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I AM A revista I AM foi criada e pensada para que o homem homossexual se sinta bem informado, familiarizado e entretido, de forma inovadora e interativa, a cada página folheada. A I AM dispensa os apelos sexuais e clichês, mostrando que o homem homossexual tem muito mais a mostrar e a explorar. Nessa primeira edição, trazemos uma entrevista exclusiva com o ator e cantor Jared Leto sobre sua atuação no tão comentado filme “Clube de Compra Dallas” que lhe rendeu ao Oscar. A matéria “À margem da própria margem” conta como é a vida de homossexuais que já passaram dos 60 anos. Ainda quebrando tabus, falamos sobre o jogador de futebol, Robbie Rogers, que recentemente se assumiu gay e provocou discussões sobre homofobia no futebol. Além disso, a I AM apresenta em suas seções o melhor da cultura, moda, lifestyle, gastronomia e muito mais. Essa é a nossa promessa que fazemos à você, caro leitor. Receba as boas vindas da Família I AM.
E scola S uperior de P ropaganda e M arketing Graduação em Design com Habilitação em Comunicação Visual DSG 3AB - 2014/1
P rojeto
integrado das disciplinas
Projeto III (Cultura e Informação) Comunicação e Linguagem II Marketing II Produção Gráfica Módulo Cor e Percepção
Projeto editorial e gráfico
Marise de Chirico Regina Ferreira Silva Vivian Strehlau Antonio Celso Collaro Paula Csillag
André Keusseyan Juliana Paixão Nathalia Yuri Uchiyama Stephanie Ying Shu
TRANSARQUITETÔNICA
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42 ALL LOVE IS EQUAL
THE NORMAL HEART
SAME LOVE
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LOOKING
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LETTERS TO A G.I.
A homossexualidade masculina durante os anos da velhice
À MARGEM DA PRÓPRIA MARGEM
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THE NORMAL HEART
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As batalhas e vitórias diante o STF sobre a adoção por homossexuias
ADOÇÃO GAY
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LOOKING
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NOVAS OPÇÕES DE GÊNERO DO FACEBOOK
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UMA CRIANÇA QUE TEM MUITO A ENSINAR AOS ADULTOS
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O HOMEM QUE MUDOU SEUS PÉS
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Países onde a legalização do casamento entre pessoas de mesmo sexo foram aprovadas
CASAMENTO GAY NO MUNDO
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ROBBIE ROGERS
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Entrevista exclusiva com o ator e cantor Jared Leto sobre sua atuação em Clube de Compras Dallas
JARED LETO
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6 PERGUNTAS SOBRE OLEOSIDADE NA PELE
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POEMA VISUAL
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PARA SER ADMIRADA
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INVERNO É TEMPO DE FAZER EXERCÍCIO
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AGENDA
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COMIDA GAY?
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10 ALIMENTOS ESSENCIAS PARA SAÚDE
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RISOTO DE PÊRA COM GORGONZOLA
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HOMEM ÀVISTA
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COM PÉ NA ESTRADA
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OH, RICKY!
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A maior cidade da Austrália tem praias e piscinas onde a diversidade sexual dá o tom, além de muitas outras atrações.
SYDNEY, TÃO PERTO, TÃO LONGE
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GENTLEMAN’S ESSENTIALS
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COLUNA
UMA CRIANÇA QUE TEM MUITO A ENSINAR AOS ADULTOS Por Murilo Aguiar Ilustração por Vinícius Solera Tenho certeza que muitos pais se sentem desconfor- “Como você pode ver, os homossexuais devem ter o táveis na hora de falar com os filhos sobre os casais direito de se casar. Não devemos julgar a maneira gays. Eu mesmo já passei por isso com os meus. como as outras pessoas vivem. Porque se você fosse gay, não ia querer as pessoas te julgando”, Mas um aluno da quarta série do ensino funda- sentenciou o aluno, encerrando a sua argumenmental dos Estados Unidos mostrou que para as tação com convicção. crianças uma relação entre pessoas do mesmo sexo é bem fácil de entender. E por que não seria? Depois de publicada na rede social, a redação do aluno correu a internet, virou notícia em diverNuma redação postada na rede social Reddit, sos sites dos Estados Unidos e foi compartilhada esse aluno, que não teve seu nome divulgado, por milhares de pessoas. Muitas pessoas criticadefendeu o direito ao casamento para os casais ram os erros de gramática do jovem ‘advogado’ homossexuais com uma propriedade que muitos da causa gay. Mas obviamente que, diante da imadultos, devo admitir que inclusive eu, não tem. portância do gesto do menino, os escorregões no E com uma lógica graciosa que só as crianças pos- inglês dele se tornaram irrelevantes. suem a capacidade de demonstrar. Porque importante mesmo é a esperança que o Ele começou a redação sem rodeios, colocando gesto deste garoto representa para mim e para seu ponto de vista de maneira clara. “Por que os todos nós. A esperança que todas as crianças se gays devem ter o direito de casar? Porque você tornem mais parecidos como esse menino, e que não pode impedir dois adultos de se casarem só no futuro elas se tornem adultos tolerantes com porque isso te assusta. Supere isso. Você deve- as diferenças e avessos aos preconceitos. ria ficar feliz por eles, é um grande momento na vida deles”, escreveu o aluno. Assim, eu daria nota 10 para o menino!
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TECNOLOGIA
NOVAS OPÇÕES DE GÊNERO DO FACEBOOOK
DIVULGAÇÃO
Rede social libera usuário para definir gênero além de masculino e feminino somando mais de 50 opções
Sede em Menlo Park, na Califórnia, do Facebook, que liberou mudança nas configurações de gênero para seus usuários
Para quem escreveu a Bíblia, era fácil. Deus fez Adão e Eva – e pronto. A humanidade toda se restringia a dois sexos – ou “gêneros”, como preferem os puristas. Pois o mundo mudou, veio a libertação sexual, o feminismo, o casamento gay, até que apareceu o Facebook. E nem as mentes mais liberais e abertas para a diversidade da sexualidade humana estavam preparadas para isso. Recentemente, o Facebook lançou uma ferramenta para que usuários alterem seu gênero na rede social para mais de 50 opções diferentes – entre elas a opção de gênero personalizado – além de permitir que a própria rede social se refira a seu perfil de uma maneira “neutra”.
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“Para muita gente isso não significará nada, mas aos poucos, que serão impactados, significará o mundo” A novidade foi anunciada por meio da página Facebook Diversity, voltada a ações da empresa sobre diversidade racial, de gênero, e valerá por enquanto, segundo o site, somente para quem usa a versão do site em inglês e nos Estados Unidos. O Facebook Brasil diz que não há previsão para que as 50 novas opções de gênero estejam todas
disponíveis na versão em português do site – assu- DECISÃO BEM RECEBIDA mindo que, no Brasil, também seríamos igualmen- A decisão do Facebook foi bem recebida por diverte criativos nessa área do comportamento humano. sas organizações não-governamentais, tais como a Human Rights Campaign. “Nos últimos anos, o “Quando você acessa o Facebook para se conectar perfil de uma pessoa no Facebook tornou-se a sua com pessoas, causas e organização com que se identidade online, e agora o Facebook deu este importa, queremos que você se sinta confortável grande passo ao permitir a inúmeras pessoas que sendo quem realmente é”, escreveu a rede social. se representem mais honesta e rigorosamente”, afirmou o presidente Chad Griffin. “Uma importante parte disso é a expressão do gênero, especialmente quando isso se estende além Além disso, Masen Davis, o diretor-executivo do das definições de masculino e feminino. Por isso, Centro de Direito Transgênero de São Francisco, hoje nós estamos orgulhosos de oferecer uma nova aplaudiu a alteração “por tornar possível que as opção de customização de gênero para ajudar você pessoas sejam elas próprias online”. a expressar melhorar sua própria identidade no Facebook”, completou. “Para muita gente isso não significará nada, mas aos poucos, que serão impactados, significará Quem escolhe pelo gênero personalizável pode se- o mundo”, disse a engenheira Birelle Harrison, lecionar de que forma vai ser tratado em público: que trabalhou no projeto e passa ela mesma por no masculino (ele, seu), no feminino (ela, sua) ou uma transformação de gênero, de masculino a de forma neutra (ele, dele). feminino. Ela disse que optou por identificar-se pela nova opção transwoman, algo como “transEntre as 50 opções de gênero sexual disponíveis mulher”, traduzindo para o português. pela rede social, estão: Agênero, Bigênero, Duplo Espírito, Genderqueer, Gênero em Dúvida, Gêne- Segundo o Facebook, não houve oposição interna ro Não-conformista, Homem para Mulher (Male à introdução da nova possibilidade na rede social. to Female – MTF), Mulher para homem (Female to “De fato, não houve debate sobre possíveis implicaMale – FTM) e muitos outros. ções [negativas da capacidade]” disse Alex Schultz, diretor de crescimento no Facebook. Esse usuário poderá optar também a quem será exibida essa opção. “Nós reconhecemos que algu- “Era simples: não permitir que as pessoas expresmas pessoas enfrentam desafios ao compartilhar sassem algo tão fundamental não era muito legal, seu verdadeiro gênero com usuários e essa confi- então fizemos algo. Tomara que um mundo mais guração permitirá a elas expressarem-se de forma aberto e mais conectado possa, por extensão, se única”, informou a rede social no comunicado. tornar mais compreensivo e tolerante.”
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POLÍTICA
adoção
Três anos depois da decisão feita pelo Supremo Tribunal Federal, a adoção para casais homossexuais continua sendo um marco histórico para as vitórias legais do público LGBT. Por Ana Mello | Fotos por Rafael Wonder 16
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POLÍTICA
O
s casais homossexuais têm os mesmos direitos e deveres que a legislação brasileira já estabelece para os casais heterossexuais. A partir da decisão tomada em 2011 do Supremo Tribunal Federal (STF), o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo foi permitido e as uniões homoafetivas passaram a ser tratadas como um novo tipo de família. O julgamento do Supremo, que aprovou por unanimidade o reconhecimento legal da união homoafetiva, tornou praticamente automáticos os direitos que antes eram obtidos com dificuldades na Justiça e colocaram fim à discriminação legal dos homossexuais. “O reconhecimento, portanto, pelo tribunal, desses direitos, responde a um grupo de pessoas que durante longo tempo foram humilhadas, cujos direitos foram ignorados, cuja dignidade foi ofendida, cuja identidade foi denegada e cuja liberdade foi oprimida”, afirmou a ministra Ellen Gracie.
Pela decisão do Supremo, os homossexuais passaram a ter o direito de receber pensão alimentícia, ter acesso à herança de seu companheiro em caso de morte, ser incluídos como dependentes nos planos de saúde e o mais importante, dentre outros direitos, adotar filhos e registrá-los em seus nomes. As uniões homoafetivas foram colocadas com a decisão do tribunal ao lado dos três tipos de família já reconhecidos pela Constituição: a família convencional formada com o casamento, a família decorrente da união estável e a família formada, por exemplo, pela mãe solteira e seus filhos. E como entidade familiar, as uniões de pessoas do mesmo sexo passaram a merecer a mesma proteção do Estado.
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POLÍTICA
INTERESSE DA CRIANÇA O voto do ministro Luis Salomão, reafirmou o entendimento do tribunal de que, quando se trata de adoção, deve prevalecer sempre o que estiver no melhor interesse da criança. Nesse caso, o laudo da assistência social que recomendou a adoção.
“Não se pode perder de vista que tanto os casais homossexuais quanto os heterossexuais podem ter condutas que agridam a formação moral e psicológica do menor. Em tais casos, devem ser investigados indistintamente e comprovando-se a incapacidade, impedir a adoção”, acrescenta a advogada, Danielli Gomes Lamenha e Silva, que possui especialização em Direito Público.
Para Danielli, o princípio constitucional da igual“Não há lei que fale literalmente que os casais ho- dade já seria o suficiente para afastar qualquer moafetivos podem adotar. Se for interpretado que forma de discriminação quanto aos homossexuais. são pessoas capazes de serem postulantes da adoção “Toda criança tem o direito a participar de um independentemente da orientação sexual, o proces- núcleo familiar. A recusa à adoção de crianças e so é o mesmo. Ninguém vai deixar de adotar porque adolescentes por homossexuais deve estar fundaé separado, viúvo, solteiro, homossexual”, avaliou mentada em motivos reais e não em meras suposiFabiana Gadelha, do grupo de apoio Aconchego. ções. Negar a possibilidade de adoção entre pares Como explicou, é habilitar-se, como um outro pos- homossexuais é sublinhar o preconceito velado tulante qualquer, e passar pelos mesmos crivos. para com os diferentes”, finaliza a advogada.
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“TODA CRIANÇA TEM O DIREITO A PARTICIPAR DE UM NÚCLEO FAMILIAR. NEGAR A POSSIBILIDADE DE ADOÇÃO ENTRE PARES HOMOSSEXUAIS É SUBLINHAR O PRECONCEITO VELADO PARA COM OS DIFERENTES”
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COMPORTAMENTO
LETTER TO A G.I.
DIVULGAÇÃO
Carta de um soldado gay ao seu companheiro durante a II Guerra Mundial revela uma linda história de amor
Publicada pela primeira vez em setembro de 1961 pela revista ONE, uma revista pro-gay pioneira que começou a ser publicada em 1953, a carta original está na Biblioteca do Congresso dos EUA. Abaixo, ela se encontra traduzida ao português: Querido Dave, Esta carta é em memória do aniversário – 27 de outubro de 1943 quando o ouvi cantar pela primeira vez no Norte da África. Esta canção traz lembranças dos momentos mais felizes que já vivi: lembranças do show de um soldado das tropas americanas, cortinas feitas com tecido de dirigível, luminárias feitas a partir de latas de chocolate, ensaios que se prolongavam até tarde da noite… E um rapaz bonito, com uma voz de tenor maravilhosa. São memórias de uma noite chuvosa e dois soldados ensopados debaixo de uma árvore solitária na planície africana. Lembranças de uma noite fria e ventosa, em que nos metemos em um teatro para soldados e adormecemos em uma cobertura atrás dos bastidores, os dois, presos nos braços um do outro, e as lembranças do impacto causado ao acordar e ver que, milagrosamente, não tínhamos sido descobertos…
A carta de Keith foi escrita em ocasião do aniversário de Dave
Lembranças da felicidade de quando nos disseram que iríamos para casa e a devastação que sentimos quando soubemos que não iríamos juntos. A despedida calorosa na praia isolada sob o céu repleto de estrelas da noite africana e as Foi divulgada uma carta que traz luz à história lágrimas que não paravam de cair enquanto, no de amor entre dois soldados gays durante a 2ª cais, eu via seu comboio ir longe no horizonte. Guerra Mundial. O conteúdo contido na carta trouxe tanto impacto, que ela circulou em mi- Nós prometemos que estaríamos juntos novamenlhares de sites da internet, como o Huffington te m casa”, mas o destino sabia mais do que nós. Post, após ser publicada no portal Letters of Note. Nunca aconteceu. E assim, Dave, eu espero que, onde quer que você esteja, essas memórias sejam A singular e comovente carta de amor foi escri- tão preciosas para você como são para mim. ta pelo veterano Brian Keith a Dave, um outro soldado por quem Brian se apaixonou em 1943, Boa noite, durma bem, meu amor. quando se conheceram no Norte da África. Brian Keith
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ESPORTE
ROBBIE ROGERS Após assumir sua homossexualidade e abandonar o futebol, Robbie Rogers está de volta aos gramados. Por Felipe Portes | Fotos por Carlos Serrao
Rogers mantém a esperança de uma vaga na seleção americana para a Copa de 2014
Infelizmente, o futebol ainda é um esporte tremendamente machista, assim como outras modalidades com grande apelo. Nesse contexto, qualquer atleta que ameace assumir sua homossexualidade está correndo sérios riscos de boicote dos seus companheiros de profissão. Somado isso ao alto nível de intolerância do público, que ainda não parece estar preparado para lidar com o homossexualismo sem gerar uma segregação silenciosa ou desconforto, a atitude
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de se assumir (perceba que já há um erro grave ao ter de anunciar que tem uma opção que é absolutamente natural) torna-se uma decisão dificílima e ingrata a tomar. Sabendo de toda essa problemática, o meia americano Robbie Rogers anunciou em março deste ano que é homossexual. Com passagens pela grande seleção dos Estados Unidos,
“Acredito que quando envelhecemos, os tempos ficam cada vez mais aceitáveis. E eu queria voltar ao futebol, é o que amo”
O jogador tornou-se um verdadeiro símbolo de orgulho LGBT no mundo do futebol
o jogador de 25 anos afirmou que ainda não tinha nenhum problema grave de vestiário e que as lesões prejudicaram sua sequência dentro do futebol. Mas o medo de uma reação negativa por parte da torcida e dos companheiros minou o seu desejo de continuar vivendo disso.
e ressaltou o apoio recebido pelos jogadores do Galaxy. O próprio time executou um papel fundamental nessa volta de Rogers.
