MANIFESTO BRASIL+10 Wikipedia, 7 de setembro de 2022
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m 2017, uma jovem estudante da Universidade Federal do Ceará desenvolveu o projeto para a construção da malha rodoviária ecológica e sustentável, uma estrada que retém a energia de atrito dos veículos com o solo e a transforma em energia elétrica para abastecer as cidades em volta. O projeto, inovador na busca por soluções ambientais para o mundo, foi agraciado pela ONU e implantado em mais de 30 países além do Brasil. Em 2019, um jovem artista negro e favelado, estudante cotista da Universidade de São Paulo e líder de um conhecido conjunto de rap do país, foi o primeiro rapper a entrar para a Academia Brasileira de Letras. Em seu discurso, a presidenta da Academia destacou, para além da inegável maestria literária do artista, a legitimidade do rap brasileiro como o verdadeiro cronista da realidade nacional nos últimos 40 anos. A sua diplomação na Academia abriu caminho para o mesmo reconhecimento a diversos
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outros rimadores da cultura nacional. Em 2015, um grupo de jovens de diversas universidades de Belo Horizonte planejou e fundou o primeiro Shopping Center Solidário do país, um grande centro onde não se compra nada com dinheiro e todas as trocas são baseadas em moedas alternativas, economia criativa, serviços compartilhados ou na doação espontânea de empresas que, após análise de renda e vulnerabilidade social de cada família cadastrada, simplesmente doam os produtos para os clientes com o perfil necessário. Cem das maiores empresas de eletrodomésticos, roupas, alimentos, higiene, beleza, livros e eletrônicos atuantes no país aderiram à ideia. O projeto espalhou-se por todas as capitais. Em 2013, dois amigos da Universidade Federal do Paraná, um gay e um evangélico, criaram um pioneiro grupo brasileiro de cooperação e solidariedade entre religiosos e militantes LGBT, de forma a colocarem suas divergências de lado e participarem de atividades sociais humanitárias em parceria.
A ideia era atuar em conjunto no auxílio a creches, asilos, na assistência aos moradores de rua, entre outras iniciativas. Batizada de Núcleo Brasileiro da Amizade, a instituição é atualmente uma das maiores redes de trabalho voluntário e solidário no Brasil. Em 2018, uma estudante de pedagogia da Universidade Federal da Bahia imaginou um projeto inédito de intercâmbio estadual entre alunos do ensino médio da escola pública. A ideia foi aceita pelo Ministério da Educação. Com recursos previstos no orçamento, alunos de Santa Catarina podem viver e estudar por um ano no Pará, alunos do Acre podem aprender por um ano em São Paulo, alunos de qualquer parte podem se inscrever no programa e frequentar a escola em outras regiões. O projeto tornou-se um dos principais do país, pautando a diversidade cultural, ajudando a corrigir as injustiças históricas entre as regiões, promovendo os encontros de jovens de todos os tipos e sotaques dentro da escola pública. Em 2012, a União Nacional dos Estudantes se deixou à loucura necessária de prever um pouco do futuro do Brasil dentro de dez anos, a partir da Caravana Brasil+10. Imaginando o bicentenário da Independência em 7 de setembro de 2022, a UNE botou os sonhos para fora, entendendo que a verdadeira máquina do tempo é o próprio presente fermentado de vontade, fecundado por aqueles que desejam somar, devoto junto à esperança das milhões de brasileiras e brasileiros por um país realmente livre, soberano pelo protagonismo de seu próprio povo, plural porém coeso, transformador das ciências, dos saberes, do meio ambiente e das relações sociais em direção a uma sustentabilidade universal, a um caminho de consensos, a um dar as mãos e reconhecer-se como gente brasileira em desenvolvimento, gente possível, gente geradora ou recicladora da própria história, gente querendo mais. Brasil mais dez, mais igualitário, mais criativo, mais democrático e mais bonito, mais disposto a ser Brasil. Brasil mais tolerante, mais forte, mais sensível e mais contaminado pela genialidade da sua juventude. Brasil mais correto economicamente, mais liberto das soluções viciadas que beneficiam somente a poucos, mais ousado em investir diretamente nas pessoas, mais preparado para dividir esse bolo e muitos outros mais. Brasil+10 para ser mais independente, mais vitorioso pelos próprios méritos, mais próximo de dar ao mundo o grande exemplo de fraternidade, compreensão e humanidade que regerá, inevitavelmente, toda a história mundial neste novo milênio. Nos vemos pela estrada, União Nacional dos Estudantes Caravana Brasil+10
ENTREVISTA
UNE 75 anos: Entrevista com Daniel Iliescu
Daniel Iliescu, presidente da UNE, durante o 52º Congresso da UNE, em julho de 2011
