Outra vez - Sophia G. Paiva

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Capítulo 1 Emily Trim! Trim! Trim! Merda, Merda, Merda… Todo dia às oito horas da manhã há exatos onze meses, meu melhor amigo Jake me telefona, não é para me acordar, ele diz que é para me “despertar para vida”. Não existe coisa mais dramática e mais triste que isso. Quando Jake me liga, eu sempre resmungo uns palavrões, ele diz que me ama e blá, blá, blá e depois que desliga, eu volto para debaixo do meu edredom onde é quente e aconchegante. Eu poderia passar o dia inteiro ali, sonhando com ele – não meu melhor amigo –, ele se chama Olin Drake, meu marido, ou melhor, ex-marido. Não sei como chamá-lo depois que fiquei viúva – isso está ficando cada vez mais triste. Mas enfim, minha vida é basicamente isso, ser acordada todos os dias por Jake e ficar deitada na minha cama – às vezes no sofá da sala – sofrendo e me lembrando dos bons momentos da minha vida, quer dizer, dos momentos que vivi ao longo de quatro anos com meu falecido marido. Sou Emily Drake, vinte e seis anos e viúva! Sabe aquele ditado que diz “Eu era feliz e não sabia”? Ele não cabe na minha situação, eu era feliz e sabia! Mas que diferença isso faz? Eu sabia que era amada, que era linda, que tinha um marido lindo de tirar o fôlego, que era podre de rica, tinha uma grife de lingeries de sucesso, que éramos o casal perfeito e com a vida perfeita. O que eu não sabia era que alguém lá de cima não gostava muito de mim. Eu não sabia que Olin ia morrer naquele maldito dia, quando entrou no helicóptero e voou apenas para me ver, porque eu estava tendo um pequeno ataque histérico por descobrir que não estava grávida – estávamos tentando engravidar havia meses – e o pior de tudo, eu não sabia como viver sem ele. Outra Vez | 1


Hoje o telefonema de Jake foi diferente, ao invés do habitual “Bom dia, Princesa, hoje o dia está lindo, aproveite levante e dê um passeio”, ele mal disse “Bom dia” e foi logo gritando. — Hoje você vai levantar dessa cama e vai pôr essa cara amassada e inchada na rua. — Jake repetia sem parar. — Você ficou maluco? Ou melhor, você tem certeza que ligou para pessoa certa? — Eu ainda estava em completo estado de choque. — Muito engraçado Emy, já estou cansando de ver você nesse estado, as coisas não podem ficar como estão. Você tem um negócio, tem uma vida, existem pessoas que dependem de você, e pelo amor de Deus, já vai fazer um ano! — Jake parecia se acalmar conforme a conversa fluía, ou melhor, o monólogo dele, eu ainda permanecia em silêncio. — EMY! Droga, será possível que você não pode crescer por um instante e agir como uma adulta que tem um monte de responsabilidades? Pessoas dependem de você Emy, famílias dependem de você. — Droga Jake! Precisa falar tudo isso, essa ladainha de que famílias dependem de mim? Eu sei quem depende de mim, por isso você está no cargo que está, para tomar conta de tudo da melhor maneira possível e me deixar dormir em paz! — Juro que se você não aparecer aqui hoje à tarde, amanhã você não vai receber um telefonema meu. — Ele falou isso e o ‘tututu’ começou. Eu fiquei ali com cara de idiota e com o celular na mão, me perguntando se ele realmente tinha desligado na minha cara. E que ameaça foi aquela? Não sabia que ainda estávamos no jardim de infância. Posso dizer que o telefonema de Jake surtiu algum efeito sobre mim, mas nada muito expressivo. Levantei-me, fui até a cozinha, tomei um belo café da manhã, rastejei para meu quarto e voltei a dormir. Mas não sem antes pensar: FODA-SE, JAKE! *** Na manhã seguinte, Jake cumpriu o que prometeu e não me ligou, mas como eu já estava acostumada com o telefone tocando naquele horário acordeisozinha e olhei para o aparelho esperando ele tocar. Deu oito horas e nada, oito e um e nada, oito Sophia G. Paiva | 2


e dois e nada…oito e cinco, eu pensei “Glória a Deus”. Encaixeime de volta para o meu aconchego, mal encostei a cabeça no travesseiro e… BAM! BAM! BAM! Levantei num pulo e nem pensei no que vestia, mas ao passar pelo espelho do meu quarto vi – um pijama com todos os personagens da Disney, daqueles bem broxantes. Mas e daí, eu dormia sozinha mesmo. Quem quer que estivesse batendo na minha porta, poderia derruba-la a qualquer momento. Olhei para o relógio: Oito e seis. Sério isso? O barulho não parava, já estava furiosa com aquilo, quando abri a porta do meu quarto dei de cara com meu maior pesadelo. — Bom dia, princesa! — Jake sorriu para mim com aquele sorriso de um milhão de dólares que sufocava qualquer garota. Meu melhor amigo era lindo, vinte e oito anos. Um metro e oitenta e cinco de pura sensualidade e gostosura, seu corpo sempre tirava a concentração de qualquer mulher, sua pele sempre bronzeada, sua barba por fazer dava uma aparência mais séria, seus olhos azuis tinham um tom raro, eram como safiras, seu cabelo era negro e caia quase nos seus olhos, o deixando sexy. Resumindo, meu melhor amigo é o pecado em forma de gente! — Mas que diabos você está fazendo aqui? Ou melhor, o que você pensa que está fazendo aqui? — Tentei manter minha compostura, afinal fazia tempo que não nos víamos pessoalmente, ele me ligava todos os dias para me acordar e no final da tarde para me passar os relatórios da empresa, mas não nos víamos muito, às vezes uma vez por semana e só. — Eu disse para você ontem que não ia ligar, o que me esqueci de dizer era que viria pessoalmente te arrastar, caso não aparecesse! E você não apareceu... — SÉRIO? Não estou acreditando que você teve a coragem de vir até aqui. — Sim, porque só uma cabeça com muita imaginação pensaria que eu sairia de casa. — Pelo amor de Deus, EMY! Você fala como um homem, e um homem bastante desbocado por sinal. — Não sei se mencionei, mas Jake não é gay, ele gosta muito – muito mesmo – de mulher!

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Nós nos conhecemos há mais de dez anos, trabalhávamos juntos como modelos, meu primeiro trabalho em Nova York foi com ele e nunca mais nos separamos, éramos daqueles casais de modelos bem-sucedidos que sempre saíam juntos nas capas de revistas. — Nem vou lhe responder, o que você veio fazer aqui? Sério Jake, não estou com humor para tentar ser animada hoje. — Emy, precisamos conversar, estamos precisando de você. — A empresa está indo bem, sei disso porque você me passa relatórios diários e me deixa por dentro de tudo. — Ontem quando a chamei e pedi para ir à tarde ao escritório, era para lhe informar da campanha para a nova coleção e… — Ele fez uma pausa, me olhou de cima a baixo. — Sério que vamos conversar de negócios aqui em pé na porta do seu quarto e você vestida desse jeito? Não que eu tenha nada contra pijamas, mas esse dá vontade de rir. — Vou me trocar, você pode me esperar na cozinha, assim pelo menos conversamos enquanto tomamos um café juntos. — Ele me deu um abraço apertado e saiu dizendo que me esperaria. Não percebi até agora como sentia falta dele. Sacudindo minha cabeça corri para o banheiro, precisava ficar pelo menos apresentável. *** — Parabéns Emy! Pensei que você fosse me deixar esperando por pelo menos uma hora! Vinte minutos para você tomar banho e trocar de roupa é realmente um recorde! Você escovou os dentes pelo menos? — Jake perguntou sorrindo. — Seu senso de humor está muito bom para quem veio correndo até aqui há essa hora para dizer que estamos com problemas. — Retruquei. — Olha, estamos melhorando, agora você está começando a aparecer a Emily que eu conheço! — Jake ria um riso tão sincero, que me fez amolecer. — Então por onde quer começar? O que está acontecendo com a nova coleção? — perguntei, enquanto tomávamos nosso café. — Eles querem você, Emy.

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— Como assim me querem? — Estava tão calma, que quase não percebi quando ele soltou a bomba. Com um suspiro de frustração ele disse: — Emy, os patrocinadores querem que você desfile este ano. Engasguei na mesma hora. Enquanto tentava me recompor, tossindo como uma louca, Jake dava tapinhas nas minhas costas tentando me acalmar e dizia tranquilamente. — Temos uma marca consolidada, e de sucesso, mas precisamos desse apoio, você sabe que todos os anos nos lançamentos fazemos um evento muito grande e… — Ele fez uma pausa e viu minha cara de total choque. — Emy, você está me ouvindo? — Si… Sim, eu acho. — Na verdade eu ainda estava processando a parte do “querem que você desfile”. — Você disse a eles que eu não desfilo mais? Já faz muito tempo que não faço isso, mesmo antes do Olin morrer eu já não desfilava mais, o que eles querem afinal? Jake trabalhava comigo na empresa, ele eradiretor comercial e sócio, eu e Olin éramos os donos, ele montou a empresa para mim depois que parei de desfilar. — Ouça Emy, tudo isso foi discutido, até mesmo para que eu pudesse concordar em pelo menos te fazer essa proposta, você ainda tem um nome muito forte no mundo da moda, é respeitada, é um ícone de beleza. Mesmo estando fora da mídia durante esse tempo, você é uma das melhores no que faz, é lembrada por todos, estilistas, revistas, fãs e… — E você viu uma excelente oportunidade de me tirar do meu sofrimento, estou certa? — Meu olhar era realmente de desprezo naquele momento. — Droga, não me olhe assim. Vi sim uma oportunidade muito boa, mas não para tirar você do seu sofrimento. — Ele fez aspas enquanto falou a palavra sofrimento. — Vi uma oportunidade de você voltar à vida, de voltar a fazer o que gosta, você adorava desfilar, só parou porque Olin pediu, fez isso por ele, mas ele morreu e você não. Aceite isso e comece a ser você de novo! — Ok, isso doeu muito. Enquanto tentava assimilar tudo aquilo dentro da minha cabeça, senti algo voltar do meu estômago. Outra Vez | 5


— Droga! — Saí correndo pela porta direto para o banheiro mais próximo e lá se foi meu café da manhã. Enquanto Jake segurava meu cabelo e tentava me acalmar, eu já tinha vomitado tudo que podia e o que não podia também, xinguei ele de todos os palavrões possíveis, em todas as línguas possíveis. Depois que me acalmei um pouco, ele me sentou no sofá da sala e se despediu de mim, pedindo para me acalmar, pensar no que havia me dito e ir para o escritório à tarde para que pudéssemos nos reunir e conversar com calma, eu seriamente desconfiava que isso fosse um plano como daqueles bem pensados para me tirar de casa. E droga, tinha funcionado, porque naquele mesmo dia eu resolvi ir até a empresa. Assim que Jake saiu do meu apartamento sentei no balcão da cozinha e comecei a pensar na minha vida, nem preciso mencionar a cara espanto de Maria – minha secretária– quando me viu ali, ela pensou que estava vendo um fantasma– eu não estava tão mal assim, eu estava deprimida, mas ainda tinha meu orgulho e me mantinha sempre limpa. Ela fez cara de espanto quando me viu tomar café com Jake e fez uma cara maior ainda quando me viu arrumada para sair. — Maria, se você continuar a me olhar assim juro que deporto você de volta para o Brasil! — Desculpe minha menina, eu estava acostumada com você andando por ai de pijama, apenas entrando e saindo do quarto, mas fico muito feliz que você tenha resolvido sair um pouco, vai lhe fazer bem. — Ela me olhava com um olhar caridoso, e eu odiava esse tipo de olhar. Ela era como minha mãe, trabalha para mim desde que eu era pequena e morava no Brasil. Quando me mudei para Nova York ela veio comigo, para cuidar de mim e me manter na linha – eu não era uma pessoa que andava muito na linha –, por isso tenho muito carinho por ela, e ninguém mexe com ela, a não ser eu, claro. — Obrigada Maria, por tudo! Ninguém me aguentaria como você me aguenta esses anos todos. — Menina, sempre que precisar de mim estarei aqui, quando seus pais morreram jurei que ia tomar conta de você, então aqui Sophia G. Paiva | 6


estou. — Meus pais também morreram em um acidente de avião, então nem preciso dizer que nunca mais entro em um avião novamente. Acho que os deuses dos céus, ou seja lá o que for, não gostam de mim. — Hoje vou precisar sair, não sei que horas eu volto, então não precisa deixar nada para o jantar, vou ter uma reunião no escritório e realmente acho que vai acabar tarde. — Eu digo para ela, enquanto encarava uma xícara de café na minha mão. Com um simples aceno Maria assentiu e se retirou, fiquei ali sentada pensando se eu conseguia voltar a ser o que era antes. Mas não a Emy antes do casamento. Aquela Emy era louca, vivia em festas, bebia até cair, gastava como uma louca e namorava muito,mas mesmo nessa minha fase louca, eu nunca fui irresponsável no trabalho, nunca faltei a nenhum compromisso, por isso consegui ser uma das modelos mais bem pagas do mundo com vinte anos! Queria saber se eu conseguiria voltar a ser a Emy póscasamento, uma mulher centrada, exigente, que vivia para o trabalho e o marido.Não demorou muito para eu decidir que voltaria a ser essa antiga Emy. Saí de casa com esse pensamento e tentei não pensar muito no que ainda me esperava quando chegasse ao escritório.

