Edicao60

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Ano 5 | n o. 60 | marรงo 2011

www.revistaalgomais.com.br

R$ 9,00

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Carta

do

Editor

P

Algomais nasceu em 5 anos

ermitam-me um dedo de prosa sobre o passado, o presente e o futuro de nossa Algomais que completa este mês cinco anos de existência com uma edição histórica de 164 páginas. O empresário Roberto Marinho dizia que uma publicação nasce ou morre em dez anos. Algomais contradiz tal assertiva porque nasceu em cinco anos. Vejam bem: em cinco anos, Algomais passou de 6 mil para 20 mil exemplares, em sede própria, distribuição pontual e elogiada qualidade editorial. A pesquisa dá a dimensão do sucesso: duas em cada três pessoas da Classe A nos lêem; na classe B, 30% são nossos leitores. Oitenta e oito por cento dos assinantes da revista são formadores de opinião, pois têm nível superior. A pernambucana Algomais se inseriu de vez no promissor mercado editorial brasileiro de revistas. E pisa firme na mesma direção, confiante no que aponta o futuro. Até 2014, os fabricantes nacionais de papel ampliarão sua capacidade instalada em 200% para atender a demanda das editoras. A Aner (Associação Brasileira dos Editores de Revistas) prevê pelo menos 20 novos lançamentos por ano (comparado com os Estados Unidos, diz o vice-presidente executivo da Abril Media, Jairo Leal, o Brasil pode dobrar o tamanho do seu mercado de revistas). É fascinante. Prestem atenção no desenvolvimento do Blog que a Algomais lançou em fevereiro último e o que ele pode representar doravante. Algomais trata da expansão da sua marca transferindo o sucesso da publicação para outras plataformas. Este é o sentido real do empreendimento. No futuro, segundo prevêem os especialistas, as revistas migrarão para a nova plataforma tecnológica dos tablets como o Ipad para descobrir uma nova fonte de receita: o comércio eletrônico. O e-commerce virá jun-

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to com as revistas, com anúncios interativos, links para mais informação, mapas, vídeos e realidade aumentada. Para nós, é um privilégio poder participar ativamente da montagem desse cenário. Afirmo que esta é uma edição histórica porque marca de forma brilhante os cinco anos da revista. Trabalhamos para lembrar as transformações ocorridas em Pernambuco nos últimos tempos e de que forma essas mudanças estão ligadas com o desenvolvimento da revista. Que foi premonitória logo no seu primeiro número. Em março de 2006, o título de Capa dizia: “Refinaria pode acertar o passo de Pernambuco” (confira no texto assinado por Ivo Dantas e Camila Lindoso). Para definir o que é a Algomais, transcrevo um texto que preparei para responder a pergunta que me fizeram há algum tempo: Como merecer uma reportagem da Algomais? Ei-lo: “Para merecer uma reportagem da Algomais é preciso ser, pertencer ou estar ligado de alguma forma a Pernambuco. É desta forma que a revista tem abordado os temas pernambucanos, procurando oferecer informações novas e uma análise equilibrada sobre a diversificada riqueza cultural do estado, seus personagens históricos e protagonistas contemporâneos, a economia em franco desenvolvimento e os aspectos relevantes de áreas dinâmicas como política, educação, saúde, tecnologia, religião, meio ambiente, esportes e comportamento. Uma atitude que identifica a Algomais como “a revista de Pernambuco”, slogan adotado desde o primeiro número que bem a define editorialmente”. Uma boa leitura. Roberto Tavares Editor Geral


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Sumário Seções

Carta do Leitor ........................................................... 10 Entrevista ................................................................... 18 Fuxicos Literários ......................................................... 24 Pensando Bem ............................................................ 26 De Olho ....................................................................... 28 Francamente .............................................................. 28 João Alberto ................................................................ 30 Pano Rápido .................................................................104 Economia .....................................................................114 Gestão Mais .................................................................118 Palavra do ibef-pe .........................................................120 Algom@is .....................................................................154 Comer Bem ..................................................................156 Memória Pernambucana ............................................160 Última Página ..............................................................162

Edição 60 Circulação 17.março.2011 Criação Alex Camilo e Rodrigo Linck Tiragem 20.000 exemplares

CAPA........................................................................................................................... 34

O novo passo de Pernambuco

Reportagens

Inversão de papéis....................................................... Entrevista | Eduardo Campos........................................ O início de um novo ciclo .......................................... Muito investimento, pouca qualidade ........................ Saúde ainda é alvo de polêmica ............................... Muitos projetos, poucas obras ................................. Os shows da cultura ................................................... ARTIGO | Pernambuco, o futuro agora .......................... Religião, literatura, política, medicina: aqui se falou de tudo .............................................................. Em sintonia com os fatos e os leitores ....................... Exportações em destaque ......................................... Um século de frevo ..................................................... Frevo visita o samba .................................................. Leão, imortal, imortal .................................................. O resgate do patrimônio de Olinda .......................... Um profeta passou por aqui ..................................... Suape chega aos 30 anos sem pisar no freio ........... Remédio feito de ciência e amor ............................. Respostas que interessam a Pernambuco ................. Eduardo X Quem? ........................................................ Entre a lealdade e a independência ........................... 8>

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O avanço da consciência ecológica .......................... 92 A marca de uma sertaneja ......................................... 94 População do Recife cresceu 8% ................................. 96 A economia do dia a dia ........................................... 100 ARTIGO | Para Sérgio Moury ....................................... 102 ARTIGO | Uma nova bolha à vista na Internet? ........... 106 Saúde e beleza em harmonia ....................................... 108 Degradado, Geraldão vai sofrer reforma milionária .... 110 Nova fábrica da Ambev vai gerar 200 empregos ....... 116 Elas estão mais “sabidinhas”? ..................................... 122 Pela preservação das aves de Aldeia .......................... 126 ARTIGO | O Plano Fatal ................................................ 136 Adeptos das cinquentinhas temem mordida do Detran .................................................................... 138 Indochina, Reino de Buda e da Motocicleta .............. 142 ARTIGO | Educação Ambiental - Um Desafio para a Escola ......................................................................... 146 Maria que inspira arte ................................................ 148 Madureira celebra 35 anos de carreira inventando arte ........................................................... 150 Talento pernambucano para os hermanos verem ....... 152 O Capitão e o Capitão capítulo 4 | Dona Pichita ......... 158


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Cartas do

Leitor

Maria Bonita I

Roberto, “ A marca de uma sertaneja”, matéria da repórter Mirela Soane, edição de fevereiro dessa Algomais, revelou o talento da menina. O tema é escorregadio, confesso, mas ela se saiu muito bem, sobretudo pelo curto espaço de tempo que dispunha e, ainda, ser um assunto desconhecido para ela. A “suite”, de Luiz Otávio Cavalcanti, “Renascimento do Sertão” está primorosa. Parabéns aos dois, a Roberto, Zé Neves, Sérgio e Adrianna Coutinho, pela diagramação. Wanessa Campos

Maria Bonita II

Lampião deu provas de saber logo ver a beleza da mulher. Fez sua companheira inseparável, sua Maria Bonita. Seus jagunços deviam babar com uma mulher bonita, natural e com coragem. À época devia tão somente usar água e sabão, mas já calçava algo em couro parecido até com os tênis de agora, resistentes ao solo sertanejo. Hoje com certeza seria a top-model das caatingas. Imaginem se tivesse os diversos produtos de maquiagem de hoje para ficar mais bela. Caso contasse com um estilista seria a nº 1 das passarelas do sertão. Que Wanessa Campos nos traga em seu livro um novo colírio para os olhos. Carlos Tigre, (Cacá)

Maria Bonita III

Mirela, quero parabenizar pelo excelente artigo “A Marca de uma Sertaneja”. Mostrou o lado humano e lindo de Maria Bonita, cuja beleza faz jus ao nome, mas ao mesmo tempo sua meiguice e elegância nos revela uma linda mulher desconhecida de todos... A capa está fantástica, olhar altivo, doce, mostrando a 10 >

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grande mulher que ela foi, as mãos afagando carinhosamente os cachorrinhos. Gesto esse que parte do coração de quem amou e foi muito amada na vida. É uma revista para ler e guardar. Tinane Almeida

Algomais I

Roberto: Acho que já se tornou normal dizer que a revista Algomais está pra lá de ótima. A última edição nº 59 veio para continuar coroando de êxito o trabalho que vocês vêm fazendo na imprensa pernambucana. A começar da capa com Maria Bonita, seguindo com a entrevista com Leonardo Dantas onde escancara a realidade do nosso atual carnaval (?). O artigo de Jorge Jatobá desnudando as mazelas de nossas praias. A matéria de capa onde descobri que minha amiga Wanessa Campos, competente jornalista, diga-se de passagem, está escrevendo um livro sobre a rainha do cangaço. A opinião franca sobre seus próprios livros do escritor Abdias Moura, além das matérias com o inesquecível Marcílio Campos e o nosso maestro Marlos Nobre que, se tivessem nascido no sudeste ou mesmo na Bahia, seriam mais reconhecidos. Infelizmente, nós pernambucanos, não sabemos valorizar o que é nosso e para finalizar, o artigo de Francisco Cunha, um eterno vigilante desse nosso Recife. Parabéns a você e todos que fazem a Algomais. José Torres - Praia da PiedadeGrande Recife

Algomais II

É louvável a forma como a direção da Algomais conduz cada edição dessa laboriosa revista, estando sempre a oferecer ao leitor os mais variados temas que abordam Pernambuco.

Sempre leio as excelentes crônicas do colunista Francisco Cunha, cujo zelo e desvelo com o meio ambiente muito me comovem. A preocupação do nobre jornalista caminha paralela à nossa, pois nasci no Recife e aprendi a amar essa cidade. Não é de hoje que interajo diariamente com tudo que diz respeito ao meio ambiente em seus vários aspectos. Emociono-me fácil só em ver seu pôr-do-sol. Converso com pássaros e falo, da minha varanda, todos os dias com as árvores do meu Rosarinho. A cidade do Recife é fascinante, reúne em seu espaço geográfico rios, pontes e um conjunto arquitetônico que remonta a quatro séculos. A cidade é linda e poderia ser bem mais não fossem a sujeira exposta e a falta de verde nas ruas e o desprezo com o pouco que ainda resta. Quem sabe as crônicas de Francisco Cunha, em forma de grito, não encontrem um dia guarida no peito de nossos gestores? Parabenizo à Algomais pela qualidade editorial de cada edição e por ter em seus quadros um cidadão que tem prestado bons serviços ao nosso esquecido Recife. Luiz Maia – Recife www.luizmaia.blog.br

Algomais III

Prezado Sérgio, parabéns a toda equipe da Algomais. Recebemos com alegria e muita satisfação, todos os meses, aqui em São Paulo , a Revista de Pernambuco, que está sempre cada vez melhor. Clementina tem muito orgulho em ter criado o Troféu que Algomais oferece a personalidades que se destacaram nas suas áreas, anualmente, e se considera parte da Revista. Neste Ano 5 que o sucesso continue!! u Nelson da Franca Ribeiro dos Anjos


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Cartas do

Leitor

Algomais IV

Sérgio: tenho recebido a revista e agradeço por isto. Esta ultima que tem a entrevista do Leonardo, achei muito boa até porque o comentário sobre o Galo da Madrugada é perfeito “Antes era paixão, hoje é negocio”. O artigo sobre Maria Bonita me deixou realmente sensibilizada porque é um resgate à nossa história e a mulher nordestina e a mulher como um todo. E a matéria sobre Marcílio Campos foi demais pois lembrei dos nossos sonhos nas mãos dele quando fazíamos quinze anos morávamos em Campina Grande. Mas meu pai (Agenor Vasconcelos, empresário de sucesso na área de panificação) só se conformava se as filhas fizessem vestido com Marcílio, foi demais... Muito bem merecida. Outro artigo, a titulo de sugestão,sobre as ruas do Recife e seus nomes, as pontes e seus nomes.Outro dia fui procurar saber quem foi o francês, até no Google e nada de saber quem foi Jean Émile Favre, só muito superficialmente e deixando muito a desejar. Muitos não sabem quem foi o conde da Boa Vista. Fica a sugestão. Isolda Vasconcelos

Menos uma placa

“Rodovia” Recife x Caruaru

Chico. É isso, rapaz, “Extermi-

Expediente

nadores do Passado do Recife”. Por coincidência, o tema do seu artigo na última Algomais é, também, tema de três crônicas minhas para o JC nas primeiras semanas de março: “Crônica da Casa Assassinada” (1 e 2) e “Recordações da Casa dos Mortos”. Nas três, a “casa”, infelizmente, é o Recife. Além de “vigiar e orar”, amigo, temos que resistir. A sanha dos “exterminadores” tem algo de nazi-fascista, não se iluda. Nessa guerra, temos que lutar como os marquis e partisans. Eles, os “exterminadores”, têm, por certo, poder e armas. Mas nós temos o que eles não têm. Inteligência e razão. Muerte a la burricie!, como diria Unamuno. A Algomais será nossa trincheira. Você, o general. Não tenho a menor dúvida, Chico, que os mineiros, atuais donos do Paço Alfândega, jogaram fora o acervo do “pequeno, mas encantador museu sobre a história do Recife que existia no andar da praça de alimentação”. Assim como estão esperando que o Chanteclair, em “obras” há dez anos, desmorone. Já está em ruínas. À luta, companheiro! E conte comigo na linha de frente do seu pelotão. Saudações pernambucanas. Joca de Souza Leão

Chamo a atenção para o que vem ocorrendo no leito da BR-232. Várias

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Francisco Carneiro da Cunha presidente

placas de concreto estão danificadas, os “remendos” efetuados são de baixa qualidade. Alguns veículos, para evitar a buraqueira, invadem perigosamente a preferencial do outro que vai corretamente viajando, o que provoca passagens perigosas. A sinalização não está boa como anteriormente se encontrava. O bonito e importante túnel que bem poderia ser rebatizado com o nome do inesquecível Joaquim Nabuco, está precisando de uma nova pintura e uma caprichosa mão de obra. Quando passamos pelo mesmo é que vemos como está diferente. Nada mais satisfatório seria para o embelezamento da movimentada estrada tronco-central Recife/Caruaru do que uma revisão urgente na mencionada BR-232, como também maior segurança será oferecida aos que utilizam a referida rodovia, principalmente os turistas. Reinaldo Lessa – Recife

O Capitão...

Fiquei impressionada com o realismo da reportagem-ficção O Capitão e o Capitão. Me senti como se estivesse sentada ao lado do Sinhô Pereira ouvindo-o contar as histórias... Isso é que é narrativa de qualidade! Com certeza vou acompanhar todos os capítulos dessa história (com um gostinho de quero mais) que a Algomais está nos dando o prazer de ler. u Rafaella Vieira - Recife-PE Fotografia Alexandre Albuquerque (81) 9212.9423

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Os artigos publicados são de inteira e única responsabilidade de seus respectivos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião da revista.

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Cartas do

Leitor

O nome da moda

Marcelo, obrigado pela homenagem prestada a Marcílio do qual sou primo em segundo grau, com quem tive o grande prazer de conviver. Gostaria de esclarecer que Marcílio trabalhava no Novo Continente, que era de propriedade do meu avô Bernardo Florentino Alves Campos e de meu pai, Milton de Oliveira Campos, e não na casa Matos. Meu avô era tio de Wilson da casa Matos. Bernardo Campos – Fortaleza OBS: Complementando, gostaria de acrescentar que foi o meu avô, Bernardo Campos, quem custeou a viagem de Marcílio a Paris, e que o Novo Continente era uma grande, e a melhor, loja de tecidos e roupas da Rua da Imperatriz. Depois de vir de Paris, onde foi duas vezes para a Maison Dior, Marcílio ganhou de O Novo Continente um ateliê no primeiro andar. Posteriormente ele se instalou num casarão na Rua José de Alencar.

Marcos Alencar I

A entrevista concedida por Marcos Alencar à Algomais foi extremamente sensata, objetiva e de uma clareza espetacular, contribuindo enormemente para o debate sobre a melhora do Judiciário brasileiro. Se alguns dos pontos abordados fossem colocados em prática, com certeza iriam prover ganhos para toda a sociedade. Gustavo I. Passos Lima

Marcos Alencar II

Parabenizo Marcos Alencar pela abordagem de um paradigma nacional: as leis do trabalho. No mínimo é um contra-senso como o Brasil tutela a relação de trabalho, inibindo a gera14 >

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ção de oportunidades formais, punindo a produção nacional em um mercado tido como global. Neste quesito os países asiáticos estão há séculos no rumo certo.” Gustavo Schwambach R.D.Grupo Borborema

Porto de Galinhas

Quero comentar sobre a matéria De Olho edição nº 006 que fala sobre Porto de Galinhas, onde deveriam oferecer ao público turistas ou não uma qualidade de serviços, hospitalidades e preços razoáveis de um lugar onde se possa passar um dia, final de semana com a família pagando-se uma quantia acessível a todo público, mas o que presenciamos é uma caristia de todos os lados, só para ficar em uma barraca/cadeira praia por exemplo, temos que pagar no minímo uns R$ 40,00 e ainda consumir um prato cardápio que sai acima dos R$ 35,00,e uma diária no barato fica por uns R$ 600,00. Desse jeito vão espantar os turistas.... Como diz o nosso Alexandre Garcia, É uma VERGONHA uma coisa dessa ! O sol brilha para todos, vamos aproveitar/curtir aquela beleza da natureza que Deus nos deu e não esplorar o próximo Aminadab de Castro Melo

Via Mangue I

Mirela Soane, meu nome é Roberto Carvalho de Medeiros. Sou oficial da Marinha reformado no posto de Capitão-de-Mar-e-Guerra e resido atualmente em São Paulo (Capital) onde atuo na área acadêmica. Recebo regularmente a excelente revista Algomais aqui em SP, uma cortesia especial do Sérgio Moury Fernandes, onde procuro contribuir divulgando-a junto ao meu círculo de pessoas. Li, com inte-

resse (n.58 - Jan/2011), a matéria elaborada pela sra sobre a “Consciência ecológica x poder social”, com especial atenção ao assunto relacionado com o “Parque dos Manguezais”. Tive o privilégio de ser um dos Comandantes da antiga “Estação Rádio Pina” durante os anos de 1989 e 1991, retornando ao Recife em 2003 para exercer o cargo de Capitão dos Portos de Pernambuco entre 2003 e 2005. Em decorrência, participei diretamente das atividades desenvolvidas pela Marinha naquele local, tanto como ex-comandante da Rádio Pina, bem como seu representante no estado de Pernambuco, neste caso administrando aquele gigantesco espaço geográfico como “área de responsabilidade da Marinha” após ter sido desativada aquela Organização Militar. Sempre defendi a transformação daquele terreno em um espaço misto, separando uma parcela mais apropriada para uso acadêmico (pesquisa e investigação científica), e deixando outras duas para uso público mediante acompanhamento especializado (visitas, caminhadas, etc.) e para lazer recreativo. Permaneço com este pensamento e faço votos que as etapas posteriores às atuais sejam promissoras e convergentes. Tão logo começou o debate sobre o destino desse terreno, recebi um e-mail de pessoas conhecidas pedindo que eu comentasse tal assunto. Decidi escrever um texto registrando minha experiência, expectativas e sugestões. O arquivo em anexo contém o meu artigo o qual convido para você conhecer, a fim de contribuir para sua pesquisa e, quem sabe, servir como uma provocação para uma outra matéria específica e/ou complementar. Comandante Roberto Medeiros. prof. universitário. (11) 7035-3962. u


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Cartas do

Via Mangue II

É com profundo pesar pela ignorância da população em entender o verdadeiro significado desta “Via mangue” e pelo alento de vossa reportagem publicada recentemente na Algomais sobre consciência ecológica que espero estar contribuindo com as informações que se seguem. Basta um ligeiro estudo para se verificar que a pecha de desafogo de trânsito não vai se concretizar. Vai apenas trocar de lugar. É fácil elencar os gargalos: 1° cruzamento: Antônio Falcão (que flui com grande fluxo no sentido Boa viagem Imbiribeira). 2° cruzamento: Antônio Galvão ( que flui no sentido inverso) 3° ponto: estreitamento do túnel 4° ponto: saída do túnel em confluência com a saída do Carrefour em via de apenas duas faixas estreitas e invadidas por diversos comércios (hoje já engarrafado nos horários de pico). 5° ponto: Barão de Souza Leão ( sem comentários). 6° ponto: Capitão Zuzinha ( sem comentários – enorme fluxo vindo do aeroporto e zona sul a boa viagem) Estes serão os novos pontos de envazamento que não serão resolvidos, pois não há interesse em resolvê-los. Então? Qual a solução? Muito mais rápido e menos oneroso seria reduzir drasticamente o número de cruzamentos da av. Domingos Ferreira; eliminar o canteiro central; acabar com o estacionamento nas ruas adjacentes que receberão o tráfego de retorno; colocar fiscalização efetiva no sentido de e manter este fluxo em andamento em detrimento da indústria de multas; e, finalmente, conscientizar a população no sentido de manter nosso ecossistema 16 >

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para as gerações futuras protegendo-o com ações de esgotamento sanitário decente, fiscalização atuante para evitar invasões, sem apadrinhamento de políticos demagogos e investir essa dinheirama em um sistema de transporte de massa sobre pilotis nos atuais “canais de esgoto a céu aberto” vindo desde Barra de Jangada, passando por Candeias, Piedade, Boa viagem, Pina até encontrar o metrô na atual estação Joana Bezerra. Depois, eliminar os ônibus desse trecho e trazer transporte interligando este “metrô” ao metrô ferroviário atual. Mas, para isso, teríamos de ter um governador e prefeito comprometidos com política de transporte de massa, turismo e preservação ecológica. Artur Wiedemann - Recife

maligna que se espalhou pelo Nordeste – uma invenção baiana que está acabando com Pernambuco. Acabaram com as orquestras de frevo, com as bandas de música que são a nossa cultura, principalmente o Carnaval. Em todas as bandas existem compositores de frevo. Não existe frevo sem banda nem banda sem frevo. Outrossim pagam milhares de reais aos trios, quando por muito menos teríamos várias orquestras, valorizando nosso povo e nossa economia, pagando aos músicos que gastariam o dinheiro na cidade. Muitos trios elétricos são de outras localidades, recebem milhões e vão gastar em outro estado, é uma evasão de divisas. E Carnaval é frevo. A Prefeitura do Recife faz um concurso de músicas carnavalescas em cima do Carnaval, não divulga as músicas com as bandas. Como vão tocar músicas que não têm as partituras e não conhecem? O concurso deve ser em outubro e o mês de novembro deve ser reservado para a distribuição dessas partituras com as bandas. Leonardo Dantas é um grande carnavalesco e sabe o que fala. Renan Pimenta de Holanda Filho

Trio Elétrico

Parabenizo esta revista pelas magníficas matérias publicadas na edição 59. Foi muito oportuna a entrevista com Leonardo Dantas sobre o Carnaval. É uma realidade o que ele fala principalmente do Galo da Madrugada que deixou de ser um clube de máscara para se tornar um rap, um algomerado de pessoas com o mesmo objetivo: ocupar espaço nas ruas, fazer parte da multidão para nada. Não há dança nem beleza para ser admirados como nos clubes carnavalescos que têm as troças, os blocos líricos, os maracatus etc. O Galo passa pelas ruas em vários trios elétricos deturpando nossas tradições culturais e até mesmo acabando com elas usando os trios elétricos. Essas máquinas produzem som estridente que prejudica o ouvido provocando surdez. Também mutilam árvores, partem fios elétricos e rasgam a ornamentação das ruas. O trio elétrico é uma praga

Alexandre Albuquerque

Leitor


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Entrevista Alexandre Albuquerque

A revista de Pernambuco

Algomais: revelando Pernambuco para os pernambucanos ANIVERSÁRIO | Com o compromisso de ser “A Revista de Pernambuco”, Algomais analisa desde o início o recente ciclo de desenvolvimento do Estado

A

Algomais surgiu em 2006, quando Pernambuco ainda não era alvo dos holofotes da mídia local e nacional devido ao ciclo de desenvolvimento que o Estado viveria nos anos seguintes. Atenta aos primeiros indícios dessa nova fase e à lacuna existente no mercado editorial de revista, a Algomais se propôs a acompanhar e analisar 18 >

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criticamente todos os fatos políticos, sociais, culturais e econômicos que movimentariam a vida do pernambucano. Com a proposta inovadora de assinatura gratuita e entrega na residência do leitor, a Algomais pouco a pouco mostrou seu profissionalismo e competência,

conquistando credibilidade e tornando-se, literalmente “A Revista de Pernambuco”. Nesta edição especial de aniversário, os sócios da Algomais Sérgio Moury Fernandes, Luciano Moura, Francisco Cunha e Ricardo de Almeida falam como surgiu o projeto, os desafios, as iniciativas lançadas e os planos para a revista.


Como foi a definição da periodicidade,

“A grande estratégia para circular mais foi o compromisso de entregar a revista na casa do leitor em determinado dia do mês e cumprir”

Alexandre Albuquerque

“O sucesso se deve ao projeto comercial de circulação, qualidade editorial e ao foco voltado para Pernambuco”

do plano de negócio e distribuição? Sérgio | A primeira ideia era que fosse semanal e depois decidimos fazer mensal. Discutimos a estrutura de redação e concluímos que a distribuição seria através de assinaturas e que não deveríamos cobrar por essas assinaturas e que elas seriam de graça. Fizemos o plano de negócio para que ela recebesse a receita de publicidade e esta é a maneira que estamos até hoje. Compramos inicialmente um mailling, ou melhor, uns dois ou três maillings que davam 17 mil nomes. Fizemos uma primeira triagem e de 17 mil passamos para sete mil; na segunda triagem, passou para quatro mil e com este número começamos. Quatro mil exemplares mandamos para as casas das pessoas e dois mil para venda. Isto é, começamos com a tiragem de seis mil exemplares. Como foi a composição da sociedade? Sérgio | Eu como pessoa física e sociedade com a TGI. Tempos depois, passei para Luciano uma porcentagem da minha parte. Então, hoje, somos eu, Luciano e a TGI. Alexandre Albuquerque

Como surgiu a ideia de criar a Revista Algomais? Francisco Cunha | Fui para uma festa de fim de ano da Fecomércio e Antônio Magalhães comentou que havia percebido que o ambiente de Pernambuco era propício para uma revista. Ele citou o caso da Carta Capital, que começou quinzenal e foi progressivamente passando para semanal. Também falou sobre uma palestra que havia participado em que o palestrante falava sobre isso e me perguntou se eu queria participar de um projeto desse tipo. Fiquei muito honrado, mas expliquei que não entendia nada de duas partes fundamentais de um projeto editorial. Além do editorial propriamente dito (que ele poderia dar conta), tinha a parte comercial e a parte de circulação, que são essenciais em um projeto editorial. Conversei com Sérgio sobre esse projeto. No momento ele ouviu, mas não esboçou muita reação. Até que um dia ele me ligou... Sérgio Moury Fernandes | Coincidiu que na época eu estava saindo do Jornal do Commercio. Fiquei pensando na proposta e achei que poderíamos evoluir o projeto. Tivemos um segundo encontro com Antônio Magalhães e pedimos a ele um projeto de estrutura de redação. Ele nos apresentou um projeto com estrutura semanal e chegamos a conclusão de que não valeria a pena fazer com uma estrutura desse tipo. A dificuldade de fazer uma revista semanal é quase a mesma de fazer um jornal diário e a gente pediu que refizesse o projeto no formato de revista mensal. O nome Algomais já veio no projeto de Antônio Magalhães e mandamos logo registrar. Tivemos vários problemas porque já tinha um horóscopo registrado com esse nome. Pensamos em vários outros, mas nenhum nos agradou. Neste meio tempo, demos prosseguimento ao projeto até que nos informaram que o nome tinha ficado caduco e entramos com o processo imediatamente e saiu o registro da marca Algomais.

Sendo uma revista gratuita, qual a estratégia para conseguir mais leitores? Luciano Moura | Não existe uma estratégia só. Existe um conjunto de ações, de estratégias. A decisão de fazer a revista gratuita não foi aleatória. A gente ouvia por aí, em conversas, em eventos realizados em outras cidades, que existia uma tendência mundial de mídia impressa gratuita muito forte. E já decidimos nascer assim.. Também foi importante a captação de novos assinantes com ações específicas e pontuais em restaurantes de classe A e B, em eventos da TGI etc. Ricardo Almeida | O número zero da revista foi lançado em um café da manhã da TGI, em dezembro de 2005 e recolhemos muitas assinaturas porque todo mundo que recebia a revista já se cadastrava como assinante. Colhemos assinaturas em vários eventos ligados ao mundo publicitário, a segmentos específicos de mercado. Era uma forma de estar apresentando a revista ao mercado e ai começou o boca a boca, a repercussão e a revista passou a ser desejada, esperada. Outra coisa importante é a pontualidade. Por isso o slogan: revista pernambucana, pontualidade britânica. Além da estratégia comercial, da pontualidade, qualidade gráfica e distribuição gratuita outra coisa importante foi o conceito, a linha editorial que ela defende desde sempre. Sérgio | A grande estratégia para a Algomais ter crescido em circulação foi o nosso compromisso de entregar a revista na casa do leitor em determinado dia do mês e cumprir. Hoje estamos tirando 18 mil exemplares. Desses, 16.600 são para assinantes. Esta edição de março, de aniversário, foi de 20 mil. Como vocês definiram o slogan “a revista de Pernambuco”? Luciano | Lembro exatamente como foi. Numa reunião de pauta, Francisco falou que sentia falta de alguma coisa que amarrasse o nome da revista a Pernambuco. Ele disse que precisávamos definir isso e nos 2011 março >

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Alexandre Albuquerque

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“Tenho orgulho de dizer que fui eu quem sugeriu o slogan ‘A revista de Pernambuco’”

“Sentíamos falta de um veículo que pudesse abordar de forma consequente e isenta o momento que Pernambuco estava vivendo”

Alexandre Albuquerque

apropriar porque se não fizéssemos, alguém iria fazer. Naquele momento discutimos e ficou como dever de casa pensar em um slogan para a revista. Foram sugeridos alguns e o escolhido foi: a revista de Pernambuco. Tenho orgulho de dizer que fui eu quem sugeriu. Foi votado e escolhido por ser simples, direto e objetivo. Ricardo | A gente sentia falta de um slogan. Um dos slogans da TGI é: Sintonia com o mundo, crença responsável no Brasil e compromisso radical com Pernambuco. E nós sentíamos falta de um veículo que pudesse abordar de maneira mais consequente, mais isenta o momento que Pernambuco estava vivendo, sem ufanismo, mas sem derrotismo. A gente compreendia que o estado começava a viver um momento extraordinário da economia, como estamos continuando a viver, e não havia uma abordagem mais sistêmica, mais compreensiva dessas questões. Essa foi uma opção: ser a revista de Pernambuco. Francisco | Naquele momento, há cinco anos, embora já tivesse iniciado esse ciclo de crescimento de Pernambuco, a refinaria parecia ser o grande projeto estruturador do estado. Na época de lançamento da revista a mídia não dava ao fato de que Pernambuco viveria um novo ciclo o mesmo destaque que dá agora. Não tinha um veículo que estivesse voltado, sintonizado com este novo momento. Como não tinha, era uma boa oportunidade para a Algomais ocupar esse espaço. Lembro quando levamos a revista para o, então, governador Jarbas Vasconcelos. Ele disse: essa revista veio ocupar uma lacuna em relação a

cobertura deste novo momento que Pernambuco está vivendo. Como a Algomais alcançou credibilidade? Francisco | O sucesso se deve ao projeto comercial de circulação, qualidade editorial e ao foco voltado para Pernambuco, principalmente porque não havia um veículo focado nisso. Ela foi ganhando credibilidade ao longo do tempo por causa dessas três coisas. Hoje ela tem a credibilidade editorial suportada por uma estratégia comercial e de distribuição. Hoje ela atinge os principais formadores de opinião da região. Luciano | A qualidade editorial também se deve ao fato de não existir vinculação entre a área comercial e editorial do tipo: faz um anúncio que a gente faz uma matéria. Já devolvemos anúncios porque ficou mal entendido em algum momento. Inclusive isso está previsto na carta de princípios publicada numa das primeiras edições da revista. Francisco | Outro aspecto que contribui para a qualidade da revista é o funcionamento regular do conselho editorial. Isso é uma característica marcante da revista. O conselho editorial funciona de fato e realmente se encontra mensalmente e discute o conteúdo, a pauta, projeta um número à frente e não só o que vai sair. Avaliamos também a edição anterior. O preço é um elemento estratégico, principalmente para o público A e B. De alguma forma o fato da revista ser gratuita foi uma preocupação? O fato de não ter preço poderia preju-

dicar a credibilidade da revista? Francisco | Não existia em Pernambuco nada parecido. Com a abrangência que a revista se propôs, ninguém havia feito uma distribuição para um mailling de seis mil pessoas logo no seu lançamento e gratuito. Receber em casa uma revista que não pediu, não assinou, gera um momento de desconfiança. Que revista é essa? Qual o propósito? Serve para que partido político? O povo pernambucano é muito partidário, portanto, claro que levou um tempo para ganhar essa credibilidade por não ser algo assinado. À medida que o tempo foi passando, essa barreira foi transposta. Sérgio | Nós fomos persistentes. A gente botou na cabeça que ia fazer a revista com distribuição gratuita e fomos persistentes. Em algum momento pensaram em desistir? Sérgio | De maneira nenhuma. A Algomais nos dá mais prazer do que dificuldade. Desde o número zero (que circulou de forma experimental, com mil exemplares) até a edição 60 que estamos fazendo agora, a revista sempre cresceu em alguma coisa de um número para o outro. Não tinha motivos para pensar em recuar o projeto. Pelo contrário, sempre pensamos em crescer. Ele está sempre evoluindo. Francisco | Quando me perguntam o que eu achei da revista, digo que sou suspeito pra falar. Sempre acho que a revista atual é melhor do que a anterior. Continuo achando. Luciano | Isso é muito claro. Os primeiros comentários sobre a revista se resumiam a: “parabéns pela revista!”; “A revista é ótima!”. Hoje o que vem são comentários sobre as matérias, sobre o conteúdo. Como é a equipe de profissionais da Revista Algomais? Sérgio | Quando iniciamos o projeto, era para ter uma estrutura de redação terceirizada (freelancer) para produzir a revista. Teria Antônio Magalhães, que foi o pai do negócio, e o


resto das matérias seria distribuída com o pessoal contratado. O entendimento era que teríamos os melhores jornalistas de Pernambuco escrevendo pra revista. Mas com o tempo percebemos que isso poderia trazer algum problema. Embora os caras fossem competentes, não existia um compromisso de base com a carta de princípios da revista. Então fomos evoluindo para uma estrutura de redação própria. Foi aí que tomamos a decisão de fazer sempre assim: ter dois jornalistas mais experientes e o resto da equipe de gente jovem - jornalistas e estagiários pra que a gente forme mão de obra. O conceito hoje é esse: temos os experientes Roberto Tavares e José Neves e os jovens Ivo Dantas, Mirela Soane e Camila Lindoso. Ivo foi estagiário nosso e agora é responsável pelo Blog.

