TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

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Lugares da memória Parque nas antigas Indústrias Matarazzo em São Caetano do Sul Stela de Camargo Da Dalt Orientador: Prof Dr Luís Antonio Jorge novembro 2012


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Este é um trabalho sobre memoria, cujo produto é uma intervenção em um grande terreno, que nas ruínas de uma fábrica, mostra os vestígios de sua antiga ocupação. A intervenção, se for necessário nomear, será um parque-memorial.


And so, my trip to Tokyo was in no way a pilgrimage. I was curious, as to whether I still could track down something from this time, whether there was still anything left of this work. Images, perhaps. Or even people. Or whether so much would have changed in Tokyo in the twenty years since Ozu’s death, that nothing would be left to find. Wim Wenders. Tokyo, GA. Nunca mais vi aquela casa singular, que caiu em mãos estranhas quando meu avô morreu. Tal como a reencontro na minha recordação infantil, não chega a ser uma construção, está totalmente dividida em mim; (...) tudo ainda está em mim, e nunca cessará de estar. É como se a imagem desta casa tivesse tombado em mim de uma altura infinita, partindo-se toda nas minhas profundezas. RILKE, Rainer Maria. Os cadernos de Maurie Laurids Brigge.

Em busca de palavras, encontrei no Filme “Tokyo, GA” um ponto de partida. Wim Wenders justifica em sua fala inicial o motivo pelo qual foi ao Japão vinte anos depois da morte de Ozu, dez anos antes da produção do documentário. Diz que foi a curiosidade que o levou até lá, para descobrir se ainda poderia encontrar traços do tempo retratado nos filmes de Ozu; se haveria ainda algo daquela Tóquio nas ruas da atual Tóquio. Imagens, talvez, ou até mesmo pessoas, ou tudo teria mudado nos vinte anos que sucederam sua morte, a ponto de nada haver para ser encontrado? É nestes termos que meu trabalho, ou pelo menos minha motivação, se aproxima da de Wim Wenders: eu também estou à procura de algo. Busco permanêncas do passado em um lugar onde desenvolver significa destruir as marcas da história. Wim Wenders procura vestígios da cidade e das relações transmitidas pelo diretor japonês. Uma imagem — hoje não mais que uma

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memória — registrada pelo olhar de outro. Seria um exercício de interpretação de algo interpretado, um buscar pela captura do capturado, um duplo-distanciamento. Ou seja, através de Ozu, ele criou um imaginário do ser/viver/habitar japonês, do espaço, da cultura e dinâmica social desse povo. Remontando um pouco ao processo de formação da ideia, gostaria de discorrer sobre o paralelo que este trabalho faz, não declaradamente, com a literatura. Quando lemos obras literárias, realizamos um exercício semelhante ao descrito acima, pois criamos paisagens e ambiências não necessariamente baseadas em lugares reais mas, por sermos capazes de, através de simples descrições, associá-las a um léxico conhecido de elementos espaciais, criamos o que virá a ser o palco das histórias contadas pelos narradores de nossos livros. O autor que desde o princípio eu tinha por “evocador de ambiências” era o escritor mexicano Juan Rulfo. Dos detalhes da história me lembro pouco; entretanto, ficaram cores, imagens soltas e lembranças de sensações. Estas são permanências que me interessam. Tendo isto em vista, é possível que quando projetamos, esteja implícita a tentativa de traduzir estas atmosferas guardadas em nosso inconsciente. Partindo destes questionamentos, cresceu o interesse por trabalhar com espaços da memória. De certa forma, se aproximaria mais de uma memória da nossa história — do que dela ainda levamos conosco, de quais as reminiscências ainda nos são possíveis — do que uma memória de um imaginário abstrato, mais distanciado da vida cotidiana, como o das literaturas. O processo de formação da ideia começou com uma conversa: um amigo descrevendo brevemente a história do livro que tinha acabado de ler. O livro abordava o tema da memória através da descrição da empreitada do escritor Joshua Foer para tornar-se campeão mundial de memória. É descrito


o processo de treinamento pelo qual o autor passou e o funcionamento de algumas técnicas mnemônicas. Uma das mais populares delas tem o nome de “Castelo da Memória”. Nela, a pessoa que deseja guardar uma informação deve colocá-la dentro de um “Castelo”. Este deve ser um lugar que o interlocutor conheça bem — a casa que morou, a escola que estudou — basta ser um espaço que esteja claramente construído em seu inconsciente. Devemos transformar a informação em imagem para guardá-la dentro dele. Com isto na cabeça pensei: em que Castelo eu colocaria tudo que me valesse guardar? O primeiro lugar que me veio à mente foi a casa da minha tia-avó, Maria Da Dalt, onde morou com sua mãe, minha bisavó, Angelina Da Dalt. Mas aos poucos fui então passando da ideia do meu “castelo” — a casa da minha tia-avó, com os cômodos dentro dos quais guardaria minhas informações “imageificadas” — à lembrança e consequente nostalgia do que fora viver esta casa e este bairro nos fins de semana. Depois disto, decidi qual seria o local de intervenção do meu Trabalho Final. Por que esta casa, não sei. Não sei, principalmente, por, desde aquele dia até hoje, haver lugares dentro dela que estão borrados na minha lembrança. Outros, tenho bem claro enquanto unidade, mas não conseguiria encaixar numa planta, não encontraria o corredor de circulação que me levaria à eles. Talvez por, naquele tempo, haver nesses lugares muito pouco que atraísse da minha atenção, ou, até mesmo, um receio de explorar esta casa que não era a minha, e que, talvez, neste fazer, ferisse a intimidade de seus habitantes. Me identifiquei com os escritos mais autobiográficos de Rainer Maria Rilke, e, valendo-me da falta de clareza espacial, considerei interessante explorar as capacidades plásticas destas situações. Elaborei, portanto, algumas ilustrações que externalizam o que tenho de alguma forma registrado destes lugares, alguns mais constituídos que outros. Por não ter nada muito claro, as impressões de agora se juntariam às antigas sensibilidades, transformando-se em uma mistura de

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certezas e incertezas que estão em mim. A casa está localizada no Bairro Fundação, em São Caetano do Sul. O bairro é importante para a história da cidade por ter sido o berço dos fundadores do município e primeiro núcleo colonial dos imigrantes italianos. Uma de suas mais importantes construções foi e é, até hoje, o complexo industrial das Fábricas Matarazzo. Meus familiares que moraram nas proximidades também trabalharam lá até se aposentarem ou até o fechamento da fábrica, em 1986. Juntamente com a linha da CPTM e a hidrografia — formada pelo Córrego dos Meninos e o Rio Tamanduateí — é dada a “cara” do bairro, que, com o fim das atividades industriais e o aumento dos danos causados pelas enchentes, foi sendo paulatinamente abandonado por seus moradores e pela própria administração do município. A fábrica encontra-se em meio a um processo de desmanche. Enfrentou uma primeira fase de modificação, em que a prefeitura transformou parte de seu terreno em praça de eventos: o Espaço Matarazzo, onde aconteciam festas e shows. Agora resta pouco do edifício que, por tantos anos, mesmo com o fechamento das fábricas, permanecia como uma espécie de monumento ao curto período de industrialização e à influência dos imigrantes italianos nesta história. A demolição foi iniciada no final do ano passado, e tem previsão de ser concluída até o fim do ano. O meu trabalho é, então, a união dos remanescentes físicos da história da cidade à intervenção não programática em uma área. Em suma é um projeto com viés artístico, paisagístico e arquitetônico em um local onde ainda podem ser encontrados vestígios da história.