Ash Acordei assustado, mais uma vez aquele maldito pesadelo estava me assombrando. Nele eu via Emy com um vestido branco comprido, segurando um buque de lírios brancos entrando em uma igreja, ela estava linda – isso não é novidade – seu cabelo cor de mel e longo estava preso em um coque bem feito e seu sorriso era impecável, os olhos castanhos estavam brilhando de tanta felicidade. Ela ia andando sozinha pelo tapete vermelho da igreja quando chegou ao altar, Olin beijou sua testa e eles se posicionaram na frente do padre, que começou a falar do amor e como marido e mulher eram iguais perante Deus e que o homem não é dono da mulher e vice-versa. Na parte que o padre perguntava se havia alguém contra o casamento eu gritava Outra Vez | 7


desesperadamente, mas ninguém me ouvia, então o casamento seguia normalmente até a hora da maldita pergunta, Olin respondia primeiro “eu aceito” e toda vez que Emy respondia “eu aceito”, eu acordava desorientado, suando e com a respiração acelerada. Virei-me na cama e peguei uma foto no criado-mudo ao lado da cama. Na foto Emy estava sozinha, vestida de noiva. Sim, eu tenho uma foto dela vestida de noiva – ameacei Ethan, se ele não me mandasse ao menos uma foto dela íamos brigar feio –, fiquei admirando aquela foto por alguns minutos até me lembrar de onde estava. Eu ainda não acreditava que estava de volta em NY, era surreal. A última vez em que estive aqui foi há onze meses, no enterro do meu melhor amigo. Quando Ethan me ligou naquele dia para me avisar da morte de Olin, foi como se o chão sob meus pés tivesse se aberto e eu não sabia o que fazer, não conseguia respirar, eu havia perdido uma parte de mim. Mas enfim, estou de volta, mas não depois de Ethan conversar comigo durante o último mês inteiro, tentando me convencer a voltar e que precisava de mim na empresa. Eu não queria, minha volta traria muitas coisas à tona. Eu teria que vê-la novamente, isso era meu maior medo. Lutei contra um sentimento maior do que a mim mesmo por quase quatro anos. O dia em que Olin mencionou Emy pela primeira vez ainda estava fresco na minha memória, seu entusiasmo era nítido e eu percebi que aquilo não se tratava apenas de uma aventura, ele era do tipo que não namorava, gostava de controle, amava ser livre. Eu sabia que meu amigo estava amarrado. *** — Cara, você precisa vir mais vezes, Londres está deixando você sério demais — Olin tagarelava sem parar no banco do motorista, enquanto ia me deixar no aeroporto, já fazia um ano que eu havia me mudado para Londres para acompanhar de perto nossos negócios por lá. — Eu sei, estou pensando em voltar em breve, mas as coisas estão indo bem por lá e quando eu conseguir alguém de confiança voltarei. Sophia G. Paiva | 8


— Isso é desculpa para mais uns dois anos, você não confia em ninguém. — Confio em você. — E em mim? — Ethan gritou do banco traseiro. — Confio em vocês, ok? Mas ainda tem muito trabalho e quero voltar sem ter que correr para lá novamente se alguma coisa acontecer e ninguém conseguir resolver. — Eu só não me conformo que você não pode ficar mais tempo, gostaria de te apresentar a minha namorada. — Olin falou com sorriso no rosto. — Meu Deus Olin, quando foi que você ficou tão meloso? — No momento em que conhecer a Emily, você vai gostar dela, ela é uma pessoa maravilhosa. — E um pouco louquinha, diga-se de passagem. — Ethan resmungou. — Eu ouvi isso! — Olin falou fingindo estar bravo com Ethan. — Desculpe, mas eu não falei nenhuma mentira, está em todos os jornais. Os tabloides amam a sua garota. — Esperem, de quem vocês estão falando? Com quem você está se metendo? — Eu já estava com meus nervos à flor da pele, era só o que faltava me preocupar com meu melhor amigo e com suas aventuras sexuais. Olin sempre foi o mais impulsivo de nós três, não media esforços para conseguir o que queria, eu e Ethan sempre tínhamos que tomar cuidado com as aventuras dele. — Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo, ela não é metade disso do que sai na mídia e vocês sabem tão bem quanto eu como esses jornais são sensacionalistas e mentirosos. — Certo, mas estamos de olho. — Ethan disse dando um soco no braço dele fazendo com que nós três caíssemos na risada. Quando me despedi deles no aeroporto prometi a Ethan que ia investigar sobre essa tal Emily – eu já tinha escutado esse nome antes, mas não conseguia ligar o nome à pessoa. Ele me passou algumas informações por e-mail e quando cheguei a Londres comecei minha investigação. Eu precisava proteger Olin, ele sempre se metia em muitas encrencas com mulheres, não queria

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que ele acabasse quebrando a cara – eu só não esperava que quem fosse quebrar a cara era eu. Aquela investigação me levou direto para o inferno, Emily era perfeita, seu sorriso, seus cabelos, o corpo perfeito – ela não era aquele tipo de modelo pele e osso, ela tinha curvas nos lugares certos, o modo com que ela desfilava era visto como inovador por muitos especialistas em moda – não sei o que isso significa, mas pelo visto era uma coisa boa. Sua história de vida era difícil, ela é brasileira, mas o pai era americano, filha única, começou a trabalhar como modelo profissional aos quinze anos, aos dezoito, perdeu os pais em um acidente de avião e depois disso se mudou para NY para consolidar a carreira. Tudo nela me fascinava de uma maneira como nenhuma outra jamais fez. *** Coloquei a foto no criado-mudo e fui para o banheiro. Tudo estava organizado, Ethan pediu para a empregada dele vir aqui para arrumar tudo, para que quando eu chegasse tudo estivesse limpo e a geladeira estivesse abastecida. Fiz minha higiene matinal, coloquei meu terno e parei em frente ao espelho no closet avaliando se estava tudo combinando – eu não entendo nada de moda, mas pelo menos eu sabia combinar as minhas roupas –, peguei minha maleta e parei para olhar de novo a foto de Emy, eu não me cansava de olhar para ela – ela foi e é meu único amor verdadeiro. Ethan foi o primeiro a saber da minha paixão por ela e sempre me manteve informado sobre tudo que a envolvia, até mesmo antes da morte de Olin. Agora, por exemplo, eu sabia que ela estava enfurnada dentro do apartamento, que não ia mais a empresa fazia onze meses. Uma parte de mim queria poder pegá-la em meus braços, abraçála até sua dor passar e a outra parte rezava para não vê-la ainda. Eu não estava preparado para isso, ela não me conhecia pessoalmente, mas sabia quem eu era, chegamos a trocar algumas poucas palavras às vezes quando eu conversava com Olin via Skype, ela sempre estava linda – mesmo sem maquiagem–, ela era a perfeição, eu já estava fodido em todos os sentidos. Sophia G. Paiva | 10


Fui dirigindo minha Range Rover para o escritório, parei na frente do prédio e fiquei me lembrando dos momentos que nós três – eu, Ethan e Olin – passamos para erguer nossa empresa e manter ela no topo sempre. Subi para o andar da nossa empresa e resolvi ir direto para a sala de Ethan, já que não sabia onde ficaria visto que a minha antiga sala foi quebrada para ampliação da sala de reuniões. — Bom dia, Ethan — falei ao entrar na sala dele sem bater. — Bem-vindo de volta! — Ethan me cumprimentou quando entrei em sua sala, tudo era familiar, ele não gostava de mudanças, seu escritório estava do mesmo jeito que eu lembrava, a estante estava cheia de livros e alguns porta-retratos com fotos dele e da esposa, a mesa estava na frente da janela e um sofá de couro marrom ficava na parede ao lado da porta. — E então, onde vou me instalar? — Você sabe que essa sua decisão de voltar sem me avisar, pelo menos uma semana antes me pegou de surpresa, não é? Eu realmente pensei que você ia demorar mais para voltar. — Você passou o último mês inteiro falando comigo todo santo dia, tentando me convencer a voltar e agora que voltei te peguei desprevenido? — Fiz uma carranca e ele começou a rir. — Não precisa fazer um alarde em torno disso, tudo bem, mas não temos espaço e você sabe disso. — Relaxa. Mas sem enrolação, onde vou me instalar? — Estava pensando na antiga sala do Olin, se você não se importar, é claro — Ethan falou em um tom cauteloso. Fiquei ali parado olhando para a cara do meu melhor amigo, não queria acreditar no que ele acabara de falar, mas eu precisava de uma sala e se a de Olin era a única disponível, não fazia sentido não aceitar. — Tudo bem, eu vou ficar na sala dele. — Certo, só uma coisa a sala ainda está intacta, Emily não veio buscar nada, então… — Oh, merda. — Parei um pouco para processar essa informação. — Você sabe que isso não vai me fazer bem, mas tudo bem, você vai ficar me devendo uma.

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Aquilo não era o que eu esperava, quer dizer, eu até pensei que ficaria na sala de Olin, só não pensei que ela ainda estaria cheia das coisas dele. Seria um inferno ficar ali o dia todo, aquela sala parecia que ainda tinha o cheiro dele, havia fotos em todo lugar, fotos nossas, fotos deles. Meu peito apertou, estar ali era uma viagem só de ida direto para o purgatório, eu só poderia estar pagando os meus pecados. Tentei me concentrar no que tinha que fazer, consegui armazenar algumas coisas que estavam em cima da mesa, guardei em algumas caixas, numa gaveta havia uma foto dela em preto e branco, ela estava nua cobrindo seus seios com os braços, suas pernas trançadas, não mostrava tudo, mas deixava muito pouco – quase nada – para a imaginação, fiquei ali admirando a fotografia até perder a noção do tempo, depois de algum tempo comecei meu trabalho tentando ao máximo abstrair o ambiente ao meu redor. A manhã passou voando, olhei no relógio e já eram quase duas da tarde quando decidi almoçar, minhas costas estavam tensas, minha cabeça doía. Coloquei meu paletóe passei na sala de Ethan para ver se ele queria ir comigo, mas ele me disse que já tinha almoçado e ficou me enchendo o saco por ir almoçar tão tarde. Quando saí do elevador, o saguão estava cheio, a maioria das pessoas voltando do almoço – é, acho que Ethan tinha razão, meu horário de almoço estava um pouco tarde. Estava pensando sobre a minha hora de almoço quando tive a visão mais espetacular da minha vida, minhas pernas tremeram – a quem eu estou tentando enganar? Meu corpo todo tremeu –, meu coração acelerou tanto que achei que ia sair pela boca. Emily estava ali, na minha frente, linda como sempre, apesar do olhar triste em seu rosto. Consegui arrumar forças para continuar andando e não ser atropelado, quando estava quase passando por ela, Emily tropeçou e eu consegui ajudá-la, pegando-a pela cintura. Ela não olhou para mim, acho que ouvi um “obrigada”, mas foi tão baixo que devo ter imaginado. Saí do prédio em transe, virei a direita e entrei num restaurante que havia ali na esquina, pedi minha comida e fiquei pensando nos poucos segundos que minha pele entrou em Sophia G. Paiva | 12


contato com ela, o simples fato de toc谩-la fez meu corpo renascer para vida, fez meu dia melhorar. Eu s贸 podia estar doido, aquela mulher ficava mais linda a cada dia e eu estava cada dia mais apaixonado por ela.

