SP Creole

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FICHA TÉCNICA DOCUMENTÁRIO Debora Komukai, José Magalhães, Karen Bodzevicius, Kevin Damasio, Lucas Sposito, Pamela Passarella e Thaís Lopes EDIÇÃO: Rodrigo de Britos ORIENTAÇÃO: Heidy Vargas DURAÇÃO: 22 minutos CARTILHA/FLIPBOOK

PROJETO GRÁFICO E TEXTOS: Kevin Damasio FOTOS: Debora Komukai e Kevin Damasio COLABORADORES: fotos Giulio Paletta, Logan Abassi/UNDP Global, Marcello Casal Jr/ ABr, Marco Dormino/ONU e UNDP Global; mapas e tratamento de fotos Charles Ville

WEBSITE

EDITORA: Debora Komukai ASSISTENTE: Lucas Sposito DESIGNER: Diego Honorato WEBMASTER: Ado Moraes

www.spcreole.com.br CRÉDITO DE FOTOS

Capa: Debora Komukai 4a capa (a partir da esquerda): Kevin Damasio, Giulio Paletta e Debora Komukai Página 3 (por linha, a partir do topo): 1–Logan Abassi/UNDP Global, 2–Marco Dormino/ UNDP Global, 3–UNDP Global, 4–Marco Dormino/Nações Unidas, 5-8–Kevin Damasio Página 30 (por linha, a partir do topo): 1-3– Kevin Damasio, 4-6–Giulio Paletta, 7-8–Kevin Damasio COORDENADOR DO CURSO: Rodolfo Carlos Martino DIRETOR DO CURSO: Paulo Rogério Tarsitano REITOR: Marcio de Moraes

SP Creole é um trabalho de conclusão do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, com apoio do Canal Futura e da Globo Universidades. 2014


GIULIO PALETTA



GIULIO PALETTA

SUMÁRIO 04 FICHA TÉCNICA 08 TRAILER 10 O HAITI 14 A IMIGRAÇÃO 18 MISSÃO ACRE 22 MISSÃO AC-SP 26 MISSÃO SÃO PAULO


TRAILER SP Creole acompanha os desafios do mais novo grande grupo de imigrantes que vêm ao Brasil, a maior parte a São Paulo: os haitianos. Em 2010, a população do Haiti foi vitimada pelo maior terremoto da história do país, que devastou principalmente a capital Porto Príncipe. As taxas de desemprego e pobreza dispararam, e muitos buscaram alternativas fora do país para reconstruir suas vidas. O governo brasileiro passou a emitir vistos humanitários aos haitianos. Contudo, em meio à burocracia para adquirir a documentação e a emergência por uma vida melhor, muitos optam pela rota ilegal. O documentário jornalístico começa no Acre. É por lá que a maioria dos imigrantes haitianos chegam, a partir de um percurso à mercê dos coiotes. Eles encaram uma viagem de em média 15 dias, na qual gastam mais dinheiro do que pela forma legal e são explorados durante a passagem pelo Peru, onde sofrem com


08-09

extorsão, roubo, fome e sede. Em Rio Branco, fica o abrigo que acolhe esses imigrantes e auxilia a retirada da documentação. O Acre normalmente é uma escala para os haitianos na viagem até o Brasil. Eles vêm com a ideia de procurar emprego no Sul e no Sudeste do país, especialmente em São Paulo. E é na capital paulista que SP Creole conheceu as condições de moradia e trabalho que os estrangeiros do país caribenho encontram. Viajamos de Rio Branco até São Paulo em um ônibus fretado pelo governo do Acre, com outros 43 imigrantes. A viagem cansativa durou 66 horas e, no final, mostrou o primeiro problema enfrentado por eles na maior cidade do país: ninguém os recepciona no desembarque, no Terminal Barra Funda. As condições que os imigrantes encontram em ocupações é descrita por Iliot e Michel, dois haitianos indignados com cobranças para viver em um lugar sem energia elétrica e água. Além disso, acompanhamos os primeiros passos para eles conseguirem um emprego, no qual o salário seja suficiente para se manterem na cidade e enviarem dinheiro à família no Haiti.