O futuro do segmento revista aponta para uma forte consolidação do meio digital como mídia informativa

Hoje se ouve falar em tablet. Esse é um caminho para a revista? Francisco | Curiosamente, depois que entramos no mercado houve todo tipo de oferta, de todo tipo e natureza, que causou uma confusão no mercado. Mas, como já foi falado, por causa do profissionalismo e da seriedade a Algomais vai se firmando cada vez mais. Mas essa questão levantada é muito interessante. Qual é o futuro da mídia no segmento de revista, considerando todas as novas tecnologias? A turma da internet está conseguindo derrubar governos, que dizer da informação? Eu acho que haverá uma forte tendência da consolidação do meio digital como mídia informativa. Se isso vai se transformar, como alguns já vem se transformando, em completamente digital, só o futuro vai dizer. Eu acho que não. Assim com a televisão não acabou com o cinema; a TV não acabou com o rádio e esses meios convivem, os novos meios também vão conviver, mas será cada vez mais seletivo. Será cada vez mais segmentado. Por conta disso, o nosso projeto já contempla a segmentação.

Transferir parte do nosso conteúdo para digital, através do blog, é uma tentativa de saber como esse terreno irá se comportar. Quem disser que sabe, ou está enganado ou enganando. Hoje já tem revistas e livros feitas para o Ipad. Como é que isso vai se comportar? É o Ipad que vai prevalecer ou outros tablets? Quais outras iniciativas marcaram a história da revista? Luciano | Uma das coisas é o Prêmio Quem Faz Algomais por Pernambuco que temos feito com muito cuidado, muito critério. Em um dos prêmios, o governador Eduardo Campos foi um dos mais indicados e ele fez questão de estar no evento. A presença dele causou um enorme congestionamento no trânsito e lembro claramente que ele disse o seguinte: Pernambuco tinha televisão de qualidade, jornais de qualidade, mídia de qualidade como um todo. Faltava uma revista. Faltava. Porque agora tem a Algomais. A revista também desenvolveu outras iniciativas como o Polo Jurídico e o Anuário Sócio Econômico de Pernambuco. Todos os estados do país tinham, menos Pernambuco. Inclusive, a Secretaria de Imprensa do Governo nos procurou certa vez solicitando algumas edições do anuário, pois o governador faria algumas visitas e gostaria de levar o material u consigo.

Alexandre Albuquerque

Quais são os desafios da revista? Luciano | Crescer. Crescer sempre. Do ponto de vista comercial, vender mais. Do ponto de vista de distribuição, distribuir mais. Do ponto de vista de redação, fazer mais belas matérias como a que foi feita sobre Maria Bonita, publicada na última edição. Sérgio | Consolidar a revista. Pessoas que não acreditavam na revista hoje são admiradores dela. Consolidar o projeto como meio de comunicação – esse é o grande objetivo da gente. Isso inclui crescermos muito

na internet, porque eu acho que não tem como dissociar internet do papel. Queremos melhorar, cada vez mais, a parte de conteúdo, melhorar a revista, ver a questão gráfica, sempre estar acompanhando a evolução gráfica, o que tem de novo no mercado.

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Os leitores perguntam se a Algomais será quinzenal, semanal? Sairá da fronteira de Pernambuco? Sérgio | Fizemos uma pesquisa no ano passado que mostrou que nosso leitor está satisfeito com uma revista mensal. Com relação ao mercado regional, já fizemos um teste e comercialmente não é interessante. Além disso, iria mexer na nossa ideologia que é: “Algomais, a revista de Pernambuco”. O plano que temos é manter a revista mensal, fortalecer o nosso blog e pensamos ainda para este ano interiorizar a revista. Vamos abrir aos poucos para Gravatá, Serra Talhada e ampliar Caruaru. Com relação a mudar a periodicidade, também fizemos a experiência com a Algomais Express que serviu mais como um “espera blog”. Serviu de transição, pois precisávamos movimentar a redação, com notícias rápidas e curtas. Vamos desativar a Express para poder focar e consolidar a revista Algomais e o blog.

plo, Boa Viagem tem está dividida em três áreas. Bairros maiores são divididos em sub-roteiros. Tudo isso é acompanhado por um sistema de informática que controla o assinante, o roteiro, o bairro. Temos hoje o sistema da Cartello que controla o cadastro do assinante e estamos desenvolvendo um sistema da CWA, específico de circulação que devemos inaugurar no decorrer deste ano. O sistema da CWA é responsável pela circulação dos principais jornais e revistas do Brasil, entre eles o Jornal do Commercio. A revista é auditada. Mas o que é isso exatamente? Luciano | Isso é algo que diz respeito diretamente à área comercial. Numa situação hipotética, seria muito fácil pra mim dizer que tiro 50 milhões de revistas. Ter auditoria significa dizer eu tenho 50 milhões e provo. Porque existe uma auditoria externa séria que vai à gráfica, certifica-se, pode até ligar para alguns assinantes para checar o recebimento e emitir um parecer independente. Basicamente serve para balizar os investimentos publicitários. Com isso, tem-se a ideia de que tantas pessoas estão lendo a revista, qual a possibilidade de visibilidade de determinado anúncio.Essa é uma informação que interessa ao mídia e ao atendimento. A Algomais tem hoje 70 mil leitores. De acordo com pesquisa feita, há 3,8 leitores por exemplar.

Qual é o público da Algomais? Sérgio | O público da Algomais é significativamente A e B, formador de opinião. Mas houve um aumento significativo da classe C - são pessoas que se interessaram pela revista, que procuraram por ela. Hoje distribuímos em bairros que antes não faziam parte do nosso roteiro.

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As parcerias com as empresas envolvidas no processo de realização da revista são fundamentais para a solidez dela? Francisco | Sem dúvida. Há mais Alexandre Albuquerque

Como é feita a circulação e distribuição da revista? Sérgio| Temos uma parceria com a LogExpress que faz a etiquetagem e a distribuição da revista, cuja entrega é protocolada. Isso pode ter algum furo, já que o porteiro do prédio pode receber a revista e não entregar ao destinatário, por exemplo. Nosso cronograma é anual. Por exemplo, já sabemos o dia que a revista vai circular em dezembro. Então, cobramos o cumprimento das datas à gráfica e o término da entrega à LogExpress. A distribuição da revista é feita por roteiros. Por exem-

O público da Algomais é significativamente A e B, formador de opinião

de 15 anos, quando participei da criação da rede Gestão, procurei a referência conceitual de Rede e não encontrei. Hoje, a ideia da internet como instrumento de mobilização social tem como base o conceito de rede. Quando idealizamos o projeto da revista pensamos em não inventar a roda. Ou seja, conseguir articular uma rede de competências - com características de seriedade e profissionalismo de organizações e de pessoas que pudessem se incorporar ao conceito da revista. Então é o caso de Luciano, de Sérgio, da TGI, da LogExpress, da Cartello, dos parceiros. Trabalhamos desde o início com esse conceito de rede. Ou seja, contamos com pessoas que já estavam no mercado, que já tinham experiência. O que significa a revista para vocês? Luciano| Realização. Algo prazeroso. Sérgio| Resultado financeiro a revista não dá, ela se auto-alimenta. Mas dá prazer e satisfação. No meu caso e de Luciano, que temos outras atividades na área comercial, ela não deixa de agregar valor ao trabalho que temos paralelo. Ela não deixa de abrir portas por ser uma coisa séria. Francisco | Pessoalmente é uma atividade que traz satisfação. Fazer uma coisa bem feita, ver o impacto que tem sobre o leitor... dá muita satisfação. Além disso, sempre gostei de escrever e ter um espaço na revista e poder interagir com o leitor é um prazer. O prazo de entrega do texto às vezes aperta, mas escrevo com muita satisfação. No ponto de vista empresarial, fazer parte de um projeto sério que tem credibilidade, que trabalha seriamente pelo desenvolvimento de Pernambuco também agrega valor à atividade de consultoria da TGI. Ricardo | É muito bom fazer parte de um veiculo que qualifica o debate e a troca de ideias inteligentes sobre Pernambuco.


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Fuxicos

Literários Naqueles tempos, anos 50 do século passado, haviam sido criados os chamados Institutos de Previdência Social e muitas eram as siglas para denominálos, IAPI, IAPC, IAPB, IAPM, IPASE, IAPETEC, entre tantas outras, e delas o prof. Arsênio Tavares, famoso cirurgião pernambucano e catedrático de Clínica Cirúrgica em nossa Faculdade de Medicina, era um crítico ferrenho, achando que somente confundiam a quem as lia. Numa sessão do Conselho Universitário, da qual ele fazia parte, presentes, entre outros, o Magnífico Reitor Joaquim Amazonas e as representantes da Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE), a Madre Torres e a Madre Oliveira, o professor, também famoso pelas suas irreverências, dirigiu-se aos membros daquele Conselho nos seguintes termos: Senhores membros do CU! A reunião, entre protestos e risos dos membros do egrégio Conselho, terminou naquele exato momento. Mr. Jesus Piretti foi, durante muito tempo, o gerente do The British Country Club, um dos clubes aqui criados pelos ingleses e localizado no bairro recifense dos Aflitos. Numa de suas viagens à Inglaterra, Mr. Hanson, sócio daquela agremiação, lhe pediu alguém de confiança para dormir em sua casa, durante o período de sua ausência, de modo a dar, também, proteção à cozinheira. Mr. Piretti chamou Zedequias, servente do Clube, uma boa alma, 24 >

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mas ignorante como poucos. Foi feito o arranjo e três meses depois a família Hanson voltou. Um dia, o inglês se queixou que o Zedequias tinha botado estranhas idéias na cabeça da cozinheira, que ela já não era a mesma pessoa, estava agora cheia de direitos etc.etc. Mr. Piretti passou um sermão daqueles no Zedequias: Você desencabeçou a empregada do homem! E Zedequias, na sua abissal ignorância: E eu desencabacei ninguém, seu Piretti, aquela velha já não tinha mais… Mr. Piretti quase tinha um ataque.

*** Ascenso Ferreira era um figu-

raço: um gigante de 2 metros de altura, mais de 130 quilos de peso, paletós e chapéus enormes, lábios grossos e pendurados, vozeirão engrolado, charuto permanentemente na boca. Era visto, pelas ruas do Recife, livros e discos debaixo do braço, procurando vendê-los aos amigos. Tendo-se encontrado com seu amigo Juscelino, Ascenso Ferreira lhe teria pedido um emprego. Poucos dias depois, o Jornal do Commercio (edição de 1º de março de 1956) publicava telegrama procedente do Rio de Janeiro: O poeta pernambucano Ascenso Ferreira foi nomeado, ontem, pelo presidente Juscelino, diretor do Instituto Joaquim Nabuco, no Recife. Mesmo reconhecendo a grande figura humana e o poeta extraordinário que ele era, houve forte reação àquela nomeação, considerando-se que ele não preenchia os requisitos que o cargo exigia, disciplina, método de trabalho, espírito de liderança etc.

Ascenso diria, em seguida: Que besteira é essa? Não vou mexer em nada lá naquela repartição. Comigo fica tudo como está. A mim só interessam o ordenado e a caminhonete. Juscelino me prometeu um emprego e me arranjou foi uma tremenda encrenca. E, em entrevista concedida a Edson Régis e publicada no Diário da Noite recifense de 16 de março de 1956, ao saber que o cargo lhe daria apenas um jipe para sua locomoção: Jipe não me cabe, meu bem. As lotações não param para mim porque eu sou grande demais e ocupo o lugar de dois passageiros...

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Foi aventada a possibilidade de Juscelino indicar Ascenso para a direção de um escritório comercial do Brasil em país sulamericano. Ascenso teria dito ao repórter:


Rostand Paraíso rparaiso@rhp.com.br

Sei que Juscelino me daria uma chefia dessas, mas eu não posso sair do Recife. Um homem como eu, que tem casa civil e militar, não pode nem ao menos pensar em residir no Rio, quando mais no estrangeiro. E, diante da confusão do repórter, o esclarecimento: Matriz e filial, tá bem? Quero dizer que tenho duas casas, duas famílias, duas mulheres. Ascenso seria nomeado, por Juscelino, Assessor do Ministério da Educação e Cultura, onde, diziam, só comparecia para receber o salário.

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O ainda não famoso poeta Castro Alves, ao vir, rapazola ainda (com 14 anos), em 1862, para o Recife, hospedou-se inicialmente no Convento de São Francisco e, algum tempo depois, numa república de estudantes na Rua do Hospício, sobre a qual nada se sabe. De lá, em 1865, ele sairia para morar com um dos seus grandes amores, Idalina (simplesmente Idalina, não se conhecendo maiores detalhes sobre ela, nem, sequer, o sobrenome), numa casa alugada na Rua do Lima, no bairro de Santo Amaro, pertinho da Casa de Saúde do Dr. Ramos e do Cemitério Público do Recife. Segundo Regueira da Costa, Castro Alves teria, certa vez, dito: Estou muito satisfeito com os meus vizinhos – ali, os doidos do Dr. Ramos, à direita, os mortos do Cemitério.

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No Diario de Pernambuco, edição de 26 de janeiro de 1866, encontra-se interessante anúncio:

Enquanto o Sr. Acadêmico Antônio de Castro Alves não pagar R$ 63$000 que deve de aluguel da casa em que morou na Rua dos Coelhos, verá seu nome neste jornal.

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Anos 50, século passado. Nas calçadas da Sloper, grupos de profissionais liberais se encontravam, nas 6as.feiras, ao término do expediente em seus consultórios, para conversas amenas e edificantes. Era o chamado Congressinho da Sloper, formado, entre outros, pelo cardiologista Fernando Moraes, pelo radiologista Scyla Cabral da Costa, pelo advogado e deputado Júlio de Melo (o Julinho) e pelo dentista e professor da Faculdade, Henrique Freire de Barros. O Dr. Henrique havia feito um serviço dentário, uma obra-prima de valor inestimável, implantando uma dentadura completa num cliente que, porém, nunca se lembrara de lhe pagar o serviço. Numa daquelas memoráveis tardes de 6as. feiras, inesperadamente, defrontam-se os dois. O cliente, não se dando por achado, cumprimenta o dentista sorrindo. E este, num assomo de cólera, dando-lhe uma gravata, arranca, com dois dedos da mão direita, a belíssima dentadura, joga-a no chão e a pisoteia, deixando-a totalmente quebrada. Enquanto a vítima, de boca murcha, se retirava, o dentista gritava em voz alta: Com a minha dentadura, você não vai rir mais, seu caloteiro!

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Primeiras décadas do século passado. Potyguar Matos, pesqueirense

de nascimento, viera para o Recife em busca de horizontes mais largos. Recém-chegado do interior, morou algum tempo numa modesta pensão da 1º de Março, em cima da Cristal, em frente ao Café Lafayette. Ali, sem qualquer conforto, partilhava não um quarto, mas, na realidade, uma cama com um igualmente pobre estudante. Cama que – dizia ele –, usada em horários diferentes (Potyguar trabalhava à noite), tinha a vantagem de estar sempre quentinha. Potyguar se destacaria, entre a intelectualidade pernambucana, como jornalista, historiador e professor universitário, tornando-se famoso, também, pela sua oratória e pelo fato de ter sido o primeiro brasileiro que, não sendo sacerdote, ocupou o cargo de Reitor de uma Universidade Católica, a de Pernambuco. A 8 de setembro de 1986, foi eleito para a Academia Pernambucana de Letras. Foi, ainda, Diretor do Arquivo Público de Pernambuco. Certa vez, reunido com outros intelectuais pernambucanos no Torre de Londres, acolhedor restaurante localizado no Parque 13 de Maio, Potyguar foi afrontado por um grupo de estudantes que ali bebiam e faziam grande algazarra. Um dos estudantes, mais exaltado e estimulado pelas muitas cervejas já ingeridas, dirigiu-se, com o dedo em riste, para Potyguar, que havia reclamado do barulho: Só não lhe dou uns tabefes porque você tem idade para ser meu pai... E Potyguar, em voz alta o bastante para ser ouvido pelos outros: E só não fui porque não quis... 2011 março >

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Pensando

bem

Ricardo Correia de Carvalho* ricardo@correiadecarvalho.com.br

Fazendo a hora

H

á cinco anos fomos brindados com o nascimento da revista Algomais, que logo se tornou respeitável fonte de informação e defensora das potencialidades da nossa gente. Ao passar desses poucos, porém proveitosos anos, ela acompanhou o espetacular desenvolvimento de Pernambuco, pontuando os sucessos, alternativas e opiniões diversas como reflexão necessária ao bom debate. Fatos registrados para todo o sempre. E o que esperar dos próximos cinco ou dez anos, principalmente quando o governador Eduardo Campos acena com a duplicação do nosso Produto Interno Bruto? Por certo já começa a ocorrer uma crescente e “saudável angústia” dos integrantes da classe política que pretendem disputar cargos majoritários, já que terão de se adequar aos novos tempos de menos discursos e mais ação. Mas para o mundo corporativo, muito mais ansioso por fazer acontecer, cabem dois dedos de prosa. Os entraves burocráticos para aprovação de projetos, licenciamento e liberação de obras, obtenção de certidões, arquivamento de documentos, registros e os mais diversos atos necessários para se iniciar qualquer atividade, obra ou serviço, começam a preocupar. Não se pode conceber que os prazos legais máximos para a prática de atos a cargo de alguns setores públicos, sobretudo de prefeituras, da União e ainda de alguns vinculados ao Judiciário, salvo honrosas exceções, sejam utilizados até o último dia, quando não freqüentemente ignorados e ultrapassados. Tal como busca o governo esta-

dual, a implantação de uma política de qualidade pública permanente e eficaz em que se premie o mérito afigura-se urgente, devendo ser verticalizada em todos os níveis, afastando-se a ineficiência. A fiscalização dos prazos, o uso obrigatório da informática e a disponibilização das informações desses órgãos e cartórios em tempo real e on-line deveria ser coercitiva, agilizando todos os procedimentos. No setor da construção civil, onde o mercado imobiliário pernambucano vive um dos seus melhores momentos, os entraves burocráticos e cartorários são nocivos à velocidade de que necessita os construtores, o mesmo ocorrendo com os demais setores produtivos. E dificuldades podem representar a transferência de investimentos para outro local, o que é inconcebível! A iniciativa privada, na qual me incluo como advogado de empresas, tem procurado fazer a sua parte, realizando investimentos constantes no aperfeiçoamento de seus quadros e buscando prestar serviços de ex-

Para o Brasil e sobretudo, para Pernambuco, os ventos da economia mudaram. A hora é de fazer, e não de esperar acontecer

celência. E é esse aperfeiçoamento contínuo, inclusive de procedimentos, já incorporado ao dia a dia do setor privado, que deve nortear os gestores públicos. Mundialmente a reengenharia de procedimentos tem sido de tal ordem que empresas americanas rodam sua contabilidade em países de outro hemisfério para não perder tempo enquanto é noite, e, na China, como demonstração do que será o futuro próximo das construções, toda a estrutura de um hotel de 15 andares foi erguida em incríveis dois dias (no youtube digite “hotel 15 andares”). Esse é o futuro que nos espera, queiramos ou não. Estudo recente da PwC (PricewaterhouseCoopers) aponta que em 2050, China, Índia, Estados Unidos, Brasil e Japão serão as cinco maiores economias mundiais, tendo sido destacado que a principal conclusão para esse fato é que “a recente crise financeira acelerou a passagem do poder econômico global para as economias emergentes”, e que essa mudança na ordem mundial “traz novos desafios e oportunidades para as atuais economias avançadas. (...) o rápido crescimento nos mercados de consumo associado a um rápido crescimento da classe média possibilitará grandes oportunidades para as empresas ocidentais, que poderão se estabelecer nesses mercados”. Diz ainda o estudo que neste ano de 2011 a Índia deve ultrapassar o Japão; o Brasil ultrapassará a Alemanha em 2024; a Rússia em 2035 e o próprio Japão em 2038. A China deverá ser a maior economia mundial já em 2019. Para o Brasil e, sobretudo, para o nosso Pernambuco, os ventos da economia mudaram. A hora é de fazer, e não de esperar acontecer.

* Ricardo Correia de Carvalho é sócio do Correia de Carvalho & Ribeiro Advogados

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De

olho

A Inflorescência do Baobá

Amantes da natureza, os leitores Elivan Arantes e Estela Pereira se emocionaram com a floração do tradicional boabá “guardião do Campo das Princesas”. Confiram, Elivan fez o texto e Estela, as fotos: “Indiferente ao período momesco, ao frevo, caboclinhos, escolas de samba, maracatus e outros ritmos, o Baobá guardião do Campo das Princesas, estava em flor neste Carnaval. Nem a proteção que foi colocada na praça conseguia conter o cheiro de melado que suas flores exalam. Para mim, foi uma surpresa, nunca tinha visto a flor do Baobá nem me embriagado com seu odor, acredito que muitos de nós recifenses, cidadãos da cidade com maior concentração desta planta no Brasil, também não tenha visto. Como estava na boquinha da noite, morcegos se refestelavam com a brincadeira de sugar o néctar da majestosa planta, não fiquei para ver a noite, mas retornei na terça feira de carnaval para fotografar e poder compartilhar com os demais leitores as imagens de uma planta cuja história se confunde com nossa história”.

Planos X Hospitais

Planos de saúde e hospitais particulares desenvolvem uma guerra de preços que prejudica o consumidor. Os planos recusam internações e determinados procedimentos laboratoriais e cirúrgicos de pacientes por conta dos preços praticados pelos hospitais. Quem sai prejudicado é o paciente que fica muitas vezes sem atendimento sequer na emergência.

Judiciário

O Tribunal de Justiça pretende construir um prédio de 40 andares ao lado do edifício do Forum da Ilha Joana Bezerra. Vai abrigar as varas e os cartórios judiciais. O chamado Palácio da Justiça, na Praça da República, será preservado como uma espécie de museu da Justiça e para ocasiões solenes do Poder. Ainda não está definido o que será feito com o edifício que sediou o Jornal do Commercio, na Rua do Imperador, há anos fechado e sem qualquer utilidade. O risco é acontecer o mesmo como Palácio, esvaziando ainda mais o combalido centro da cidade.

Descontrole

Muito já se esbravejou, mas a Prefeitura não liga. A atividade de carga e descarga está descontrolada no Recife, apesar das normas e das placas que avisam os horários permitidos. Em qualquer local e a qualquer hora estacionam caminhões e outros veículos para carregar ou descarregar mercadorias ou mudanças. O trânsito está lento e você vai ver... ou é por causa de motoqueiro acidentado ou carga e descarga irregulares. Em alguns casos, a pista de rolamento estreita tanto que só permite a passagem de um carro pequeno.

Francamente Talento nato

Bruno Moury tem mesmo talento. Sua Walkmídia teve um crescimento enorme com as últimas campanhas eleitorais no Nordeste, no Paraná e São Paulo. E agora a Walkmídia chega de forma permanente a Brasília, São Paulo e toda a Região Sul. Em Porto Alegre já está operando a todo vapor. Com a chegada do Carnaval, surgiram novos contratos pois os seus produtos são bem adequados às ações de rua pela leveza e pelo alto impacto. Bruno divide o sucesso com sua equipe, especialmente Cláudia Sá Leitão, seu braço direito. 28 >

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Relacionamento

Alguns bons profissionais do mercado publicitário fazem da sua simpatia e da forma com se relacionam uma forte arma de conquista de novos negócios. Como têm talento profissional reconhecido, eles fazem a diferença para suas empresas de propaganda: Benjamim Azevedo (Bejinha) da RGA, Queiroz Filho, da Ampla e André Vieira, da Arcos, são três deles. Todos feras.

Conquistando clientes

A briga do Bradesco e do Santander para conquistar o cliente pernambucano é muito competente. Não tenho preferências, mas o Presidente do Bradesco, que foi meu contemporâneo na Comissão de Marketing Financeiro da Febraban, é um especialista na matéria. Se juntar o conhecimento em marketing e autoridade de presidente, sei não...

Tudo Azul no carnaval de Salvador

O Carnaval de Salvador terá um batuque diferente este ano. A TIM vai levar o trio de músicos norte-americanos Blue Man Group, que faz as campanhas da operadora, para fazer uma participação inédita para os baianos. A apresentação dos homens azuis será no sábado de Carnaval, no mesmo trio elétrico de Carlinhos Brown que é patrocinado pela empresa. A parceria, inusitada, é um presente da TIM para o Carnaval de Salvador, que esse ano tem a percussão como tema.


Redação Algomais deolho@revistaalgomais.com.br

Condomínio I

Os moradores de um condomínio na Tamarineira são obrigados a deixar seus carros na rua mesmo dispondo de um amplo estacionamento. É que a Justiça mandou penhorar os automóveis dos condôminos para garantir o pagamento a funcionários que reclamaram direitos trabalhistas. Um oficial de justiça está sempre de olho para agarrar os bens dos desavisados que procuram as vagas do estacionamento do condomínio.

Condomínio II

As taxas dos condomínios assombram a classe média ainda mais agora com o reajuste do salário mínimo. Na verdade, os que adquirem apartamentos, seduzidos pelas vantagens oferecidas pelas construtoras e imobiliárias, não atentam para o valor da taxa condominial, que pode facilmente romper a barreira dos hum mil reais, ainda mais quando é engordada por taxas extras para pagar serviços contratados que ultrapassam a receita do condomínio.

Unimed III

A Unimed Recife está construindo no bairro da Boa Vista, no Recife, o Hospital Unimed Recife III. Com 15 pavimentos, 364 vagas de estacionamento, 108 apartamentos e 166 leitos, a nova unidade suprirá o crescimento da carteira de clientes da cooperativa. O hospital terá ainda 40 leitos de UTI, 25 de emergência, 10 salas de cirurgia, setores de hemodinâmica , de oncologia e transplante de medula óssea e um Centro de Diagnósticos com exames de ressonância magnética, tomografia, Raio-X, ultrassonografia, ecocardiograma e endoscopia digestiva. A capacidade mensal do Recife III será de atender 8 mil pacientes e 7 mil cirurgias.

Luiz Carlos Costa luizcarloscosta1@hotmail.com

Rede Best Western

Proprietários do Solar Porto de Galinhas estão investindo na construção de um novo hotel naquele balneário com a bandeira da Best Western, aquela marca americana que você vê a todo instante no exterior. A primeira fase será inaugurada ainda em dezembro deste ano com 120 apartamentos. Outros 120 estão previstos para inaugurar em julho de 2012. É trabalho. No projeto estão um centro de convenções, kids club, piscina com raia semi-olímpica, sala de jogos eletrônicos, sorveteria e outras surpresas mais. O nome do hotel será escolhido em breve. Vamos aguardar.

Essas mulheres...

Eu vinha de Brasília pela TAM quando anunciaram que a comandante Andréa pilotava a aeronave. Como o nome serve aos dois sexos, pensei ter ouvido errado. Nada disso. Uma piloto com suas mãos delicadas conduzia aquela aeronave imensa. É..., viva as mulheres.

Rapidinhas

l Este ano o Dia Internacional da Mulher caiu na 3ª. feira de carnaval. Mas não podemos esquecer a data. Parabéns a todas. l O manifesto da boite Downtown pela revitalização do Recife Antigo é uma bandeira que devemos participar. Entre no site www.downtownpub.com.br e assine. l A Ace Metrix, avaliou 2.600 comerciais de TV nos Estados Unidos que usavam celebridades em sua comunicação. Eles não foram mais eficazes do que aqueles que usaram rostos comuns. Celebridade tem que ser o produto anunciado.

O mundo não é mais o mesmo, a economia não é mais a mesma. Há oportunidades de negócios em muitas frentes e você precisa de um aliado para ampliar a visão de futuro. A Deloitte coloca todo o seu conhecimento para estender os horizontes da sua empresa nesta nova realidade do mercado. É possível encontrar inúmeras formas diferenciadas para trilhar a estrada do crescimento, adaptando-se sempre. Com criatividade, orientação, planejamento, pensamento estratégico e soluções ousadas, o momento atual, de profunda adaptação, poderá ser um caminho mais rápido para a conquista do sucesso. Com a Deloitte sempre ao seu lado.

A Deloitte refere-se a uma ou mais Deloitte Touche Tohmatsu, uma verein (associação) estabelecida na Suíça, e sua rede de firmas-membro, sendo cada uma delas uma entidade independente e legalmente separada. Acesse www.deloitte.com/about para a descrição detalhada da estrutura legal da Deloitte Touche Tohmatsu e de suas firmasmembro © 2010 Deloitte Touche Tohmatsu

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João

Agenda cheia

Roberto Pereira

O governador Eduardo Campos tem recebido inúmeros convites para fazer palestras por todo o país. Está todo mundo querendo saber o segredo da sua administração que colocou Pernambuco na liderança no país em termos de novos grandes empreendimentos e do sucesso do Pacto pela Vida na redução dos casos policiais.

Nando Chiappetta

Alberto

Emoções para Fafá

Fafá de Belém está cada vez mais apaixonada pelo Recife. Brilhou num dos trios do Galo da Madrugada, apresentou-se em vários pólos de carnaval pelo estado e agora concentra-se na interpretação de Maria nos espetáculo da Paixão de Cristo da Nova Jerusalém. Ela revela que será, com certeza, alguns dos momentos mais emocionantes da sua vida, católica praticante que é.

Pianista

Fafá de Belém

No ministério de Lula, o grande destaque artístico foi José Múcio Monteiro, que toca violão e canta. No de Dilma deve ser o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, que é exímio pianista.

Eduardo Campos

Volta

A revista Status, que fez sucesso durante muitos anos no Brasil, vai ser relançada em abril para concorrer com a Playboy e a Sexy, que vêm tendo sua tiragem caindo com o tempo.

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O programa Esquadrão da Moda, pilotado pelo pernambucano André Grund, tem espaço garantido na programação do SBT este ano. No entanto virá com uma grande novidade. Jovens selecionados para mudar o visual, não vão escolher mais os modelos em lojas chiques dos Jardins, em São Paulo. Vão gastar os R$ 10 mil em roupas no Bom Retiro, Brás e José Paulino, onde os modelos custam bem menos e estão atualizados. Com o mesmo valor ganharão muito mais peças no guarda-roupa.

Oposição feminina

Há muito tempo a Prefeitura do Recife não enfrentava uma oposição tão dura como a atual na Câmara Municipal. E formada pela ala feminina. As vereadoras Aline Mariano, do PSDB, e Priscila Krause, do DEM, estão ocupando excelentes espaços, fazendo denúncias, que, na grande maioria dos casos, não conseguem ser respondidas pela maioria governista da casa.

Nando Chiappetta

Novos endereços

Aline Mariano

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joaoalberto@revistaalgomais.com.br

Dilma disse não

O AeroDilma, ex-AeroLula, possui um moderno sistema de comunicações que permite ao presidente falar com quem quiser, quando quiser, bem como acessar a internet. O avião presidencial brasileiro também tem salas de reunião e conferência, um quarto com cama, exclusivo do presidente, e até um banheiro com chuveiro. Curiosamente, o modelo é idêntico ao utilizado por Hugo Chávez. Falaram em trocar o avião por um maior, mas em tempos de cortes de verbas, a presidente Dilma disse não.

Franquias

A Associação Brasileira de Franchising divulgou a lista das cinco maiores franquias do país. O primeiro lugar é o Boticário (perfumes), com 3.032 lojas; em segundo, o curso de idiomas Kumon, com 1.599; em terceiro, a Ortobom (colchões), com 1.548; em quarto, a L’acqua di Fiori (1.166) e em quinto, a Wizard (curso de línguas), com 1.163 unidades.

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Tancredo

Dilma Rousseff

Um dos mais respeitados documentaristas brasileiros, Sílvio Tender está concluindo filme sobre Tancredo Neves, que termina, evidentemente, com seu calvário poucos dias antes de chegar à Presidência da República. O filme vai se chamar “A travessia”, com lançamento previsto para março. Aécio Neves já viu a película e aprovou totalmente.

O QUE SE COMENTA...

QUE Terezinha Nunes não será candidata a vereadora do Recife no próximo ano, sua meta é volta à Assembléia em 2014. l QUE o Clube Português tem projeto para reformar ainda este ano, sua portaria voltada para a Avenida Rosa e Silva. l QUE o Galo da Madrugada vai climatizar sua sede da Rua da Concórdia, para incrementar os eventos ligados ao carnaval, além do restaurante, que tem chef francês. l QUE não poderia ser melhor a ini9ciativa de André Campos, novo secretário de Turismo do Recife de reativar o pólo Bom Jesus. O turismo agradece. l QUE o secretário dos Transportes, Isaltino Nascimento está muito preocupado com a situação, maioria terrível, dos terminais rodoviários do estado.

Capacidade

A Secretaria de Turismo está concluindo a licitação do projeto de reforma e ampliação do Centro de Convenções. Uma das principais ações será no Teatro Guararapes, que está realmente precisando ser modernizado. Novas cadeiras aumentarão a plateia dos atuais 2,4 mil para três mil lugares.

Turismo não cresce

A Tailândia vai receber este ano 14,4 milhões de turistas. Já o Brasil, há mais de 10 anos patina na marca dos 5 milhões e não consegue aumentar de forma alguma. Alguma coisa, evidentemente, está errada, especialmente a divulgação feita no exterior.

Pintor holandês

Albert Eckhout foi um pintor holandês que veio na comitiva de Maurício de Nassau e fez vários quadros mostrando, por um ângulo bem especial, aspectos do Nordeste. Sua obra é tema do livro Albert Eckhout- Visões do Paraíso Selvagem, da escritora Rebecca Parker, que a Editora Capivara acaba de lançar.