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Esta fábrica, estes muros, este bairro estão em mim. Na minha cabeça eu os visito e encontro com as pessoas queridas que habitaram estes lugares. Estas lembranças me ligam às ruínas e dão sentido à vontade de intervir neste espaço. Encontro em mim a vontade de propor situações, caminhos e encontros. Mais do que uma implantação, tenho um conjunto de momentos, de ambiências e potencialidades. Lugares que evocariam também, nos seus futuros habitantes, lembranças (dificilmente as mesmas que as minhas) e sensações. Esta sempre foi a intenção, e, ao longo do processo, me vi com o desafio de encontrar a expressão plástica que traduzisse este esforço. Sempre fui uma partidária do desenho à mão, e me vejo neste momento último e único da minha graduação, com a oportunidade de experimentar do início ao fim, sozinha, um dos jeitos que eu gosto de projetar. A parte construindo o todo, apesar do todo nunca ser posto de lado. É um ir e voltar constante, muitas vezes caótico, mas, nenhuma palavra melhor que esta para definir o que eu sou, em quase todas as esferas da minha vida. Tudo que eu faço eu faço desse jeito. depoimento 2˚ semestre.


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bairro fundação: evolução urbana e contexto histórico A formação de São Caetano do Sul começa no século XVI, com a Vila de Santo André, fundada por João Ramalho, em 1554. Esta mais tarde foi abandonada e destruída em 1560. Acabou sendo ocupada por fazendeiros, tropeiros e carreiros que trabalhavam no transporte de mercadoria entre o porto e o Planalto. Algumas destas fazendas eram propriedades dos bandeirantes, que doaram, em 1631, sítios que possuíam no Tijucuçu aos padres beneditinos, que lá iniciaram a Fazenda São Caetano. A área era antes conhecida pelos índios por Tijucuçu, por ser uma grande área verde que, devido às cheias dos rios Tamanduatiba e Caaguaçu, hoje Córrego dos Meninos e Rio Tamanduateí, alagava e formava muito barro. Os padres, além de pequenas plantações, mantinham uma olaria para fazer os tijolos, lajotas e telhas de que necessitavam para a construção do Mosteiro São Bento, em São Paulo. A fazenda São Caetano pertenceu à ordem de São Bento por 246 anos, de 1631 a 1877, quando as terras foram desapropriadas pelo governo imperial para a formação de um núcleo colonial, por imigrantes italianos, o que ocorreu a 28 de julho. A região só passou a ser conhecida como São Caetano a partir da fundação da capela dedicada a esse santo, entre 1717-1720, no mesmo local em que está hoje a matriz velha. 1 Por volta de 1877 começaram a chegar os imigrantes italianos vindos da região do Venetto. Nesta época, os beneditinos já haviam deixado o local e formou-se, por ordem de D. Pedro II, o Núcleo Colonial, que forneceria alimentos para a Província de São Paulo. A Estrada de Ferro São Paulo Railway já havia sido construída, e em 1883 é feita a estação local. A rodovia foi um fator decisivo para que isso acontecesse, já que era este seria um dos poucos fatores favoráveis à implantação de um núcleo colonial naquele local. O

MARTINS, José de Souza. A Formação do Espaço Regional do Tijucuçu e de São Caetano. Raízes, julho 1991. 1


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fonte JosĂŠ de Souza Martins, 1991


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núcleo era povoado por, além dos imigrantes, caboclos remanescentes do bairro e da fazenda, que fora desapropriada, loteada e distribuída entre os colonos. Foi com as olarias que os colonos obtiveram mais frutos, devido às cheias dos rios no período das chuvas. Havia muitas encomendas de São Paulo e em 1913 formou-se a Cerâmica Privilegiada de São Paulo, que mais tarde seria chamada de Cerâmica São Caetano. Com o barro formado, produzia-se tijolos, telhas, louças, enfeites e outros artigos de cerâmica. Em 1912 Francesco Matarazzo entra nos negócios imobiliários de São Caetano, arrendando a fábrica de graxa e sabão de Mariano Pamplona. Ele a comprou em 1916, circundando completamente a igreja, ao redor da qual estavam a Fábrica de Formicida e a Fábrica de Sabão, Óleos e Graxas Pamplona, Sobrinho & Cia. A partir de 1911, devido a uma política de incentivos por parte do município de São Bernardo, algumas fábricas foram atraídas para terrenos de vocação industrial nos vales do Tamanduateí e dos Meninos. Dentre os fatores que levaram as indústrias a procurarem a cidade estava o aumento do valor dos terrenos de São Paulo, fazendo-se necessária a busca por outros locais. Influenciavam também o baixo custo dos terrenos, a presença da ferrovia, abundância de matéria prima para as indústrias cerâmicas, o suprimento de água para a indústria têxtil — vindo da represa do Rio Grande, em Santo André, e do rio Tamanduateí e córrego dos Meninos —, e a oferta de mão de obra. Dessa forma, junto às olarias e cerâmicas nativas, viriam a instalar-se outros estabelecimentos industriais, diversificando e incentivando a economia local. A cidade foi enriquecendo, e em 1930 já instalavam-se grandes indústrias como a General Motors. Foi só em 1948 que a cidade se constituiu como município, tendo, assim, autonomia para gerenciar as indústrias instaladas em seu solo. Entre 1950 e 1970, já era vista como cidade industrial, recebendo novas fábricas e, consequentemente, operários.


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fonte JosĂŠ de Souza Martins, 1991


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fabricas matarazzo: surgimento e evolução  A implantação do complexo industrial da Matarazzo, em São Caetano do Sul, começou em 1912 com o arrendamento das indústrias Pamplona & Sobrinho. Através de uma sucessão de empreendimentos e investimentos dentro de si, a indústria cresceu e formou o que acabou sendo conhecido como Grupo São Caetano das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. Ao longo dos anos formou o complexo que englobaria as fábricas de: Cortumes (1922); Rayon (1924); Papel, papelão e Celulose (1930), Cerâmica Matarazzo — Louças Cláudia (1935); Ácidos (1936); Refinaria de Petróleo — I.M.Ê. (1938); Sulfato de Alumínio (1939); Soda Cáustica (1948); Acetileno (1954); Carbureto de Cálcio (1955) e Ácido Sulfúrico (1961). A partir de 1977 começa a desativação de alguns destes núcleos. 2 Em 1912 são introduzidas uma caixotaria e uma serraria e, no mesmo ano, arrendam a Pamplona & Sobrinho, fábrica que existia na cidade desde 1976 nas terras da antiga Fazenda São Caetano, produzindo sabão, vela, graxas, óleos lubrificantes, glicerinas e estearinas. A área ocupada pela Pamplona era de 40 mil m2 e trabalhavam na fábrica em 1901 cerca de 35 mil empregados. A família também atuava na cidade através da Companhia Melhoramentos São Caetano, que controlou o nascimento dos primeiros loteamentos no Distrito. Com a chegada da das Indústrias Matarazzo, os Pamplona começam a perder poder político. Exemplo disto é a perda da concessão de exploração do serviço de construção da rede de esgoto, em 1921. Já em 1917 a Matarazzo passa a figurar nos registros de impostos substituindo a Pamplona, pagando impostos e alvarás para a transferência das fábricas de sabão e óleo. A fábrica foi vendida para o grupo após decisão em assembleia pelo preço de oitocentos e vinte e cinco contos trezentos e cinquenta e seis mil e cem reis.