“As pessoas estão cada vez mais evoluindo, aceitando e amando. Essas outras coisas não são tão importantes para elas. Acredito que quando Aposentado temporariamente, o joga- envelhecemos, os tempos ficam mais dor Robbie voltou atrás e foi acolhi- aceitáveis. E eu queria voltar ao fudo pelo Los Angeles Galaxy, time do tebol, é o que amo”, diz Rogers. ídolo americano Landon Donovan. Ainda em maio foi anunciado que O mínimo que pode se esperar é ele estava treinando com a equipe que ele tenha o ambiente propício
para seguir fazendo o que lhe motiva. É otimista demais pensar que a mentalidade de todas as pessoas vai mudar em função da postura corajosa de Rogers, mas o progresso certamente foi grande. E no futuro talvez não seja preciso anunciar a homossexualidade como se ela fosse um problema. Rogers tem tudo para continuar vencendo essa luta contra o preconceito. Se for bem sucedido vai motivar outros atletas que conviviam com as mesmas inquietações que tinha quando não se sentia confortável para dizer isso nem aos seus familiares. Está mais do que na hora de abandonarmos essa resistência contra algo que nunca deveria ter sido combatido.
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MUNDO
CASAMENTO GAY NO MUNDO 26
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A onda da legalização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo avança pelo mundo. Assim, os casais homossexuais passam a ter os mesmos direitos legais que os parceiros heterossexuais, ao formalizarem a união Por Gustavo Carvalho | Fotos por Anders Kjondal
Além da Inglaterra e do País de Gales, mais 10 países já aprovaram o casamento igualitário nacionalmente: África do Sul, Argentina, Bélgica, França, Canadá, Dinamarca, Espanha, Holanda, Islândia, Noruega, Portugal, Uruguai, Nova Zelândia e por último, a Suécia, já garantem esse direito. Nos últimos anos, a regulamentação do casamento civil entre pessoas de mesmo sexo avançou bastante, apesar da forte oposição dos grupos conservadores ao redor do mundo. Desde 2001, quando a Holanda foi a pioneira a aprovar uma legislação deste tipo, outros países, como Canadá e Portugal, regulamentaram a união homossexual.
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MUNDO
Na França, depois de ser aprovada, no mês de abril, pelo Senado e pela Assembleia Nacional, a lei que permite a união entre os casais homossexuais foi considerada constitucional apenas no mês de julho. Com essa validação, esgotaram-se todos os recursos que poderiam ser apresentados pela oposição para barrar sua promulgação. A reforma era uma promessa do presidente socialista François Hollande, que provocou protestos nas ruas do país. A norma estende o direito à adoção A Nova Zelândia se tornou o pri- aos casais homossexuais. meiro país da região Ásia-Pacífico a aprovar o casamento homossexual em 17 de abril de 2013. O projeto de lei foi aprovado com 77 votos a favor e 44 contra, e envolveu três A Noruega foi o sexto país de todo leituras do processo iniciado em o mundo a autorizar o casamento 2012. A medida entrou em vigor em gay. Houve uma grande discussão em agosto do ano passado. torno do direito de mães lésbicas fazerem inseminação artificial. Com a aprovação da adoção de crianças por casais homossexuais, o governo decidiu autorizar a inseminação mediante algumas condições. Por exemplo, a identificação do doador do esperma, para que a criança tenha o direito de conhecer o pai biológico.
F NOR Z ARG L A Argentina aprovou o casamento gay em 2010. Com a aprovação, os casais homossexuais ganharam direito à herança e adoção e o Código Civil foi reformado - o termo “marido e mulher” foi trocado por “contraentes”. A proposta contou com o apoio do governo de Cristina Kirchner, mas foi combatida pelo ex-cardeal Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco. À época, o arcebispo de Buenos Aires considerou a lei “um ataque destrutivo ao plano de Deus”. Cristina defendeu a mudança, dizendo que os líderes católicos não reconheciam como a sociedade argentina se liberalizou.
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C A DIN S BEL
O casamento homossexual foi legalizado em todo o Canadá no dia 29 de junho de 2005 – algumas províncias já realizavam as cerimônias desde 2003, levando muitos casais gays norte-americanos a cruzar a fronteira para oficializar sua união.
O casamento igualitário foi oficializado na Dinamarca em junho de 2012. A adoção por casais homossexuais já era autorizada desde 2010.
Na Islândia, o casamento gay foi aprovado por unanimidade pelos 49 membros do Parlamento, em 2010. A lei também conta com o apoio da maioria da população de cerca de 315.000 habitantes. Após a medida entrar em vigor, a primeira-ministra Johanna Sigurdardottir oficializou a sua relação com a escritora Jonina Leosdottir.
O governo da Bélgica foi o segundo no mundo a autorizar o casamento homossexual, em 2003. A medida resultou numa reação do Vaticano, na tentativa de impedir que novos países legalizassem a união gay. Num documento de 12 páginas, o então cardeal Joseph Ratzinger considerou “imoral” a união entre homossexuais. Três anos mais tarde, casais do mesmo sexo passaram a ter direito de adotar crianças na Bélgica.
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MUNDO
Aprovada, em abril de 2012, pelo Congresso do Uruguai, a lei prevê que o matrimônio será “a união fixa entre duas pessoas de igual ou distinto sexo”. Nos últimos seis anos, o país legalizou a união civil de homossexuais - sem dar o status de casamento - e a adoção de crianças por todos os casais do mesmo sexo.
EUA GB
BR No Brasil, em 2011, o STF reconheceu, a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Os ministros consideraram que, mesmo sem menção no texto constitucional, os direitos civis de casais do mesmo sexo não poderiam ser negados. Em maio de 2013, o (CNJ) Conselho Nacional de Justiça aprovou uma resolução que proíbe os cartórios de se recusarem a realizar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e os obriga a aceitar os pedidos de conversão de união estáveis em casamentos. Até então, a concessão do direito ficava a critério de cada cartório e muitos casais precisavam levar seus pedidos à Justiça brasileira.
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RU
Nos Estados Unidos, o matrimônio entre gays já foi legalizado em 17 estados. Entre eles se encontram: Iowa, Nova Iorque, Vermont, Rhode Island, Havaí, Illinois, California, Washington, etc. Uma decisão tomada pela Suprema Corte também permitiu, efetivamente, o casamento gay na Califórnia. Esses estados admitiram uma forma de união civil que confere os mesmos direitos assegurados pelo casamento. O resto dos estados restringe o casamento a heterossexuais.
A união entre homossexuais foi legalizado em junho de 2013 em dois países que pertemcem à Grã-Bretanha: o País de Gales e a Inglaterra. A lei britânica apesar de aprovar cerimônias civil e religiosa, não obriga as organizações religiosas a realizar cerimônias de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Nos dois países, a união civil por pessoas do mesmo sexo já era permitida desde 2004. Está sendo estudado uma proposta sobre o tema na Escócia enquanto na Irlanda do Norte, não há planos.
Na Espanha, um grupo católico con-
seguiu colher 600.000 assinaturas para impedir a legalização do casamento homossexual. No entanto, o governo espanhol aprovou a lei somente em 2005. O conservador Partido Popular recorreu ao tribunal constitucional contra a medida, mas a investida fracassou e o casamento homossexual foi confirmado em novembro de 2012.
OR
SP
Em um continente onde alguns países punem as relações homossexuais, a África do Sul foi o primeiro a legalizar o casamento gay. A lei foi aprovada em novembro de 2006, dois anos depois de a Suprema Corte decidir favoravelmente a duas mulheres que haviam sido impedidas de oficioalizar a únião.
AF
SUE
Em Portugal, o presidente conservador Anibal Cavaco Silva só assinou a lei que autoriza o casamento homossexual após a Suprema Corte portuguesa rever o projeto apoiado pela maioria socialista de seu parlamento. No entanto, os casais ainda não têm direito à adoção
A Suécia já permitia a união civil entre pessoas do mesmo sexo desde a década de 1990 e autorizou a adoção de crianças por casais homossexuais em 2002. A legalização do casamento gay veio em abril de 2009.
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TV
LOOKING Nova série Looking é nova chance para a cena gay nas telas
DIVULGAÇÃO
Por Gabriel Perline
Quando Harvey Milk iniciou sua é um daqueles viciados em aplicaluta em prol da comunidade gay tivos e redes sociais de relacionana década de 1970, a cidade de São mentos, mas suas investidas não Francisco, na Califórnia, se tornou costumam render bons frutos. Dom o local onde o sonho da tal liber- (Murray Bartlett) é o mais velho do dade sexual – ainda oprimida em grupo e sofre com crise de idade muitos rincões do planeta – fosse pos- por estar prestes a completar 40 sível. Quase quarenta anos depois, anos e continuar solteiro. Já o asLooking, nova série da HBO, mostra pirante a artista Augustín (Frankie a cena atual do cartão-postal GLS J. Alvarez) é o único comprometido com a história de três amigos que da trinca, mas passa a questionar a vivem o drama que dá título à histó- existência da monogamia dentro do ria. E, com alguns baldes de água fria, universo gay ao se interessar ainda delatam os problemas do tal paraíso. mais por outros rapazes. Jonathan Groff interpreta Patrick em Looking, nova série da HBO. A extinta série Queer As Folk, pioneira ao retratar abertamente na TV O personagem central da série é o o universo gay, relacionamentos, proPatrick (Jonathan Groff), um desig- miscuidade, culto ao corpo, drogas ner de videogames de 29 anos que e sexo eram exibidos sem o menor não tem sorte no campo sentimen- pudor. Mas ela não se resumiu a isso. tal. Seu namoro mais longo durou Questões sociais e direitos civis dos pouco menos que cinco meses e ele homens homossexuais foram muito
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debatidos na realidade de cada um dos personagens. Mas tinham um pano de fundo sensível, mostrando o processo de aceitação e os problemas familiares e profissionais por conta da sexualidade. Em Looking, tudo isso já está bem resolvido. Patrick, Dom e o Augustín reconhecem perfeitamente quem são e a problemática, por hora, está centrada na procura por um companheiro. O primeiro episódio acerta ao apresentar logo de cara quem é quem na história. Patrick, que segue o perfil nerd e desajeitado, é bastante divertido. O rápido jogo de câmeras e os diálogos muito bem estruturados deram o dinamismo perfeito para a estreia. Porém, o capítulo seguinte é mais
arrastado, recheado de clichês e os 30 minutos pareceram durar muito mais. Os personagens apenas buscam sexo. Seus dramas pessoais não estão bem expostos e talvez nem ganhem espaço nas cenas que estão por vir. Mas o elenco é empenhado. Embora os protagonistas tenham encontrado o tom certo para dosar emoção e humor, quem sobressai é Lauren Weedman, intérprete de Doris, amiga e confidente de Dom, com suas boas tiradas e seu humor. Uma pena aparecer tão pouco. Jonathan Groff deu um ar angelical ao nerd Patrick, e também diverte com a falta de habilidade em causar boa impressão em seus primeiros encontros.
Looking já conquistou grande audiência nas telas brasileiras
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CINEMA
THE NORMAL HEART
DIVULGAÇÃO
Filme sobre a epidemia da AIDS entre a comunidade gay de Nova York dos anos 80.
O produtor executivo Ryan Murphy (do filme Comer, Rezar, Amar) é um dos nomes mais cotados da TV americana nos últimos anos para o sucesso. Agora, Murphy começa a reunir uma pequena lista de grandes atores para compor o elenco de seu novo filme, The Normal Heart. Julia Roberts, Alec Baldwin, Matt Bomer e Jim Parsons já se juntaram à Mark Ruffalo para estrelarem o filme, que vai adaptar a peça homônima sobre a epidemia de HIV/AIDS entre a comunidade gay de Nova York dos anos 80.
The Normal Heart tem previsão de estreia para o final deste ano
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“Estamos muito orgulhosos de estarmos envolvidos com este projeto monumental”, disse o presidente das programações da HBO, Michael Lombardo. “Ryan montou um elenco extraordinário para trazer a conquista histórica de Larry Kramer para a tela pela primeira vez, e nós não
poderíamos estar mais entusiasmados por trazer este filme à HBO.” Vale lembrar que Murphy é uma das pessoas mais bem sucedidas ao tratar a temática gay em Hollywood, principalmente em suas séries como Nip/Tuck, Glee e American Horror Story, todas bem-sucedidas.
Brookner, uma médica paraplégica que é uma das poucas profissionais de saúde em Nova York que levam o HIV a sério, sendo responsável pelo tratamento das primeiras vítimas da doença. Alec Baldwin (30 Rock) será o irmão de Ned Weeks, um advogado com dificuldade em lidar com a sexualidade do irmão ativista.
Contada sob a perspectiva do ativista Ned Weeks, um gay, judeu e fundador de uma firma de advocacia voltada para casos relacionados ao vírus HIV, que será vivido por Mark Ruffalo (Os Vingadores e De Repente 30), The Normal Heart se desenrola como um thriller político da vida real, que lança um olhar diferenciado sobre a política sexual de Nova York durante a crise de AIDS.
Taylor Kitsch (John Carter – Entre Dois Mundos) interpretará Bruce Niles, um não-assumido banqueiro de investimentos que acabará se tornando um grande ativista. Já Jim Parsons (Shelton de The Bing Bang Theory) reprisará o papel de Tommy Boatwright – o ator interpretou o mesmo personagem na adaptação da peça para a Broadway – um ativista gay do sul dos Estados Unidos.