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O novo passo de Pernambuco

Desenvolvimento | Ao longo dos últimos cinco anos, mudanças estruturais criaram novas perspectivas e desafios para o Estado Por Ivo Dantas Camila Lindoso

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oram cinco anos que mudaram Pernambuco para melhor. Os últimos meses do Governo Jarbas (PMDB) / Mendoncinha (DEM) e a primeira gestão de Eduardo Campos (PSB) alavancaram o estado a um novo patamar. As perspectivas, antes desanimadoras, passaram a ser amplamente otimistas. Há cinco anos, Suape ainda lutava para exercer todo o seu potencial, os pernambucanos sonhavam com uma refinaria, e nem se falava em Copa do Mundo. Hoje, a sensação é de que Pernambuco é outro. Com novas perspectivas, mas também com outros desafios. Na economia, os índices são próximos aos apresentados por países como China e Índia, superando a média brasileira. A economia pernambucana registrou um crescimento do PIB de 9,3% em 2010, enquanto o PIB nacional cresceu 7,5%. Desde 2006 foram injetados mais de R$ 45 bilhões em projetos estruturadores. No final do ano passado Pernambuco conseguiu realizar um dos projetos mais aguardados, ao conquistar a nova fábrica da Fiat para Suape, criando um novo polo automobilístico para o estado. A esse investimento juntam-se ainda outros, como a Ferrovia Transnordestina, o Canal do Sertão, Polo Farmacoquímico, Polo Naval, Polo Petroquímico, dentre outros que estão modificando a realidade pernambucana. 34 >

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A cena política sofreu reviravoltas que desafiaram o poder de análise dos especialistas. Eduardo Campos conseguiu uma vitória histórica sobre Jarbas Vasconcelos, para muitos, com sabor de revanche, devido à histórica disputa entre o senador pmdebista e o ex-governador Miguel Arraes. Recife viu João Paulo (PT) eleger João da Costa (PT), contra tudo e contra todos, para, depois, se desentenderem e evitarem encontros públicos. O DEM, PSDB e PMDB – que formaram a União por Pernambuco – se viram em uma inesperada situação, fazendo oposição aos governos federal, estadual e municipal. O que poderia ser uma grande aliada do desenvolvimento, a

educação continua sendo o freio da economia. Apesar dos investimentos que foram feitos ao longo dos últimos cinco anos, Pernambuco pouco avançou com relação à qualidade do ensino. Falta mão de obra para dar conta da demanda de Suape, e as empresas têm encontrado dificuldades para contratar técnicos das mais diversas áreas. Outra grande preocupação da população tem sido a mobilidade. A grande quantidade de carros que entram em circulação todos os meses na Região Metropolitana do Recife (RMR) apresenta um grande desafio para a manutenção do crescimento sustentável e ameaça a qualidade de vida dos recifenses. Principais focos de críticas da oposição, saúde e segurança voltaram aos holofotes com a execução do Pacto Pela Vida e a construção de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), além de três novos hospitais públicos. Enquanto os índices de violência diminuíram, policiais reclamam de questões salariais, planos de cargos e carreiras. Já o setor cultural talvez tenha sido o mais polêmico. Constantes crises na Fundarpe colocaram em cheque a efetividade da gestão da cultura pernambucana. Nos seus cinco anos, Algomais traz, nas próximas páginas, uma retrospectiva dos avanços e problemas enfrentados por Pernambuco ao longo desse período, e aponta os novos desafios que surgem no horizonte do desenvolvimento susu tentável do Estado.


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Inversão de papéis

Mudanças | Vitória de Eduardo Campos (PSB) relegou à União por Pernambuco o papel de opositor

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Eduardo: superando o improvável

Jarbas: prejudicado pelo racha político Alexandre Albuquerque

pós a primeira eleição de Lula (PT), em 2002, e a popularidade de João Paulo no Recife, a eleição estadual de 2006 parecia ser um jogo de cartas marcadas. Da disputa entre Humberto Costa (PT) e Mendoncinha (DEM) sairia o sucessor de Jarbas Vasconcelos (PMDB) para ocupar o Palácio do Campo das Princesas, após oito anos. Poucos apostavam no neto de Miguel Arraes. Visto como terceira via, o ex-ministro de ciência e tecnologia de Lula soube utilizar o passado da família e prometer um governo moderno, voltado para a gestão. Eis que o improvável aconteceu. No primeiro turno, Eduardo Campos superou o candidato petista e, ao somar votos no segundo turno, venceu o pleito. Aos poucos, o que poderia parecer uma jogada de sorte se revelou em uma ótima oportunidade para o crescimento do PSB no estado, e o enfraquecimento da União por Pernambuco que acabou extinta no ano passado. Não bastassem os acertos do novo modelo de gestão por metas, Eduardo Campos teve, ao seu lado, seu maior trunfo: Lula. Cada novo investimento cogitado para vir para o País levava o governador a Brasília. Após muito jogo político, e a promessa de Suape como novo polo de investimentos no Nordeste, Eduardo Campos triunfou ao trazer diversos novos investimentos. Desempenho que rendeu popularidade ao atual governador, de modo que conseguiu uma histórica vitória em sua reeleição sobre o exgovernador Jarbas Vasconcelos, com 82% dos votos. Mas não foi sem percalços que a aliança entre PT, PSB, e outra dezena de partidos, conseguiu relegar

João Paulo: luta para manter força política

o DEM, PSDB, PMDB e PMN a uma situação de minoria quase absoluta. A disputa de egos dentro do PT, mais especificamente entre João Paulo e Humberto Costa, minaram a base aliada. Desde a escolha de João da Costa (PT) como seu sucessor, o antigo prefeito do Recife luta para manter sua força política no partido. Para piorar, pouco após tomar posse, a criatura renegou o criador, e João deixou de ser João. A situação chegou ao limite de, no último Baile Municipal, João Paulo não aparecer no tradicional festejo. Problemas que testaram a capacidade dos principais políticos do núcleo duro de Eduardo em atuarem como bombeiros. A cada novo incêndio, a tropa do governador corre para apagar antes que possa consumir as estruturas da base. Não é sem motivos que o governador se preocupa com a chamada unidade. Os rachas políticos estão nas origens do fim da União por Pernambuco. Nos últimos anos, os sinais de que a força comandada por Jarbas estava enfraquecida eram claros. Disputas entre o PMDB e PSDB, falta de renovação, e desmembramentos de partidos e prefeitos, antes aliados, colocaram fim na antiga aliança utilizada para derrotar Miguel Arraes na década de 90. Do lado da oposição, nomes que eram tidos como fortes, como Terezinha Nunes (PSDB), amargaram derrotas nas últimas eleições, chegando até a surpreendente derrota de Marco Maciel (DEM) para o Senado. Superado por Humberto Costa (PT) e Armando Monteiro Neto (PTB), o exvice presidente se viu de fora do poder após 44 anos seguidos ocupando cargos políticos.


ENTREVISTA | EDUARDO CAMPOS

“Tratamos de construir uma paz política” Algomais | Foi notável a evolução do PSB, comandado pelo senhor, e de diversos outros partidos da base. Como o sr. avalia o crescimento da Frente Popular de Pernambuco, e do seu Governo, nestes últimos cinco anos? Eduardo Campos | Desde o começo, tratamos de construir uma paz política que unisse os pernambucanos, usando a nossa força política para produzir resultados concretos de mudança na economia e na vida de nosso povo, não para gerar benefícios para grupos ou indivíduos. Parece simples, mas não é sempre que se vê isso acontecer. O importante é ter ao lado pessoas com capacidade de trabalho, pessoas com interesse de ver o Governo dando certo, que tenham compreensão do que estão fazendo e que tenham disposição de ir até o fim. Os partidos aliados tiveram uma postura muito correta durante todo o Governo, uma postura muito digna, de nos ajudar, de colaborar, de se portar dentro da base de apoio, de compreender e apoiar as mudanças, as inovações. Eu também mantive uma postura de muito respeito com toda a base de apoio, entendi que somos um governo da Frente, temos de apoiar, sermos corretos e fazer dessa nossa vitória, a vitória de todas essas forças. Todos cresceram, todos ganharam: todo mundo saiu vitorioso da nossa aliança. Ninguém perdeu. E o povo está ganhando com o nosso governo. AM | Na economia, Pernambuco saiu do estado de uma série de incertezas para a possibilidade de dobrar o PIB em um médio prazo, impulsionado por Suape. Como o sr. avalia estes últimos cinco anos para a economia de Pernambuco? EC | O balanço que nós fazemos é muito positivo. Nosso desejo, com

Com maioria absoluta na Alepe, Eduardo não teve dificuldades para aprvar projetos certeza, era o de fazer mais. A população sabe que fizemos muito, sinceramente, fizemos muito e com muito gosto de fazer. Fizemos com empenho, com unidade, com disciplina. Eu fiz com muita energia e quero fazer mais nos próximos quatro anos. Eu estou preparado para fazer até o último dia do meu mandato. Vou cumprir o meu mandato com essa determinação de consolidar esse momento econômico para, depois que deixar o governo, poder andar nas ruas e ser tratado nas ruas da mesma que sou tratado hoje. Ter esse respeito é o que me move hoje. Eu fico, na verdade, desafiado. E eu gosto de desafio. A economia teve da nossa parte toda a atenção para chegarmos a esse momento que estamos vivendo agora. A chegada de um investimento como a Fiat, a chegada dos grandes projetos estruturantes como a refinaria, o estaleiro, a Transnordestina. Em 10 anos, vamos dobrar o PIB. Mas estamos de olho também na questão ambiental, na inclusão social, na sustentabilidade desse crescimento.

Agora, esse é um momento mágico, de muita energia. É impressionante como o Brasil tem procurado Pernambuco. São coisas que mostram que temos um grande trabalho pela frente. Pernambuco está mudando de patamar, mudando a matriz econômica. Estamos vivendo o verdadeiro momento da reindustrialização. Há 30 anos que a indústria perde relevo na participação do nosso PIB, e agora volta a ser mais significativa. Como já disse, a tendência de Pernambuco é dobrar o PIB, e poucos lugares do mundo têm a possibilidade de dobrar o seu PIB e sua produção econômica, mudar a sua matriz econômica da forma como estamos vivendo. Enfim, eu entendo que todo esse processo vai, a cada dia que passa, deixar Pernambuco com mais condições de ir garantindo o seu desenvolvimento. Pernambuco não é mais uma corda de caranguejo, um puxando o outro para baixo. Nós vivemos um tempo diferente. Graças a Deus e ao trabalho, chegou o tempo de u Pernambuco. 2011 março >

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O início de um novo ciclo

Crescimento | Novos investimentos mudaram a matriz econômica do estado e desafiam o poder de reação do Governo

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economia de Pernambuco foi redefinida nos últimos cinco anos. Após anos de baixo crescimento, o estado assiste a um novo ciclo industrial, alavancado por Suape. Os investimentos estruturadores, como gosta de chamar o governador Eduardo Campos, deram início a uma série de mudanças na matriz econômica pernambucana, com a inclusão dos setores naval, siderúrgico, de petróleo e gás, e, por último, o grande sonho realizado com a chegada da fábrica da Fiat, o automobilístico. Ao longo desse período, as taxas de crescimento do PIB do estado chegaram a superar as do Brasil, alavancando o Nordeste. A economia pernambucana registrou um crescimento do PIB de 9,3% em 2010, enquanto o PIB nacional cresceu 7,5%. Segundo dados do Sebrae, o PIB per capita de Pernambuco deverá dobrar até 2020. Para o governador Eduardo Campos, a vinda de diversas empresas deve continuar impulsionando esse crescimento. “A chegada de uma indústria como a da Fiat, por exemplo, vai atrair vários sistemistas, mais de 40 virão. Isso terá impacto sobre a área da cadeia produtiva. A siderúrgica terá impacto na competitividade. Várias empresas do setor da linha branca (ar condicionado, geladeira, fogão, eletrodoméstico em geral) já começam a nos procurar porque vão ter uma economia que pode ser de seis, sete, oito ou 10% num produto que pesa muito nessa área.”, diz. Apesar de criticar a política exercida neste período, o senador Jarbas 38 >

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Vasconcelos também reconhece os avanços econômicos. “Nos últimos cinco anos vimos a ascensão da economia e o retrocesso na prática política. Espero que nos próximos cinco anos possamos registrar finalmente que o Brasil consiga aprovar um “Plano Real” também para a política”, diz. A manutenção desse crescimento conquistado ao longo dos últimos anos passa por três grandes desafios: educação, interiorização e competência empresarial. Grande desafio para o governo, a formação de profissionais capacitados no mesmo ritmo dos novos investimentos é fundamental para que novas empresas venham a se instalar no estado. Atualmente, a falta de mão de obra qualificada já atua como empecilho para o desenvolvimento completo do potencial econômico.

Apesar de ainda não dar conta da demanda de profissionais do mercado, o diretor técnico do Senai, Uacir Matias, diz que o planejamento começou a ser feito ainda em 2005. “Não fomos pegos de surpresa. Em 2005, em reunião com o governo, indústrias e representantes da educação, soubemos que viria o estaleiro e refinaria para Pernambuco. A prefeitura de Ipojuca detectou uma enorme deficiência na educação local. Isso ia fazer com que ninguém fosse empregado para a mão de obra que iria aparecer. Então a UPE recrutou 15 mil alunos, mas nos entregou apenas 5 mil. Começamos a criar cursos - foram 11 cursos - para suprir a necessidade da mão de obra. o problema é que as outras entidades não se prepararam para isso. Aqui nós acompanhamos todos os projetos

Atracadouro em Suape: movimento de navios cargueiros registra permanente crescimento


Suape: vista aérea do porto com as instalações de apoio que estão chegando ao estado, e ficaremos de olho para as possíveis mãos de obras que irá precisar”, conta. Do outro lado, é preciso que os empresários pernambucanos saiam da zona de conforto e passem a investir, cada vez mais, na profissionalização da gestão das empresas e na capacitação dos funcionários. Já a interiorização é fundamental para que o desenvolvimento econômico não fique restrito a Suape e possibilite o aumento do horizonte de investimentos. Mas nem só de Suape vive Pernambuco. A interiorização do desenvolvimento engatinhou até municípios como Vitória de Santo Antão, que conquistou uma fábrica da Sadia. Além disso, com a Copa do Mundo de 2014, o desenvolvimento de novas regiões da RMR, como São Lourenço, está alavancando o setor de construção civil. Segundo dados do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco (Sinduscon), Gustavo Miranda, atualmente, 150 mil profissionais trabalham

no setor. Os investimentos públicos, como a Transnordestina, também foram responsáveis pela criação de novos postos de trabalho. O Porto Digital, no bairro do Recife, se apresenta como esperança de que Pernambuco possa ganhar um lugar de destaque na nova economia. Com dez anos de existência, a organização é reconhecida internacionalmente por ser um ambiente de empresas inovadoras. O problema é que falta aproximação para transformar esse caráter inovador em soluções para as cadeias produtivas do estado. O projeto Porto Desembarca, por exemplo, foi uma tentativa de realizar esse trabalho, mas sem sucesso. A ideia era reunir as empresas em reuniões de negócios, mas poucas parcerias foram para frente. Os polos de serviços especializados também mereceram destaque nesses últimos cinco anos, chegando a ser tema de diversas matérias especiais publicadas pela Algomais. O setor médico, por exemplo, chega a estimular um turismo próprio, de pa-

cientes que chegam para serem atendidos nos hospitais de referência do setor privado e que já respondem por 7% dos turistas do estado, segundo dados da Empetur (Empresa Pernambucana de Turismo). O polo médico pernambucano já possui mais de 400 unidades, entre clínicas e hospitais, sendo considerado o segundo principal do País. Já o segmento de advocacia chega a disputar com São Paulo a liderança no ranking de aprovados no Exame da Ordem da Organização dos Advogados do Brasil (OAB). Com destaque para os cursos universitários, que já chegam a 32, o polo vem enfrentando um novo desafio, consequência do novo momento que vive Pernambuco. Cresce a cada dia a demanda por novas especializações que possam preparar os escritórios locais para novos potenciais clientes que aportam advindos de Suape. O segmento de petróleo e gás, por exemplo, deve demandar novos conhecimentos e profissionais u ao mercado local. 2011 março >

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Muito investimento, pouca qualidade Educação | Estado ainda precisa melhorar muito a educação básica, pois ocupa o 27° posto no ranking do IDEB

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á cinco anos, diversas iniciativas foram realizadas na área educacional, mas pouco se avançou com relação à qualidade do ensino em Pernambuco. Em 2007, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), Pernambuco ocupava o 27º lugar, disparando como o pior índice médio do país. Ano, também, marcado por longas greves. Pernambuco chegou a passar por uma fase degradante na área educacional. O período foi marcado por constantes greves, com interdição de várias escolas, além de estar entre um dos piores sistemas educacionais do país. A partir daí, várias iniciativas foram realizadas, como, por exemplo, o programa Paulo Freire, voltado para a alfabetização de jovens e adultos, o Programa Acelera, que visa a distorção entre a idade do aluno e a série em que ele está, combatendo a repetência, e o programa Se Liga, que tem como objetivo desenvolver a inclusão digital . De 2009 para cá, Pernambuco saiu de 13 para mais de 100 escolas funcionando em tempo integral, contou com o programa Professor Conectado, no qual distribuiu 26 mil notebooks para os docentes da rede estadual, além de distribuir fardamento e material escolar para os alunos. Apesar das iniciativas, cerca de 18% das pessoas com mais de 15 anos eram analfabetas até o ano passado. Em 2010, o Ministério da Educação (MEC) divulgou o resultado 40 >

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Escola no Grande Recife: há investimento, mas falta melhorar a qualidade do IDEB do ano de 2009. Segundo o índice, os níveis de ensino nas escolas em Pernambuco, tanto as estaduais como municipais e da rede privada, obtiveram melhor rendimento. No ensino fundamental, a média foi de 4,1 para as séries que vão do 1º ao 5º anos, e 3,4 para as séries do 6º ao 9º anos, registrando um crescimento de meio ponto com relação aos números de 2007. A média do último ano de ensino médio também recebeu nota 3,3. A meta agora é chegar à nota 6 em 2022, média considerada padrão de primeiro mundo. De acordo com o coordenador de Política do Sindicato dos Professores de Pernambuco, Jackson Bezerra, apesar das evoluções que ocorreram durante esses últimos anos no estado, ainda falta um sistema educacional que funcione de forma mais sistemática. “As condições de trabalho não avançaram, ainda continuamos com um dos

piores pisos salariais do país. Falta englobar a educação do nosso estado e melhorar a formação dos educadores”, ressalta Uacir. Segundo o coordenador, é preciso um investimento público maior, além de uma regulamentação eficaz no setor privado de educação. Segundo Jackson, o Plano Nacional de Educação, entregue ano passado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é um passo inicial para o segmento. O documento estabelece 20 metas a serem alcançadas pelo país até o ano de 2022. Entre elas, estratégias para a valorização e formação dos profissionais do magistério, metas de acesso à educação infantil, ensino médio e superior, além da alfabetização de todas as crianças de até oito anos e a erradicação do analfabetismo da população com mais de 15 anos até o final da década.


Levando em consideração o desenvolvimento do estado nos últimos 50 anos, três tipos de impacto seriam recorrentes: a infraestrutura, a energia e a educação. Segundo o diretor técnico do Senai, Uacir Matias, a área da educação foi a única que não acompanhou, efetivamente, este crescimento. Com o aumento de 50 para 150 empresas no complexo de Suape, a profissionalização e especialização se tornaram necessários. “Existe uma grande dificuldade no sistema educacional, não só em Pernambuco, mas em todo o país. É preciso investir na educação básica de qualidade para que possamos formar bons profissionais”, diz Uacir. Com a construção civil aquecida, a tendência será aumentar essa demanda; além do polo petroquímico, que irá necessitar de profissionais de automação e segurança, bem como de químicos e instrumentalistas. O Senai formou, apenas para o Estaleiro Atlântico Sul, 2.800 soldado-

Ensino Técnico: Senai duplicou o número de matrículas res. De 2005 para o ano passado, o número de matriculas duplicou no Senai. Além disso, cerca de R$ 80 milhões foram investidos nas escolas. Segundo Uacir, a grande dificuldade encontrada na profissionalização técnica é a deficiência dos alunos na questão da educação fundamen-

tal. Eles acabam entrando na especialização sem entender o básico de matemática e português. “Para contornar essa realidade ministramos aulas complementares de matemática, português e cidadania. A única solução é elevar a escolaridade do u estado”, ressalta o diretor do Senai.

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Saúde ainda é alvo de polêmica MERCADO | Estado registra carência de médicos especializados em neurologia, neurocirurgia, traumatologia e neonatologia

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uito ainda deve ser feito pela saúde dos pernambucanos. Na pouca valorização dos profissionais e escassa democratização do setor no estado. Apesar disso, várias iniciativas foram realizadas, como a construção de hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (Upas), além de um maior investimento na área. Mas o que falta, ainda é a qualidade. Desde 2007 o Governo do estado destinou mais do que 12% do orçamento – limite mínimo estabelecido por emenda constitucional – ao setor de saúde. Ano passado foram destinados à saúde 17,49% das receitas, cerca de R$ 1,8 bilhão de reais. Segundo o secretário de Saúde de Pernambuco, Antônio Figueira, a expectativa é de que, até o final do ano, cerca de 20% das receitas próprias do estado sejam aplicadas na saúde. Apesar do investimento em infra-estrutura, muito ainda falta ser feito para chegar a um patamar efetivo e satisfatório de serviço público de saúde. Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Sílvio Rodrigues, falta um equilíbrio de profissionais em todo o estado, além de um maior investimento nos municípios e nos hospitais estaduais, já que ainda há uma sobrecarga das emergências hospitalares. “Existe uma precariedade na atenção básica no estado. Está havendo uma diminuição dos profissionais da área. É preciso que haja estimulo na carreira dos médicos, principalmente 42 >

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Figueira: maior desafio do Estado é atender bem a população usuária do SUS nos municípios, além de um salário adequado”, relata o presidente do Simepe. Segundo Sílvio, o profissional do Estado ganha três vezes menos do que deveria, e não tem estimulo para construir uma carreira estadual. No estado, existe uma significável carência de médicos especialistas, como neurologistas, neurocirurgiões, traumatologistas

e neonatologistas. Em 2009, o governador Eduardo Campos inaugurou um dos três hospitais prometidos durante a sua primeira gestão, o Hospital Metropolitano Norte Miguel Arraes (HMA), no município de Paulista. O hospital tem capacidade para 730 internações, 18 mil diagnósticos laboratoriais e 12 mil atendimento de urgência, além de 3 mil consultas por mês. Já em julho do ano passado, foi a vez da inauguração do Hospital Metropolitano Sul Dom Helder Câmara, na BR 101. O hospital, que tem capacidade para 51.840 atendimentos de urgência anualmente, é referência para toda a Mata Sul de Pernambuco em relação ao socorro de urgência e emergência, internações, atendimento ambulatorial nas áreas de trauma, clínica geral, cirurgia geral e cardiovascular. O Dom Helder beneficia cerca de 1,2 milhão de pessoas de dez municípios na Região Metropolitana e litoral sul. Até então, Pernambuco contava apenas com duas referências para atendimentos em emergência cardiológica: o Hospital Agamenon Magalhães e o Procape. O terceiro hospital está previsto para ser inaugurado em agosto deste ano. O Hospital Metropolitano Oeste Pelópidas Silveira está sendo construído nas margens da BR 232, no Curado. O hospital irá atender as áreas de clínica médica, cirurgia geral e traumato-ortopedia, além de 160 leitos distribuídos nas enfermarias, 28 leitos na Uni-


dade de Cuidados Intensivos (UTI) e 20 leitos de observação na emergência. Já em Caruaru, está sendo construído um novo hospital para suprir os atendimentos médicos de alta complexidade. O Mestre Vitalino está previsto para ser entregue em 2012. O objetivo é que sejam construídos 10 centros regionais de especialidades. Mas, para que esse projeto obtenha melhores resultados, é importante que o programa de saúde da família seja reestruturado e que as redes municipais de saúde ofereçam as especialidades básicas, como clínica médica e pediatria. Além dos investimentos nos hospitais, 14 Upas já foram entregue à população, localizadas em Barra de Jangada, Engenho Velho, Cabo de Santo Agostinho, Olinda, Paulista, Igarassu, São Lourenço, Curado, Torrões, Imbiribeira, Nova Descoberta, Caxangá, Caruaru e Ibura. No Hospital da Restauração,

a emergência clínica e traumatologia foram separadas, além do acolhimento de pacientes em alto risco. No começo do ano passado, começou a funcionar no hospital a Unidade de Suporte Avançado em Neurocirurgia (Usan), voltada para pacientes pós-cirúrgicos da especialidade. Já no Hospital Getúlio Vargas, foram abertos 72 leitos de internamento na área de ortopedia, urologia, cirurgia geral, clínica médica e neurologia, além da inauguração de uma UTI com 15 novos leitos, dobrando, assim, a capacidade de internamento em terapia intensiva. O Hospital Otávio de Freitas (HOF), em Tejipió, passou por uma série de obras para ampliar em mais de 50% a quantidade de leitos, além dos pavilhões de pneumologia, com 104 leitos, e urologia, com 60 leitos, concluídos em 2009. Apesar das iniciativas, a situação da saúde no Estado não ficou livre das críticas e avaliações. Em 2009, época em que houve uma insatisfação da

classe médica com a abertura de processos licitatórios contemplando organizações sociais, a falta de aparelhos hospitalares, superlotação e condições precárias de higiene foram exemplos de falhas encontradas pelas entidades médicas na maioria dos hospitais do estado. Segundo o secretário de Saúde, atender bem a população usuária do SUS é o maior desafio da saúde em Pernambuco. Para que isso aconteça, é preciso reduzir o tempo de espera por cirurgias eletivas, por consultas especializadas, oferecer maior volume de exames especializados, reduzir os índices de doenças como dengue, leptospirose, tuberculose e hanseníase, garantir um pré-natal de qualidade às gestantes, além de fortalecer a atenção primária. É necessário organizar parcerias e programas que visem à redução do consumo de crack e a prevenção de acidentes envolvendo motocicletas, que hoje u afetam toda a população.

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Muitos projetos, poucas obras P

ara as cerca de 1,6 milhão de pessoas que vivem na Região Metropolitana do Recife a mobilidade se transformou, nos últimos cinco anos, em um grande desafio a ser vencido todos os dias. Não existem mais horários de pico, e o trânsito caótico da cidade consome a paciência da população que, sem opções, perde horas presa no caminho entre casa e trabalho. Problema que tem se mostrado um prato cheio para a oposição, que já realiza publicidade nas rádios com o tema “o Recife deu um nó”. Muito além dos números, a mobilidade é um problema que desafia a capacidade de gestão de João da Costa (PT), pois atinge diariamente a população, que dificilmente será convencida com propagandas ou anúncios de novos projetos. Afinal, não faltam projetos que prometem resolver todos os problemas de mobilidade no Recife. Via Mangue, duplicação do Viaduto Capitão Temudo, corredores Norte-Sul, Leste-Oeste, dentre outros, são apontados como soluções, mas acumulam atrasos e burocracia. Recentemente, foi a vez do Plano de Mobilidade Urbana ser apresentado, após dois anos de atraso, à Câmara de Vereadores. Segundo o coordenador do Instituto da Cidade, arquiteto Milton Botler, responsável pela elaboração do projeto, o plano definirá as políticas de transportes que serão implementadas nos próximos anos. Na prática, a proposta da Prefeitura do Recife é trabalhar integrando 44 >

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Alexandre Albuquerque

Mobilidade | Problemas de deslocamento dentro da RMR travam crescimento de Pernambuco

Um exemplo do caos do trânsito: a qualquer hora os diversos tipos de modais, como bicicletas, ônibus, metrô e pedestres. “Não podemos continuar com as calçadas sendo barreiras. Elas são a primeira condição para que a mobilidade funcione. Por isso, pretendemos facilitar o acesso, com paradas mais próximas (até 400m entre elas), ampliação de ciclovias, ciclofaixas, calçadas, e construção

de equipamentos que auxiliem o deslocamento nos morros, como escadas rolantes ou o Elevador Lacerda, na Bahia”, conta Milton. Sobre o tempo para implantar todas as diretrizes do plano, Milton procura ser otimista. “Se o governador diz que o PIB de Pernambuco deve dobrar em dez anos, significa que podemos ter condições de realizar as mudanças o quanto antes. O nosso plano de ação prevê de 20 a 30 anos para a realização das propostas”, disse. Em uma coisa todos parecem concordar. É preciso arranjar soluções para melhorar o transporte coletivo e reduzir o número de carros nas ruas. Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de Pernambuco (Urbana-PE), Fernando Bandeira, existiram avanços no transporte público, mas que não surtiram o efeito desejado devido aos engarrafamentos. “Evoluímos na acessibilidade, bilhetagem eletrônica, mas, apesar das melhorias, os ônibus ficaram presos no trânsito da cidade. Fomos à Curitiba e sugerimos a implantação do BRT (Bus Rapid Transit), para dar agilidade ao transporte coletivo. Esperamos que com a proximidade da Copa do Mundo, a mobilidade passe a ser, cada vez mais, uma prioridade de governo”, diz, acreditando ser possível resolver o caos instalado em um médio prazo. “É possível fazer as obras em três anos. As obras do BRT, por exemplo, podem ser realiu zadas em 18 meses”, completa.


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Os shows da cultura A

riqueza cultural de Pernambuco traz ao estado a responsabilidade da preservação. Apesar dos pontos positivos, como a descentralização cultural, ainda se observa uma grande precariedade nos espaços públicos. Mas, durante esses cinco anos, Pernambuco acabou entrando na rota do turismo cultural, dando visibilidade ao estado. Ano passado, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) enfrentou uma série de escândalos envolvendo representantes da entidade na contratação de empresas fantasmas para a realização de eventos. Recentemente o professor e contador Severino Pessoa foi escolhido para substituir a então presidente da Fundarpe Luciana Azevedo, alvo de denúncias de irregularidades. Na opinião de Severino, o trabalho da ex-presidente à frente da fundação fortaleceu a imagem da fundação perante a sociedade pernambucana. “Hoje todo o estado sabe que a Fundarpe é a maior referência sobre cultura em Pernambuco. Nossa cultura está cada vez mais forte”, diz o atual presidente da fundação. Atualmente, a instituição aguarda o julgamento do relatório da auditoria especial realizada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) para apurar as denúncias feitas pela bancada de oposição na Assembleia Legislativa. O órgão teria firmado contratos ilegais no valor de R$ 66,7 milhões. Além do afastamento de Luciana Azevedo, outra auditoria realizada após as denúncias foi para examinar a vinculação da Fundarpe a recémreformulada Secretaria de Cultura. A fundação continua responsável 46 >

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Alexandre Albuquerque

EFERVECÊNCIA | Setor foi investigado pelo TCE, mas ações governamentais promoveram a descentralização e a democratização

Luciana Azevedo: sob ofensiva da oposição por causa de problemas na Fundarpe pelas licitações de shows e artistas, além da infraestrutura das festas promovidas pelo estado. Na opinião do pesquisador Lula Cardoso Ayres Filho, os últimos anos foram essenciais para a cultura pernambucana. As iniciativas do Governo do Estado promoveram a descentralização e a democratização da cultura no estado. “Apesar desse ponto positivo, o espaço público de Pernambuco não teve avanço. Não tem uma eficaz preservação e va-

lorização dos museus. Faltam boas administrações”, rebate Lula. Outra questão apontada pelo pesquisador foi o fato de não haver divisão de verbas igualitárias para todas as artes. “Deveria dar mais atenção as outras artes, não somente o audiovisual, por exemplo”, diz ele. Apesar disso, acredita que hoje existe uma cultura mais equilibrada no estado e uma divulgação eficaz. Outro grande acontecimento foram os espetáculos de música erudita, que cada vez mais ocupa um espaço sedimentado na cultura musical de Pernambuco. Com doze edições, o Virtuosi celebra o gênero musical e traz atrações de grande escala internacional. Outra marca no território cultural foi a reforma no Teatro Santa Isabel, existente há 160 anos. O teatro ficou fechado por dois anos, e as novas mudanças tentam unir a áurea antiga do local com o modernismo atual. Em 2009, um dos mais antigos cinemas de rua do país, o São Luiz, reabriu as portas após quase dois anos em reforma, que seguiu as características originais do local. Segundo Lula, curador do São Luiz, no qual esteve à frente na reforma, o cinema do local ficou perdido e limitado as reprises cinematográficas. Apesar da crítica, ele diz acreditar e ter esperança com relação à administração da casa. Outro grande mote para Pernambuco foi a vinda de grandes shows internacionais. Durante os últimos anos, Pernambuco deixou de lado a fama de ressuscitar bandas antigas internacionais. Artistas como Amy Winehouse, Jason Mraz, a banda Backstreet Boys e Cindy Lauper foram os últimos grandes nomes que marcaram presença no Estado.