O presidente da entidade fala sobre o movimento estudantil atualmente e sobre a iniciativa de realizar mais uma Caravana pelo país
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intonizar-se com as vontades e expectativas dos jovens brasileiros, de geração em geração, é um dos compromissos da União Nacional dos Estudantes desde que foi criada, na primeira metade do século XX. A UNE é, simultaneamente, o movimento social mais antigo e renovado do país, com uma trajetória que está nos livros de história devido a episódios como a luta dos estudantes contra o nazi-fascismo no Brasil, a defesa pelo petróleo nacional na década de 50, a resistência à ditadura militar e a ação dos cara-pintadas nas campanhas pelas “Diretas Já”e “Fora Collor”. Nesta entrevista, o presidente da UNE Daniel Iliescu fala sobre alguns dos desafios da entidade neste início do século XXI, sobre a decisão de realizar mais uma Caravana neste momento histórico do país e sobre o aniversário de 75 anos da UNE no próximo dia 11 comemorados em 2012. O mundo está cada vez mais digitalizado. Os jovens estudam pela internet, se comunicam, protestam por meio das redes sociais. Em um ambiente assim, de onde veio a ideia de montar uma Caravana e ampliar o contato físico da entidade com os estudantes?
Sem dúvida o mundo e o Brasil vivem um momento já de grande afirmação das tecnologias digitais, do contato por meio da internet, do debate público online. A UNE também tem apostado cada vez mais nisso, com mais ações na internet, no Twitter, no Facebook. No entanto, nada como conhecer a realidade da juventude visitando cada universidade do país, debatendo com cada DA, CA, DCE em cada
estado, visitando as salas de aula, os restaurantes universitários, ouvindo os problemas e colhendo ideias. O movimento estudantil é uma rede nacional fantástica e a ideia das Caravanas é aproveitar essa capilaridade para fazer uma leitura mais rica do país. A UNE está, simultaneamente, mais digital e também mais presente na universidade brasileira. 10% do PIB, Brasil+10, 10 anos, o que simbolizam todos esses números “10”para a UNE atualmente? O curioso é que essa relação com o número 10, que começou totalmente atrelada aos protestos 10% do PIB para a educação, ganhou outros significados naturalmente. Estamos, por exemplo, vivendo a década de 10 do século XXI, são os anos 10. Essa proposta da Caravana de pensar o Brasil de 2012 até 2022, ano do bicentenário da independência e do centenário da Semana de Arte Moderna, foi uma forma de botar os sonhos de uma década inteira no papel e na nossa pauta de lutas. A história do Brasil pode se transformar completamente em 10 anos. Vamos lutar para que eles sejam marcados como o nosso passo verdadeiramente seguro em direção à justiça social, ao desenvolvimento, ao sucesso da educação pública e à sustentabilidade ambiental. A caravana celebra também o 75 anos da UNE em 2012. O que os jovens podem esperar da entidade neste ano? É uma honra enorme de todos dessa gestão participarem da UNE nesse ano especial. No entanto, por outro lado, sabemos que trata-se também de uma grande responsabilidade em reafirmar os valo-
res dessa entidade, que estão ligados à mobilização nas ruas, à consciência e protagonismo no debate das grandes questões nacionais e na defesa da juventude. No dia 11 de agosto, aniversário de 75 anos, teremos um grande ato para lembrar e homenagear, mais uma vez, todos que construíram essa história. Porém o verdadeiro aniversário da UNE está sendo celebrado o ano inteiro pela militância dos seus estudantes, na Jornada de Lutas do Março Verde e Amarelo, nesta Caravana, no nosso Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg), que acontece em junho no Rio de Janeiro, na nossa atuação durante a conferência Rio+20 e nas preparações, que já estão sendo feitas, para a oitava Bienal da UNE, em janeiro de 2013. São 75 anos que nos deixam orgulhosos e que nos motivam a ir ainda muito mais longe. Outro destaque da Caravana serão as atividades culturais e do Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA da UNE)? Qual o papel da cultura nesse projeto? A Cultura sempre foi um dos grandes eixos de atuação da UNE e não poderia ser diferente no momento dessa Caravana. A atuação do CUCA, reciclando e reinventando a tradição do nosso Centro Popular de Cultura (CPC) dos anos 60, é algo que completa as nossas ações atualmente. A cultura não se encerra em seu caráter estético e contribui para agregar, multiplicar os olhares sobre os temas nacionais, valoriza a diversidade, é totalmente indispensável dentro do espaço da universidade. Por isso, apostamos muito nessa experiência da Caravana para estender a rede do CUCA e para pensar novas frentes da ação cultural da UNE.