O HAITI Quando sentiu o tremor, às 16h53, Jocelyn Lareus dava aula de inglês em uma escola na capital haitiana, Porto Príncipe. Ele saiu em disparada ao encontro da família, que naquele momento estava em casa. Cerca de 35 segundos do terremoto foram suficientes para devastar o Haiti, situado entre as placas tectônicas do Caribe e dos Estados Unidos. Construções viravam escombros. Acidentes de carro e engarrafamentos. Prédios pegavam fogo. Mortos estendiam-se no chão. Feridos agonizavam de dor. O desespero de pessoas que perderam conhecidos ou cuja casa ou comércio foi abaixo. Jocelyn presenciou esse verdadeiro caos durante os 30 minutos de caminhada. Por sorte, os familiares e a casa estavam a salvo. No dia 12 de janeiro de 2010, o Haiti sofreu um dos maiores desastres naturais da história: um terremoto de 7.0 na escala Richter. Um terço da população foi afetada, sendo 220 570 mortos, 300 mil feridos e 1,5 milhão de desabrigados. O Palácio Nacional do Haiti, residência do presidente, virou ruína. Dos 49 hospitais no país, 30 foram danificados. A infraestrutura, que já era precária, piorou. Metade dos detentos fugiram das prisões. Seguiu-se uma época em que o Haiti precisou, desesperadamente, de ainda mais ajuda internacional. E a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), existente desde 2004 e comandada pelo Exército brasileiro, foi reforçada. No entanto, a situação no país continua ruim, degradada após uma epidemia de cólera em 2010 e dois furacões em 2012. No ano do terremoto, a taxa de desemprego no país caribenho beirou os 50%. Oito em cada 10 haitianos viviam abaixo da linha da pobreza. A emergência para reconstruir o país fez com que a fuga da população para outros países se intensificasse. Nesse fluxo migratório, um novo destino atraiu a atenção e aqueceu a esperança dos haitianos: o Brasil.


0

Capital Principais cidades Cidades 10

20 km

10-11

PANORÂMA HAITI

Números que explicam o êxodo dos haitianos da terra natal

10,32

168o

mi

em desenvolvimento humano.

de habitantes.

50,16%

24,5%

na linha da pobreza.

7,6

anos

tempo médio de estudo.

48,7%

desempregados.

adultos alfabetizados.

O TERREMOTO

Consequências do pior desastre natural do Haiti, em 12 de janeiro de 2010

7.0

220

30

65

de magnitude. dos 49 hospitais do Haiti atingidos.

TEXTO E MAPA: KEVIN DAMASIO

mil

mortos.

mil

crianças desnutridas. FONTE: ONU

1,5

mi

145

mil

desabrigados. viviam em abrigos após quatro anos.

300

mil

feridos.

50%

dos 8 535 presos no Haiti fugiram.


LOGAN ABASSI/UNDP GLOBAL FOTOS: UNDP GLOBAL

O terremoto de 12 de janeiro de 2010, que durou 35 segundos, destruiu a cidade de Porto Príncipe, inclusive o Palácio Nacional do Haiti (acima). Na capital, feridos foram atendidos na clínica médica de emergência da MINUSTAH (aos lados e abaixo), missão de paz das Nações Unidas no Haiti, comandada pelo Exército brasileiro.


MARCO DORMINO/ONU

O HAITI

Moradores caminham em Porto Príncipe (acima), à procura de sobreviventes e vítimas entre os escombros. O hotel Montana (ao lado) desabou. O caos tomou conta do bairro de Bel Air (abaixo). De acordo com a ONU, 220 570 pessoas morreram, 300 mil ficaram feridas e 1,5 milhão, desabrigadas. MARCELLO CASAL JR/ABR