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ARTIGO

Pernambuco, Por Luiz Otávio Cavalcanti

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* Jornalista e diretor da Faculdade Santa Maria lotavio@fsm.com.br

Cid Sampaio fundou o Pernambuco Industrial. Miguel Arraes e Pelópidas Silveira fundaram o Pernambuco Social. Moura Cavalcanti fundou o Pernambuco Gerencial 48 >

ernambuco foi fundado três vezes. O Pernambuco industrial foi fundado por Cid Sampaio, em 1958. O Pernambuco social foi fundado pela dupla Miguel Arraes e Pelópidas Silveira, em 1962. E o Pernambuco gerencial foi fundado por Moura Cavalcanti, em 1975. Até 1958, o vocabulário falado no Estado era principalmente rural. Metade da população vivia no campo. O engenheiro Cid Sampaio elege-se governador na crista de um movimento de opinião pública derrotando antigas lideranças pessedistas. Orfãs de Agamenon Magalhães. E introduz, na linguagem do cotidiano, o substantivo indústria. Nasceu a Coperbo. E inaugurou-se a mentalidade voltada para o desenvolvimento. Em 1962, duas forças políticas dominavam o cenário político do Estado: a UDN de João Cleofas e Cid Sampaio, e o PSD de Agamenon. A Os udenistas no meio urbano. Os pessedistas na área rural. Ambos, representativos da classe média. O voto popular não tinha voz. Então, Miguel Arraes, governador, e Pelópidas Silveira, prefeito do Recife, formam moeda política. Arraes funcionou como mito, comunicador, e Pelópidas, como anti mito, doutrinador. Juntos, deram eco ao eleitor popular e colocaram, pela primeira vez, a periferia no poder. Em 1975, Moura Cavalcanti é indicado governador indireto pelo governo militar. E patrocina radical mudança de quadros administrativos no Estado. Dispensando políticos habituados ao clientelismo, Moura nomeia uma equipe de secretários com idade média de 28 anos. Habilitados em concurso público e vocacionados para a gestão profissional. É realiza-

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da, então, profunda reorganização da estrutura gerencial do setor público. Com ênfase no planejamento e na modernização. O PASSADO RECENTE: 2006/2010 A lembrança desses fatos procura fixar a evolução das idéias sociais no Estado. Cultura política não se faz de um dia para outro. Resulta de processo de sedimentação de contribuições de vários setores da comunidade. Ao longo do tempo. Em camadas, como bolo de rolo, justapondo-se. Até formar consensos e sínteses, atitudes e comportamentos, que passam a ser praticados pela sociedade. ECONOMIA Até os anos da década dos 1990, a economia pernambucana apresentava perfil industrial dos setores metal, mecânico e metalúrgico. Herança do ciclo das usinas de açúcar, cujas moendas e equipamentos saíam das metalúrgicas. É na primeira década dos anos 2000, que a economia estadual faz inflexão radical. Assume quatro novos pólos produtivos: 1 de indústria naval, com instalação de dois estaleiros de reparo naval, um deles o Atlântico Sul 2 de indústria de petróleo, com instalação da refinaria Abreu e Lima para produzir 200mil barris/dia 3 de indústria automotiva, com instalação de uma montadora da Fiat 4 de indústria siderúrgica, com instalação de unidade fabril da Moura Dubeux Trata-se de notável agregação de valor à economia do Estado. Pois os novos pólos representam ao mesmo tempo: • Maior volume de capital investido

por unidade industrial instalada; • Maior densidade de tecnologia por processos industriais nelas empregados. A taxa média de crescimento do PIB pernambucano, na década dos 2000, descola do patamar histórico e avança para mais de 3%. POLÍTICA Na política, a eleição para governador, em 2002, aparentava disputa entre o Democratas e o PT. Mas, não aconteceu nem um, nem outro. Deu o PSB de Eduardo Campos. Que confirmou o segundo mandato em 2010. A renovação do mandato de Eduardo Campos acentuou a reinvenção de uma via de poder. Representou a construção de um pólo político que ladeia o dilema tradicional entre direita e esquerda. E introduziu, no cenário político pernambucano, a possibilidade de agregar novas idéias, como o Instituto de Gestão. E de realizar reformas, como a da Saúde. Sem esquecer a administração da política, Eduardo fez a política da administração. CULTURA Na cultura, dois fatos se destacaram no período: a desapropriação do parque da Tamarineira, como marco da política ambiental no Recife. E a estilização do frevo do maestro Spok, à sombra do jazz de New Orleans, como instância de sobrevivência de um dos mais legítimos emblemas da música pernambucana. O FUTURO AGORA Nos próximos quatro anos, a economia pernambucana deve assumir uma configuração mais dinâmica, baseada em três características: • O sistema industrial será mais capitalizado e moderno, apoiado em pro-


o futuro agora jetos de indústria naval, petróleo, do setor automotivo e de siderurgia; • O papel de redistribuição de bens e serviços de Pernambuco para os demais Estados do Nordeste, será acentuado, especialmente veículos, óleo e produtos siderúrgicos, com base naquelas plantas industriais; • As atividades de economia criativa, associando turismo, cultura, moda, software, música, publicidade e gastronomia se tornarão mais articuladas e densas na Região Metropolitana do Recife. Os novos pólos da economia de Pernambuco, de construção naval, de petróleo, automotivo e de siderurgia, colocam dois desafios que precisam ser equacionados já: • A redefinição do espaço geo industrial em Suape para evitar o congestionamento de atividades internas e externas no Complexo • A realização de investimentos em educação, capacitação técnica e qualificação: seremos Roma ou Grécia? De uma parte, o crescente fluxo de veículos e mercadorias em Suape vai requerer urgente reformulação de sua logística interna e externa. As vias de acesso precisam ser redimensionadas para absorver o rápido crescimento de investimentos. E a ocupação das áreas para empresas, no Complexo, necessita ser redefinida para abrigar funcionalmente novas unidades que procuram instalar-se ali. Hierarquizar as empresas segundo sua localização mais ou menos próximas do porto: empresas primárias, ligadas ao porto; empresas secundárias, não ligadas diretamente ao porto; e, empresas terciárias, fornecedoras de bens e serviços às demais empresas. Estas empresas terciárias poderão ser incentivadas a se estabelecer

num Eixo de Serviços, conectando o Complexo de Suape à BR 232, na altura de Gravatá. Será uma forma de valorizar as duas mais expressivas infra estruturas no Estado: Suape e a BR 232. Por sua vez, a demanda de pessoal técnico e gerencial pelas empresas que estão se instalando no Estado não vem sendo atendida. Ora, o hino de Pernambuco filia os pernambucanos ao fazer romano quando diz: “Roma de bravos guerreiros, Pernambuco imortal, imortal”. Penso diferente. Ficaremos mais atualizados se nos vincularmos ao pensar grego, na capacidade de formular e na dedicação ao aprender. Sim, na busca de aprofundarmos o conhecimento e de nos especializarmos em novas tecnologias. Sendo mais gregos e menos romanos. Produzindo mais educação e menos violência. ECONOMIA CRIATIVA Pernambuco vai caminhar no sentido da junção de fazeres do ter-

ciário moderno. O publicitário, juntando-se ao criador de software e ao editor, para produzir filmes de mais qualidade. A produtora de moda, ligando-se ao fotógrafo e ao hoteleiro, para colocar na passarela e nas revistas as cores de Maria Bonita. O chef, relacionando-se com o gestor cultural e o designer, para gerar eventos de gastronomia salpicados de arte. A destinação pernambucana para turismo/cultura, como negócio, terá passagem natural na economia criativa. O Porto Digital, os portos turísticos e as navegações culturais são convergentes na criação de novos produtos e padrões baseados no gosto regional. SOLIDEZ Na política, a arte de agregar torna Eduardo Campos destino e ação. Internamente, no Estado, sua base de sustentação parlamentar será sólida. E, no plano federal, a partir da prancha sertaneja inserida no Ministério da Integração, o projeto nacional será conseqüência dos próprios fatos. De seu desempenho administrativo, aqui. E de sua articulação política, lá fora. 2011 março >

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Religião, literatura, política, medicina: aqui se falou de tudo Personagens ilustres | Sessenta entrevistas foram realizadas nesses cinco anos e nelas foram abordados os temais mais variados Por José Neves Cabral

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m linguagem jornalística, entrevista é um encontro entre um ou mais repórteres com uma pessoa que se destaca em seu segmento de atuação ou, por seu próprio dinamismo, em vários segmentos. É alguém que pode fazer reflexões críticas sobre a sociedade e até apontar novos caminhos para resolver questões que inquietam o meio em que vive. É também uma forma de resgatar fatos históricos de pessoas que acompanharam de perto esses fatos, como protagonistas ou coadjuvantes, e que, por essa proximidade com o fato, podem trazer à tona revelações a quem a entrevistou. Tudo depende da boa vontade do entrevistado. Ou da astúcia do entrevistador. Aproveitamos esta edição número 60, que marca os 5 anos de existência da revista, para relembrar algumas das entrevistas que fizemos, boa parte delas de autoria do jornalista Antônio Magalhães. Outra parte, a partir de janeiro de 2010, feita pela própria equipe da revista, formada por Roberto Tavares (editor geral), José Neves Cabral (editor executvo) e os repórteres Ivo Dantas, 50 >

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Francisco Brennand

“No Palácio das Princesas não havia nem uma espingarda em 1964.”

Marcella Sampaio, Mirela Soane, Camila Lindoso e Rafaela Magna. E foi o artista plástico pernambucano Francisco Brennand que abriu a Algomais número 1. Não apenas por ser quem é, mas pelo conjunto da obra, uma vez que também chegou a atuar no governo do Estado num difícil momento

da política pernambucana, quando o governador Arraes, de quem era chefe do cerimonial, foi deposto. Para entrevistá-lo, além de Antônio Magalhães, a Algomais convidou os arquitetos Fernando Pontual e Roberto Montezuma e o consultor Ricardo Almeida, da TGI. Brennand revelou o verdadeiro vespeiro em que se meteu por ser membro de uma família considerada da elite econômica do estado e, ao mesmo tempo, fazer parte de um governo de esquerda. Sofreu preconceito dos dois lados, mas aguentou firme. E, contrariando conselhos de amigos, preferiu ficar em Pernambuco, apesar das ameaças de ser preso. Na conversa com Tonico Magalhães, brincou com a ingenuidade dos que criticaram Arraes por não oferecer resistência aos generais. “No Palácio das Princesas não havia nem uma espingarda em 1964.” Foi o artista plástico o idealizador do projeto que transformou o antigo presídio próximo à estação central em Casa da Cultura. Na entrevista, publicada em março de 2006, Brennand deixou uma incógnita no ar a respeito do quanto as informações são controladas desde tenras épocas: “Será


“Comecei jogando no gol nas peladas de San Martim”

Carlinhos Bala que a sociedade da época tinha consciência do Tratado de Tordesilhas, no ano de 1494, quando a América do Sul foi dividida ao meio? Quem sabia de tudo era o rei de Portugal, João II, ao lado do rei da Espanha, Fernando de Aragão. E agora, quem nos garante que não estejamos esquartejados, novamente, pelos desígnios das grandes nações? Quem nos garante? O estado tem sempre razões que a própria razão desconhece.” “Minhas pinturas e meus desenhos são contaminados por certo erotismo. Mas minha cerâmica é completamente dirigida pela ideia da reprodução, o grande enigma da humanidade. A reprodução seria o equivalente da eternidade. Daí a presença recorrente dos ovos entre as esculturas, como um emblema de imortalidade. Coitada da

“Se tivesse gastado todo o dinheiro do programa Bolsa-Escola com viadutos, pontes ou asfalto certamente seria reeleito...”

forma que não couber dentro de um ovo.” Na entrevista número 2, em abril de 2006, um conhecido “boleiro” que já se destacava como ídolo do futebol pernambucano vestindo a camisa do Santa Cruz, Carlinhos Bala. Cinco anos depois, o polivalente jogador já passou por Sport, no qual foi campeão do Brasil, e pelo Náutico. Agora, novamente no Leão, tenta conquistar o sonhado hexa. Em 2006, no título da entrevista, Carlinhos já deixava o recado para quem, por acaso, estranhou ao vê-lo no gol do Sport na partida contra o Central, dia 3 de fevereiro deste ano, após a contusão do goleiro Saulo no finalzinho da partida. Um pernambucano de destaque na política nacional apareceu em nossas páginas da edição número 3, em maio de 2006. O senador, ex-governador de Brasília, e ex-ministro do governo Lula, Cristovam Buarque. Radical na luta pela melhora do ensino no País, Buarque lembrou que, à frente do governo de Brasília, mostrou que foi possível dar um salto na educação e mostrou-se consciente do preço que teve de pagar. “Se tivesse gastado todo o dinheiro do pro-

Cristovam Buarque

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Clementina Duarte grama Bolsa-Escola com viadutos, pontes ou asfalto certamente seria reeleito...” “É preciso federalizar a educação básica. Não é possível uma educação boa enquanto ela for municipal e estadual, porque há muitas desigualdades entre municípios e estados. A criança nasceu no Brasil e não no Recife ou em Brasília. A responsabilidade seria da união com a gestão do prefeito. Não acredito em centralização, mas federalização.” Em junho de 2006, a designer Clementina Duarte pontuou a entrevista número 4 com lembranças de suas andanças pelo mundo, principalmente na França, onde mostrou seu talento nato para produzir jóias que agradam a todos os públicos. E na edição seguinte, o diretor, roteirista e músico João Falcão falou da linguagem pop que levou para o teatro e para a tevê em produções de sucesso na Rede Globo. O publicitário Severino Queiroz mostrou a sua lucidez sobre o mercado em que atua na edição de número 6, em agosto, e deixou um recado para quem pensa primeiro em dinheiro: “O dinheiro é consequência da estabilidade emocional que se consegue com a família e os amigos.” O colunista social José de Souza Alencar, Alex, foi o protagonista da entrevista número 7, quando 52 >

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lembrou de suas relações com os colunáveis do estado e também com o presidente Castelo Branco, em cujo governo chegou a ser preso após revelar um suposto namoro entre o então presidente, que era viúvo, e uma professora pernambucana. O que fica de exemplo nestas conversas entre jornalistas e personagens desse pedaço do Brasil chamado Pernambuco é a característica forte desses personagens para cumprir as missões que se deram, como a delegada Cláudia Molina, na edição número 8, em sua luta para reduzir os índices de violência contra as mulheres. Ou do governador Eduardo Campos, que assumiu o governo com a enorme responsabilidade de ser neto do mito Miguel Arraes. Na edição número 9, ele lembrou passagens de sua convivência com o avô, que não lhe deu nenhum mandato na política, mas o ensinou a lutar pelos espaços que desejava. Já em novembro de 2006, pouco antes de assumir o governo, Campos falava dos projetos estruturadores que pretendia consolidar para levar o Estado ao crescimento que se verifica hoje, quando temos o nosso Produto Interno Bruto crescendo a taxas chinesas. “Não há dúvida nenhuma. É preciso ser um ingênuo ou de má fé, como diria Eça de Queiroz, para imaginar que você pode abordar os Eduardo Campos

“Assumir cargo público sempre esteve longe dos meus objetivos.”

“Não há dúvida nenhuma. É preciso ser um ingênuo ou de má fé para imaginar que você pode abordar os problemas complexos do Nordeste sem planejamento”

João Carlos Paes Mendonça problemas complexos do Nordeste sem planejamento. O planejamento significa comprometer a sociedade, os estados e as instituições com mais poder, com objetivos explicitados, explicados ao povo”. O empresário João Carlos Paes Mendonça, presidente do Grupo JCPM, que engloba um jornal, rádios e tevê, além de shoppings, mostrou toda sua visão de empreendedor, além de como enxerga o mercado, a política e a economia de Pernambuco, estado que o sergipano adotou para viver. E pôs fim às especulações de que pretendia pleitear um cargo público. “Assumir cargo público sempre esteve longe dos meus objetivos.” Mas nem só políticos e empreendedores passaram pelas páginas da Algomais nesses cinco anos. Nelas, também abrimos espaços para discutir a cultura e a nossa principal manifestação popular, o Carnaval. E foi com uma ponta de saudosismo e de inconformismo que o inesquecível Enéas Freire nos deu seu depoimento na edição de número 11. O fundador do Galo da Madrugada disse que criou o que seria o maior bloco de rua do mundo, em 1978, como uma forma de resistência. “O frevo é uma tradição que a gente, como folião antigo, sente orgulho em preservar. Eu nasci em 1921, então, peguei os grandes carnavais que até hoje não foram u


Fecomércio

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suplantados. Em 1978, notei que o frevo estava se acabando. O que restava na Federação Carnavalesca eram 91 agremiações, quando dez anos antes eram 290. Essas 90 que estavam se aguentando eram organizações pequenas com os custos lá embaixo em relação as que gastam dinheiro. Foi aí que notamos que precisávamos de uma reação para poder brincar. Reuni a família e os amigos para brincar, não havia a intenção de se fazer uma coisa grande.” Enéas Freire faleceu, aos 86 anos, a 9 de junho de 2008, um ano e meio após a entrevista, que faz parte agora do acervo da revista. E a Algomais não esquece dos pernambucanos que se destacam nos diversos segmentos. Por isso, foi conversar com Maria Fernanda Ramos Coelho, primeira mulher a presidir a Caixa Econômica Federal. Na época, ela já falava dos desafios e dos projetos para a instituição, um dos destaques do governo Lula com o programa Minha Casa Minha Vida.

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No mês seguinte, em abril de 2007, o juiz da 3ª Vara de Infância e Juventude, Humberto Vasconcelos Júnior, falou de suas preocupações com os jovens infratores. Lembrou que o Estatuto da Criança e do Adolescente era ainda um projeto em construção e posicionou-se contra a redução da maioridade penal.

“O frevo é uma tradição que a gente, como folião antigo, sente orgulho em preservar”

Enéas Freire

Na entrevista da edição 14, em maio de 2007, o líder do governo na Câmara Federal, José Múcio Monteiro, pregava o desarme dos palanques após as eleições de 2006. Ele já antevia o bom momento que Pernambuco começaria a atravessar com o governo Lula. A frase que ficou: “A coisa menos inteligente que eu acho é continuar com os palanques armados depois da eleição. A inteligência leva a desarmá-los e trabalhar pelo coletivo. Esse é um ponto que tenho conversado com o presidente Lula, com os ministros e com o Eduardo campos. Precisamos aproveitar este momento excepcional de Pernambuco, do ponto de vista econômico.” Nas edições mais recentes da Algomais, temos elaborado matérias sobre a preocupação com o meio ambiente e discutido os impactos que a Via Mangue poderá trazer ao Recife. Mas essa é uma preocupação antiga da revista que,

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“É preciso que haja uma articulação melhor entre as escolas públicas de segundo grau e o mercado de trabalho.”

Frederico Pernambucano de Mello Já o ex-governador e agora senador Jarbas Vasconcelos aproveitou a entrevista número 18 para falar da importância de uma reforma política no Brasil. “Ou se faz uma reforma política, ou Lula, inclusive, seu sucessor, vai continuar dependendo negativamente do Congresso”, pregou. Os anos passaram e logo se vê que Jarbas tinha razão. Os historiadores também tiveram espaço nas nossas entrevistas, entre eles Frederico Pernambucano de Mello, que aproveitou para falar do livro “A Guerra Total de Canudos, 110 anos Depois”, no nosso número 19, em outubro de 2007. E um tema sempre em voga – a relação planos de saúde, hospitais, pacientes – foi abordado na entrevista da edição 20 pelo médico Francisco Trindade Barreto, o Chicão. “Medicina passou a ser um bem de mercado em que as pessoas lucram com isso. As seguradoras de saúde temem que sejam pedidos exames desnecessários e por outro lado o usuário quer fazer todos os exames a que julga ter direito, às vezes, sem necessidade. O resultado é o aumento de custo para todos os lados.” A edição 21, trouxe Patrick Peritore, professor de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Católica de Pernambuco, falando sobre este tema tão instigante. “Os políticos são votados de quatro em quatro anos para fazer o que que-

Alexandre Albuquerque

“Medicina passou a ser um bem de mercado em que as pessoas lucram com isso”

rem, isso não é democrático. O PT entrou no sistema cartorial dos partidos brasileiros e deu no que deu, corrupção, mensalão. “O sistema corrompe todo mundo, isso acontece aqui no Brasil e nos Estados Unidos”. A Algomais abriu o ano de 2008, em sua edição 22, em janeiro, com uma entrevista do presidente da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), o pernambucano de Tabira Mozart Valadares, que assumiu o cargo estabelecendo o desafio de arejar o Poder Judiciário. “O juiz de hoje tem que ter uma visão ampla das questões sociais, pois ele é acionado para internar alguém numa UTI ou obrigar o estado a dar o remédio a um pobre.” Nesse ano, também desfilaram nas nossas páginas de entrevistas personagens ilustres de todos os segmentos. Um craque do nosso principal ritmo musical, o maestro Duda, na edição 23, falou naturalmente de frevo. “Essa rivalidade entre Bahia e Pernambuco na música não existe. Posso dizer que sou mais famoso em Salvador do que no Recife.” E o então deputado federal e presidente da Confederação das Indústrias, Armando Monteiro Neto, agora senador, discorreu, na edição 24, sobre política e economia e mostrou como as duas andam de mãos dadas, mas nem sempre em harmonia. “O brasileiro se acostu-

Alexandre Albuquerque

em junho de 2007, entrevistou José Geraldo Eugênio de França, ex-presidente do IPA e diretor-executivo da Embrapa. E o alerta foi dado: “O aquecimento global é algo que veio para ficar. Há décadas estudos constataram a tendência pelo aquecimento do planeta. Por comodidade ou por interesses políticos e econômicos várias nações preferiram abdicar de dar a devida atenção ao tema. Restou-nos ter que, após depararmo-nos com provas irrefutáveis mostradas no filme “Uma Verdade Inconveniente”, produzido pelo ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, cair na real e sentir que a coisa não é para brincadeira e que, de fato, o nosso planeta, a nossa casa, passa por profundas alterações.” Com sua visão privilegiada da economia e do futuro, a economista Tânia Bacelar também se preocupava, em julho de 2007, com a questão do ensino. Lembrou que, à época, estavam sobrando vagas no ensino fundamental, mas pedia investimentos do governo na qualidade da educação. “É preciso que haja uma articulação melhor entre as escolas públicas de segundo grau e o mercado de trabalho.” Rogê de Renor, produtor cultural, falou da sua Sopa na TV Universitária em entrevista na edição 17 e se definiu como um comunicador popular.

Maestro Duda

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“Do mesmo modo que a economia alavanca a popularidade de Lula, ela juda os prefeitos. Melhora o humor da população”

Emílio Calado

Nas edições 26 e 27, conversamos com o diretor da Deloitte, em Pernambuco, José Emílio Calado, e com o educador Armando Vasconcelos. Também apareceram com destaque em nossas páginas o então prefeito João Paulo, na edição 28, fazendo um balanço de seu mandato, e o jogador Juninho Pernambucano, na edição 29. E na nossa 30ª edição, a economista Kilsa Rocha falou sobre o observatório envolvendo entidades da sociedade civil, representando setores diversos, a fim de mobilizar a sociedade para formular e monitorar um conjunto de indicadores e metas que se constituam numa agenda de desenvolvimento sustentável para o Recife até o ano de 2015. Nas três edições que finalizaram o ano de 2008, apareceram em nossas páginas o cientista político e marqueteiro Antônio Lavareda, o advogado e ensaísta Antônio Campos, organizador da Fliporto, e a viúva do ex-governador Miguel Arraes, Madalena Arraes, também responsável pelo acervo deixado pelo mito. Lavareda, na edição 31, já previa a vantagem que o bom momento econômico daria a João da Costa, candidato a prefeito do Recife pelo PT e ancorado no apoio do então prefeito João Paulo e no bom desempenho econômico do governo Lula. “Do mesmo modo que a eco-

nomia alavanca a popularidade de Lula, ela ajuda os prefeitos. Melhora o humor da população, permite o aumento do consumo e acresce recursos aos municípios para novas obras que geram popularidade.” Já o neto de Miguel Arraes e filho do escritor Maximiniano Campos observou a diferença entre a literatura e a política, na edição 32: “A Literatura tenta transformar o mundo através do homem e a Política age por meio da massa. A Literatura vê o individuo. A Política não se interessa pela vida pessoal, só pelo grande público anônimo. Passa por cima do individuo.” Dona Madalena encerrou o ano com uma das entrevistas de maior repercussão publicadas nesta revista ao recordar fatos de sua convivência de 42 anos com o líder popular. Com muito bom humor e risadas em alguns momentos, ela narrou histórias curiosas desse período. Revelou que conheceu o político quando foi fazer um curso de francês na Sorbonne, em Paris, onde Arraes cumpria uma missão como prefeito do Recife. “Pois é. Inclusive com passeios pelo Bois de Bologne (um parque de Paris). Dois cearenses se encontrarem em Paris é uma coisa da providência divina que não se pode imaginar. Porque, apesar de cearense, a minha família morava no Rio.” Abrindo o ano de 2009, em nossa edição 34, o ex-ministro da Alexandre Albuquerque

Alexandre Albuquerque

mou a viver na sombra do estado. Os cartórios foram estabelecidos, as atividades dependiam da concessão real. Então temos como herança o gosto pela burocracia. Pela cultura do privilégio, diferentemente da formação de outros países. E ainda houve um tempo de luta ideológica intensa na qual a atividade empresarial era vista como responsável por todas as mazelas. Por uma série de equívocos nós não criamos um ambiente propício ao desenvolvimento da atividade empresarial. Mesmo assim, nesse ambiente hostil, com tantos planos econômicos malogrados, com a carga tributária escorchante, muita burocracia, crédito curto e escasso, há aqueles que mantêm a atividade. Quem sobrevive num ambiente como esse, consegue desenvolver-se. Quando o ambiente melhora um pouco se percebe a energia empreendedora do brasileiro.” Na edição 25, o então presidente do Santa Cruz, Edson Nogueira, falava do pesadelo em que a torcida do Santa Cruz vivia com o clube mergulhado na Série C. Mal sabia ele que, em sua gestão, o Mais Querido chegaria ao inferno da Quarta Divisão e que o fim de seu mandato se precipitaria antes do previsto, em outubro, devido ao quadro político agudamente desfavorável por causa do fracasso do futebol tricolor.

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Gustavo Krause

“O PT fez uma oposição destrutiva de fatos e reputações, corrosiva e mentirosa” Fazenda e do Meio-Ambiente e também ex-governador do estado e ex-prefeito do Recife Gustavo Krause destacou a importância e o papel da oposição no país. Sem mandato, atuando como consultor e guru do DEM em Pernambuco, a oposição hoje no Brasil deveria fazer exatamente o contrário do que fez o PT quando estava fora do poder. “O PT fez uma oposição destrutiva de fatos e reputações, corrosiva e mentirosa. O partido, hoje no Governo, não assinou a Constituição de 1988, se opôs ao Plano Real e rechaçou até programas educacionais. O primeiro mandamento de uma oposição decente é não agir igual ao PT. O segundo, é ser desprovida de superstições econômicas, como tinha o PT, o que não Lula

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“Eu saí de Pernambuco ainda muito menino, mas por mais que a gente rode o mundo a ligação afetiva com os conterrâneos e com a terra natal é muito forte”

leva a canto algum. Os petistas sempre imaginaram a economia como um ogro filantrópico, eles gostavam de inflação e gasto público. Agora estão aprendendo com os neoliberais, como Henrique Meirelles (presidente do Banco Central), uma coisa bem antiga, a necessidade de ter o equilíbrio orçamentário. A postura da Oposição é de não querer fazer uma administração eleitoral da economia. E isso a sociedade está percebendo. O terceiro mandamento da boa oposição é demonstrar para a sociedade que existe uma alternativa bem articulada para enfrentar a crise e para seguir na construção de um país sólido.” No mês seguinte, uma entrevista histórica do presidente Lula a Algomais, edição 35, quando discorreu sobre o caráter descentralizador do desenvolvimento que norteou seu governo e a ligação forte com a terra natal. “Eu saí de Pernambuco ainda muito menino, mas por mais que a gente rode o mundo, por mais que conheça, visite e viva em diversos outros lugares, a ligação afetiva com os conterrâneos e com a terra natal é muito forte e permanece por toda a vida. Eu nasci no atual município de Caetés, que na época era distrito de Garanhuns. A ligação com a cidade, com o estado de Pernambuco e com o Nordeste eu guardo aqui no lado esquerdo do peito. No exercício da Presidência, no entanto, eu não posso misturar políticas públicas com sentimentos pessoais. Se hoje estamos priorizando esta região e também o Norte em termos de políticas sociais, de investimentos em diversas áreas, de localização de empreendimentos de estatais é porque, para nós, chegou finalmente a hora e a vez do povo e das regiões que estiveram historicamente abandonados e marginalizados.” Nesse ano de 2009 ainda apareceram com destaque em nossas entrevistas o prefeito eleito de Jaboatão, Elias Gomes, falando dos

desafios que iria enfrentar na direção do segundo município mais populoso do Estado; a psicóloga e sócia diretora da Trajeto, Sílvia Gusmão; o diretor-executivo do Banco Gerador, Paulo Dalla Nora, o presidente da Cooperativa da Unicred, Frederico Leal; o empresário Douglas Cintra, principal executivo da rede de supermercados Bonanza, de Caruaru; e o presidente da Associação Brasileira das Agências de Publicidade/Pernambuco (ABAP/PE), Edson Martins. Na edição 42, o professor e advogado Josias Albuquerque, que comanda o SENAC, o SESC e a Fecomércio, entidades ligadas ao comércio local, falou do seu trabalho à frente das instituições para formar mão de obra e estimular empreendedores. “Não podemos é deixar o pessoal de fora se beneficiar dos nossos ganhos.” Outro destaque das entrevistas de 2009 foi o advogado e exdeputado federal constituinte Egídio Ferreira Lima, que relembrou sua trajetória política, a conspiração da esquerda durante o regime militar para lutar contra a ditadura e do momento que o país atravessava em 2009. “O que o País está passando não me escandaliza mais. Sarney foi assim a vida inteira, só que ele se protegia. O Congresso está num período difícil. Vivemos um processo de quedas e sobressaltos da evolução polítiPaulo Dalla Nora

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to pouco. De vez em quando me prendiam. A polícia política dizia que algumas manifestações eram coisa de Abelardo e lá eu ia preso. Em toda a minha vida já fui preso umas 70 vezes.” O cardiologista Enilton do Egito, uma referência médica nacional, conversou com a reportagem da Algomais para a edição 45, lembrando da sua trajetória, quando saiu de Timbaúba, passou pelo Recife e foi até a capital paulista, onde cresceu profissionalmente. “Um bom remédio para o coração, costuma se dizer, é o bom relacionamento com as pessoas.” Janeiro de 2010, edição 46, a gastronomia entra na pauta das entrevistas da Algomais com o chef Leandro Ricardo, um dos destaques do segmento no estado. Mais que um chef, Leandro transformou-se num pesquisador gastronômico, que une criando um link entre as suas descobertas e a cozinha contemporânea. E na edição 47, conversamos com Getúlio Cavalcanti, cantor, compositor e um dos maiores nomes do frevo pernambucano. O pesquisador popular Liêdo Maranhão falou da sua arte de espiar as coisas do povo na edição 48 e recordou suas andanças pelo mundo, definindo o que faz: “Tem gente que diz que eu sou pornográfico, safado, mas na verdade, o que é que o povo faz: é religião, jogo de bicho, futebol e

Egídio Ferreira Lima

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Alexandre Albuquerque

“Vivia isolado na Rua do Sossego, onde moro desde 1954. Muitas pessoas deixaram de falar comigo”

Alexandre Albuquerque

ca. Mas o brasileiro tem que levar em conta que, apesar de todos os problemas, não ocorre qualquer transtorno institucional. A Constituição Federal de 1988 deu um ambiente de segurança para a prática política. O presidente Lula, que fala sobre tudo e às vezes é bem cínico, disse que a Carta Magna, que ele não assinou, é a melhor que o País já teve.” O escultor, desenhista, gravador e ceramista Abelardo da Hora abrilhantou as nossas páginas na edição 44, falando de sua convivência, na juventude, com Francisco Brennand, e também da sua militância política como comunista, e dos duros anos da ditatura. “Vivia isolado na Rua do Sossego, onde moro desde 1954. Muitas pessoas deixaram de falar comigo. Trabalhava em casa e vendia mui-

Abelardo da Hora

Liêdo Maranhão

Alexandre Albuquerque

Alexandre Albuquerque

“O que o País está passando não me escandaliza mais. Sarney foi assim a vida inteira, só que ele se protegia”

Getúlio Cavalcanti

safadeza. Um dia desses, em Beberibe, um ônibus desgovernado entrou no Beco do Pavão e ficou lá. A placa do ônibus tinha uma centena correspondente ao pavão. Era um palpite arretado. O povo que frequentava o beco jogou pavão e só foi o que deu, só que o povo não tem dinheiro para fazer grandes apostas. Quer dizer, a minha fama é isso, dizer as coisas do povo.” Unir medicina, história do Recife, quadrinhos, tudo numa única entrevista só era possível com o médico, escritor, fã de quadrinhos e apaixonado pelo Recife Rostand Paraíso. E foi ele nosso alvo na edição 49. Cardiologista formado na Universidade Federal de Pernambuco em 53 e ativo participante da vida pernambucana, ele nos contou como se inspirou para escre-

“Tem gente que diz que eu sou pornográfico, safado, mas na verdade, o que é que o povo faz: é religião, jogo de bicho, futebol e safadeza”

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Alexandre Albuquerque

Alexandre Albuquerque

Alexandre Albuquerque

Dom Saburido

Valéria Walfrido de não ter tido nenhum registro de pedofilia nesse seu início de trabalho na Arquidiocese. Da religião a Algomais foi debater sexo com a especialista no tema Valéria Walfrido na edição 51. A sexóloga discorreu sobre os tabus e a desinformação sobre o assunto. O tema moda e blogosfera apareceu com destaque na entrevista da blogueira Camila Coutinho, na edição 52. Um dos grandes nomes da literatura brasileira, o escritor Raimundo Carrero, falou da eclosão de sentimentos que o levam a escrever na edição 53. E fez questão de dizer para quem escreve: “Primeiro, eu escrevo para mim. E depois para as pessoas, para mudar as pessoas. Tem autor que diz que livro não muda o mundo. Muda.

“Como não existe profissionalismo na cultura em Pernambuco, fica fácil de manusear.”

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ver 13 livros, da sua paixão pelos personagens das histórias em quadrinhos e das preocupações com a cidade em que vive. “Recife está sendo deteriorada paulatinamente, e o pior, com a anuência e o incentivo de autoridades que tinham a obrigação de conservar a cidade, no que ela tinha de importante”, reclamou. O tema religião entrou na pauta das nossas entrevistas na edição 50, com o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido. O religioso falou do trabalho de reorganização que vem realizando na Arquidiocese desde que assumiu o posto após a saída do antecessor, Dom José Cardoso Sobrinho. Lembrou que a Igreja é santa e pecadora ao ser indagado sobre a pedofilia cometida por padres e orgulhou-se Alexandre Albuquerque

Irmão Orlando

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Não é uma revolução do dia para a noite, mas muda.” Entre tantos segmentos abordados nesses cinco anos, a Sétima Arte também não poderia faltar. Por isso fomos conversar com um cinéfilo apaixonado, Lula Cardoso Ayres Filho, cujo pai foi um dos maiores artistas plásticos de Pernambuco. Crítico, ele disse, na edição 54 que o cinema brasileiro precisa ser repensado. Também não poupou a organização da cultura no Estado. “Como não existe profissionalismo na cultura em Pernambuco, fica fácil de manusear.” Um dos mais importantes educadores de Pernambuco no século 20 apareceu em nossas páginas na edição 55, o Irmão Orlando, exprofessor e diretor do Colégio Marista, que reformulou a pedagogia do ensino, buscando transformar os alunos em sujeitos de sua própria história. Sobre o legado que os irmãos maristas deixaram foi preciso: “Respeitar a pessoa humana. Formar a pessoa, fazê-la capaz de construir sua própria personalidade, sua vida, e não se deixar conduzir.” Autor do livro “Gente não é Salame”, em que fala do mundo corporativo, o executivo do Magazine Luíza, Marcelo Silva foi nosso entrevistado da edição 56, quando falou da sua experiência como profissional de mercado e de sua inspiração para ajudar outras pessoas u


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com o livro que escreveu. Também destacou a diferença que uma liderança pode fazer dentro de uma organização: “A liderança motiva e inspira e não é autoritária. Ser líder é, primeiramente, respeitar todas as pessoas. O segundo ponto é dar atenção a elas. Se você der atenção ao cliente, com certeza 90% dos problemas da loja serão resolvidos. Agora, tratar as pessoas com carinho ninguém resiste.” A viúva do escritor Mauro Mota, Marly, também escritora e artista plástica, nos presenteou com uma doce entrevista na edição 57, recordando casos vividos ao lado de Mauro, cujo centenário de nascimento será comemorado neste 2011, e de seu trabalho como articulista no Diário de Pernambuco. Componente da Acade-

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“Uma das coisas mais gratificantes é você escrever e ser lido. Às vezes eu fico pensando que eu escrevo e ninguém lê. Mas eu recebo muitos e-mails de pessoas que leem os meus livros.”