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Capítulo 2 Emily Eram exatamente duas horas da tarde quando cheguei ao prédio onde ficava nosso escritório – meu e do Olin –, era um edifício enorme em Manhattan. Ele e mais dois sócios eram donos de uma das maiores construtoras do país e tinham também uma rede de hotéis de luxo. Olin era mais envolvido na parte dos projetos, ele projetava quase todos os empreendimentos, seus dois sócios e melhores amigos Ethan Lord e Ash Grant eram os responsáveis pela parte comercial e pela administração da rede de hotéis – respectivamente. Olin era do tipo de cara que se destacava numa balada e foi assim que o conheci, em uma balada no Brasil. *** Quando fiz vinte e um anos decidi tirar férias e fui para o Brasil, mais exatamente para o Rio de Janeiro – minha cidade natal. Jake foi comigo, claro. Passamos quinze dias ali, muita praia, festas e homens lindos. Na nossa última noite eu já estava cansada, queria só cair na cama e dormir, mas Jake não deixou. Fomos para uma boate festejar nossas férias e a volta para casa. Lembro-me de estar na pista de dança e ver um moreno alto entrar na boate, não tirei os olhos dele a noite toda e fui recompensada quando ele veio e se apresentou, falou que estava de passagem no país por motivos profissionais e que morava em NY, depois que falou isso o papo rolou com facilidade. Ele era lindo, eu não conseguia desviar o olhar daqueles olhos escuros. Depois de muita conversa e paquera ele me roubou um beijo e então eu estava rendida. Namoramos por quase três anos antes de nos casarmos, ficamos casados por um ano, e há onze meses estou viúva. *** Eu conhecia Ethan, pois ele era muito próximo de Olin, tínhamos uma relação muito próxima. Nunca conheci Ash Sophia G. Paiva | 14


pessoalmente, há cinco anos ele havia se mudado para Londres, para comandar a sede da empresa lá. Senti um aperto no peito quando cheguei ao prédio, eu ia para o trabalho quase todos os dias com Olin ao meu lado, sentia falta dele. Dirigi-me para o elevador com a cabeça nas nuvens quando tropecei, e se não fosse por um par de mãos na minha cintura, eu iria direto para o chão, senti um perfume que fez com que todos os pensamentos fossem embora, nem olhei direito para o rosto da pessoa, pedi desculpas e segui meu caminho rapidamente, quando cheguei ao elevador arrisquei uma olhada e para minha surpresa vi apenas as costas do homem andando para fora do prédio, ele estava de terno e o cabelo castanho ligeiramente bagunçado. Senti-me estúpida por não ter pedido desculpas com mais educação, mas Deus, quem usa um perfume desse só pode estar querendo acabar com a consciência de qualquer mulher, e aquelas mãos – que mãos! Fico tonta só de pensar. Essa abstinência de sexo vai me deixar maluca – dei um tapa na minha cara por esses pensamentos –, pelo amor de Deus desde quando eu penso em outro homem? Há um minuto eu estava me lembrando do meu falecido marido e agora estou pensando nas mãos de um homem que nem conheço. Quando cheguei ao andar onde ficava a sede da minha empresa minhas mãos tremiam assim que entrei pela porta pensei que fosse desmaiar, havia alguns rostos novos, a maioria me conhecia e não pouparam olhares curiosos, nem me dei ao trabalho de cumprimentar, nunca fui muito sociável com meus funcionários, acho que por isso descobri depois de um tempo que me chamavam carinhosamente de Miranda – aquela de “O Diabo Veste Prada”. Passei direto para sala de Jake, que levou um baita susto quando me viu, seus olhos pareciam que iam pular para fora do seu rosto de tão arregalados, não pude deixar de rir. — BOA TARDE JAKE — gritei para ele, que se levantou e me abraçou como se não me visse há anos. Depois de um tempo ele ligou para Clara para que nós nos encontrássemos na sala de reunião. Clara era a namorada de Outra Vez | 15


Jake, estavam juntos há uns dois anos, mais ou menos, ela se tornou minha melhor amiga – depois que superou o ciúme que sentia de mim com o namorado dela, claro – e trabalhava diretamente comigo, com a morte do meu marido eu não desenhava mais, então ela ficou encarregada desta função, eu apenas via os desenhos para aprovar ou dar algumas sugestões. Ela chegou à sala em menos de um minuto com um sorriso de orelha a orelha e me abraçou tão forte que pensei que fosse ficar sem ar. — Fiquei muito feliz quando Jake me ligou e me informou que você veio! — Clara disse muito entusiasmada. — Obrigada, vim porque seu namorado praticamente me obrigou e não estou mais interessada em ser acordada por ele — digo em tom de brincadeira. — Ok meninas, a fofoca fica para depois, vamos ao que interessa. Depois de horas discutindo sobre a nova campanha, finalmente fui vencida pelo cansaço, então tomei as rédeas da situação. — Tudo bem, se eles querem que eu desfile nessa nova campanha, o desfile vai ser feito do meu jeito. — E seu jeito seria como? Posso saber? — Jake perguntou franzindo sua sobrancelha com um olhar de preocupação. — Meu jeito é meu jeito e ponto final, vou decidir tudo nos mínimos detalhes, inclusive o local. — Sempre fazemos no mesmo hotel, Emy. — Dessa vez Clara era quem estava preocupada. — Já está tudo reservado, não podemos dar esse furo com eles. É tradição. — Ela disse. — Eu sei como as coisas funcionam, está bem? Não vamos marcar furo nenhum, apenas fazer algo diferente. — E quando você vai nos deixar a par de tudo? — Jake perguntou. — Em breve — eu digo com um leve sorriso no rosto. — Você pretende voltar para o escritório? — Ainda não sei ao certo, mas vou começar a trabalhar em casa e volto aos poucos.

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— Se quiser podemos nos reunir todos os dias, posso passar na sua casa e trabalhamos um pouco. — Clara falou nitidamente feliz pela minha volta. Agradeci a ela e disse que seria muito bom, assim eu conseguiria me ocupar e ficaria mais informada sobre tudo. Quando estava indo embora já eram quase sete horas da noite, perguntei a Jake se ele sabia se havia alguém no escritório de Olin naquele horário. — Acho que sim, creio que Ethan ainda esteja lá, ele sempre fica até tarde, você precisa de alguma coisa de lá? Posso ir para você se quiser. — Não, apenas preciso buscar as coisas de Olin, acho que está mais do que na hora de acabar com isso de uma vez. — Quer que eu vá com você? — Jake me olhava com preocupação. — Não é necessário, preciso passar por essa sozinha. — Tudo bem, eu entendo, se quiser podemos te deixar em casa. Ou melhor, você quer jantar conosco? Clara e eu vamos a um restaurante italiano e você será muito bem-vinda. — Não exagera, eu já saí de casa hoje, então não abusa. — Deilhe um abraço apertado e olhei nos seus olhos. — Se eu precisar de carona te aviso, obrigada por tudo! Te amo! — Também te amo, Emy. Dei um beijo no rosto de Jake e saí pela porta rumo ao último andar daquele edifício. Nunca um elevador foi tão rápido e tão devagar ao mesmo tempo, fiquei pensando em como seria entrar de novo no escritório de Olin, tudo ali me trazia muitas memórias, minha tensão era tanta que não sabia descrever o que estava sentido naquele momento, tudo naquele prédio era tão difícil para mim, tudo me lembrava ele, nossos momentos no elevador, transas sem sentido na sala dele, simplesmente tudo me enchia de lembranças e deixava meu peito cada vez mais apertado. Assim que o elevador parou, eu estava tão distraída que quase esbarrei em alguém – segunda vez em um dia –, quando vi que era Ethan fiquei aliviada. Ele estava sorrindo para mim, ele era

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lindo, alto, cabelo castanho claro comprido, que estava penteado para trás, olhos verdes. — Que bom ver você, Emy! Fiquei sabendo que você estava no prédio, mas não quis incomodar. — Você nunca me incomoda — digo a ele com um sorriso sincero e percebo que ele já estava com a pasta na mão. — Desculpe Ethan, você está de saída? — Estou sim, minha mulher quer minha cabeça ultimamente já que eu não consigo chegar em casa cedo um dia sequer, hoje vou fazer uma surpresa. — Hum… Então volto outro dia — eu digo muito constrangida e já entrando novamente no elevador. — Espere Emy, você veio falar comigo? — Na verdade eu vim buscar algumas coisas no escritório do Olin, mas como você está de saída e não vou te atrasar, posso pegar depois. — Emy, já faz bastante tempo que você está fugindo disso, você pode ir buscar, o escritório está aberto, Ash está lá, você sabe quem é, certo? — Sim claro, mas não vou atrapalhar? — De maneira nenhuma, ele chegou ontem de viagem e está lá arrumando algumas coisas. Ele está instalado na antiga sala do Olin, você não se importa, não é? — Nem um pouco, essa empresa é de vocês, longe de mim me meter. — Olhei para Ethan com um sorriso sincero no rosto, ele parecia aliviado. — Olhe, desculpe por não ter avisado você, mas estamos muito sobrecarregados, felizmente Ash está de volta e acho que as coisas vão acalmar um pouco, vou mandar uma mensagem avisando que você está aqui, infelizmente não vou poder te acompanhar, mas você sabe o caminho, certo? — Sei sim, não se preocupe Ethan, vá encontrar sua esposa antes que você perca a cabeça. — Sorri para ele e nos despedimos. Entrar naquele escritório não estava nos meus planos, nem hoje, nem tão cedo, mas como eu já estava ali precisava fazer isso logo. Sophia G. Paiva | 18


Quando abri a porta meus olhos focaram na cadeira que era do Olin, consegui ver só a cabeça de um homem – eu conhecia aquele cabelo de algum lugar –, de repente quando a cadeira se moveu eu quase caí para trás, quando olhei e vi um homem de terno, falando no celular, que me olhou diretamente nos olhos, ele tinha os olhos verdes mais surpreendentes que eu já tinha visto, seu cabelo era de um loiro quase castanho, tinha um comprimento perfeito para segurar na mão com força, sua boca era cheia, sem ser grande, era uma boca que pedia para ser beijada, por um segundo Olin veio a minha mente, tive uma vertigem e senti minhas pernas fraquejarem e foi ai que senti novamente aquelas mãos grandes em mim, segurando-me como se eu fosse um objeto extremamente frágil. Quando consegui voltar a mim, quase não conseguia falar. — Desculpe, você é Emily, certo? — Sim — eu consegui sussurrar. — Eu sou Ash, Ethan me avisou que você vinha, mas estava em uma chamada e não ouvi você bater. — Na verdade não bati, mas não contei esse detalhe a ele. — Desculpe por te incomodar, vim apenas para pegar algumas coisas do meu marido. — Eu ainda estava nos braços dele, parecia que estávamos dançando e ele estava me segurando para baixo, com o rosto muito próximo como se fosse me beijar. — Você poderia me soltar, por favor? — Oh, certo, agora eu que peço desculpas. — Ele disse meio sem graça, enquanto me soltava e sorria para mim. Vamos aos fatos, Jake tinha um sorriso de um milhão de dólares, mas o de Ash, meu Deus, era um sorriso de derreter calcinhas. — Tudo bem, não me importo — digo a ele com um meio sorriso. — Então, onde estão as coisas? — Ah sim, me perdoe, mas como cheguei hoje ainda não tive tempo de empacotar e mesmo assim tem muitas coisas pessoais e pensei que você fosse querer verificar, íamos ligar antes claro, mas com tudo que está acontecendo por aqui, acabamos esquecendo.

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— Oh sim, entendo, então nesse caso acho bom eu começar o trabalho. — Posso ajudar você, se quiser. — Acho que não será necessário, quero apenas os objetos pessoais, porta-retratos, essas coisas, acho que os livros se vocês não quiserem, podem doar. — Ok, nesse caso, vou ficar aqui se você não se importar, preciso terminar um relatório, posso te fazer companhia. — Obrigada. Ash já havia adiantando muito para mim, retirando algumas coisas que estavam na mesa, o que facilitou muito meu trabalho. — Olin amava muito você. — O quê? — pergunto surpresa com aquela afirmação, eu estava tão distraída olhando as fotos, o escritório era cheio delas, a maioria de nós dois. — Ele te amava muito, sei disso, pois falávamos todos os dias, ele sempre mencionava você. — Oh sim, e certamente o sentimento era recíproco, ele era a minha vida, era tudo para mim. — Ash tinha um olhar que misturava admiração, respeito e dor. — Ele era meu melhor amigo. Ele e Ethan são como minha família, meus irmãos, acho que ficamos todos perdidos sem ele. Sentindo que todas as lágrimas que foram acumuladas naquele dia estavam prestes a descer, olhei para Ash e pedi para voltarmos ao trabalho, ele apenas assentiu e voltamos nossas atenções aos nossos afazeres. Já fazia mais de uma hora que estava ali sentada no chão, e me senti exausta, não sei se era a tristeza que eu estava sentindo em estar ali encaixotando todas as coisas do Olin, mas, ao mesmo tempo, me senti aliviada, parecia que cada lembrança dele estava sendo guardada. — Ainda tem muita coisa? — Ash perguntou me tirando novamente dos meus devaneios. — Não, na verdade acho que já tenho tudo. — Eu também já acabei. Você quer uma carona? — Olhei para o relógio e dei um pulo.