Weeks testemunha em primeira mão a doença misteriosa que começou a ceifar as vidas de muitos em sua comunidade gay e, com isso, começa a buscar respostas. O ativista prefere confrontos públicos e de grande repercussão na mídia, às estratégias sutis de seus sócios, amigos e de Felix Turner, seu amante não assumido, interpretado por Matt Bomer. Repórter da seção de estilo do The New York Times, Felix Turner terá um relacionamento com Ned Weeks e, eventualmente, será diagnosticado como portador do vírus HIV, o que faz com que o casal comece a lutar por essa causa juntos. Julia Roberts (Uma Linda Mulher e Comer, Rezar, Amar) viverá Emma
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MÚSICA
SAME LOVE
DIVULGAÇÃO
Ao som da dupla Macklemore & Ryan Lewis, 34 casais homossexuais celebraram sua união matrimonial no momento mais emocionante do Grammy
A 56ª edição do Grammy trouxe uma surpresa para lá de especial para a comunidade LGBT em sua hora final. Durante a apresentação dos vencedores da categoria Artista Revelação, a dupla de rap Macklemore & Ryan Lewis, a plateia do Staples Center e os telespectadores de todo o Cercada de emoção, a apresentação levou os mundo puderam conferir uma emocianante ho- casais e também os artistas que estavam na plamenagem à diversidade sexual, que se deu com teia às lágrimas. As câmeras chegaram a flagrar um grande casamento coletivo de 34 casais. o cantor Keith Urban, marido de Nicole Kidman, Entre eles, casais formados por gays e lésbicas. visivelmente emocionado.
A união dos 34 casais foi a única bandeira política homossexual a ser erquida no palco do Grammy Awards
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O casameto teve como trilha sonora a canção Same Love (mesmo amor), cantada pela dupla de rappers. A música defende o respeito ao amor entre as pessoas do mesmo sexo e fala do tio de Lewis, que era homossexual. A apresentação de Same Love teve a participação mais do que especial da popstar Madonna, que cantou um trecho do seu hit Open Your Heart.
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A atriz e apresentadora Queen Latifah foi a responsável por comandar a cerimônia. “Quando nós dizemos que música une as pessoas, no Grammy nós levamos isso a sério. A canção Same Love, de Macklemore & Ryan Lewis, que ganhou diversos prêmios, é um hino de amor não só para alguns de nós, mas para todos. Essa noite nós celebramos o comprometimento com o amor através de alguns lindos casais”, discursou Latifah.
MESMO AMOR Quando estava na terceira série, eu achava que era gay Porque sabia desenhar e meu tio também era E eu mantinha meu quarto arrumado Disse a minha mãe com lagrimas escorrendo pelo meu rosto Ela disse “Ben você adora meninas Desde antes do pré, tá viajando” Sim, eu acho que ela tinha razão, não? Um monte de estereótipos na minha cabeça Lembro-me de fazer a matemática assim, “sim Eu sou bom em no campeanto infantil” Uma idéia preconcebida do que tudo significava Para aqueles que gostam do mesmo sexo Tinham as características Os conservadores de direita acham que é uma decisão E você pode ser curado com algum tratamento e religião Uma ligação de predisposição criada pelo homem Brincando de Deus Ah não, aqui vamos nós América, Os bravos ainda temem o que não conhecem E “Deus ama todos os seus filhos” É esquecido de alguma forma Mas, parafraseamos um livro escrito 3500 anos atrás Eu não sei {Refrão} E eu não posso mudar Mesmo se tentasse Mesmo se quisesse E eu não posso mudar Mesmo se tentasse Mesmo se quisesse Meu amor (x3) Ela me mantém quente (x4) Se eu fosse gay, acho que o hip-hop me odiaria Já leu os comentários do Youtube recentemente? “Cara, isso é gay” ocorre diariamente Ficamos tão insensívis ao que dizemos A cultura fundada na opressão No entanto, não os aceitamos Chamar uns aos outros de “bichas” atrás de um teclado De um painel de comentários Uma palavra enraizada no ódio
Ainda assim nosso gênero ignora “Gay” é sinônimo de “menor” É o mesmo ódio que causa guerras de religião Sexo à cor da pele, a complexidade do seu pigmento A mesma luta que levou as pessoas a andarem e sentarem É direitos humanos para todos, não há diferença! Viva e seja você mesmo Quando estava na igreja me ensinaram outra coisa Se você pregar ódio a missa Aquelas palavras não são ungidas Aquela água benta que você bebeu, foi envenenada Quando todo mundo está mais confortável Permanecendo calado Em vez de lutar pelos seres humanos Que tiveram seus direitos roubados Eu posso não ser o mesmo, mas isso não é importante Sem liberdade até sermos iguais, eu apoio isso Eu não sei {Refrão} Apertamos a tecla de “play”, não aperte o “pause” Progresso, marche diante Com o véu sobre nossos olhos Nós viramos as costas para a causa Até o dia em que os meus tios possam ser unidos pela lei Quando as crianças estiverem andando em volta Do corredor atormentados pela dor em seu coração Um mundo tão odioso alguns preferem morrer Do que ser o que eles são E um certificado em papel não vai resolver tudo Mas é uma maneira boa pra caramba pra começar Nenhuma lei vai nos mudar Temos que nos mudar Não importa o Deus em que acreditamos Viemos do mesmo Jogue fora o medo Por baixo disso tudo é o mesmo amor Já é hora de nos levantarmos {Refrão} O amor é paciente (Eu não estou chorando aos domingos) O amor é bom (Eu não estou chorando aos domingos)
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GASTRONOMIA
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ARTE & DESIGN
TRANSARQUITETÔNICA Nova instalação monumental, de Henrique Oliveira, manterá suas portas abertas até o final dezembro deste ano
DIVULGAÇÃO
Por Nina Rahe
Entre fevereiro e março, um amontoado de tapumes tomou conta da parte externa da nova sede do Museu de Arte Contemporânea da USP. Foram necessárias seis viagens de caminhão para descarregar o total de madeirite além de galhos de árvore. Também aportaram ali cerca de 500 mil parafusos, cem litros de cola e um total de oito quilômetros de tubo PVC – quase três vezes toda a extensão da avenida Paulista. Na área exterior, pouco se vê das muitas lascas de madeira. Quase todas já compõem a instalação Transarquitetônica, de Henrique Oliveira, 40. Parecem agora pinceladas sobrepondo-se.
O túnel de Henrique Oliveira impressiona qualquer um
Ao lado do trabalho monumental, que ocupa uma sala de 1.600 metros quadrados, o paulista e sua equipe parecem miniaturas. Foi preciso mais de 200.000 parafusos, dois meses, alvará de construção e permissão dos bombeiros para transformar o espaço nessa curiosa experiência. Inaugurado em abril, ficará aberto até novembro deste ano.
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ARTE & DESIGN
Para o artista, que hoje transita entre a pintura, a escultura e as obras tridimensionais, pouco se lembra do tempo em que só podia pintar telas de 1 m x 1,5 m, as únicas que cabiam dentro da pequena lavanderia da república onde vivia – o local que fazia às vezes de ateliê. “Agora estou com um pouco mais de espaço”, diz o artista, com “modéstia”.
O processo de construção de toda instalação durou um pouco mais de um mês apenas
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Por meio da instalação, Oliveira proporciona uma viagem temporal. Parte de um cubo branco, referencia ao ambiente expositivo e também à sede do MAC, projetada por Oscar Niemeyer, e o deteriora ao longo do trajeto. Serpenteando a série de colunas desenhadas pelo arquiteto, como que desviando de obstáculos, a Transarquitetônica não se configura como um
espaço de travessia, mas como um lugar, um percurso com múltiplas e infinitas possibilidades que termina onde começou. É um trabalho de arquitetura que reúne escultura e pintura, oferecendo estímulos diversos que o visitante recebe ao percorrer o trabalho. A entrada, com jeito de shopping center, é de um branco reluzente iluminado por lâmpadas frias. Logo na primeira curva se avistam tijolos sem reboco e, a cada passo, a precariedade aumenta. Paredes de pau a pique dão lugar a tapumes em passagens circulares cada vez mais estreitas com lâmpadas penduradas e fiação aparente. Um típico puxadinho brasileiro. “Queria fazer uma obra para ser vivida, que tivesse cheiro e som”, conta o artista É uma obra que reúne arquitetura, escultura e pintura. As estruturas de madeira assumem formas cada vez mais orgânicas e resultam em galhos
de árvores. Ao andar dentro ela, é como se o público começasse o percurso ainda dentro de um museu e terminasse diante da natureza. Pela dimensão, o projeto é o mais desafiador na carreira do paulista até agora. A infraestrutura de trabalho, no entanto, minimiza a empreitada: foram mais de vinte assistentes ajudando na montagem da instalação, todos os dias.
ARQUITETÔNICA MAC - Museu de Arte Contemporânea da USP (nova sede) Av. Pedro Álvares Cabral, 1301|Vila Mariana|São Paulo - SP| 04094-050
Foi ainda na graduação de comunicação e artes que Oliveira percebeu o uso da madeira como matéria-prima. Começou utilizando-a de suporte para as pinceladas, mas notou rápido que a superfície desgastada pelo tempo, com tantas irregularidades, poderia ser explorada por sua potencialidade plástica.
Horário de funcionamento: Ter.: 10h - 21h Qua. - dom.: 10h - 18 h Seg.: fechado (26/04 - 30/11)
Para Tadeu Chiarelli, curador da exposição e diretor do MAC USP, “Transarquitetônica recupera a dimensão narrativa presente em alguns trabalhos anteriores de Henrique Oliveira e, numa proporção que busca o épico, repropõe a fusão entre as mais diversas modalidades artísticas”. Quem percorre essa impressionante instalação, com certeza verá muito mais do que apenas uma estrutura cheia de galhos.
Entrada gratuita
Tel. (11) 2648-0254
saiba mais: www.henriqueoliveira.com
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ALL LOVE IS EQUAL Em sua mais nova série, Branden Summers rodou o mundo para provar que todo amor é igual Por Iran Giusti
Com o seu olhar de fotógrafo experiente, o nova-iorquino Braden Summers percebeu há alguns anos que os casais gays, diferentemente dos heterossexuais, raramente são retratados de maneira romântica pelo meios de comunicação e na publicidade. Na intenção de começar a reverter este cenário, ele resolveu criar o projeto All Love Is Equal, uma série de retratos de pares homossexuais em clima de romance.
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“Eu sou gay e senti uma responsabilidade social ao realizar este projeto. Sabia que era capaz como fotógrafo. Podia sentir ainda a energia potencial que a criação deste tipo de imagem, em várias culturas, pode ter numa escala global”, explica Summers à I AM. “A função desta série é tirar aquela imagem que é
Summers apostou no clima já existente entre os casais retratados
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extremamente sexualizada e vitimizada que as pessoas têm em relação aos LGBTs”, completa ele. Summers teve o insight para o projeto durante uma sessão de fotos nas ruas de Paris, onde estava registrando uma campanha publicitária. Na ocasião, o namorado do fotógrafo comentou que deveria haver um casal gay naquele cenário. “A partir disso, quis fazer uma série de fotografias icônicas em diferentes culturas em todo o mundo”, conta o americano, que com seu projeto passou pela própria Paris e também por Mumbai, Beirute, Johanesburgo, Nova York, Los Angeles e Rio de Janeiro. Para custear a série, Summers criou um projeto de financiamento coletivo no site Kickstarter. Ele conseguiu
O Brasil foi um dos primeiros países escolhidos, por sua diversidade cultural
arrecadar R$ 55 mil, R$ 3 mil a mais do valor inicial que havia projetado para visitar todas as cidades, que foram escolhidas para mostrar uma ampla diversidade cultural. “Eu queria cidades que representassem bem as culturas de cada país e lugares que passassem a sensação de algo incrivelmente global, com uma grandiosidade importante para a fantasia”, argumenta Summers. Para representar essa alegoria com ares cosmopolitas, Summers recrutou casais reais, mas também modelos profissionais. Aliás, ele não escondeu que usou critérios estéticos para escolher quem seria fotografado. “Eu quis focar a beleza para proporcionar uma grande fantasia, numa reminiscência icônica de tudo que temos visto ser pro-
tagonizada há muitas décadas por “Estive no Rio durante os meses de incasais heterossexuais nos cinemas e verno. E pude me vestir com um traje nos materiais publicitários”. de banho mínimo na praia, rodeado de pessoas lindas. O que poderia ser Todos estes critérios foram levados melhor que isso?”, recorda Summers. em conta na passagem de Summers pelo Brasil, na cidade escolhida por O fotógrafo de Nova York, que já ele, o Rio. “Foi o único lugar em que teve sob suas lentes astros como Jude o meu grande amigo e produtor Greg Law, Christopher Walken e Laura Jaroszewski não estava comigo para Linney, tem a ambição que o seu me ajudar”, relata o fotógrafo, mencio- trabalho influencie publicitários e nando um profissional com quem di- produtores culturais no mundo. vidiu a realização de All Love Is Equal. “Espero que a comunidade LGBT se Aproveitando uma folga no trabalho, torne cada vez mais comum em toda o fotógrafo realizou o desejo de sobre- a mídia no futuro”, almeja o fotógrafo, voar a Cidade Maravilhosa num voo acreditando que o preconceito tende de asa-delta. “Clichê? Sim, provavel- a diminuir na sociedade. “Nós não semente, mas era como um sonho”, ad- remos vistos como cidadãos de segunmite Summers, que como a maioria da classe e nem seremos mortos por dos visitantes vindos do hemisfério amar quem queremos amar”, projeta norte, se encantou com o sol exube- ele, que pretende continuar a série rante da cidade em pleno inverno. mais países ainda não definidos.
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À MARGEM DA PRÓPRIA MARGEM A homossexualidade masculina durante a velhice Por Marlon Dias | Fotos por Caio Li
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m 2008, Rafael Saar apostou na sim- A ideia deu origem ao delicado Depois de Tudo plicidade para compor um roteiro ci- (2008), curta-metragem vencedor dos prêmios de nematográfico que pudesse ser produzido melhor filme estrangeiro no Jornadas Argentinas em poucas semanas. Estava terminando de Cine y Video Independiente e melhor Roteiro o seu último ano do curso de Cinema da do Festival de Cinema da Diversidade Sexual de Universidade Federal Fluminense quando Fortaleza. O filme fala sobre a cumplicidade entre pensou em roteirizar a história de persona- dois amantes gays, interpretados pelos brasileiros gens identificados pelo ineditismo na repre- Nildo Parente e Ney Matogrosso, que se encontram sentação dramatúrgica até aquele momento: às escondidas, todas às noite, no apartamento os homossexuais com mais de 60 anos. de um dos personagens.
