Caderno tcc1

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HOSPITAL DA MENTE


trabalho de conclusão de curso I

Hospital da mente orientador: Rodrigo gonçalves acadêmica: stefany trojan

FLORIANÓPOLIS, julho DE 2015


COMO CHEGAMOS AO TRATAMTNO QUE TEMOS HOJE Na Grécia Antiga a loucura era vista como um privilégio. ‘Filósofos como Sócrates e Platão ressaltavam a existência de uma forma de loucura tida como divina’ , ‘era través do delíro que alguns privilegiados pudiam ter acesso a verdades divinas’

histórico de tratamento no brasil No Brasil o tratamento mental não foi por um caminho muito diferentes do que se passou na Europa a partir da idade média. Os loucos eram presos nos manicômios , submetidos a tratamentos desumanos e muitos dos internos entravam sem realmente ter um problema grave, e acabavam por se institucionalizar ou piorar seus quadros devido a tratamentos submetidos nessas instituições.

Já na antiguidade clássica este conceito mudou bastante de figura. Há nesta época a dissociação entre imagem e escrita, assim como toda a conceituação social. O louco já não circulava tanto na sociedade. Estes eram enviados a embarcações ou a mercantes que os aceitassem, desde que vivessem longe das cidades.

No filme Bicho de sete cabeças baseado na bibliografia de Austregésilo Carrano Bueno (Canto do Malditos), vemos o exemplo de uma história bastante próxima a realidade de muitos dos internos que passaram por estas instituições. Austregésilo foi grande incentivador da luta antimanicomial no Brasil.

Na idade média, em meados do séc. XVII, quando os doentes venéreos passaram a ser tratados como doentes em tratamento médico, já substituindo o lugar dos ‘depósitos’ dos leprosos, estes lugares passaram a ser destino dos doentes mentais, levados a viver o mais longe do convívio social.

Em 1976, foi promulgada a contituição do Centro Brasileiro de Estatuto da Saúde e do Movimento de Renovação Médica, que já foi um grande passa para início das mudanças no tratamento mental, muito disto fundamentado nos exemplos e constituição italianos.

Em meados de 1880 Freud começa sua jornada no estudo da psicanálise e tratamento psiquico, dando início a uma vasta gama de teorias que até hoje perduram no assunto.

Já em meados da década de 80 foram formadas associações de usuários e familiares, como a “Loucos pela Vida” de São Paulo e a Sociedade de Serviços Gerais para a Integração Social pelo Trabalho Manifesto de Bauru que lutou e ainda luta pelos direitos destes internos.

Outro grande nome da temática fora Foucault, filósofo que dedicou-se ao estudo da população e suas interações, tratando de assuntos referentes ao sujeito e poder, tratando da loucura como mais um contexto social que meramente uma doença.

Em 1993 foi consolidando o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial (MNLA)13, realizando-se o I Encontro Nacional da Luta Antimanicomial, em Salvador/BA (neste encontro, é elaborada a carta sobre os direitos dos usuários e familiares dos serviços de saúde mental).

Todavia, apesar dos estudos e textos destes e outros grandes pensadores do assunto a imagem negativa e marginalizada do ‘louco’ perdura até hoje. Muitos tem vergonha de mostrar seus parentes com algum tipo de transtorno mental nas ruas, ou até vemos casos de pessoas que deixam de procurar tratamento antecipadamente por vergonha ou receio de consultar-se com psicólogos por esta concepção negativa de estar louco ou parecido.

De acordo com Soalheiro ( estudiosa na área) é nescessário para a mudança “um conjunto de estratégias que exigem iniciativas políticas, jurídicas, culturais que criam, possibilitam e marcam a presença da loucura na cidade”

‘ Desde a alta Idade Média, o louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros: pode ocorrer que sua palavra seja considerada nula e não seja acolhida,.’ ‘Jamais, antes do fim do século XVIII, um médico teve a idéia de saber o que era dito (como era dito, porque era dito) nessa palavra que, contudo, fazia diferença.’ - Foucalt, A Ordem do Discurso

Como forma de desinstitucionalização destes pacientes e tratamento mais humanos fora formada uma rede de tratamento para que estas pessoas façam seus tratamentos buscando a ressocialização. Assim foram criados os CAPS, Uas, que trabalahm em conjunto com hospitais psiquiátricos e até atendimentos a domicílio, entre outros tipos de acolhimento menos expressivos.


instituições de tratamento, Caps e suas subdivisões Em substituição aos modelos asilares tivemos a rede de atendimento psicossocial montada RAPS - Serviço de Saúde de Caráter Aberto e Comunitário - sistema de rede O CAPS (Centro de Atendimento Psicosocial) é um equipamento que visa acompanhar e tratar pessoas que sofrem de transtornos psiquicos. Há uma crescente na defesa da luta antimanicomial, na busca da desinstitucionalização da psiquiatria.

Como podemos ver nos mapa, a maioria dos CAPS é voltado ao tratamento de dependentes quimicos, sendo hoje, 2 deles CAPSad (Estreito e Pantanal) com outro com previsão para inauguração prevista para cerca de 1 ano ( no Jardim Atlântico), sendo apenas 1 voltado a tratamento de transtornos mentais ( Ponta do Coral). Florianópolis, de acordo com o ultimo senso realizado no ano de 2010, a população era cerca de 420 mil habitantes com uma estimativa de atingir 460 mil no ano de 2014. Para cidades com população acima de 150 mil habitantes, de acordo com o Manual de Ambientes da Secretaria da Saúde, é indicado o CAPS III, com atendimento mais completo. Todavia não temos este equipamento em nossa cidade, Florianópolis – SC.

CAPS I, II e III - para atender a estes casos, diferenciando-os pela infraestrutura de cada um, de acordo com a demanda de cada localidade. CAPS ad - voltado ao tratamento de alccol e drogas CAPSi - voltado ao atendimento de crianças e adolescente UA - é a Unidade de Acolhimeto, local reservado para internações nescessárias em momentos de surto, após uma triagem pelo primeiro atendimento nos CAPS ou outras instituições adequadas. Além ainda dos hospitais psiquiátricos

Caps e tratamentos psiquiátricos em florianópolis > Instituto São José Ltda - ala de psiquiatria > Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina - Colonia Santana > Hospital Colônia Santana - Colonia Santana > Hospital Caridade - unidade de psiquiatria > Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago - laboratório psiquiátrico > NASF - Núcleo de Assistencia de Saúde à Família CAPS ad Continente Estreito

CAPS ad - Jardim Atlântico

CAPS ad Ilha - Pantanal

CAPS I - Ponta do Coral Agronômica


demanda na grande FLORIANÓPOLIS Hoje no Brasil, um dos maiores problemas com relação ao tratamento da saúde mental, que vem crescendo a cada dia são os transtornos ocasionados pelo uso excessivo de drogas, que acabam por trazer diversos outros problemas socais e apesar de diversas iniciativas e ações do governo o problema parede aumentar a cada dia em nossa sociedade.