GIANELLO, Joesé Roberto. Raízes, Julho 2002. Fundação Pró-Memória ­— São Caetano do Sul. 2

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A Matarazzo, antes de arrendar as fábricas de sabão, começou com uma fábrica de farinha de trigo. Resulta desta a montagem de uma indústria de sacos, mais tarde transformada em fábrica de tecidos populares (especialmente chita). O desenvolvimento das atividades têxteis levou à compra de algodão em caroço, do qual eram aproveitadas as sementes de algodão, linter, torta e farelo. Esta operação inspirou a manufatura de outro subproduto da semente, surgindo a necessidade de produzir-se sabão para lavagem, que induziu à compra da fábrica de sabão, graxas, lubrificantes etc. Para encaixotar os produtos e colocá-los no mercado foram criadas as serrarias que, por sua vez, deram origem ao ramo de construção de móveis. A demanda de pregos mais variados exigida pelas serrarias incentivou o surgimento da fábrica destes artigos, que os fornecia em escala nacional. Para o transporte e armazenamento dos óleos necessitava-se de latas, levando à fundação de uma metalúrgica com litografia, cuja produção abrangia todos os tipos de invólucros metálicos. Portanto, percebe-se que a demanda levava à abertura de novos negócios, ampliando o espectro de atuação conglomerado. Na década de 50 o conjunto das empresas ocupava uma área de aproximadamente dois milhões de metros quadrados, possuía uma frota de navios, dez locomotivas com 200 vagões e 900 veículos motorizados para o transporte dos produtos.

fonte (texto e imagem) Raízes, Julho de 2002. Fundação Pró-Memória ­— São Caetano do Sul.


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Unidades de Soda 19 Fábricas de B.H.C. (Hexacloro) Ácido Sulfúrico/ Sulfureto de Cálcio Cloro Depósito Enxofre Fábrica de Papelão Fábrica de Celulose Swenson ­— Banhos para Fiação Viscofil — ­ Celulose/ Maturação e Trituração Moagem de Celulose/ Laboratório e Escritório Vestiários (Sup)/ Restaurante Escolha Tanques de Óleo Oficina Elétrica Lubrificação Chaminé Depósito de Caixa de Papelão Departamento de Celulose Funilaria Unidade Rayon Caixotaria Laboratório/ Escritório Técnico Oficina Mecânica Lavagem de Kaolim Cabine Elétrica Tanque de Água Carpintaria Depósito de Matérias Primas Almoxarifado Refeitório e Escritório Portaria Escritório Residência do Diretor Atelier Envernizamento Colonial Refeitório/ Vestiários Entrada de Operários Secadores/ Envernizamento Fornos/ Prensas Fábrica de Louças Armazém/ Supermercado Britadores/ Moinhos/ Administração Desfiadores de Fios (Fiação Hamel) Fornetas de Frita Compressores/ Caldeiras Fábrica de Xantato Fábrica Viscofil Torcedeiras Conicaleiras Vila Operária


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1912 O grupo Matarazzo arrenda as quatro fábricas da antiga Pamplona, de sabões e óleos vegetais 1913 Inicia as atividades da fábrica de pregos 1915 Ermelino Matarazzo inicia a implantação em São Caetano do primeiro núcleo fechado de fábricas do grupo Matarazzo 1922 Início das operações da Fábrica de Curtumes 1924 Demolidos os antigos pavilhões da Pamplona para a construção e montagem da Viscoseda — futura Fábrica de Rayon 1930 É montada a Fábrica de Papel, Papelão e Celulose 1935 É fundada a Cerâmica Matarazzo — Louças Cláudia 1936 Começa a funcionar a Fábrica de Ácidos 1938 É inaugurada a I.M.Ê. — Indústria Matarazzo de Energia —, primeira refinadora de petróleo do Estado de São Paulo 1939 Inaugurada a Fábrica de Sulfato de Alumínio 1948 Inaugurada a Fábrica de Soda Cáustica 1954 Inaugurada a Fábrica de Acetileno 1955 Inaugurada a Fábrica de Carbureto de Cálcio 1961 Inaugurada a Fábrica de Ácido Sulfúrico 1977 Desativadas as Fábricas de Rayon e Sulfureto 1981 Fechadas as Fábricas de Cloreto e B.H.C. 1982 Fechada a Fábrica de Soda Cáustica 1995 Os operários assumem a direção da Cerâmica Matarazzo — Louças Cláudia 1997 Parte do terreno da Matarazzo é utilizada para a realização da Festa Italiana, nos festejos do aniversário de São Caetano

Cronologia retirada da Revista Raízes de Julho de 2002. Fundação Pró-Memória — ­ São Caetano do Sul. Créditos da Imagem: Fundação Pró-Memória.

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depoimento de mario porfirio rodrigues 3 Em 1935 a maioria dos habitantes de São Caetano pertencia à classe trabalhadora e pouquíssimos pensavam em classe média. As famílias mais abastadas possuíam propriedades, mas todos trabalhavam arduamente nas indústrias locais. Com nove anos e meio de idade, após sair das aulas no Grupo Escolar Senador Flaquer, almoçava rapidamente e trabalhava no período da tarde, até às 19 horas, na barbearia do sr. Dante Neri. A barbearia estava situada na Rua 28 de Julho, por onde passavam os empregados da Rayon Matarazzo, em direção ao portão da fábrica, na praça Ermelino Matarazzo. Os empregados de ambos os sexos que trabalhavam em horário normal, regressavam do trabalho no horário de almoço, quando eu começava a trabalhar. Eram centenas. Uma hora depois, passavam os que entravam às 14 horas e trabalhavam até às 22 horas. Mais algumas centenas de pessoas. Nesse horário, a maioria era composta por moças, jovens e bonitas, que cuidavam dos teares que enrolavam os fios artificiais. (...)fui trabalhar na Fábrica de Louças Adelinas e, depois, já tendo completado 14 anos de idade, tive meu primeiro registro em carteira profissional nas Indústrias Aliberti S.A. Nessa época, meu irmão trabalhava como apontador na carpintaria das Indústrias Matarazzo e conseguiu um lugar pra mim de ajudante de carpinteiro. Com Onofre Russo e mais um empregado preparávamos caixas de madeira. A cada semana ou dez dias ajudávamos o carpinteiro a serrar as tábuas nos tamanhos das caixas. Nos dias seguintes montávamos e pregávamos as caixas, separando as tampas que o setor de expedição usava após colocar os fios de rayon que eram despachados para os clientes.(...) Era comum surgir um trabalho maior para os carpinteiros, que nos chamavam para ajuda-los.

