Seguindo o fluxo Produção em HDV é a nova moda Pro para a turma do vídeo digital por José Francisco Neto Desde que surgiu no mercado, o formato HDV (vídeo de alta definição) tornou-se a maior atração para os produtores de vídeo e cinema de baixo custo. Nunca o famoso “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça” esteve tão acessível. Com o lançamento de câmeras cada vez mais baratas e eficientes por parte das gigantes da eletrônica, o HDV vem conquistando espaço nas produções de diferentes faixas. A combinação perfeita com o Final Cut Pro da Apple faz qualquer um sonhar em realizar seus próprios filmes. Anime-se, este sonho já é realidade para muita gente. Do ponto de vista da produção, este novo formato pode ser entendido como uma evolução do DV, já consagrado como o fluxo de trabalho mais eficiente e produtivo que se conheceu. A facilidade trazida pela união de equipamento e ambiente totalmente digitais foi o principal fator do grande salto de qualidade observado na produção audiovisual dos últimos anos – nada de ruído, nada de perdas, nada de ajustes técnicos. “Point-Shoot-Edit-Master”, como eles dizem lá. Vale acrescentar a esta conta o aumento exponencial de talentos que surgiram com a
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Cena com Monica Bellucci em “Os Irmãos Grimm”, da Europa Filmes. Nesta montagem, é possível perceber a diferença de resolução entre os padrões de vídeo e cinema digital.
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HDV
Gravação em cartão de memória. A Panasonic inaugurou, já há algum tempo, a nova fronteira do mercado de mídia com sua linha P2. Hoje com 8 GB, cada cartão é suficiente para 10 minutos de gravação DVCPRO HD ou 40 minutos de DV.
Bom, o HDV é o VHS do mundo HD. Foi desenvolvido para atingir o consumidor comum – aquele que grava as festinhas do filho. O quê? Você não grava? Acontece que as câmeras são tão interessantes e o vídeo de alta resolução impressiona tanto quem nunca viu HD que logo o formato se tornou o queridinho do produtor independente e hoje domina a cena “prosumer”. Grava imagem de 1440x1080 ou 1280x720 com amostragem 4:2:0, compressão MPEG-2 e 8 bits por pixel.
HDCAM É o formato-padrão da Sony para HD. Grava numa fita igualzinha à conhecida Betacam, imagem de 1440x1080 pixels com amostragem 3:1:1 a 140 Mbps, 8 bits por pixel. Como surgiu em meados de 1997, é mais fácil de encontrar produtoras com esse tipo de equipamento atuando no mercado.
HDCAM SR É o primo rico do HDCAM. Aceita amostragens 4:4:4 ou 4:2:2 em 440 Mbps ou até 880 Mbps gravando com um codec baseado no MPEG-4. Além disso, tem 10 ou 12 bits por pixel, tornando-se adequado para projetos de cinema digital.
D6 Da Thomsom, grava quase todos os padrões HD sem compressão. Precisa dizer mais?
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4:2:0 (Subamostragem de cor) Deve ser a mais misteriosa e difícil de explicar de todas as siglas. Simplificando bastante, representa a resolução de cor da imagem. O vídeo é dividido não em RGB, mas em componentes de cor YCrCb, em que o Y representa a parte “preto e branco” ou luminância. Cr e Cb carregam informações dos canais vermelho e azul. A correspondência é direta, 4:2:2 refere-se a YCrCb. Há diferentes siglas como 4:4:4, 4:2:2, 4:1:1, 4:2:0 etc. Quanto menor os números da direita, menor a resolução de cor e pior a imagem.
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CÂMERAS MAIS USADAS no After Effects 7. Mas, se realmente precisar exportar uma cena, crie um QuickTime Movie com o codec Animation ou PNG e lembre-se sempre de usar os botõezinhos Best Quality e Millions of Colors. A coisa mais legal do HDV no Final Cut é que tem vídeo em alta-resolução diretamente no monitor de trabalho (CinePreview) e a coisa mais chata é que não sai preview de HDV pelo Firewire, seja qual for a câmera que tenha. Ah, e uma coisa mais chata que havia esquecido. Na hora de masterizar em fita HDV, você é obrigado a usar o CONTROL + M, também chamado por aí de PRINT TO VIDEO e então aparece uma barrinha de render com uma nova tarefa “Conforming...” sem precisão nenhuma na estimativa de tempo restante. Só para deixar mais claro, comigo aconteceu certa vez numa Timeline de 10 minutos, aparecer 2 horas de conforming (melhor sair para uma pizza) mas levou só 6 minutos (cancela a pizza). Ah! Tem uma outra coisinha ainda mais chata que essa. A cada vez que acionar o CONTROL + M lá vem o tal do “Conforming...” outra vez.. É lamentável, mas se começar a ficar muito estressado, com dores de cabeça e no estômago, passo a infalível receita que um amigo enviou: consulta imediata a preços de equipamentos HDCAM, Avid e Discreet, ops, Autodesk. O alívio é imediato, embora não seja tratamento recomendado a cardiopatas. Se os sintomas persistirem, consulte seu médico. Uma das principais vantagens do Final Cut é ser extremamente adaptável aos diferentes gostos do usuário. Ele permite uma infinidade de maneiras de trabalhar e dá uma liberdade muito grande (para alguns, grande demais) ao editor para criar seu próprio fluxo de trabalho. Como o uso do HDV impõe certas restrições por dificultar determinados caminhos, recomenda-se um pouco de organização mas, principalmente, testes. Ninguém quer ficar perdendo tempo em conversões de formato desnecessárias. Se o projeto exige mesmo muitas conversões e efeitos, considere fazer o off-line em DV – algumas câmeras dão opção de saída DV ao material gravado em HDV – para decidir cenas, caminhos de composição etc. Não tenha preguiça e faça muitos testes para descobrir, dentro do seu fluxo de trabalho, o que deve evitar e de onde pode tirar proveito. E, sobretudo, não tenha medo. Editar em HDV é instigante e pode ser muito mais fácil do que você imagina.