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O jovem diretor aposta em um roteiro contemporâneo que utiliza o recorte e não o todo. O cotidiano ganha força nas cenas em que os diálogos são escassos e despretensiosos. O casal janta, assiste ao filme “Quando voam as cegonhas”, transa e, no outro dia, despede-se. É uma narrativa sobre o encontro e a espera. Ao final, irrompe a voz de Gal Costa na mais perfeita interpretação de Lágrimas Negras. “E você, baby, vem, vai, vem”, repete a cantora, e é como se o verso resumisse a história de dois homens que ainda precisam, depois de tudo, viver em segredo o seu amor. Ao falar sobre uma relação afetiva madura com grande desprendimento, o filme de apenas 12 minutos consegue nos trazer importantes reflexões. A mais inquietante delas é “como vivem esses homossexuais que hoje estão com 60 anos ou mais?”. O filme causa estranhamento, justamente, por nos fazer questionar algo que muitos de nós jamais pensamos. Através da sutileza de sua narrativa, Saar apresenta o cotidiano de um casal de homens velhos que estão situados na invisibilidade. O envelhecimento dos homossexuais é um tema que, aos poucos, vem ocupando um significativo espaço em estudos acadêmicos, com pesquisadores interessado em conhecer as diferentes esferas que se relacionam com a temática, desde questões referentes ao corpo e ao sexo até discussões sobre as políticas públicas destinadas a essas pessoas. O sociólogo Murilo Peixoto da Mota, em seu artigo intitulado Homossexualidade e Envelhecimento: Algumas reflexões do campo da experiência, questiona algo bastante pertinente à nossa discussão e que tentamos refletir ao longo deste texto: afinal, “qual o lugar social dos velhos com práticas homossexuais
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nessa sociedade marcada pela ótica da vida jovem, pelo valor do individualismo, pelas políticas sociais mediadas pelo heterossexismo e pelo padrão de família que desvaloriza e renega todo os tipos de homossexualidade?”. O duplo estigma Os homossexuais que estão hoje com 60 anos viveram sua juventude e vida adulta em uma época de pouca tolerância, tempos mais perigosos e complicados quanto à garantia de sua liberdade e aos direitos humanos. Acostumados a omitir sua sexualidade, considerada desviante, esses homens “sujeitaram-se” à invisibilidade. Suas demonstrações afetivosexuais, tidas como pecaminosas e/ou imorais, deveriam ser mantidas em sigilo, caso contrário, corriam o risco de serem excluídos dos círculos de amizade e sofreriam, infelizmente, o escárnio da sociedade. Permanecer “dentro do armário” foi uma das poucas e únicas opções desses homens durante longos anos. Alguns deles, para seguir a ordem heteronormativa da sociedade, casaram-se, tiveram filhos, tornaram-se “pais de família”, mas mantiveram os encontros com outros homens em locais obscuros onde o que prevalece é o sigilo. O personagem de Ney Matogrosso, em Depois de Tudo, exemplifica isso, com a história de um homem que dá indícios de que é casado com uma mulher e, por isso, pede discrição quanto ao relacionamento extraconjugal e paciência ao companheiro para entender a escassez do tempo juntos e a intermitência dos encontros. Na contramão, temos o outro personagem, Nildo, que simboliza a vida de um homem solitário, sujeito às idas e vindas de seu amante. Essa solidão é uma característica de muitos homens que vivem sob o véu da invisibilidade na velhice. No caso dos homossexuais que não têm um companheiro, nem sua rede de relações de “antigamente”, tampouco família (seja por já estarem mortos, seja pela perda de contato em decorrência da não aceitação dos familiares), a terceira idade torna-se uma fase marcada por tristeza e reclusão. Para o pesquisador Guilherme Passamani, professor do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, o que pode conferir certa invisibilidade para a homossexualidade na velhice é “a própria dificuldade destes sujeitos com a sua homossexualidade, uma vez que eles são de épocas onde preconceitos e discriminações a esta orientação sexual eram muito mais contundentes”.
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Esses homens são duplamente estigmatizados, por serem velhos e por terem a chamada “sexualidade em desvio”. Quando chegam à terceira idade, passam a ser ignorados ou então rechaçados até mesmo dentro do próprio grupo de homossexuais, e não raro são apelidados com nomes pejorativos, assim como “tia velha” ou “velho tarado”. Desse modo, configuram-se como sujeitos que se encontram à margem da própria margem.
Ian McKellen (Senhor dos Anéis) e Derek Jacobi (O Discurso do Rei) estrelam juntos em Vicious, série sobre casal gay idoso
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Passamani, que se deparou com essa realidade enquanto realizava a pesquisa para o seu segundo livro, “Na Batida da Concha: Sociabilidades juvenis e homossexualidades reservadas no interior do Rio Grande do Sul” (Editora da UFSM, 2011). Para ele, é provável que seja um mecanismo de defesa da homofobia generalizada que existe na sociedade de hoje em dia. O perigo dessa segregação está na construção de um grande grupo marginalizado no interior da própria homossexualidade, com formas tão agressivas de marginalização quanto as que se têm na sociedade mais ampla. “Seria o mesmo que uma família de negros discriminar a filha negra porque nasceu com a pele um pouco mais clara, ou um pouco mais escura. Além disso, é desconsiderar, por exemplo, que o envelhecimento do corpo é um processo que atinge a todos”, conclui Passamani.
Quando se pensa na relação entre margem e centro, é importante perceber um e outro sempre em movimento. Há diversos pontos de referência que interferem em nossa percepção e o que pode ser o centro para um, pode ser visto como margem para Os corpos envelhecentes outro, e vice-versa. Importante fazer Obviamente, nem todos gays rechaçam o idoso. esse adendo quando se fala em ho- Passamani atenta para a possibilidade das remossexualidade na velhice. Ela ainda lações intergeracionais que envolvem trocas é, em nossa sociedade machista e hete- eróticas entre o homem mais novo e o mais rossexista, “malvista” por um número velho. O pesquisador acredita que “nem todo de pessoas bastante considerável. No o idoso está acabado, esperando a morte em entanto, depois de anos de luta do casa. Ele está no mercado das trocas eróticas, movimento LGBT, é inegável que as talvez não como nós vemos os mais jovens, causas ganharam visibilidade e que, mas este espaço começa a ser visível. As faaos poucos, os direitos civis básicos mosas salas de bate-papo são um bom exemsão concedidos a esses indivíduos. plo disso, além de saunas e clubes de sexo”. Todavia, ao se falar na figura do homossexual, temos comumente uma Há dez anos, o paulistano Ricardo Rocha imagem juvenil, sendo pouco vista Aguieiras, defensor da ideia de que todos a sua representação como um idoso. tem sua libido até o último suspiro de vida, vai à Parada do Orgulho Gay de São Paulo Porém, o grupo dos homossexuais sustentando um cartaz com os dizeres idosos não é o único grupo segrega- “Gays idosos também são (muito) gostodo, há ainda tantos outros.“Todas as sos!”. Cansado dos protestos que traziam categorias de homossexuais acabam apenas palavras de ordem e sem uma fechando-se em alguns guetos. So- ‘pitada’ de humor, Aguieiras resolveu bressai apenas o gay masculinizado, carregar uma bandeira que até então branco, de classe média, intelec- parecia rejeitada por muitos, inclusive tualizado e jovem. Ou seja, aquele pelos homossexuais. O ineditismo de sujeito que pode, muito facilmente, sua atitude trouxe para a pauta uma ser confundido com um garoto hete- discussão ainda frágil e rejeitada: rossexual qualquer”, afirma. a velhice homossexual.
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Aguieiras é escritor, dramaturgo, roteirista e militante do movimento LGBT. Integrou o Somos: Grupo de Libertação Homossexual, considerado o primeiro grupo gay brasileiro, formado em maio de 1978, na cidade de São Paulo. Nos últimos anos, tem se dedicado à luta em favor dos direitos e de políticas públicas que atendam aos homossexuais velhos. Para o escritor, é paradoxal a existência de uma glorificação da juventude em uma sociedade com um número cada vez maior de idosos. O pensamento de que o idoso, independente do exercício de sua sexualidade, é um ser inativo, que não serve mais para a sociedade regida pelo capitalismo, precisa ser revisto e urgentemente reformulado. “As pessoas têm que ser compreendidas em suas poéticas existenciais e pelo conhecimento que carregam, e não pela produção que gera lucro, dinheiro”, afirma Aguieiras. O escritor luta por uma causa que é sua também: aos 66 anos de idade, homossexual assumido desde sua juventude, sofria com a discriminação dos que achavam que era anormal ser gay. Hoje, ele afirma que o preconceito continua, mas que o fato dele ser velho potencializa os ataques. Aguieiras conta: “Quantas vezes eu vi ou soube de gays idosos ou que não tinham o corpo dentro da ditadura da estética exigida e imposta ou usando roupas que
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não eram de grife ou da moda sendo retirados da fila de boates e impedidos de entrar? Ou, quando conseguiram entrar, foram motivos de chacotas pelos mais jovens, malhados, sem camisa? O próprio termo ‘sarado’ já é profundamente preconceituoso, já que um corpo não malhado seria então ‘doente’. Quantas vezes vi promotores de boates em redutos gays como na Avenida Vieira de Carvalho, em Sampa, dando flyers de suas promoções e eventos só aos jovens que transitavam e não dando aos mais velhos? Eu namoro um rapaz de 19 anos e sei que sou visto como aberração ou ‘corruptor de menores’. Segregação gera solidão e solidão machuca, enlouquece, mata. Quero lutar por um mundo de amor e de inclusão, mesmo sendo utópico, é o que me impulsiona”. Aguieiras não está errado e esse fenômeno de rejeição a gays velhos é recorrente até também em outros países. Segundo uma pesquisa realizada em 2012, pela ONG inglesa Stonewall o preconceito e a falta de direitos civis acentuam as consequências do envelhecimento para os homossexuais. O estudo foi feito com gays, lésbicas, bissexuais e heterossexuais maiores de 55 anos no Reino Unido e revelou que 34% dos homens gays e bissexuais foram diagnosticados com depressão e 29% deles com ansiedade, o dobro em relação aos heterossexuais da mesma faixa etária. O estudo ainda apontou que o consumo de drogas, álcool e cigarro entre os homossexuais idosos é maior que entre os heterossexuais. A pesquisa realizada pela ONG Stonewall aborda ainda a discriminação que os homossexuais mais
idosos sofrem em postos de atendimento médico e em casas de recuperação ou asilos. Segundo os resultados apontados, a maioria dos profissionais que atendem esses idosos não tem treinamento necessário para lidar com a diversidade. Há relatos de homossexuais que, após contarem aos seus companheiros de casa sobre sua sexualidade, tiveram de ser colocados em outras alas do asilo, pois começaram a sofrer com os tristes desprezos dos demais. Para evitar essa situação, há outros tantos que resolvem silenciar sua condição. Esse silenciamento também influencia na ausência desses indivíduos em grupos de militância LGBT. No ano de 2010, a Associação da Parada de São Paulo ofereceu a Ricardo Aguieiras um trio elétrico para que pudesse reunir homossexuais idosos em prol de sua causa. Aguieiras conta que teve a maior dificuldade para levar os 30 convidados a que tinha direito. Só conseguiu amigos gays jovens, com uma ou outra exceção. “Gays idosos ainda não abraçaram a militância como deveriam. É uma luta bem árdua”, afirma ele. Sandro Ka, coordenador geral do grupo Somos de Porto Alegre (RS), acredita que a pouca presença de LGBT’s idosos é um reflexo cultural, em resposta aos preconceitos sociais relacionados às sexualidades diferentes da heterossexualidade. Sandro afirma que há uma parcela muita pequena de homossexuais idosos que procuram o grupo. Eles estão divididos entre aqueles que buscam informações jurídicas ou têm indagações sobre as práticas sexuais: que estão (re)descobrindo sua sexualidade ou saindo do armário agora.
Abertamente gays e ambos com 75 anos, McKellen e Jacobi são exemplos da homossexualidade durante a velhice
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O que se guarda, então, na memória dos chamados “invisíveis”? Desde os mais antigos tempos, os mais velhos eram os incumbidos da função de contar as histórias para que, assim, as tradições e legados de seu povo pudessem se perdurar. O velho era, então, o detentor das memórias do grupo. Ao longo dos séculos, o homem contou sua história com o intuito de algo de si continuar vivo. É assim até os dias de hoje. Para Passamani, a utilização da memória é importante, pois “é por meio dela que se pode ter acesso à vivências em tempos que não são os nossos e acompanhar a construção de cenários e perspectivas que desenharam os caminhos que a homossexualidade, por exemplo, percorreu”. O problema está quando não se tem registros da memória do grupo, não por sua inexistência, mas sim porque as lembranças não são verbalizadas. Do que se constituirá a memória de um sujeito que teve sua sexualidade reprimida e viveu sua juventude e vida adulta tendo que mascarar seus desejos e demonstrações afetivo-sexuais? Nos resta torcer pelo surgimento de iniciativas de jornalistas, escritores, cineastas, pesquisadores e quem mais se atrever a reportar a história desses
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homens que ocuparam o lugar da invisibilidade, da marginalidade e do esquecimento social durante uma vida inteira. Um bom exemplo de resgate da memória do grupo de homossexuais é o documentário Bailão (2009), com direção de Marcelo Caetano. As lembranças de uma geração são reavivadas através do depoimento de cinco homens que têm como ponto de convergência para suas histórias um Bailão em São Paulo, frequentado, principalmente, por homossexuais idosos. Cada depoimento ajuda a recompor o grande mosaico de histórias de vida de pessoas que carregam duplamente o peso da oposição ao projeto social da heteronormatividade jovial. São memórias de gays velhos que parecem ter pouca importância frente ao projeto da modernidade que exclui qualquer indivíduo percebido como empecilho ao seu desenvolvimento. Talvez seja mesmo no silêncio e no anonimato que esses sujeitos encontraram, até agora, um abrigo seguro, onde pudessem proteger a si e as suas – nem sempre felizes – lembranças.
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MODA
O HOMEM QUE MUDOU SEUS PÉS
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Diego Della Valle queria entender por que as pessoas se vestem mal nos dias de folga. E ficou bilionário com a resposta Por Harold Von Kursk
Diego Della Valle tinha 21 anos e um futuro no Direito quando encontrou uma forma de revolucionar a empresa de sapatos da família. Seu avô, um humilde artesão local, iniciara a tradição e seu pai transformara a loja herdada em uma produção de calçados de alta qualidade para Calvin Klein, Azzedine Alaïa e Neiman Marcus. “Meu pai começou o que hoje virou a Tod’s com dez pessoas”, lembra Della Valle. “Agora, há 5 mil funcionários”, diz ele, que é dono de uma fortuna de 1,2 bilhão de dólares e contabiliza, além da Tod’s, as linhas de moda Fay, Hogan e Roger Vivier, bem como participações da Piaggio, fabricante da Vespa; da Bialetti Moka, maior vendedor mundial de máquinas de café; da Marcolin, fabricante de óculos, e da americana Saks Fifth Avenue. Ah, e ele ainda é dono do time de futebol Fiorentina.