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— Merda! – pensei alto. — Perdi a hora e minha carona, então acho que vou aceitar a sua, se você não se incomodar, podemos parar em algum fast-food antes, eu estou realmente com fome agora. — Se você preferir podemos parar em algum restaurante e fazer uma refeição decente, eu também não comi nada. — Prefiro realmente um bom sanduíche, você não imagina quanto tempo não como um, acho que hoje eu mataria por um daqueles bem grandes. Ele sorriu com meu comentário, acho que não acreditou muito no que eu falei e aceitou meu convite, quando saímos da sala me virei e olhei para o escritório, despedi-me silenciosamente, como se estivesse dando adeus à Olin mais uma vez. Enquanto descíamos, comecei a prestar um pouco mais de atenção nele, era um rapaz novo. Lembro-me de Olin dizendo que ele era o mais novo na idade, mas o mais velho na cabeça. Acho que ele tem praticamente a minha idade, senão menos. Incrível que àquela hora da noite ainda tinha gente naquele prédio, conforme o elevador enchia ficávamos cada vez mais próximos, e foi ai que eu notei o perfume, aquele mesmo perfume que senti quando esbarrei em alguém mais cedo. Eu já estava desconfiada, mas esse perfume me fez ter certeza que ele era o homem que me salvou de um tombo hoje mais cedo. — É você — eu digo olhando de lado para ele. Nesse momento o elevador chegou ao térreo e saí em direção à porta. Aquele perfume estava confundindo todos os meus pensamentos, eu precisava me afastar. Ash Quase deixei meu celular cair no chão quando li a mensagem de Ethan avisando que Emy estava vindo para sala, ele teve a coragem de escrever “Se prepare, Emy está a caminho da sua sala! Boa sorte!”. Meu coração quase saiu pela boca, não tinha conseguido tirar da cabeça a sensação de ter colocado minhas mãos nela mais cedo. Definitivamente não estava preparado para isso ainda. Outra Vez | 21


No momento em que a vi entrando na sala, meu coração parou e me esqueci de respirar, tive que reunir todas as minhas forças para me manter distante, mas eu vi como ela ficou pálida e quase desmaiou, tive que pensar rápido e a segurei de novo, mas dessa vez eu não tirei meus olhos dos dela e passei vergonha depois que ela me pediu pra soltá-la – eu não queria, mas soltei. Fiquei observando enquanto ela estava relaxada sentada no chão organizando algumas fotos – teoricamente eu deveria trabalhar em alguns documentos, mas não conseguia me concentrar com ela ali tão perto de mim –, meu peito doía cada vez que olhava seus olhos ficarem vermelhos, ou cada vez que ela contemplava uma foto dos dois por muito tempo. Quando ela aceitou uma carona e ainda sugeriu um jantar foi o melhor momento do meu dia. Antes de sair do elevador ela falou “É você” e saiu, deixandome com cara de bobo só observando, eu sabia do que ela estava falando, mas deixei passar. Seguimos para uma lanchonete, eu estava faminto e ela também, seus olhos brilhavam quando sentamos e fizemos nossos pedidos. — Sério que você vai conseguir comer tudo isso? — perguntei intrigado quando ela fez o pedido, era muita comida para um corpo tão magro. — O que? Eu gosto de comer e estava com saudade disso. – Seu olhar mudou para um ar melancólico, decidi mudar de assunto. — Então, agora que você está voltando, quais os seus planos? — Meu olhar estava fixo no seu, ela tinha um olhar que eu podia ficar admirando o dia inteiro. — Por enquanto estou indo devagar, muita coisa para processar. — Se precisar de ajuda, você pode contar comigo. — Ela me olhou por um instante e vi surgir o sorriso mais lindo que eu já tinha visto. — Obrigada, é muito bom saber que tenho pessoas que posso contar. — Nesse instante ela baixou o olhar, parecia cansada. — Sabe de uma coisa, Ash? Acho que agora não é o momento para

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eu ficar triste, estou desfrutando de uma excelente companhia e comendo uma maravilhosa refeição. — Nesse caso, vamos brindar a nossa noite. — Erguemos nossos refrigerantes e sorrimos. O resto da noite transcorreu sem maiores problemas, era fácil fazê-la rir, aos poucos ela parecia mais à vontade comigo, o que me enchia de satisfação. — Emily, eu quero que saiba que você realmente pode contar comigo, para tudo. — Seu olhar era de espanto, ela olhava nos meus olhos. — Eu… Obrigada. — Ela disse e saímos da lanchonete. Nosso trajeto não foi longo. Ela parecia cansada por isso não puxei conversa, deixei a música encher o ambiente, estava tocando Butterfly, de Jason Mars. Aquela música não estava me ajudando muito, ela estava falando tudo que eu queria fazer com ela e não podia. Quando o refrão chegou, eu quase desliguei o rádio, não queria que ela pensasse que eu coloquei aquela música de propósito. Tentei meu máximo para não tocá-la, não queria invadir o seu espaço, nem assustá-la – a música já estava fazendo esse papel –, eu mesmo já estava assustado, tê-la tão próxima a mim, era como estar no céu e no inferno ao mesmo tempo. Parei o carro em frente ao prédio dela. — Então, você está entregue em segurança — digo enquanto abro a porta para ela descer. — Obrigada Ash, a noite foi realmente muito agradável. — Posso te perguntar uma coisa? — Ela me olhou intrigada. — Sim, se eu puder te responder… — O que você quis dizer com aquilo no elevador? — Aquilo? — Ela parecia estar se divertindo. — Sim, quando você disse que era eu. Eu não entendi — menti. — Ah, sim, eu sei que foi você que me segurou no saguão do prédio hoje no início da tarde, não olhei para você na hora, mas reconheci seu toque quando me segurou novamente na sala e tive a certeza quando senti seu perfume no elevador. — Ela disse isso, me deu um beijo no rosto, virou as costas e foi embora e eu fiquei ali parado observando. Outra Vez | 23


Que mulher reconhece alguém pelo toque? Eu já estava fodido de todas as maneiras possíveis, saber que ela reconheceu meu perfume e meu toque apenas aumentou meu desejo por ela, fiquei duro só de pensar nas palavras dela. Entrei no meu apartamento e fui direto para o banheiro tomar uma ducha, eu realmente precisava me acalmar. Fiquei frustrado, embaixo do chuveiro sem conseguir me acalmar, ainda lembrava as palavras dela “É você”, “Reconheci seu toque”. Aquilo estava me deixando cada vez mais duro. Não gostava de me aliviar sozinho, mas ultimamente não tive muita escolha. Eu não queria mais ninguém, já não queria desde quando me apaixonei por ela, mas eu tinha as minhas necessidades – não sou nenhum santo – e sempre me sentia um canalha por usar mulheres e esquecê-las na manhã seguinte, eu sempre imaginava que era ela embaixo de mim gemendo de prazer. Tive que usar o velho método do cinco contra um, não durei muito tempo, apenas a lembrança da sua voz para mim foi o suficiente, gozei gritando o nome dela, minha respiração ainda estava ofegante. Fiquei ali por um bom tempo, mudei a temperatura da água, assim eu conseguiria relaxar, não ajudou muito e tive que me aliviar novamente. Deus do céu, ela já tinha me feito gozar duas vezes – em um tempo recorde –, somente com a lembrança da sua voz, seu cheiro, o brilho nos seus olhos, eu tinha que parar, caso contrário minha noite ia ser longa, achei melhor partir para o meu antigo companheiro Jack Daniel’s. Já tinha bebido quase meia garrafa, estava um pouco alterado, sentado em uma poltrona que ficava em frente a janela, eu tinha uma vista privilegiada da cidade, gostava de observar a noite, as luzes sempre me faziam refletir, o que naquele momento não foi bom, pois comecei a me sentir culpado, eu estava apaixonado pela esposa do meu melhor amigo. Foda, eu não poderia me sentir pior, enquanto derramava o líquido no meu copo, lembrava de como Olin sempre falava nela, mas também lembrava de como ele não merecia o amor dela, a devoção que ela tinha por ele, minha culpa foi mudando para Sophia G. Paiva | 24


raiva, não demorou muito e senti o copo se partir na minha mão. Droga! Não me faltava mais nada. Fiz um curativo na minha mão, o corte não foi profundo, sangrou bastante, mas nada comparado a dor que senti quando ela se casou. Fui para cama e deixei as lembranças embalarem meu sono, comecei a recordar o dia em que se casaram. *** — Cara, não tinha uma desculpa melhor? — Ethan, isso é o melhor, você sabe o quanto me esforço para não ir, queria vê-la, você sabe. — O que eu sei, Ash, é que se você aparecer isso vai ser um desastre, ainda é cedo e você já está embriagado. — Olin falou alguma coisa? — Não, acho que acreditou no que você disse, ele está tão ocupado com tudo, mas ficou chateado. — Quero que você me mande uma foto dela, assim que entrar na igreja. — Você só pode estar brincando comigo! Eu não vou fazer isso! — Se você não me mandar, vou pegar o primeiro avião e chegar aí tão rápido quanto possível e ainda vamos brigar feio, você não quer isso, quer? — Certo, tudo bem, mas isso é uma má ideia, você sabe. — Fiz uma tatuagem! — O QUÊ? — Ethan gritou no meu ouvido. — Mas que porra, espero que não seja o nome dela ou algo assim. — Eu gargalhei tão alto que nem mesmo acreditei. — Sério cara, eu não ia ser tão estúpido, pode acreditar. — Então o que você fez? — Apenas um desenho celta, ele ocupa uma boa parte do meu braço, eu precisava de alguma coisa que me fizesse esquecer essa dor que estou sentindo, algo para me distrair da dor que esse casamento está me causando. — Essa foi a ideia mais estúpida que você já teve! — Comecei hoje, ainda não está toda terminada, mas vai ficar legal. Outra Vez | 25


— Idiota. — Também te amo cara! *** Eu passava a mão na minha tatuagem, era realmente grande e precisou de algumas sessões para terminar, eu nunca me arrependi de ter feito. Nunca consegui tirar aquela mulher da minha cabeça, estar perto dela está sendo um verdadeiro martírio, uma luta contra todos os meus maiores desejos. Dormi um sono leve como há muito tempo não dormia, não tive nenhum pesadelo com o dia do casamento. Sonhei com Emy a noite toda. Fui para o escritório pensando em como ela estava linda no dia anterior, usando uma blusa de seda branca e uma calça azul folgada que valorizava muito seu corpo, eu imaginava como seria tê-la nua na minha frente, queria sentir sua pele morena ficar vermelha a cada toque meu, queria ver seus olhos castanhos enquanto ela gozava. Cheguei ao escritório e fui direto para minha sala, precisava terminar o que eu fingi ter terminado ontem. Mas eu não conseguia parar de pensar nela, olhava para onde ela estava sentada no dia anterior e relembrando do nosso jantar e de como era fácil conversar com ela… Saí do meu devaneio quando Ethan entrou – sem bater. — E então, como foi com a Sra. Drake? — Tudo normal, a ajudei com algumas coisas de Olin, o restante ela pediu que fosse doado. — Só isso? Mais nada? — O que você quer dizer, Ethan? Aliás, você deveria aprender a bater antes de entrar. — Primeiro, estou falando de você e da sua paixonite aguda por ela, ou você já deixou de amá-la? E segundo, nunca bati, não vou mudar agora só por causa dos seus lindos olhos verdes. — Droga Ethan! Maldita hora que fui desabafar com você. — Eu estava muito bêbado quando liguei para ele, choramingando como eu estava apaixonado pela esposa de um dos meus melhores amigos. Sophia G. Paiva | 26


— Desculpe cara, foi uma brincadeira, só queria saber como você está de verdade, não tivemos tempo para conversar desde quando você chegou. — Você não disse nada sobre isso para ninguém, não é? Nem para sua mulher! — Não se preocupe, nunca contei isso para ninguém, ou melhor, conversei com meu terapeuta. Fiquei chocado depois que você me contou tudo. — Você ainda faz terapia? Quer dizer, esquece. — Então, vai me dizer como você está? O que pretende fazer com a sala, vai reformar? — Estou tentando o melhor que eu posso, foi difícil para eu voltar, você sabe, a morte do Olin mexeu comigo de muitas maneiras e eu estou tentando administrar tudo sem pirar. — E quanto aquele outro assunto, tudo certo? — Sim, mas ainda não sei por quanto tempo. — Entendo. Se precisar de mim, estarei na minha sala. Ethan saiu com um olhar de compaixão, ele sabia dos meus sentimentos pela Emily, sabia como me apaixonei por ela, que ela me fascinava em todos os sentidos, ele era o único que sabia de tudo. Nós éramos melhores amigos desde a infância, confiávamos uns nos outros. Foi para Ethan que contei sobre meus sentimentos por Emily e ele com um bom amigo-irmão me ajudou, me deu força e incentivou-me a procurar outras mulheres – não adiantou. Foi então que ele começou a me informar todos os passos dela, mas antes ele me fez prometer que iria me manter afastado e foi o que eu fiz. Mas agora que eu estou de volta e não estou disposto a deixála escapar, ela foi o único amor na minha vida, eu a amei desde o primeiro instante que a vi. Eu não tinha motivos para me sentir culpado, fui amigo de Olin durante toda a vida, o ajudei em momentos que só um irmão ajudaria. Assumi seu maior erro e não me arrependo. Não me arrependo de nada que fiz para ele, mas agora está na hora de eu viver minha vida e ir atrás da mulher que eu sempre amei. Já esperei tempo demais para isso!