FERRAMENTAS DE TRABALHO Sony HVR-Z1 Nas paradas de sucesso A Sony HVR-Z1 (US$ 4900 nos EUA) é a mais popular de todas, um verdadeiro sucesso comercial em todo o mundo. Vem recheada de menus com diferentes funções de ajuste de imagem, um bom visor ocular e um painel LDC articulável muito valioso. Para quem já trabalhou com as famosas PD-150 e 170, a adaptação é muito fácil. A lente (que não pode ser trocada) tem uma ótima grande-angular (4,5mm) Carl-Zeiss. Grava nos padrões SD (Standard Definition) 720x480 – 60i, 720x576 – 50i, podendo escolher entre 4:3, 16:9 anamórfico ou ainda 16:9 letterbox, e o formato de gravação pode ser DV ou DVCAM. A gravação no padrão HD (High Definition) é feita sempre em 16:9, nos formato HDV 1440x1080 – 50i ou 60i. Embora a quantidade de pixels na imagem seja apenas 1440x1080, a saída é corrigida pelo fator 1,333 entregando uma imagem compatível com o padrão HDTV 1920x1080. A câmera já possui um conversor interno que permite saída e entrada analógicas (Vídeo Composto ou S-Vídeo) e digitais (Firewire) em HDV ou DV – versatilidade a toda prova. Os seis “botões de usuário” são extremamente úteis para pré-configurações, que permitem a troca rápida de setup - como white-balance para luz interna e externa num plano-seqüência por exemplo. Outra grande ajuda da Sony foi instalar conectores de áudio profissionais XLR (conhecidos como Canon) para ligação de microfones ou mixers externos decentes, fundamentais para aqueles que (como eu) acham a captação de áudio mais importante e crítica que o vídeo.
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VÍDEO DIGITAL HD Mas, como não existe equipamento perfeito, vamos às deficiências. Talvez a mais importante seja que a Z1 é uma handycam e, como tal, não tem um bom balanceamento se usada no ombro. Isso pode causar certo desconforto em tomadas longas e pouca estabilidade (socorra-se na grande-angular). O shutter (obturador) é escalável mas não é progressivo. O CineFrame é um recurso que simula imagens 24 FPS progressivas gravadas com pull-down (como no telecine), o que seria fantástico se não destruísse a resolução da imagem. A Sony pisou na bola e fica a torcida para que crie um outro processamento nas versões futuras da câmera. Se precisar de imagens progressivas, a pós-produção é o melhor caminho. Umas das maiores dificuldades para captação em alta-definição, seja qual for a câmera ou formato escolhidos, é o foco. A resolução da imagem é tão alta que qualquer desvio de foco é percebido imediatamente em qualquer TV de tela grande. Mas, durante a gravação, nem sempre é possível carregar um monitor extra para verificá-lo. No painel LCD ou no viewfinder da câmera, é impossível certificar-se do foco. O jeito é apelar para o modo automático ou usar o valioso “Expanded Focus”, que amplia a imagem no visor, facilitando o ajuste. Um detalhe imperdoável: na Z1 ele não atua durante a gravação, só em Stand By. Outro ponto crucial é a duração da bateria e, neste, a Sony acertou, criando uma câmera de baixo consumo cuja bateria dura horas a fio – ninguém pode reclamar.