Della Valle estudava em Bolonha quando se deparou com um sapato de couro português que tinha elegantes no fim de semana, usando terno e grauma constelação de seixos de borracha (gommini, vata, nos Estados Unidos era totalmente diferente. em italiano) na sola. Os pontinhos buscavam dar “As pessoas tendiam a estar muito, muito relaxadas, aos motoristas mais aderência na hora de dirigir. o que nem sempre era de muito bom gosto. Minha Mas Della Valle percebeu como o tal solado poderia ideia foi: por que não fazer sapatos mais descontraíse destacar na moda, criando o icônico Gommino. dos, mas que também sejam elegantes?” Em viagens com seu pai, ele havia notado que, enquanto na Itália as pessoas tentavam estar sempre “O Gommino é um calçado
para quem gosta de caminhar, relaxar, viajar”
Além de muito estilo, o calçado traz conforto aos pés de quem o usa
Com o Gommino, largou a faculdade para se juntar aos negócios da família em 1975, e ficou bilionário. Hoje, a Tod’s produz 2 milhões de pares de sapatos por ano. “O Gommino ainda é nosso produto mais importante. Um sapato para as pessoas que gostam de caminhar, viajar, relaxar”, diz ele. “É importante para mim, manter a qualidade nativa da Itália. Acredito que os melhores artesãos do mundo são italianos e que você perde algo de sua identidade nacional se abandonar as tradições.” Por isso, ele insiste em fabricar 100% dos produtos Tod’s no país, sem terceirizar para fábricas asiáticas.
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EDITOR IAL
COM PÉ NA ESTRADA guarda roupa casual porém clássico em tom terroso trazem elegância e muito estilo para essa temporada
fotos por yu tsai
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Chapéu Henrik Vibskov Paletó camurça Burberry Calça Salvatore Ferragamo Sapato O’Keeffe
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Manga longa Armani Exchange Jaqueta Beams Encharpe Bottega Veneta Calรงa Top Man Sapato Nordstrom
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Óculos Hugo Boss Camiseta Sibling Jaqueta couro Golden Goose Calça Roberto Cavalli Sapato Tods’s
EDITOR IAL
Conjunto Alexander McQueen Sapato Grenson
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Óculos Gucci Sweater de lã Hermès Encharpe Diesel Calça Gianfranco Ferre Sapato Ali
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テ田ulos Michael Kors Jaqueta Peuterey Calテァa Ralph Lauren
Jaqueta PAUL SMITH Malha GUESS Calรงa FENDI
EDITOR IAL
Jaqueta Paul Smith Malha Guess Calรงa Fendi
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Fotos Yu Tsai Assist. de produção Manuel Salvador Colaboração Pontiac Styling Patrícia Parejo/ Riccardo Tisci Cabelo e Maquiagem Daniel Carvalho Modelo Adam Senn
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ESTILO
GENTLEMAN’S ESSENTIALS Neste mês, apostamos nos itens de couro, no charuto e naquela dose de whisky que ninguém resiste ao final de cada dia Foto por Christian de Araújo
Isqueiro prata
Cartier R$ 279
Câmera analógica Canon ae-1 R$ 499
Perfume
Giorgio Armani R$ 350
Loção pós-barba
D’oyot R$ 235
Moletom de malha
Burberry
Bolsa carteira couro
Ghurka
R$ 1559
R$ 3079
Relógio prata
Rolex
R$ 8760
Sapato de couro
Dolce & Gabanna
Carteira de couro
R$ 1335
Coach
R$ 675
Charuto robusto (un.) Whisky (mini)
Dalwhinnie R$ 59
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Cohiba R$ 195
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Homem à
VIS TA
Navegue em alto mar ou caia nas redes de Kaylan Morgan
Fotos por Yu Tsai
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SAÚDE
10 ALIMENTOS ESSENCIAS PARA A SAÚDE Do brócolis à maçã, passando pelos feijões, peixes e frutas vermelhas, descubra porque esses e outros alimentos não devem ficar de fora da sua dieta
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Peixes gordurosos
Frutas vermelhas
Nozes
Vegetais crucíferos
Feijões
Eles são ricos em ômega-3, que são gorduras essenciais e necessárias para a nossa saúde mas não são produzidas pelo corpo. Estes tipos de peixe (salmão, atum) são associados com com baixas taxas de depressão, doenças do coração e câncer. São tão importantes que a The American Heart Association recomenda que eles façam parte de nossa rotina pelo menos 2 vezes por semana.
Morangos, framboesas, amoras e mirtilos são uma das fontes mais potentes de todos antioxidantes. Seus fitoquímicos, incluindo antocianinas, catequinas, ácido elágico, quercetina, rutina e vitamina C ajudam a prevenir alguns tipos de câncer, infecções urinárias, doenças cardíacas e perda de memória.
Muito da gordura das nozes é monosaturada, um tipo de gordura saudável para o seu coração e que ajuda a reduzir o colesterol além do risco de diabetes e obesidade.
Repolho, brócolis, couve, couve-flor, couve de bruxelas, nabo, agrião, rabanete e a mostarda são também conhecidos como os vegetais crucíferos. Esses são ricos em vitaminas e minerais, além de serem boas fontes de fibras. Ainda ajudam a prevenir várias doenças, incluindo o câncer, por conta de seu alto conteúdo de glicosinolatos
Os feijões são como uma caixa-forte de nutrientes: poderosos em proteína, fibra, ferro, potássio, zinco e magnésio. Também estão associados a menor risco das doenças cardíacas.
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6 7 8 910 Maçã
Pesquisas sugerem que os antioxidants do chá podem prevenir cancer, doenças do coração e diabetes. Também pode ajudar a perder peso por fazer a gordura ser metabolizada com mais eficácia. Uma dica: esprema um pouco de limão em seu chá. Isso vai fazer com que seu corpo absorva 80% mais dos antioxidantes presentes no chá.
Maçãs contêm pectina, que tem demonstrado baixar o açúcar no sangue e os níveis de colesterol. As maçãs também têm Vit-C.
Cebola, alho, alhoporó e cebolinha ajudam a dar mais sabor aos pratos. Mas eles também são poderosos agentes contra muitas doenças. Estudos mostraram que esses vegetais reduzem o colesterol e a pressão alta.
Vegetais verdes
Espinafre, todos os tipos de alface, rúcula, brócolis, couve-flor, couve e o repolho são as maiores fontes concentradoras de nutrientes que você pode encontrar. São ricos em vitaminas, minerais e fibras e ainda contém luteína e zeaxantina, que são importantes para a saúde das células e dos olhos. Também ajudam na prevenção de alguns tipos de câncer, doenças cardíacas e o diabetes.
Alimentos com baixo teor de gordura de leite
Estudos mostraram que esses produtos ajudam a perder peso, particularmente na area abdominal. Adicionalmente, eles contém calico, potássio, fóforo e vitaminas A, D e B12.
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Chá
Vegetais da família do alho
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COR PO
INVERNO É TEMPO DE FAZER EXERCÍCIO Médico explica que doenças cardiovasculares podem aumentar no périodo mais frio do ano e é hora de retomar a cautela
O inverno está aí. Bate aquela preguiça da academia ou do exercício, saímos mais pra comer ou para ver aquele cineminha ou dvd em casa banhado a pipoca e outras besteiras. Fondue, pizza, chocolate quente, aproveitamos para comer alimentos ricos em gorduras e sal. É tempo de abusos e só na primavera é que a gente corre pra voltar à forma para o chamado “projeto verão”.
O alongamento é essencial até para as leves caminhadas
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Isso tá bem errado e o ideal é prestarmos ainda mais atenção, pois esse clima aumenta o risco de problemas cardiovasculares. Segundo estudo da American Heart Association, a queda da temperatura pode aumentar a incidência dessas doenças entre 20%
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“Com as temperaturas acima de 10° C, não é preciso alterar sua maneira de se exercitar, mas prestar ainda mais atenção ao aquecimento” a 25%.“Normalmente, as pessoas reduzem a atividade física no inverno, devido às temperaturas mais baixas e ao encurtamento dos dias.
Isso pode causar isquemia – falta de circulação nas artérias coronárias e até angina – um tipo de dor no peito. Se você já teve algum problema cardíaco ou histórico na família, deve redobrar a atenção no inverno.
nem perto do 0°C. Com as temperaturas acima de 10°C, não é preciso alterar sua maneira de se exercitar., mas prestar ainda mais atenção ao aquecimento”, afirma o médico. “É importante usar agasalhos que permitam que a pele possa transpirar livremente, evitando a elevação excessiva da temperatura corporal”.
Com isso, além dos alimentos consumidos no inverno, há tendência ao aumento do peso e colesterol”, explica Tá certo que o tempo frio não preo clínico e cardiologista Dr. Roberto cisa ser uma desculpa, já que você Maiolino também diz que a preferência deve ser Maiolino, da clínica Vita Check-Up pode frequentar uma academia e por atividades aeróbicas. A musculação deve ser Center, do Rio de Janeiro. “As baixas o ambiente é climatizado. Mas se feita preferencialmente após uma breve caminhada temperaturas podem chegar a causar prefere ou está acostumado a ativi- ou pedalada. Corrida, ciclismo, caminhada, natavasoconstrições no sistema vascular, au- dades ao ar livre ou a corrida – que ção e hidroginástica são as atividades ideais por mentando assim a tendência à elevação ganha cada vez mais adeptos – você produzirem vasodilatação das artérias. da pressão arterial”, diz Maiolino. precisa prestar atenção ao aqueci mento antes de começar o exercício. Além de não largar a mão do exercício e prestar O frio muda o calibre dos seus vasos “No Brasil não há grandes alterações atenção na alimentação, sempre é bom lembrar sanguíneos, o que reduz toda a cir- no sistema cardiovascular por conta que visitar regularmente o seu médico é sempre culação de sangue até seu coração. das temperaturas que não chegam válido, ainda mais se você faz exercício físico.
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BELEZA
6 PERGUNTAS SOBRE OLEOSIDADE NA PELE Cuidados básicos podem fazer toda a diferença durante o tratamento de pele oleosa Por Erik Paulussi
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Basta a temperatura aumentar e uma película bri- O que é? lhosa cobre seu corpo. Se você é homem, piorou: Esse fenômeno dérmico acontece com o escoamenpor causa dos hormônios, temos mais incidência to das glândulas sebáceas, que liberam partícude pele oleosa do que elas. Mas isso não é desculpa las nos poros da pele. “No calor, os poros dilatam para sentar no sol e esperar que alguém penteie mais e o sebo formado acaba se juntando com o o cabelo o utilizando como espelho. Por isso, pe- suor”, explica Ormiga. dimos à dermatologista Patrícia Ormiga, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, para Há riscos, além da questão estética? esclarecer algumas dúvidas sobre esse processo Além do aspecto “sujo”, a pele oleosa pode acarrenatural, porém desagradável, do corpo humano. tar em outros problemas como a dermatite, acne e até caspa, no caso do couro cabeludo. Alimentação pode influenciar? De acordo com estudos recentes, os carboidratos, principalmente os derivados de farinha branca e o leite desnatado, quando ingeridos, formam no organismo uma substância semelhante à insulina, que, por sua vez, estimula a produção de sebo pelas glândulas sebáceas. Controlar o consumo desses alimentos é mais uma medida que colabora para quem sofre com pele oleosa. Hidratante em excesso pode deixar a pele mais oleosa ainda? Qualquer creme oleoso vai, necessariamente, deixá-lo dessa forma. O hidratante não é diferente. Para quem sofre este tipo de problema, Patrícia recomenda usar loções corporais oil free. E os secativos? Famosos entre quem sofre com as acnes, estes produtos devem ser manuseados com cuidado. Devem ser usados apenas em casos extremos e, mesmo assim, apenas com acompanhamento médico.
Crie uma rotina de limpeza diária
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Como tratar? Há duas soluções para acabar com a pele oleosa. O mais indicado pelos médicos é trocar seu sabonete convencional por um que possua moléculas de substâncias que controlam a oleosidade. Uma outra solução é usar protetor solar com as mesmas propriedades – ele ainda o vai proteger contra a radiação emitida pelo sol.
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Listamos aqui 5 dos produtos mais recomendados pelos dermatologistas para serem utilizados durante o tratamento da pele oleosa. De boa qualidade e com preços acessíveis, são eles:
Effaclar – La Roche-Posay Com base vegetal, o sabonete tem um renovador celular para desobstruir os poros e esfoliar a pele. Preço: R$ 19,90
Capital Soleil Toque Seco – Vichy Em gel, combate a oleosidade e ainda protege contra o sol. Possui duas versões com fator de proteção 30 e 50. Preço: R$ 59,90
Normaderm – Vichy Seu principal composto é o ácido salicílico, ativo encarregado da limpeza de todo os tipos de pele. Preço: R$ 19,90
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Minesol Oil Control - RoC O produto possui partículas capazes de absorver substâncias da glândulas sebáceas até 2 horas após a aplicação. Preço: R$ 63,90 Actine – Darrow Extratos de Aloe vera e murumuru são os componentes-chave para a ação de corrigir a superhidratação. Preço: R$ 21,90
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UMA CONVERSA COM...
A premissa não é esperançosa: de adolescente atraente a vocalista de banda de rock que interpreta um travesti viciado em drogas e morrendo de Aids. Mas foi assim que Jared Leto ganhou um Globo de Ouro e é candidato ao Oscar com Clube de Compras Dallas. Como, perguntamos a ele, isso aconteceu? Por Peter Gardner | Fotos por Elizabeth Ylvis
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Os olhos dizem tudo. A vários passos de distância de rodeio e paciente de Aids que passou a cono azul brilha, de perto parecem diamantes cristali- trabandear drogas farmacêuticas para o Texas zados. E enquanto Jared Leto se posiciona na sua quando ele descobriu que elas funcionavam para frente, é o longo cabelo e um sorriso brilhante que melhorar seus sintomas. cativam. Isso deve ser a qualidade de uma estrela. Leto descreve Rayon, “Ela tem coração, charme, Mas é a qualidade de estrela Clooney–esca, não graça”, e muitos da comunidade LGBT diriam o de uma diva de Hollywood. Acolhedor, genial, ca- mesmo dele. Um filantropista famoso, ele arrecaloroso, sério, se não reservado. Não fechado, ape- dou fundos para o Centro de Gays e Lésbicas de nas reservado. Justo, esse é um artista na melhor Los Angeles e para a campanha contra a polêmica acepção da palavra. Seu currículo demonstra isso: Proposição 8 da Califórnia, uma iniciativa para televisão, filme (alguns art house, alguns indepen- reverter o julgado da Suprema Corte estadual que dentes, alguns sucessos de bilheteria), tanto dirigin- legalizou o casamento de pessoas do mesmo sexo. do como atuando. Ah, e vocalista de uma banda de Além disso, também participou abertamente de rock formada junto com o seu irmão mais velho um leilão online do cartaz Defend Equality, Love (Thirty Seconds to Mars) que já vendeu 10 milhões Unites, autografado por Shepard Fairey, apoiando de álbuns mundo afora. Esquecemos de perguntar o casamento gay, tornando-o único ao escrever as se ele fazia malabarismo, mas apostamos que sim. palavras previstas na Proposição 8 antes de por Estamos aqui para conversar sobre o drama bio- fogo nele. Ele então colocou as cinzas em uma urna gráfico aclamado pela crítica, Clube de Compra e escreveu: “Aqui jazem os restos da Proposição 8, Dallas, o primeiro filme de Leto em 6 anos (devi- que ela descanse em paz.” Em seguida, trocou mensagens com Barack do às turnês internacionais com a sua banda) no qual ele interpreta Rayon, um travesti viciado Obama após o presidente mostrar seu apoio ao em drogas e morrendo de Aids. “Desafio atrás de casamento gay, dizendo que “foi bom ouvir isso desafio atrás de desafio,” como ele mesmo descre- vindo do grande B”. Muito legal isso. Mas já sabiáve, mas um roteiro que oferecia “o papel de uma mos disso desde o momento em que o vimos como vida” para tentá-lo a voltar para a telona. Isso e Jordan Catalano em sua (e de Claire Danes) estreia uma posição ao lado de Matthew McConaughey, na série de TV My So Called Life, todos aqueles que estrelou como Ron Woodroof, um cowboy anosa atrás. Legal lá, aos 22; legal agora, aos 42.