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história das caravanas
Aldo Arantes, presidente da UNE em 1962 Reunião da primeira caravana da entidade, a UNE Volante, em 1962
Rodar o Brasil é compromisso histórico da UNE Desde 1962 que a entidade busca conhecer e debater a realidade de cada região integrando a diversidade dos estudantes brasileiros
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m 1962, pela primeira vez, os estudantes colocaram para fora os seus sonhos com a realização do projeto “UNE-Volante”, uma caravana que levou na bagagem 20 integrantes do Centro Popular de Cultura (CPC) e mais cinco diretores da UNE inspirados pela vontade de redescobrir o Brasil. Durante dois meses, rodaram o país realizando assembleias, reuniões com lideranças estudantis e apresentações de peças do CPC. No repertório, textos de Vianinha e Augusto Boal, nomes que se tornariam expoentes da dramaturgia nacional. Passados 42 anos, a entidade voltou para a estrada com a chamada “Caravana UNE pelo Brasil”. Entre os meses de abril e maio de 2004, uma equipe percorreu 25 cidades brasileiras, sendo 18 capitais, passando por 31 instituições de ensino superior, nas cinco regiões do país. Para ouvir e conhecer de perto as opiniões dos estudantes, a caravana levou na bagagem, novamente, o debate da reforma universitária. O resultado da coragem e ousadia da UNE foram mais políticas de acesso e
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assistência estudantil, ampliação das vagas e reestruturação das instituições por meio do Programa de Apoio a Planos de Expansão das Universidades Federais (Reuni). No embalo da experiência acumulada com a viagem anterior, a UNE realizou, em 2005, a “Caravana Universitária de Cultura e Arte – Paschoal Carlos Magno”, homenagem a um dos mais importantes diretores de teatro do país. O objetivo da empreitada foi fomentar a criação de uma rede nacional de arte estudantil para incentivar, produzir e fazer circular os bens culturais nas universidades, criando núcleos do Circuito Universitário de Cultura e Arte, os CUCAs, em cada localidade visitada. Inquieta em saber o que os estudantes pensavam sobre o novo Brasil que estavam vivendo, a entidade realizou sua última grande viagem pelo país, no segundo semestre de 2008. A “Caravana da UNE – Saúde, Educação e Cultura” circulou, pela primeira vez na história, os 26 estados brasileiros, mais o Distrito Federal. Foram 32 mil quilômetros rodados, em 109 dias, a bordo de um ônibus especialmente preparado para a jornada.
“A bordo de um avião Varig, cedido pelo parceiro Leonel Brizola, viajamos para levar adiante a questão das Reformas de Base. O fato é que a UNE foi subindo ladeira e quando chegamos no Nordeste, já tínhamos ganhado notória repercussão. Os jornais publicavam que a UNE tinha colonizado o Brasil! Quando terminamos o projeto, tínhamos conquistados milhares de estudantes, unificando o movimento de tal maneira que realizamos a maior greve estudantil já vista a favor da reforma universitária”
Gustavo Petta, presidente da UNE de 2003 a 2007 “Tivemos em nossa gestão a experiência da Caravana da Reforma, em um momento positivo onde um presidente de esquerda assumia o país, e da Caravana Cultural, relembrando a época do CPC da UNE e espalhando a rede CUCA por todo Brasil. As duas foram importantes porque a primeira fortaleceu a rede do movimento, conectando os CAs e DCEs de todas universidades, e a segunda conseguiu consolidar uma rede de produção e intercâmbio do que é produzido culturalmente no país”.