A IMIGRAÇÃO Com os Estados Unidos e a Europa mergulhados em crises econômicas e o Brasil em crescimento e com amplo mercado de trabalho, as terras brasileiras atraíram a população do Haiti – e o governo federal, de fato, abriu as portas em dezembro de 2010. A quantidade de pedidos de refúgio, por outro lado, era intensa a ponto de o Conselho Nacional de Imigração não dar conta de emitir tantos vistos humanitários. Em um ano, quase 3 400 haitianos haviam solicitado o documento na embaixada brasileira em Porto Príncipe. Adicione o quadro sócio-econômico precário no Haiti à burocracia em adquirir a documentação para entrar no Brasil, e tenha um cenário favorável para a formação de uma rede internacional de intermediários – os “coiotes”. Uma rota irregular instalou-se nesse novo fluxo migratório de pessoas desesperadas em busca de trabalho. Os haitianos viajam de avião até o Equador, às vezes com escalas na República Dominicana e no Panamá. No começo, eles entravam por Tabatinga, Amazonas. Mas não demorou muito para que se consolidasse a passagem por terra pelo Peru, para entrarem pelo Acre. No trecho peruano, os imigrantes são submetidos a muita humilhação por parte de coiotes e policiais corruptos. Eles são vítimas de extorsão, roubo e furto, além de passarem sede, fome e pouco dormirem nos hotéis baratos ou dentro de vans e táxis. A viagem demora em torno de 15 dias e os imigrantes gastam mais do que se aguardassem pelo visto humanitário. A urgência, por outro lado, fala mais alto. No Haiti, pouco é informado sobre os riscos da rota ilegal. Apenas é dito que a documentação para se regularizar no Brasil sai mais rápido – o que é verdade. O volume de imigrantes vindo do país caribenho só aumenta. Em 2013, superou 20 mil. Para o final de 2014, a Organização Mundial para as Migrações estima que alcance 50 mil.


14-15

Porto Príncipe

Capital Cidade 0 700 1 400 km

Conexão Haiti-Brasil

O caminho dos imigrantes pelo percurso ilegal

15

dias

20

mil

US$

6

mil

tempo médio da viagem.

optaram pela rota.

2010-11

2012

2013

De dezembro de 2010 ao final de 2011, chegam ao Brasil pouco mais de 4 mil haitianos.

Ao longo do ano, 4 658 haitianos recebem visto humanitário do governo.

O número de imigrantes do país caribenho ultrapassa 25 mil.

chegam a gastar.

5 anos

validade do visto. 2014 Estima-se que 50 mil haitianos estarão no Brasil ao final de 2014.

TEXTO: KEVIN DAMASIO MAPA: CHARLES VILLE E KEVIN DAMASIO FONTE: MTE, OIM, SEDS-AC, SEJUDH-AC


A IMIGRAÇÃO

FOTOS: GIULIO PALETTA

Os haitianos que migram ao Brasil pela rota irregular viajam por terra pelo Peru, onde sofrem na mão dos coiotes. Em até 20 dias, eles são conduzidos em vans (acima) e táxis para Iñapari (ao lado), cidadezinha fronteiriça com Assis Brasil, Acre. Na alfândega entre os países, embarcam em um táxi-lotação (abaixo).


Na alfândega, os imigrantes assinam um documento de entrada no país (acima). De lá, percorrem a esburacada Estrada do Pacífico por uma hora e meia, até Brasileia e Epitaciolândia (ao lado). Na Polícia Federal, eles dão entrada no pedido de refúgio. Os que chegam à noite aguardam até o dia seguinte, em frente à PF ou na praça de Brasileia (abaixo).


MISSÃO ACRE Alívio é o que sentem os haitianos ao atravessarem a fronteira entre as cidadezinhas de Iñapari (Peru) e Assis Brasil (Acre). No município de Brasileia, eles param na Polícia Federal para dar entrada no pedido de refúgio. Com protocolo em mãos, seguem para a capital acreana, Rio Branco. O abrigo já não é mais em Brasileia, onde houve grandes crises de superlotação. A mais grave aconteceu em março e abril de 2014, quando a cheia do Rio Madeira fez com que 2 500 estrangeiros ficassem sitiados no município de 20 mil habitantes. Em meados desse ano, o abrigo foi transferido para Rio Branco, na Chácara Aliança. As secretarias de Desenvolvimento Social (Seds) e de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) do Acre alternam a coordenação do refúgio. O espaço de 5 hectares abriga até 250 pessoas – em setembro de 2014, entretanto, havia 700 imigrantes. Os haitianos dividem-se em dois blocos para homens e um para mulheres. Há ainda um setor para imigrantes de outros países, grande parte senegaleses, e outro para mulheres grávidas ou com crianças pequenas. A maioria dos imigrantes hospeda-se no abrigo por no máximo 15 dias, tempo suficiente para tirar CPF e carteira de trabalho e vacinar-se contra febre amarela, hepatite e tétano. Acompanhantes de crianças e adolescentes ou grávidas, contudo, hospedam-se por mais tempo. Café da manhã (café com leite e pão com manteiga), almoço e jantar (marmitas fartas, com sopas ou comidas típicas do Haiti) são financiados pelo governo do Acre. No abrigo, há uma lan house onde meia hora de internet custa 1 real. Os imigrantes possuem três opções para continuar a viagem: por conta própria, contratados por empresários de vários cantos do Brasil que vão até Rio Branco, ou com os ônibus fretados pelo governo do Acre, com destino a São Paulo.