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Capítulo 3 Jake Conheci Emy quando ela tinha dezesseis anos e eu dezoito. Trabalhávamos na mesma agência. Ela veio transferida do Brasil para NY. Quando a vi pela primeira vez, achei que estava vendo um anjo de olhos e cabelos castanhos. Ela era a garota mais linda que eu já tinha visto na vida – e eu já tinha visto muitas –, o seu primeiro trabalho foi comigo e desde então não nos desgrudamos mais. Ela virou minha melhor amiga e eu o melhor amigo dela. Eu estava com ela em todos os momentos difíceis, entre eles, quando recebeu a notícia da morte dos pais. Fui com ela para o Brasil para ajudar no que tinha que ser feito e ela aproveitou para trazer Maria para morar com ela em NY e continuar a cuidar dela. Com o tempo começamos a confundir nossos sentimentos um pelo outro. Ficamos algumas vezes, o sexo era sempre incrível, mas ela percebeu que me via somente como seu amigo, eu não a via desse jeito, mas respeitei seus sentimentos e continuamos com nossa amizade. É difícil para eu separar esses sentimentos, ainda a amo como amiga e como mulher. Quando ela conheceu Olin fiquei mal, tentei absorver o que estava acontecendo, mas foi tudo muito rápido, era tudo muito intenso – como tudo que envolvia aquela mulher. Nunca gostei muito dele, para mim ele não era certo para Emy – na verdade nenhum homem era –, mas ela nunca soube que eu pensava assim, guardei isso comigo até o dia que ela me ligou gritando “JAKE, VOU CASAR! VOCÊ ACREDITA NISSO? EU VOU CASAR!”. Eu realmente não acreditei. Fui para a casa dela no dia seguinte para conversar, aquilo não fazia sentido. — Princesa, você tem certeza? Isso é um passo muito importante.

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— Jake, ‘isso’ vai ser meu casamento, amo Olin, ele cuida de mim, me protege, você sabe do quanto eu preciso disso, vou ter finalmente minha família. — Pensei que eu fosse sua família — falei triste. — Você sempre será. Mas você sabe como isso é importante para mim. — Eu só não quero ver você desistir de quem você é mais do que já desistiu. — Eu não desisti de nada, eu fiz o que queria, Olin não tem nada a ver com isso. Eu estou feliz com minhas decisões, e aproveitando que você veio aqui hoje, eu vou te dar logo a notícia. Vou parar de desfilar. — Eu não acredito! Ele fez isso também? Eu não posso acreditar, Emy. E o que vai fazer depois? Virar uma esposa troféu? É para isso que você trabalhou tanto? — Jake, você não sabe o que está dizendo. Olin não me mandou fazer isso, ele pediu e eu aceitei, só isso! — Como sempre você faz, não é? Eu não posso acreditar, o que você vai fazer a partir de agora? — Vamos ter uma empresa, eu iria te chamar para trabalhar comigo, mas acho que você não aceitaria, você acha que vamos ser modelos para sempre? Precisamos de um novo rumo e eu preciso de você comigo para isso. Por favor, não me deixe sozinha nessa. — Só quero que seja feliz, você sabe o quanto me preocupo. — Eu sei, quero você do meu lado sempre. — Eu estarei, princesa. Sempre. Não demorou muito e eu já tinha decisão feita, iria parar de desfilar, assim como ela. Eu precisava estar por perto dela – eu não confiava em Olin. Quando terminamos aquela conversa comecei a pesquisar sobre ele na internet e acabei achando coisas que não faziam sentido, fui a fundo, segui Olin algumas vezes e acabei descobrindo coisas que me deixavam completamente sem palavras.

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No dia do casamento deles morri por dentro, queria falar para ela o que tinha descoberto, mas fiquei calado, não era eu quem deveria falar sobre isso. Seu casamento não foi como ela sonhou, Emy tinha um espírito livre, queria casar na praia, os pés na areia, algo informal, mas o casamento não tinha sido nada daquilo – pelo contrário – foi cheio de luxo e pessoas famosas, mas ela estava feliz, então para mim isso bastava. Mas isso tudo ficou no passado, agora eu estou com a Clara, começamos a namorar logo que ela veio trabalhar na empresa. No começo eu achei que ela seria a mulher que me faria esquecer a Emy, mas com o tempo percebi que não era, eu gosto muito dela – muito mesmo –, mas ainda parece errado, não superei meus sentimentos pela Emy. Para mim ela era única, esperava o dia em que ela percebesse que os seus sentimentos por mim eram iguais aos meus por ela.Até lá, ela sempre será minha melhor amiga. Ela fazia parte de mim, acho que Deus, ao nos criar colocou uma parte da minha alma nela e uma da dela em mim. Eu a amava acima de tudo e de todos. Chorei com ela, ri com ela, Emy era minha princesa, minha vida sem ela não faz nenhum sentido. Eu fiquei eufórico quando soube que os patrocinadores pediram que ela desfilasse no lançamento da nova coleção, eu desejava vê-la de volta. Ainda não entendi aquele pedido, mas estava tão feliz que nem me interessei em saber. E agora que ela está de volta, apesar de não ter aquele brilho no olhar que eu estava acostumado a ver, eu sabia que era uma questão de tempo para ele estar de volta. No final do dia saí com Clara para jantar, mas minha cabeça estava à mil. — Fiquei muito feliz com a volta da Emy. — Clara falava, enquanto olhava o cardápio. — Ah sim, eu também fiquei feliz. — Hum! Acho que vou de Penne a Alfredo, e você? Eu estava com o pensamento tão longe, pensava em como ela estaria, se estava conseguindo lidar com todas aquelas lembranças, eu tinha que admitir, o cara a fez feliz nesses anos em que estiveram juntos. Sophia G. Paiva | 30


— Jake? Você pode voltar para Terra? — A voz de Clara soava irritada. — Oh, desculpe, vou pedir o mesmo que você — fechei o cardápio e fizemos nosso pedido. O jantar passou e eu não interagi muito com Clara, isso a irritou bastante, mas não falou nada. — Algo errado? — ela me perguntou quando saíamos do restaurante, era nosso local preferido, sempre íamos lá. — Não, nada de errado, desculpe-me estava distraído, tudo isso que está acontecendo, é muita coisa ao mesmo tempo. — Entendo, a volta da Emy está mexendo com todos. — Clara estava visivelmente triste, eu desconfiava que ela sabia dos meus sentimentos por Emy, eu gostava muito dela e a admirava cada vez mais por ser tão paciente. Partimos para meu apartamento, ficamos o tempo todo calados, eu sabia que ela estava me dando tempo, ela sempre fazia isso quando sentia que eu estava atormentado com alguma coisa. Por que eu simplesmente não amava aquela mulher? Seria tudo mais fácil. Emily Eu não tinha dormido a noite toda, fiquei vendo as fotos que retirei no escritório do Olin, muitas fotos nossas e muitas dele com os amigos. Engraçado como não tinha reparado antes nessas fotos, nelas mostravam os três desde a infância, passando pela adolescência e já adultos como empresários bem-sucedidos. Eles eram inseparáveis. Já havia visto o Ash algumas vezes pelo Facetime ou pelo Skype, quando ele conversava com Olin, mas para falar verdade nunca dava muita atenção, eu nem lembrava muito do rosto dele, o achava muito sério e até pensava que não era um bom amigo, porque não compareceu ao nosso casamento. Ficava imaginando que tipo de amigo perderia o casamento do melhor amigo. No meio de tudo aquilo, de todas aquelas fotos, eu me senti mal, a minha noite tinha ido por água abaixo. Estava bem quando Ash me deixou em casa, até brinquei com ele, mas foi só começar Outra Vez | 31


a ver essas fotos que comecei a chorar. Eram nossas lembranças, lembranças dele, isso me deixava cada vez mais deprimida, eu ainda não conseguia acreditar que ele tinha ido embora. Até pouco tempo atrás, eu achava que ele entraria pela porta, faríamos amor a noite toda e tudo ficaria bem. Naquela manhã de quarta-feira Jake não me ligou – eu desliguei o telefone – então ele veio até o meu apartamento e me tirou gentilmente da cama me jogando um balde de água gelada e ainda trouxe a Clara, o circo realmente estava completo. — Estou pensando em proibir a sua entrada no prédio — falei enquanto caminhava para sala já composta depois do estrago que fizeram comigo. — Ou melhor, vou comprar um Pitbul e treiná-lo para te manter longe de mim! — Quando você parar de agir como uma criança mimada e egoísta, eu paro de te tratar como tal. — Jake não estava com seu melhor humor hoje, isso me irritou. — Clara, você precisa seriamente repensar sobre o seu casamento, imagina as crianças sendo acordadas por esse monstro. — Clara ria da nossa guerra, ela já estava acostumada com tudo aquilo e nem se importava mais. — Quando seu amigo aqui me fizer o pedido, vou considerar essa informação. — Jake murmurou algo inaudível e nós duas piscamos um para outra. — Então as duas vão ficar discutindo sobre as bodas ou vamos trabalhar? Temos que ir ao escritório, hoje o nosso dia está cheio. Saímos de casa e enfrentamos o trânsito de NY, a cidade estava movimentada naquele dia – na verdade todo dia era agitado, antes eu estava acostumada, depois de onze meses de isolamento aquilo era quase uma novidade –, as pessoas passando de um lado para o outro, correndo em direção aos seus empregos, eu sentia que era uma mera espectadora observando a movimentação da cidade pela janela do carro como se fosse uma TV. Jake, como sempre, tirou-me do meu devaneio quando perguntou se eu já tinha pensado sobre o que íamos fazer no desfile da nova coleção.