Lucia Stumpf, presidente da UNE de 2007 a 2009 “Com sensibilidade e habilidade, essa Caravana soube se conectar a todas as realidades de cada canto deste imenso país. Provocou polêmicas e debates de alto nível, no campo das ideias, tanto pró ou contra, ao defender assuntos que ainda são pertinentes, como aborto e drogas. Debateu, discutiu, ouviu, foi ouvida, compartilhou opiniões e encheu a bagagem de conhecimento a respeito do país que vivemos. Definitivamente, a rede do movimento passou a ser bem mais jovem depois dessa caravana”.
Quer fazer parte? Organize uma Caravana Livre da UNE
Desenhar em nossos sonhos 10 anos de um novo Brasil Estudantes voltam à estrada com a Caravana UNE Brasil+10 e projetam junto à juventude de cada canto o país que queremos para o próximo período
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ssa é a geração que acompanhou a virada de um novo século e vivenciou a sua primeira década, cheia de transformações e oportunidades, ao mesmo tempo em que enfrentam ainda muitos desafios. Nos próximos meses de 2012, o movimento estudantil brasileiro percorrerá todo o país na Caravana UNE Brasil+10, uma longa jornada para identificar a realidade dos jovens em diferentes regiões e para desenhar, em nossos sonhos, o Brasil que queremos daqui a 10 anos, quando se completam 200 anos da nossa independência oficial e o centenário da Semana de Arte Moderna. O desafio é provocar os estudantes, “entendendo que a verdadeira máquina do tempo é o próprio presente fermentado de vontade”, como diz o manifesto Brasil+10, publicado na página 2 deste jornal. Serão mais de 50 dias de estrada, 12 estados
visitados, passando por 24 universidades. A equipe preparada para a viagem inclui diretores da UNE e do CUCA, documentaristas e produtores. O bom dia da Caravana aos estudantes se dará com um Cortejo Cultural, formado por atores, pelos corredores das salas de aula, convidando os alunos para os “aulões 10”, nas universidades públicas, e, durante a tarde, para o encontro de estudantes do ProUni, nas privadas. No fim do dia, uma Reunião do CUCA da UNE, envolvendo estudantes, artistas e pontos de cultura em uma conversa para pensar e costurar a formação de mais núcleos dentro das instituições. Para encerrar o dia frenético, atividades culturais de música, intervenções teatrais, dança, circo, mostras de cinema vão promover o momento tão importante de integração e festividade. Afinal, lutamos pelo direito de festejar e festejamos o direito de lutar!
Se você participou de alguma atividade da Caravana ou viu na Internet e se interessou pelo projeto, saiba que basta juntar um grupo de amigos de sua universidade e organizar uma “Caravana Livre da UNE”. Faça a diferença e promova você também debates e intervenções culturais que subsidiem uma reflexão sobre os caminhos e destinos do país na próxima década. Siga alguns passos: 1. Entre em contato com a UNE pelo e-mail caravana@une.org.br e envie a sua proposta; 2. Procure o Diretório Central dos Estudantes (DCE), Diretório ou Centro Acadêmico; 3. Marque uma reunião com a reitoria da sua universidade para conseguir adesão; 4. Junte um grupo de amigos ou estudantes interessados em realizar a Caravana; 5. Divida entre esse grupo as funções. Cada grupo deve ser responsável por uma parte da produção: logística, debate e atividades culturais, por exemplo; 6. Reserve os espaços na universidade com antecedência; 7. Peça à pessoa mais ligada à comunicação que envie para o e-mail da UNE uma matéria jornalística falando como será a sua Caravana. Depois, envie também um relato, com fotos em boa qualidade, sobre como foi o dia de atividades
Aulão Brasil+10 Ao longo do seu trajeto, a Caravana levará para as instituições figuras importantes que tenham ideias sintonizadas com a dos estudantes e venham pensando esse novo Brasil para compartilhar conhecimentos e reflexões. Será uma aula referência sobre tema Brasil+10, desdobrado sob diferentes perspectivas, de acordo com as características de cada convidado. As contribuições dessas personalidades e dos
estudantes serão levadas ao 60° Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg), um dos principais fóruns do movimento estudantil, que acontecerá em junho, no Rio de Janeiro. O objetivo é durante o Coneg elaborar um documento que traga o conteúdo acumulado ao longo da viagem e que depois será apresentado aos postulantes a cargos executivos e legislativos nas eleições deste ano na forma de plataforma de reivindicação da UNE.