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Até o presente momento você ganhou 30 prêmios por Clube de Compras Dallas. Você imaginava isso? Eu não quero parecer bobo, mas eu não fazia a menor ideia que eram tantos até alguém me falar agora. Quem sabia que havia 30 prêmios para se ganhar? Tem sido ótimo, maravilhoso aliás, mas não – você não imagina isso. Você vê um roteiro, reconhece-o como o papel de sua vida, se apaixona por ele e trabalha para evitar qualquer cliché ou estereótipo que o personagem possa ter. Foi um trabalho de amor. E os rumores sobre o Oscar? Eu juro que não estou pensando nisso, eu já fico feliz de estar falando sobre um filme, estrelando, aliás. Já faz um tempo e ainda me sinto um pouco estranho. Mas se realmente acontecesse, o que significaria? Eu te agradeceria, em primeiro lugar (risos). Não, eu nunca imaginei que estaria em um filme com esse tipo de repercussão. Eu, sinceramente, não planejava fazer um filme, ele levou 6 anos para vir até mim, levou 20 anos para arrecadar fundos necessários, e apenas 25 dias para filmar com um orçamento apertado. Então eu não sei o que significaria, nem como me sentiria se eu ganhasse o Oscar.
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Como foi voltar a atuar? Pela maior parte de 15 anos, eu estive na frente das câmeras e um pouco como diretor, então acho que essa pausa em atuar foi possivelmente a melhor coisa que eu podia ter feito, como ator. Foi quase como começar do zero novamente, em alguns aspectos, mas com mais confiança nas minhas escolhas e nos meus instintos. Acho que me tornei um ator melhor graças a esse intervalo. Esse retorno é definitivo? Vamos te ver fazendo mais filmes a partir de agora ou foi só um filme e você vai voltar para a banda? Esse é o ultimo filme que eu farei (risos). Não, quem sabe o que virá pela frente? Você atuou ao lado de Matthew McConaughey; como foi? Acho que ele foi um dos principais motivos de eu ter feito o filme. Eu pensei que se ele estava disposto a trilhar esse caminho, deveria se tratar de alguma coisa especial, deveria ter ouro nas montanhas, certo? E ele está obviamente fazendo escolhas interessantes, por natureza. Não há dúvidas que ele está alcançando uma fase que é muito desafiador e interessante. Ele está fazendo filmes inteligentes, escolhas inteligentes, mas ele é uma força a ser considerado.
E é meio cliché, mas é como jogar tênis. Não sou um ótimo jogador, mas provavelmente consigo devolver uma bola rebatida para mim. Provavelmente. Se você jogasse com Nadal ou Federer ou um desses caras, e eles tivessem se sentindo gentis ou caridosos, eles poderiam ajeitar a bola pra você e deixá-lo jogando por horas e horas. Os grandes atores como Matthew são assim também. Eles têm muito controle, então podem ajeitar a bola para você e tornar as coisas mais fáceis. Ele foi tão generoso e tão gentil. Estava trabalhando nesse projeto há muito tempo e acabou abrindo a porta para mim, o que foi realmente maravilhoso. Eu não tinha estado em um set há seis anos e Matthew fez isso ser tão mais fácil para mim.
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VOCÊ VÊ UM ROTEIRO, RECONHECE-O COMO O PAPEL DE SUA VIDA, SE APAIXONA POR ELE E TRABALHA PARA EVITAR QUALQUER CLICHÉ OU ESTEREÓTIPO QUE O PERSONAGEM POSSA TER. FOI UM TRABALHO DE AMOR
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Qual a parte mais difícil de atuar como um travesti? Tem coisas pequenas. Coisas técnicas como a voz e o andar e lembrando em uma cena de não virar do nada e falar “e aí cara?” (em uma voz grossa). Mas acho que na maior parte é o compromisso durante um longo período de tempo, isso é o mais difícil. Ás cinco da manhã você está coberto de um monte de maquiagem e perucas, sentado em uma cadeira de maquiagem faz horas e horas. É o comprometimento, a concentração e o foco, esse é o mais difícil. Às vezes, você quer tirar a peruca, sair andando, fugir e nunca mais voltar (risos). E você permaneceu caracterizado o filme todo? Permaneci. Como não permanecer? Como deixá-la? Você sempre fez isso? Já fiz isso um milhão de vezes, mas não para todos os filmes. Lembro de uma vez que trabalhei com David Fincher em Quarto de Pânico e eu, com certeza, não estava caracterizado o tempo todo para aquele filme. Foi uma filmagem muito longa e não achei necessário. Mas sim, eu tento ser o mais fiel possível ao personagem. Neste filme havia tantas características, tantos atributos que eram tão longe da minha realidade diária – a voz e os gestos são apenas dois exemplos. Então toda vez que a câmera cortava eu não podia simplesmente largar aquilo, e toda vez que dissessem “ação”, voltar e lembrar de tudo. Não funcionava desse jeito.
Você se saiu muito bem ao andar de salto alto, havia algo que você não se sentia confortável em fazer naquele papel? Claro. Sabe o que achei mais interessante? Como as pessoas me tratavam de fmaneira diferente, porque eu estava caracterizado o tempo todo. Isso nem sempre foi confortável, apesar de ser muito charmoso. Sempre achei interessante porque os homens mais durões e másculos eram os que me tratavam mais gentilmente (risos). Quer dizer, acho que depois de apenas dois dias, aos olhos deles, me tornei uma pessoa completamente diferente e tinha muitos “é por aqui, senhora” e me dando a mão quando saía da van. As pessoas cuidavam bem de mim e achava isso uma graça (risos). Foi mesmo uma graça ser uma mocinha delicada. Então como se diz adeus a um personagem depois que termina? Boa pergunta. É uma mistura de sentimentos porque, por um lado, você está dizendo adeus a uma enorme quantidade de trabalho e por outro, você também está voltando a ser você novamente. Existe uma história sobre a primeira mulher que velejou o mundo sozinha e perguntaram a ela qual havia sido a maior
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dificuldade da viagem. Ela respondeu que foi muito difícil voltar a por os pés na terra, pois já havia se acostumado a viver com o desafio. Eu me sinto um pouco assim. Sobre o seu peso. Você teve que chegar aos 52 quilos? Antes de mais nada, quero dizer a qualquer ator que não perca ou ganhe peso para conseguir um papel, não ao extremo isso é. Qualquer pessoa assistindo simplesmente não reconhece o quão prejudicial isso faz, ao corpo e à mente. Não tenho certeza que esse tipo de comprometimento aparece nas telas. Cheguei a pesar 51 quilos, após isso parei de contar. Perdi cerca de 13 quilos, mas não me importava nesse ponto. Já havia perdido peso para um filme antes, quando fiz Requiem for a Dream, e já cheguei a ganhar 27 quilos para um filme chamado 27 Capítulos, então eu tenho uma diferença de uns 40 quilos daquele filme e esse. Não foi nada legal. O interessante, porém, é como aquele peso perdido gera uma certa quantidade de fragilidade. Também afeta a maneira como você anda, fala, ri, respira e sua energia. É uma ótima ferramenta, para falar a verdade e ao
mesmo tempo é um compromisso do qual você não pode fugir. Então traz consigo um incrível foco. Uma vez voltei para casa no feriado de Ação de Graças, que é obviamente uma refeição imperdível e eu havia dito a mim mesmo que, nesse feriado, eu iria comer. Eu vou sair da dieta só por um dia e vou comer, que se dane (risos). Eu como comida saudável de qualquer jeito então estava ansioso pelo meu tofu (risos) e meu molho de cranberry e todo aquele recheio, amo esse prato. Chego em casa, estou com minha mãe, meu irmão, família, pronto para comer e percebo que não conseguiria cumprir com isso. Me senti muito culpado. Dei uma mordida e guardei o resto. Foi uma experiência e tanto, jamais esquecerei.
Você mencionou Capítulo 27 agora pouco, não fazia ideia que aquele cara enorme era você! E, para ser completamente honesto, esqueci, enquanto assistia este, que Rayon também era você (risos). Como você se sente quando alguém diz isso a você? Eu acho maravilhoso, um enorme elogio, aliás, gosto muito. Acho que eu prefiro muito mais que uma pessoa veja o personagem ao invés de mim. Me lembro desta história: Harrison Ford, em seu primeiro trabalho, atuou como um porteiro e após o filme, o estúdio o trouxe para uma visita na qual um rapaz lhe disse “eu não vejo uma estrela de cinema aqui, isso não é uma estrela de cinema.” E Harrison Ford respondeu “ótimo, você deveria ter visto um porteiro mesmo”. E eu achei isso muito legal.
É o comprometimento, a concentração e o foco, esse é o mais difícil. Às vezes, você só quer tirar a peruca, sair andando, fugir e nunca mais voltar
Penso dessa maneira: não seja uma estrela de cinema, e sim, seja o personagem do filme. Então o que te impediu de fazer um personagem em um filme durante todos esses anos? Minha banda: 30 Seconds to Mars. Estar nela foi talvez a coisa mais estranha que podia ter me acontecido, uma coisa impossível. Eu era um ator, apesar de sempre ter feito música desde pequeno. Agora toco música com meu irmão, Shannon, e tivemos muito sucesso, mais sucesso que eu sonhava em ter, se eu puder dizer isso sem parecer um idiota. E quando isso acontece, você não pode dizer não. Viajamos pelo mundo, tocamos desde a África até a Ásia até o Ártico e fizemos os maiores shows que poderíamos imaginar. Tocamos em festivais na Europa, às vezes para um público de 100,000 pessoas, e não tem como dizer não a isso. É muito fácil cinco ou seis anos voarem quando você está fazendo algo assim.
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O diretor de Clube de Compras Dallas, Jean Marc Vailée, disse que não havia música o suficiente no filme por causa do apertado orçamento. Mas não foi estranho não colocar a sua própria música nele? Não, é como a separação entre a igreja e o estado: você tem que mantê-los iguais e separados. Você vai voltar à música? Ainda estou aqui, ela ainda está aqui, nunca foi embora. Lançamos um álbum há alguns meses, chamado Love, Lust, Faith and Dreams, e acabamos de ganhar o prêmio da MTV pelo Melhor Clipe de Rock, o que mostra o quão pequeno aquele mundo se tornou. Não é uma parte tão grande da cultura pop, mas as coisas estão indo ótimas. Estamos lançando singles e logo estaremos fazendo tour ao redor do mundo novamente. A banda é fantástica e é muito bom poder viver nesses dois mundos e conseguir reconhecimento em cada área. Como você transforma atuação em música? Não acho que faço isso, a não ser, talvez, os vídeo clipes que fazemos. Fazemos clipes bem elaborados e tivemos muito sucesso com eles.
Sabe o que achei interessante? Como as pessoas me tratavam de maneira diferente, porque eu estava caracterizado o tempo todo. Isso nem sempre foi confortável, apesar de ser muito charmoso.
Naquele momento me senti mais confortável do que sinto durante a maioria das conversas em uma festa. Eu acho que isso é comum entre os artistas, para ser honesto. Mas aí estar no palco com uma banda é completamente diferente do que fazer um filme. Não há nuanças ou um roteiro a ser seguido. Estar no palco é tão notório, tão bombástico, é ser criativo no momento.
Você traz o seu lado de ator quando toca ao vivo no palco? Você não está sendo dirigido lá... Não, a diferença é que lá não existe a criação Não, é completamente o oposto. É estar desenfreado e livre. de um personagem. Você é quem você é. Aliás, Você nunca quer acertar sua marca. eu acho que no palco você é realmente quem você é, de uma certa maneira, até mais do que E nem no filme de Thirty Seconds to Mars, Artifact? quando você está tendo uma conversa a sós Definitivamente não (risos). É sobre uma batalha legal com com alguém. É muito íntimo. a nossa gravadora, EMI, e foi a série de obstáculos de negóTenho que dizer que me sinto mais conforcios mais difícil que você poderia imaginar. tável no palco. Já sentei no palco – e eu me Um processo de $30 milhões não é algo que você lida todo lembro disso muito bem – no London O2: show os dias, então eram tempos de pressão. Felizmente, resolvecom ingressos esgotados, 20000 pessoas, eu e mos as nossas diferenças, nos reunimos e seguimos em frente. meu violão, cercado pelos fãs, numa visão de Mas Artifact foi lançado mundialmente no iTunes logo antes 360°, com um único holofote sobre mim. do Natal. Vale a pena assistir. Todos os meus filmes (risos).
