Rosa dos Ventos: Vá, ande, caminhe!
Sou tarada por pés. Não, não se trata de tesão, mas do movimento que eles fazem. Talvez tenha sido o percurso da vida que tenha me colocado os pés e os detalhes dos movimentos deles em meu caminho, cicatrizados na pele de um tornozelo e na distensão de um osso. É desses caminhos que nos atravessam e nos cortam e não nos deixam nunca mais. Um dia um carro avançou o sinal e cruzou o meu caminho. Eu estava de moto e meu tornozelo nunca mais foi o mesmo, assim como os movimentos do meu pé direito. Mas isto não é uma história pessoal. A toda hora um carro cruza o nosso caminho. A toda hora a gente avança um sinal. A toda hora seguimos em frente, pra frente, adiante, avante, a mais. Mas, pra onde vai o que fica pra trás?
Sentido Norte: contraste, estranhe, caminhe! “Pra onde vai o que fica pra trás?” busca gerar uma reflexão sobre o passado recente, um tempo que anda esquecido na atualidade. Não sou especialista para afirmar, mas me dói muito as forças da excessiva correria e da excêntrica necessidade de tudo no presente, no agora. Até o gerúndio, tão necessário para os processos, foi condenado e jogado para escanteio. Parar alguns minutos no tempo, promover reflexões, mostrar que “velocidade não é dinamismo” (SANTOS, 2009, p. 156), são pensamentos que norteiam este trabalho.
Sentido Sul: mas pára! Olhe por onde.
Depois de quase 6 anos de curso, me cansei do lead, das fórmulas, das métricas, e resolvi criar minha própria mídia para me expressar. Sentia falta de emoção nas mídias, então coloquei a poesia. Precisava ilustrar o que sentia, então coloquei o vídeo. Preciso que o outro me dê suas respostas sobre o que eu digo, então coloquei um programa de computador para as pessoas me responderem. Sentia falta de uma pitada de crença, de fé, para reger, no pano de fundo, tudo isso, e então coloquei a Numerologia. Sentia falta do acaso, de não ter controle absoluto, da possibilidade do erro, do humano, do universal, do imprevisível, e então deixei uma brecha para o acaso acontecer. Cada um desses elementos tem muito a ver com a minha vida. São coisas em que acredito e não vivo
Sentido Sul: mas pára! Olhe por onde.
Uma combinação humana entre números binários, imagens, respostas sensíveis, números místicos, e você. Não sei no que isso vai resultar para cada um, mas eu não estou em busca de um resultado, estou querendo apenas ser e refletir sobre o que eu estou sendo. “A imagem, sem dúvida – e toda arte, segundo ele [Couchot] -, não é mais o lugar da metáfora e sim da metamorfose.” (COUCHOT, apud PLAZA, 2008, p. 77)
Sentido de Leste a Oeste: veja que esquisito, se esquisite, se inquiete, se perceba de costas, tropece, caia nos seus limites. “Figurar para a sensibilidade e dizer através do número” (LUZ, 2008)
“Linguagens e meios que se misturam, compondo um todo mesclado e interconectado de sistemas de signos que se juntam para formar uma sintaxe integrada” (SANTAELLA, apud ARANTES, 2005, p. 49)
>> Poesia como grito
>> VĂdeos como relatos
>> テ「dio como acaso necessテ。rio
>> Computador como suporte
>> Programa como meio viabilizador
>> NĂşmeros como pano de fundo
>> Numerologia como tradutora
>> Vídeo-instalação como dinâmica
>> Interator como resposta
>> EstĂŠtica como sensibilidade
Sentido que virá: invente um novo resultado "Pra onde vai o que fica pra trás?" me pegou de surpresa e ecoa em minha vida há alguns anos. Ainda não entendi tudo o que esta obra quer me dizer, mas mesmo assim tento repassar algo que entendi para o mundo. Mais do que tudo, este projeto é um grito e uma pausa. Um grito que mesmo depois que é escutado, fica martelando na cabeça, uma palavra aqui, outra ali. Uma pausa, aquele instante necessário pra vir uma nova idéia, pra surgir uma lembrança, pra lembrar da vida. "Pra onde vai o que fica pra trás?", por mais que tente falar do passado, é um projeto pro futuro, é pra todos os lados. Cabe ao receptor, da obra ou deste memorial, escolher qual lado seguir. Seja qual for, posso ir contigo?
e ent達o caminhe, e viva parando.