Coolhunting

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CAÇANDO TENDÊNCIAS & ALIMENTANDO CADERNOS

COOLHUNTING

Jéssica Lize Santin





COOLHUNTING CAÇANDO TENDÊNCIAS & ALIMENTANDO CADERNOS


AGRADECIMENTOS _


Agradeço a todos os meus professores do curso de

Design de Moda, pelos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos, especialmente a professora Lili, que me apresentou o apaixonante mundo da história da moda. À equipe das agências de pesquisa: Tendere, Berlin e Canvas55 por todas as entrevistas concedidas. À Fernanda Pigatto, pelas sugestões, pela disposição e principalmente por servir de inspiração profissional. E às quatro pessoas que não me deixaram desanimar perante as dificuldades encontradas no caminho: Liz, Dal, Vanessa e Fabi. Por todas as orientações e por utilizarem algo tão precioso nos dias de hoje comigo: o tempo. Sem a participação de cada um de vocês não teria sido possível chegar até aqui. Muito obrigada.



À minha mãe, Marialda Lize, por todo amor e dedicação.


SUMÁRIO _


11. Prefácio 13. Insight 15. Origens 23. Profissão: Coolhunter 29. A pesquisa e o mercado 41. Caçando tendências 47. Alimentando cadernos


PREFテ,IO _


Quando buscamos respostas para desvendar o futuro

nos inspiramos nas nossas observações e nos ciclos que se repetiram no decorrer da história. Percebemos que a periodicidade com que os fatos e as mudanças acontecem nos permite ousar antecipar os passos do que está por vir. O futuro gera curiosidade e muitas vezes faz com que as pessoas tenham ideias mirabolantes, mas na análise do tempo compreendemos que tudo não passa de um grande circuito e que o mundo anda muito mais devagar do que a mente humana. Carros voadores, robôs com vida e vontades próprias, tecnologias em geral... Recapitulando o pensamento das décadas passadas, comprovamos as viagens e as idealizações do ser humano, de como seria o mundo nos dias de hoje. Não teremos aqui um devaneio de ideias, mas sim, uma viagem por um período previsível, onde comprovaremos que é possível antecipar o desejo dos consumidores e expô-las em cadernos comercializáveis de tendências. Este livro apresenta a síntese dos resultados alcançados em minhas pesquisas sobre a profissão “Coolhunter”, tema deste Trabalho de Conclusão de Curso no curso de Design de Moda, do Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina.

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INSIGTH _


Se você está aqui lendo este livro com o interesse de

ser um bom profissional Coolhunter é preciso que se atente a estas dicas valiosas e comece a exercitar as manhas desta profissão. Esteja sempre preparado para uma nova descoberta, você não pode perder nenhum detalhe, por isto, tenha sempre consigo: • Câmera fotográfica: esteja sempre ligado às coisas que se passam ao seu redor, sejam estas, pessoas, movimentos, arquitetura... Enfim, tudo precisa ser analisado e arquivado, por tanto, tenha sempre consigo uma câmera fotográfica ou algo que possa registrar o que seus olhos veem. • Bloco de notas: boas ideias e pensamentos surgem do nada e você não pode correr o risco de perder aquele insigth genial, então, acostume-se a escrever tudo aquilo que lhe vem à cabeça e poderá servir para alguma coisa. Neste caso, sou contra as tecnologias, o bom e velho caderninho, aliado a uma caneta (com tinta!) jamais te deixarão na mão. • Internet: um coolhunter não pode desligar! Viajar para uma Ilha deserta, no meio do nada? Só depois de muito sucesso e programação. Até lá, procure estar sempre com uma boa wi-fi ou 3G disponíveis, porque o mundo gira em torno deles e você precisa saber de tudo o que acontece no mundo.

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ORIGENS _


Pensando nas infinitas possibilidades de dar início

a nossa breve, mas intensa, jornada, concluí que todo bom profissional precisa saber das suas origens e as motivações que os levaram a ser o que são.

A origem da pesquisa de tendência não é datada. Ao contrário de alguns temas, a busca pelo Cool não surge do dia para noite e para compreendê-la é preciso adentrar aos cenários das Guerras Mundiais, onde muitas coisas acontecem ao mesmo tempo, tornando nossa compreensão um tanto quanto confusa, mas faremos isto da maneira mais pragmática possível, buscando sempre facilitar o entendimento. Percebo que os primeiros episódios, ancestrais da real história da pesquisa, aparecem durante o período de Entre Guerras, que data de 1918 até 1939. Nesta época, o fim da Primeira Guerra Mundial culminou na imposição de uma série de medidas que pudessem reestruturar a Europa da devastação sofrida até o momento.