Mário Porfírio Rodrigues é Morador do Bairro Fundação. RODRIGUES, Mário Porfírio. A Maravilhosa Fábrica Rayon in: Revista Raízes, Julho 2002. Fundação Pró-Memória ­— São Caetano do Sul. 3


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fonte Adriana de Souza, 1995


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E íamos com eles para o interior da fábrica. Lembramos de tanques enormes, feitos em madeira peroba, que eram montados no local definitivo e depois recobertos com placas de chumbo. Ácidos aí eram depositados para a lavagem dos fios. Outras vezes eram reformas nas prateleiras dos almoxarifados gerais. Aos sábados à tarde fazíamos a limpeza da carpintaria e levávamos os retalhos de madeira e a serragem para serem usados como combustível no setor de caldeiraria, que fornecia calor para todas as seções do complexo industrial. Esses trabalhos fora da carpintaria permitiam que eu o os outros ajudantes ficássemos conhecendo quase todas as dependências do complexo industrial. Em São Caetano poucas eram as ruas calçadas com paralelepípedos. Em época de chuva, os sancaetanenses eram obrigados a andar sobre ruas lamacentas ou ficar dentro de casa para não se sujarem com o barro espirrado pelos veículos. Eu estava maravilhado vendo todas as ruas largas cobertas de paralelepípedos e com calçadas de cimento nas laterais, muito melhores do que as vias públicas, limpas e ordenadas. Havia respeito e todos obedeciam aos avisos. Os horários de entrada e saída eram rigorosamente cumpridos e os faltosos eram penalizados. Milhares de pessoas juntas, cada uma com sua função, respeitando-se. Tudo funcionava como se fosse uma grande família.


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introdução ao projeto Pontuadas as intenções e o panorama evolutivo da cidade, apresento a problemática e questões enfrentadas na fase inicial do projeto a partir de três perguntas: Qual é o contexto atual, quais as referências e o que eu quero para este espaço? Para pensar o projeto, me ative à realidade constatada a partir de duas visitas ao local. Já sabia do plano da prefeitura para a “remoção de alvenarias existentes em terreno público” (segundo placa afixada no local). No final de 2011 iniciou-se o processo de de demolição dos edifícios remanescentes, que seria concluído até o fim deste ano (2012). Parte da área viraria um parque, e no restante dela seriam construídas torres residenciais e de escritórios. Isto é decorrência de o restante já ter sido comprado por incorporadoras, à excessão da parte que pertence à Prefeitura. Era necessário, portanto, registrar o estado em que se encontrava a área, para a criação da base em que o projeto se apoiaria. As informações e condições dos prédios que eu considero neste projeto são referentes à visita que fiz em junho de 2012. Depois disso, é possível que o processo de desmanche tenha continuado e até se concluído, mas optei por congelar a situação para elaborar a proposta, pois temia que o projeto perdesse constantemente o sentido conforme as ruínas deixassem de existir como tal e passassem a conformar um grande vazio. Na primeira visita percorri área da Fábrica de Rayon. Das Indústrias Químicas, que têm seu perímetro cercado por um muro, o único remanescente da fábrica é a chaminé. O espaço passou por uma primeira demolição, 10 anos atrás, onde se abriu um grande espaço livre e criou-se um local para eventos chamado Espaço Matarazzo. Entretanto, ainda restavam os edifícios se voltavam para a rua Maximiliano Lorenzini. Essa rua foi criada juntamente com o Complexo Viário Prefeito Luís Tortorello, que corta o terreno da Fábrica. A Maximiliano Lorenzini já existia e terminava na rua Mariano Pamplona, onde havia uma das entradas da Matarazzo. De toda a área próxima à rua Mariano Pamplona só restam a fachada da fábrica e as chaminés. Nessa visita entendi melhor a


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relação entre a linha da CPTM e o terreno, que é cortado pela linha 10, Turquesa. O limite entre ambas é apenas o trilho do trem, não há nenhum elemento que os separem. A partir do trem, tem-se uma vista panorâmica de todo o complexo; isso provavelmente decorre da desativação das fábricas, uma vez que estas, em sua materialidade, com seus gapões, edifícios e muros, eram responsáveis por determinar este limite mesmo depois de sua desativação, pois por muitos anos os edifícios lá permaneceram, apesar de terem adquirido o aspecto de ruína. Um colapso na indiferenciação, as construções se diluindo na paisagem arruinada ao redor, confundindo-se com os processos físicos de longa duração. Afirmação definitiva da arquitetura: ela se realiza como um retorno à paisagem. Como no pitoresco, com suas ruínas cobertas por heras. Ao invés de se destacarem, elevando-se, as edificações se confundem com o solo. Em vez de arquitetura, des-arquitetura.4 Com o início da demolição o limite se perdeu, mas devido à impossibilidade de acesso ao terreno fez-se necessária a construção de algum tipo de barreira. Acho esta relação interessante e pretendia e mantê-la no projeto por acreditar que o trem seja uma marca expressiva para a história do bairro e das fá-

acima fachada da fábrica Rua Mariano Pamplona abaixo Vista do trem da CPTM a partir do terreno

Os trechos citados são de Nelson Brissac Peixoto, curador do Arte/Cidade: A cidade e suas histórias. No pequeno ensaio que faz no prefácio do catálogo da exposição, fala sob sobre estes espaços fabris abandonados na cidade, o que eles são e como o trem faz parte desta história, uma vez que estão geralmente localizados nas orlas do ramal ferroviário. 4, 5

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bricas, além de determinar um dos limites da área de projeto. É, portanto, o esforço de agregar e incorporar um elemento geralmente desagregador. O ramal ferroviário e suas ruínas industriais são como um corte que desagrega todo o desenho urbano da área, que rompe sua homogeneidade e continuidade, levando-o ao colapso. É um buraco negro, um vazio que se abre e engole a cidade. Uma “arquitetura entrópica”: um processo dinâmico de desorganização do tecido urbano.5 Na segunda visita comecei pela rua Perrella, paralela à rua da minha tia Maria. A lembrança desta parte do bairro é forte; íamos visitá-la todos os domingos, passando sempre pela entrada da Cerâmica Matarazzo. Ao começar por lá, compreendi melhor aquela parte da fábrica, que desconhecia até então. Havia ali alguns edifícios, destacando-se um de alvenaria, em estado de ruína, mas com potencial para ser restaurado. Subindo a rua Rio Branco e virando à esquerda na 28 de julho, juntei o que entrevi sobre o portão da Cerâmica com outra área, que conheci somente devido à uma pequena abertura presente em um portão de metal, (provavelmente uma entrada de serviço da fábrica). Era uma colunata da pilares, conectados em sentido longitudinal por vigas, resultante da demolição das alvenarias e lajes de um dos galpões da cerâmica. A 28 de julho desemboca na praça da Igreja Matriz Velha, onde um dia existiu uma das entradas principais da Matarazzo. A partir dali entrei no terreno, me dirigindo ao conjunto de galpões da fábrica Louças Cláudia. Havia um grande galpão ainda em estado físico convidativo à intervenção. Dentro do galpão, a presença de dois trilhos de trem e dois fornos de cerâmica marcam o espaço além da sua estrutura, definida por numerosos pilares e vigas predominantemente no sentido transversal. Um belo espaço, a partir do qual chega-se àquela área aberta que eu avistava através do portão da 28 de julho. Feito um diagnóstico da situação da área e de suas edificações, passei para uma fase de pesquisa. Me deparei com o fato de parte do terreno — correspondente à área das indústrias