Capital Cidade

Abrigo temporário Percurso

18-19

Primeiras paradas no Brasil

O que os haitianos fazem ao chegar no Acre

250 Limite de hóspedes no abrigo.

US$ Assis Brasil Da alfândega, seguem de táxi até Brasileia.

175

hospedavam-se no refúgio em julho.

700

hospedavam-se no refúgio em setembro.

BR-317

De táxi, vão ao abrigo da capital Rio Branco.

50

Gasto médio na viagem de Assis Brasil a Rio Branco.

Brasileia

Pegam protocolo de refúgio na Polícia Federal.

Rio Branco

No abrigo, retiram CPF e carteira de trabalho.

TEXTO: KEVIN DAMASIO MAPA: CHARLES VILLE FONTES: SEDS-AC E SEJUDH-AC

70

imigrantes chegavam por dia em setembro.

15

dias é o tempo médio de estadia no abrigo.


FOTOS: KEVIN DAMASIO

Em julho de 2014, em média 50 haitianos chegavam por dia no abrigo de Rio Branco, para onde vão de táxi-lotação. Pagam de 20 (acima) a 100 dólares, dependendo do motorista. No refúgio, são vacinados contra febre amarela, hepatite e tétano (à esquerda). Nas semanas coordenadas pela Sejudh, Alex de Oliveira (abaixo) dá aulas de português.


MISSÃO ACRE Jogar futebol no campo (acima) e na quadra do abrigo e cuidar do cabelo de conterrâneos (à direita) são distrações para os haitianos, enquanto aguardam a emissão de CPF e carteira de trabalho. Em 90% dos casos, os imigrantes ficam no abrigo no máximo 15 dias. A cada ônibus fretado pelo governo acriano, 44 partem para São Paulo (abaixo).


MISSÃO AC-SP SP Creole embarcou, com outros 43 imigrantes, na viagem de ônibus do Acre a São Paulo. Partimos às 7 da noite do dia 11 de julho. Pela frente, uma jornada de três dias e três noites, cruzando os estados de Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo. No percurso, houve oito paradas de meia hora para comer e usar o banheiro. De madrugada, atravessamos de balsa o Rio Madeira, que divide Acre e Rondônia. Às 5 da manhã, chegamos a Porto Velho. Trocamos para um ônibus mais apertado, porém em bom estado. Nas duas primeiras paradas, os haitianos alimentavam-se bem. No entanto, mais 2 900 quilômetros de estrada nos aguardavam. Os problemas começam a aparecer na parada para jantar, na rodoviária de Vilhena, divisa de Rondônia com o Mato Grosso. A maioria dos haitianos já não tem dinheiro para comer. Alguns reclamam de fome, outros entram no restaurante apenas para ir ao banheiro e em seguida voltam à plataforma de embarque. A cena persiste no dia seguinte, o terceiro na estrada. A fome gera, no fim do dia, uma cena de solidariedade: seis grupos de quatro haitianos dividem marmitas. A última parada aconteceu em Ourinhos, interior paulista. Os imigrantes lotaram o banheiro. Poucos tiveram tempo ou dinheiro para se alimentar. Às 2 da tarde, desembarcamos no Terminal Barra Funda, em São Paulo. O alívio por ter chegado ao destino dá lugar à angústia. Não há ninguém ali para orientar os imigrantes. Todos querem saber o que fazer a seguir. Alguns, para continuar a viagem – a Campinas, Santa Catarina, Curitiba, Goiânia –, precisam ligar para conhecidos e pedir o número do bilhete de ônibus. Outros não têm dinheiro para seguir na estrada. Grande parte vai ficar em São Paulo, em abrigos ou com conterrâneos. Por fim, vamos todos de metrô para o Centro da capital.


