A Esposa Ideal (1890) Marco Praga Por quase todo o período realista, o teatro italiano manteve a obsessão do casamento e temas conexos. Aqui um monologo confessional do autor Marco Praga, antecessor direto da revolução Pirandelliana no teatro burguês italiano, conta a esposa vista da parte do amante.
Gustavo: Seriamente! Aquela mulher estranha, incompreensivel para quem a vê na vida doméstica a saber que é infiel, resolveu o problema de estar com dois homens ao mesmo tempo. Com um, està com o corpo e o coração. Com o outro, està com a alma e o cérebro. Assim, consegue ser amante apaixonada e mulher afetuosa. Razão por que o marido a recompensa com grandíssimo afeto e nem sonha duvidar dela!... Diga-me: de tantas mulheres adulteras, porque, cedo ou tarde, o marido acaba por perceber a falta?Em primeiro lugar, porque è a mulher mesma quem o revela. Isso mesmo! A partir do momento que tem um amante a mulher passa a ter tédio com o marido. Trata-o com indiferença, descuida-se dele, nega qualquer afeto. O pobre homem, que assiste a mulher a deixar de gostar dele, deve pensar que alguém ou alguma coisa se pôs em seu lugar. E começa a duvidar, a desconfiar. Começa a estudar a mulher, suas atitudes, suas palavras. A duvida cresce. Indaga, espia, arma a arapuca e descobre o amante… (…) Mas você não tem ideia do que faz Giulia com aquele marido. È um poema de afetuosidade, uma poesia de perfeição, de cuidados ininterruptos e incansaveis. Aqui deste lado, è ousada no amor. Nada a faz recuar, não tem medo de nada… (…) Depois de ter ter-me encontrado, volta para o marido sem cara feia, não se envergonha, não se aborrece. Ao contrário, volta toda faladeira, alegre, afetuosa. E no mesmo dia, para cumulo da precaução, leva uma lembrancinha, um bibelozinho, uma coisinha de nada, para demonstrar que se lembra dele o tempo todo, esteja perto ou longe; (…) … e ele, mesmo sem ser um bobo, alias, não sendo bobo por nada, terá, depois de uma coisa dessas, imaginado tudo, menos a infidelidade da mulher.
Tradução e adaptação de Maurício Paroni de Castro, para a SP Escola de Teatro