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(dir)

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acima vista a partir da entrada da Cerâmica, na rua Perrela abaixo vista a partir de um portão, na rua 28 de julho acima vista interna do galpão (I) abaixo vista interna do galpão (II) olhando para os fornos de ceâmica   página atual acima croqui de estudo


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fonte Luís Nunes Polastre, 2007

químicas — estar contaminada de mercúrio e H.C.H. (Hexaclorociclohexano). A contaminação do solo é um assunto complexo, pela função econômica de “commodity” que a terra possui. Com o recente “boom” imobiliário vivido em São Paulo, era de se esperar que até as regiões menos nobres e periféricas virariam alvo de especulação. Toda a região da Matarazzo e do Bairro Fundação sofrem com a questão das enchentes. Um dos motivos do bairro ter perdido aexpressividade com o passar dos anos deve-se à queda no preço da terra, decorrente da prejudicada conexão com o resto da cidade, causada pelo corte da linha da CPTM, e pelas enchentes sazonais causadas pelo extravasamento da água do ribeirão dos Meninos e do Tamanduateí. parecer cetesb sobre o terreno da indústria química matarazzo  Uma área contaminada pode ser definida como área, local ou terreno onde há comprovadamente poluição ou contaminação causada pela introdução


de quaisquer substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados de forma planejada, acidental ou até mesmo natural. Nessa área, os poluentes ou contaminantes podem concentrar-se em superfície nos diferentes compartimentos do ambiente, como por exemplo no solo, nos sedimentos, nas rochas nos materiais utilizados para aterrar os terrenos, nas águas subterrâneas ou, de uma forma geral, nas zonas não saturada e saturada, além de poderem concentrar-se nas paredes, nos pisos e nas estruturas de construções. As ações objetivando o controle das fontes de poluição ambiental da indústria tiveram início na década de 60. Durante o período em que operou no local, a empresa foi penalizada pela CETESB em diversos momentos, com autos de advertência e de multa por poluição de ar, águas e solo. No período de agosto de 1995 a março de 1997, investigações realizadas pela CETESB revelaram elevados níveis de concentração de mercúrio e Hexaclorociclohexano – H.C.H. no solo. Com base nesses resultados, a empresa foi autuada para realizar a remediação das áreas contaminadas — e com a exigência de não-aproveitamento da área para quaisqueratividades. (...) Desta forma, em outubro de 2001, a empresa foi novamente penalizada(...) com exigências para a apresentação de projeto de recuperação ambiental de toda a área contaminada da indústria, com o respectivo cronograma de execução, e para quantificar e apresentar a solução de tratamento para todo o material contaminado com Hexaclorociclehexano e mercúrio (material de escavação, edificações, equipamentos industriais e material de demolição), inclusive o solo na área situada em São Caetano do Sul. A referida empresa não apresentou qualquer proposta de remediação da área em atendimento das exigências formuladas nesse auto. Em vistoria no local em fevereiro de 2005, constatou-se a construção de obras viárias na área pela Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul, sem autorização e/ou conhecimento da CETESB. Por este motivo, foi imposto Auto de Intimação à Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul e Indústrias Químicas Matarazzo S.A., para prestarem esclarecimentos sobre o assunto. (...) Em atendimento as exigências técnicas do auto de infração supracitado e aos Pareceres Técnicos

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CETESB n.ºs 068/ESCC/08, 016/ESCC/09 e 287/ TACA/10 a empresa protocolou nesta agência ambiental em setembro do corrente ano Relatório de Investigação Complementar, Análise de Risco e Plano de Intervenção, os quais foram encaminhados para o Setor de Avaliação e Auditória de Áreas Contaminadas para analise e considerações. Pode-se dizer que estamos falando de uma Área Contaminada sob Intervenção (ACI), que é aquela em que se constata a presença de substâncias químicas em fase livre ou em que se comprova a existência de risco à saúde humana após investigação detalhada e avaliação de risco. Para que o projeto seja viável, há a necessidade de transformar esse terreno em uma Área Reabilitada para Uso Declarado (AR) onde, após período de monitoramento para reabilitação, é confirmada a eliminação do perigo ou a redução dos riscos a níveis toleráveis para o uso declarado. Considero que seja de interesse do município e obrigação dos agentes que contaminaram a área efetuar as medidas de remediação. A maneira mais rápida e eficiente é retirar a terra e submetê-la a um processo de lavagem e oxidorredução, visando a retirada os metais pesados e os poluentes, para que não ofereçam mais riscos ao meio-ambiente e às pessoas. O processo de seria do tipo “Ex Situ”, com remoção do material contaminado para tratamento em uma planta de tratamento. De forma geral, os solos contaminados são considerados resíduos e devem ser classificados, armazenados, transportados e dispostos conforme as normas vigentes. Entre as formas mais usuais de destinação de solos contaminados, pode-se citar: aterro classe I e classe II,coprocessamento, incineração, dessorção térmica, biopilha. Sabe-se, portanto, que ao se constatar a necessidade de descontaminar a área são necessários dois anos para que o problema seja eliminado. O foco da contaminação tem localização conveniente, já que não restaram galpões industriais nessa parte do terreno. Tal fato facilita a escavação, retirada e disposição de novo solo (livre de contaminação). O projeto vai considerar esta etapa preliminar como prerrogativa.