3 783 quilômetros de estrada.

66

horas de viagem.

08

paradas de meia hora.

Capital Cidade 0

Partida/chegada Percurso 200 400 km

22-23

Longa Jornada

Trechos e acontecimentos na viagem do Acre a São Paulo

Rio Branco–Porto Velho

Porto Velho–Ji-Paraná

Vilhena–Várzea Grande

Rondonópolis–Sonora

Campo Grande–Ourinhos

Ourinhos–Barra Funda

Do abrigo em Rio Branco à rodoviária de Porto Velho, levamos 10 horas pela estrada BR-364 e de balsa pelo Rio Madeira, que divide Acre e Rondônia. Problemas surgem na hora do jantar, em Vilhena. Muitos haitianos já não têm dinheiro. A partir daí, paguei salgados a alguns que se diziam famintos. Enquanto aguardavam o retorno do ônibus, na parada para jantar em Campo Grande, grupos de haitianos compartilhavam marmitas. TEXTO E MAPA: KEVIN DAMASIO

Paramos duas vezes nos 376 km. Os imigrantes alimentaram-se bem no café da manhã e no almoço. Descontração ditava o clima no ônibus. A fome toma conta neste trecho de 176 km. A falta de banho incomoda. Nas paradas, só há tempo para comer salgados e ir rapidamente ao banheiro. Desembarcamos no Terminal Barra Funda às 2 da tarde. O alívio de chegar dura pouco: na plataforma, não há ninguém para receber os imigrantes.


FOTOS: KEVIN DAMASIO

Alex de Oliveira recolhe os passaportes de 43 imigrantes em 11 de julho, quando o SP Creole embarcou na viagem de quatro dias do Acre a São Paulo (abaixo). Grávida de seis meses, Angeline Aimable, 22, (acima) caminha ao ônibus (ao lado, à esquerda) que a levará até Porto Velho, Rondônia, onde ocorre a troca do veículo por outro mais apertado, porém em bom estado (ao lado, à direita).


MISSÃO AC-SP

Extensos milharais eram paisagens constantes durante as 66 horas na estrada, de sexta, 11, a segunda-feira, 14. (acima). Nas últimas horas de estrada, esperança, ansiedade e insegurança rondavam as mentes dos imigrantes (à esquerda). Tertulien Pressoir, personagem de SP Creole, e conterrâneo (abaixo), com olhares atentos à capital paulista.


MISSÃO SÃO PAULO Geralmente, os haitianos dirigem-se a São Paulo com um destino na cabeça: a Casa do Migrante. É um abrigo da Missão Paz, instituição da igreja católica que acolhe 110 pessoas. Com o aumento do fluxo migratório, no entanto, espaços na Casa como o auditório e salões são abertos à noite, para que mais estrangeiros tenham um lugar para dormir. Quase 3 500 haitianos já foram acolhidos por lá. Além de abrigo, a Missão Paz oferece alimentação, aulas de inglês e português, creche, suporte educacional, jurídico e de saúde. Com a intensificação da vinda de haitianos à capital paulista, a instituição criou o Eixo Trabalho, que promove duas vezes por semana encontros entre empresários e imigrantes. Nessas entrevistas, 2 mil haitianos já conseguiram emprego. Em relação à moradia, a prefeitura criou no final do ano um abrigo para 110 pessoas. O governo, por sua vez, inaugurou um centro para acolher principalmente refugiados – o que não é o caso dos haitianos, que são apenas imigrantes. Os abrigos provisórios não atendem à demanda de estrangeiros. Com isso, têm os que moram com conhecidos, alugam apartamentos ou vivem em ocupações na região central da cidade. O documentário SP Creole retrata a vida de moradores do Palacete do Carmo, invadido em julho pelo movimento Luta por Moradia Digna. Ali, viviam cerca de 400 haitianos, até que houve reintegração de posse em 13 de novembro de 2014. Na capital paulista o custo de vida é muito alto e os salários dos haitianos, que giram em torno de 1 mil reais, não são suficientes para viver decentemente e ainda enviar dinheiro à família. A maioria trabalha em construção civil. Outra grande parcela na indústria de alimentos, seguido pelo comercio e por serviços gerais. Apesar dos desafios, os haitianos mantém a esperança de conseguir contribuir, à distância, para a reconstrução do Haiti.


