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A Educação Ambiental da BR-448 no processo de ressocialização das famílias da Vila de Passagem em Canoas/RS

Adriano Peixoto Panazzolo Coordenador Geral da Gestão Ambiental da BR-448

APRESENTAÇÃO O projeto rodoviário de construção da BR-448, também conhecida como Rodovia do Parque, iniciado em 2010 com conclusão prevista para 2013, situado na região metropolitana do RS, abrange as cidades de Sapucaia do Sul, Esteio, Canoas e a capital gaúcha, Porto Alegre; não é apenas uma das principais alternativas de redução do fluxo de veículos e de constantes acidentes e congestionamentos na BR-116/RS, por onde diariamente trafegam cerca de 130 mil veículos, mas é também a oportunidade de ressocialização para as 126 famílias oriundas da Vila do Dique, em Canoas/RS. O local que passará a nova rodovia possui cerca de 600 residências irregulares, totalizando mais de 2600 moradores, destes, 126 famílias foram relocadas, provisoriamente, pelo Programa de Reassentamento Populacional para o complexo da Vila de Passagem, entre outubro de 2011 e abril de 2012. A Vila de Passagem receberá mais famílias até julho de 2012, totalizando cerca de 200 famílias, que estão no leito das obras. Como condicionante ambiental do empreendimento está a remoção da totalidade dessas famílias. Neste processo, o DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes contratou, por licitação, a empresa STE - Serviços Técnicos de Engenharia S.A. para a Gestão Ambiental da BR-448, onde atua com uma equipe técnica na implementação de 22 Programas de natureza social e ambiental. Dentre os programas estão os de Educação Ambiental e Reassentamento Populacional que proporcionam à equipe de Gestão Ambiental trabalhar no processo de mudança comportamental com as famílias, pela sensibilização frente ao meio ambiente e demonstrar os avanços obtidos durante o processo de reorganização social desses moradores.

JUSTIFICATIVA Situada na periferia sudoeste da cidade de Canoas, com cerca de 5 km de extensão, a população residia na orla de uma Unidade de Conservação que forma a Vila do Dique, e


leva esse nome por estar às margens do dique que objetiva conter as cheias do rio nos bairros próximos. Tal comunidade vivia em situação de exclusão social, sem nenhum tipo de saneamento, o abastecimento de água era feito por caminhão pipa e a rede de energia provinha de ligações clandestinas. Em épocas de chuva, a comunidade sofria com enchentes e frequentemente as casas eram invadidas por ratos, cobras e aranhas, situação revelada na fala da moradora Salete de Oliveira. “É, isso tudo nós passamos aqui no dique e estamos aí lutando. Agora é esperar pra uma coisa melhor. Aqui no verão precisa ver a mosquitada que tem, e os ratos que saem desse valão. A minha casa já está descendo pra dentro do valão. Então tenho a esperança de ter uma casa boa, e terminar de criar meus filhos num lugar mais decente, pra que eles tenham mais dignidade”, observa. Com as características do traçado da rodovia e avanço na construção, desde outubro de 2011 foram realocadas provisoriamente, 126 famílias para um condomínio de casas denominado Vila de Passagem, construído próximo à obra. Com a mudança, intensifica-se o processo de reconstrução social dos moradores, com forte apelo para a educação ambiental, para oportunizar aos indivíduos, de forma gradual, o direito ao saneamento ambiental, que por anos não tiveram acesso, verificado pelo alto grau de vulnerabilidade social a que estavam submetidos, como no exemplo revelado pela fala da moradora Ana Vilma Caldeira,“passei muita vergonha quando fui à casa da minha sogra. Meu filho pequeno levou um susto do chuveiro. Nunca havia tomado banho num. Para mim vai ser muito melhor”, desabafa.

OBJETIVO Mudar atitudes perante o ambiente requer um longo e constante movimento. O desafio da Gestão Ambiental da BR-448 com as famílias da Vila de Passagem tem sido apresentar, de forma permanente e dinâmica, os meios para essa mudança, num exercício contínuo de sensibilizar e difundir a necessidade da preservação ambiental como promotora da mudança na qualidade de vida dos moradores. O processo educativo visa envolver o cidadão holisticamente, relacionando o seu dia a dia com a nova moradia, o acesso ao saneamento e o cuidado com o meio ambiente.


DESCRIÇÃO DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS Após alguns meses de preparo da comunidade, no final de outubro chegou o grande dia da mudança para a Vila de Passagem. O complexo é dotado de 300 casas (19 m² cada), cercadas com pátio frontal. Cada casa possui banheiro com chuveiro, tanque, pia. O abastecimento de água e luz (subsidiadas pela Prefeitura Municipal de Canoas). O local ainda conta com área verde, centro comunitário, brinquedoteca, praça, baia e canil coletivos, estacionamento coberto e galpão de reciclagem, para atender os moradores que trabalham na coleta de resíduos sólidos. Desde a chegada dos primeiros moradores a equipe de Gestão Ambiental da BR-448 trabalha de forma ininterrupta com as famílias. Há as ações de educação ambiental comunitária sobre as regras de convívio e o saneamento ambiental. Com a mudança, as famílias estão experimentando uma nova realidade, como a vivência em condomínio, o uso de áreas comuns e até mesmo recebendo as noções primárias de higiene como utilizar o vaso sanitário e lavar as mãos. Temas como o uso racional de água e luz, política da boa vizinhança, destinação correta do lixo, boa utilização do gás, cuidados com os animais, também são abordados pela equipe.