Compreendida a situação atual do terreno da Matarazzo e sua problemática, busquei projetos que servissem de referência para pensar o caráter desejado para intervenção, que consequentemente estruturaria o desenho de seus espaços. Como referência de projeto, procurei lugares e situações com qualidades espaciais e paisagísticas que motivassem seu uso frequente mais pela vivência de sensações particulares e atmosferas únicas do que pela simples existência de um certo programa e/ou equipamento de lazer. Lugares que fossem vividos e desfrutados devido à memória e à constatação destas sensações. Uma denominação para isto é a atmosfera. Todos nós a conhecemos: vemos uma pessoa e temos uma primeira impressão. (...) Em relação à arquitetura também é um pouco assim. Entro num edifício, vejo um espaço e transmite-se uma atmosfera e numa fração de segundo sinto o que é. (...) A atmosfera se comunica com a nossa percepção, que funciona de forma instintiva e que o ser humano possui para sobreviver. 6 Das várias referências que estudei, utilizo-me aqui de duas em especial para lustrar o que quero dizer quando me refiro às “atmosferas” (nos termos que Zumthor coloca). Visitei ambas, e as elegi como as minhas duas grandes inspirações. Os sentimentos que eu gostaria de evocar em meu projeto são possíveis pois quando estive no Pedregal da

6 ZUMTHOR, Peter. Atmosferas.Portugal: Editora Gustavo Gili, 2005.

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UNAM, no México, e no Memorial do Holocausto, em Berlim, senti o que era ser tocado por um projeto. A experiência de estar em ambos não é facilmente descrita e, por isso, uso-me da palavra de outros para tentar expressar o que eu senti.

espacio escultorico: os pedregais de lava da cidade universitária da unam — mathias goeritz 7  Para Mathias Goeritz, a criação era uma operação sensual, extremamente complexa, com o objetivo de despertar dos os sentidos (…) foi excelente na arquitetura, que pressupunha a integração de todas estas técnicas, significava modelar o espaço, transformá-lo, fazê-lo transitável, habitável. Preenchê-lo com emoções. Fica ainda mais evidente a intensa (ainda que discretamente) mística poética de Mathias Goeritz, e talvez sua obra-prima, o Espaço Escultórico nos pedregais de lava da Cidade Universitária. Mais do que uma tentativa de controlar a natureza, cercando o caos pedregoso. O círculo de monolitos abertos ao ceu convidam para a reflexão ou, melhor dizendo, para a meditação. Aí também, a paisagem retém seus direitos, e as construções apenas afloram. Esta é, talvez, uma das poucas, senão a única obra escultórica do século XX que cumpre, verdadeiramente, suas funções, como comprovam todos os dias os jovens que descansam sobre os monolitos, brincam de esconde-esconde (...). Meditar. Nunca antes o conceito de Goeritz de uma “arquitetura emocional” teve tanta ressonância. Com simples blocos de concreto, Mathias Goeritz inatalou a poesia em meio ao pedregal. 8

acima: corte e planta   abaixo:   foto aérea

Espacio Escultorico da Universidade Nacional Autônoma do México. 8 por Olivier Debroise in: Mathias Goeritz — Las timidas revoluciones. (tradução livre). 7


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memorial do holocausto — peter eisenmann  Nos 15 anos desde a queda do Muro de Berlin e a reunificação alemã, a nação se esforçou — dolorosamente e às vezes defensivamente — para chegar a um acordo com o seu passado nazista. O Memorial do Holocausto 9 , projeto de Peter Eisenman, é a apoteose desde exame de consciência. Um vasto grid de 2,711 pilares de concreto (...), sem inclinar-se ao sentimentalismo — mostrando como abstração pode ser a ferramenta mais poderosa para transmitir as complexidades da emoção humana. A localização não poderia ser mais apropriada. Durante a guerra, este foi o locus administrativo da máquina de matar de Hitler. Não há maneira de apreender isto a partir de fotografias; pode ser entendido somente o experienciando enquanto espaço físico. Mas é só quando você re-emerge do memorial, reunindo-se com o mundo de todos os dias, que aquilo que você experienciou torna-se claro. Peter Eisenman, o arquiteto, disse que seu maior medo era sentimentalizar o Holocausto. “Eu não quero que as pessoas chorem para depois saírem com a consciência limpa” disse ele. A tranquila abstração do memorial — seu silêncio perturbador e presença física gritante — tece psiquicamente o holocausto na nossa existência diária. Ele comemora sofrimentos passados, mas também nos obriga a reconhecer a relevância desta história hoje. 10

implantação, esquemas, cortes e foto aérea do memorial

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Memorial of the Murdered Jews of Europe, 2005 Texto traduzido e adaptado do artigo de Nicolai Ouroussoff em The New York Times: A Forest of Pillars, Recalling the Unimaginable, publicado em 9 de maio de 2005. 10


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Tendo abordagem e base de trabalho formuladas, chego à terceira parte da etapa preliminar, onde defino o que eu quero para esse espaço. A princípio, o projeto poderia seguir duas linhas opostas de trabalho. A primeira consistiria na inserção da área no tecido urbano dos arredores, através da proposta de um novo desenho de quadra, com novos usos e ocupações. A segunda seria manter aquele lugar como um vazio, um Parque, evidenciando-o como cicatriz da antiga ocupação, e destacando os edifícios remanescentes, que seriam restaurados e atuariam como elementos protagonistas neste espaço. Optei por essa segunda linha, por acreditar que mesmo o vazio pode ter um significado; também por ela me oferecer possibilidades que iam de encontro às referências que tinha em mente. Estes espaços estão à espera de que alguma coisa aconteça. Aqui o passado aguarda o futuro. Em nenhuma outra parte da cidade a destruição e o abandono foram tão sistemáticos e intensos. Aqui surgiu uma área de desagregação, desprovida de vida, onde impera uma sensação de decadência, de desorganização e perda. Mas também uma certa grandeza emana do ordinário, do descartado, naqueles lugares sem destino.11 Portanto, utilizando-me dessa realidade que Nelson Brissac denuncia em seu texto, procuro na minha intervenção trazer de volta a este espaço a vida descrita nos relatos de antigos moradores e funcionários das fábricas. Desenvolvi o trabalho através da elaboração de croquis e desenhos que retratam os diversos ambientes do Parque. O percurso foi então invertido com relação àquele mais frequente: da parte cheguei ao todo, que só foi possível por saber o que eu queria para aquele lugar, e porque, o tempo todo, transitei da pequena à grande escala. Uma última vez, cito Wim Wenders em sua leitura do Japonês Yasujiro Ozu, em Tokyo Ga.


Esta crônica leva quase quarenta anos para retratar a transformação da vida no Japão. Os filmes de Ozu lidam com a lenta deterioração da família japonesa e, consequentemente, com a deterioração da identidade nacional. Mas ele o faz não apontando com consternação o que é novo, ocidental ou americano, mas lamentando ao mesmo tempo com um senso de nostalgia o que se perdeu. Mesmo sendo um retrato específico da sociedade japonesa, estes filmes são, de certa forma, universais. Neles eu fui capaz de reconhecer todas as famílias de todos os países do mundo, assim como os meus pais, meu irmão e eu mesmo. 12 Apesar de estar falando de cinema, acredito que com a arte, escultura, música, arquitetura entre outras artes, possamos alcançar resultado semelhante ao descrito. O tipo de lugar que eu quero criar tem como objetivo incitar em cada um algum tipo de recordação. O conjunto de espaços deste Parque conformam um todo que, quando experienciado completamente, pode proporcionar algum tipo de nostalgia do que pode ter sido aquele bairro em tempos anteriores ao nosso.