Esta constatação foi confirmada não somente através de conversa com uma funcionária da secretaria da saúde, mas também percebemos tal situação através da importância a que se da o tema nas mídias e em novos tratamentos ou pontos de atendimento. Se analisarmos as tabelas ao lado percebemos o quanto pesa no total o número de pacientes que possuem dependências em substancias psicoativas. Mas um dos números que me chama muito atenção além deste, é o número de pessoas afetadas pelo stress ou neuras e pessoas que apresentam indícios sintomáticos. Penso que são números bastante elevados para uma sociedade, ainda que seja uma cidade grande, mas isso me leva a pensar no porque. Comecei a pensar sobre o assunto, e que estamos todos estressados neste dia a dia louco da cidade todos sabemos, mas porque isto? O que nos leva a isto?

Resolvi assistir algumas aulas de sociedade e loucura, ministrada pelo professor Marquito de psicologia da UFSC, onde ele traz textos e aborda alguns assuntos um tanto não usuais para uma sala de aula, mas que nos faz pensar em nossas relações, como estamos vivendo, ou apenas reproduzindo em cadeia o que nos é passado. Vivemos um uma época onde tudo é mais rápido, tem de ser rápido. Temos pressa para tudo, para nos formarmos, para trabalharmos, para enriquecermos, para atingir o “sucesso” na vida, para casar, ter filhos, e até nos momentos mais íntimos temos pressa. No sexo rápido e repetido, não aberto a novos toques e experimentações. De acordo com Marquito, reproduzimos e passamos para frente os padrões secos e sem alma do sexo de filmes pornô, do exagero, onde tudo tem de ser exacerbado para o auge do momento de êxtase, assim como nossa vida como um todo, gritando nas redes sociais nossos sucessos, viagens e alegrias. Temos a necessidade de nos mostrar bem e como somos bem-sucedidos e temos pressa para alcançar o sucesso antes do outro. Isto se reflete em nossas cidades, loucas montanhas de concreto, crescendo aparentemente sem ordenação, sem respeito ao próximo, para aparecer o sucesso mais que a outra, deixando de lado a simplicidade e a interiorização. Nos apegamos ao material, a extravagancia do sucesso aos olhos da sociedade. E quem não se encaixa? Excluímos, fingimos que não o vimos, o que importa é nosso sucesso de alguma forma de forma geral. E de forma geral acabamos por esquecermos de nós mesmo, para nos encaixarmos nos padrões de sucesso ou apenas para sobrevivermos a esta louca engrenagem que parece andar sozinha muitas vezes.


Este ano ainda um escritor e jornalista britânico, Johann Hari, publicou um livro em que relaciona o problema da sociedade com este problema social do uso de drogas “Chasing the Scream: The First and Last Days of the War on Drugs” . Este mesmo publicou um texto comentando sobre sua jornada e pincelando a problemática geral. Nele faz algumas relações entre o vício nas drogas e esta doença social por assim dizer. Este texto fortificou o que eu já pensava sobre o uso de drogas, que no fundo não são as drogas em si o problema, mas sim o vício. No texto em questão, Hari, nos traz um experimento feitos com ratos, que nos mostra didaticamente como funciona e o porque do crescente aumento no vício em drogas em nossa sociedade. Neste há duas populações de ratos, uma que vive em uma cidade saudável e atrativa, Rat Park, onde os ratos interagem entre si e tem liberdade para fazer diversas atividades e mesmo com a droga a disposição, os ratos não se interessam tanto por ela, fazem o uso recreativo, sem fixar o vício, já aqueles da sociedade isolados, que vivem cada um em suas jaulas fechadas logo se viciam na substancia. E estes mesmo ratos já viciados ao serem colocados no Rat Park, deixam o vício aos poucos para usufruir da cidade e interagir com os outros ratos. Hari traz o exemplo também dos soldados na guerra do Vietnã, onde cerca de 20% dos soldados ficaram viciados em heroína, mas ao voltarem a sua boa via, 95% largaram o vício. Além de diversos outros exemplos e constatações de que a droga não é a causa e sim a solução. Estes exemplos nos levam a pensar em nossa sociedade, e por conseguinte nossa cidade, que é o espelho da mesma. Onde cada vez mais nos fechamos aos perigos das ruas, nos trancamos em nossos quantos em frente ao computador,

acumulamos ou desejamos cada vez mais conquistas e dinheiro, nos afastando cada vez mais do mundo ou até de nós mesmos. Assim, aquele que não consegue alcançar este sucesso, criado pela sociedade de alguma forma vêem na droga a forma de sentirem este sucesso. A droga, como o próprio Hari comenta, nada mais é que uma conexão, a conexão que falta a pessoa. Por isto é tão difícil para tantos largar o vício, pois não se trata simplesmente do vício e sim da falta de conexão, seja com si próprio, com outro ou até mesmo com a sociedade. E nós, pessoas de sucesso, que muitas vezes julgamos o outro como um fraco, acreditamos que fazendo um tratamento e tendo força de vontade a pessoa consegue. E aí criamos os CAPS. Os CAPS hoje, principalmente em nossa cidade, Florianópolis, tem a base de seu tratamento moldada na crença medicamentosa, que trata a dependência química ou um transtorno mental como uma doença hormonal tratável com remédios e um pouco conversa. E não só aos dependentes químicos. O Brasil está em uma crescente abrupta no consumo de antiansiolíticos, antidepressivos e outros. Nadamos contra a maré, tentando remediar os efeitos, sem repensar a causa, muitas vezes adoecendo mais aqueles que poderiam ter os sintomas abrandados com simples práticas cotidianas, levando muitos indivíduos ao ponto de serem internados em surtos. Já nas instituições não tratamos diferente. Em um trabalho de pós-graduação de arquitetura, da aluna Aline Eyng Sava, o