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— Já pensei em tudo pode deixar, vou roubar a Clara, preciso dela e também não vou contar nada, será uma surpresa. — Oh Deus, nada que envolva a polícia. — Fico até ofendida que você tenha esse tipo de pensamento! — Eu dei a ele meu melhor sorriso. Quando chegamos ao escritório, fiquei trancada com Clara na sala dela – eu não queria voltar para a minha sala – repassando todos os detalhes. Na hora do almoço Clara pediu para que déssemos uma pausa. — Sério Emy, eu estou um pouco chocada com essas ideias, preciso refrescar a minha cabeça, preciso de um pouco de carboidrato também. Vou almoçar com Jake, você não quer vir? — Acho que não, mas vou descer um pouco, quem sabe como alguma coisa no caminho. Também preciso esfriar um pouco a cabeça, passei esses dias todos enfiada no meu quarto, todo esse planejamento está me deixando exausta — digo sorrindo. — Certo, se você quiser posso mandar pedir algo. — Não precisa, vou andar um pouco, divirtam-se! Saí meia hora depois, Jake me fez prometer que ia fazer alguma refeição decente. Tenho certeza de que ele foi meu pai na encarnação passada. Eu estava impaciente aguardando o elevador, parece que todo mundo resolveu descer no mesmo horário. Praticamente pulo para dentro quando ele abre as portas, sem olhar para ninguém e fico contando os andares – tenho essa mania de ficar contando as coisas –, não me dei conta quando alguém se aproximou e sussurrou “Oi” no meu ouvido, isso me fez dar o maior grito e pagar o maior mico. — Desculpe, não queria assustar você desse jeito! — Ash ria sem parar, deixando-me furiosa. — Você sempre aborda as mulheres desse jeito? — pergunto um pouquinho alto demais para o ambiente. — Sério, perdoe-me não achei que estivesse tão distraída, cheguei a falar com você duas vezes antes. — Eu realmente estava furiosa e totalmente sem graça, pelo amor de Deus, pareceu aqueles sustos de filme de terror e eu era aquela garota

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que sempre estava gritando. — Então, se você me perdoar, posso te levar para almoçar? — E o que faz pensar que eu não tenho nenhum compromisso agora? — Estávamos conversando como seres humanos normais. — Apenas um palpite. — Nesse caso você paga a conta. — Fechado! — Ash apertou a minha mão e me deu a droga do sorriso mais bonito que eu já tinha visto, minha mente começou a vagar por lugares muito – muito – perigosos. Ele colocou a mão na minha cintura e me conduziu para fora do prédio, e que o Senhor me ajude, mas aquele pequeno movimento fez com que algumas partes minhas que estavam adormecidas voltassem à vida com tudo, o que me deixava muito confusa. Reparei que a mão dele estava com um curativo, perguntei o que era, ele ficou pensativo por um momento, mas por fim falou que se cortou com uma faca, nada grave, era apenas um corte superficial. Acreditei nele, por qual motivo ele mentiria sobre isso para mim? O almoço foi maravilhoso, pedi a Ash que me levasse em algum lugar aberto, queria apreciar um pouco do clima, ele me levou em um restaurante excelente, não muito sofisticado que tinha algumas mesas do lado de fora, exatamente como eu gostava. — Eu nunca vou me cansar de ver você comendo. É algo para se apreciar. — Contanto que continue pagando a conta, terei o maior prazer em deixar você apreciar a vista — sorri, enquanto ele me encarava com uma cara de… Admiração? Desejo? Divertimento? Eu não sabia, só sabia que já tinha rido tanto do lado dele, as coisas pareciam mais leves quando estávamos juntos. — Nesse caso significa que posso te convidar para sair outras vezes? — Ele me olhava intensamente, parecendo ansioso, eu não sei se foi impressão minha, mas acho que fiquei vermelha igual a um tomate. Isso nunca aconteceu antes e pela primeira vez não consegui responder. — Não quis constranger você, desculpe-me, também não quero que você pense que estou te

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convidando para um encontro, mas com certeza gostaria muito da sua companhia mais vezes. — Oh! — Foi apenas isso que saiu da minha boca naquele momento. Foi um “Oh” como se eu estivesse decepcionada, como se tivessem me dito que Papai Noel não existe, não sei o porquê, mas queria que ele me levasse a um encontro. Felizmente o garçom chegou com a nossa sobremesa e eu voltei minhas atenções para aquele maravilhoso Petit Gateau. Depois daquele estranho momento, conseguimos terminar nossa sobremesa e já estávamos no café quando comecei a falar. — Então, você tem alguma namorada? — Ai Senhor, por que abri a boca? Eu deveria ter ficado de boca fechada. — Não, sem namorada. — Nada? Nenhum rolo? — Rolo? Nós temos o que? Quinze anos? — Desculpe. — Eu não podia ter ficado mais constrangida. — Também não estou ficando com ninguém, ou seja lá o que isso quer dizer — Ash parecia que divertir em me deixar constrangida. — Bem já que você mencionou idades, quantos anos você tem? — Tenho a mesma idade que você. — Sério? — Por quê? Pareço mais velho? — Ele pergunta sorrindo. — Não, pelo contrário, parece mais novo até, bem... Se não fosse por estar sempre com a cara tão séria. A conversa começou a fluir normalmente de novo, era bom falar com alguém diferente. — E você Emily, tem algum plano? — Por enquanto só o de dominar o mundo — respondi sorrindo. — Então boa sorte e não se esqueça dos amigos. — Nunca, esses terão um lugar de honra no meu governo. — Eu estava parecendo uma criança. — Isso quer dizer que já posso me considerar seu amigo? — Só depois de passar por um ritual. — Agora estou curioso, o que seria?

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— Uma pequena maratona de algumas longas horas de desenho animado. — A brincadeira rolava solta. — Muita pipoca e muito sorvete. — Eu topo, basta me dizer quando e onde. — Olhei pra ele com muita surpresa, meus olhos quase saltando para fora. — Você está falando sério? — Totalmente, não brinco quando estou querendo ter novos amigos. — Bem, mas eu… — E novamente fomos interrompidos, dessa vez pelo garçom com a conta e meu celular tocando. — Desculpe, vou atender. É o Jake, deve ter acontecido algo no escritório. — Vá em frente. — Ele ficou sério quando mencionei o nome do Jake, mas não me afastei e atendi na mesa mesmo. — Hey Jake, o que houve? — Liguei para saber onde diabos você se meteu. — Olhei para o relógio, droga, já tinham se passado mais de duas horas. — Desculpe, estava almoçando e acabei perdendo a noção do tempo, mas já acabei e estou indo, papai! — Não demore. — Sim, senhor. — Te amo, Emy. — Também te amo, Jake. — Quando desliguei meu celular olhei para Ash, ele estava com um olhar vazio no rosto e tenso. — Ash? Está tudo bem? — Sim, podemos ir? — Parece que um iceberg estava a minha frente naquele momento e me causou até arrepios. — Sim, estou um pouco atrasada mesmo, tem certeza que está tudo bem? — Sim, já disse! Vamos embora? — Ash parecia estranho e um pouco confuso, diferente do que estava há poucos minutos. Caminhamos em silêncio até a entrada do prédio, a caminhada parecia eterna quando estávamos calados e quando eu estava prestes a abrir a boca, Ash tomou a frente. — Bem, você já está entregue sã e salva. — Obrigada pelo almoço, estava tudo ótimo, incluindo a companhia. — Eu estava sorrindo meio que sem graça, sem saber o motivo. Sophia G. Paiva | 36


— Esqueci de te pedir, você pode me dar seu número? — Ele pediu, mas percebi o receio em sua voz. — Claro, me dê seu aparelho. — Ash me entregou e eu digitei meu número, liguei para mim mesma, tirei uma foto minha fazendo uma careta bem estúpida e entreguei para ele. — Sério que quando você me ligar vai aparecer essa cara na minha tela? — Claro que sim, assim se você estiver de mau humor — como agora, pensei —, isso vai fazer você sorrir. — Dei um beijo no rosto dele que fez minha pele arder. Entrei no escritório ainda pensando o que teria acontecido para que Ash fechasse a cara tão de repente. Estávamos rindo e conversando normalmente, até que atendi a ligação de Jake e falei que o amava. Eu não entendi nada, será que Ash está interessado por mim? Tivemos um jantar e um almoço juntos e eu não percebi nada, ele sempre estava sorrindo, mas eu também estava, então isso não faz sentido. A reação dele foi de ciúmes, eu já conhecia esse tipo de reação, Olin sempre ficava de cara feia quando eu falava que amava Jake, mas Ash não é meu namorado, eu sentia uma forte atração por ele, mas era isso e nem sabia se era recíproco. Resolvi mandar uma mensagem para ele. Eu: Mais uma vez obrigada pelo almoço, espero que o mau humor tenha passado! Não demorou muito e ele respondeu. Ash: Estou melhor sim. Também adorei o nosso almoço. Temos que repetir mais vezes. Eu: Não vão faltar oportunidades! Vou trabalhar! Tchau! Ash: Bom trabalho. Estou ansioso para a próxima oportunidade. Sorri para o celular, ele estava me deixando louca. O que ele estava querendo? Voltei minha cabeça para o trabalho e fui direto para a sala de Clara, que já estava me esperando com alguns esboços bem legais, trabalhamos mais em cima deles e criamos mais alguns modelos. Eu e Clara formávamos uma dupla muito boa. Sempre estávamos pensando praticamente a mesma coisa, e o trabalho fluía muito bem. Outra Vez | 37


Não parei de pensar em Ash um momento sequer durante todo o dia, aquele homem estava começando a entrar debaixo da minha pele, mas eu ainda amo Olin, ele foi meu único amor, não posso traí-lo assim dessa forma, com o melhor amigo. Fui para casa um pouco depois das sete horas, quando cheguei Maria tinha feito um jantar delicioso – já falei o tanto que amo essa mulher? –, sua comida me fazia lembrar do Brasil e da minha infância. Comi tudo e fui para o meu quarto. Tomei um banho de banheira bem demorado, coloquei o meu pijama mais confortável – aquele com os personagens da Disney – e me deitei, fiquei pensando no que estava acontecendo na minha vida naquele momento e pela primeira vez em onze meses não dormi chorando pelo meu falecido marido e sim sorrindo ao me lembrar do sorriso de Ash.

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Capítulo 4 Ash Mais uma vez ela conseguiu me deixar com cara de bobo, mas isso fez com que meu humor voltasse ao normal, não acreditei que fiquei daquele jeito quando ela atendeu ao telefone, eu sabia que aquele cara era seu melhor amigo. Olin sempre me falava dele, eu tinha visto muitas fotos dos dois juntos, pareciam que tinham sido feitos um para o outro, e se tratavam com muito carinho, eu estava me corroendo de ciúmes e com uma séria vontade de esmurrar alguma coisa. Na minha cabeça eu sabia que eles eram apenas amigos, quase irmãos, mas meu coração doeu tanto quando ela falou que o amava, eu queria que ela falasse essas palavras para mim. Queria poder falar essas palavras para ela, mas sabia que não estava na hora – ainda –, eu ainda teria aquela mulher. Preciso ter calma, Emily pode me achar um doido traidor por fazer isso com ela e com meu melhor amigo. Voltei para o escritório, quando fechei a porta da minha sala recebi uma mensagem, rezei para todos os santos possíveis antes de pegar o celular, abri um sorriso de orelha a orelha ao ver que era dela. Respondi na mesma hora, a minha vontade naquele momento era pegar o elevador, descer até o andar dela, pegá-la nos meus braços e beijá-la. Como eu não podia fazer isso, voltei a trabalhar. Quinta-feira passou como se fosse um borrão, não falei com Emy, mas em nenhum momento deixei de pensar ela. Fiquei sabendo pelo Ethan que ela não apareceu no escritório. Será que ela está deprimida novamente? Varri esse pensamento da minha mente, ela estava ótima e eu não ia permitir que ela se afundasse novamente. Na sexta-feira, as coisas no escritório estavam intensas, mal tive tempo de almoçar, Ethan estava uma fera com alguns projetos de Olin que estavam inacabados, eu fazia o meu melhor para terminar, tínhamos prazos a cumprir, Ethan não estava Outra Vez | 39


nada satisfeito. No fim do dia, recebi sua visita na minha sala, nem me dei o trabalho de tirar os olhos do computador, ele nunca batia. — Que tal jantar lá em casa hoje? — Você já me fez convites mais agradáveis, falando nisso como vai a megera da sua esposa? — Eu não me dava bem com sua esposa e o sentimento era recíproco, mas eles estavam juntos há tanto tempo que acabamos nos acostumando. — A mesma de sempre, ultimamente bem pior. — Ethan deu um suspiro pesado e esfregou as mãos no cabelo. — Sério cara, eu não sei como você aguenta tudo isso. — Ela é uma boa pessoa, só estamos passando por uma crise. — Ethan já estava nessa crise fazia tanto tempo que nem me lembrava mais, Olivia tinha um bom coração, sim, mas sabia ser uma grande vaca quando queria e nos últimos anos ela se esforçava ao máximo para isso. — Acho que depois de um dia estressante desses, eu não mereço terminar minha noite com você e a Olivia. — Sorri e ele me olhou com desconfiança. — E o que você pretende fazer hoje? — Ele cruzou os braços e me encarou. — Eu tenho planos e eles não incluem você e sua esposa. — Posso saber com quem? — O que você é, meu pai? — Deus me livre! — Ethan ria. — Só estou preocupado. — Não precisa. — Tem certeza? — Ele franziu a testa, peguei uma bola de papel e joguei na cara dele. Ethan riu, demos ainda mais risadas até ele ir embora, eu já estava com saudades dessas conversas descontraídas. Eu já não falava com Emy fazia dois dias, assim que Ethan saiu mandei uma mensagem – sim meus planos naquela noite incluíam ela. Eu: Senti falta das nossas refeições! Emy: Olá. Estive trabalhando em casa, quase não senti o tempo passar...