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DECOR AÇÃO
PARA SER ADMIRADA Residência de Carlos Tufvesson e André Piva, no Rio, junta conforto, sofisticação e referências do estilo de vida da dupla Por Renata Mendonça | Fotos por Daniela Darcoso
Apesar de somente Carlos ser fumante, André utilizou cinzeiros de modelos, cores e formatos variados
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Em 1998, o arquiteto André Piva e o estilista “A ideia sempre foi fazer um ‘loftzão’. Tudo por Carlos Tufvesson, repetiam o percurso das cami- aqui foi pensado. Cada detalhe, cada peça. Nada é nhadas todos os fins de semana por uma rua tran- por acaso”, diz Piva. A ampla sala com pé-direito quila do bairro do Humaitá, no Rio de Janeiro. altíssimo e janelas que estilo casa vão do chão ao Tinham cismado que por ali, um dia, encontra- teto trazem a claridade do Sol e também do luar. riam um terreno onde pudessem construir a casa Além disso, as cortinas claras e leves convivem de seus sonhos. Dois anos depois, ele surgiu. Era em perfeita harmonia com o sofá e a chaise long um terreno íngreme, mas a geografia irregular em couro preto e branco. só ajudou. André tirou proveito dela para construir, com a ajuda de Carlos, um dos projetos Apesar dos generosos sofás, Tufvesson prefere mais bem-sucedidos da sua vida. Ao passar pelo sentar no tapete de couro de vaca que fica sob a portão da casa de três andares que os dois divi- mesa de centro com uma coleção de cinzeiros e dem com a cadela Nikita, de 8 anos, a sensação livros, uma paixão da dupla. As publicações, que se tem é a de que o ambiente foi concebido aliás, estão espalhadas por toda casa. Atualmente, com a cara, o corpo e a alma dos moradores. Piva exibe com orgulho sua recente coleção de livros de Andy Warholl, adquirida pela interUm incenso aceso exala um aroma de vanilla net. Os volumes ficam cuidadosamente dispostos pelo ambiente claro, clean e chique. Projetada numa caixa móvel de madeira. para ser o “recanto” de Tufvesson e Piva, que vivem juntos há 15 anos, a casa não foi apenas Apaixonado por arte contemporânea, André defeita para ser habitada, mas também admirada. corou as paredes com quadros de artistas como
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“A ideia sempre foi fazer um ‘loftzão’. Tudo por aqui foi pensado. Cada detalhe, cada peça. Nada é por acaso” Lúcio Carvalho, Nelson Lerner e o Miguel Rio Branco. “Não cabe mais nada, mas gosto de me reciclar sempre”, explica Piva com o aval de Tufvesson, que apesar de apoiar as decisões do companheiro discorda um pouco do conceito do que é a arte moderna. “Uma vez fui a uma exposição e vi quatro pessoas olhando fascinados para um extintor de incêndio”, diverte-se o estilista, que diz já ter sofrido mais com as “mutações’ sofridas na casa. “Faço o tipo apegado”, conta Tufvesson, que só faz questão de manter intacta a cristaleira, presente de sua avó, Maria Luiza. “Ai dele se mexer com esse móvel”, brinca. Porém, o ar nostálgico da casa não vai além da peça herdada. Tudo ali exala muita modernidade, uma vez que Piva adora garimpar tendências e está sempreestá antenado. O arquiteto, porém, diz que anda tentando deixar a casa ainda mais
minimalista. “Já não tem mais espaço”, entrega. Ele confessa que quando faz um projeto tem a mania de comprar para si também as peças que mais gosta. A cadeira de papelão, do designer e arquiteto canadense Frank Gehry, que ocupa lugar de destaque na sala de jantar, é um exemplo. Na área externa, um deck com vista privilegiada para o Corcovado abriga uma pequena piscina e as tradicionais cadeiras brancas. O charme fica por conta do espelho fixado na parede esquerda da varanda, que reflete a imagem do Cristo Redentor. De dia ou de noite, a impressão é de que ela está ali também, sempre exposta, como mais uma joia da coleção.
Anfitriã de festas e reuniões de amigos do casal, a casa tornou-se mais do que um lar
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GASTRONOMIA
COMIDA GAY? Simon Doonan divide o mundo da gastronomia entre gay e hétero em seu novo livro Gay men don’t get fat Por Jeff Gordinier | Fotos por Greg Endries
Meu sanduíche transbordando queijo acaba de chegar e Simon Doonan me reprova: — Você tem que ficar alerta quando um panini vem em sua direção, porque eles contêm uma quantidade enorme de carne e queijo – diz o autor, humorista provocador e embaixador criativo da Barney’s New York. – Sanduíches não são tão pequenos quanto parecem. E há acompanhamentos como este guacamole com, quelle horreur, batatas fritas. Como se repudiasse um vampiro, Doonan segura seus talheres em forma de cruz.
Para Doonan, doces e sobremesas podem ser tanto héteros como gays, tudo depende de como são preparados
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Espere aí! Mas não dizem que o abacate é bom para a nossa pele? — Talvez, se você aplicá-lo diretamente sobre ela e não ingerí-lo, lógico! – diz. De qualquer modo, minhas batatas fritas estavam mais do que erradas. — Batatas gays são assadas. As hétero são fritas em imersão. Simples assim – conta Doonan.
Magro e cheio de energia aos 59 anos, ele dá seu melhor para me guiar entre os sabotadores de — Há uma quantidade letal de gordura no guacamo- dieta de um almoço nova-iorquino. Para ele, meu le – ele continua. – Uma amiga foi para o México e problema não é apenas a minha tendência para eu disse a ela que, caso fosse sequestrada, dissesse comer muito, mas o fato de comer como um heaos raptores: “nada de abacate!” Não se come isso terossexual. Se eu quiser emagrecer depois das enquanto está confinada ou ficará enorme! festas, devo tentar comer como um gay.
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Uma das ideias do livro de Doonan, Gay men don’t get fat, é que as opções gastronômicas do mundo podem ser divididas em duas categorias: gay e heterossexual. Procurar uma dieta capaz de equilibrar os dois pode ser a melhor maneira de ficar esbelto. Pense nisso, caso precise, como alimentação bissexual. — Misture – me ordena Doonan. – Nós gays não vivemos cortando o cardápio porque comemos apenas comida gay. De fato, Doonan selecionou o local de nosso tão aguardado jantar (o bar e grill Knickerbocker no Greenwich Village) pelo cardápio. — É uma ótima mistura de gay e hétero – ele diz, enquanto examina o menu. – Apenas a expressão salada de rúcula e você já sabe que há opções gays. Mas elas estão equilibradas com clássicos, como um bolo de carne moída feito com black angus que é o Burt Reynolds das comidas – ironiza. SALADA CAESAR É HÉTERO Comer com Doonan é como almoçar com o sobrinho-neto de Oscar Wilde. Satírico, ele usa estereótipos que circulam há 30 anos. Mas há momentos em que suas ideias sobre a orientação sexual da comida são úteis. Comida hétero, de acordo com ele, tende a ser pesada, cheia de proteína e gordura. — A comida britânica era ainda muito hétero quando eu era criança – diz. – Cozidos horrorosos e vegetais de cor cinza. Mas, felizmente, ela foi afrescalhada e ficou simplesmente incrível! Amo mais do que tudo nesse universo! Para ele, a comida gay é mais leve, bonita e colorida. Parece até ter direção de arte. — É mais decorativa e frívola. Não posso acreditar que um hétero que gosta de carne possa entrar
O humorista é o primeiro a dispensar as “mágicas” pílulas de dieta
em uma loja de macarons. Se quiser arruinar a carreira de qualquer político, basta apenas fotografá-lo comprando macarons – explica o humorista, que usa a palavra “lésbica” para descrever comidas saudáveis e da terra. — Azeite orgânico, mingau de aveia e gérmen de trigo – diz. – Uma fatia grossa de pão integral é ao mesmo tempo ferozmente lésbica e heterossexual.
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GASTRONOMIA
Durante o almoço, ele tenta me colocar longe das minhas previsíveis escolhas heterossexuais, me aconselhando a pedir uma salada. Pensei em começar com uma salada caesar, ele tremeu e, depois de um suspiro, disse: — A caesar é heterossexual, pois leva muitos ovos.
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Comida mexicana? É o máximo do máximo em — Hoje, todas as sobremesas têm sensibilidade gay. comida hétero. Sushi? Justo o oposto. Se você procurar por uma torta de maçã básica, não terá sorte – diz. — Comida japonesa é comida gay de verdade – brinca Doonan. – Fui a vários restaurantes no Ainda vasculhando o cardápio para mim, ele desJapão onde eles trazem uma melancia inteira cobre a torta do dia e pergunta ao garçom sobre recheada de gelo. No interior, uma pequena peça ela. Trata-se de uma mousse de capuccino com de sushi cor-de-rosa. Basicamente, pedaços de crosta de biscoito Oreo e creme. peixe são transformados em delicados bombons, e isso me parece excessivamente gay – diz. — Pensei que seriam peras orgânicas, levemente cozidas e com pouca gordura. Muitas das generalizações do livro têm a ver com os hábitos alimentares dos heterossexuais. Pergunto ao meu companheiro de almoço se ele terminaria a refeição com a tal torta. — Tenho amigos hétero e muitos deles estão com formas diferentes da minha, estão corpulentos. — Deus! – exclama Doonan. – Você está louco?
Em seguida, Doonan opta por uma salada da cor verde seguida por uma pequena tigela de sopa de feijões pretos. E se ele ficasse com fome depois? — Acredito muito em frutas secas. Figos, tâmaras e passas. Uma ou duas amêndoas, nunca várias. Sabe aqueles saquinhos com um mix de nozes que são oferecidos nos voos? Um hétero rasga e coloca tudo de uma só vez na boca – diz. SOBREMESAS SÃO SENSÍVEIS Fico surpreendido que ele tenha criado regras para os doces, considerando seu grau de autocontrole. — Deve haver uma sobremesa ideal para você no menu – ele diz, e começa a ler em voz alta. – Churros cobertos com canela e açúcar, servidos com doce de leite ou chocolate. Como se não fossem gordurosos o suficiente! – exclama.
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Simon jura que esta é a obra mais inapropriada e irreverente que já escreveu, no bom sentido, claro! Estilo manual de auto-ajuda, ela também discute o que vestir e como levar uma boa vida.
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RISOTO DE PÊRA COM GORGONZOLA
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Este risoto foi provavelmente o primeiro prato que eu posso honestamente dizer que veio de mim mesmo e não ‘emprestado’ de outro chef, menu, programa de TV ou livro de receitas. Tive a idéia para ele no trabalho, quando combinei queijo gorgonzola com finas fatias de pêra. Achei a mistura do salgado do queijo com o doce da pêra brilhante. - Jamie Oliver
1 xícara (chá) de arroz arborio 1 litro de caldo de galinha (aprox.) 3 peras descascadas, sem sementes e cortadas em cubos 4 colheres (sopa) de mel 80g de queijo gorgonzola esfarelado (mais alguns cubos para decorar) 1 cebola grande picadinha 2 colheres (sopa) de manteiga sem sal 2 colheres (sopa) de azeite 3/4 de xícara (chá) de vinho branco 2 dentes de alho picadinhos 1 talo de alho poró fatiado (ou salsão) Galhos de tomilho fresco Queijo parmesão a gosto Sal a gosto Pedaços de berinjela e cogumelo (opcional)
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Pré-aqueça o forno em 200º. Coloque os pedaços de pera numa assadeira e regue com o mel, leve para assar por 15 a 20 min, ou até que as peras estejam douradas. Retire do forno e reserve. Aqueça o caldo de galinha e mantenha-o bem quente durante o preparo do risoto. Em outra panela coloque metade da manteiga e o azeite e refogue em fogo baixo a cebola, o alho e o alho poró até que estejam macios. Aumente o fogo e adicione o arroz, mexendo por 1 minuto sem deixar grudar na panela. Regue com o vinho branco e mexa; a seguir acrescente uma concha de caldo, uma pitada de sal e continue mexendo e acrescentando o caldo, uma concha de cada vez. Este processo não levará mais que minutos até que o arroz esteja al dente. Junte o queijo gorgonzola esfarelado, as peras já frias, mexa para o queijo desmanchar e tire a panela do fogo. Adicione a manteiga restante, queijo parmesão a gosto (use-o para ajustar o sal do seu risoto) e mexa bem. Tampe a panela e deixe o risoto descansar por 2 minutos para que incorpore todos os sabores e ganhe cremosidade. Decore com as folhas de tomilho, cubos de gorgonzola e pedaços de berinjela e cogumelo se quiser. Por fim, regue com azeite e estará pronta para ser servido logo em seguida.
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Bela como o Rio de Janeiro e gay-friendly como São Francisco, a maior cidade da Austrália tem praias e piscinas onde a diversidade sexual dá o tom, mais de dez bairros gays e uma vida noturna de dar muita inveja Por Mauricio Oliveira | Fotos por James Merona
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Maior cidade da Austrália, Sydney A perspectiva de Sydney a partir do tem vários motivos para sua comu- oceano, porém, é tão singular quanto nidade LGBT se orgulhar. Afinal, o nosso Rio de Janeiro. Planejada, a são mais de dez distritos, dentro cidade é um exemplo de preservação da área urbana, onde a diversida- ambiental e sabe tirar proveito – sem de sexual dá o tom. A começar pela destruir – de cada parcela de terra, céu Oxford Street, que, de tanta fama, e água que tem disponível. Dois dos mese tornou um dos principais pontos lhores locais para observar essa comturísticos da cidade. binação única são a Harbour Bridge, uma ponte que cruza a entrada do Acostumados a comparações, os aus- porto, e a Opera House, construída no tralianos costumam dizer que a cida- centro da baía e principal símbolo arde é tão GLS quanto São Francisco. quitetônico de Sydney. Será? Além da infinidade de bairros gays, a cidade também é sede do maior carnaval gay do planeta – o Mardi Gras – que chegou a seu 36º aniversário, neste ano e promete ainda mais atrações para a próxima edição, que acontece em março de 2015.
A Harbour Bridge, sobre a Baía de Sydney, liga o centro financeiro de Sydney com a costa norte, residencial e comercial
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Outra comparação comum entre os locais – chamados Sydneysiders – é afirmar que, no quesito belezas naturais, a única metrópole no planeta a sua altura é o Rio de Janeiro. O relevo das duas cidades é incomparável, afinal, a rival australiana também é beira-mar, mas situa-se em uma baía recortada por suaves escarpas onde o clima subtropical oferece uma paisagem distinta da carioca.
Mas se os visuais que se tem da cidade a partir do oceano são singulares, a vista que se tem da metrópole, a partir do topo da Sydney Tower, é de tirar o fôlego. Com 305 metros de altura, a torre é a maior edificação da cidade e oferece 360 graus de vista para os inesquecíveis conjuntos que definem a cidade: belas construções, muito verde, um céu quase sempre sem nuvens e o mar azul. Dali, é possível entender mais um pouco da geografia gay da metrópole. A Opera House (à esquerda) e a Sydney Tower (acima) são dois simbolos icônicos da cidade
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Gay-friendly, o bairro de Paddington concentra cafés e lojas de todos os tipos
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BAIRROS GAYS A Oxford Street, rua que divide os bairros de Darlinghurst e Surry Hill, é o centro da cultura gay de Sydney desde a década de 1960. Ali se encontram os cafés e lojas onde durante o dia a As meninas, aliás, também são resbandeira do arco-íris flameja livremente. E onde ponsáveis pelo clima friendly de durante a noite, clubes e bares fervilham. Nos úl- outro dos principais redutos GLS timos dez anos, a famosa rua perdeu o clima de da cidade: Newtown. Elas foram as gueto, acolhendo cada vez mais simpatizantes. E a primeiras a ocupar o imenso subúrcomunidade se expandiu para outras regiões. Um bio de grandes sobrados com jardins exemplo disso são os redutos de Potts Point e de bem cuidados. Os rapazes, porém, Elizabeth Bay, que reúnem os adeptos da cultura descobriram também as vantagens das label e pool parties. Há uma explicação para de viver de maneira tão bucólica, e, essa concentração de festas ao ar livre: além de atualmente, o bairro rivaliza com estar ao lado de Kings Cross, principal bairro boê- Darlinghurst e Surry Hill pelo título mio de Sydney, as duas vizinhanças têm a melhor de centro gay da cidade. vista para a zona portuária da cidade australiana. Não longe dali está Erskinville, um Ao norte da Oxford Street está Paddington, o outro núcleo com jeitão de condomíbairro dos gays endinheirados de Sydney. A uns nio, mas com predominância homospoucos passos da praia, sua cobiçada orla reúne sexual. De volta à área central, há uma colorida miscelânea de antigos casarões em o bairro de Redfern, que até pouco estilo vitoriano, todos com janelões e terraços tempo era um dos mais perigosos e voltados para o mar. Ali perto, mas do lado do in- insalubres da cidade. Mas, devido à terior, está outro bairro imperdível: Leichhardt. sua localização privilegiada combiE não é à toa que a vizinhança ocupada original- nada aos baixos aluguéis, foi adotamente por imigrantes da Itália é conhecida como do há alguns anos por artistas, o que Dykeheart: as lésbicas dominam a área e convi- tornou a região uma das mais gays vem em perfeita harmonia com a comunidade e descoladas da metrópole, com galeitaliana, suas cantinas e suas cafeterias. rias, ateliês e cafés demais da conta.