Marcos Alencar

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mia Pernambucana de Letras (para a qual foi empurrada pelos amigos, diz), ela falou do relacionamento que o casal mantinha com grandes nomes da intelectualidade brasileira, como Jorge Amado, Austregésilo de Athaíde e Gilberto Freyre. “Uma das coisas mais gratificantes é você escrever e ser lido. Às vezes eu fico pensando que eu escrevo e ninguém lê. Mas eu recebo muitos e-mails de pessoas que leem os meus livros.” O bem-sucedido advogado Marcos Alencar foi nosso entrevistado da edição 58 com um depoimento muito interessante a respeito das relações trabalhistas e dos problemas que poderiam ser evitados para empregador e empregado caso fossem tomadas algumas decisões preventivas. E discorreu sobre a sempre difícil relação advogadosjuízes. E atacou a linguagem difícil da profissão que acaba não servindo aos cidadãos menos favorecidos na formação educacional. “Conto os dias para que o Brasil tenha uma Lei que proíba escrever difícil nos processos. A Justiça foi criada para servir ao cidadão. É uma ferramenta essencial para a democracia. Isso significa falar um idioma fácil, claro, simples, compreensível, que qualquer mortal entenda, principalmente os menos favorecidos do ponto de vista cultural.” A saudade da originalidade dos velhos carnavais pernambucanos Alexandre Albuquerque

Alexandre Albuquerque

Marcelo Silva

Leonardo Dantas

pontuou a entrevista número 59, do jornalista, advogado e historiador Leonardo Dantas, um expert no assunto. Conhecimento, aliás, reforçado por uma amizade de longa data com o já falecido Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba. E foi no Espaço Capiba, antiga casa onde o compositor residiu na Rua Barão de Itamaracá, que Dantas deu seu emocionado e lúcido depoimento para a equipe da revista. O número 60, como vocês podem conferir nesta edição, foi reservado para a entrevista com os diretores da Algomais e responsáveis pela criação da revista. Corram pra lá e confiram o que eles estão dizendo sobre os nossos novos desafios.

A Justiça foi criada para servir ao cidadão. É uma ferramenta essencial para a democracia. Isso significa falar um idioma fácil, claro, simples, compreensível, que qualquer mortal entenda”


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Em sintonia com os fatos e os leitores

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esses cinco anos de história, a Algomais investiu em reportagens que levassem os leitores a refletir sobre o Estado, evidenciando acertos e erros da administração pública a fim de oferecer ao cidadão pernambucano condições de aprofundar sua visão sobre os diversos segmentos. Da economia à política, da educação, da cultura, do patrimônio histórico e da cidadania. Não seria 68 >

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demais dizer que essa dinâmica editorial vem da própria herança histórica que transformou Pernambuco num Estado de grande diversidade cultural, onde os ritmos dos maracatus se encontram com o frevo, de onde surgiu o Movimento Mangue e o originalíssimo Chico Sciense, unindo o batuque do maracatu ao som eletrizante da guitarra, colocando a música pernambucana em sintonia com

o mundo. Tudo desdobrando-se em verso e prosa. Nas próximas páginas, vamos mostrar um painel dos temas abordados em matérias que despertaram a curiosidade dos nossos leitores que, agradecidos, enviaram cartas à redação, alguns até estabelecendo um vínculo com a revista, voltando a opinar em edições posteriores. E é dessa sintonia estabelecida que surgiram novas pautas.

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Exportações em destaque N

o último ano do governo Jarbas Vasconcelos/Mendonça Filho, em 2006, a Algomais já sinalizava para a nova era que se estabelecia no cenário econômico local, com o estado inserindo-se cada vez mais no mundo globalizado dos negócios. O jornalista e historiador Leonardo Dantas assinava texto sob o título Pernambuco Globalizado. Na matéria, ele já destacava a abertura do leque de produtos

que Pernambuco estava enviando para o exterior, com a consolidação do polo de fruticultura irrigada do Vale do São Francisco, e o volume de exportações do Estado crescendo ano a ano na primeira metade deste século. “Atualmente, quando se fala em exportação em Pernambuco se pensa em frutas, cachaça, confecção, artesanato, flores, móveis e tecnologia da informação com a produção de softwares”, afirmava Dantas.

Feira, Forró e Barro Eis o título da matéria de capa da edição número 4, em junho de 2006. Um visitante de outro Estado poderia até ter dificuldade para saber do que estávamos falando. Mas um pernambucano não teria dúvidas: é Caruaru. O texto de Eduardo Ferreira, publicado a partir da página 38, trouxe aos leitores um painel da Capital do Agreste, transformada numa metrópole que nos últimos anos viu crescer em progressão geométrica o número de edifícios, assim como seu comércio que surgiu no entorno de uma pequena feira e se expandiu, irradiando crescimento econômico e desenvolvimento para toda a região. 70 >

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Um século de frevo O

ano de 2007 marcava os 100 anos do frevo e o tema foi destaque da nossa 12ª edição, publicada em fevereiro. Com texto do editor da revista à época, Antonio Magalhães, a matéria contava a trajetória do mais pernambucano dos ritmos, que se tornou um ícone da nossa cultura, e das homenagens que marcariam a data

histórica, 9 de fevereiro. O frevo ganhou forma no início do século passado e a palavra apareceu pela primeira vez no Jornal Pequeno, daí ganhou as ruas. Nesses cem anos, revelou compositores que se tornaram conhecidos nacionalmente, como Capiba, Nélson Ferreira, Getúlio Cavalcanti, Luís Bandeira e os irmãos Valença , en-

Netas da Amélia

Por que o Imip cresce com o SUS

A mudança no mercado de trabalho com a chegada das mulheres ao posto de comando é destaque de capa da edição 12, em 2007. As repórteres Mirella Falcão, Cristina Sobreira e a editora executiva Taciana Guimarães entrevistaram representantes do sexo frágil que ocupavam cargos executivos em grandes empresas e também na política. A conquista, de acordo com análise da psicanalista Ana Beatriz Zuanella, era algo que dificilmente sofreria um retrocesso. 72 >

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Uma das instituições de maior êxito na área de saúde em Pernambuco, o Instituto Materno-Infantil Professor Fernando Figueira foi o tema principal da nossa edição 15, em 2007, pela excelência dos serviços prestados à população de baixa renda e pelo modelo administrativo. Na reportagem, Taciana Guimarães

tre outros. “O frevo surgiu como expressão máxima do carnaval popular porque refletia as mudanças da realidade social e a alteração das relações de força entre os grupos de trabalhadores urbanos”, explicava documentação enviada ao Iphan (Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional) pela Prefeitura do Recife.

explicou por que essa instituição cresceu, mesmo contando apenas com a verba do Sistema Único de Saúde. Quatro anos depois, um dos gestores do Imip, Antônio Figueira, virou secretario de Saúde de Pernambuco, nomeado para fazer parte da segunda gestão u do governador Eduardo Campos.


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Frevo visita o samba T

ema recorrente nas edições da Algomais, o frevo voltou a ser destaque em 2008, na edição 23, por causa da homenagem que recebeu da Mangueira, escola de samba do Rio de Janeiro que se inspirou no ritmo pernambucano para o seu samba-enredo. No texto da repórter Carol Bradley, destaque para o maestro Francisco Amâncio da Silva, ou melhor, Maestro Forró, um dos inovadores na nova forma de expressão do ritmo. “A gente se preocupou em estudar a parte acadêmica do frevo, a parte musical, tocar, mas também se comunicar”, explicava o líder da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, uma das mais conhecidas do Recife, atualmente.

Classe C no paraíso do consumo O aumento do poder aquisitivo da Classe C já saltava aos olhos em 2008. Esse movimento provocado pela estabilidade econômica e por programas de governo levou mais de 20 milhões de brasileiros para a classe C. O assunto virou capa da Algomais em sua edição 24. A abertura deste grande mercado interno proporcionou milhares de empregos para atender à demanda. E, ao mesmo tempo, fez com que a crise financeira do mercado mundial não afetasse de forma aguda a economia do País. Três anos depois, o crescimento do poder de consumo dessa classe econômica se mantém forte no Brasil e, ainda mais, em Pernambuco com os milhares de empregos criados a partir dos projetos estruturadores, como Refinaria Abreu e Lima, Transnordestina e a u Transposição do São Francisco. 74 >

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O Leão, imortal, imortal O

ano de 2008 foi histórico para o futebol pernambucano com a conquista da Copa do Brasil pelo Sport numa final dramática contra o Corinthians. Era o tempo de Romerito, em boa forma, Magrão e Durval. Sob o título O Leão, imor-

tal, imortal, a Algomais registrou o título em sua edição 28. Na ocasião, o time rubro-negro era dirigido por Nelsinho Batista, campeão pernambucano em 2008 e 2009. Mas o tempo passou, Nelsinho pediu demissão chateado com os diri-

gentes e o Sport mergulhou numa fase negra. Três anos depois, está na Série B e faz uma campanha fraca no Estadual, deixando sua torcida desconfiada sobre a sonhada conquista do hexacampeonato estadual.

Falido, clube do povão, cai no colo da esquerda Após quase meio século como um forte reduto da direita em Pernambuco, o Santa Cruz deu uma guinada em 2008 com a chegada à presidência do socialista Fernando Bezerra Coelho. Fato registrado na nossa edição 31. Na época, o então secretário de Desenvolvimento Econômico era especulado como um futuro candidato a senador, mas sua trajetória política foi alterada com a eleição de Dilma Rousseff para a Presidência da Re76 >

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pública. Bezerra Coelho assumiu o Ministério da Integração Regional. Um pouco antes, em dezembro, passou o bastão do executivo tricolor para o petebista Antônio Luiz Neto, sobrinho do ex-presidente tricolor em várias gestões Aristófanes de Andrade. Na sua gestão, o agora ministro fez uma grande reforma no Arruda, mas, no futebol, não conseguiu tirar o time da Série D, nem conquistar um título estadual.

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O resgate do patrimônio de Olinda A

polêmica do Foral de Olinda acirrou a discussão sobre a cobrança da taxa aos moradores de áreas litorâneas que se estendem até o Cabo de Santo Agostinho. Na edição 26, de abril de 2008, a repórter Carol Bradley abordou o tema, ouvindo o ex-prefeito de Olinda Germano Coelho. Para fazer a cobrança, a cidade recorreu a um documento do século XVI, onde Duarte Coelho, primeiro donatário de Pernambuco, transfere para uso e gozo da Marim dos Caetés parte das terras que lhe foram doadas pelo rei de Portugal.

O Recife transbordou Reportagem de Eduardo Ferreira, na edição 27, em maio de 2008, registra o inchaço causado pela chegada da população do interior à capital em busca de emprego. No texto,

ele ouve o arquiteto Paulo Roberto Barros e Silva, que atesta o “transbordamento” para os municípios da Região Metropolitana, como Olinda, Jaboatão, Camaragibe e São Louren-

ço. A reportagem aponta os efeitos maléficos desse crescimento sem planejamento com a sujeira que dominava o centro do Recife, quadro que vem se agravando até hoje.

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Um profeta passou por aqui H

á 50 anos, a população pernambucana não imaginava o nível de desenvolvimento econômico pelo qual estamos passando atualmente. Mas o padre dominicano Louis-Joseph Lebret, da Bretanha, visualizou o futuro de Pernambuco e apontou caminhos para a economia regional. A reportagem, realizada pelo jornalista José Neves Cabral e publicada na edição 37, foi uma das finalistas do Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo em 2009. No ano de 1954, o padre Lebret visitou o estado e deixou um relatório que apontava caminhos para alavancar a economia local, além de estabelecer metas para a melhoria da qualidade de vida da população. O livro do economista e religioso, intitulado “Desenvolvimento e a Implantação de Indústrias Interessando a Pernambuco e ao Nordeste”, já teve três edições publicadas. O dominicano deixou ainda sugestões sobre a distribuição urbana, construção de estradas e alertou para a necessidade de formação profissional para as fábricas nas regiões com o potencial de distritos industriais. Pernambuco foi apenas um dos lugares em que o padre marcou presença com a sua sabedoria. Além de ter uma efetiva participação na Igreja, como inspirador da encíclica sobre o Desenvolvimento dos Povos, do papa Paulo VI, Lebret coordenou o grupo de Economia e Humanismo em São Paulo, avaliando a crise provocada pela morte do presidente Getúlio Vargas e o momento pelo qual o Brasil atravessava. 80 >

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Trechos do relatório do padre Lebret: Recife – Metrópole: “Será para esta cidade que os produtos futuros convergirão, quer se trate de produtos minerais, ou de transformação desses minerais, quando indústrias metalúrgicas se estabelecerem

na zona. E quando todos os produtos agrícolas que o progresso da técnica tiver assegurado e esse imenso território forem valorizados, o seu encaminhamento normal, partindo de Petrolina, virá para o Recife”.

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Suape chega aos 30 anos sem pisar no freio D

esenvolvimento, empreendedorismo e gigantismo. Essas foram as características destacadas na matéria de capa da edição 32, escrita por José Neves Cabral. Na época, eram 90 empresas instaladas no Complexo Portuário e Industrial Governador Eraldo Gueiros, mas cinco empreendimentos prometiam alavancar o PIB (Produto Interno Bruto) de Pernambuco até 2020. A Refinaria Abreu e Lima, o Complexo Petroquímico, o Estaleiro Atlântico Sul e o Moinho da Bunge foram citados como empre82 >

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endimentos que dobrariam o PIB do Estado de R$ 62 bilhões para R$ 140 bilhões. Shopping Center e novas habitações foram construídos nos municípios em torno de Suape. Para chegar à realidade econômica de Suape atualmente, o processo de criação foi lento. A estagnação econômica entre as décadas de 80 e 90, além da falta de capacidade do estado para investir, prejudicou o desenvolvimento da região. A entrevista realizada com o secretário de Desenvolvimento Econômico, atual ministro da Integração

Nacional, Fernando Bezerra Coelho, relatou as expectativas para Suape e ele se mostrou otimista com o contínuo crescimento do Complexo. Apesar de ter um futuro promissor, a crise financeira mundial da época ameaçou os investimentos na região. “Durante estes 30 anos sempre almejei ver Suape se tornar o que é hoje. É um privilégio ser funcionário desta empresa. Daqui, só sairei quando não puder mais colaborar”, disse o funcionário mais antigo do Complexo Portuário, Emílio João Schuler Júnior.

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om uma fórmula elaborada à base de plantas, a farmacêutica e bioquímica Suzana Xavier, desenvolve um remédio capaz de repigmentar a pele das pessoas portadoras de vitiligo. Mas o tratamento não requer apenas os métodos científicos. Em reuniões mensais, a pesquisadora também distribui grandes doses de amor e atenção aos pacientes que a procuram para receber o remédio gratuitamente. O trabalho de Suzana Xavier foi abordado na edição 54, de setembro do ano passado, em matéria de José Neves Cabral publicada em 2010 e despertou a atenção de vários leitores que entraram em contato com a revista a fim de saber como encontrar a pesquisadora. Além do cuida-

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Remédio feito de ciência e amor

do com os pacientes, Suzana Xavier também se preocupa em fazer uma campanha de esclarecimento para

evitar que portadores de vitiligo sofram com o preconceito, uma vez que a doença não é contagiosa.

Após cem anos, Nabuco continua atual Pensador, escritor, político, diplomata e abolicionista. O ano de 2010 foi instituído pelo Congresso Nacional como o Ano Nacional Joaquim Nabuco, em homenagem ao centenário de morte do pernambucano. Na edição 46, Carol Bradley relatou a importância das ações de Nabuco para a história da sociedade brasileira. A reportagem foi a primeira oficialmente publicada sobre o centenário do abolicionista. Com o livro “O Abolicionista”, Nabuco relatou, pela primeira vez, a influência da raça negra na história do povo brasileiro, além de interpretar os problemas sociológicos, que continuam extremamente atuais. Enquanto se falava dos portugueses e da importância da Euro84 >

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pa para a sociedade brasileira, Nabuco ia mais além, valorizando um país que estava sendo civilizado também pelos africanos. Estradas, edifícios, igrejas e escolas foram construídos com a força e trabalho dos escravos. Um dos maiores defensores do abolicionismo nasceu na atual rua da Imperatriz e foi o primeiro embaixador do Brasil nos Estados Unidos, nunca deixando de lado suas raízes pernambucanas. Nabuco dizia que a escravidão contaminou a sociedade, os senhores e os escravos. Até hoje, toda a nossa relação social está carregada pela herança da escravidão. Joaquim Nabuco foi um exemplo de luta que permanece interligada à nossa realidade.

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Respostas que interessam a Pernambuco N

as vésperas das eleições estaduais de 2006, a Algomais fez reportagem especial com os três principais candidatos, publicada na sexta edição da revista. Na época, concorriam Mendonça Filho (DEM), Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB). Questões como educação, saúde, segurança, os primeiros investimentos estruturadores e o futuro de Suape marcaram as entrevistas. Governador naquele momento, Mendonça Filho creditava o boom econômico, que já dava sinais de seu início, a pesados investimentos em infra-estrutura pública e à capacidade do estado de colocar em prática políticas públicas de incentivos fiscais e de promoção de Pernambuco como destino para novos investimentos. Candidato petista, Humberto Costa aproveitou para reiterar a necessidade de aumentar a importância das pequenas e micro empresas na economia do estado. Prometia a criação de uma agência de desenvolvimento voltada para essas empresas, inclusive com novas linhas de crédito. Considerado a terceira via, Eduardo Campos fez questão de pontuar o problema da violência como nacional, mas que Pernambuco apresentava índices superiores à média brasileira. Começavam as promessas de modificar a administração e criar novas políticas públicas, formando a primeira versão do Pacto pela Vida. 86 >

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Eduardo x Quem? N

as edições 37 e 44, Algomais discutiu as opções da oposição para enfrentar o governador Eduardo Campos nas urnas. O atraso na decisão de quem iria para a disputa ficava evidente à medida que os meses passavam sem nenhuma definição. Na época, o mantra entoado por Eduardo “Eleições só em 2010” já parecia conversa para boi dormir. Estava claro que ele iria enfrentar uma oposição enfraquecida, sem poder de renovação, e que acreditava na força de Jarbas Vasconcelos (PMDB) como única saída para evitar uma derrota acachapante. A crença de que era possível virar o jogo contra

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o PSB – que já contava com mais de 140 dos 184 prefeitos na base aliada – vinha da origem da própria União por Pernambuco. Criada em 1998 pelo PSDB, PMDB e o então PFL, hoje, Democratas, a união conseguiu colocar Jarbas no poder derrotando o avô de Eduardo Campos, Miguel Arraes. “Enquanto a candidatura de Eduardo é tida como certa, a oposição patina em busca de um nome forte e de consenso. O único candidato que poderíamos chamar de natural seria Jarbas, mas que a esta altura de sua vitoriosa vida pessoal e política é difícil, senão improvável, imaginar uma candidatura formal, olímpica, como

se diz, do senador, em que ele dispute sabendo que suas chances são remotas”, analisava o cientista político Túlio Velho Barreto. Para o cientista político da Universidade Católica de Pernambuco Thales de Castro, a União por Pernambuco até chegou a usufruir de um bom momento, mas se perdeu com a vitória de João Paulo (PT) para a Prefeitura do Recife, em 2000. “A derrota da Direita foi reflexo da falência desse modelo que durou mais de dez anos. Hoje, acredito que a oposição vê um quadro muito arriscado por enfrentar Eduardo Campos com grande respalu do popular”, analisou, à época.


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Entre a lealdade e a independência A

lgomais acompanhou todos os passos da conturbada relação entre João Paulo e João da Costa. Desde a campanha, quando João era João, até o rompimento logo após assumir o novo cargo. Fato que levantou um debate sobre a fidelidade na política. Assunto explorado em duas oportunidades, em matérias assinadas pelos jornalistas Ivo Dantas e José Neves Cabral. Na edição 48 o debate levantou questionamentos sobre a mudança de lado de Inocêncio Oliveira (PR), o apoio de Jarbas Vasconcelos (PMDB) a Raul Henry (PMDB), ao invés do seu antigo vice-governador, Mendonça Filho (DEM), nas eleições municipais, além da briga entre os petistas. Na ocasião, o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco Michel Zaidan disse não existir dívida de gratidão ou fidelidade absoluta na política, e levantou o debate sobre a reforma política e a questão da fidelidade partidária. Na Algomais 53 as alianças eleitorais, que muitas vezes fogem à questão ideológica, foram tema de discussão entre políticos e estudiosos. Exemplos não faltaram. A parceria entre Lula (PT) e José Sarney (PMDB), Marco Maciel (DEM) e Jarbas Vasconcelos (PMDB), adversários durante os anos da Ditadura Militar, quando Jarbas era uma das principais vozes da resistência. Segundo o então deputado estadual Augusto Coutinho (DEM), com o fim da polarização, fica difícil falar em Direita e Esquerda genuínas. “Por exemplo, é muito engraçado ver o PCdoB fazer propaganda falando em desenvolvi90 >

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mento econômico. Como assim? O capital, o grande inimigo dos povos, agora é a solução? Mesmo o PSTU, mais radical partido da esquerda, tem uma face capitalista. Ou seja, não se fala mais em revolução, o sistema econômico

não é mais contestado, venceu o capitalismo e acho que o que todos querem é dar a ele uma feição mais humana e justa. Assim, para ser honesto, não há uma Esquerda genuína e, por consequência, uma u Direita genuína.


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O avanço da consciência ecológica TAMARINEIRA

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s mobilizações públicas de cunho ecológico foram alvo de diversas reportagens, entrevistas e artigos publicados na Algomais em 2010. A revista acompanhou o desenvolvimento da consciência ecológica do pernambucano que lutou pela preservação do terreno na Tamarineira – evitando a construção de um shopping no local - para a instalação de um parque público. O movimento reuniu moradores do bairro homônimo e vizinhos, ambientalistas e ONGs que promoveram protestos, debates em universidades, audiências públicas e críticas da sociedade civil contra a iniciativa. A área de

9.000 metros é considerada por ambientalistas e defensores da causa como o pulmão da Zona Norte do Recife, tendo uma área verde e de reprodução de espécies animais. No terreno da Santa Casa de Misericórdia estão instalados o Hospital Ulysses Pernambucano, o Hospital Infantil Helena Moura e o Centro de Tratamento e Prevenção de Alcoolismo (CPTRA), o que gerou também o questionamento sobre o destino dos pacientes. A Prefeitura do Recife decidiu o impasse de forma democrática a partir de uma enquete realizada no site da Prefeitura. Entre as opções estavam: transformar o local em

um parque; construir o shopping; manter o hospital, mas preservar a área verde e deixá-la aberta ao público; ou deixar o local como está hoje. Foi decidido, então, que o terreno da Tamarineira se transformará em um parque público. O projeto do parque temático ambiental de uso público será escolhido através de um concurso público nacional, coordenado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) que já apresentou proposta à Prefeitura do Recife e aguarda definição. Lançado o concurso, as propostas serão analisadas, haverá a contratação do projeto de execução e então serão iniciadas as obras.

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PARQUE DOS MANGUEZAIS

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mais recente vitória da mobilização pública pernambucana em favor da preservação do meio ambiente foi pauta de reportagem assinada por Mirela Soane, na edição nº 58/ JAN 2011. Caminhadas, protestos culturais, abaixo-assinados e uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) conseguiram revogar o edital de concorrência pública lançado pela Marinha do Brasil que alienaria o terreno de 248 hectares, na Zona Sul, onde está localizado o maior mangue urbano do Brasil. A pressão exercida pela sociedade levou a Prefeitura do Recife a destinar a área para a instalação do Parque Natural Municipal dos Manguezais Josué de Castro. A iniciativa foi oficializada através do decreto nº. 25.565/10, assinado pelo prefeito em exercício, Milton Coelho, em conformidade com o Plano Diretor do Recife. O espaço terá como obje-

tivo a preservação de ecossistemas naturais de relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. Entretanto, o assunto promete gerar ainda muita discussão, já que o Projeto de Mobilidade Urbana da Via Mangue prevê impactar área do Parque.

O terreno fica próximo ao local onde se concentrava a antiga Rádio Pina e está inserido numa bacia estuarina com mais de 530 hectares, considerada área de preservação da União e maior mangue urbano do Brasil, um dos maiores do mundo. O local serve de reprodução para diversas espécies de peixes, caranguejo, sururu, marisco, e de viveiro para aves, répteis e alguns mamíferos, além de evitar alagamentos na cidade.

brava. Pelo contrário, era uma pessoa bem humorada, moleca, fazia brincadeira com todos, cultivava as amizades com carinho, generosidade e cuidava bem das pessoas. Além disso, era um exemplo de beleza para a época: baixinha, de pernas grossas, roliças, seios pequenos, cabelos finos e olhos claros. Mitos sobre a rotina dos cangaceiros também foram derrubados, como a participação feminina nos combates. As mulheres eram treinadas e aprendiam a atirar apenas para uma possível necessidade de defesa. Elas não participavam ativamente dos tiroteios. Outro fato interessante é que no bando, as mulheres desempenhavam o pa-

pel apenas de companheiras e não tinham, por exemplo, a obrigação de cozinhar. Esta tarefa ficava com os homens. Maria foi a primeira mulher a ingressar no Cangaço e possibilitou a entrada de outras 40, agregando melhores hábitos de higiene no grupo e mudanças nas vestimentas. Embora existam discordâncias quanto aos “responsáveis” pela moda do Cangaço, não se pode negar o curioso: homens e mulheres vistos como salteadores sanguinários usavam bornais bordados com flores coloridas ou desenhos simétricos, cantis decorados, chapéus com bordados de estrelas, lenços de seda e tafetá envoltos no pescoço.

A marca de uma sertaneja A

Algomais fez uma homenagem a Maria Bonita na edição nº 59/FEV 2011, em comemoração ao centenário de nascimento dessa jovem que se tornou ícone feminino do Cangaço. Hoje, Maria Bonita é sinônimo de sofisticação, virou “marca” e empresta seu nome para grifes famosas, hoteis, clínicas de estética e salões de beleza. Para compor a reportagem, Mirela Soane conversou com historiadores, estudiosos e com a neta dos Reis do Cangaço, Vera Ferreira. A Algomais derrubou características do imaginário popular e revelou traços da personalidade da mais ilustre cangaceira. O que poucos sabiam é que Maria Bonita não era

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População do Recife cresceu 8% Por Edi Souza

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pequeno Guilherme tem apenas cinco anos. Ele nasceu no Recife e faz parte de um contingente populacional que só fez crescer durante essa meia década. O número de habitantes da capital pernambucana subiu 8%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que soma 1.536.934 recifenses. Na área metropolitana o incremento foi na mesma proporção, favorecendo ao título de maior conglomeração urbana do Nordeste devido à contagem de 3,7 milhões de pessoas. Quantidades que a mãe do garoto, a empresária Cybelle Alencar, 31, não consegue dimensionar, embora saiba que a diferença vem interferindo na rotina. “Os ambientes ficaram mais disputados e o ritmo intenso. Sempre houve muita correria, mas não com os problemas de hoje. É como se houvesse uma disputa maior por espaço, independente do tamanho”, resume a empresária, que adianta qual saída decidiu tomar. “A prioridade agora é a qualidade de vida. Hoje, prezo mais os momentos de lazer com meu filho, dedicando o máximo do meu tempo para ele. Temos feito mais viagens e aproveitando cada momento juntos”, completa. Com essa atitude, Cybelle ratifica outra estatística visível nesse aumento demográfico: o grande percentual de mulheres. Segun96 >

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Alexandre Albuquerque

MUDANÇAS | Área Metropolitana detem nos últimos anos o título de maior conglomeração urbana do Nordeste, os ambientes ficaram mais disputados

Cybele com o filho Guilherme: prioridade agora é a qualidade de vida do especialistas, são exatamente a preocupação com o bem estar e o cuidado com a saúde os motivos determinantes para o Recife ter alcançado o posto de segundo município mais feminino do Brasil (perde apenas para Santos, em São Paulo), conforme o Censo 2010. Subiu uma posição até então ocupada por Águas de São Pedro, também em São Paulo. Para o coordenador operacional do Censo 2010, Otacílio Gonçalves, os números não surpreendem.

“Encaramos como um processo contínuo, motivado pelo cuidado sempre eficiente da mulher. Além disso, há fatores como o recurso mais presente da medicina preventiva, alternativa e de várias outras soluções na qual elas recorrem”, justifica. Para ilustrar, Gonçalves completa que no último concurso ao cargo de recenseador, a quantidade de mulheres inscritas foi “de longe a maior”, no comparativo com outras cidades. Em oposição a falta de espa-


Alexandre Albuquerque

Gonçalves, do Censo 2010: números com relação as mulheres não surpreendem ço, está mesmo o aumento das oportunidades de trabalho, independente do sexo. Um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com base nos dados do IBGE, ressalta que entre a população de maior poder aquisitivo e, consequentemente mais instruída, o desemprego diminuiu 57,1% entre 2005 e 2010. “As oportunidades estão surgindo por conta de uma fase econômica favorável. As pessoas andam otimistas com o trabalho e confiantes no poder de crédito”, explica o cientista político, Michel Zaidan. Para ele, “as políticas econômicas e sociais favoreceram neste sentido. Enquanto o ritmo de compras vinha aumentando, a receita era gerada e, assim, surgia mais emprego e renda”. Com tanta facilidade de crédito, um bem em específico vem contribuindo para que as principais áreas urbanas estejam mais ocupadas. Os automóveis. “Per-

cebemos agora a falta de planejamento do poder público em torno dos espaços. As estradas não acompanham a demanda de carros e essa é uma tendên-

cia que só pode piorar por falta de visão de futuro”, resume a doutora em sociologia, Maria Eduarda Rocha. De fato, as estatísticas do Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE) sobre a frota de veículos registrada em cinco anos mostram a tendência crescente. Em 2006 eram 403.676 veículos emplacados só no Recife. Atualmente são 527.840, sem contar com a quantidade somada nos demais municípios da Região Metropolitana, que circulam diariamente nos principais bairros. De origem alagoana, a vivência de Rocha na cidade do Recife é dividida em dois períodos: na década de 90 e nesses últimos anos. No primeiro, a partir da sua visão como estudante, observava a ascensão das culturas populares permitida pelas relações sociais mais próximas. Já no segundo momento, a questão para ela é o distanciamento das pessoas, estimulado pelo caos urbano e o crescimento desordenado. SURGE A TENDÊNCIA DAS NOVAS MORADIAS u Problemas como os do trân-

Zaidan: as políticas econômicas e sociais fortaleceram o otimismo 2011 março >

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sito, que interfere diretamente na vida e no trabalho das pessoas, provocou uma mudança na forma em que o recifense vem se instalando. A solução para muitas famílias tem sido o deslocamento para regiões de menor adensamento, longe dos grandes centros urbanos - uma tendência que está modificando a paisagem da cidade. São condomínios-clube equipados com tudo ao alcance do morador e até bairros planejados, como a Reserva do Paiva, que está sendo construída de olho na classe mais alta. “A desistência dos espaços urbanos aconteceu em nome da segurança e da privacidade, conclui Maria Eduarda Rocha, que também alerta para a linha tênue do preconceito social. “Ocorre a mistura de classes graças à maior distribuição de renda. Por conta disso, quem consegue pagar mais por um bem, prefere se distanciar e permanecer na posição de destaque”. O historiador Denis Bernardes vai além, diz que, na verdade, os jovens de hoje já não se relacionam mais com o centro, pois se tornaram cidadãos itinerantes. “Em cinco anos, percebemos que há um fortalecimento de questões populacionais. Por sobrar gente e faltar estrutura, os mais favorecidos se desconectaram do meio urbano para ter tudo no mesmo lugar, realizando as suas obrigações de carro. Bem antes, a convivência acontecia nas ruas, através de uma sociabilidade intensa, substituída por esse medo extrapolado da violência e a vontade de se sentir protegido”, explica Estudando o Recife há 36 anos, Bernardes enxerga a cidade como sua própria escola, de onde retirou temas para produzir livros, como o mais recente “Recife em Transformação – Modos de morar e construir” (2010). Junto a outros pesquisadores analisou o modo como os pernambucanos estão morando, tendo em vista o

Denis Bernardes: os jovens de hoje já não se relacionam mais com o centro da cidade aumento da população como um todo. A verticalidade das construções e a destruição de áreas históricas são fatores observados por ele há mais tempo, em fatos que começaram na década de 20, quando o Derby foi construído para ser o primeiro bairro planejado do Estado. Na publicação, há informações que ilustram o quanto as estruturas urbanas eram pensadas em prol da convivência, seja projetando uma praça ou um parque, para que moradores e visitantes se integrassem. Já nos relatos sobre os últimos anos, estão as ofertas de grandes áreas residenciais acessíveis para poucos. O livro mostra que o espaço público está sendo vendido às grandes construções, porque realmente existe demanda alta de compradores. “A concep-

ção de moradia do recifense mudou, pois eles não querem mais uma casa que a porta dê para a rua ou que o muro seja baixo. A procura é por cerca alta, elétrica e qualquer outro adicional que venda segurança”, destaca Bernardes. Não é por acaso que o Recife ocupa a 21ª posição de cidade mais verticalizada do mundo, segundo análise da consultoria internacional, Emporis. No Brasil fica atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro, por reunir atualmente 1.103 construções, considerando os prédios de grande porte. Um ranking que para o pequeno Guilherme, citado no começo da matéria, também não representa diferença. Só mesmo daqui a alguns anos para ele perceber as consequências positivas e negativas de tanto crescimento.


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A economia do dia a dia E

conomista e articulista mais antigo da Algomais, Jorge Jatobá analisou criticamente os fatos que afetaram diretamente a vida dos pernambucanos nos últimos cinco anos. “A Algomais gerou um espaço privilegiado para tratar de temas que interessam de perto a Pernambuco e aos pernambucanos. O grupo que idealizou a revista percebeu um excelente nicho de mercado e o preencheu muito bem”, comenta Jatobá. Com a experiência de escrever para os mais renomados jornais do país - entre eles O Globo, Correio Brazilense, Valor Econômico, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil - Jatobá foi convidado para ser articulista da Algomais através de Antonio Magalhães e de Eduardo Ferreira, responsáveis pela elaboração do projeto da revista ainda em formação. “Contribuir com a revista é uma honra. É uma honra ter milhares de pernambucanos como leitores e também uma oportunidade para fazer uma reflexão crítica em beneficio do Estado”, afirmou. A tônica dos artigos do economista permeia os mais diversos assuntos que vão desde emprego, turismo, saúde, trânsito até futebol e educação. “Evito assuntos muito técnicos. Gosto de utilizar os conceitos econômicos, mas sem o caráter técnico, chato. Ele está intrínseco em todos os artigos, mas é apresentado na forma em que é aplicado no dia a dia”, explica. De maneira geral, segundo Jatobá, o critério norteador das pautas é a interferência na qualidade de vida 100 >

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JATOBÁ | Articulista mais antigo da Algomais, analisou fatos cotidianos, aplicando de forma leve conceitos de economia

do pernambucano. “A Algomais é uma revista leve, de linguagem fácil, textos curtos e assuntos interessantes que cativam cada vez mais os leitores. Por isso ela tem crescido. Percebo isso através dos comentários. Muitos esperam ansiosos pela publicação de cada edição da revista”, afirma Jatobá. Desde a primeira edição da revista, a mesma linha editorial foi seguida. “Há uma linha comum atravessando os diversos temas: transformar progresso econômico em avanço social; reduzir custos coletivos e aumentar os benefícios sociais, para melhorar a vida dos pernambucanos”, analisa. Entre os artigos que geraram mais comentários, Jorge recorda três deles: um sobre futebol e o progresso econômico de Pernambuco, outro sobre o trânsito do

Recife e o mais polêmico foi sobre a empresa Fiat. “Exercito a crítica onde há omissão. As pessoas que concordam com meus argumentos, através dos textos publicados, sentem como se tivessem voz ativa. É como se fosse a opinião delas expressa naquele texto”, comenta Jatobá. Depois de sessenta artigos publicados na revista, Jatobá analisa o desenvolvimento do Estado de forma positiva. “Pernambuco mudou para melhor-fruto do trabalho de muitos em muitas gerações, mas ainda tem problemas graves que vão continuar exigindo nossa atenção e trabalho”, afirma. * JORGE JATOBÁ é sócio-diretor da Ceplan (Consultoria Econômica e Planejamento), economista pela UFPE, mestre e PhD em Economia pela Universidade de Vanderbilt (EUA) e Ex-Professor Titular de Economia da UFPE e Ex-Secretário da Fazenda de Pernambuco (1999-2002).


