. Seu modo de vida e sua identidade estão ligados à terra e ao acesso ao rio Omo. As mulheres têm um papel central nessas comunidades, educando as crianças e ao mesmo tempo protegendo as aldeias e o gado de agressões externas.
Hoje em dia, as forças de segurança do governo estão levando as comunidades pastoris a deixarem suas terras tradicionais, para darem lugar a plantações estatais de açúcar. Um relatório publicado pela Human Rights Watch, em junho de 2012, contém mapas do governo que mostram o extenso desenvolvimento previsto para o Vale do Omo, incluindo canais de irrigação, fábricas de processamento de açúcar e 10 mil hectares de outras agriculturas comerciais. Comunidades inteiras são obrigadas a se deslocar por ação da violência e pela intimidação. Autoridades do governo têm realizado prisões e detenções arbitrárias, espancamentos e outros atos violentos contra os moradores do Vale do Omo que questionam ou resistem aos planos de desenvolvimento.
Uma mãe hamar Baixo Vale do Omo, novembro de 2011
Na Etiópia, no Baixo Vale do Omo e entre as tribos Mursi, a ornamentação labial começa a partir dos 10 anos de idade. Após a extração dos dentes incisivos inferiores, o lábio é perfurado e uma cavilha é inserida. O buraco é então ampliado a cada ano, através da introdução de cilindros cada vez maiores. A implantação de um grande disco de argila decorado com gravuras completa este processo. As modificação no corpo feminino são decorrentes do desejo masculino de comunicar a tribo a que pertencem para as demais sociedades, identificando assim os integrantes de sua comunidade.
Estudantes Patan, Nepal, maio de 2010
De acordo com as Nações Unidas, dois terços dos 774 milhões de adultos analfabetos em todo o mundo são mulheres – uma proporção que não se alterou nos últimos 20 anos na maioria das regiões. No entanto, há razão para olhar com otimismo para décadas futuras, pois meninos e meninas têm tido uma inclusão cada vez maior no ensino primário. Excelentes melhorias foram registradas em várias áreas menos desenvolvidas, particularmente na África e no centro-sul da Ásia, causando uma diminuição das disparidades de gênero na maioria das regiões do mundo. Embora as mulheres sejam menos representadas no ensino secundário (muitas vezes porque elas precisam contribuir no lar, o que deixa pouco tempo para a escola), elas têm presença cada vez mais maciça no ensino superior. Em todo o mundo, exceto na África subsaariana, no sul da Ásia e na Ásia Ocidental, as mulheres superam os homens numericamente no ensino superior.
Crise internacional Atenas, Grécia, setembro de 2011 No contexto da crise econômica que atualmente atinge a Europa – com especial força na Grécia, Portugal e Espanha –, as mulheres enfrentam maior pobreza do que os homens. De todas as mulheres dos 27 Estados-Membros da União Europeia, 17% vivem na pobreza. Mães solteiras, mulheres idosas e mulheres imigrantes são particularmente vulneráveis. Em alguns países europeus, as mulheres ainda ganham 20% menos do que os homens em cargos equivalentes. As mulheres europeias são quatro vezes mais propensas do que os homens a terem empregos de meio-período, com contratos de prazo determinado, ou empregos sem contrato algum. Como resultado, cerca de 35% das mulheres acima dos 65 anos correm risco de pobreza, em comparação aos 16% dos homens mais velhos. Mulheres que trabalham em ambientes mais competitivos podem descobrir que atingiram o chamado «teto de vidro», que as impede de atingir posições gerenciais. As mulheres também são mais propensas do que os homens a afastamentos não-remunerados do trabalho, para criar os filhos ou cuidar de parentes idosos. Todas estas situações contribuem para a pobreza na velhice.
Menina somali Dire Dawa, Etiópia, dezembro de 2011
Na maioria das regiões do mundo, a expectativa de vida das mulheres é mais elevada do que a dos homens. No entanto, nos países em desenvolvimento, exclusivamente em função das mortes associadas à gravidez e ao parto, mulheres e homens têm a mesma expectativa de vida. As mulheres também são mais vulneráveis a doenças contagiosas e sexualmente transmissíveis. Além disso, a gravidez indesejada, fruto da relação sexual insegura e até mesmo forçada, pode levar à prática de abortos arriscados, por serem proibidos em muitos países do mundo, inclusive no Brasil. Crianças, em diferentes países da África, portam uma bactéria que causa o tracoma, uma doença dos olhos que conduz à cegueira. Responsáveis pela tarefa doméstica e por cuidar dos filhos, as mulheres estão expostas à infecção mais frequentemente do
que seus maridos, cujas responsabilidades estão fora do domicílio. Ao passo que a doença de uma mãe progride e ela se torna cega, seus filhos, na maior parte dos casos as meninas, abandonam a escola para cuidar de sua mãe. Desta forma, o tracoma afeta desproporcionalmente as mulheres e coloca as meninas – próxima geração de mulheres – em risco constante de pobreza. Outra fonte de complicações de saúde e de dor física é a mutilação genital feminina (MGF), que continua a ser amplamente executada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, atualmente, de 100 a 140 milhões de mulheres e meninas ao redor do mundo passaram por esse procedimento. Recentemente foi aprovada pela ONU uma resolução que proíbe a prática da MGF, o que dá muita esperança às inúmeras organizações que tentam impedi-la, através de programas de educação em saúde.