Canon XLH1 Filho de peixe, peixinho é Esta é a legítima herdeira da grande sensação das câmeras DV, a XL1 – só não se sabe ainda se, por ter vindo um pouco tarde no competitivo mercado de câmeras HDV, a nova XLH1 terá o mesmo sucesso de sua antecessora. Os pontos fortes ainda são os mesmos e bem conhecidos: boa ergonomia, desenho e lente espetaculares. As possibilidades de óptica que a Canon oferece são tentadoras, mas, no Brasil, o uso intensivo de objetivas diferenciadas não é uma tradição, infelizmente. Há outras surpresas interessantes, como a saída HD-SDI que entrega sinal 4:2:2 sem compressão direto da cabeça da câmera, antes de passar pela compressão HDV usada na gravação em fita. Isto faz dela uma opção atraente e de baixo custo para captação direta em outros formatos, ou mesmo para captação multicâmera com
ou sem um switcher HD-SDI, já que conta também com entrada de Genlock e Timecode para sincronização com outras câmeras do sistema – opções só encontradas em máquinas de outras categorias, muito mais caras. Através de opcional, pode gravar 50i, 60i, 24sf, 25sf ou 30sf. O “sf” significa “segmented frame” – a imagem é captada progressiva mas gravada entrelaçada normalmente na fita. O processamento interno da câmera para obter imagens progressivas tem suas qualidades (é melhor que o CineFrame da Z1), mas ainda não supera uma boa pós-produção. Conectores profissionais (BNC e XLR) e o belo desenho do corpo da câmera completam os atrativos. Os pontos fracos ficam por conta do visor (sempre ele) e do desbalanceamento (ele também) no ombro. É uma opção mais cara do que a Z1 (US$ 9000 nos EUA), mas quem precisa explorar a óptica e quer uma câmera pessoal, deve analisar a XLH1 com bastante carinho.
JVC GY-HD101 Lente intercambiável A JVC foi a pioneira nos lançamentos HDV e a GYHD101 (US$ 5000 nos EUA), e é uma aposta na crescente adoção do formato para trabalhos mais exigentes. A câmera adota o estilo “Shoulder Mount”, preferido dos cameramen profissionais e sofre do problema de balanceamento da maioria das câmeras leves. Porém, o uso de uma bateria maior na traseira resolve o problema. Item obrigatório aliás, já que a bateria original dura muito pouco. Boas surpresas são uma saída componente analógica HD 720p, que é uma opção econômica para monitoração HD em estúdio, e a possibilidade de armazenamento dos ajustes de usuário num SD
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CÂMERAS MAIS USADAS
CARD comum. Este é um recurso valiosíssimo em produções longas em que diferentes condições de iluminação se apresentam ao diretor de fotografia, que fica com o desafio de dar continuidade de cor às cenas na montagem. O desenho mais “robusto” do corpo da câmera é também um ponto forte quando o equipamento é usado com muita freqüência e por diferentes profissionais. Chaves, botões e conectores muito frágeis não resistem bem a condições extremas do dia-a-dia do jornalismo por exemplo. A lente que acompanha o modelo não impressiona, mas a grande vantagem desta câmera está justamente na possibilidade da troca. Para cada produção, pode-se alugar ou comprar lentes de qualidade superior e fazer a diferença (enorme) na qualidade técnica e estilo da imagem captada. É possível por exemplo, utilizar (com um adaptador) lentes de câmeras 35 mm e assim abusar de planos diferenciados e usar a profundidade de campo, aquele elemento dramático tão presente na estética cinematográfica quanto carente no vídeo. Falando em estética, a captação de imagens progressivas da GYHD101 é um grande diferencial sobre a Z1 da Sony, o que é uma vantagem quando se busca imagens próximas às do cinema.
Panasonic HVX200 Não é HDV mas tem preço de HDV Um verdadeiro frisson tomou conta do mercado com a chegada da HVX200 da Panasonic (US$ 5500 nos EUA), que concorre na mesma faixa de mercado das HDVs apresentadas aqui, mas grava no formato próprio DVCPRO HD, 25 ou 50. Este codec desenvolvido pela Panasonic há alguns anos é baseado nas rotinas DCT (Discreet Cosine Tranform), a mesma base da família MPEG, mas tem algumas vantagens importantes em
relação ao HDV. A taxa de compressão é menor no DVCPRO HD, resultando num fluxo de dados de 100 Mbps (Mega bits por segundo) contra 25 Mbps do HDV1080 e 19 Mbps do HDV720. Cada frame é comprimido individualmente, ao contrário dos GOPs do MPEG-2 usados no HDV (detalhes sobre o GOP mais adiante), e portanto menos suscetível a dropouts e mais eficiente na edição que não usa processador – melhor dizendo, o seu tempo – para reconstruir os frames intermediários. A amostragem de cor também é superior: 4:2:2 contra 4:2:0 do HDV, o que é indispensável para um bom chroma key. Obviamente, a desvantagem está no arquivo ocupar quatro vezes mais espaço em disco, um problema sério em muitas produções. A câmera tem provocado declarações apaixonadas de quem a usa e a imagem realmente é surpreendente para CCDs de 1/3 de polegada. O amor à primeira vista não é apenas pela resolução, mas
principalmente pela qualidade do processamento de cores (matrix). No passado, a Panasonic tinha em sua linha profissional uma matrix equivocada que resultava em cores artificiais, principalmente nos tons de vermelho. O problema foi sanado (provavelmente a custo de muito investimento e pesquisa) e o resultado é evidente na superioridade das cores da consagrada Varicam e confirmado para quem quiser comprovar na nova HVX200.
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