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Eu: Podemos nos ver hoje? A semana foi cheia, preciso relaxar e dar umas boas risadas. O que me diz de fazermos aquele ritual? Emy: Estou lisonjeada em ser seu palhaço particular, mas hoje infelizmente já tenho um compromisso. Eu: Que pena, mas não vou desistir ainda tem o fim de semana pela frente. Emy: Adoro homens persistentes... Tenha uma boa noite! Eu: Te vejo em breve! Aquela mulher ainda iria me matar, sua última frase me deixou sem ar, o que foi aquilo? Um flerte? Não, eu sabia o quanto ela era despojada, minha mente estava indo rápido demais, eu precisava de uma distração. Depois que Emy me dispensou, fui direto para meu apartamento, era sexta à noite e a única pessoa com quem eu queria estar naquele momento me deu um elegante fora. Já tinha tomado banho quando meu celular tocou. — Ei Clary! Como vai? — Imbecil! Como você tem a coragem de voltar e não me dar um telefonema? — Clary era minha amiga, uma das mais antigas junto com Olin e Ethan. Ela era jovem, bonita, divertida e uma excelente companhia. — Oh, desculpe, eu andei muito ocupado, não avisei muita gente da minha volta. — Certo, então vai me fazer um favor, vamos sair hoje para comemorar sua volta. — Não estou no clima, Clary. Desculpe. — Como amigos, vai Ash, vamos nos divertir, prometo que não dou em cima de você. — Eu ria com aquela declaração, era sempre a mesma coisa, no fim eu sempre a levava para casa bêbada demais. Soltei um suspiro pesado. — Tudo bem você venceu, onde vamos? — Eu poderia fazer a dança da vitória, não pensei que fosse te convencer tão rápido. — Não abusa, onde pego você? No seu apartamento? — Sim, esteja aqui o mais rápido que você puder, já estou pronta.

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— Você levou um bolo, não levou? Eu sou seu estepe? — Eu ri, Clary era linda, mas muito geniosa. — Eu nunca levo um bolo, traga essa sua bunda gostosa para cá o mais rápido possível, entendeu? — Essa seria uma longa noite. Apressei-me, não tive muito tempo para escolher a roupa, peguei uma camisa de botões preta, um jeans, meu cabelo era uma bagunça, mas aquilo não tinha jeito, então parti para buscar minha acompanhante. Clary era loira, olhos verdes, não era muito alta, mas também não se encaixava na categoria das baixinhas, ela estava com um vestido curto verde-escuro, bem colado ao corpo, deixaria qualquer homem doido atrás dela – menos eu. Ela era uma figura, eu adorava sair com ela, pois sempre me colocava para cima quando estava meio down. Mas não passava disso. Ela entrou no carro e fomos para a boate, o local estava lotado, eu não podia esperar por menos, Clary era dessas patricinhas que adoravam festas, inaugurações – eu já estava arrependido. — Vem Ash, toma. — Clary colocou uma pulseira no meu pulso, e entramos, a festa era realmente luxuosa, era inauguração do clube, tinha muita gente famosa, atores, modelos – lembrei imediatamente da Emy –, meus olhos começaram a vagar no meio da multidão, como se procurassem por ela. Idiota, eu sei, ela não estava tão bem assim, não ia sair para um clube. Clary estava nitidamente animada, percebi que eu teria muito trabalho, a garota bebia drinks sem parar, ria animadamente, era muita alegria para o meu gosto, saí um pouco daquele sufoco, fui para o bar, pedi uma dose de whisky e sentei tentando me concentrar na multidão, as pessoas estavam dançando, as músicas intercalavam, era tudo bem eclético para agradar a todos. O local era puro luxo, as melhores bebidas estavam sendo servidas, não vi nenhum fotógrafo, isso explica o motivo de tantos famosos estarem tão à vontade. Já estava na segunda dose quando meus olhos pararam, eu congelei no lugar.

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Seus quadris balançavam no ritmo da música, seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo perfeito, seu vestido era curto, deixando uma boa parte das suas coxas a mostra, era um vestido solto, que se ajustava no seu corpo e se movia conforme ela balançava. Emy estava linda, usava saltos que nem toda mulher teria coragem de andar, muito menos dançar com eles, ela estava quase de frente para mim, mas seus olhos estavam fechados, estava totalmente absorvida pela música. Meus músculos endureceram quando tirei meus olhos dela e percebi quem era seu acompanhante, Jake, não podia ser outro, estavam dançando tão intimamente, fechei meus punhos e senti a raiva subir – que merda era aquela? –, as mãos dele passeavam no corpo dela, ela estava com um copo de bebida na mão, claramente se divertindo, eu tinha duas opções, ou saia dali o mais rápido possível ou acabaria preso por agressão. Clary praticamente bateu no meu braço para me chamar atenção. — HEY! Dá pra você me dar atenção? — Ela estava aborrecida, e eu já não estava com a mínima paciência. — Desculpe Clary, mas não estou bem e acho que já vou sair. — Nem pense nisso Ash Grant, você ainda me deve uma dança. Clary pegou a minha mão e me rebocou para a pista, mulheres sabiam ser persistentes quando queriam, então decidi aproveitar a noite também. Ver Emy dançando com Jake não estava nos meus planos para aproveitar a noite, então tentei ao máximo não ficar olhando na direção deles o tempo todo, mas falhei nessa missão. É praticamente impossível estar no mesmo ambiente que ela e não olhá-la. Dancei com Clary por um tempo depois voltei para o bar, minha visão de onde Emy estava era melhor, eu não conseguia parar de olhar para ela. Levei o maior susto quando ela virou de costas para mim, o decote do vestido era gigante, suas costas inteiras estavam de fora! Não aguentei a pressão, pedi mais uma dose dupla de whisky, só com muito whisky para não me levantar e ir proteger a minha mulher – sim, ela é minha, ela só não sabe disso ainda – Outra Vez | 43


dos olhares de outros homens. Aquilo ali estava me matando, resolvi voltar para a pista de dança, precisava dançar para ver se melhorava a minha tensão. Achei Clary e ficamos dançando, não passou muito e eu ouço Clary praticamente gritando. — EU NÃO ACREDITO! EMILY DRAKE ESTÁ AQUI! Quando me virei Emy estava atrás de mim, linda como sempre, ela veio até mim, abraçou-me e me deu um beijo no rosto. — Eu não sabia que você estaria aqui. — Ela disse. — Pois é, eu não estava planejando sair hoje. Mas não pude recusar um convite. — E então, não vai me apresentar sua amiga? Namorada? — Ela estava com ciúmes? A cara que ela fez quando perguntou não passou despercebida, aquilo era ciúme. — Clary esta é Emy, Emily Drake esta é Clary William, minha amiga mais antiga, depois do Ethan. — Bem, desculpe estou muito feliz em te conhecer, devo dizer que sou sua fã, acompanho todos os seus trabalhos. Posso te dar um abraço? — Clary tagarelava sem parar. Depois das apresentações, ficamos ali, elas conversando como se fossem velhas amigas e eu nem prestando atenção no papo das duas. Parecia que o tempo parava quando estava olhando para Emy, eu viajava para outro mundo quando estava perto dela. — Ash, você está aí? — Emy perguntou com um cutucão no braço. Acordei do meu sonho e elas estavam rindo de mim. — Sim, o que foi? — Estou chamando vocês para irem para o meu camarote, só estamos eu e Jake lá. — Nossa! Um camarote só para os dois? Ele é seu namorado? — Vi que Emy ficou sem graça com a indiscrição de Clary, mas apenas sorriu e respondeu educadamente. — Não, nós somos apenas amigos, eu pedi para que fosse fechado, às vezes gosto de um pouco de privacidade, não sabia quem iríamos encontrar aqui, então seria como uma rota de fuga.

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Ela nos conduziu até o camarote, e lá encontramos Jake falando ao telefone, enquanto o garçom nos trazia champanhe. Brindamos as coincidências da vida. Nada mais justo. — Um brinde as coincidências, sem elas quem diria que estaríamos aqui — digo olhando no fundo dos olhos de Emy. Mais tarde eu e Clary fomos para a pista de dança, dançamos um pouco e quando voltamos para o camarote vejo Emy sentada no colo de Jake e ele fazendo carinho em suas costas, eu fiquei tenso. Clary me cutucou e sussurrou no meu ouvido. — Se controla! — Olhei-a assustado e ela continuou: — Ela não tirou os olhos de você a noite toda, se controla! Tentei abstrair a cena, peguei meu copo e me servi mais uma dose de whisky. Clary veio para o meu lado e eu perguntei por que ela falou aquilo para mim. — Ora Ash, qualquer um que tenha olhos percebe a troca de olhares de vocês dois. O que está rolando entre vocês? — Fiquei sem palavras diante da pergunta, quando percebeu que eu não ia responder ela continuou: — Tudo bem, não precisa me falar, mas eu sei que tem coisa ai. Continuei calado, eu não queria falar disso com Clary, ali não era nem momento e nem lugar para essa conversa. Nos sentamos no sofá em frente a Jake e Emy e ficamos falando sobre assuntos aleatórios. Após um tempo Emy começou a chamar Jake para dançar, mas ele não estava querendo ir. — Ah Jake, vamos lá! A última dança! Por favor! — Emy choramingava no colo dele. — Princesa, a sua última dança acaba se tornando três últimas danças e realmente não aguento mais. — Posso acompanhar você se quiser! — sugiro pegando ela de surpresa. — Ok, então acho que vou aceitar. — Boa sorte Ash, com essa garota na pista você vai precisar — Jake disse sorrindo e ganhando a alegre companhia de Clary, que não parava de fazer perguntas, encantada por ter conhecido ele também.

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Saímos do camarote rumo à pista de dança, minha mão na parte de baixo das costas dela – agora sim vi vantagem nesse vestido – em contato direto com sua pele. Eu estava ansioso, mal podia esperar para colocar as minhas mãos nela, dançar e ter seu corpo junto ao meu. Emily Minha cabeça estava uma bagunça, o que diabos estava acontecendo comigo? Decidi que não iria para o escritório na quinta-feira. Acho que estava tentando fugir de Ash, mas do que adianta? Ele não saia da minha cabeça, aquele sorriso, o perfume, as mãos... Já estava pronta para dormir quando comecei a pensar em Olin, desde a sua morte, eu não havia sentido desejo nenhum por outro homem, até agora, lembrei de como ele me tocava e suas mãos macias passeavam no meu corpo, seus beijos faziam minha cabeça girar. Deitei na minha cama, sozinha na escuridão do meu quarto comecei a passar as mãos pelo meu corpo, estava apenas com uma camisola, comecei a me tocar, esfregava meus dedos no meu clitóris, passava a mão nos meus seios, estavam inchados e sensíveis, aquilo fez a minha mente ir longe, imaginando que eram mãos fortes que me seguravam, estava delirando de desejo, cheguei a sentir seu perfume, ouvir sua voz. Gozei gritando o nome de Ash. Merda, isso não poderia ter sido pior, como eu comecei pensando no meu marido e terminei gritando o nome de outro? Aquilo era surreal. Meu sangue pulsava, minha respiração estava ofegante, eu ainda não acreditava no que tinha acontecido. Depois de trinta minutos eu ainda não conseguia dormir, precisei tomar um banho bem gelado para poder me acalmar. Trabalhei o dia todo na quinta-feira, de vez em quando olhava meu celular, uma parte de mim queria ver uma mensagem dele, outra parte ainda estava tentando entender o que tinha acontecido na noite anterior, só a lembrança já me deixava molhada. Sophia G. Paiva | 46


De noite Jake me ligou e falou que no dia seguinte nós tínhamos um compromisso, nada relacionado ao trabalho – graças a Deus –, só disse que íamos sair para comemorar minha volta. Na sexta-feira decidi me dar um dia de folga, a semana tinha sido puxada. Fiquei o dia todo em casa vendo filme e comendo besteira, no início da noite Ash me mandou mensagem – eu estava sentindo falta disso – me convidando para sair, infelizmente eu já tinha planos, não queria dispensar ele, mas Jake estava tão animado para a nossa saída que não podia recusar e eu também precisava sair, dançar, me divertir e me desligar um pouco daquele homem que ultimamente estava ocupando bastante espaço nos meus pensamentos. Jake chegou ao meu apartamento já passa de nove horas da noite. — Então, o que temos para hoje? — eu fui logo perguntando. — Vamos comemorar a semana que você finalmente conseguiu sair de casa. — Ok, isso eu já sei. Espere um minuto, cadê Clara? — Saiu mais cedo, foi na casa da mãe dela, vai passar o fim de semana lá. Amanhã me encontro com ela, hoje vai ser como nos velhos tempos, só nós dois. — Jake estava feliz e eu não podia negar, eu estava também. — Então vai ser uma noite de muito sexo, drogas e rock’n roll. — Eu realmente deveria ter tirado uma foto da cara dele naquele momento. — Só o Rock, o resto já faz parte do nosso passado. Terminei de me arrumar e fomos para uma boate, a proprietária era amiga de Jake, o local estava fervendo. O ambiente era incrível e muito luxuoso. Jake me garantiu que não haveria paparazzi, eu realmente não estava no humor para aguentar fotógrafos naquela noite, queria aproveitar, voltar um pouco no tempo. — Nossa, sua amiga deve ter bons contatos — comento enquanto caminhávamos para a área VIP, o lugar estava cheio de celebridades, modelos e atrizes famosas.