Prostituição Bangkok, Tailândia, setembro de 2008 A prostituição é considerada ilegal na maioria dos países do mundo, o que contribui para o aumento da prostituição clandestina e para a exclusão social, ampliando assim os riscos de violência e de propagação de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Desde a Guerra do Vietnã, a Tailândia adquiriu notoriedade internacional como um destino de turismo sexual. Apesar de oficialmente ilegal desde 1960, na prática, a prostituição é ali tolerada e parcialmente regulada. O governo instituiu um sistema de monitoramento das profissionais do sexo, para evitar maus tratos e controlar a propagação de DST. Mesmo assim, o número estimado de prostitutas na Tailândia varia drasticamente. Enquanto o governo relata que existem cerca de 80 mil prostitutas registradas, organizações não-governamentais acreditam que, na realidade, há quase 300 mil delas. Muitas organizações baseadas em Bangkok oferecem apoio às profissionais do sexo, com reciclagem profissional, aconselhamento e apoio individual gratuito. Essas organizações também realizam lobby pela legalização da prostituição e pela sua inclusão nas leis trabalhistas.
Campo de refugiados Dheisheh, Belém, dezembro de 2011
Enquanto os holofotes estão sobre o constante conflito e a ocupação na Palestina, a violência que mulheres e meninas enfrentam em casa muitas vezes permanece no escuro. Casos de violência variam desde o abuso de filhas e esposas, ao estupro, incesto e assassinato cometidos sob o disfarce da “honra” da família. A maioria desses casos não são denunciados e, mesmo quando são, geralmente permanecem impunes. Todos os palestinos sofrem com as deficiências do sistema de justiça criminal na atual Cisjordânia e em Gaza, mas as mulheres pagam um preço particularmente elevado. A legislação penal discriminatória em vigor nos territórios ocupados levou à quase total impunidade os autores de violência contra as mulheres, já que impede as vítimas de denunciarem o abuso. Essas leis incluem disposições que: reduzem penalidades para homens que matam ou atacam parentes que cometem adultério; aliviam de qualquer processo criminal estupradores que concordem em se casar com suas vítimas; e permitem apenas que parentes masculinos possam prestar acusações de incesto em nome de menores. Com a ausência de políticas de assistência às vítimas de violência baseada no gênero, as mulheres estariam praticamente sozinhas não fosse pela assistência oferecida por organizações internacionais e não-governamentais. Ainda há muito trabalho a ser feito, a fim de proporcionar às mulheres da Palestina a adequada estrutura e assistência jurídica, situação que se repete em diversos outros países no mundo.
Êxodo Lhasa, Tibete, maio de 2010 Em 2011, havia 15,2 milhões de refugiados em todo o mundo, dos quais se estima que 80% fossem mulheres e crianças. Quando o líder comunista chinês Mao Tsé-Tung ordenou a invasão militar do Tibete, em 1950, revoltas subsequentes de resistência tibetana foram violentamente reprimidas. Em 1959, o Dalai Lama foi obrigado a fugir para a Índia, onde procurou asilo político. Muitos tibetanos seguiram seu exemplo, buscando refúgio em países vizinhos, principalmente no Nepal e na Índia. Até os dias de hoje refugiadas viajam à pé, pela Cordilheira do Himalaia, cruzando florestas inóspitas pela madrugada, período mais difícil de serem descobertas. Quando chegam na fronteira são submetidas à brutalidade e hostilidade da polícia. Em situações de deslocamento, a discriminação contra as mulheres, bem como a violência sexual e de gênero, podem ser exacerbadas, visto que se encontram em situação de extrema vulnerabilidade, impossibilitadas de recorrer à Justiça. Mulheres e meninas desacompanhadas, mulheres chefes de família, assim como mulheres grávidas, deficientes ou idosas, enfrentam desafios ainda maiores.