tema da institucionalização é abordado de maneira a expor a realidade de nossos tratamentos. Em nossas instituições de tratamento, como comentado no trabalho, agravamos o problema pela “mortificação do eu”, tema também abordado por Foucalt como “disciplinarização”, como comentado no trabalho, em que há um controle disciplinar da atividade humana bastante forte, onde o paciente é restrito de liberdade e tem seu espaço pessoal limitado. Como exposto no trabalho de Goffman, as obrigações dentro destas instituições ou até mesmo sociais acabam por refletir em uma perda da sensação de escolha pessoal. Outro fator bastante forte nos tratamentos é a ausência dos bens, que tem uma relação bastante forte com a identidade pessoal. Nestas instituições os indivíduos são estimulados a interagir com pessoas nas quais muitas vezes não possuem afinidade, desrespeitando as características particulares de cada interno. Nestas “instituições totais” a “mortificação do eu” pode resultar em “desculturamento” que significa perda dos hábitos e costumes derivados do contexto socioeconômico anterior a institucionalização, tornando o indivíduo incapaz de enfrentar os aspectos da vida diária. No trabalho, Aline caracteriza estas instituições totais como ”estufas para mudar pessoas” para se moldar aos parâmetros sociais.


relato de uma experiência Passei uma tarde dentro do CAPS, queria conhecer a dinâmica de quem o frequenta. Apesar de distanciado um pouco, ou é o que se pretende um CAPS, de uma instituição total, vi que muitos ali ainda tinham muito de si interiorizados, de maneira que o pudor social não os deixava expor o que pensavam fazendo que nem eles mesmos os entendessem. Ao chegar ao lugar encaminhei-me a uma mesa rodeada de bancos embaixo de uma árvore, no lado de fora do prédio fechado. A primeira vista não pude distinguir quem eram os pacientes e quem eram os psicólogos e alunos de psicologia que ali estavam para acompanhar o grupo de teatro criado para de certa forma “extravazar a loucura”. Sim, alguns eram visíveis, poucos, com dificuldade de fala e até motora, mas raros. A medida que conversava ia percebendo as nuances e os jeitos de cada um que denotavam quem tinha algum tipo de transtorno e quem não, de certa forma. A primeira vista fiquei impressionada com a receptividade do grupo, totalmente aberto ao novo, de certa forma até carente de atenção. Quando já havia chegado uma quantidade significativa de partipantes entramos no ambiente fechado e nos dirigimos a sala destinada as aulas de teatro. Logo que se entra se da de cara com uma recepção, bastante próxima a uma recepção de um posto de saúde, cadeiras de plásticos enfileiradas com uma mesa a frente com um recepcionista e um guarda próximo. Cores claras e sóbrias, com predominância do branco. Por ser uma casa antiga, percebe-se a disposição quase que como um pequeno labirinto, com sala

após sala, onde passamos por uma que era quase que um grande corredor, que dispunha as pequenas saletas de atendimento individual. Logo após uma pequena sala de convivência onde havia uns artesanatos, que fora comentado depois, obra de um dos pacientes que tentava ensinar e vender para tentar ganhar algum dinheiro. Logo após passamos pelo refeitório, bastante pequeno, deveria ter espaço para umas 10 pessoas, e ainda quase tudo branco, dali mais um corredor até então chegarmos na sala de teatro, bastante apertada. Não havia lugar para todos sentarem, alguns ficavam de pé, outros sentavam nas cadeiras que sobravam em meio as pilhas de coisas empilhadas. Duas janelas, e uma vista fantástica, a ponta do coral logo em frente que, apesar do fluxo constante de carros, mas não chegava a atrapalhar. As dinâmicas eram suprimidas, devido à falta de espaço, não havia possibilidade de amplos movimentos, limitando a expressão do grupo. Ali, num ambiente próprio, já começava a perceber mais claramente quem era paciente e quem era psicólogo. Eles, não só os pacientes, se libertavam de certas amarras sociais e soltavam ares, gritos e palavras livremente. Se expressavam. Fiquei um pouco desconfortável em alguns momentos, confesso. Algumas atitudes que não estou acostumada a ver no dia a dia, o que me provaram ou fortificaram a idéia deste TCC, que o problema não está estes que se expressam livremente, e sim em nós, “sociedade normal” que não sabemos lidar com estes comportamentos diferentes e fazemos vistas grosas, não gostamos, deixamos de lado. Não sabemos lidar, e ali percebi, que um dos pacientes me abordando que não sabia o limite do educado e desbocado, não sabia até que ponto poderia me

impor, não sabia lidar e percebi que o outro se aproveitava desta minha ignorância para continuar. Definitivamente eles não são burros, ou deficientes mentais, apenas diferentes, pensam diferente, vêem diferente, mostram diferente. Percebi em alguns momentos que eles tem alguns problemas mais pesados com relação a sexualidade. Conversando com o prof. Marquito, percebi que ainda há um pudor e prendimento em tudo que os rodeia, principalmente no quesito sexual. Não podem se expressar e muitos até não entendem o que se passa e suas vontades, sendo ali (e nem tanto assim) um dos poucos lugares e ambientes para expressar estas questões. A loucura em si também é de certa forma um tabu, até para eles, que falam, em alguns até com pesar, lembrando de tempos não agradáveis sobre épocas piores. E principalmente, os remédios, presentes nas falas, nas parodias e até nas mãos, se perguntavam um ao outro qual um estava tomando ou qual o outra já tomara. Em meio a tarde que passei lá o professor me relatou a história de um dos pacientes do CAPS que me deixou um tanto abalada com a situação do mesmo. Este estava passando por um período mais acentuado de seu transtorno, apesar de me parecer uma pessoa completamente normal a vista, além do olhar apático. Este por seu problema teve sua dose dos remédios aumentada, o que tem efeitos colaterais, sonolência, cansaço, suor exagerado entre outros, que por sua vez o impediu de trabalhar, fazendo este vir a perder o emprego. Sem emprego não podia pagar seu aluguel e assim ficou sem moradia, tendo que recorrer a um albergue público para desabrigados.