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encontros do prouni
Encontro dos Estudantes do ProUni é destaque na Caravana Uma das atividades da Caravana será o Encontro de Estudantes do ProUni nas universidades particulares; na pauta está a busca de conquistas como assistência estudantil, passe livre e políticas de permanência na universidade
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Brasil é um país com número ainda pequeno da sua população que teve ou tem acesso à universidade. O último Censo da Educação Superior, produzido pelo Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) revela a existência de aproximadamente 5,5 milhões de brasileiras e brasileiros cursando o ensino superior. Contribuindo para modificar esse cenário, o Programa Universidade Para Todos (ProUni) - fruto da mobilização e da reivindicação do movimento estudantil brasileiro pela reforma universitária e por mais vagas no ensino superior - alcançou recentemente o número de um milhão de bolsas. Os benefícios são conferidos para estudantes de baixa renda e que vieram da escola pública. Essa marca alcançada revela uma mudança de perfil nas universidades particulares brasileiras e acontece em um momento de maior demanda e organização dos prounistas pela ampliação e melhorias no Programa.
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A UNE, que participou ativamente dos debates e das propostas para a implementação do ProUni em 2005, organiza ao longo dos anos “Encontros de Estudantes do ProUni”, que estão acontecendo também durante a Caravana Brasil+10. Ao decidir privilegiar sempre uma universidade particular em cada cidade visitada, a UNE lança um olhar especial sobre os prounistas, novos atores no processo de mudanças do país. Atualmente, as principais reivindicações dos estudantes prounistas no Brasil são relacionadas à permanência na universidade. Mesmo obtendo a bolsa de estudos do programa, muitos não conseguem se manter na sala de aula arcando com custos de transporte, alimentação ou material didático. Os encontros de prounistas da Caravana Brasil+10 estão debatendo propostas para enfrentar esse cenário como programas especiais de assistência estudantil e passe livre no transporte público para os prounistas.
Presença do ex-presidente Lula no 2º Encontro Nacional dos Estudantes do ProUni, em julho de 2011, no 52º CONUNE
Sobre o ProUni O Programa Universidade Para Todos (ProUni) atende atualmente a estudantes em todas as regiões do país, oferecendo bolsas parciais (50%) ou integrais em um grande número de universidades particulares. A lógica de funcionamento do ProUni é a seguinte: Desde 1988 até 2004, as universidades particulares tiveram incentivos fiscais sem apresentar nenhuma contrapartida obrigatória. Se quisessem oferecer bolsas de estudo, as próprias instituições decidiam a quais alunos iriam atender e os critérios utilizados para essas escolhas. Com o ProUni, a partir de janeiro de 2005, as universidades só conseguem isenção fiscal se oferecer bolsas para o programa. A seleção dos alunos atendidos é feita pelo próprio Ministério da Educação, restringindo o benefício a estudantes com baixa renda e, além disso, que tenham cursado o Ensino Médio em escolas públicas. No seu primeiro processo seletivo, já ofereceu 112 mil bolsas em 1.142 instituições de ensino superior de todo o país. No início do projeto, alguns críticos chegaram a questionar a capacidade dos alunos bolsistas e seu futuro desempenho acadêmico. No entanto, os dados do Exame Nacional do Ensino Superior (Enade) mostraram em poucos anos que os prounistas possuíam rendimento igual ou superior ao dos outros universitários.
educação 10
a hora da virada brasileira na Educação Plano Nacional de Educação, que está em votação no Congresso Nacional, pode mudar a história nacional nos próximos dez anos, se garantir 10% do PIB brasileiro para o setor
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UNE e o conjunto do movimento estudantil brasileiro elegeram a educação como a sua grande prioridade nesta segunda década do século 21. Somente a partir da valoriza-
ção da escola pública, do investimento em infraestrutura e no salário dos professores, da ampliação e fortalecimento das universidades e da pesquisa científica será possível desenhar um novo Brasil. A principal luta é pela aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) no Congresso Nacional em uma versão que garanta, pelo menos, 10% do PIB brasileiro investidos, exclusivamente neste setor, além do projeto que destina 50% dos recursos do Fundo Social das riquezas do Pré-Sal também para a educação. Outra bandeira não menos urgente traça uma ampla Reforma Universitária, tornando a instituição mais democrática e participativa, repousada no diálogo e na construção do conhecimento. A qualidade de ensino nas universidades passa prioritariamente pela formação libertária e emancipadora dos estudantes, e deve apresentar uma perspectiva humanista de ensino em que as pessoas possam ter consciência crítica e melhor leitura da realidade, contribuindo para o desenvolvimento justo e soberano do Brasil. Um Plano Nacional de Assistência
Estudantil também deve ser contemplado para abater a desigualdade que ainda assola o país.