De onde vêm os haitianos

Porto Príncipe e Gonaïves são cidades natais da maioria dos que vivem em SP Capital Principais cidades Cidades

1 a 15%

16 a 50%

26-27

Imigração haitiana na capital paulista SP é a cidade onde a maioria dos haitianos decide fixar residência

12

mil

estarão em São Paulo até o fim de 2014.

800

acolhidos na Casa do Migrante de 2010 a 2012. TEXTO E MAPAS: KEVIN DAMASIO

2

mil

empregados através da Missão Paz.

400

chegaram em SP na primeira semana de abril de 2014.

2 400 3 462 acolhidos na Casa do Migrante durante 2013.

FONTES: MISSÃO PAZ, OIM, PUC MINAS, SJDC-SP

acolhidos na Casa de janeiro a outubro de 2014.


GIULIO PALETTA KEVIN DAMASIO

GIULIO PALETTA

Olhares ao mesmo tempo assustados e esperançosos marcavam o semblante dos imigrantes com quem viajamos do Acre a São Paulo. Após desembarcar no Terminal Barra Funda, os imigrantes seguem de metrô (ao lado) até o bairro Liberdade (abaixo). De lá, uma caminhada de 10 minutos (acima) os separa do abrigo da Missão Paz.


DEBORA KOMUKAI

MISSÃO SÃO PAULO DEBORA KOMUKAI KEVIN DAMASIO

Ao menos 2 mil haitianos conseguiram emprego por meio da Missão Paz, que promove encontros entre empresários e imigrantes (abaixo). Nelson Nacius (acima) trabalha em construção civil e fazia bico de cabeleleiro, aos finais de semana, na ocupação onde morava com a irmã, Nacília (à direita). Em julho, ela conciliava a gravidez com o trabalho em uma confeitaria.




Extorsão, roubo, furto, fome, sede, noites mal dormidas... Ao sair do país de origem em busca de trabalho no Brasil, grande parte dos haitianos encara uma rota ilegal. Esse fluxo migratório teve início em dezembro de 2010, quando o Brasil abriu as portas aos haitianos, vitimados pelo maior terremoto da história do Haiti, em 12 de janeiro daquele ano. Os vistos humanitários demoram para sair na embaixada da capital Porto Príncipe. Tal burocracia, somada às condições de vida precárias do país (50,16% vivem abaixo da linha da pobreza e 24,5% estão desempregados), motiva a viagem irregular, em que ficam à mercê dos coiotes. Ao adentrarem no Brasil, pela fronteira entre as cidades de Iñapari (Peru) e Assis Brasil (Acre), a sensação de segurança aparece. Pela frente, contudo, os imigrantes encontram muitos desafios. Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, o documentário SP CREOLE acompanha a vida dos haitianos no abrigo do Acre, na viagem de quatro dias em ônibus fretado pelo governo acriano até São Paulo e a batalha deles para conseguirem sobreviver na capital paulista.

DEBORA KOMUKAI • JOSÉ MAGALHÃES • KAREN BOGDZEVICIUS KEVIN DAMASIO • LUCAS SPOSITO • PAMELA PASSARELLA • THAÍS LOPES ORIENTAÇÃO HEIDY VARGAS COORDENADOR DO CURSO RODOLFO CARLOS MARTINO DIRETOR DO CURSO PAULO ROGÉRIO TARSITANO REITOR MARCIO DE MORAES APOIO UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO E CANAL FUTURA Fotos: Capa © Debora Komukai, 4a capa © Kevin Damasio, Giulio Paletta, Debora Komukai www.spcreole.com.br


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