como? Não consigo compreender como que um tratamento que seria para melhorar a vida da pessoa pode causar tanto sofrimento, como pode piorar? Se pode chamar isto de tratamento? Deixei o CAPS com esta impressão latente em minha mente. Como pode ser um ambiente de tratamento mental se o próprio ambiente não ajuda? Me parece um paliativo, uma máscara para dizer que se está fazendo algo. Entendo que para muitos é essencial medicamento, mas seria esta forma a forma mais adequada de tratar o problema? Me faz acreditar que apesar da idéia do CAPS se afastar do padrão físico de instituição total, ainda não se libertou do enraizamento do antigo modelo, em que a finalidade é fazer das pessoas com problemas apenas mais sociáveis, moldandoas, não importando muito seu real estado de bem estar. Percebi também que o CAPS não precisava ser só aquilo, poderia ser mais. Porque deixar pra tratar depois que já se chegou a tal ponto? Não se pode ter um tratamento como que preventivo e crescimento conjunto? Diversas perguntas me surgiram. Afinal não os damos voz, para que estas pessoas expressem seus problemas, assim como Foucalt já defendia em seu livro A ordem do discurso, onde comenta sobre a fala que é escutada, mas não é ouvida, como uma fala desconexa a sociedade. Todavia se continuarmos nestes padrões sociais, acredito que beiramos ao caos, onde o problema parece se agravar a cada dia. Temos que prestar atenção em nossas cidades e nas conexões que cultivamos e dar possibilidade para que estas pessoas criem ligações com outras coisas se não a droga, ou o jogo, ou a bebida ou seu vício seja ele o que for.

Na maioria ignoramos nossa saúde mental, por menor que seja, tratamos como “coisa boba” ou não nos permitimos sentir, até um surto ou uma depressão chegar. Não atentamos aos primeiros sintomas, nossa correria diária não nos deixa prestar atenção em nós mesmo. Acreditamos que a figura do louco, ou do depressivo está longe de nós e vamos deixando acontecer, vivendo sempre “meio resfriados” sem uma qualidade de vida, o que nos deixa mais próximos a população positiva, como uma bomba que pode estourar a qualquer momento. Ao nosso redor temos diversos exemplos, amigos, familiares e colegas, pelo menos eu tenho diversos, que tomam ou já tomaram antidepressivos e afins, ou até que já foram internados em instituições por diversos motivos. Gostaria que o CAPS fosse para todos, não um simples CAPS, mas um hospital, ou um ambulatório, ou enfermaria da mente, em diversos níveis. Gostaria de um espaço deste para a cidade. Como o professor (Gonça) falou, uma “pílula” natural pra esta doença social que assola nossa cidade, pautada na correria, no resultado, no sucesso, no dinheiro, no material. Queria um ambiente capaz de propor conexões, seja pela arte, por outros seres humanos, cabível de certas formas de diferentes tribos num mesmo espaço, mas respeitando o diferente. Que não fosse um lugar apenas para o extremo estigmatizado, mas uma desestigmatização dos extremos, assim como seu acolhimento, para estes, ou para aqueles que estão em um fase difícil, um apoio, ou para aqueles que estão em um dia ruim, uma oportunidade, um respiro, um lugar de encontro, de formação de laços, de aprendizagem, de crescimento pessoal. Pode ser um desejo um tanto quanto presunçoso, sei que não vou mudar o mundo, mas sei que seria possível um ambiente melhor, de crescimento cultural para a cidade, de esclarecimento e inclusão. Sí puo fare – É possível

A procura da resposta de como concretizar o projeto de forma a não só integrar os usuários de hoje à vida social e a eles mesmos, diminuir usuários futuros e ainda dar apoio a pessoas que venham a necessitar, para que estes passem por seus problemas sem maiores traumas. Buscou-se referências, idéias e projetos que deram certo e que poderiam ser trazidos aos mesmos moldes ou adaptados a nossa realidade. O primeiro lugar do mundo a iniciar a luta anti manicomial e humanizar o tratamento mental foi a Itália, e muito do que se tem feito no Brasil é a exemplo do que se começou a fazer na Itália na década de 70. Lá fora implementado as cooperativas de trabalho junto com aqueles que fazem tratamento, o que acabou por dar-lhes não só um sustento, mas dignidade, auto-confiança e acabou por incluí-los de certa maneira na sociedade. Outro bom exemplo que acabei por encontrar na pesquisa foi o trabalho que Portugal começou a 15 anos na luta contra as drogas em seu país, que na época era o país com piores problemas com drogas da Europa, 1% de sua população era viciada em heroína. Ao invés de continuar investindo em combate as drogas, usaram o dinheiro para subsidiar moradia e empregos para os mesmo, para que estes pudessem se reconectar com seus sentimentos e com a sociedade, o que resultou em uma redução do uso de drogas de 50%. Programa parecido com o que esta em andamento na Cracolândia em São Paulo hoje, e que esta surtindo bastante efeito, com uma redução gradual já alcançaram cerca de 70% de redução do consumo de drogas dos que aderiram ao programa, em contrapartida a simples internação tinha sucesso de cerca de 30% (de acordo com reportagem do profissão repórter). Ainda pelo Brasil há diversos CAPS que possuem oficinas e aulas voltadas a profissionalização destes pacientes ou usuários, assim como aulas diversas para estimular o desenvolvimento em diversas áreas destas pessoas, todavia bastante lúdico em sua maioria, sendo poucos realmente voltadas a uma profissionalização que realmente de uma base para que o usuário possa ser auto suficiente.


local de inserção/intervenção

agronômica

estreito

centro

trindade

IGK creas

UFSC

EEB

PS

coqueiros hospital infantil joana de gusmão hospital nereu ramos Buscava-se para o terreno de inserção do projeto um local central, de fácil acesso e boa visibilidade perante a cidade. Por fim optou-se por realizar o projeto onde hoje já esta inserido o CAPS Ponta do Coral, em área bastante central e nobre da cidade, além de já ser um local constituído para o equipamento. No momento está sendo feita a obra da marginal da Aveninda Beira-Mar, área que antes era ocupada por intensa vegetação, que acabava por esconder o equipamento, além do CAPS hoje dar as costas para a avenida. Além da localização privilegiada perante a cidade a localidade em questão possui ao seu redor alguns outros equipamentos que agregam a este, e principalmente este pode servir de apoio a estes.

Como os Hospitais, onde o centro de Saúde Mental poderia servir não só de amparo para pacientes e familiares do hospital, como respiro e descontração do ambiente hospitalar, assim como o posto de saúde (PS) localizado bem próximo. Aem sua lateral, sendo segregado por uma rua há o Instituto Guga Kuerten, que pode servir de apoio a algumas atividades externas do ‘CAPS’. Há ainda bastante próximo o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e a Escola de Ensino Básico Padre Anchieta (EEB), equipamentos que poderiam se utilizar de espaços e da área a ser trabalhada, onde além usufruir estariam por agregar a ideologia do projeto.