Nas ruas Essas duas grandes reivindicações movimentaram no último ano as universidades e as ruas em grandes atividades por todo o país. No segundo semestre de 2011, o “Agosto Verde e Amarelo” da UNE promoveu manifestações por todos os estados, atos públicos, ocupações, culminando com uma enorme passeata de 12 mil estudantes no dia 31 daquele mês em Brasília. Em dezembro do ano passado, intensificando as pressões, os estudantes voltaram e decidiram acampar na capital federal, em frente ao Congresso Nacional, no movimento que ficou conhecido como “#OcupeBrasília”. A UNE realizou uma blitz pelos corredores da Câmara e do Senado, mobilizou-se nas comissões específicas do legislativo, jogou futebol no gramado da Esplanada dos Ministérios com parlamentares que aderiram à causa, além de outras iniciativas para chamar a atenção e convencer a classe política da importância dos 10% do PIB e 50% do Pré-Sal para a educação. Neste ano de 2012, a UNE pretende continuar e ampliar essa mobilização.
Ensino privado: educação não é mercadoria O aumento das vagas no ensino superior no Brasil, inclusive para as universidades privadas, tem colocado o movimento estudantil em alerta também para os abusos, aumentos irregulares e injustiças cometidas por alguns ambiciosos empresários donos de instituições particulares de ensino. Segundo a Constituição Brasileira, a educação é um serviço básico, não podendo simplesmente ser oferecido sob a lógica de lucros do mercado. No início do ano, a União Estadual dos Estudantes de Rio de Janeiro (UEE-RJ) se mobilizou em protestos contra os aumentos irregulares das Universidade Gama Filho e da UniverCidade, que elevaram o valor das mensalidades em uma média de 25%. Depois, foi a vez da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) se mobilizar contra a decisão das faculdades do grupo Anhanguera em demitir 1.500 professores mestres e doutores reduzindo drasticamente a qualidade do ensino e buscando o lucro pela contratação de mão de obra mais barata. Os estudantes da PUC de Minas Gerais também se rebelarem contra um aumento injustificado de 9,8% no valor das mensalidades.
Nome do “bairro” que os estudantes criaram durante o acampamento em Brasília, em dezembro de 2011, levava o nome da principal pauta estudantil
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cuca 10 anos
É pelo Brasil que o CUCA vai vivendo os seus 10 anos Circuito Universitário de Cultura e Arte da UNE terá programação especial durante a Caravana; objetivo é oxigenar a rede e fundar novos núcleos
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esde o ano passado, paralelo às comemorações dos 50 anos de criação dos Centros Populares de Cultura, o famoso CPC da UNE da década de 1960, reflete-se também os 10 anos das experiências estéticas e políticas dos CUCAs, o Circuito Universitário de Cultura e Arte. Formado na 2ª Bienal da UNE, realizada em 2001, no Rio de Janeiro, o circuito põe em prática iniciativas e projetos que envolvam em uma só convergência as universidades, estudantes, centros culturais e pontos de cultura, com o propósito de pensar políticas públicas e a complementariedade entre cultura e educação. Com o pé na estrada, o CUCA traça objetivo ousado nesta Caravana: rearticular a rede cultural nas universidades para fundar novos movimentos e oxigenar os já existentes. Hoje, o circuito está presente em 16 estados e os “cuqueiros” se encontram
em atividades como a Teia (Encontro Nacional dos Pontos de Cultura), as Bienais da UNE, o Encontro Nacional dos Estudantes de Arte e o Carnaval de Olinda, com o bloco Seu CUCA é Nóis, que desfila anualmente pelas afamadas ladeiras de Olinda. O CUCA terá uma programação especial na Caravana, realizando reuniões e envolvendo artistas e estudantes em um mergulho profundo na identidade cultural brasileira. Em parceria com os Pontos de Cultura, Fora do Eixo, Ação Griô e coletivos locais, essas reuniões serão orientadas pelo tema “Cultura em rede: Conexões culturais no Brasil” e pretende desenhar ações conjuntas que pensem a cultura nacional em suas diversas óticas. Durante a Caravana, também será lançado o 12º Seminário Nacional do CUCA, que acontecerá em julho, no Rio de Janeiro. Esse encontro é fundamental para a rede do circuito porque é o momento de discutir ideias e propostas de todos os cuqueiros.