Em busca da água Banfora, Burkina Faso, novembro de 2011
O acesso à água é uma necessidade vital e um problema mundial. Mais da metade das famílias rurais e cerca de um quarto dos domicílios urbanos da África subsaariana não têm acesso fácil à água potável. Na maioria destas famílias, o ônus da coleta de água recai sobre as mulheres, reduzindo assim a quantidade de tempo que podem dedicar a outras atividades, como auferir uma renda, ir à escola ou simplesmente ter momentos de lazer. Em todas as regiões do mundo, as mulheres gastam pelo menos duas vezes mais tempo do que os homens no trabalho doméstico não-remunerado. Quando são empregadas, enfrentam a dupla carga – trabalho remunerado e as responsabilidades familiares – o que faz com que, em geral, a mulher tenha um número de horas de trabalho que supera as do homem. Nas regiões menos desenvolvidas, muitas jovens com idade entre 5 e 14 anos assumem uma grande quantidade de tarefas domésticas, o que dificulta a sua participação plena na educação.
Eleições Marrakech, Marrocos, outubro de 2003
Hoje, o direito ao voto das mulheres pode parecer óbvio. No entanto devemos lembrar que o sufrágio feminino só foi estendido a partir do final do século 19, com a obtenção do direito ao voto limitado na Grã-Bretanha, Finlândia, Suécia e na parte ocidental dos Estados Unidos. O primeiro país a conferir esse direito a todas as mulheres adultas foi a Nova Zelândia, em 1893. Na maioria dos países, foram necessárias campanhas políticas e manifestações organizadas pelas próprias mulheres. Como resultado, em 1920 elas adquiriram o direito de votar em todos os Estados Unidos, em 1932 no Brasil e, em 1948, na Bélgica. O último país a permitir o voto feminino foi a Arábia Saudita, em 2011, porém este direito, e o de concorrer a algum cargo político, somente se tornarão efetivos a partir de 2015. Hoje, o voto feminino é explicitamente citado como um direito na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, adotada pelas Nações Unidas em 1979. No entanto, as mulheres continuam a ser sub-representadas nos parlamentos nacionais, onde, em média, apenas 17% dos assentos são ocupados pelo gênero. Mundialmente, a proporção de mulheres entre os ministros também está na média de 17%. Quanto mais alta a posição, menor a participação feminina.
Padrões de beleza Jacarta, Indonésia, setembro de 2008
Cada cultura e religião tem seus próprios padrões em termos de beleza e feminilidade. Enquanto na maioria dos países ocidentais as mulheres são influenciadas pelos padrões da moda, em outras áreas do mundo elas cobrem seus corpos, às vezes vestindo longas túnicas ou lenços na cabeça, por motivos tradicionais ou religiosos. De acordo com o Alcorão, por exemplo, as mulheres devem ser modestas e devem cobrir sua beleza, principalmente seus cabelos e seu peito. Embora muitas mulheres muçulmanas tradicionais usem lenços na cabeça, algumas mais modernas sentem que tal cobertura é pouco importante, e usam roupas de estilo mais ocidentalizado. Alguns argumentam que, no mundo ocidental, as mulheres são objeto de desejo sexual dos homens. Isso é mais marcante na publicidade, que está repleta de mulheres em trajes sensuais. A publicidade também cria muitos parâmetros de beleza e estilo, muitas vezes impondo pressão social tão forte que podem acarretar em distúrbios físicos ou emocionai. Em Jacarta, as manequins utilizadas no mercado de roupas são importadas do Japão ou da Tailândia. Em alguns locais elas são mal vistas, pois suas características são uma reminiscência das mulheres ocidentais, por isso seus rostos são cobertos com fita adesiva.
O beijo Bruxelas, Bélgica,maio de 2011
De acordo com a Associação Internacional de Lésbicas e Gays (ILGA), 78 de 193 países ainda têm leis que criminalizam relações consentidas entre adultos do mesmo sexo. As penas variam desde as chicotadas (Irã) ou dois meses de prisão (Argélia), à prisão perpétua (Bangladesh), ou mesmo à pena de morte (Irã, Mauritânia, Arábia Saudita, Sudão e Iêmen). Dos 113 países onde a homossexualidade é legalizada, 55 têm leis contra a discriminação no local de trabalho em função da orientação sexual, 10 fornecem a plena igualdade de direitos para lésbicas e gays, incluindo o casamento homossexual, e 12 permitem a adoção aberta.
PRESIDENTA DA REPÚBLICA MINISTRO DA FAZENDA PRESIDENTE DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL FOTOS CONCEPÇÃO E CURADORIA PRODUÇÃO PROJETO EXPOGRÁFICO PRODUÇÃO GRÁFICA E DESIGN
Dilma Vana Rousseff Guido Mantega Jorge Fontes Hereda Pascal Mannaerts Lilian Fraiji e Ann Vaessen Lucila Mantovani Laurent Troost Sophia Chassot e Isabela Lotufo
TEXTOS
Ann Vaessen e Pascal Mannaerts
ÁUDIOS
Clementinas
TRADUÇÃO REVISÃO MONTAGEM REGISTRO FOTOGRÁFICO
Rafael Martins Lia Trzmielina Adson Leite Charlene Cabral
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