No plano diretor a área esta classificada como uma ACI, Área Comunitária Institucional, rodeada por diversos outros usos institucionais. Junto dela há uma AVL, Área Verde de Lazer, hoje cercada e subutilizada. No texto do plano diretor AVL se classifica como área de lazer destinada a pratica de atividades de lazer e recreação, não se caracterizando ao que se tem hoje, onde se localiza em parte a Sub estação da CELESC e em parte uma área de vegetação densa e fechada para o público. Apesar de ser uma área bastante central, suas duas laterais são margeadas por AMC, Área Mista Central, tem-se bastante Área Residencial nas proximidades da mesma, além ainda de uma área relativamente próxima destinada a ZEIS, zona especial de interesse social, conseguindo atingir uma vasta parcela da população. Nos ‘fundos’ da área tem-se ainda uma ATL, Área Turística de Lazer, uma área envolta em grande polêmica na cidade, por se discutir seu uso e ocupação. Neste trabalho não se entrará na discussão da utilização desta área, todavia, pode-se propor uma intenção projetual para a mesma, onde estas possam vir a se relacionar futuramente, todavia, seriam projetos a princípio independentes, apensar desta compor uma paisagem bastante rica a área a ser trabalhada como possíveis eixos de visão ou até molduras.

CAPS Ponta do Coral Subestação da Celesc CREMV (Atendimento a Mulher em situação de Emerg. Delegacia da mulher, da criança e do adolescente PROMENOR


intenção de inserção/intervenção A proposta de trabalho seria de requalificação da área onde hoje já funciona o CAPS, todavia, integra-lo não só aos equipamentos que os rodeiam na área, como com a cidade, trazendo visibilidade, abrindo as portas a tratamento e apoio a todos. Tem-se na entrada da área (1) uma faixa de área de verde apenas com arvores plantadas, sem um coidado com a conexão do entorno. Gostaria de requalificar a entrada da área, de modo a não só ser um convite, mas de alguma forma conectá-la a entrada do hospital em frente, como se uma continuidade, para que estes se sintam bem vindos a um acompanhamento, para o que muitos é um período de sofrimento bastante grande, seja por tratamento ou acompanhamento de familiares. Gostaria que este espaço pudesse, também de alguma forma ser um escape do ambiente hospitalar, de descanso e espera para os familiares.

ÁREA VERDE 5 4 2

A entrada ainda tem uma conexão bastante forte com o Promenor ao lado, que faz costas a área com um grande muro divisório, sem interação alguma. Gostaria de proporcionar um ambiente que pudesse ser utilizado pelas crianças e adolescentes do Promenor, ainda que entenda a necessidade do muro e divisão, mas este poderia ser feito de maneira mais branda, a não se parecer com uma ‘prisão’, que é a impresão que passa hoje, trabalhando a permeabilidade visial e interação física, ainda que limitada.

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Em frente a delegacia e a CREMV (2,3 e 4), há um enorme espaço aberto, hoje destinado a estacionamento super dimensionado, onde ambos os equipamentos se distanciam do usuário, sem a menor conexão entre si, em um ambiente bastante frio e não acolhedor para um usuário que no geral esta passando por momentos tenso e não muito fáceis de lidar. A idéia é aproveitar a estrutura já existente, mas propor nova organização espacial, reorganizando o ambiente e criando estares de acolhimento e intervindo nas fachadas e implantação destes equipamentos. Na entrada do CAPS em si, percebe-se um descaso total com sua inserção com a área. Murado e escondido em meio as árvores, esta é a unica entrada do mesmo, totalmente isolado e desconexo com seu entorno. Um ponto positivo da área é a vegetação que acaba por compor espaços e ambientes agradáveis no interior dos muros, mas sua entrada não precisa, não deve ser fechada de modo a segregar o ambiente e os usuários. Sendo assim, pretende-se integrar a entrada ao resto da área, trabalhando junto da faixa de área verde ao lado (em amarelo) de modo se conectar de alguma forma comm o instituto Guga Kierten ao lado, para que este também sirva de apoio aos usuários, além de trazer mais vida ao local.

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Preten-se ainda em desenho estudar a nescessidade ou não de uma relocação da subestação da CELESC (poderia apenas ser relocada para o lado, tentando diminuir possíveis gastos), para melhor conexão da área como um todo com a área verde ao lado, de maneira a não separá-las.

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Pretende-se trabalhar as entradas do CAPS, permitindo também uma entrada pela Av. Governador Irinei Bornhausen (Av. Beira Mar Norte), onde hoje esta se fazendo uma rua marginal a mesma, ao lado do muro do CAPS, aumentando a visibilidade do mesmo, Todavia, sem acesso. Pretendo aproveitar a oportunidade da obra e propor um tratamento para a área verde ao lado, integrando-se ao CAPS, abrindo uma entrada voltada a Av. Beira Mar Norte. Pretendo manter a casa existente que hoje sedia o CAPS, todavia, propor uma ampliação e intervenção na mesma, com tratamento de fachadas e acessos. Também preten-se com este trabalho tratar as conexões visuais, de toda a borda da área, principalmente nesta frente voltada a Ponta do Coral, que possui uma vista muito agradável e valorizada. Além de trabalhar a entrada da área pela mesma, com acessos por automóveis e valorização pela chegada por transporte público, que possui pontos de ônibus nas ruas de acesso ( Av. Beira Mar Norte e Rua Delminda Silveira) bastante próximos a área de trabalho. O objetivo das intervenções e ampliações é uma maior interação do equipamento com a cidade e seu entorno, para maior inserção do usuário na sociedade, de modo que este tenha suas dificuldades e limitações respeitadas, mas que ainda assim possa se inserir e ter uma plena cidadania exercida. Além de pretender ampliar-se o tipo de tratamentos e acompanhamentos no equipamento, afim de prevenir e diminuir casos de uso de drogas e surtos extremos. Se espera para o projeto um ambientes acolhedor, de esperança e possibilidades, crescimento pessoal e social, de quebra de preconceitos e segregações, de união e ajuda mútua, por uma sociedade com mais e maiores conexões entre si e consigo.


referências de projetos/exemplos Procurou-se exemplos de projetos, relacionados ao trabalho pretendido e percebeu-se muitos tinham alguns elementos em comum. Como por exemplo o contato com o pátio, presente em quase todos os projetos. Ambientes comuns voltados a áreas verdes ou praças de convivência comum, mas em muitos ainda haviam pátios que possibilitassem a individualidade de cada. Muitos destes espaços para tratamento mental estavam locados também junto a hospitais ou unidades de ensino de tratamento mental. Alguns ainda trabalhavam bastante com cores alegres e constrastes, o que será melhor discorrido em cada projeto.