RESULTADOS Mesmo de forma provisória, a vida na Vila de Passagem permite que as famílias tenham acesso à infraestrutura básica, inexistente na área da Vila do Dique. A primeira moradora do condomínio, a artesã, Marilda de Carli também faz sua observação. “É outro ambiente. No Dique eu dormia de madrugada e acordava ao meio dia. Aqui eu acordo às 6 horas da manhã e com disposição. Estou tendo qualidade de vida”, diz. Outra prova de toda essa mudança está na fala da recicladora Hilda de Freitas, 52 anos, 30 destes vividos na Vila do Dique, onde criou os 10 filhos. “Isso aqui (Vila do Dique) era uma chácara, eu capinava e plantava nessa área. Hoje eu tô aqui (Vila de Passagem), Graças a Deus. Tá bom, meus filhos estão bem, estou mais que contente, já passei bastante trabalho, agora adiante vou me levantando”. Nesta mudança, a filha Aline Freitas de Menezes, 22 anos, mãe de sete filhos completa, “estamos bem. Aqui é dez vezes melhor que lá no Dique. A mãe ficou triste que queria indenização, e agora diz que se arrependeria muito de não ter vindo morar aqui”, desabafa.

A equipe social da Gestão

Ambiental acompanha as famílias uma a uma, demonstrando na prática os cuidados com os usos dos novos equipamentos e espaços. O pequeno Marlon de Freitas, 8 anos, que se


mudou com a família de 6 irmãos para a Vila de Passagem, resume as primeiras impressões sobre a nova casa. “Eu gostei de tudo. Tomava banho de bacia. Gostei muito do banho de chuveiro. Achei tri legal a pracinha. Lá os grandões não me deixavam jogar, aqui eu posso”, conta feliz o pequeno. O reflexo desse trabalho de sensibilização ultrapassa as cercas da Vila de Passagem e adentra outras esferas, possibilitando que a ressocialização realmente se concretize. Como representado pela fala da professora Gislaine, da Escola Municipal Ruy Cirne Lima, que atende grande parte das crianças da Vila do Dique. “O trabalho de parceria com vocês é muito bom. As orientações, o material e principalmente o vínculo que vocês fizeram com as crianças para nós foi muito positivo. Os nossos alunos são muito carentes, tanto de recursos materiais quanto afetivo, e tudo que vem a demonstrar mais carinho, atenção e ensinar o que para nós é óbvio, como cuidados de higiene, atenção, separação de lixo, para eles é o improvável. Eles estão sempre aprendendo, pois aquilo que é da nossa rotina, para eles não é”. Outro momento citado pela educadora revela aquilo que baliza as ações da Gestão Ambiental com as comunidades do entorno, em especial com a Vila de Passagem. “Outra coisa muita positiva que eu vi diretamente com a turma da manhã, foi o aumento da autoestima deles com a mudança para a casa de passagem como vocês chamam. Muito bom. Eles estão felizes, mais calmos e menos revoltados. Eles contam que vem com o transporte escolar, que o senhor que transporta eles é muito atencioso. Eles estão contando sobre as casas, que existe uma sala com mesinhas e cadeiras coloridas, giz de cera, folhas e tem uma tia que ajuda a fazer os desenhos, tem livros de historinha para eles pegarem. Outra coisa que eles gostaram bastante foi que fizeram uma limpeza nas coisas deles e levaram somente o que tinham de melhor pra lá. Deixaram para traz o lixo que apesar de ser o ganha-pão deles, era uma coisa que também incomodava, trazia bicho, isso eles falaram muito. Também disseram que sabem usar a descarga. Então o que para nós é o óbvio, para eles é improvável como as coisas de higiene. O que eu gostei foi saber que estão tendo atenção e isso valorizou muito a autoestima deles. A família dos Godoy, da Geisi, do Vinicius, do Welington, a gente vê a diferença neles, como dizemos aqui: vocês estão com o peito estufado. Elas andavam curvadas, desanimadas. Elas renovaram. Estão se sentindo valorizadas como ser humanos. São parte desta conquista na vida dos pais. É notório. Eu, em nome da escola considero vocês uma parceria muito positiva, dos céus”, confessa. Além disso, a equipe mantém um escritório na Vila de Passagem e


acompanha o dia a dia das famílias, desde os encaminhamentos às políticas públicas do município, aos programas sociais do governo federal e a ações de grupos não governamentais. A equipe também prepara toda a população para a mudança posterior, nas casas e apartamentos definitivos. E a educação ambiental realiza ações cotidianas na comunidade, com visitas domiciliares. Para as crianças são realizadas a Hora do Conto, sessões do Cineminha Ambiental, oficinas de artesanato e reciclagem. Em muitas atividades, a mascote da Gestão, a ave João de Barro que complementa as ações.


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