PEIXOTO, N. B. in: Arte/Cidade: A cidade e suas Histórias. Catálogo da Exposição, 1997 12 Wim Wenders em Tokyo-Ga, 1985 11

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proposta de um parque na área das antigas indústrias matarazzo  Propõe-se para este terreno uma nova função social. Para este local outrora associado ao Trabalho sugere-se um novo uso, oposto em sua essência à herança industrial. A forma de ocupação do espaço também pauta-se pela negação: uma área livre em substituição à adensada estrutura dos galpões fabris. Esta intervenção tem como estrutura fundamental a afirmação do vazio deixado pelo tempo. Hoje, muito mais do que ruínas, o maior vestígio do patrimônio deixado pela Matarazzo é este terreno e as memórias nele contidas. Se um dia lá houve um grande conglomerado, o que se vê atualmente desta antiga ocupação não são mais do que dois edifícios em estágio avançado de degradação. Para explicar o projeto divido-o em 10 espaços. espaços do parque 1. Entrada Cerâmica Matarazzo: Rua Perrela 2. Galpão Louças Cláudia e Corredor de Pilares 3. Teatro 4. Pavilhão de Eventos e Museu da Memória 5. Praça da Igreja Matriz Velha 6. Parede de Equipamentos de apoio ao Parque 7. Piscinas e acesso ao Cais Baixo 8. Cais Baixo 9. Gramado Vila Operária 10. Passeio Ribeirão dos Meninos 11. Estacionamento


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entrada cerâmica matarazzo: rua perrela  Alguns dos acessos tradicionais da fábrica são conservados para manter parte dos marcos simbólicos do Bairro Fundação. É o caso do portão de entrada da Cerâmica Matarazzo, onde será mantida a inscrição em seu topo. O acesso é livre: o portão se abre para definir uma das formas de chegar ao Parque.


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galpão louças cláudia e corredor dos pilares  São dois espaços que, por serem interligados, podem ser lidos como um só. O Galpão tem um sistema estrutural simples de viga-pilar. Seus numerosos pontos de apoio atribuem um ritmo interessante ao ambiente. Longitudinalmente, as extremidades são independentes da estrutura do miolo, conectadas apenas pela laje. Propõe-se a eliminação desta conexão, abrindo dois rasgos no meio do Galpão. Nestas aberturas estarão as escadas que levam ao andar superior que abriga uma área de estar com bancos e mesas. Na parte inferior estão o foyer, bilheteria do Teatro e um Café. Ambos os pavimentos do Galpão podem servir de espaço expositivo. O pavimento térreo tem dois elementos remanescentes do uso da fábrica que foram mantidos: dois fornos de cerâmica, com estrutura de alvenaria e dois trilhos de trem. O Corredor dos Pilares é definido não pela adição de materiais, mas pela retirada. É o que restou do desmonte de um dos galpões da Louças Cláudia. Os pilares e seguem o ritmo estrutural do Galpão. É um espaço de passagem, mas espera-se que a permanência dos pilares e vigas acrescente algo ao caminhar do transeunte. Este percurso encerra-se com pilares metálicos perfil “I” de alturas variadas, dispostos em um grid três vezes menor que o defindo pela estrutura da fábrica. A mudança na relação entre a altura e distancia entre pilares proporciona uma quebra, sinalizando um ponto final aos edifícios históricos.


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teatro  Juntamente com o Galpão e o caminho de pilares, o Teatro compõe o grupo de Edifícios que serão restaurados. A fachada é a única parte que permanece. O teatro é no formato arena com duas plateias e com o palco no centro. O segundo andar também pode ser utilizado, com assentos dispostos na perimetralmente.


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pavilhão de eventos e museu da memória  Os dois equipamentos estão localizados nos “fundos” do parque, conectados a um deck de madeira. A linha-limite do parque é desenhada por uma contenção de gabião de 1,5m de altura, que ao mesmo tempo que delineia este fim-de-linha, separa o Parque da linha da CPTM mantendo a sua visual. Sobre esta estrutura se apoia o deck. O Museu da Memória é um elemento vertical no Parque. Além dele, somente as chaminés atingem altura parecida. O Pavilhão de Eventos compõe com esta verticalidade. Dois monolitos. Um é de concreto, estéril e hermético, com portas metálicas de mesma tonalidade que, quando abertas, rompem a aparente dureza. O outro, em estrutura metálica com uma camada de tela perfurada, fechando o sólido, mas permitindo ver através dele, revelando o ritmo dado pela disposição desencontrada das escadas na fachada.


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Bom é o seguinte, no tempo da crise, nós, rapaziada, todos sem emprego onde é que nós íamos? Então pra se divertir, pra passar o tempo, íamos lá na igreja. E as moças que entravam as duas horas da tarde na Matarazzo, passavam em frente obrigatoriamente. E nós todos sentados em volta na entrada da igreja, sentados no chão, nós fazíamos disputa pra ver quem ganhava mais “boa tarde”. Cada moça que passasse e dissesse um boa tarde para essa pessoa então ele fazia um risquinho no chão. E nós conferíamos pra não sermos enganados. Eu nunca cheguei a vencer um torneio, eu sempre fui derrotado. E no fim nós somávamos, bom, quantos riscos? Cinco riscos, três riscos, dois riscos. Bom, você ganhou hoje, você é o campeão. Essa era a nossa diversão. Entre nós, parceiros a maioria já todos mortos, mas quem tinha mais conhecimento. Onde as moças moravam, quem tinha mais chego lá, ganhava vantagem. Agora, por exemplo,eu daqui de baixo da Fundação, só as da Fundação que me cumprimentavam, as de lá de cima não. Esse era um passatempo nosso. Disputavam um boa tarde, ia riscado na terra com palitinho. (Mero Mario Basso) 12

SOUZA, Adriana. Repensando o Espaço Matarazzo. Universidade Católica de Santos: Trabalho de Graduação Interdisciplinar. Orientador: Paulo Mello Bastos, 1995. 12


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Planta esquemรกtica da Praรงa


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praça da igreja matriz velha  Propõe-se a aplicação de um piso diferenciado dos demais do parque com a intenção de marcar este espaço — nó na ocupação da fábrica e agora ponto central do Parque. O piso é de saibro, de tonalidade amarelada. A Festa Italiana continuará sendo realizada nesta parte do parque, com a possibilidade de espalhar suas atividades também para outras áreas.


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parede de equipamentos de apoio ao parque  Abriga vestiários feminino e masculino, para visitantes e funcionários, copa, almoxarifado, posto da gcm (guarda civil metropolitana), e um bicicletário. Sua estrutura é composta por pilares metálicos (seção quadrada) e vigas metálicas (perfil “I”). A laje é em Steel Deck. Em sua cobertura estão dispostos bancos, criando mais uma área de estar. Uma arquibancada a conecta com o Parque.