Stratheden Mental Health Unit, Fife Design: Richard Murphy Architects Location: Inglaterra Date of completion: May 2010 Esta é uma clínica de permanência para tratamento. Achei interessante o tratamento das unidades individuais (42), todas voltadas aos pátios internos comuns, com bastante permeabilidade visual, com grande aberturas em vidro, dando a sensação de liberdade e conexão, apesar de permitir a individualidade por cada usuário possuir seu quarto individual

Projeto realizado para um concurso de arquitetura, na Califórnia, pelo escritório de arquitetura TLCD Em uma competição de design recente, TLCD Arquitetura explorou como a fusão de saúde mental e cuidados primários poderia ser apoiada no ambiente construído. O campus ambulatorial resultante traz cuidados primários e de saúde mental em conjunto, um projeto focado na comunidade unificada, abordando simultaneamente as preocupações de segurança e privacidade. O conceito de bem-estar total de pacientes começa com fácil acesso para os pacientes e incorpora oportunidades saudáveis de exercício, mercados de agricultores, atividades comunitárias, educação para a saúde e de cuidados médicos. Dar às pessoas um motivo para visitar o lugar em uma base regular para as atividades cotidianas serve para promover a saúde eo bem-estar. http://tlcdtoday.com/category/healthcare/ The roof garden provides a calming environment and quiet zones


A unidade de saúde mental da Universidade Hospital de Gold Coast, localiza-se junto a um complexo de cuidados a saúde, junto a um hospital convencional, com diversos equipamentos de apoio a ambos como o prórpio centro de estudos, que abriga livrarias e equipamentos relacionados. Clinica, eunidades de permanencia e até um espaço destinado a workshops. A unidade de saúde mental da Universidade Hospital de Gold Coast, trabalhou bastante planos abertos, onde possibilidade grandes espaços externos de áreas verdes e livres. Além dos espaços externos, internamente também possui espaços coloridos, enfatizando a vida e independência dos pacientes.

Project: Gold Coast University Hospital (GCUH) - Mental Health Unit Location: Southport, Queensland Architect: PDT, STH and HASSELL (Joint venture) Completed: 2012

http://www.brisbanetimes.com.au/queensland/gold-coastmental-health-unit-set-to-open-20130717-2q4b2.html http://www.sapphirealuminium.com.au/index.php?task=proje cts&num=110

Foi recentemente reconhecido como um dos melhores novos estabelecimentos de saúde mental do mundo, pela nona Design Annual Academy Awards de saúde internacional. O diretor do projeto, GCUH Arquitetura, HASSELL, comentou sobre o conceito do projeto, que foi desenvolvido por meio de pesquisa, que mostrou que jardins e arredores naturais podem ajudar pacientes agitados ou ansiosos. Foi constatado que estes tipos de ambientes tem influencia sobre o usuário, estes acalmam e aliviam a depressão. "A essência é que as pessoas andam através - eles não se sentem como se estivessem sendo controlados ou se estivessem preços no espaço. "A unidade pode ser garantido, os quartos podem ser garantidos, mas há também um grande senso de abertura e independência de cada usuário, que surgiu do que a pesquisa mostrou ser essencial para a recuperação e tratamento bem sucedido.


Rede Sara de tratamento a Saúde Localizada em diversos lugares pelo Brasil, principais unidades utilizadas como referência: Rio de Janeiro, Brasília e Fortaleza arquiteto responsável: João Filgueiras Lima (Lelé)

Estes projeto não são exatamente voltados ao tratamento de saúde mental, todavia possuem uma ligação bastante forte com o mesmo, por trabalhar o ambiente de tratamento médico como apoio ao próprio tratamento, onde este é de certa forma sujeito ativo na recuperação dos pacientes. Lelé trabalhou bastante sua relação dos projetos com os ambientes externos, amplos e abertos, permitindo uma maior vivência do paciente, proporcionando também atividades mais diversas, dentro da proposta de cada projeto.

Unidade Sara Fortaleza

Além de toda sua preocupação com a ambiencia dos ambientes, trabalahndo com cores e espaços alegres e estimulantes, Lelé ainda importou-se bastante com a sustentabilidade da construção, trabalhando com iluminação e ventilação natural, que não só ajuda na saúde da própria edificação, que ainda a torna um ambiente mais agradável, como auxilia na própria saúde dos usuários, proporcionado a estes maior comodidade para atividades em ambientes naturais, de forma mais controlada, essencial para muitos em tratamento.

http://www.sarah.br/a-rede-sarah/nossas-unidades/unidadefortaleza/ Unidade Sara Brasília


O BMRI faz parte da Faculdade de Medicina da Universidade de Sydney com foco em pesquisa em saúde mental e problemas clínicos relacionados ao cérebro. Este projeto teve destaque em concurso na categoria Arquitetura Pública para 2011 ", eles observaram que o edifício BMRI consegue ' unir pacientes, cuidadores , médicos e cientistas que trabalham nos campos da neurociência e saúde mental, em um agradável e envolvente espaço de campos em meio a cidade. Este edifício foi concebido para ter em conta as mais diversas necessidades e limitações , ele tinha de fornecer um ser humano em escala e ambiente tátil para pacientes de saúde mental de um lado e abordar uma paisagem urbana do centro da cidade que combina residências remanescentes de caráter industrial de Camperdown. O projeto respeitou a construção antiga e seu entorno, trazendo uma nova leitura ao espaço, intervindo de maneira simples e clara, respeitando assim a história do local. Em seu interior se utiliza da madeira, o que traz uma sensação de conforto e acolhimento do paciente, que convida ao toque e as sensações além da apenas visual. Acredito que se assemelhe bastante a proposta que se pretende para o TCC em questão, onde há hoje uma casa já consolidada, mas se necessita ampliação não só de espaços, como de atividades em geral.