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G O imperdível clube The Midnight Shift promete uma noite inesquecível
NOITE ECLÉTICA 324, Newtown). Buscando um tradicional bar de Além da ferveção praiana, Sydney ofe- lésbicas? Então vá ao The Sly Fox (Enmore Road, rece uma infinidade de opções de diver- 199, Enmore). Se prefere uma noitada com shows são noturna como bares e restaurantes, de drags e muita afetação, então o bar Stonewall boates e pubs. Oxford Street é o centro (Oxford Street, 175) é boa opção de destino. E se da cena gay local, mas outras áreas de a noite já está terminando e você não sabe para Darlinghurst, bem como Paddington onde ir, então o The Colombian (Oxford Street, e Newtown, reúnem também diversos esq. Crown Street) pode ser a sua salvação. outros points GLS da cidade. Há muitos clubes na cidade, mas os mais recomenSe você pretende começar sua noi- dáveis são o The Midnight Shift (Oxford Street, te em um local realmente fervido e 85), um ícone com mais de 25 anos de existência, hype, então você tem duas opções: o e o Arq (Flinders Street, 16 – Taylor Square), onde Slide (Oxford Street, 41) ou também invariavelmente todos tiram as camisas ou camiseo bar do Bank Hotel (King Street, tas em algum momento da noite.
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Há mais de 30 anos, o Mardi Gras de Sydney tem feito história para o público LGBT de todo o mundo
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MARDI GRAS: MUITO ALÉM DE UM CARNAVAL GLS Imagine um festival nos moldes do Carnaval brasileiro, mas organizado por gays e lésbicas e voltado para celebração e diversão da comunidade. Esse evento existe: recebe o nome de Mardi Gras e acontece há mais de 30 anos durante o verão, em Sydney. Principal manifestação pública de rua da Austrália e um dos mais concorridos eventos do calendário LGBT mundial, o Mardi Gras é mais do que um carnaval ou uma parada gay. É um festival que dura quase um mês e inclui mais de 100 eventos sociais, esportivos e artísticos.
e os muitos curiosos são inevitavelmente envolvidos pelo turbilhão de lantejoulas e plumas, pelas paródias e sátiras, pelo orgulho e política que fazem do festival um evento único e acolhedor. Os dias quentes do final de verão de Sydney, combinados com as duas semanas vibrantes do festival do Mardi Gras, provaram ser uma ótima combinação para os visitantes estrangeiros nos últimos anos. E mais, a diversão não acaba no desfile, com milhares de pessoas fazendo a festa até o amanhecer na festa oficial do Mardi Gras.
A programação inclui o Mardi Gras Film Festival, shows de arte, música, Um grande destaque do evento é o teatro e apresentações de artistas namundialmente famoso Desfile Mardi cionais e internacionais. Além disso, Gras pela Oxford Street, no bairro o festival se concentra na beleza naDarlinghurst de Sydney, completo tural e nas atrações de Sydney, com com aproximadamente 10.000 parti- eventos realizados desde o Taronga cipantes, carros exuberantes e fanta- Zoo até Manly e Bondi Beach e o sias coloridas. Visitantes de primeira Luna Park, cobrindo a maioria das viagem, visitantes frequentes, par- famosas praias e muitos dos vários ticipantes do desfile, espectadores bairros centrais de Sydney.
CLIMA DE RESORT E existem as praias de Sydney. Se há um quesito, aliás, em que a cidade se assemelha realmente ao Rio de Janeiro é a mistura de vida urbana com um clima de resort. A diferença é que Sydney tem mais de 37 praias, a maioria com núcleos onde a comunidade gay confraterniza nos dias de calor. Próximas ao vitoriano bairro de Paddington, se encontram as duas faixas da orla onde a frequência de gays e lésbicas é predominante. Uma delas é North Bondi, a mais famosa da cidade, com bastante azaração durante o dia e um constante clima de competição das mais belas sungas e biquínis. A outra é Tamarama, também conhecida como a Glamarama, onde o flerte é mais descarado, rolando desde o fim da tarde até a hora em que o último aventureiro desejar. Outras faixas onde gays e lésbicas predominam são Obelisk e Lady Jane. A diferença, porém, é que elas são frequentadas pelos adeptos do naturismo, ou seja, por aqueles que preferem rolar totalmente nus na areia, antes de mergulhar no mar (também sem roupa de banho). Mas já que a idéia de rolar na areia não agrada a todos, Sydney também se abre para o lazer aquático em clubes públicos com piscinas, onde a frequência gay é
P Usuários da North Sydney Olympic Pool têm direito à vista da Harbour Bridge
também notável. A maior e a mais tradicional de todas é a Andrew “Boy” Charlton, mas é da North Sydney Olympic Pool que se tem a vista mais estonteante da Harbour Bridge e da Opera House. E existe a Redleaf Pool, situada sobre uma colina à beira-mar e rodeada por arbustos onde os mais animados se reúnem para piqueniques.
Na parasidíaca praia de North Bondi faz sol e onda o ano todo
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PER FIL
OH, RICKY!
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Simpatia, estilo, voz sensual, bom pai, orgulho LGBT e latin lover: o astro porto-riquenho tem todas as características para ser o parceiro dos seus sonhos
Durante sua vinda ao Brasil, Ricky disse ter se identificado muito com o povo brasileiro
Está entre nós o partidão gay famoso mais cobiçado seu relacionamento com Carlos González Abella, do momento. O astro Ricky Martin veio ao Brasil, com quem teve dois filhos. mais especificamente ao Rio, para gravar um clipe da música Vida, que será tema da Copa do Velho conhecido do público brasileiro, fazendo Mundo de 2014. Aos 43 anos e no auge de sua be- sucesso desde que era um jovem integrante do leza, o cantor porto-riquenho está exibindo pela grupo Menudo, Ricky começou a vida em frente orla carioca a sua boa forma invejável. Ricky está às câmeras com apenas cinco anos de idade, trasolteiro desde o início do ano, quando terminou balhando como modelo infantil. Em quase 40
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anos de carreira, também já participou como ator em novelas no México e nos Estados Unidos. Além de protagonizar musicais na Broadway. Sem falar, obviamente, na milionária carreira solo de cantor, com os hits Livin’ la Vida Loca, Maria e La Copa de la Vida, entre outros.
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Fora do armário desde 2010, Ricky namorou a apresentadora de televisão mexicana Rebecca de Alba. Entre idas e vindas, os dois ficaram juntos por 14 anos. O relacionamento acabou em 2005. Mas deixando no passado este passado hétero do astro, vamos falar do que interessa: os 9 motivos que tornam Ricky Martin um partidão.
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tadas ao corpo. Ele também arrasa nas ocasiões informais, ficando chique até de calça de moletom. Uma das grifes mais presentes em seu closet é a italiana Giorgio Armani.
QUARENTÃO COM CORPO DE 20 Vamos começar logo pelo motivo mais óbvio. Com recém-completados 43 anos, Ricky está na sua melhor forma e com um corpão invejável. O físico em dia é garantido com musculação e treino aeróbico com aulas de dança zumba. NÃO É SÓ UM CORPINHO Ricky não cuida só do corpo, mas também da alma. Espiritualizado, ele é adepto da filosofia budista e se diz ser aberto a todas as religiões. Para manter o foco e a concentração, o cantor também pratica exercícios diários de yoga.
100% GAY PRIDE Desde que saiu do armário, o cantor se tornou um ativista na luta dos direitos da comunidade gay. “Me sinto abençoado por ser quem eu sou”, declarou ele, ao se assumir em 2010. Além disso, Ricky também é um ferrenho defensor da aprovação do casamento homossexual. ESTILOSO ATÉ DE MOLETOM Quem tiver a sorte de namorar o astro não corre o risco de passar vergonha com o figurino dele. Nos eventos mais formais, Ricky veste ternos bem cortados, com peças sequinhas e bem ajus-
REQUEBRA SIM Um dos talentos mais famosos de Ricky é o seu requebrado, que ele exibe com perfeição em seus clipes e shows. Tudo a ver com as raízes latinas do moço, essa característica garante que o cantor seja o melhor parceiro de dança que existe. SHOW PARTICULAR Não vamos esquecer do principal talento artístico do muso latino: a voz. O repertório dele inclui músicas dançantes, que abusam da sensualidade, mas também canções românticas para derreter o mais duro dos corações.
SORRISO E SIMPATIA Entre os fãs de todo o mundo, Ricky tem a fama de simpático e atencioso com todos que o abordam. Fugindo da linha antipático e inatingível que muitos artistas adotam, o cantor não perde a oportunidade de mostrar o seu belo sorriso.
PAPAI MODELO Ricky também é o candidato ideal para quem tem o sonho de encarar a paternidade. Pai dos fofíssimos gêmeos Valentino e Matteo, de cinco anos, o cantor é pura dedicação com seus filhotes. “Meus filhos vão comigo para onde quer que eu vá”, revelou ele, entrevista no ano passado ao programa da apresentadora Ellen DeGeneres. LATIN LOVER Por último, mas não menos importante, entra o sex appeal do nosso porto-riquenho favorito. Mesmo discreto sobre sua vida sexual, Ricky faz o melhor estilo latin lover, derramando sensualidade por onde quer que passa. Nem vamos falar muito, você pode bem imaginar como funciona esse talento do astro. Oh, Ricky!
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AGENDA
CLUBES
D-EDGE
LIONS NIGHTCLUB
YACHT
O clube está na lista dos melhores clubes do mundo e favorito dos amantes de música eletrônica. Às sextas acontece a festa Freak Chic, que acolhe um público diverso e cheio de atitude pra muita jogação.
Um dos mais elegantes clubes de São Paulo recebe todas às sextas a festa Ultralions (parceria com os organizadores da Ultralounge). Por lá, dominam os que estão com a academia em dia, pra ouvir muita música pop.
O clube é atualmente a melhor casa dos hipsters gays de São Paulo. Às quartas rola a festa [lux], comandada pelo lendário Johnny Luxo. Também queridinha do público moderno, a Shout acontece os sábados.
Endereço Alameda Olga, 170, São Paulo – SP, 01155–040 Horário Seg., qui., sex. e sáb.: 00h até o útlimo cliente Ter., quar. e dom.: fechado Contato (11) 3665–9500 www . d -edge . com . br
Endereço Av. Brigadeiro Luís Antônio, 277, São Paulo – SP, 01317–000 Horário Quarta: 23h – 06h De quinta a sábado: 00h – 06h Seg., ter. e dom.: fechado Contato (11) 3104–7157 www . lionsnightclub . com . br
Endereço R. Treze De Maio, 703, São Paulo – SP, 01327–000 Horário Quarta: 23h – 06h De quinta a sábado: 00h – 06h Seg., ter. e dom.: fechado Contato (11) 3871–0022 www . clubyacht . com . br
CULTURA
HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO Baseado na curta-metragem Eu Não Quero Voltar Sozinho, Leonardo, um adolescente cego, busca a independência e descobre ainda mais sobre sua sexualidade ao se apaixonar por um colega de sua classe. Gabriel desperta sentimentos até então desconhecidos em Leo, fazendo-o redescobrir sua maneira de ver o mundo.
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YVES SAINT LAURENT
A PRAIA DO FUTURO
Paris, 1957. Com apenas 21 anos, o frânces Yves Saint Laurent (Pierre Niney) e seu amante e parceiro de trabalho, Pierre Bergé (Guillaume Gallienne) se associam a fim de criar a luxuosa e bem sucedida grife YSL. Apesar de suas obsessões e demônios interiores, Saint Laurent revolucionará o mundo da moda com sua abordagem moderna e iconoclasta.
Com distribuição internacional e concorrendo a prêmios no festival de Berlim, o filme traz o romance entre Donato (Wagner Moura), um bombeiro cearense, e Konrad (Clemens Schick), um motociclista alemão. No entanto, para muito além da relação amorosa entre o casal, estão colocadas no filme questões de identidade e pertencimento dos personagens.
RESTAURANTES
FASANO
D.O.M.
PRAÇA SÃO LOURENÇO
Titular da cozinha do restaurante italiano número um da cidade desde do mês de julho de 2012, o chefe de cozinha Luca Gozzani imprime sua marca em receitas, trazidas direto de sua terra natal.
Considerado o 6° melhor restaurante do mundo, D.O.M. sai da zona de conforto e propõe uma nova experiência gastronômica, resgatando os sabores mais autênticos da cozinha brasileira sob um olhar contemporâneo.
O grande destaque do restaurante é ter uma área arborizada, com lago aritificial, em plena Vila Olímpia. Todos os pratos são inspirados na finíssima culinária italiana, preparados no forno à lenha.
Endereço R. Vitório Fasano, 88 – Jardins, São Paulo – SP, 01414–020 Horário De seg. a qui.: 19h – 00h30 Sexta e sábado: 19h – 01h Domingo: fechado Contato (11) 3062–4000 www . fasano . com . br
Endereço R. Barão de Capanema, 549, São Paulo – SP, 01411–011 Horário De seg. a sex.: 12h –15h/19h – 00h Sábado: 19h – 00h Domingo: fechado Contato (11) 3088–0761 www . domrestaurante . com . br
Endereço R. Casa Ator, 608, São Paulo – SP, 04546–002 Horário De seg. a qui.: 12h –15h19h – 00h Sexta: 12h – 15h30/19h – 01h Sáb. e dom. : 12h – 17h/19h – 01h Contato (11) 3053–9300 www . pracasaolourenco . com . br
ELIS, A MUSICAL
ZERO
LUZ NEGRA
A mostra apresenta uma visão da vanguarda alemã que, por meio de arranjos pictóricos dispostos em série e estruturas de luz vibratórias, alterou de forma decisiva a arte do período pós-guerra.
Fugindo do exotismo, equilibrando- Com texto de Nelson Motta e Patricia se entre a magia étnica e a beleza dos Andrade, a peça mostra personagens contrastes gerados pelo embate entre emblemáticos da cultura do país, a ancestralidade e a globalização, o como Miele, Jair Rodrigues, Vinícius fotógrafo baiano Robério Braga fez do de Morais, Tom Jobim, Lennie Dale, Quênia, seu objeto de investigação. entre muitos outros.
Pinacoteca do Estado de São Paulo Praça da Luz, 2 – Estação Luz do Metrô/ Tel. (11) 3324–1000
MIS – Museu da Imagem e Som Av. Europa, 158, Jardim Europa Tel. (11) 2117–4777
Teatro Alfa R. Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro Tel. (11) 5693–4000
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