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ARTIGO

Por Joca Souza Leão

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“Hoje, aos cinco anos, Algomais é um sucesso. E eu, aqui, pensando noutra coisa, outra ideia, pra submeter ao trio, Sérgio, Chico e Roberto” 102 >

á cinco anos, Sérgio Moury me disse que ia lançar uma revista. “Mais uma que abre e fecha, não emplaca um ano” – não falei, mas pensei. E errei. A revista tá fazendo cinco. “Deve ser mais um projetinho provinciano”, continuei pensando. E continuei errando, dessa vez feio. Sérgio é empresário por vocação, um empreendedor nato, onde se mete o negócio dá certo. E o sócio, eu não sabia, Chico Cunha, meu velho camarada, arquiteto por formação e consultor de grandes empresas, um cosmopolita. E pra tocar a redação, Sérgio e Chico convocaram um craque: Tonico Magalhães. Depois, outro craque: Roberto Tavares. Resultado, o Recife, Pernambuco e os pernambucanos são protagonistas, mas de provinciana a revista não tem nada. E quando o tem, é como pauta, a província na melhor acepção da palavra. “Vai se chamar Algo Mais, o que acha do nome?”, quis saber Sérgio. Dessa vez, falei e acertei: “Acho que é um bom nome pra revista”. Aí, ele me mostrou a “boneca” gráfica: Algo + (o “mais” grafado assim, sinal de adição). Dessa vez, não gostei e disse por que não tinha gostado. Contei a história de um jornalista que assinava a coluna social do principal jornal local (Roraima, acho) como Antônio +. No caso, a cruz era de cruz mesmo: Antônio Cruz. Mas os leitores lhe deram rapidinho um apelido: Antônio Funeral. E fui em frente na minha crítica. “De cara, Sérgio, a revista já chega tendo que se explicar, dizendo ao leitor que a cruzinha significa ‘mais’. Outra coisa, quando um jornal, por exemplo, for citar

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Alexandre Albuquerque

Para Sérgio Moury

a revista, vai citar assim, como o logotipo? Ou vai chamá-la de Algo Mais?” Sérgio, por certo, consultou outras pessoas. E enterrou a cruzinha. Acompanhei os primeiros passos da Algomais por meio da melhor das pesquisas. A revista ainda tava engatinhando, em 2006, quando publiquei a primeira crônica. Fui almoçar no Leite. Pra surpresa minha, várias pessoas comentaram. Mais três crônicas e aí já eram muitos os leitores. De maio de 2008 a setembro de 2010, assinei uma página na Algomais: Pano Rápido. Nessa altura do campeonato, amigo, era só a revista sair pr’eu ouvir mil comentários sobre as historinhas

contadas. Além de e-mails e ligações. Quando decidi parar, choveram cartas à redação, pedindo pra eu voltar. Continuo escrevendo crônicas para jornal e blogs (estes, em conexão direta com o leitor). Mas nada se compara, em termos de repercussão, com o que acontecia na Algomais. Negocinho bom é escrever, todo mundo ler e comentar. Hoje, aos cinco anos, Algomais é um sucesso. E eu, aqui, pensando noutra coisa, outra ideia, pra submeter ao trio, Sérgio, Chico e Roberto. Se a ideia for boa e eles toparem, mano, daqui a uns meses, é só botar a cerveja pra gelar que eu tô u voltando.


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Pano

rápido

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ate as saudades do Pano Rápido do Joca de Souza Leão. Ele próprio selecionou oito causos publicados nesta revista. Confira:

O medo de Câmara

O pintor João Câmara tava andando numa rua da Capunga, quando foi atacado e mordido por um rottweiler que fazia a segurança de uma faculdade. Depois de prestar queixa na polícia e fazer exame de corpo de delito, Câmara declarou ao colunista Paulo Sérgio Scarpa, do Jornal do Commercio: — Nunca tive medo de cachorro. Tenho medo é de faculdade que não sabe educar os seus cães.

Cuba-libre

Intelectuais e artistas iam à casa de Caio Souza Leão, beber cuba-libre (rum com Coca-Cola) e ouvir as histórias e tiradas de Caio. O jornalista Ítalo Rocha quis saber. — Doutor Caio, cuba-libre dá dor de barriga? — Meu filho, se Coca-Cola desse caganeira, os Estados Unidos tavam boiando na merda.

Burrice precoce

“A lei é quiném uma cerca. Quando é fraca, a gente passa por cima; quando é forte, passa por baixo,” dizia o todo poderoso Coronel Heráclio, de Limoeiro. Certa feita, apareceu por lá um caboclo inteligente e tão bom de gogó que se elegeu vereador sem o apoio do Coronel. Na eleição seguinte, seu nome nem apareceu na lista de candidatos. — Esse aí era muito precoce. — Precoce como, Coronel? — Vereador com burrice de senador.

Joca Souza Leão jocasouzaleao@gmail.com

Conselho

Carta de uma leitora para o cronista Antônio Maria: “Meu marido sua muito embaixo dos braços. O que devo fazer?” — Divirta-se na área enxuta.

Sabedoria

Recomenda o septuagenário Luciano Araujo: — Depois de certa idade, não confie em peidinho; e nunca desperdice uma ereção.

Hoje, não

O ator José Wilker, que começou a fazer teatro aqui, no MCP, com Hermilo Borba, encontrou um aviso escrito em bom português e caligrafia caprichada na porta de um cabaré na cidade de Marabá, no Pará: “Distinto público: comunicamos que hoje à noite não trabalharemos com cu.”

Estímulo

A mulher de Graciliano Ramos, Heloísa, confessou ao marido que estava escrevendo umas coisas, mas não gostava de nada. “Acho que vou desistir”. — Insista, minha filha. Escreva. Zé Lins do Rego não escreve?

Recepção

Caetano Veloso foi visitar o pintor José Cláudio em Olinda. “Tá não! Saiu!”, gritou a cozinheira Ciça lá de dentro, sem nem ao menos abrir o portão. “Posso entrar pra esperar?” “Pode não!” “A senhora sabe quem eu sou?”, arriscou Caetano. — Grande coisa! Se pelo menos fosse Tarcísio Meira...

As histórias aqui contadas têm compromisso com os contadores de história que as contaram. E não, necessariamente, com a História. 104 >

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ARTIGO

Uma nova bolha à vista na internet? Por Bruno Queiroz*

S * Jornalista e diretor executivo da Cartello.

O Goldman Sachs avaliou que a empresa criada pelo americano Mark Zuckerberg e pelo brasileiro Eduardo Saverin vale nada menos que 50 bilhões de dólares, um valor altíssimo para uma empresa que ainda não gera lucros expressivos. 106 >

ites e empresas de internet supervalorizadas, com milhões de usuários e atraindo grande volume de capital, mas com planos de negócios com pouco sentido e baixas garantias de lucro para os investidores. O cenário que deflagrou a primeira grande bolha da internet apresenta uma preocupante semelhança com o atual ambiente de negócios. A supervalorização de companhias como o Facebook, Groupon ou LinkedIn aponta para uma nova bolha? A primeira bolha especulativa, que ocorreu entre 1999 e 2001, teve como marca a alta expressiva das ações das novas empresas de tecnologia. Embaladas pelo otimismo e também pelo desconhecimento que cercava o ambiente da internet, muitas empresas de tecnologia, as chamadas “pontocom”, surgiram no mercado, atraindo investimentos, mas com modelos de negócio com pouca ou nenhuma sustentabilidade. O índice da Nasdaq, a bolsa eletrônica de Nova York, chegou a alcançar mais de 5.000 pontos, antes de começar a despencar hoje, encontra-se estável na faixa de 2.700 pontos. Em 2001, grande parte das empresas pontocom foi vendida a preço de banana, passou por processos de fusão ou simplesmente desapareceu, causando prejuízos significativos para quem apostou suas fichas na promessa de lucro fácil e rápido na internet. Além de prejuízo, a bolha deixou sequelas, como um certo descrédito do mercado em relação à viabilidade das empresas pontocom e de seus modelos de negó-

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cios. A crise do mercado de tecnologia deixou como herança a lição de que o lucro é fundamental para que as empresas possam se credenciar para atrair investimentos ou abrir o seu capital em bolsa. O sinal amarelo para a possível nova bolha surgiu com a divulgação dos valores envolvendo o Facebook. O Goldman Sachs avaliou que a empresa criada pelo americano Mark Zuckerberg e pelo brasileiro Eduardo Saverin vale nada menos que 50 bilhões de dólares, um valor altíssimo para uma empresa que ainda não gera lucros expressivos. Com mais de 500 milhões de usuários, o Facebook deve essa valorização de sua marca mais a uma promessa futura do que a resultados presentes. Com o crescimento das redes sociais, há uma grande perspectiva de que o Facebook venha a desenvolver negócios lucrativos, devido principalmente à sua plataforma bastante flexível, que permite desde a propaganda até o comércio eletrônico. Esse é o principal desafio atual de Zuckerberg: desenvolver um modelo de negócios sustentável e competitivo, que permita ao Facebook ampliar suas receitas e justificar sua valorização. É uma aposta arriscada. Há alguns anos, um outro site também surgiu como uma proposta muito promissora, atraindo em pouco tempo mais de cinco milhões de usuários, centenas de empresas e investimentos significativos. Era o Second Life, que pretendia oferecer uma “realidade paralela” no ambiente de internet. A promessa nunca se consolidou e o site “desapareceu”, levando com ele os investimentos. Além do fenômeno da super-

valorização de companhias como o Facebook e LinkedIn, outro alerta para a possibilidade de uma nova bolha é o boom dos sites de compras coletivas, atual fenômeno da internet. O Group On, maior site desse tipo no mundo, recebeu uma proposta de compra pelo Google no valor de 6 bilhões de dólares. Recusou a oferta por considerar que o valor da empresa pode chegar a cerca de 15 bilhões quando o capital for aberto na bolsa. O Brasil, segundo levantamento divulgado no início deste mês pelo site Bolsa Ofertas e publicado no IDG Now! o número de sites de compras coletivas já passa de mil, oferecendo descontos expressivos em produtos que vão do cafezinho à cirurgia plástica. Um número que não deve se sustentar por muito tempo, pela própria natureza do negócio. Passada a novidade, a tendência é que o número de sites de compras coletivas diminua significativamente e, assim como ocorreu com outras bolhas, apenas os mais profissionalizados consigam sobreviver no mercado. Mesmo assim, terão que rever o seu modelo de negócio, investindo em alternativas como a segmentação e diminuindo a margem de lucro, que hoje chega a 50% do valor comercializado junto aos consumidores. Por enquanto, a nova bolha é apenas motivo de preocupação. Mas, para evitar problemas, é importante lembrar os erros do passado e não subestimar as vulnerabilidades. No ambiente da internet, o risco sempre fez parte do negócio. Mas, como diz o ditado popular, “gato escaldado tem medo de água fria”.


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Saúde e beleza em harmonia ODONTOLOGIA | Com o avanço da medicina os tratamentos de saúde bucal ficaram mais em conta para todas as classes sociais

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m sorriso agrada, conquista, seduz, e às vezes, até, é capaz de apaziguar ânimos num momento de tensão. E nos últimos anos a odontologia estética tem contribuído bastante para a restituição de sorrisos imperfeitos, elevando a autoestima de pacientes antes condenados a um riso amarelo. Neste campo, os profissionais do setor aprimoraram técnicas para oferecer aos pacientes, além da essencial saúde bucal, um visual mais agradável para atender as novas pressões sociais, que exigem cada vez mais uma aparência saudável. Pesquisa feita pelo Departamento de Estudos Mercadológicos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) mostrou que 96% das pessoas das classes A, B, C e D acreditam que a aparência dos dentes é imprescindível na apresentação pessoal. Hoje existem diversas técnicas que melhoram a estética bucal e permitem um sorriso mais harmônico, principalmente no que diz respeito à forma, posição e cor dos dentes. “A tecnologia tornou-se uma aliada para o tratamento estético e dentário, proporcionando saúde bucal e harmonia nos sorrisos”, explica o cirurgião-dentista Kleber Lacet, da Odonto-Cape. O centro inovou, no Nordeste, ao utilizar sistemas de transmissão de imagens através de microcâmeras durante 108 >

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O sorriso perfeito deixou de ser uma dádiva da natureza e pode ser adquirido as cirurgias e aulas práticas. “As aulas tornaram-se mais dinâmicas, com um sistema de imagens avançado onde os alunos não se concentravam todos em uma única sala e bem próximos aos pacientes, mas em um laboratório de acompanhamento de vídeo”, explica o médico. Com o avanço da tecnologia, os custos de um tratamento dentário ficaram mais em conta. A OdontoCape, por exemplo, atende a clientes de diferentes camadas sociais, informa Kléber Lacet. “Trabalhamos com os materiais mais eficientes do mercado em termos de estética bucal e recuperação de sorrisos. Entres esses serviços, des-

taca-se o implante dentário, técnica cada vez mais requisitada pelos clientes. A empresa, inclusive, tem uma parceria de sucesso com um dos maiores fabricantes mundiais de materiais de implantes”, avisa. Preocupadas em oferecer mais conforto e celeridade no atendimento e assistência aos pacientes, algumas empresas do Recife já disponibilizam de forte estrutura com laboratório de prótese, centrais de materiais e esterelização modernas. E a atualização dos profissionais da área é constante, pois há sempre a necessidade de se fazer intercâmbios para que novas técnicas possam ser utilizadas no atendimento aos pacientes pernambucanos.


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Alexandre Albuquerque

Ginásio sofre efeitos do tempo e não apresenta boa imagem para quem passa pela Imbiribeira

Degradado, Geraldão vai sofrer reforma milionária

PRAÇA ESPORTIVA | Palco de grandes eventos no passado, ginásio está maltratado. PCR dá início à licitação de obra estimada em R$ 30 mi

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intura com vários trechos da fachada descascados, portarias de frente para a avenida em estado precário, infiltrações no teto superior. O Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, o Geraldão, que antes despertava o orgulho dos recifenses que passam pela Imbiribeira, agora provoca indignação. Há tempos, não

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há grandes eventos no ginásio porque o anel superior das arquibancadas está interditado. No ano passado, um jogo da seleção brasileira feminina de vôlei estava previsto para o Geraldão, mas acabou sendo transferido para João Pessoa. A vereadora Priscila Krause (DEM) acusa a gestão petista de ter abandonado

os cuidados com a praça esportiva desde a primeira gestão do prefeito João Paulo, agora deputado federal e sucedido por João da Costa. ‘O Geraldão tem um significado muito importante para o Recife. Nele foram realizados grandes eventos esportivos e culturais, como o Holiday on Ice e shows de


Alexandre Albuquerque

Alexandre Albuquerque

Má conservação: ameaça à segurança no setor G mestre deste ano com previsão de 18 meses para ser concluído. Granja também lembra que há projetos sociais em andamento no ginásio promovidos pela Prefeitura. “Diariamente, passam quatro mil pessoas por aqui”, explica, lembrando que apesar dos problemas estruturais o ginásio não está parado e vem cumprindo a sua função social. “O que precisa ficar claro é que o equipamento é antigo e nunca passou por uma reestruturação nesses 40 anos”, comenta, deixando nas entrelinhas que a atual gestão está apenas pagando mais uma conta dos outros 32 anos de existência do ginásio em que governantes da antiga Arena (Aliança Renovadora Nacional), depois PFL e PMDB comandaram o Recife e não procuraram adequar a praça esportiva. As dificuldades são de todas

Roberto Carlos e Júlio Iglesias”, destaca a vereadora. Em bom estado e sendo utilizado é uma forma de integrar a comunidade esportiva, diz ela. “Mas não vem tendo o tratamento adequado, tanto nos serviços que deveria oferecer à comunidade quanto em sua conservação”, aponta. O diretor-presidente da instituição, Eduardo Granja, rebate Priscila. Ele argumenta que o ginásio sofrerá uma grande reforma para se adaptar às novas exigências esportivas e de acessibilidade. Adianta que já foi publicado um Termo de Referência com lançamento da licitação no Diário Oficial para a contratação da empresa que fará a reforma. O projeto de reestruturação do ginásio é estimado em R$ 30 milhões, praticamente o mesmo valor gasto pela PCR para a construção do Parque Dona Lindu, em Piedade. Após a licitação e a definição da empresa que vai realizar o projeto, a obra será iniciada no segundo se-

Alexandre Albuquerque

Visão interna: efeitos do tempo em toda parte

as ordens. Os refletores do ginásio ficam a uma altura de 25 metros e para trocar uma das 82 lâmpadas é preciso instalar vários andaimes. Quando apenas uma lâmpada se queima é preciso esperar que outras também apresentem problemas, pois ficaria muito oneroso chamar uma equipe para substituir apenas uma luminária. Outro aspecto é que algumas modalidades esportivas passaram por mudanças e a quadra do ginásio não está adequada a elas. As dimensões da quadras de futsal e handebol foram ampliadas. “Algumas competições internacionais não se adequam mais ao conceito do Geraldão. Existe nele um conceito antigo, da sua fundação na década de 70”, observa Eduardo Granja. Na visita da reportagem da Alu gomais ao Geraldão, a quadra era

Decepção: orgulho do recifense se transforma em indignação 2011 março >

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Alexandre Albuquerque

acessibilidade dos deficientes físicos. “Um cadeirante, por exemplo, não pode ir ao anel superior, isso é um problema que tem que ser resolvido”, afirma Granja. O projeto de reestruturação também prevê a construção de um prédio anexo para acolher a administração do ginásio. Atualmente, Eduardo Granja trabalha numa sala improvissada entre as cadeiras e as arquibancadas. No projeto original, esse local estava previsto para abrigar uma lanchonete. “Antes de criar o projeto, junto com o prefeito João Paulo, visitei grandes ginásios reformados para identificar soluções que pudessem ser utilizadas no próprio Geraldão”, conta Granja. Priscila lembra que, quando criança, fazia ginástica aeróbica no Geraldão junto com a irmã, mas que no ano passado visitou a praça e saiu decepcionada com a má conservação do ginásio. Também recebeu queixas de freqüentadores do local. Todos reclamavam do descaso com o imóvel e com os serviços que a praça esportiva deveria oferecer. “No papel, há várias atividades esportivas promovidas pela administração, mas na prática os serviços são sofríveis e a população reclama.”

Eduardo Granja espera visita de críticos para mostrar o que tem sido feito nesta gestão ocupada por jovens em treinamento de voleibol. As quadras por trás do ginásio estavam passando por uma reforma. Entre as mudanças previstas no novo projeto está a construção de rampas de acesso para cadeirantes, pois quando o ginásio foi construído no final dos anos 60 (a inauguração ocorreu em 12 de janeiro de 1970) não havia a preocupação com a Alexandre Albuquerque

AUTARQUIA O Geraldão foi projetado pelo arquiteto Ícaro de Castro Mello, o

mesmo que criou o Ginásio Nilson Nelson e o Estádio Mané Garrincha, em Brasília, e os grandes ginásios esportivos de Fortaleza e Teresina. Atualmente, funciona como autarquia para gerenciar os segmentos de esporte e lazer no Recife. A administração do Geraldão não cuida apenas do ginásio, mas de todos os equipamentos esportivos instalados em praças do Recife, além de atuar na promoção de campeonatos amadores. Atualmente, trabalha com 31 modalidades esportivas em escolinhas e nos serviços públicos oferecidos nas salas do ginásio como o alistamento militar. Eduardo Granja disse que após as críticas dos vereadores (além de Priscila Krause, Edmar de Oliveira também se manifestou), está aguardando a visita deles ao ginásio para mostrar o que tem sido feito neste gestão. “É bom lembrar que o Ministério dos Esportes foi criado na gestão do Partido dos Trabalhadores e que nós lutamos para fazer do esporte uma ferramenta de inclusão social.” Para Granja, quando o projeto de reestruturação estiver pronto, o Geraldão voltará aos seus grandes dias. “É o terceiro maior ginásio esportivo do Brasil e possui uma logística privilegiada para receber grandes eventos, está perto do aeroporto, da rede hoteleira e de um grande corredor viário, que é a Avenida Mascarenhas de Moraes”.

Priscila Krause diz que Geraldão não está cumprindo sua função social 112 >

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Plateia: a interdição do anel superior impede grandes eventos


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Economia

Jorge Jatobá

jorgejatoba@revistaalgomais.com.br

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Novas relações de trabalho para um novo Pernambuco

ernambuco vive um bom e novo momento econômico. Transformações estão em curso na estrutura da economia estadual que irão restabelecer a importância relativa da indústria de transformação no PIB que caiu de 28,0%, em 1986, para 16,7%% em 2003. Entre 2004 e 2008, todavia, o valor agregado da indústria manufatureira cresceu 25,6% e, em 2010, a produção expandiu-se em 10,2% com relação ao ano anterior, a maior expansão entre as três economias de maior porte da região. O ciclo ascendente dos negócios no Estado passa por duas fases. A primeira é a de implantação dos empreendimentos compreendendo as obras de terraplanagem, construção civil, instalação de máquinas, equipamentos e infraestrutura de apoio e a segunda constitui-se na fase de operação das empresas. Há diferenças entre as duas: a primeira demanda mais mão de obra e com perfil bem menos qualificado do que a segunda. Há, todavia, um elemento comum entre as duas: o mercado de trabalho está aquecido com o emprego formalizado em alta e o desemprego aberto em baixa. Resulta desse cenário, salário em alta, canibalização do mercado, ou seja, processo pelo qual uma empresa retira pessoas de outra através da oferta de melhores condições de remuneração e de trabalho, e sindicatos fortalecidos pelo mercado demandante que favorece o surgi-

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mento de uma pauta de reivindicações mais robusta em termos de benefícios e mais dura em termos de negociação. Esse novo paradigma do mercado de trabalho precisa ser reconhecido pelas empreiteiras e pelas empresas contratantes. Agora a pressão é sobre as empreiteiras. Mais adiante será sobre as empresas diretamente. Empreiteiras estavam acostumadas a contratar pessoal para obras no contexto de um mercado de trabalho frouxo e com elevado desemprego. Neste clima, ser duro e recorrer à aplicação estrita da lei geralmente funcionavam porque a alternativa era o desemprego. Mas quando o paradigma muda, tem que mudar as formas de negociar e de enfrentar os conflitos de interesse econômico o que em sociedades que adotam a economia de mercado separam e colocam em confronto direto empregados e empregadores através de suas representações de classe. O Brasil amadureceu longa, mas lentamente nesse quesito. A legislação, fundada na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) é rica quantos aos direitos individuais, mas pobre no que diz respeito aos direitos e a negociação coletiva. À margem de uma legislação em vigor, mas descolada da realidade do mercado de trabalho avançaram as Centrais Sindicais- só recentemente oficialmente reconhecidas- e a negociação coletiva. Para esse avanço contribuiu muito a liderança do ex-presi-

dente Lula que, como líder sindical do ABC paulista, foi pioneiro em lutar pela negociação como forma de resolução de conflitos. O mercado de trabalho unificou-se. Nos canteiros de obras de Pernambuco há gente de várias partes do país, indicador robusto de que não temos condições de oferecer mão de obra local para todas as necessidades de um mercado unificado e apertado. Os trabalhadores de fora do Estado- alguns majoritários em algumas obras que estão em cursosão politizados e com mais experiência em negociação coletiva, exigindo do sindicato não apenas legitimidade, mas também combatividade. Cabe às empresas do novo Pernambuco em construção e das lideranças da nova industrialização pernambucana perceber que mudou o cenário do mercado de trabalho e também o paradigma para resolução dos conflitos de interesse entre Capital e Trabalho. Chegou o momento de sentar, de abrir os livros contábeis em boa fé e de negociar mesmo que às vezes essa negociação envolva benefícios fora dos cânones anacrônicos da legislação trabalhista vigiada pelo Ministério Público do Trabalho. Impor a lei contra a vontade das partes não resolve os conflitos. Há que negociar e buscar o ganha-ganha mesmo que os defensores da aplicação irrestrita e cega da legislação não se conformem com os resultados de uma boa negociação.


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Nova fábrica da Ambev vai gerar 200 empregos ESPORTE | Unidade será construída em Itapissuma e vai trazer algumas novidades para o mercado do N/NE

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tapissuma foi a cidade escolhida para receber a nova fábrica da AmBev cujas obras foram iniciadas no dia 2 de dezembro. Os investimentos giram em torno de R$ 260 milhões, nesta que será a maior fábrica da Companhia no Norte e Nordeste e atenderá a demanda pernambucana e de estados vizinhos. Em Pernambuco, a Ambev já possui uma fábrica no Cabo de Santo Agostinho e dois centros de distribuição direta, um em Olinda e outro em Caruaru. Para o gerente geral de operações da AmBev, Rodrigo Menezes, a escolha de Itapissuma foi estratégica já que a fábrica do Cabo atingiu seu limite de produção e não há possibilidade de ampliação. “Além disso, a região tem água abundante – recurso essencial para a produção; o terreno é de fácil construção e está próximo à BR 101; e o tempo de deslocamento até o CDD Olinda deverá ser de apenas uma hora”, explica. Instalada em uma área de 180 hectares, a fábrica será construída em duas etapas. A primeira deverá ser concluída em setembro de 2011 e a ampliação, que receberá mais R$ 100 milhões de investimento, acontecerá até 2015. No total, a unidade terá capacidade para produzir até 10 milhões de hectolitros de cerveja e 4 milhões de hectolitros de refrigerantes. Algumas novidades estão previstas como a produção de latas de cerveja e refrigerante, além da cerveja em

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Daniella Gomes da ATS, diz que seleção de mão de obra já começou embalagens de 1 litro, antes não fabricadas no Estado. “Será uma fábrica de alta performance: grande volume de produção e menor complexidade, sendo assim, iremos fabricar aqueles produtos de maior consumo. Nosso objetivo é que a unidade de Itapissuma venha a atender o crescimento da demanda dos produtos AmBev que no Nordeste tem registrado 20% ao ano”, garante Menezes. Na primeira fase serão gerados 200 empregos diretos e a seleção já está sendo realizada pela ATS Consultoria, que há mais de cinco anos é responsável pelas contratações da AmBev. Segundo a consultora de RH Daniella Coelho Gomes, 26 vagas para supervisão já foram preenchidas e em 2011 o foco será a captação de mão de obra técnica e operacional, além de estagiários dos cursos de Engenharia. “Após a análise do currículo, são realizadas

provas de português e matemática e dois testes psicológicos. Se o candidato se enquadrar no perfil solicitado pela empresa, ele será encaminhado para entrevistas com os gestores da AmBev”, explica. Ao todo, o processo deve durar de um mês e meio a dois meses. Até que a fábrica esteja pronta, os contratados passarão por treinamentos em outras unidades fabris da Companhia. Os interessados em participar do processo seletivo devem enviar currículo para o e-mail ats@atsconsultoria.com.br ou cadastrar seus dados no site www.atsconsultoria.com.br. “A representatividade da AmBev no mercado às vezes assusta quem está procurando emprego, mas a Companhia costuma dar oportunidade para jovens talentos recém-formados. Alguns dos já contratados se formaram no final de dezembro de 2010”, garante Gomes.


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Gestão

Mais

A importância do ritual na empresa

N

o mês de abril é celebrado um dos principais rituais da Igreja Católica. Durante a Semana Santa, momentos cruciais da vida de Jesus Cristo são relembrados. Como em todo ritual, este tem sua força no simbolismo, que garante que milhões de pessoas em todo o mundo revivam os princípios e tradições do Cristianismo, quase dois mil anos após a morte de Cristo. Os rituais têm essa função. As práticas e o cerimonial envolvidos em um rito, seja ele religioso ou não, têm o poder de promover identificação e reconhecimento, reafirmar valores, renovar compromissos. No rito, as pessoas compartilham uma sensação de “pertencimento” a um grupo social, saindo das atividades cotidianas para, por alguns momentos, celebrar valores atemporais, fortalecendo crenças e princípios. Os ritos também estão presentes nas empresas e organizações e, por sua importância, merecem um olhar atento dos gestores. É preciso cuidado para que, devido ao aumento da competitividade ou em nome da inovação, não se percam rituais corporativos relevantes para a cultura empresarial. Os ritos nas empresas, sejam eles de comemora-

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Os ritos também estão presentes nas empresas e organizações e, por sua importância, merecem um olhar atento dos gestores

ção, integração ou de outra ordem, devem ser tratados como oportunidades para fortalecer vínculos, validar acordos, reforçar compromissos e manter o grupo integrado em torno de sua estratégia. Atenção também para ritos mais simbólicos e igualmente importantes, como o contato direto do presidente

ou dos líderes com a equipe. É fundamental, à medida que a empresa vai crescendo, que os líderes não se distanciem demais da base e mantenham os espaços ou pequenos rituais nos quais possam continuar compartilhando com a equipe os princípios da organização e outros conteúdos relevantes para a gestão e a estratégia.

Exemplos de ritos possíveis de serem cultivados

(Sempre devem ter títulos que marquem o evento) • Celebrando nossa história: nos aniversários da empresa, por exemplo, relembrando e realçando histórias e conquistas. • Os melhores: comemoração/celebração periódica dos melhores desempenhos. • Conversando com o presidente: momentos sistemáticos de interação formal com a liderança maior da empresa. •Lições de empreendedorismo: momentos em que profissionais da empresa podem conversar com o fundador e ouvir histórias sobre os desafios enfrentados.


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Palavra do ibef-pe

Gilberto Bagaiolo*

E-mail: gilberto.bagaiolo@br.pwc.com

Expansão sustentável

O

Brasil, ao longo dos últimos anos, vem demonstrando um desempenho econômico seguro, caracterizado pelo aumento do Produto Interno Bruto (PIB), o fortalecimento do mercado consumidor e da classe média, uma inflação estabilizada, assim como indicadores de desenvolvimento e distribuição de renda em franco crescimento. São notícias que, sem dúvida, mostram um processo em ascensão, seguro e significativo. O cenário apresentado nos leva a pensar que estamos no caminho certo e que pouco deve ser modificado para continuarmos crescendo. No entanto, economistas e estudiosos avaliam que, apesar dos avanços, há várias áreas que precisam de uma ação mais estruturada e persistente das bases para que o país continue avançando no seu desenvolvimento econômico de forma segura e sustentável. Questões como reforma tributária, aprimoramento da infraestrutura, solução para os problemas de logística, novas políticas voltadas à educação são temas que o novo governo terá de enfrentar para propiciar uma base mais segura para continuar a evolução sem o risco de recaídas. São importantes ainda o aprimoramento dos me-

canismos de monitoramento de programas sociais e de distribuição de renda (visando a garantir seus objetivos e, no futuro, à diminuição do número de pessoas dependentes desses programas) e maior controle dos gastos públicos, itens que também aparecem de forma recorrente nos comentários de analistas e estudiosos para que o Brasil mantenha o seu curso de crescimento. Para que as previsões de crescimento econômico se tornem realidade, esses temas deverão ser prioridade. O ano de 2010 foi de prosperidade para o Brasil e as projeções indicam uma continuidade, com uma média de 5,9% para o crescimento da economia nos próximos cinco anos. Em outras palavras, ao final de 2014 o Brasil tende a ter um PIB em torno de 35% maior em relação ao que tínhamos no início de 2010. Por isso, para atingirmos metas cada vez maiores, há urgência na elaboração de políticas públicas para solucionar as inúmeras questões que impedem o nosso país de ter um desenvolvimento mais rápido, porém sustentável. Cabe a nós a difícil tarefa de enfrentar esse desafio, principalmente tendo em vista a preparação do

país para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 e também para permitir a exploração de petróleo da camada do pré-sal. É importante ainda frisar que somente a realização da Copa proporcionará uma oportunidade única para promover e atrair investimentos, alavancando as potencialidades do país. Será necessário para tal uma grande estrutura organizacional, sobretudo forte sinergia e integração entre as diversas entidades públicas e privadas, ligadas direta ou indiretamente ao esporte. Atualmente, são estimados, segundo projeções da PwC, US$ 50 bilhões a serem investidos na infraestrutura de todas as cidades envolvidas com o evento, que irá gerar, na estimativa da Fundação Getulio Vargas, aproximadamente 3,5 milhões de empregos no Brasil. Eventos desse porte envolvem riscos e desafios que devem ser trabalhados por profissionais especializados das diversas esferas do governo e da sociedade. Por isso a execução de todas as demandas para o sucesso dessas empreitadas vai exigir ações bem estruturadas dos gestores públicos para que o país possa obter resultados bem-sucedidos e retorno positivo para todos.

Gilberto Bagaiolo – é Sócio da PwC Brasil, Presidente da Júnior Achievement PE, Diretor do IBRACON-2 Regional e Vice-Presidente do IBEF PE

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Elas estão mais “saidinhas”?