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A escassez de materiais era geral na Europa, e a necessidade de improvisar para sobreviver aos rigorosos invernos levou as europeias a reciclarem as peças antigas, tornando-as básicas e funcionais, adaptadas a nova realidade de progenitoras do lar. Porém, como tudo na vida, sempre haverá quem lucre com as desventuras alheias, e este foi o caso dos Estados Unidos da América, que passam a lucrar muito com a exportação de armamentos, alimentos e produtos industrializados. Foi o auge do “American Way of Life” (Estilo de vida Americano – 1918/1928), onde os preços eram baixíssimos, havia muitos empregos e o crédito estava liberado, estimulando o consumo desenfreado. Na área da moda, as americanas passaram a copiar a alta costura francesa, que estava em baixa e se desenvolvia sempre às escondidas - mas que nunca deixou de existir; fazendo modificações na modelagem, por exemplo, que cortava as raízes da haute couture, e passava a plantar as sementes do novo ready-to-wear com padrões de medidas que facilitavam a produção e a comercialização das mesmas em larga escala. É importante que consigamos enxergar esta situação de maneira globalizada. Enquanto os Estados Unidos produziam e adaptavam as peças sem limites de produção, a Europa começava a se reestruturar e aos poucos parava de importar, deixando a oferta de produtos muito maior do que a procura, culminando em uma devastadora inflação que resultou na Crise de 29 (quebra da bolsa de valores de Nova Iorque).

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Com a crise, os Estados Unidos passam a cobrar um imposto de 90% ad valorem sobre as roupas importadas. Daqui por diante, só se admite isenção de franquias para as telas e os moldes. Isso leva ao desenvolvimento de uma técnica de reprodução baseada nas telas-moldes. Esses moldes, simplificados, podem ser fabricados em diferentes tamanhos. Os progressos obtidos com os materiais sintéticos permitem reproduzi-los a custos acessíveis. A crise e depois as restrições da guerra reforçarão esse interesse por materiais, até agora, julgados indignos da alta-costura.” (Baudot, 2002, pág. 124).

Na transformação da Alta Costura para o Prêt-à-porter era preciso fazer adaptações, pois, sendo de nosso conhecimento, o processo de produção artesanal da alta costura leva tempo demais e utiliza materiais muito caros para a produção e venda em massa.

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Neste processo, costureiras, modelistas e estilistas (ainda sem reconhecimento próprio destas distintas funções) passam a colocar um estilo próprio Americano, criando peças novas e modificando as anteriormente copiadas. Durante a década de 30 que iniciou com a Crise americana, o mundo sofreu com diversos conflitos e disputas territoriais dos novos governos totalitários (nazismo alemão, fascismo italiano e salazarismo português) e seus projetos de virarem potências hegemônicas, tendo os três primeiros dias de setembro de 1939 como cruciais na consolidação da guerra à Alemanha, também chamada de Segunda Guerra Mundial.

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Muitas coisas se repetiram neste cenário. Os homens foram à luta e as mulheres, novamente, os substituíram no mercado de trabalho. Uma das suas muitas atividades era costura. O feitio de uniformes de guerra trazia muito aprendizado a elas, que até então estavam acostumadas a vestir somente a alta costura francesa e as peças confeccionadas sob medida por modelistas, que custavam menos, mas não deixavam de ser exclusivas.

Enquanto espera, é a reciclagem de antigas vestimentas, os cupons de racionamento de roupas, a viscose extraída da celulose do pinheiro, o raiom, a fibra artificial, todos os substitutos, enfim, que permitem à população garantir-se nos invernos rigorosos dos tempos da Ocupação. A parisiense emagrece. Suas roupas ficam mais pesadas e as solas de madeira dos sapatos também. Normas imperativas regulam o vestuário. Assim, a partir de 1940, está proibido mais de quatro metros de tecido para um mantô e um metro de tecido para chemisier (exceção feita para as grávidas). Nenhum cinto de couro deve ter mais de quatro centímetros de largura.” (Baudot, François – 2002 - pág. 109 e 110).

Os tecidos mais sofisticados praticamente sumiram do mercado, ficaram apenas os mais simples e resistentes. As peças eram feitas para durar e os uniformes eram confeccionados em larga escala. Com modelagem padrão os tamanhos ficaram genéricos para que servissem em quaisquer pessoas. A regra era economizar. “Durante essa época, na Grã-Bretanha, o Ministério do Comércio estimula o Fashion Group of Great Britain a criar um departamento que pesquisasse um vestuário mais atraente no quadro das restrições impostas às indústrias têxteis desde 1941” (Baudot, 2002, pág

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110). Este talvez tenha sido o passo mais explícito do surgimento da pesquisa no novo mundo.

Com o final da segunda guerra mundial, a produção em escala da indústria norte-americana não só sinalizam que a cópia da produção do estilo francês já era totalmente dominada, mas também que os Estados Unidos já estavam fazendo isso à sua maneira, isto é, já elaborando o seu próprio estilo a partir de idéias vestimentares que vinham da França.” (SANT’ANNA e BARROS, 2010, pág 2 e 3)

Era o fim da Segunda Grande Guerra e apenas o início dos tempos em que a pesquisa de tendência e os conhecimentos do coolhunter passam a ser indispensáveis para as empresas e o mercado. Um período onde a informação e o estudo passam a ser a chave de muitos negócios, certamente, um marco de uma mudança importante no mercado da moda.