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Nós íamos lavar roupa no rio mas tinha poço. Mas a água daqui era estragada. O Matarazzo, fizeram a fábrica e eles fizeram o esgoto para sair a água com o ácido, mas não fizeram de chumbo, era de cimento, e o cimento aquele ácido come, né? E penetrou... Aqui, de lá da esquina até lá pra baixo tinha água, mas não prestava. Você pegava a água para lavar a mão, a água... Se você lavava a cabeça, o cabelo ficava tudo grudado, de ácido. Um cheiro de ácido que só vendo. A água pra... até jogava água no chão, pra lavar, a água descia nem penetrava... Não podia usar. Só pra molhar a verdura e ainda molhar de manhã cedo, ou senão de noite, senão a verdura queimava tudo, do ácido. Então depois meus pais e todo o pessoal daqui foram reclamar na fábrica. Aí então eles fizeram, vieram examinar a água, veio engenheiro, tudo. Daí examinou a água e tinha não sei quanto de ácido. Um poço do meu pai que era um colosso de poço! Grande! Dava tanta água que só vendo. E a água não servia pra nada. Aí então o Matarazzo viu que tinha ácido mesmo, então ele falou “Olha, vocês vão pegar água ali” no refeitório lá. Tinha as torneiras e nós íamos buscar água lá. E tinha o meu tio que tinha um poço mais pra cima, aquela não tinha afetado. Pra lavar roupa, fazer as coisas, a gente ia busca lá e pra beber a gente ia buscar no Matarazzo. Todo dia de manhã ia com aqueles caldeirões, aqueles baldes, pra encher tudo de água. Ah... passamos uma vidinha boa, viu? E quando chovia, aquele barro! Era terra no chão. Ah, e buscar água, meu deus do ceu! A gente se enterrava até o joelho de barro. Mas uma vida boa, viu? Não achei tão ruim não. Já foi! O que passou, passou, né? Ali não era fábrica. Era tudo tanques de água do Matarazzo, que ia para a Seda. Era tudo aberto, tinha os filtros que filtravam a água para fazer a seda, viscoseda, que iam pra lá, ali na frente. Só uma parte era fábrica. (Helena Boteon) 13

SOUZA, Adriana. Repensando o Espaço Matarazzo. Universidade Católica de Santos: Trabalho de Graduação Interdisciplinar. Orientador: Paulo Mello Bastos, 1995. 13


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acima Montagem em cima de foto da Praça em Bordeau Le miroir d’eau. abaixo Plaza de la República, Mexico DF, 2011.


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piscinas e acesso ao cais baixo  Definem a área das “águas” do Parque. As piscinas pretendem-se monumentais, compondo com a extensa área pavimentada. As duas piscinas tem água limpa e apropriada para banho. Duas escadas definem o acesso às piscinas. A altura do buraco é 5 metros, remetendo aos antigos poços do bairro, através dos quais obtinha-se água potável. Ao redor das piscinas um sistema de vapor e jatos d’água mantém o piso sempre molhado. Três escadarias levam ao Cais Baixo, 6 metros abaixo da cota da praça. Também pode ser acessado através das escadas que estão incorporadas em seu muro limítrofe.


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cais baixo  Funciona como uma praia, com superfície dividida entre piso de concreto e de pedras. As pedras fazem a transição entre o Córrego dos Meninos e o pavimento de concreto. Sua permeabilidade é favorável nos períodos de cheia do rio. O Cais Baixo também ajuda a evitar as enchentes no bairro. Em situações aumento do nível do rio, fecham-se seus acessos e passa a atuar como um piscinão.


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gramado vila operária  Esta era a a área antigamente ocupada pelas Indústrias Químicas Matarazzo e, por isso, corresponde à porção do terreno que terá seu solo submetido a um processo de descontaminação. A terra contaminada será removida e será colocado um solo novo, que não ofereça riscos à saúde e ao ambiente. Após este processo, este espaço será definido por um grande gramado, uma chaminé que foi preservada, e as árvores existentes. É um uso que respeita a presença da antiga Vila Operária e estabelece uma relação não invasiva com os fundos destas casas.


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agradecimentos  Depois de um ano de imersão neste trabalho, não poderia finalizar o caderno sem agradecer aqueles que contribuiram nas diversas etapas do processo. À minha família. Meus pais, Virgínia e Aurelio, irmão, Thomaz, e avós, pela paciência nestes anos, apoio incondicional, e interesse pelo trabalho. À minha tia Maria, pelas longas conversas, relatos e histórias, essenciais para que eu me lembrasse constantemente da importância deste trabalho na minha vida. Às minhas queridas colegas de faculdade Marcela Ferreira, Luísa Fecchio, Natália Tanaka, Giselle Mendonça e Mariana Strassacapa. Fica difícil falar sobre pessoas que desde o início estiveram presentes, participando, ensinando e aprendendo junto, mas tenho certeza de que sem elas este trabalho não teria sido possível. Percorremos juntas estes últimos seis anos e, neste último, o trabalho cresceu e se materializou graças às nossas conversas. Aos demais colegas da fau e de tantas outras esferas da minha vida. Foram muitas as contribuições, sou muito grata a todos . Às equipes da rua Lira, 23 sul e soma arquitetos, por tudo. Ao meu orientador, Luís Antonio Jorge, pela cuidadosa orientação, incentivo e entusiasmo com o tema. À banca examinadora, por aceitar o convite e contribuir para a discussão.


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bibliografia básica MARTINS, José de Souza. A formação do espaço regional do Tijucuçu e de São Caetano. in: Raízes, #5: 4-17, julho de 1991. Prefeitura de São Caetano do Sul. __________. São Caetano do Sul em IV séculos de história (Ensaio Histórico). São Caetano do Sul, Rotary Club, 1957. MEDICI, Ademir. Migração e Urbanização. A presença de São Caetano na Região do ABC. Prefeitura de São Caetano do Sul, Hucitec, 1993. RAMOS, Adriana M. C. e SOUZA, Monica. Cotidiano e História em São Caetano do Sul. São Paulo: Hucitec, 1992. GARBELOTTO, Oscar. Cenas do Bairro da Ponte (1920 - 1940). in: Raízes, #6, janeiro 1992. Prefeitura de São Caetano do Sul. RODRIGUES, Mário Porfírio. A Maravilhosa Fábrica Rayon. in: Raízes, Julho 2002. Prefeitura de São Caetano do Sul. ZUMTHOR, Peter. Atmosferas. Portugal: Editorial Gustavo Gili, 2005 PEIXOTO, N. B. in: Arte/Cidade: A cidade e suas Histórias. Catálogo da Exposição, 1997 RILKE, Rainer Maria. Os cadernos de Malte Laurds Brigge. Novo Século, 2008. RULFO, Juan. Toda la Obra: Edición Critica. 2a edição; Madrid, Paris, Mexico, Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro, Lima, AALCA XX, 1996. DEBROISE, Olivier. Mathias Goeritz — Las timidas revoluciones. www.arte-mexico.com/ critica/od62.htm (tradução livre). OUROUSSOFF, Nicolai. A Forest of Pillars, Recalling the Unimaginable. The New York Times, 9 de maio de 2005 (tradução livre). SOUZA, Adriana. Repensando o Espaço Matarazzo. Universidade Católica de Santos:


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