IGUALDADE | Pesquisa aponta mudança de comportamento feminino, com mulheres colocando a mão no bolso para pagar a conta Por Edi Souza

J

á dizia o compositor Mário Lago, na década de 40: “Amélia que era a mulher de verdade”. Quando o samba foi escrito os homens poderiam até preferir mesmo as mais recatadas e submissas. Hoje, porém, o saudosismo fica guardado na música, enquanto o cotidiano mostra a igualdade dos sexos. Quem vivencia e ainda defende essa mudança de comportamento são os donos de grandes motéis. De uns tempos pra cá eles perceberam que elas estão não só decidindo mais pelo estabelecimento onde querem se hospedar, como, também, participando do pagamento da conta. Para se ter uma ideia, cerca de 75% dos cartões de crédito recebidos na saída da portaria dos motéis Ninja e Turquesa, localizados na Zona Oeste do Recife, são assinados por mulheres. O proprietário Tony Hsu Chuncki, que trabalha no segmento há mais de dez anos,

focado nas classes B e C, já não se espanta com a porcentagem, mas revela que o quantitativo o alertou para a adequação nos serviços. “Se nossos visitantes mudaram de perfil, então tivemos que acompanhar. Por isso, fiz uma pesquisa não só internamente, com os funcionários, mas também entre amigos e clientes. Foi quando confirmei que elas não têm mais receio em dizer onde querem terminar a noite, estando dispostas, inclusive, a abrirem a carteira”, brinca. O caixa de Tony endossa o resultado de uma enquete levantada durante o mês de novembro pela sexóloga Regina Navarro. Ela publicou em sua coluna de comportamento, no portal IG, a questão: “As mulheres devem dividir a conta no motel? Por quê? Não demorou a chegar opiniões defendendo os dois lados, tanto de que homens precisam ser cavalheiros e mulheres mais valorizadas, quanto a necessidade se ter bônus e ônus causados pela emanci-

pação feminina. No final das contas e de tanta polêmica, 69% declaramse a favor do famoso “rá rá”. Por conta disso, elas se tornaram alvo de uma enxurrada de brindes e promoções regados a um atendimento cada vez mais delicado. Voltando para o Ninja e o Turquesa a estratégia deles foi, por exemplo, oferecer mimos como banho de espuma para deixar a água com aroma e cor de vinho tinto, branco ou rosé; sabonete líquido de maracujá; instalação de espelhos do tipo mosaico e aplicação de aromatizantes com opções cítrico/pitanga (quartos do Turquesa) e amadeirado/bambu (quartos do Ninja). O valor da hospedagem poderá variar entre R$ 23,90 e R$ 55 a permanência de três horas no Turquesa. Já o Lemon, com suas duas unidades no Recife, focou num diferencial mais ousado, seguindo as exigências do público A. Segundo o proprietário Carlos Rique, as casas sempre foram equipadas pensando

Cientes da força do sexo frágil, administradores investem para manter oferecer mais conforto ao público feminino 122 >

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no gosto feminino. “É uma preocupação constante. Na maioria das vezes elas decidem vir para cá porque valorizam sofisticação e conforto”, explica. Os agrados vão desde banho de champagne na própria banheira e passeio panorâmico de helicóptero até o fornecimento de todos os tipos de utensílio (escova de cabelo e prancha profissionais, demaquilantes, hidratantes, sabonetes, entre outros). Destaque para a iluminação da cama, montada para não salientar as imperfeições da pele. “Outro ponto é a cozinha. A comida faz a cliente vir para uma permanência completa, incluindo o momento da refeição. Em um final de semana registramos gastos de R$ 180 (por cliente) só com alimentação”, destaca Rique. Uma diária, na unidade de Afogados, Zona Oeste do Recife, pode sair por R$ 430 (suíte loft) e R$ 919 (loft plus). A decoração dos quartos também está agradando. Nada de telas, esculturas ou objetos em forma de corpo que possam constranger o casal. Motivo extra para incrementar a rotatividade em datas como o Dia dos Namorados, época em que o movimento cresce 300% em relação a um dia normal, provocando a formação de filas. Quem já passou por isso foi servido de taças com espumante e nécessaire com itens básicos de beleza. Atrativos que podem fazer a diferença na hora da escolha, segundo a consultora de vendas, Rafaela Lira, 22 anos. Em outra época seria até difícil encontrar alguém como

Passeio de helicóptero é um dos diferenciais para atrair clientela

“Já dividi mais de uma vez o valor com o namorado. Este tem sido o novo papel da mulher, que tanto lutou por igualdade.”

ela para falar a respeito. No entanto, a jovem diz sem receio que a ida ao motel é normal para muitos casais, principalmente os de longa data, e ainda confirma: “já dividi mais de uma vez o valor com o namorado. Este tem sido o novo papel da mulher, que tanto lutou por igualdade. O compromisso de assumir tudo ou parte depende de cada relacionamento, não uma obrigação. Mas, claro, há dias em que o romantismo precisa falar mais alto no bolso e na programação”, completa. Até nesses momentos mais especiais pensou o empresário Marcos Queiroz, com 20 anos de experiência na área, ao disponibilizar kitsfesta nas bandeiras que administra, incluindo Fidji, Cristal e Praia Norte. São opções com velas, pétalas de rosas e vários outros itens para compor o clima. Mesmo assim, tanto capricho à disposição raramente é procurado por homens. “São as esposas ou namoradas que contratam o serviço para uma noite especial, embora o contexto devesse ser o contrário, tornando-se um presen-

A preocupação com os detalhes vai desde produtos para aromatizar ambiente à iluminação 124 >

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te”, destaca Marcos apontando outro dado curioso. “Meu celular está impresso nos cardápios caso o cliente queira criticar ou fazer sugestões diretamente comigo. O aparelho quase não toca, mas quando acontece é a mulher que está do outro lado em 90% das vezes”, finaliza. Já o balanço das finanças em relação ao pagamento feito com cartões de crédito é mais razoável. Por lá, ambos os sexos utilizam o dinheiro de plástico na mesma proporção. Em meio a tantas mudanças, ainda existem homens como Ednilton Santos, 24 anos, que preferem assumir o controle. O estudante de informática diz manter a tradição dos velhos tempos independente das datas. “Sempre que chamo minha namorada faço questão de me comprometer com os gastos. Pode ser orgulho, mas acho que no fundo faz parte do papel”, diz. Pensamento masculino que, por enquanto, não está tão em voga para os motéis. Oportunidade para elas aproveitarem também os frutos que a concorrência dará.


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Gaturamo-verdadeiro (Euphonia violacea) e Saíra-beija-flor (Cyanerpes Cyaneus)

Pela preservação das aves de Aldeia Meio ambiente | Sociólogo dedica horas de folga à fotografia e catalogação das espécies de aves de Aldeia, no Grande Recife

Q

uem frequenta o Condomínio Bosque Águas de Aldeia, no quilômetro 16 da Estrada de Aldeia, no Grande Recife, se acostumou a cruzar com Roberto Harrop mirando com sua máquina fotográfica a enorme diversidade de pássaros da região. Foi o sumiço de um freqüentador habitual do espaço há mais de 20 anos, o pintorverdadeiro, que levou Harrop a 126 >

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decidir registrar a presença das aves. Muitas delas, como conta nesta entrevista, usam o jardim de sua casa como rota de passagem para outros pontos de alimentos, acasalamento e nidificação. Harrop é sociólogo, titular do instituto de pesquisa que leva o seu nome e usa a paciência da profissão para fotografar as aves. Ele já conseguiu catalogar e fotografar mais de 40 espécies de

aves. Eis o seu depoimento: Algomais | Como surgiu este seu interesse em tirar fotos dos pássaros de Aldeia? Roberto Harrop | Nós temos uma casa em Aldeia, no Km 16 próxima de uma reserva de mata atlântica. Percebi que uma espécie de ave que era freqüentadora habitual daquele espaço há 20 anos, o pintor-verdadeiro (Tangara fastu-


Roberto Harrop Roberto Harrop

Sabiá-barranco (Turdus Leucomela)

Roberto Harrop

Roberto Harrop

Canário-da-terra-verdadeiro (Sicalis Flaveola)

Ariramba-de-cauda-ruiva (Gaubula Ruficauda)

Saira-azul-turquesa (Dacnis Cayana)

osa), sumiu do território. Foi pensando em registrar as espécies de aves de Aldeia, antes que passem a ocupar a lista de aves em extinção ou migrem para outros locais, que resolvi me dedicar ao hobby de fotografá-las.

so jardim como rota de passagem para outros pontos em busca de alimentos, acasalamento e nidificação. Resolvi, então, interceptá-los, atraindo-os com frutas (banana e mamão são as preferidas). A idéia funcionou e sempre que estou em Aldeia, há fartura de frutas para eles, que já se acostumaram com o barulhinho do clique da máquina e não demonstram receio quando me aproximo um pouco mais de-

AM | Como são feitas suas fotos, como você se aproxima dos pássaros? RH | Muitos pássaros usam nos-

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Beija-flor-de-garganta-verde (Amazilia fimbriata) les. Depois deste procedimento, notei que o número e a variedade de espécies aumentaram no meu jardim.

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AM | Qual foi a espécie mais rara que você já fotografou no seu jardim de Aldeia? RH | Embora seja uma espécie não muito rara nas matas de Aldeia, o Uirapuru-cabeça-vermelha ou Dançarino-de-cabeça-vermelha (Pipra rubrocapilla), só apareceu nas imediações de minha casa apenas uma vez em 21 anos que moro lá. É um pássaro bonito e elegan-

te que tive a sorte de fotografá-lo pousado numa aroeira do meu jardim. AM | Você acha que as pessoas estão suficientemente conscientizadas e motivadas para ações em defesa das aves? RH | Você conhece a história do incêndio na floresta? Todos os animais estavam transportando água para apagar o fogo e no meio deles havia um pequeno beija-flor também colaborando no transporte de

Roberto Harrop

AM | Quantas espécies de aves freqüentam o seu jardim? Qual a espécie mais rara que você já fotografou? RH | Já consegui fotografar e catalogar mais de 40 espécies de aves. Algumas delas são freqüentadoras habituais enquanto a presença de outras está associada com o tempo de floração e amadurecimento de algumas frutas de época, principalmente o caju e a manga. Há uma maior variedade de aves que são atraídas pelas sementes no período de floração e lá no nosso jardim e nos terrenos vizinhos temos floração exuberante de aroeira e de outras árvores de mata atlântica. Pelas datas registradas nas fotos, podemos prever em que época algumas espécies estarão de volta, já que apresentam certa sazonalida-

de de acordo com a disponibilidade de determinados alimentos.

Já consegui fotografar e catalogar mais de 40 espécies de aves

Guriatã ou Gaturamo-verdadeiro (Euphonia violacea)


Roberto Harrop

Roberto Harrop Roberto Harrop

No alto à esquerda vemos um Papa-capim (Sporophila Caerulescens), abaixo à esquerda o canto do Garrincha, Cambaxirra ou Corruira (Troglodytes Aedon) e no lado direito acima, o Socozinho (Butorides Striatus)

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AM | Na sua opinião, o que deve ser feito pelas pessoas, pelos empresários e pelo poder público para atrair, repor e preservar a população de nossas aves nos ambientes urbanos? RH | Para atrair pássaros em ambientes urbanos de praças, ruas, quintais e áreas verdes de nossas indústrias e shopping centers é necessário reproduzir nesses ambientes o que os pássaros e animais já dispõem na natureza: árvores que dêem frutos e sementes e que sirvam também para nidificação. É possível conviver com este cenário sem prejuízo de uns e de outros. 130 >

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Roberto Harrop

Dançarino-de-cabeça-vermelha ou Uirapuru-cabeça-vermelha (Pipra rubrocapilla) Roberto Harrop

AM | Você acha que os empresários estão realmente preocupados em cuidar e preservar o meio ambiente com as chamadas ações de sustentabilidade? RH | Está na moda algumas empresas cuidarem de sua imagem através do investimento em ações de sustentabilidade. Não adianta propagar essas ações, nem realizálas com a intenção apenas “para inglês ver”, cumprir exigências legais ou para agradar aos estetas e pessoas de bom gosto. No caso de preservação da avifauna, por exemplo, é importante que os projetos de criação de reservas, refúgios e santuários ecológicos reproduzam fielmente os habitats e hábitos das aves e dos bichos.

Saíra-azul-turqueza (Dacnis cayana) Roberto Harrop

água. Fazia muitos vôos da fonte para o local do incêndio. Foi então que um bicho da floresta perguntou: beija-flor, você acha mesmo que vai apagar o fogo da floresta com este pouquinho d’água que você esta carregando no seu bico? E o beija-flor lhe respondeu: estou apenas cumprindo a minha parte. Esta história é boa para ilustrar que não importa o tamanho de nossa contribuição, mas sim a nossa intenção sincera em contribuir de algum modo para preservar o que há de importante e belo na natureza. Essencialmente estamos preservando a nós mesmos.

Saíra-beija-flor fêmea (Cyanerpes cyaneus)

É importante que os projetos de criação de reservas, refúgios e santuários reproduzam fielmente os habitats e hábitos das aves


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Roberto Harrop

Roberto Harrop

Suiriri-tropical (Tyrannus melancholicus)

Existe uma fórmula de atrair e manter em condições saudáveis as aves que convivem em ambientes urbanos 132 >

AM | Já existe alguma experiência de envolvimento da comunidade e dos poderes públicos para fazer os pássaros retornarem aos nossos ambientes urbanos? RH | No seu livro Aves Brasileiras Minha Paixão, Johan Dalgas Frisch cita o exemplo de uma experiência vitoriosa em São Paulo. Segundo ele, o número de espécies de aves na capital paulista caiu de 200, em 1930, para apenas seis em meados de 1960. Com a ajuda de alguns comunicadores formadores de opinião – Hebe Camargo, Vicente Leporace e Moraes Sarmento – Dalgas deflagrou uma campanha para incentivar o plantio de árvores frutíferas e/ou que tenham sementes para atrair pássaros em quintais, jardins, praças, parques, calçadas. Segundo estimativa de Dalgas, no início deste século havia cerca de 100 espécies de pássaros na cidade. Os pássaros voltaram para conviver na chamada selva

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Roberto Harrop

Sanhaço-do-mamoeiro ou Sanhaço-cinzento (Thraupis sayaca) Roberto Harrop

Existe uma fórmula de atrair e manter em condições saudáveis as aves que convivem em ambientes urbanos, proporcionando-lhes a regra dos 3 As: Água, Alimento e Abrigo.

Saíra-beija-flor ou Sapitica (Cyanerpes cyaneus)

Saíra-canário ou Canário-sapé (Thlypopsis sordida)


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Roberto Harrop

Roberto Harrop

Viuvinha ou Lavadeira-de-cabeça-branca ou Freirinha ou Maria-velhinha (Arundinicola leucocephala) AM | Quais são as frutas que os pássaros mais apreciam? RH | Nos nossos jardins, quintais e pomares o recomendado é que se plantem acerolas, pitangas, além de mamão, manga e caju, plantas com as quais os recifenses já estão acostumados a conviver e apreciar in natura ou em forma de sucos e sorvetes. Quem se interessar por este assunto, recomendo o excelente livro de Johan Dalgas Frisch sobre “Aves Brasileiras e Plantas que as atraem”, onde pode ser encontrada uma grande variedade de plantas que servem para atrair pássaros.

Rolinha-caldo-de-feijão (Columbina talpacotis) bientes urbanos e suburbanos. É importante que qualquer projeto desta natureza conte com a colaboração dos especialistas e profissionais (biólogos, ornitólogos, paisagistas, agrônomos, ecologistas) e até os apreciadores de aves e todas as pessoas de boa vontade. Todos nós sairemos lucrando com esta iniciativa. Roberto Harrop

de pedra e proporcionar aos paulistanos a beleza das suas cores e dos seus mais variados cantos. Uma campanha como esta poderia ser implantada em outras capitais brasileiras e tanto os espaços privados quanto os espaços públicos poderiam ser usados para disseminar as plantas que atraiam e retenham os pássaros em am-

Haropp: fotografias e preservação de aves de Aldeia como hobby 134 >

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Relógio ou Ferreirinho-relógio (Todirostrum cinereum)


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ARTIGO

O Plano Fatal Por Gilberto Marques*

J * Advogado

oão Alves tinha problemas sérios com a sogra. O casamento seria perfeito sem aquela intromissão repetida dia após dia, ao longo dos anos. O divórcio rondara o lar inúmeras vezes e o motivo era sempre o mesmo: a sogra. O tempo impusera uma calvície ridícula. A proeminência da testa era tanta e ele nem percebera. O diagnóstico veio na boca de um menino de rua. No semáforo após negar a moeda pleiteada foi lancinado pelo moleque: Careca. Achou pouco e repetiu soletrando: C+A=CA, R+E = RE, C+A = CA CARECA!. A largura do cinto e o sulco em volta dos olhos; os óculos de leitura... grandes mudanças. A mulher também fenecia nas intempéries. E pensar que pensava: Ela não vai mudar nunca. O constrangimento maior, porém, ficava na melancolia sem remédio do olhar da companheira. O olhinho azul já não tinha o mesmo brilho. O vigor do colo apontava outro caminho. As coxas roliças ganharam filetes azuis e um aporte lipídioso, a tal celulite – as meias finas porém cuidavam desse ponto muito bem. A velha é fogo, dizia aos amigos e a si mesmo. A velha é fogo. Viúva, de pouco, ficou pior. Aumentou a freqüência das visitas. Ainda bem que veio morar no Recife, refletia João. No começo vinha do Rio e ficava hóspede meses e meses. Todo ano era isso natal, ano novo, carnaval, são joão. Depois de viúva, ao contrário da filha, a velha rejuvenesceu. Voltou a estudar: entrou na escola de danças do Clube Internacional. No curso de culinária, pintura, arranjos florais e

outros. Toda quarta caía na gandaia até a meia noite. No Automóvel Club da Padre. Inglês rodopiava com vários parceiros ao som de boleros, tango e muito samba canção. Dizem que beliscava uma cervejinha sem pudor. Nunca a vira na festa, mas dava para imaginar. E o Coronel, coitado, dormindo sono solto no cemitério. Ia de táxi para a esbórnia. Temia as blitz da polícia de trânsito na Domingos Ferreira em Boa Viagem. Na manhã da quinta lampeira invadia a casa cedinho. Cheia de vigor e alegria: dancei foi muito. Contava alto, a filha. Lendo o jornal do Comércio, João ouvia tudo e dizia baixinho: a velha é fogo.

O hábito da leitura matinal foi a sede do mote. No caderno de saúde/ ciência tomou conhecimento que a 3ª idade contrai, fácil, infecção respiratória, infecção intestinal e traumas ortopédicos decorrentes de queda. Ficou alerta. É bom prevenir o futuro e jogou o cigarro longe. Levantou e vestiu uma camisa, o vento de agosto é meio frio. Acrescentou as caminhadas no planejamento, banho de mar e natação, uma boa idéia. Que tal o vôlei. A turma parecia animada. Na semana seguinte foi o caderno turismo do JC que completou a trama. Pacote para Argentina a preços módicos, sem juros. O programa era fantástico: Tango em Buenos Ayres, churrasco no país inteiro. Em Bariloche neve, esqui, chocolate. Vou pagar, vou pagar, vou pagar. Levantou eufórico repetindo. Vai pagar o que João? A viagem de sua mãe pra Argentina. Eu nunca dei nada a minha sogra... disse com um riso maroto no canto da boca. O cálculo foi rápido. A velocidade da operação aritmética deixou-o vaidoso da perspicácia. Na chegada: bom vinho; tango e muita carne. A velha suporta. A velha é fogo. Dois dias depois Bariloche, chocolate, carne, vinho, tango e frio. Muito frio. Neve, esqui. Maravilha. Aprendeu a dançar com uma semana, certamente com dois dias fica bamba no esqui. O vento batendo no peito. Vou pagar. João recostou-se na cadeira, fechou os olhos e imaginou a garota da quarta escorregando ladeira abaixo na montanha de neve. Dessa a velha não escapa! advgilbertomarques@hotmail.com

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Adeptos das cinquentinhas temem mordida do Detran

POLÊMICA | Órgão fiscalizador quer enquadrar motos de até 50 cilindradas, mas enfrenta guerra judicial e protestos dos condutores

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ançadas no mercado no início da década, as motos de 50 cilindradas eram, de início, apenas uma brincadeira para adolescentes que ainda não podiam se habilitar. Havia para os pais a comodidade de não pagar emplacamento, nem seguro obrigatório. Mas o brasileiro, ah, o brasileiro, descobriu que as cinquentinhas representavam bem mais do que isso. E a subida do salário mínimo fez boa parte dos trabalhadores de baixa renda perceber que comprando uma cinquentinha poderia pagar a prestação com a economia da passagem. Uma moto faz cerca de 60 quilômetros com um litro de combustível, uma redução substancial nos gastos de transporte. Então, as revendas desse veículo começaram a crescer mais e as utilidades da cinquentinha foram sendo descobertas. O frentista Daniel Lira Bezerra, 36 anos, diz que comprou uma porque para dirigi-la não precisava de habilitação. Além disso, faz uma enorme economia. “Também não tenho que gastar com o emplacamento, o que é outra vantagem,

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e passo uma semana com um tanque que, cheio, representa quatro litros”, comenta. Já o autônomo Sérgio Murilo Isídio Neto, 47 anos, resolveu comprar uma cinquentinha para presentear a mulher. “Com a moto, ela vai resolver os problemas de casa com facilidade e não perde tanto tempo andando a pé”, diz. São vários os modelos desse tipo de motocicleta e os preços variam de R$ 2.700 a R$ 3.400. Com a capacidade de improvisação do brasileiro, a motoneta deixou de ser apenas um meio de transporte para virar uma fonte de renda. Zezito José da Silva, 35 anos, casado, pai de dois filhos, fala da cinquentinha como algo que lhe caiu do céu. “Vivia desempregado. Com a moto, passei a fazer propaganda lá em Prazeres e Candeias, usando caixas de som no bagageiro. E assim sustento a família”, explica. Atualmente, circulam no Recife e Região Metropolitana cerca de 60 mil cinquentinhas de marcas variadas. Uma das primeiras a chegar ao Recife foi a chinesa Shineray. Dono de três revendas no Recife (Imbiribeira, Caxangá e Rua da Concórdia), Leonardo Toscano


Zezito ganha a vida fazendo publicidade com a motoneta

Leonardo Toscano, revendedor, diz que é preciso ampliar discussão diz que a moto é a primeira oportunidade para o trabalhador de baixa renda ter um transporte. Com o objetivo de dar melhor assistência aos compradores, a revenda da Shineray está montando um curso de pilotagem para

oferecer às pessoas que não têm habilitação. “Aqui, também presenteamos os compradores com um capacete”, explica Toscano. Ele diz que, como revendedor, não é contra a taxação das motos, mas acha que seria preciso ampliar a discussão e definir uma espécie da tarifa social, de acordo com o nível de renda dos compradores. O empresário também argumenta que o Brasil é signatário da Convenção de Trânsito de Viena e que, por esta convenção, veículos de até 50 cilindradas, classificados como ciclomotores, não podem ser emplacados. Além disso, lembra que o Código de Trânsito Federal orienta os Detrans a deixar os municípios criarem sua própria legislação municipal de trânsito.

BARULHO A polêmica em torno da cobrança de licenciamento e exigência de emplacamento das cinquentinhas começou quando o Detran-PE ganhou na Justiça o direito de registrar e licenciar esses veículos. Centenas de motoqueiros realizaram protesto na Imbiribeira, no final do ano passado, e o Sindicato dos Trabalhadores de Moto, Motoqueiros, Motoboys, Motomens e Afins de Pernambuco obteve uma liminar que impediu a cobrança das taxas exigidas pelo Detran. Até o fechamento desta edição, o mérito da questão ainda estava para ser julgado. Em nota oficial, o Detran explicou que em virtude da determinação judicial sobre as atividades de fiscalização, registro e licenciamento dos ciclomotores, tem atuado no tocante à obrigatoriedade do uso de capacete e de porte de habilitação dos condutores dos ciclomotores de até 50 cilindradas. E que aguardava posicionamento final do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJ-PE) para tomar novas medidas.” Apesar de ter comemorado a decisão do TJPE e já estar ciente de u que o Detran recorreria da decisão, 2011 março >

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o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motoqueiros (Sindimoto-PE), Ezequiel Vieira, concorda que as mais de 60 mil motocicletas de baixa cilindrada do Estado devem ser regularizadas. No entanto, ele argumenta que o transporte é mais utilizado por pessoas menos favorecidas economicamente. Por esse motivo, alega, o Detran deveria cobrar taxas mais baixas. José Alves usa a sua cinquentinha para trabalhar e está animado com a decisão do TJPE. “Dependo da minha moto para me sustentar. Eu e meus colegas de trabalho estamos torcendo para que essa decisão permaneça”. Em entrevistas aos jornais locais, o diretor-presidente do Detran-PE, José Humberto, adiantou que muito além de taxas para pagar, o licenciamento traz benefícios para os proprietários das motocicletas e para o trânsito. “Os motociclistas passarão a ter o bem registrado e isso os protegerá em caso de acidentes e furtos”, disse. Pelo menos outros dez estados já têm as cinquentinhas regularizadas, entre eles Bahia e Sergipe. Para Leonardo Durans – diretor da Prática Motos, concessionária da Traxx no Recife, a empresa estará sempre a favor da lei, seja ela qual for. “O que não podemos aceitar é a arbitrariedade. Entendemos que o usuário deve usar capacete para ter mais segurança e que, como determina a lei, a regulamentação dos ciclomotores deve ser feita pelos municípios.” O empresário argumenta que o Detran tem que bater na porta das prefeituras e cada município deve fazer a regulamentação, “aí a discussão seria a correta”. Lembra também que é preciso haver bom senso na definição de valores. “Um usuário de cinquentinha, que custa em média R$ 3 mil, não pode pagar pelo licenciamento a mesma coisa que o proprietário de uma Raley Davidson, que custa R$ 60 mil. Acho que os proprietários das cinquentinhas têm direito de reclamar, pois são pessoas de baixa renda, que 140 >

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Sérgio Murilo comprou uma cinquentinha para presentear a mulher usam o veículo para obter renda.” Leonardo Durans acrescenta que há na Câmara dos Vereadores do Recife um projeto de autoria do vereador Roberto Teixeira para regulamentar esse transporte. Mas é preciso que seja discutido e votado não só no Recife, pois em Olinda e Jaboatão também

Daniel Lira diz que enche o tanque e passa a semana rodando

circulam cinquentinhas. “Então, não adianta uma cidade regulamentar e a outra não. Nós, como revendedores, somos a favor da regulamentação, pois de repente uma cinquentinha bate num veículo, numa criança, e é preciso que haja uma identificação da mesma e de seu proprietário.”

Preço de uma moto de 50 cilindradas varia entre R$ 2.700 e R$ 3.400


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Indochina, Reino de Buda e da Motocicleta Por Francisco Cunha

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uando resolvi fazer uma viagem de reconhecimento à Indochina no início de 2011 não tinha a mínima idéia da extensão da reverência do povo de lá a Buda nem, muito menos, da amplitude do uso da motocicleta como veículo preferencial de transporte da maioria da população. A Indochina propriamente dita abrange os três países que entre meados dos Séculos 19 e 20 estiveram sob colonização francesa no Sudeste Asiático (Laos, Vietnam e Camboja). Na verdade, a viagem foi uma espécie de “sanduiche” da Indochina, com uma escala em Bangkok (capital da Tailândia), no início, e outra em Singapura, no fim. Em todos os lugares, em uns mais e em outros menos, a tentativa que parece sem retorno de seguir o modelo chinês de desenvolvimento, unindo regimes políticos fortes/autoritários (monarquias na Tailândia e no Camboja, governos comunistas no Laos e no Vietnam e parlamentarismo forte em Singapura) com economia de mercado. Foram inúmeros os destaques. Em Bangkok, um perfil de cidade que lembra muito Shanghai na China. No Laos, uma capital (Vientiane) que parece parada num 142 >

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Francisco Cunha

SUDESTE ASIÁTICO | Em Laos, Vietnam e Camboja é explícita a tentativa de copiar o modelo chinês de desenvolvimento

5 milhões de motos entopem as ruas de Saigon tempo de 50 anos atrás. No Vietnam, um país que cresce a taxas mais elevadas do mundo depois de sair de uma das guerras mais desproporcionais e devastadoras da história moderna. No Camboja, um país que vai emergindo de modo lento do proporcionalmente mais expressivo genocídio do século passado depois que o Khmer Vermelho, comandado pelo tirano Pol Pot, tomou o poder em 1975, forçou a evacuação das cidades em direção ao campo e provocou a

morte por assassinato, esforço extremo, falta de atenção à saúde e subnutrição de mais de 1/3 da população da época. Em Singapura, um país minúsculo, desenvolvido na base da severidade social que cobra multas pesadas por qualquer deslize cometido. Um caleidoscópio de povos, paisagens e costumes exóticos em 20 dias de viagem, com maior relevância para o Vietnam e o Camboja e para a devoção a Buda e ao uso da motocicleta.


Francisco Cunha

Templo de Angkor Wat, Camboja, dentro da floresta mais do que cruel que destroçou o país. Estima-se que os norteamericanos jogaram mais bombas sobre o Vietnam do que durante a Segunda Guerra Mundial. São simplesmente impressionantes o museu da guerra de Saigon e os famosos túneis de Cu Chi, distantes 50 km da antiga capital do Vietnam do sul. Os túneis, com altura média de um metro e entradas disfarçadas na floresta tropical, se estendem em labirinto por mais de 200 km e são o símbolo mais marcante da resistência vietnamita contra um ini-

“É uma quantidade impressionante de templos, monges e estátuas de Buda de todos os tamanhos e poses”

migo muito superior do ponto de vista tecnológico. O que se vê com espanto e curiosidade é o testemunho, cuidadosamente preservado, de um aparato medieval, com armadilhas em alçapão no meio da floresta e espetos de bambu, contra uma tecnologia bélica de última geração na época. Pois a verdade é que a organização, a determinação de não se deixar vencer, a persistência e a criatividade venceram a força militar ancorada na mais apurada tecnologia. É emocionante verificar isso in loco, ao vivo e em cores.

Francisco Cunha

Eu já tinha conhecido países budistas mas nunca tinha me deparado com devoção tão extensa e tão evidentemente intensa quanto a que vi nesses países. Onde isso fica menos evidente é em Singapura e no Vietnam, mesmo assim com estimados 65% da população na condição de budistas. É uma quantidade impressionante de templos, monges e estátuas de Buda de todos os tamanhos e poses, além de incenso e flor de lótus por todo canto e para devoto ou iniciado nenhum botar defeito. Pra mim é uma incógnita como uma religião derivada do exemplo de vida e dos ensinamentos de alguém nascido perto do Nepal, distante milhares de quilômetros, por volta de 500 anos antes de Cristo, possa ter chegado tão longe e de forma tão ampla e forte junto a povos e etnias tão distintos e remotos quanto os do sudeste asiático. O mesmo tipo de espanto me acometeu no que diz respeito ao uso disseminado da motocicleta, em especial no Vietnam. Já em Hanói, capital do antigo Vietnam do norte, tinha ficado impressionado, mas quando cheguei em Ho Chi Minh, ex-Saigon, capital do antigo Vietnam do sul, meu queixo caiu. Para uma população próxima a 9 milhões de habitantes, Saigon tem estimados 5 milhões de motos. Por essas contas, se cada motoqueiro(a) de Saigon colocar outro(a) na garupa, ainda sobrarão 20% de garupas vagas... Na minha conta do Twitter (cunha_francisco) postei alguns vídeos e fotos sobre as motocicletas, inclusive um mostrando dois vietnamitas carregando uma vaca na garupa de uma espécie de mobilete asiática que fez sucesso na rede e causa espécie em todo lugar em que mostro. No Vietnam, a população que anda majoritariamente de moto pilota também uma agitada economia no caminho da recuperação, a la chinesa, depois de uma guerra

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Estátuas de Buda em templo no Laos 2011 março >

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Francisco Cunha

Francisco Cunha

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Francisco Cunha

“Os túneis, com altura média de um metro e entradas disfarçadas na floresta tropical, se estendem em labirinto por mais de 200 km”

Já no Camboja, o que chama a atenção, além da intensa profissão de fé budista, são os ecos de um genocídio que deixou um saldo de cerca de 2 milhões de mortos durante o período de míseros três anos (19751979) em que o Khmer Vermelho tentou a mais radical experiência comunista do século evacuando as cidades, confinando a população no campo para promover uma “revolução agrícola redentora”, eliminando a moeda e separando as famílias e os pais dos filhos para desfazer todos os vestígios de “vínculos capitalistas”. Em meio ao “refazimento” do país em curso com a memória do sofrimento, diga-se de passagem, mitigada pela fé budista, um tesouro arqueológico surpreenden144 >

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te: as ruínas dos templos de Angkor Wat, de uma beleza indescritível no contraste entre o rebuscamento e a monumentalidade da pedra minuciosa e exaustivamente talhada e a densa floresta circundante. Só vendo... Por fim, a visão ultra “civilizada” de Singapura, um projeto de cidade-país (uma ilha de não mais vinte e poucos quilômetros de largura por quarenta e poucos de extensão), com 5 milhões de habitantes, independente a partir da década de 1950, sem nenhum recurso natural, que até água e terra para os aterros roubados ao mar importa da vizinha Malásia. Onde a impecável limpeza urbana, por exemplo, é mantida à custa de

multas individuais de US$ 250 na primeira infração e trabalho forçado, com direito a farda de gari e tudo, na segunda... Uma evidência de que, exageros à parte e guardadas as devidas proporções, com um projeto estratégico, trabalho sério e liderança firme (no caso, firme até demais) é possível construir um país praticamente do zero, tornando-o civilizado e viável em poucas décadas. Quem tiver interesse por diversidade, história, surpresa e curiosidade sobre o que vai acontecer com a Ásia, não perca a oportunidade de ir à Indochina. De mesmice e de tédio, dou minha palavra de honra que ninguém vai se queixar depois que voltar.


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ARTIGO

*Diretor do Grupo Atual de Educação

Precisamos de educação ambiental para aguçar nossa capacidade de observação e utilizar a bagagem de conhecimentos adquiridos para dar continuidade e sustentabilidade à vida 146 >

Por Eduardo Sefer*

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Lei 9.795 de 27 de abril de 1999 em seu artigo 9º determina que a educação ambiental deve ser desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino, englobando a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Embora nem esta lei, nem o decreto nº 4.281 de 25 de junho de 2002 que o regulamenta, estabeleçam diretrizes ou currículos formais, as escolas estão obrigadas a desenvolver atividades de educação ambiental - assim trabalhar a “educação ambiental” é uma obrigação legal que todas alegam fazer. Mas o que elas fazem? Hoje em dia provavelmente ninguém mais questiona a necessidade de que as pessoas, desde pequenas, tenham uma conscientização básica dos fatores ambientais que influenciam na qualidade do ar que respiram, da água que bebem, da comida que comem, das sementes que plantam e dos resíduos que criam. Nas nossas vidas dependemos das relações que construímos. Por que então nos educar em algo que é intrínseco a nós? Será que estamos perdendo nossa capacidade instintiva de sobreviver? No Colégio Atual, entendemos que precisamos resgatar o elo na corrente da vida que estamos perdendo, quando inadvertidamente alteramos a natureza para atender nossas necessidades, sem avaliar o impacto dessas alterações e supondo que os recursos naturais que hoje dispomos sejam ilimitados. Precisamos de educação ambiental para aguçar nossa capacidade de observação e utilizar toda a bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, desde o tradicional e empírico ao técnico e científico, para dar continuidade e sustentabilidade à

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Alexandre Albuquerque

Educação Ambiental – Um Desafio para a Escola

vida. No Colégio Atual uma das linhas de abordagem é o projeto Horta, Minhocário, Compostagem & Cia; que utiliza os conceitos da teoria da trofobiose, o projeto propicia espaços concretos de aprendizagem, laboratórios vivos para a experimentação, vivências e criação de alternativas viáveis na produção de alimentos sem o uso de agrotóxicos. Neste projeto partimos do estudo do solo, do posicionamento da horta, da percepção da direção dos ventos e sua interferência no desenvolvimento das plantas, do movimento do sol e sua relação com as plantas em sua necessidade de luz, no estudo da água e sua relação com as plantas e o solo, à incorporação de nutrientes (esterco, compostagem ou húmus), na preparação da terra, das sementeiras e no estudo das sementes. Nesses espaços de aprendizagem, professores e alunos desenvolvem ações que melhoram suas percepções do meio ambiente como um todo, com os fatores físicos – solo, clima e temperatura – e biológicos – espécies mais adaptadas, plantas companheiras, adubação verde, animais polinizadores e decompositores entre outros. Ao par de projetos específicos de educação ambiental o Colégio Atual também introduz o assunto como

tema transversal nos diversos projetos interdisciplinares ao longo do ano letivo, e engloba todo o ensino básico através da exploração do9s recursos didáticos como palestras, oficinas de reciclagem, estudos de materiais reutilizáveis e biodegradáveis, mostra de vídeos (espaço exibidor com produções sobre os temas socioambientais, para sensibilizar a sociedade para a questão ambiental). Como resultados dessas ações, destacam-se a reeducação alimentar dos alunos, implantação de viveiro de mudas de árvores nativas, o desenvolvimento do Núcleo Atual de Meio Ambiente – Nama, o envolvimento do corpo funcional na construção da proposta de sustentabilidade do Colégio e o trabalho voluntário de educação ambiental voltado às famílias e crianças da Comunidade Coqueiral, próxima ao Colégio. Dessa forma, o Colégio Atual espera propiciar aos seus alunos e à comunidade no seu entorno uma maior experiência e vivências práticas que possibilitem um melhor entendimento dos conceitos de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável ao par de uma maior competitividade numa sociedade que cada vez mais exige compreensão e responsabilidade socioambiental.


