“O trágico aponta, já na origem, para esse movimento de questionamento em si. Ele não se esgota nos clichês de tragédia, constituindo-se antes num ponto – num momento – em que a realidade da obra fala de si. Mas o trágico aparece de maneira privilegiada no teatro de Nelson Rodrigues na insistente utilização, por parte do autor, desses clichês de tragédia. O que não significa que realize tragédias – num sentido estrito e acadêmico –, mas sim uma obra teatral moderna que tem ‘o poder de criar a vida e não imitá-la’.”
Foto: Murah Azevedo
NELSON RODRIGUES: TRÁGICO, ENTÃO MODERNO
Capa: Victor Burton Foto: J. Antonio/AJB
ANGELA LEITE LOPES
Angela Leite Lopes é doutora em filosofia pela Universidade Paris I – Sorbonne. Sua tese, orientada por Olivier Revault D’Allonnes, originou este Nelson Rodrigues: trágico, então moderno. Em 1997, recebeu o título de Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres, do Ministério da Cultura da França. Hoje é professora adjunta da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
ANGELA LEITE LOPES
Polêmico. Talvez seja este o termo mais utilizado ao se referir a Nelson Rodrigues. Se a inovação e a visceralidade de suas peças não lhe garantem unanimidade como melhor autor do teatro brasileiro, Nelson, ainda hoje, mais de 25 anos após sua morte, é certamente o mais conhecido – e comentado – dramaturgo do país. Em Nelson Rodrigues: trágico, então moderno, Angela Leite Lopes não apenas traça um panorama da obra de Nelson. A autora vem, com incrível capacidade de síntese e ao mesmo tempo clareza e profundidade, lançar luz sobre um importante e pouco explorado traço do teatro rodriguiano: a presença do elemento trágico. Neste ensaio, Angela, além de analisar as peças de Nelson Rodrigues, reflete sobre o conceito de tragédia para além do teatro deste, oferecendo ao leitor uma inteligente e instigante discussão sobre o sentido e o alcance do que se chama “trágico” e sua intrincada relação com a modernidade – na qual a obra de Nelson Rodrigues se insere. O teatro rodriguiano em uma abordagem inovadora; uma análise a um só tempo profunda e de agradável leitura – assim é Nelson Rodrigues: trágico, então moderno. Um ensaio que, se não faz o leitor-detrator amar as obras de Nelson, é capaz de redimensionar a produção de tão importante autor, abrindo uma nova janela para a apreciação de seu teatro.