Rede CUCA durante o lançamento do catálogo da 7ª Bienal da UNE, no Rio de Janeiro, em janeiro de 2011
Curtiu? Então estruture um CUCA em sua universidade! O CUCA é formado por grupos de discussões, produtores e coletivos que se organizam em torno de uma rede. Por privilegiar a transversalidade entre cultura e educação, é, sobretudo, um projeto de extensão universitária, que estimula os envolvidos a ocuparem os espaços da universidade a fim de produzir cultura. Um auditório, um teatro ou uma concha acústica são suficientes para inaugurar um cineclube ou aglutinar grupos artísticos já existentes para promover um pequeno festival.
Ingredientes: 1. Não existe uma fórmula pronta para a formação de um CUCA. A ideia é que as iniciativas se materializem atendendo as demandas e especificidades de cada local, tendo ainda como referência conceitual o próprio Instituto CUCA da UNE; 2. É necessário haver uma produção contínua, afinal, cultura é um processo; 3. Envolver necessariamente jovens artistas. Um coletivo que inclua dirigentes estudantis, produtores culturais e grupos artísticos pode dar um bom caldo; 4. Promover o intercâmbio entre a cultura popular e a cultura acadêmica; 5. Não esqueça de buscar a complementariedade entre cultura e educação; 6. Buscar relacionar-se com CUCAs de outros cursos, universidades e até mesmo de outros estados, com o objetivo de trocar experiências e realizar atividades de caráter regional, dinamizando a rede.
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bienal da une
Pernambuco receberá 8ª Bienal da UNE, o maior festival estudantil da América Latina O maior evento estudantil da América Latina já tem local definido e promete ferver o país com uma série de atividades culturais
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eunir as diversas expressões artísticas, valorizar a identidade nacional e conectar as produções juvenis de todas as regiões do país. Essas são algumas das propostas que envolvem hoje o festival que é considerado o maior evento estudantil da América Latina. Com 13 anos de idade, a Bienal da UNE chega a sua oitava edição em janeiro do ano que vem em grande estilo, afinal, os ares pernambucanos de Recife e Olinda receberão os estudantes para as inúmeras atividades culturais, shows, debates e encontros. A Bienal costuma atrair um público de 10.000 estudantes vindos de todos os lugares do país, embora não seja esse o mote que faz o festival ser es-
pecialmente importante para a entidade. A atuação cultural da UNE, enfraquecida durante os anos de repressão da ditadura militar, só foi simbolicamente retomada com a sua primeira Bienal, em Salvador, em janeiro de 1999, acentuando sua capacidade irreverente de fazer lutas e dialogar com a juventude. Além de ser o principal instrumento para o mapeamento e difusão da produção desenvolvida por jovens de todo o país, a Bienal sempre apresenta um qualificado rol de convidados entre pensadores, artistas, ativistas e outras figuras públicas em debates, grandes shows, exposições e atos públicos. Já participaram da Bienal personagens como Gilberto Gil, Mano Brown, Oscar Niemeyer, Ariano Suassuna, Ziraldo, Lenine, O Rappa, Aziz Ab’Saber, Jorge Mautner e outras figuras do cenário artístico cultural.