Youth Mental Health Building at the Brain and Mind Research Institute (BMRI) Architects: BVN Architecture Location: Camperdown, Sydney NSW, Australia Architects: BVN Architecture Area: 3000.0 sqm Project Year: 2010 Photographs: Courtesy of bvn architecture http://www.archdaily.com/154132/youth-mentalhealth-building-brain-and-mind-research-institutebvn-architecture


Ganhador do primeiro lugar concurso Parque Tamarineira - Recife Arquitetura: Celso Sales, Luciana Raposo, Carmen Cavalcanti, Manuela Maia Estudo Urbanístico: Mariana Ribas Paisagismo: Christoph Jung ‘’Referência nacional em serviços psiquiátricos desde fins do século XIX, o Hospital Ulisses Pernambucano e seu lote densamente arborizado confundem-se com a história e a paisagem da Zona Norte do Recife. A evolução dos estudos médicos, as exigências da Reforma Psiquiátrica e o interesse de diversos setores da sociedade em apropriar-se daquele espaço levam este conjunto a um momento de transformação: o Parque da Tamarineira, agora desapropriado, tem o compromisso de abrir-se à cidade, desmistificar a loucura e oferecer à população lazer, cultura e educação ambiental, tudo isto convivendo com atividades hospitalares.’’ Dois grandes eixos – que funcionam como largos passeios públicos – estendem-se desde a entrada principal do Parque, na Avenida Rosa e Silva, até a “Matinha”, valioso exemplar de biodiversidade preservado há décadas. Entre estes eixos, um labirinto de vegetação arbustiva faz alusão à complexidade dos percursos da mente humana e constitui-se no elemento paisagístico mais forte do projeto: sua estrutura abrigará obras de arte, bancos, espelho d’água e peças interativas que estimularão o caminhar e a descoberta. Extensos gramados remontam a antiga atmosfera de Sítio, de Pomar Urbano, enquanto playgrounds e equipamentos destinados à prática de exercícios físicos dão dinâmica aos diversos setores do Parque. As funções propostas aos edifícios históricos tombados incluem Auditório, Museu e Centro de Convivência de Saúde Mental, esta

última prevista no programa da Reforma Psiquiátrica. O Pavilhão da Sustentabilidade, novo bloco construído com metodologia LEED – Leadership in Energy and Environmental Design – abrigará exposições com temáticas voltadas a sustentabilidade e meioambiente. Achei esta proposta bastante interessante e coerente com a proposta de intervenção dete TCC, pois destaca a importância a área verde e sua relação com o equipamento em questão. A formação dos eixos, conformando os acessos e sua conexão com os modais da cidade. Ele levanta também outro ponto importante ao tratamento psicossocial, que é a necessidades de prática de atividades físicas, não precisando estas serem formais, mas permite espaço amplo para atividades mais livres que necessitem destes tipo de espaço. A relação do antigo e do novo, onde o projeto respeita o antigo e o mantém, ainda que fazendo suas nescessárias intervenções para ampliação e adaptação do projeto, mas conversa com o antigo aproveitando-o e integrando-o de forma natural ao projeto. A multiplicidade de áreas livres e locação de instalações lúdicas, como obras de arte e afins que estimulam o paciente, além de diversos outros equipamentos de apoio a inserção dos mesmo, estímulo ao crescimento e aprendizado, para que este se insira na sociedade, respeitando sua individualidade. Claro que este projeto possuía no parque, um espaço bastante grande que possibilitou a implementação destes diversos ambientes. Mas apesar de não ser tão grande o espaço de projeto a ser trabalhado possui área para se apropriar de algumas idéias e princípios do mesmo. Da relação do projeto com o verde, com espaços livres, do antigo, da relação com o hospital e os outros equipamentos juntos a área, assim como o Instituito Guga Kiertem. http://concursosdeprojeto.org/author/fabianosobreira/page/54/


O Instituto Inhotim, localizado em Brumadinho, Minas Gerais, é a sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e considerado o maior centro de arte ao ar livre da América Latina. Este projeto, se é que se pode realmente se chamar de acontecimento, se distancia bastante da proposta de destino de sua implementação, com relação ao projeto do CAPS, todavia, esta aqui por sua essência. Pretende-se extrair deste a essencia dos espaços, nos sentidos, ultrapassando a barrerira apenas do ver, para passar para o viver o ambiente. Além do espaço ser em si uma obra de arte, traz diversas obras locadas em seus ambientes, que instigam o visitante em diversos aspectos, e são estas sensações, estas essências que se pretende extrais de Inhotim, pra se implementar no projeto destinado ao CAPS, nas áreas externas, verdes, de encontro. Isto se decidirá com o desenho, mas fica de inspiração, por espaços que inspirem e toquem os usuários.


espaços mínimos obrigatórios Áreas mínimas para CAPS III ( Manual de estrutura física dos centros de atenção psicossocial e unidades de acolhimento - Ministério da Saúde) Área unit. Quant. Nome resumido do ambiente Área total (m²) Mínima (m²) Mínima Recepção (Espaço de acolhimento) Sala de atendimento individualizado Sala de atividades coletivas Espaço de convivência (Área de estar para paciente interno, acompanhante de paciente e visitante) Banheiro adaptado Sala de aplicação de medicamentos (sala medicação) Posto de emfermagem Quarto coletivo com acomodações individuais (para acolhimento noturno com 02 camas) Banheiro anexo aos quartos de acolhimento Quarto de plantão (sala de repouso profissional) Sala administrativa Sala de reunião Almoxarifado Arquivo (sala para arquivos) Refeitório Copa (cozinha) Banehiro com vestiários para funcionários Depósito de material de limpeza (DML) Rouparia Abrigo de recipientes de resíduos (lixo) Área total dos ambientes Área total + área de ciculação (20% área total) Área externa de convivência Área externa para embarque e desembarque de ambulância Abrigo externo de resíduos sólidos Área total (interna + externa)

1 3 2

30 9 24

30 27 48

1 2

65 4.8

65 9.6

1 1

5 6

5 6

4 4

9 3.6

36 14.4

1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1

9 22 20 5 5 60 16 12 2 4 4

9 22 20 5 5 60 16 24 2 4 4 412 494.4 75

1

75

1 1

21 4

21 4 594.4

x

espaçõs pretendidos (intenções)