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Maria que inspira arte REAGIONALISMO | Casal mais famoso do cangaço aparece com destaque nas pinturas da artista plástica Fernanda Batista Por Mirela Soane

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restes a completar centenário de nascimento, no dia 8 de março – confira matéria na edição nº59 da Revista Algomais – Maria Bonita ainda inspira artistas como Fernanda Batista. Na figura da cangaceira, a artista plástica que descobriu o prazer pela pintura há cinco anos construiu a identidade do seu trabalho. “Desenho personagens típicos da cultura pernambucana, mas sem dúvidas, Maria Bonita é minha preferida. E é principalmente através dela que as pessoas identificam meu trabalho”, conta Batista. Com traços delicados, precisos e coloridos que chegam a lembrar desenhos infantis, Fernanda produz peças em porcelana (aparelhos de jantar e de café, canecas, pratos para bolo, saleiros, pimenteiras, tigelas, sopeiras); em madeira (caixas, portachá, porta-guardanapo, pratos giratórios) e telas de diversos tamanhos, a partir de 15x15 cm. Os desenhos – sempre ligados à cultura do Estado, mas em sua maioria dedicados à Maria Bonita e Lampião - têm em comum o sorriso no rosto. Além disso, detalhes em flores e estrelas – sempre associados aos Reis do Cangaço – estão sempre presentes nas peças de Fernanda. “Também não costumo separar Maria Bonita de Lampião, pois acredito que perdem a identidade. Separados, serão vistos apenas como bonecos. Outra carac148 >

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Peças de porcelana com as pinturas de Fernanda, tendo como destaque Maria Bonita e Lampião isso se tornou um prazer, quase um víterística minha é que mesmo lado a cio. Eu também não tinha paixão pelas lado, o ombro de Maria sempre está à coisas da terra, não tinha o sentimento frente de Lampião”, conta sorrindo. de pernambucanidade até começar a Segundo Fernanda, o talento e a pintar”, afirma Batista. O passo seguinte paixão pela pintura surgiram de forma foi participar da Feira Nacional de Negóinesperada. Após sair do emprego, ela cios do Artesanato (Feneart). procurou uma atividade para se disFernanda afirma que não se sente trair e optou por um curso de pintura, artista, nem designer, nem tampouco sem pretensão alguma de profissioartesã. Ela garante que, simplesmennalização. O primeiro desenho foi o te, gosta de desenhar e pintar. Foi com bumba meu boi, copiado de um livro. este sentimento que ela se destacou O segundo, sugestão da professora, foi na Feneart e a partir desse evento reum caboclo de lança. “A Maria Bonita cebeu o convite para fazer uma exposurgiu neste momento. Eu não sabia sição no Shopping Paço Alfândega. “A que desenhava, mas queria criar meu exposição duraria apenas três meses, próprio desenho”, explica. mas já se vão cinco anos que o meu Durante o curso, que durou aproateliê funciona nesse shopping. Aqui ximadamente seis meses, as peças criaos clientes viram amigos de verdade. das eram presenteadas a amigos. A parCom alguns, mantenho contato por tir daí, o incentivo para que Fernanda telefone outros até frequento a casa investisse na carreira de artista plástica de praia, de campo”, revela. surgiu de todos os lados. “De repente,


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Antúlio Madureira se inspira na cultura popular para fazer arte

Madureira celebra 35 anos de carreira inventando arte

MULTIARTISTA | Ele prepara espetáculo “Conserto para Concerto”em que usará equipamentos utilizados em construção para produzir sons

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alquimia de Antúlio Madureira para extrair notas musicais dos mais variados objetos e instrumentos parece inesgotável. E neste 2011 em que celebra 35

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anos de carreira, o artista pretende fechar a temporada com o espetáculo “Conserto para Concerto” com instrumentos mais inusitados ainda para produzir

música. O público verá em cena betoneiras, furadeiras, britadeiras e esmerilhadeiras, além de outros equipamentos utilizados na construção civil.


A arte múltipla em busca de novos sons é o desafio do artista “O espetáculo será realizado no teatro e vai ser filmado para virar um especial da tevê, ainda estamos negociando”, explica Madureira, um natalense que veio morar no Recife ainda criança e que herdou do pai a veia artística. “Ele era militar, mas fazia teatro”, conta. O multiartista diz que é da inquietação que surgem as invenções. Ainda garoto, estudava na Escola de Belas Artes e foi convidado a participar da Orquestra Romançal, um desdobramento do Quinteto Armorial. Ficou responsável pelo marimbau, instrumento feito de lata, autêntico. Resolveu então reinventar a técnica de tocá-lo. Depois, saiu passeando pelos demais instrumentos e inventando o reinventando equipamentos e sons. Transformou sua arte em algo múltiplo, capaz de encantar e surpreender, tanto numa apresentação para um público tribal na Costa do Marfim, no continente africano, quanto para os europeus em apresentações na

França e Inglaterra, além de outros países. Nessas viagens, aproveita para trocar experiências e continuar experimentando. Cada objeto, por mais simples, é alvo de sua curiosidade. Na conversa com a reportagem da Algomais, discorreu sobre a descoberta das notas musicais numa lata de leite vazia. “Com uma pequena chave de fenda, fazendo pressão com a mão, dependendo de onde se toca, vão surgindo as notas da escala musical”, ensina. Da sua criatividade, nem um serrote escapa. Nas mãos de um trabalhador, é apenas um equipamento para cortar madeira. Nas mãos de Antúlio, vira um instrumento musical. Numa visita a Cuba, impressionou-se e impressionou. “Lá a dificuldade é muita para os músicos, eles não têm nem dinheiro para comprar o papel para trabalhar, imaginem instrumentos. Então, quando viram os instrumentos que eu fazia e os sons extraídos de coisas simples gostaram muito”, comenta.

Nas apresentações, Antúlio Madureira também utiliza personagens da arte popular, assim como instrumentos, levando o público a descobrir sonoridade e harmonia, onde antes ouvia apenas barulho. No espetáculo mais recente, personagens como o Velho Marimbau (inspirado no corcunda do Bumba-meu-boi, assim como o palhaço de circo e o velho do pastoril). Nos sons produzidos, segundo ele, também é possível identificar a mistura do maracatu com músicas clássicas e orientais. Nessas mais de três décadas de atuação, Antúlio Madureira participou do Balé Popular do Recife, fundado por sua família, no qual foi bailarino e diretor e compôs trilhas sonoras para teatro, filmes e espetáculos de dança. Além disso, gravou vários discos e produziu inúmeros shows tendo como temas a cultura popular.

A inventividade o faz extrair harmonia de instrumentos pouco usuais 2011 março >

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Talento pernambucano para os hermanos verem MÚSICA | Josi Dias deixou a arquitetura de lado para exercer seu talento, cantando em Buenos Aires Por Marcelo Bátiz De Buenos Aires

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os últimos anos, a presença de brasileiros na Argentina deixou de ser algo estranho. Entre turistas e residentes, ninguém se surpreende no país vizinho se uma pessoa fala português. Mas nem o mais fanático da integração entre os dois países imaginou que uma arquiteta recifense acabaria cantando em Buenos Aires samba, bossa nova, MPB e baião, acompanhada por um bandoneón! Algomais comprovou que a realidade supera

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a ficção e entrevistou a “Rainha do Río de la Plata”, Josi Dias, que há dois anos se apresenta em diferentes cenários, levando a cabo a sua missão de “embaixadora cultural” do Brasil - e de Pernambuco - na Argentina. O talento de Josi para a música começou a aparecer há duas décadas, enquanto estudava Arquitetura na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Essa estranha relação entre os planos e os pentagramas se canalizou através do Departamento de Música da Universidade, que lhe permitiu participar como

Josi diz que no bandonéon encontrou reminiscências da sanfona de Luiz Gonzaga e Dominguinhos

vocalista de Nando Cordel e Cristina Amaral, entre outros. Embora, por enquanto a música não passava de ser um hobby da então arquiteta que em 1997, com 26 anos, decidiu ir a viver a Buenos Aires. “A adaptação foi perfeita. Em quinze dias já estava trabalhando e em pouco tempo aprendi a falar espanhol, escutando música e programas de TV”, lembra Josi em uma conversa no bar “Notorius”, um dos recantos portenhos para os amantes do jazz e world-music. Mas 14 anos atrás a arquiteta estava ganhando a partida da cantora. Assim foi até meados de 2009 quando, cansada de brigar com clientes e fornecedores, Josi disse “basta” à sua profissão universitária para se deixar vencer pela paixão de toda sua vida. Mas os anos vividos na Argentina tinham ampliado seus horizontes musicais. “Queria dar um ‘jeito portenho’ a minha música, unir minhas duas paixões, meu amor pela Argentina e o Brasil, e me dei conta de que no bandonéon havia reminiscências da sanfona de Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Aí começou o problema: em Buenos Aires tem muitos bandoneonistas de tango ou de folclore argentino, mas onde encontraria um que sentia como própria a música brasileira? O mesmo dilema que tiveram nos finais do século XIX os primeiros “tangueiros” argentinos e uruguaios com este extravagante instrumento inventado na Alemanha para música de missas.


No show Terra Brasilis, cantora sintetiza os diferentes estilos da música brasileira O calvário de Josi finalizou quando amigos em comum a apresentaram ao bandoneonista Gabriel Rivano, a quem apresenta como “um brasileiro nascido na Argentina”. Era a peça que faltava para completar o quarteto que ambos integram com outro argentino, Eduardo Avena, percussionista, e outro brasileiro, o violonista Deryk Santos, “o Jimmy Hendrix baiano”. A reunião não podia ter sido mais acertada e os temores dos “entendidos” por cair em uma mistura de estilos sem pés nem cabeça foram esquecidos. A combinação foi ideal e para comprovar não tem mais que escutar a impecável versão de “Encontros e despedidas” de Milton Nascimento, “Doralice” de Dorival Caymmi, ou o peculiar achado “O samba e o tango”, primeiro intento

Artista já planeja produzir um show de música baiana com o nome Ori-Jazz

de fraternidade musical que Amado Regis compôs há sete décadas. As canções formam parte do espetáculo “Terra Brasilis” que Josi vem apresentando desde 2010 e em que, cumprindo ao pé da letra seu mandato de “embaixadora” sintetiza os diferentes estilos da música brasileira. Mas para meados deste ano, Josi tem pensado em lançar um show cem por cento pernambucano: “O Leão do Norte”, em que estarão presentes o frevo e o forró. Com bandonéon, claro. Mas também com um velho conhecido dos amantes da bossa nova: o contrabaixista Alfredo Remus, aquele que acompanhou Vinicius, Toquinho e Maria Creuza nos legendários concertos de “La fusa” ao final dos anos ‘60. E se trata de fazer planos para o futuro, não tem

tempo para se deter: já pensa num concerto de música baiana, que chamará “Ori-Jazz”, valendo de um repetido erro dos argentinos, para quem tudo o que está ao norte da Bahia segue sendo Bahia. “Às vezes, para brincar com a confusão, me apresento como ‘a falsa baiana”, disse com um sorriso. “E a arquitetura, Josi?” “Neste momento, está no freezer. Ganhou a cantante”, responde. Os leitores de Algomais podem comprovar, ingressando no endereço eletrônico www.josidias.com ou viajando a Buenos Aires. Uma forma mais que interessante de comprovar que em “Mi Buenos Aires querido” tem um recanto para a fusão de dois amores. E que a música é a melhor arma para derrubar a distância e os preconceitos. 2011 março >

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Ivo Dantas

blog@revistaalgomais.com.br

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Alexandre Albuquerque

astou o ano começar para notar que João da Costa (PT) terá muito trabalho pela frente, caso deseje tentar a reeleição daqui a pouco mais de um ano. Não faltam problemas. O trânsito, os buracos, a falta de calçadas, o lixo, a desorganização do espaço urbano. Enfim, um Recife caótico. Bem diferente do imaginado pelos seus eleitores, passados dois anos da gestão de João da Costa. Após a divulgação do baixo índice de popularidade (sendo considerado como bom ou ótimo por apenas 24% da população), o prefeito saiu às ruas e iniciou uma corrida contra o tempo. Segundo ele, as obras estão sendo feitas, mas é preciso mostrar para o recifense. A partir daí tem sido um corre-corre para participar das inaugurações – sempre que possível junto a Eduardo Campos (PSB) - e visitar obras estratégicas. Porém, a impressão é que o novo estilo de governar de João da Costa ainda não conseguiu convencer a opinião pública. Com um mês online, o Blog Algomais recebeu mais de uma centena de comentários, sempre com reclamações quanto à gestão da cidade. Como resposta a um flagrante registrado pelo blog, de um ônibus que caiu em uma cratera, na Rua Padre Carapuceiro, Boa Viagem, não faltaram reclamações quanto aos problemas na manutenção das vias. “É lamentável ver estas coisas acontecendo em um bairro que é considerado nobre, pelo menos por aqueles que querem viver melhor. O fato é que este privilégio só se vê na hora de pagar impostos. Esgotos a céu aberto, falta d’água, buracos históricos, calçadas irregulares, entre outros, é o que encontramos nas ruas de Boa Viagem. É

Alexandre Albuquerque

Muito trabalho para João da Costa B

pura falta de respeito”, reclama o internauta Ricardo Padilha. A proximidade da Copa do Mundo de 2014 também preocupa a população. “Uma cidade que está às vésperas da Copa do Mundo e, ainda assim, cheia de buracos e suja? Essa é a pergunta que me chateia há um bom tempo. Respondam-me: com que cara o nosso Recife ficará diante dos turistas estrangeiros, quando eles virem que o Brasil, e sobretudo o Recife, não passa de um lugar cheio de buracos e sujeiras? Quando é que os nossos representantes irão atentar para este assunto de extrema importância para o nosso Estado? Será que realmente estamos preparados para um evento tão grandioso como a copa mundial de 2014? Pensemos direito, pois

O ônibus semi-engolido pela cratera em Boa Viagem e as obras urgentes de conserto: no blog Algomais não faltaram reclamações quanto aos problemas na manutenção das vias ainda é hora de desistir para não fazermos feio e passarmos por vergonha do nosso Estado e do nosso país diante dos olhos do mundo”, escreveu Sérgio Assis. Os flanelinhas também foram assunto do Blog Algomais. Segundo o leitor Renato, “no Recife Antigo não é diferente do resto da cidade: os donos da rua estão lá. Zona Azul pra que se eles é quem mandam? Se você adquirir o talão em algum ponto de venda não pense que vai resolver o problema, porque eles querem vender o deles e no mínimo pelo dobro do preço, senão dizem: ‘não sei como seu carro vai estar na volta’. A verdade é que o estado é omisso, e nós vamos continuar ainda por muito tempo sofrendo com esse tipo de situação”.


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Comer

Bem Camarão Empanado

Camarão Empanado com Farinha Crocante e Coco laminado. Guarnecido com risoto de carne seca desfiada, cebola, queijo coalho e purê de jerimum servido com molho de maracujá.

Ingredientes 200g Camarão descascado Farinha de rosca Coco ralado Azeite extra virgem (½ Xícara de chá) Cebola roxa (1/4 da cebola) Manteiga sem sal (1 colher de sopa) 50g Charque desfiada Cebolinho e coentro (a gosto) 200g Arroz arbóreo cozido Purê de jerimum (2 colheres de sopa) Molho de tomate Palmeiron (40ml) Queijo Parmesão (1/2 colher de sopa) Queijo coalho grelhado e cortado em cubos (1 fatia grossa) Molho de maracujá

Preparo Empane os camarões na mistura de farinha com coco e frite-os, prepare o risoto á parte colocando o azeite, e a cebola até refogar, coloque a charque e os demais ingredientes com o arroz arbóreo já pré-cozido, acrescente o molho de tomate Palmeiron, espere reduzir e posteriormente o caldo de legumes para dar maciez ao risoto, finalize o risoto com purê de jerimum e queijo parmesão ralado. Decore o risoto com galho de alecrim.

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Chef François Schimidt É francês e tem 45 anos. Está no Brasil há mais de vinte anos. O chefe consultor da rede Camarão & Cia trabalha como cozinheiro desde os 15 anos e já atuou em países como Estados Unidos, Itália, França e Brasil. Apesar de sua cozinha requintada, François se diz “um cara simples e brincalhão”, prova disso é que já trabalhou em lugares que vão de barracas improvisadas a transatlânticos luxuosos.

Porção

4 pessoas


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• REPORTAGEM-FICÇÃO •

O CAPITÃO E O CAPITÃO

A história nunca antes contada

O encontro do Capitão Virgulino Lampião com o Capitão Luís Carlos Prestes e outras histórias do mundo do Sertão

capítulo 4

Dona Pichita

N

o dia que chegou Manuel Flor, o rapaz que trouxe ele—rapaz comprido, aquele dava pra ser espanador da lua—me pediu pra que o pobre fosse tratado das feridas aqui mesmo, na pensão, era o jeito que acharam do acontecido não ir parar nas notícias. Eu de primeiro disse que lugar de doente e de gente nas condições em que ele estava era no hospital, mas bom, o rapaz insistiu, era pessoa conhecida minha, eu deixei; disse que ia fazer o que estivesse ao meu alcance… pedi só que colocassem alguém pra ficar vigiando, cuidando dele, num sabe? Logo fiquei sabendo que foi resultado de briga com Lampião e os irmãos dele lá, Ave Maria, os Flor de um lado, os Ferreira do outro, e o fogo comendo no centro. Posso contar muita coisa ao senhor, aquele Virgulino era demais de vivo! Como? Ah, ele se aproveitava do povo ignorante—ora se não! Dei hospedagem a muito combatente daquele bandido e sei quem era a peça… por exemplo, veja só: ele, pra impressionar o povo, mandava espalhar que tinha vindo ao mundo pra cumprir uma missão e—sabe o senhor por que ele dizia isso?—, aquilo

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QUEM É DONA PICHITA Seu verdadeiro nome: Francisca Guedes, natural de São José do Egito-PE, dona da pensão por muitos anos situada na Rua da União, 81, bairro da Boa Vista, onde hospedava gente vinda do sertão ao Recife para estudos, negócios ou passeio. Durante a Revolução de 1930 acolheu em sua pensão, que então funcionava ao lado do Quartel do 21º Batalhão de Caçadores, a muitos correligionários daquele movimento.

era um atrevimento… ele se sentia merecedor da confiança do povo porque era filho de José e Maria… e tinha crescido na vila de Nazaré…! Onde já se viu, por uma coincidência besta dessa, um bandoleiro daquele querer se comparar com Nosso Senhor Jesus Cristo?! Foi por isso que findou com a cabeça separada do corpo, Deus que me perdoe, mas eu penso que foi por isso. Minha pensão era cheia quase que pelo ano inteiro, naquele tempo chegava mais gente, inclusive pra morar aqui… tem muito advogado conhecido, jornalista, escritor, que vinha do interior, ainda com cara de menino, pra

estudar na Faculdade de Direito e era aqui que esse povo ficava. Teve uma época—quando a pensão era no Largo do Hospício, vizinha do 21º Batalhão—que eu me arrisquei demais, isso foi na Revolução de 30… no Recife a política fervilhava; tinham assassinado João Pessoa coisa de uns dois meses antes, a cidade era um meeting aqui, outro ali… os rapazes da Faculdade, entusiasmados com a política, com o movimento dos tenentes, me pediam pra trazer os amigos que estavam na linha de frente… pra se esconderem aqui, num sabe? Eu, com meu coração mole, cedia pros meninos, com medo, mas cedia.


Pihba Cavalcanti* pihbacavalcanti@gmail.com

BARRICADAS DA REVOLUÇÃO DE 30 NO RECIFE Um desses meninos — sempre que me lembro, eu me rio — fazendo pouco do governador Estácio Coimbra — que terminou pulando fora, com o rabo entre as pernas, corrido por Juarez Távora — dizia que o governador tinha deixado escapar a chance dele de se garantir na política do estado, quando rejeitou a proposta de Lampião de dividir Pernambuco em dois, cada um ficando com sua metade pra governar — veja o senhor essa mocidade como logo sai fazendo chacota com quem seja; mas, admiração eles tinham também, cultivavam seus ídolos, nas paredes dos quartos eles botavam os retratos das figuras de proa da Aliança, retrato de Getúlio, de Eduardo Gomes… e de Prestes, também. Eu dizia pra eles, apontando pros retratos: “Seu Prestes — esse aí mesmo, só que tinha a barba grande —, seu Eduardo… o tenente Juarez Távora; esses e outros eu vi bem de perto, meus jovens, eu estava em Triunfo quando a coluna passou por lá!”— eles me olhavam e começavam a perguntar como foi, e isso e aquilo… Ah, eu também terminei ficando admiradora de Prestes… sou até hoje… agora ele é comunista, em 30 já era mas na época da coluna não; eu, católica que sou, não aprovo isso dele, mas reconheço o lado bom, pra mim o que vale é a alma do homem… fui criada assim — vou fazer o quê?

Mas, como eu dizia, me arrisquei muito em 30… A pensão estava em plena zona de combate… bala zunindo, barricadas por todo lado, ninguém podia sair pra lugar nenhum naqueles dias, os meninos é que me traziam o feijão, o arroz — não fosse por isso… Mas, por sorte, o quartel do lado, o do 21º, era o bastião dos rebelados contra o governo, sorte eu digo porque eles estavam fortes e minha pensão era como uma segunda casa deles, num sabe? Isso ajudava, mas bala não pergunta quem é, nem de que lado você está, ela alcança qualquer um que se ponha no caminho dela… foi parada dura… e depois que tomaram o depósito de munição da Soledade, até o rapaz que me trazia o jornal já tinha sua arma, avalie…! Foi grande a distribuição de armas, quem menos você pensasse tinha uma. Nesse ponto, cá comigo eu fico pensando, tinha chegado o dia da caça, os homens da coluna colocavam na mão do povo o que o governo poucos anos antes tinha distribuído fartamente contra eles pra findar beneficiando um certo Virgulino… *Pihba Cavalcanti é arquiteto e escritor, autor de “A Cidadela Inventada”

No próximo número depoimento do Coronel João Nunes 2011 março >

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Memória

pernambucana

Memória, substantivo feminino RIQUEZA | Pernambuco, pelos seus filhos por nascimento e por perfilhamento, é um manancial de nomes a enriquecer a memória

M

emória, substantivo feminino, ensinam os lexicógrafos, é a faculdade de conservar e lembrar estados de consciência passados e o que se ache a eles associados. É a lembrança que alguém deixa de si, quando ausente ou após a morte, como resultante de seus bons ou maus atos, qualidades, defeitos... Memória também é exposição oral ou escrita de acontecimentos, é relato, é narração, é o que ocorre ao espírito como resultado de experiências vividas, é lembrança, é reminiscência. Memória, segundo diversos estudiosos, e disso parece não haver dúvida, é a base do conhecimento, e como tal deve ser estimulada. Afinal, é ela que nos faz dar significado ao cotidiano e acumular experiências para o curso da vida. Assim, Memória Pernambucana tem evocado ilustres conterrâneos, por parição ou por opção, que em suas áreas de atividade contribuiram para fazer esta terra ainda melhor e maior. Pessoas especiais, ressalte-se,

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nascidas e vividas para se perpetuar na memória deste povo. Nossa história começou com ela, Dona Brites Albuquerque, a nobre portugesa que se casou com Duarte Coelho Pereira e em 1535 veio para um lugar ainda selvagem, onde passou toda a sua vida. Foi a fundadora de Pernambuco. Abelardo Rodigues foi o pintor e poeta que se tornou conhecido nacionalmente como um dos maiores colecionadores de arte sacra do país, possuidor de um dos mais valiosos acervos de que se tem notícia. O general Abreu e Lima, foi um herói não só do Brasil, mas da América do Sul, pela qual lutou ao lado de Simon Bolívar. Adalgisa Cavalcanti, a primeira deputada de Pernambuco, lutou incansavelmente pela conquista de direitos para os desvalidos. Maria Amélia Cavalcanti de Albuquerque, ou simplesmente a Amélia Doutora, venceu o obscurantismo da época e foi a primeira médica do

Nordeste. O administrador público, professor, advogado e escritor Aníbal Bruno, com a sua vasta obra enriqueceu a cultura jurídica nacional. O cronista, radalista e compositor Antônio Maria, com sua inspiração fez reluzir ainda mais os dourados anos 1950, conquanto os tenha ensombrecido ao se deixar morrer por um infarto do miocárdio. Apolônio Sales, o fundador da Chesf, tirou o Nordeste da escuridão. Ascenso Ferreira era o poeta que impressionava por sua gigantesca figura e, muito mais, por sua incomensurável poesia. Augusto Rodrigues, homem de múltiplos talentos, notabilizou-se, sobretudo,como desenhista. Bárbara Alencar, antepassada do atual governador pernambucano, foi a primeira revolucionária brasileira. Lutou destemidamente contra o jugo português. O gigante da ética Barbosa Lima Sobrinho viveu 103 anos a dar exem-


Marcelo Alcoforado marceloalcoforado@surfix.com.br

plos de dignidade. Bastos Tigre, escritor, jornalista e publicitário nascido em 1882, até hoje tem muitos dos seus trabalhos como obras de referência. Burle Marx ornamenta não só a lembrança, mas a cidade do Recife, com suas praças deslumbrantes. E por falar em deslumbramento, Carlos Pena Filho, o Poeta do Azul, continua a dar cores aos corações sensíveis. Quem não se comunica se trumbica, ensinava o famoso Chacrinha, o pernambucano Abelardo Barbosa nascido em Surubim. A aguerrida Cristina Tavares Correia, amiga do filósofo Jean-Paul Sartre, lutou contra a injustiça e contra o câncer que a consumiu. Lutou, como prometeu lutar, até a última célula. Dona Santa, a rainha negra do maracatatu – releve-se o jogo de palavras –, também não passou em branco. Foi e é, tempos afora, importantíssima para o valor cultural do nosso carnaval. Edwiges de Sá Pereira, educadora, poetisa e jornalista, foi a primeira mulher brasileira a se tornar imortal de uma academia de letras, ao ingressar, em 1920, na Academia Pernambucana de Letras. Nestes tempos de motivada euforia pelo desenvolvimento do estado, Memória Pernambucana lembrou que o ex-governador Eraldo Gueiros Leite, foi o criador de Suape. Evocou-se também a memória de F. Pessoa de Queiroz, o emprendedor que criou um exemplar com-

plexo de comunicação, a Empresa Jornal do Commercio. Gregório Bezerra, o controverso líder comunista, o homem de ferro e de flor, também não foi esquecido. E como esquecer João Cabral de Melo Neto, o autor de Morte e Vida Severina? Joaquim Nabuco, o orgulho pernambucano, também esteve aqui. Aliás, não poderia faltar, assim como não poderia faltar música. Tanto que se focalizou Luís Bandeira, o pernambucano que venceu no Rio de Janeiro e voltou à sua terra, o homem que compôs os imortais frevos Voltei Recife e É de Fazer Chorar. O muralista, ilustrador, desenhista, fotógrafo, programador visual, cenógrafo e sobretudo pintor Lula Cardoso Ayres também foi rememorado nestas páginas. A vida do mais famoso galerista do país, Marcantonio Vilaça, também foi relembrada. A moda, revimos, adquiriu sotaque pernambucano na arte de Marcílio Campos. E por falar em arte, a imortal poesia de Mauro Mota continua a enriquecer todos nós. Como não se emocionar diante de sua poética, especilmente das suas Elegias? Muitos não sabiam, ou não lembravam, quem havia fundado o secular Diario de Pernambuco. Foi Miranda Falcão, um homem muito especial. Osman Lins, honra e glória da nossa literatura, o grande autor de Avalovara, foi fruto de Vitória de Santo Antão. Doce fruto, diga-se.

O internacionalmente respeitado educador Paulo Freire, com seu método de ensino revolucionário, foi lembrado, assim como homenageado foi o pernambucano Péricles Maranhão, criador do Amigo da Onça, sucesso nacional dos anos 1950 nas páginas da revista O Cruzeiro. Também foi notícia a trajetória de Ronildo Maia Leite, um dos mais brilhantes jornalistas desta terra tão rica de jornalistas brilhantes. Por outro lado, quando se discutiu a instalação de um shopping center na Tamarineira, lembramos a vida de doutor Ulisses Pernambucano. Voltamos à pintura na arte de Wellington Virgolino, que pintou a beleza das flores, das borboletas e de meninos meio alegres meio enigmáticos. A música, por fim, foi representada mais uma vez por Zé Dantas, o mais importante parceiro de Luiz Gonzaga. Como diz uma música em sua homenagem, Zé Dantas, as saudades são tantas... Pernambuco, pelos seus filhos por nascimento e por perfilhamento, repita-se, é um manancial de nomes a enriquecer a Memória Pernambucana. Em todos os campos e de todas as formas, essas pessoas constroem um Pernambuco melhor, mais rico, mais justo, e, exatamente por isso, este espaço não as deseja. Afinal, dedicada e falar de conterrâneos que já se foram, Memória Pernambucana quer os grandes nomes de hoje vivos e ativos por muitos anos, ajudando a fazer esta terra abençoada ainda maior. E melhor.

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Última

página 474 Anos do Recife e 5 da Algomais Francisco Cunha

franciscocunha@revistaalgomais.com.br e twitter.com/cunha_francisco

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revista Algomais e a cidade do Recife fazem este ano aniversário quase na mesma data e acho que isso deve ser resultado de alguma conspiração astral benigna, ainda mais agora que resolveram mexer nos signos do Zodíaco... Sendo “a revista de Pernambuco”, a Algomais é também a revista do Recife. Afinal, se consideramos o passado, podemos dizer, como Leonardo Dantas Silva, sem nenhum medo de errar: “Andar pelo Recife é percorrer as salas de um museu a céu aberto. Cada rua, cada capela, cada igreja, cada cruzeiro, cada praça, cada estabelecimento, cada bairro tem a sua história”. O Recife é, sem nenhum favor, um museu vivo da história de Pernambuco. Desconfiava disso quando comecei a procurar locações para ilustrar o livro “Pernambuco Afortunado” que tive a satisfação de escrever com o historiador Carlos André Cavalcanti. Depois que, terminado o trabalho, passei a visitar todos os pontos a pé, tive certeza absoluta. Tanta que publiquei outro livro, “Um Dia no Recife”, dessa vez com Plínio Santos-Filho, e estamos terminando um terceiro, “Recife Passo a Passo”. Esse trabalho deixou-nos convictos de que o Recife não só é um museu vivo como também é uma cidade magnífica. Seu centro é tão patrimônio da humanidade quanto Olinda. Apenas um exemplo: só nos Bairros

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de Santo Antônio e São José existem pelo menos 15 igrejas históricas (sem contar a Capela Dourada), a maioria patrimônio do Barroco nacional (e, nesta condição, também mundial). O problema é que, depois de décadas de abandono, o centro se tornou numa espécie de “quebra-cabeças” histórico desmontado. Urge remontá-lo. Mas, se é assim em relação ao passado, quando consideramos o futuro é que os destinos ficam mais entrelaçados ainda. Agora que Pernambuco vive a melhor oportunidade de crescimento dos últimos 50 anos, mais um enorme conjunto de exigências pesará sobre o Recife. O PIB de Pernambuco cresceu em 2010 o recorde de 9,3% quando o Brasil cresceu 7,5% e, pelo que é possível antecipar, esta tendência de Pernambuco crescer em torno de dois pontos percentuais acima do Brasil, se manterá ainda por muitos anos à frente. Com um ecossistema frágil, erguida sobre uma planície aluvial alagável e cercada de colinas argilosas solúveis em água, o Recife já começa a ressentir-se da enorme sobrecarga que sofrerá ainda mais, a partir de agora, sua debilitada infraestrutura. Cuidar do Recife para que ele suporte a pressão anunciada e, mais do que isso, reverta a deterioração que sofre, em especial o centro da cidade, deveria ser o desafio, renovado neste

aniversário de 474 anos, de todos os cidadãos recifenses (e pernambucanos) conscientes. Nos seus cinco anos de vida, a Algomais, honrando seu compromisso de reportar e debater o novo momento vivido por Pernambuco, tratou muitas vezes do Recife (passado, presente e futuro). E, daqui para a frente, deve tratar ainda mais, dadas as exigências prementes que já se abatem sobre nossa magnífica cidade. Como tive oportunidade de afirmar na entrevista desta edição, participar do projeto da Algomais tem sido, tanto quanto uma sensação de dever cumprido pelos resultados alcançados, um grande prazer. Mais ainda quando posso, nesta Última Página, tratar também do Recife, seja para justamente louvá-lo, seja para chamar a atenção para os grandes perigos que a cidade corre cada dia mais. Muito obrigado, amigos leitores, pela força que nos foi dada até aqui! Sem ela não teríamos conseguido. Saibam que podem continuar contando com a revista e comigo. Por Pernambuco e pelo Recife. Sem concessões ao elogio fácil, infelizmente tão em voga nesses nossos tempos, ou à sua irmã gêmea, a crítica pela crítica, mas com o compromisso da opinião sincera e mobilizadora pelo bem do nosso Estado e da nossa capital, tão necessitada de nós.


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