NÚMEROS DA BIENAL Como de costume, cada Bienal traz consigo um tema, algum eixo que representa o quadro vigente ou uma especificidade da região que recebe o evento. Ao longo dos 12 anos, as bienais já pautaram a herança africana na cultura do país, os vínculos do Brasil com a América Latina, a cultura popular e as raízes do povo brasileiro. A última Bienal teve como tema “Brasil no estandarte, o samba é meu combate” e inovou ao reunir jovens em pleno céu
Conte sua história na Bienal Durante a Caravana, a UNE vai lançar uma promoção exclusiva para usuários do microblog Twitter. O objetivo é que cada participante conte a sua história sobre a @bienaldaune, em apenas 140 caracteres, usando a hashtag #8bienaldaune. Pode ser relatos e perrengues sobre a viagem, histórias de alojamento, participação nas oficinas e debates ou até mesmo a descoberta do grande amor. A melhores histórias levarão um kit completo da UNE. Participe!
aberto no Rio de Janeiro. Os números da 7ª Bienal, recorde em relação aos anos anteriores, revelam o destaque que vem ganhando como um dos mais importantes eventos artísticos da juventude. Foram mais de 100 horas de atividades, 25 shows, 15 debates e 40 convidados, 125 ônibus e dez mil estudantes de todos os estados do Brasil.
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corte na educação
Menos juros e mais educação Corte no orçamento vai na contramão das bandeiras do movimento estudantil, que prioriza mais investimentos no setor
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atual cenário da política econômica do governo federal, desenhado por um histórico de altíssimas taxas de juros e pelo elevado superávit primário que beneficia somente os grandes grupos financeiros, bem como os recentes cortes orçamentários em áreas estratégicas, incluindo a educação, não compartilha em nada com o projeto de desenvolvimento real que a UNE deseja para o Brasil. Na avaliação do movimento estudantil, a profundidade e a irracionalidade do montante retirado do Orçamento vão na contramão dos compromissos assumidos pelo governo nas últimas eleições
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e contradizem o discurso realizado recentemente no Fórum Social de Porto Alegre, que se contrapôs à lógica da subserviência aos ditames do capital financeiro internacional. Os atuais efeitos da crise econômica mundial, refletidos na instabilidade dos chamados países centrais, requerem do Brasil uma postura verdadeiramente ousada e coerente. Investir na estabilidade deste país é investir na qualidade de vida de seu povo, principalmente sua juventude, privilegiando áreas como a educação, a saúde, os serviços básicos e a indústria nacional. Somos jovens, somos muitos e não nos furtaremos do papel que temos na definição do futuro do país!
BC no DF é alvo de manifestação dos estudantes contra abusivas taxas de juros, em agosto de 2011, durante o chamado “Agosto Verde e Amarelo”
O Brasil que a gente quer exige uma nova política econômica Fora do eixo que os movimentos sociais seguem para combater os desafios do país, o governo federal anunciou recentemente um corte de 55 bilhões no orçamento, que chega ao patamar de 1,9 bilhões só na educação. Medida semelhante foi tomada no ano passado, quando quase metade do orçamento do governo foi destinado para o pagamento da dívida pública. É de extrema urgência o abandono da política de juros altos (os maiores do mundo) e a transferência de renda de todos os brasileiros via superávit primário para os bancos. A pergunta ainda perdura: por que o Brasil insiste com essa política que beneficia apenas um setor minoritário da sociedade, que especula o capital financeiro e o aplica em títulos do governo federal, que têm maior segurança do mundo, e as mais alta taxas de juros? Não será possível pensar em combater a desigualdade social sem aplicar mais recursos para educação, como a atual bandeira da UNE que defende o desvio de 10% do PIB exclusivamente para o setor (Venezuela aplica 9%, Cuba e Coreia do Sul cerca de 16% do PIB). Não será possível combater a desigualdade social nas grandes cidades sem um programa de geração de empregos, de maiores salários, e de uma reforma urbana que combata a especulação imobiliária e viabilize o acesso a moradia digna pelos mais pobres. É passada a hora de romper esse círculo vicioso de benefício a poucos, focado na pujança dos bancos e que em nada contribui para um projeto de desenvolvimento para todos.
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ROTEIRO CARAVANA
UNE BRASIL + 10
Caravana em Números CONFIRA ABAIXO OS NÚMEROS CURIOSOS SOBRE CARAVANA UNE BRASIL+10 588 Centros Acadêmicos (CAs) 24 Diretórios Centrais de Estudantes (DCEs) 9 Uniões Estaduais de Estudantes (UEEs) 24 Universidades
12 Estados 18 mil Km a serem percorridos 120 Atividades 37 Palestrantes
52 dias de viagem 60 apresentações culturais 10 pessoas na equipe entre diretores da UNE, produtores, jornalistas e documentaristas