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— Ah sim, ela tem muita influência no meio, pensei que você fosse gostar, tem muita gente conhecida aqui. — Não sei, ainda me sinto meio deslocada. — Estamos juntos, vamos aproveitar a noite. Ele me passou um drink e caímos na pista de dança, era fácil dançar com ele, aos poucos ia reconhecendo algumas pessoas, modelos da minha época, atores, nos cumprimentávamos e voltávamos a dançar, a música era envolvente, os drinks maravilhosos e Jake era um acompanhante incrível. Já tínhamos dançado algumas músicas, meu corpo já estava suado, mas estávamos tão empolgados, era tudo tão envolvente, os drinks estavam fazendo bem seu trabalho, eu estava cada vez mais leve. Dançar com Jake era muito bom, ele era um par maravilhoso, lindo de morrer, sabia como me conduzir, suas mãos passeavam no meu corpo, sem nunca ultrapassar o limite, éramos amigos, mas sempre que dançávamos parecíamos algo mais. A pista estava cheia e nós estávamos a todo vapor, de repente, senti minha pele arder, como se algo atraísse meu olhar, foi nesse instante que comecei a olhar no meio da multidão e meus olhos pararam nele, Ash estava lindo, todo de preto, com uma camisa de botão meio aberta, com as mangas puxadas deixando seus músculos à mostra – eu tinha uma queda por braços masculinos –, tinha uma tatuagem que estava meio escondida na sua camisa, mas que dava a impressão de ser grande, ele estava sexy, me olhava com um olhar assassino que me deixou completamente excitada. Sussurrei no ouvido de Jake, avisei que tinha visto Ash e que ia cumprimentá-lo, Jake assentiu e disse que ia ao toalete, marcamos de nos reencontrar no camarote. Caminhei até aqueles olhos verdes, que estavam me atraindo como ímãs, a garota que estava com ele parecia se divertir bastante, seu rosto era familiar, mas eu realmente não sabia quem era e no momento não me importava. Depois que descobri quem era a garota que estava com ele, conversamos um pouco – os olhos de Ash não saiam de cima de mim – e logo os chamei para ir para o nosso camarote, lá Sophia G. Paiva | 48


encontramos Jake falando ao telefone, enquanto o garçom nos trazia champanhe e fizemos um brinde. A conversa fluía amigavelmente, estávamos todos alegres, a amiga de Ash estava se saindo uma ótima companhia. Ela e Ash voltaram para a pista de dança por um tempo e eu aproveitei para ir ao toalete, quando voltei sentei no colo de Jake e ele estava fazendo carinho nas minhas costas, aquilo sempre me relaxava. Estávamos nessa posição conversando quando Ash e Clary retornaram da pista de dança e Ash imediatamente ficou tenso, percebi quando Clary sussurrou algo em seu ouvido que fez sua mandíbula travar, ele me olhava novamente com aquele olhar assassino, Jake já estava um pouco bêbado e nem percebeu o que estava acontecendo, na verdade nem eu estava entendendo direito, ele estava com ciúmes? Do Jake? Percebi quando eles se afastaram um pouco de nós e ficaram conversando, depois que eles voltaram, sentaram-se a nossa frente e voltamos a conversar. Tentei convencer Jake a dançar comigo, mas ele não queria, quando Ash se ofereceu eu logo aceitei. Caminhei com ele para pista de dança, fui à frente, senti a mão dele nas minhas costas e uma onda de eletricidade passou por todo meu corpo, eu tinha a sensação de que não queria me soltar dele nunca mais. As músicas estavam fluindo, assim começamos a dançar, fiquei de frente para ele olhando em seus olhos. — Espero que não se canse tão fácil. — Nunca me canso da companhia de uma bela mulher. — Ele disse, enquanto me puxava colando meu corpo no dele, então começamos a dançar. Todos aqueles drinks e champanhe estavam fazendo bem seu trabalho, eu estava me sentindo leve e muito feliz, esse último sentimento, eu tinha impressão que era graças a meu novo acompanhante na pista. Quando a próxima música começou estávamos dançando quase que colados, a respiração de Ash era forte, eu balançava meus quadris, meu vestido sempre levantava um pouco deixando Outra Vez | 49


a mostra um pouco mais de pele do que o necessário. Suas mãos começaram a viajar pelo meu corpo – coxa, quadris e subiam devagar, quase que me desenhando, passava as mãos na lateral dos meus seios – seguindo a música, a batida era rápida, eu me virei de costas para ele e girava meu quadril, dançava sensualmente – só para ele. A cada música que tocava, eu ficava cada vez mais solta e receptiva aos avanços de Ash, percebi que ele estava tentando se controlar – o único problema, era que eu não queria que ele se controlasse. Percebi que não era a única excitada, senti que Ash estava duro. Quando começou a tocar Mirrors, de Justin Timberlakeele me virou para ficar de frente para ele e olhou fundo nos meus olhos, puxou-me para mais perto e ficou cantando a música no meu ouvido. Eu não pude resistir, coloquei meus braços ao redor de seu pescoço, peguei suas mãos e ele entendeu o recado, segurou-me com força e começou a passar as mãos pelos meus seios, encostei minha boca no seu pescoço e fiquei ali sendo estimulada e sentindo aquele perfume que cheirava a paraíso, dei leves mordidas nele. Segurava a cabeça dele com uma das mãos e com a outra segurava o cós da sua calça com a intenção de puxar ele cada vez mais perto, ele cantando no meu ouvido estava me deixando completamente louca. Assim como eu, ele começou a me pressionar mais perto, segurando meu cabelo com uma mão e com a outra descendo dentro do decote das minhas costas, passando suavemente pela minha bunda, quando chegou lá, ele soltou um rosnado que me fez morder mais uma vez seu pescoço, fazendo-me suspirar de desejo. Ele entendeu o convite e me deu mais, começou a beijar meu pescoço, de cima a baixo, passado as mãos discretamente pelos meus seios, ele beijou minha orelha e deu uma leve mordida, deixando-me cada vez mais excitada e ansiando por mais, muito mais, ele não chegou na minha boca, mas seus beijos eram carinhosos, ao mesmo tempo desesperados, sem perceber eu já estava quase que em outra dimensão. Apoiei-me nele, me esfregando cada vez mais, quando ele colocou seu dedo dentro Sophia G. Paiva | 50


de mim, esse foi o detalhe que faltava, mordi o ombro dele, nem sei se com muita força, eu já nem tinha noção de onde estava ou como estava. Só sabia que eu tinha acabado de ter um orgasmo fantástico, acho que ele percebeu, quando dei por mim, ele estava afagando meu cabelo, dando beijos carinhosos no meu rosto, enquanto minha respiração acalmava. Em algum momento antes do meu orgasmo lembro dele falando no meu ouvido “It's like you're my mirror”. — Oh Deus, me desculpe Ash, eu... — Não peça desculpas Emy, você não tem que se desculpar por nada. — Ash tentou me puxar para perto dele enquanto me afastava, quando olhei em volta vi que tínhamos nos afastado um pouco do centro da pista, estávamos quase que escondidos, então pelo menos acho que ninguém viu. — Sério Ash, perdoe-me, não sei o que deu em mim. — Já disse Emy, você não precisa se desculpar, acho que o que deu em você também aconteceu comigo, fomos nós dois e foi maravilhoso. — Eu não podia estar mais envergonhada, você é amigo do Olin e... — Falar o nome do meu marido me fez sentir ainda pior. — Eu acho que não estou me sentindo bem, desculpe, preciso encontrar Jake e ir para casa. — E com isso saí correndo para encontrar Jake, deixando Ash me olhando com um rosto tão assustado quanto o meu. Droga, mil vezes droga! Quando cheguei ao camarote encontrei minha bolsa e a sala vazia, olhei meu celular e vi a mensagem. Jake: Princesa, fui para casa, avise ao Ash que vou dar uma carona para a amiga dele. Te amo. Merda, sério que ele fez isso comigo? Chamei o garçom e ele me informou que estava tudo pago, saí de lá uma fera, estava xingando Jake de todos os nomes possíveis e imagináveis, e me sentindo cada vez mais tonta e enjoada. Fiquei parada na frente da boate pelo menos uns dez minutos, estava tentando assimilar tudo aquilo e chamar um táxi, meu celular não estava ajudando muito, ou era meu reflexo que já estava uma merda, celulares modernos e pessoas embriagadas Outra Vez | 51


realmente não combinam, foi quando senti uma mão no meu ombro. — O que você está fazendo aqui fora sozinha? — Ash me perguntou visivelmente irritado. — Jake foi embora, me deixou uma mensagem, ele deu uma carona para sua amiga também. — E por que você não me procurou? — Sério que você ainda pergunta o por quê? — Emy ouça... — Não Ash, ouça você, o que aconteceu não poderia ter acontecido, foi um erro, certo? Só quero chamar um táxi e ir para casa, eu realmente não me sinto bem. — Vem comigo, vou levar você. — Ash foi me conduzindo até o carro, eu já me sentia fraca e nem me aguentava em pé, então aceitei a carona. O caminho até em casa foi silencioso. Ele fez questão de subir comigo para ter certeza que eu estaria bem, me fez garantir que tinha alguém em casa para cuidar de mim e acho que só acreditou porque Maria veio abrir a porta – ótimo, sendo flagrada bêbada pela babá, já não me faltava mais nada. — Menina, você está péssima. — Obrigada Maria, você sempre levanta a minha moral nessas horas! — abri um sorriso fraco para ela. — Desculpe Ash, essa é Maria, minha babá, Maria esse é Ash, um amigo. — É um prazer, senhora. — Ele era realmente muito educado. — Então posso ir, acho que Emy estará em boas mãos. — Com certeza, Senhor! Já cuidei dessa menina mais vezes do que posso contar — revirei os olhos e parti para o meu quarto, sequer me despedi do Ash. Depois de um tempo Maria veio atrás de mim. — Menina, você precisa de alguma coisa? — Ela me perguntava com um tom de preocupação, ela tinha seus motivos, já me viu chegar em casa tão bêbada de ir parar no hospital. — Não Maria, não estou tão ruim assim, acho que você me conhece e saberia se estivesse, pode ir descansar. — Está bem, mas qualquer coisa me chame, ok?

Sophia G. Paiva | 52


Não respondi, simplesmente desabei na minha cama e comecei a chorar, eram lágrimas de frustração, de saudade e de culpa, não conseguia dormir, olhava aquele quarto, era tudo tão familiar, tudo lembrava Olin, num impulso comecei arrancar os lençóis da cama, joguei tudo no chão, espalhei todas as fotos que tinha guardado e fiquei olhando tudo, lembrando e chorando. Amanheceu e eu estava lá, não sabia que tinha tanta lágrima, estava deitada, cansada, mas ainda não conseguia dormir, Maria bateu algumas vezes na minha porta e eu disse que estava bem e que estava cansada e não ia sair da cama tão cedo, eu estava um trapo, a mesma roupa, a maquiagem borrada, o rosto inchado, eu me abraçava e chorava. O cheiro dele ainda estava em mim e acho que era por isso que não consegui tomar banho. Estava deitada na cama, quando alguém bateu à porta. — Emy, tem visita para você — Maria falou do outro lado da porta. — Quem visita alguém às oito da manhã de sábado? Fala para o Jake ir embora, não quero ver ninguém! — eu gritava para Maria. Eu sabia que ela não tinha culpa de nada, mas eu estava uma pilha. — Emy, sou eu. Abra a porta, precisamos conversar. — Era Ash.

Outra Vez | 53


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