Para se projetar estes tipos de equipamentos há um manual que informa a metragem mínima de todos os espaços que devem estar contidos no projeto. Todavia acredito que isto não seja suficiente, ou que não se deveria pensa-se em ambientes mínimos obrigatórios, e sim em espaços que poderiam agregar de maneira diferente, transpondo o conceito de uma sala de quatro paredes com espaços mínimos. Sendo assim, pretende-se no desenho desenvolver estes espaços mínimos, tentando integra-los, sempre que possível, afim de criar ambiencias ao projeto e pensando em propostas mais amplas do que se pretende dos espaços, como atividades possíveis e sentimentos que se quer extrair do usuário. Espaço lúdico coberto I - jogos, teatro, dança o que quero: liberdade, expresividade, entendimento, compreensão, identidade, identificação Espaço lúdico coberto II - pintura, escultura, colagem o que quero: liberdade, expresividade, instrospecção, reflexão, auto-conhecimento, identidade, identificação Espaço coberto - trabalho, produção, arte o que quero: estimulo, liberdade, expresividade, instrospecção, reflexão, auto-conhecimento, identidade, Ambiente amplo protegido - atelier de trabalho, artesanato, crescimento pessoal, aulas, cinema, expresão corporal, circo, esportes, esportes voltados ao lúdico e descontração, exposição, feiras, apresentações, festas o que quero: crescimento, liberdade, auto-conhecimento, desenvolvimento, inclusão, socialização, descontração, conectividade Pequenos espaços individuais conectados - aulas de música, linguas, artes o que quero: inclusão, socialização, expressão, individualidade, introspecção Espaço aberto livre e sensorial - descanso, espera, intimidade, conversa, encontro o que quero: sensibilidade, compreensão de si perante o externo, tranquilidade, alegria, descontração, diferentes atmosferas que se congruem formando um todo Espaço aberto livre e expresão corporal - encontro, expressão, exercícios, descanso, encontro, exposição o que quero: alegria, descontração, explosão, expressão


intenções do projeto de tcc Assim como a temática do trabalho, que pretende abordar não só a necessidades do usuário dos CASP de hoje, mas como o ambiente ou o relacionamento deste ambiente com o usuário pode influenciar em seu crescimento, o projeto se propõem em ampliar-se para abordar não só estes usuários considerados doentes, mas muitos possíveis usuários que já se encontram doentes, todavia ainda se moldam ao padrão social aceitavam, ou que muitas vezes nem sabem que estão doentes mentais. O projeto não pretende ser pretencioso, na medida que sabe que não tem poder de mudar o mundo ou a vivência tão complexa da dinâmica solcial, contudo, pretende ser uma parafrase locada em meio a esta cidade doente. Pretende se mostrar um respiro social, fugindo do padrão da correria, da falta de tempo, que nos torna cada vez mais longe de nós mesmo. Quer trazer a idéia de re-humanizar o ser humano, lhe dando a possibilidade de um projeto distindo, que valoriza o indivíduo, que valoriza a expressão, que possibilita que coloquemos para fora aquele eu que muitas vezes não tem tempo, ou não é aceitável na sociedade. Quer mostrar que ainda é possível sim, mudarmos o pensamento de que não temos tempo para nós, inserindo um ambiente para isto ao alcance de todos, próximo a todos. Mudarmos este pensamento de máxima utilização de área ou índices urbanos porque a lei assim é feita, mas que esta deixando nossas cidades doentes, nos deixando doentes, sem espaço para seremos nós, sem espaço para o diferente, sem aceitação, que se espelha na crescente violência urbana da não aceitação e formação de tribos que não se misturam. Talvez a arquitetura não tenha o poder de mudar o modo de pensar das pessoas, mas com certeza mostra meios, ou os cria, para que a mudança seja possível. Sei ser um desafio bastante grande espacializar esses espaços que ao meu ver deveriam ser mutantes, assim como a sociedade, que permita diversas apropriações, sem se descaracterizar, sem perder a fácil compreensão ambiental para qualquer tipo de pessoa, seja esta com alguma deficiência, doença ou apenas diferentes conceito. Todavia fico feliz com a escolha da temática que me permite ousar não só nas formas, mas no conceito, brincar, experimentar, tentando extrair não apenas formas, mas sentimentos, sensações, estímulos, que estimulem os usuários e a cidade a seu redor. Talvez seja um objetivo demasiado presunçoso, mas acredito que o TCC seja justamente a oportunidade de ousarmos, te tentarmos nos expressar, mostrar nossos pensamentos e defendermos a cidade em que acreditamos, possibilitando o erro e o aprendizado, e não apenas esperando o certo. Gostaria de no final do projeto me deparar talvez não com o objeto perfeito, mas com o início de uma trajetória, de maior reflexão espacial, de como inserir estes conceitos de inserção, de individualidade dentro de um conjunto em cada projeto.


referências, bibliografias e inspirações - Loucura, hospital, comunidade: um estudo sobre as representações sociais (estudo de caso da comunidade da Colonia Santana) - O movimento antimanicomial no Brasil - JefersonRodrigues e Lígia Elena - artigo

- Si Puo Fare - filme

Sites pesquisados:

- O bicho de sete cabeças - filme

http://www.parkin.ca/blog/determining-colour-and-designspecifications-for-mental-health-facilities/

- Boa sorte - filme

- A ordem do discurso - Foucalt

- One flew over the cuckoo’s nest (Um estranho no ninho) - filme

- A história da Loucura - Foucalt

- Documentário sobre o que era e as relações de hoje da Colônia Santana e seu entorno

- Holocausto Brasileiro - Daniela Arbex

filmes que inspiraram e informaram

- One flew over the cuckoo’s nest (Um estranho no ninho) - filme - Loucura, hospital, comunidade: um estudo sobre as representações sociais (estudo de caso da comunidade da Colonia Santana) - O movimento antimanicomial no Brasil - JefersonRodrigues e Lígia Elena - artigo - Arquitetura e Saude mental - Paulo Amarante

- Professor Marquito - professor de sociedade e loucura da psicologia UFSC - conversa e acompanhamento de algumas aulas - Professor Jeferson - professor de enfermagem UFSC - entrevista e conversa sobre a temática, além de referências

- Estigma - Irvin

- funcionários da secretaria sa saúde - conversa e disposição de projetos e informações

- Reforma Psiquiatrica - Loucos pela Vida - Paulo Amarante

- pacientes do CAPS com seus relatos e vivência

- Modo psicosicial X modo manicomial - Abílio Costa Rosa

- Psicólogos do CAPS que acompanhavam a turma de teatro

- O movimento antimanicomial no Brasil - JefersonRodrigues e Lígia Elena - artigo

- Psicólogo Dalmo -amigos que já foram internados em instituições de tratamento - colegas do curso de arquitetura

conversas e trocas que ajudaram no trabalho

http://www.rpparchitects.co.uk/portfolio/portfolio/acute-mentalhealth-inpatient-facility-at-belfast-city-hospital/ http://www.slate.com/blogs/the_eye/2015/03/19/madlove_a_design er_asylum_from_james_leadbitter_the_vacuum_cleaner_is_a.html


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