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PROFISSテグ: COOLHUNTER _


Falar sobre a profissão Coolhunter não é tarefa muito

fácil. A união de diversas linhas de estudo faz dela, difícil e ardilosa, sendo necessário muito treino e pesquisa. “Porque tudo, na cultura contemporânea, é informação, sinal, sentido... O diferencial de quem observa e comunica migrou para o filtro e a interpretação.” (Dário Caldas). Trata-se da busca pela inovação e não pelo novo. Sabemos que “o ofício em questão está totalmente ligado a expressão “zeitgeist”, que significa, espírito do tempo. Os caçadores, também chamados de retrievers (como os cães) e innovators, segundo Everett Rogers, trabalham sempre em busca de captar o espírito do seu tempo. Compreender os desejos e as vontades de cada público em questão.” (Dominguez, 2010, pág). A busca pela compreensão deste “espírito do tempo” é tão importante porque olhando para trás conseguimos observar que a história está visivelmente refletida nas artes aplicadas, ou seja, nos objetos, nas joias, nas roupas e em tudo que era produzido naquele período. Se pudermos captá-lo e compreendê-lo estaremos identificando a visão de mundo das pessoas, a mentalidade e o modo de vida. “No cenário da última década, graças à multiplicidade de mídias e de ferramentas para ter acesso a elas, qualquer um pode se informar sobre o que é atualmente cool”. (Dominguez, 2010, pág) Mas poucos conseguem interpretá-lo e traduzí-lo, afinal, não é possível fazer o cool, apenas captá-lo.

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Existem três Leis, que falam sobre os passos para captar o Cool. “Três Leis do Coolhunter, por Gladwell: 1. Quanto mais cedo você tentar agarrar, mais cedo fugirá. Uma tendência nasce com a necessidade de gerar uma linguagem hermética só acessível ao grupo que a usa. 2. O cool não pode ser fabricado, só observado. Isto é, funciona como as antigas regras antropológicas da sacralização: não se pode representar, apropriar ou imitar. 3. Para saber o que é o cool, deve ser cool. Não existem mecanismos racionais. Não existe uma ciência; só intuição.” (Dominguez, 2010, pág 17).

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O trabalho do Coolhunter é justamente este, “radiografar a alma da cidade” (Sabina Dewek, entrevista à revista Exame), observando em 360º o que está acontecendo. Começa-se pelas mudanças de comportamento das pessoas ao longo dos anos e parte-se para tudo o que o ser humano modificou, seja isto referente a moda, a arquitetura, a política ou a economia. Tudo é relevante, nada é descartável. Utiliza-se também de algumas outras ferramentas para a captação de tendências. “A etnografia é um método de investigação qualitativa que estuda os costumes, as crenças, os mitos, as genealogias e a história de determinada comunidade. O contexto de observação é a vida cotidiana, e os recopiladores de dados sobre essa região são os próprios integrantes dessa coletividade, ou seja, aqueles que a conhecem melhor. Assim trabalham os coolhunters, e, para isso, precisam ter intuição, sensibilidade, capacidades organizativas e analíticas. Teorizam com base na pesquisa ativa, ou seja, prestam atenção sem intervir, e contribuem com algo pessoal para o fenômeno posteriormente.” (DOMINGUEZ, 2010, pág. 11). Existem inúmeros tipos e meios de pesquisa para caçar uma tendência. Não basta apenas observar, ler e etnografar informações. Marta Dominguez fala em seu livro “Coolhunters” sobre alguns tipos de consumidores nos quais é preciso prestar bastante atenção. Os “early adopters” são aqueles que descobrem e colocam a tendência em prática e os “laggards” são os que só consomem depois, quando estiverem seguros sobre aquela moda.

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Para descobrir o que é “cool” é preciso descobrir quem está na primeira categoria. Os coolhunters costumam ir atrás dos jovens, porque estes são mais destemidos perante as novidades. Por isto, para desbravar o cool é preciso se relacionar com o mundo real, e com pessoas reais, evitando pré-conceitos, e preconceitos. “Para observar com novos olhos é preciso variar os trajetos e as áreas o máximo possível” (Dominguez, 2010, pág. 95). Atualmente, por exemplo, podemos levar as palavras de Caldas, 2011, pág 69, como uma leitura do zeitgeist: “Hoje somos seres cercados por produtos a ponto de, muitas vezes, sermos reconhecidos por nossos objetos, numa espécie de efeito metonímico perverso que faz equivaler pessoas e coisas.” (Caldas, pág 69).

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A PESQUISA E O MERCADO _


Vivemos num mundo em que tudo e todos estão em

constante mutação. Foi-se o tempo em que mudar de ideia era considerado fraqueza de caráter. A mudança de hoje está completamente ligada ao novo ritmo de vida vivenciado por nós, e nessa Nova Era, onde o tempo literalmente voa “Chegar aonde os consumidores estão antes destes, oferecendo-lhes o que nem sabiam o que iam querer – a isso se dá o nome de sucesso.” (POPCORN, Faith, 1997, pág. 35). Ter a oportunidade de saber os desejos futuros dos consumidores é moeda ouro no mercado e é por isto que procuramos tanto. “Para o pessoal de marketing, o conhecimento das Tendências é valioso.” (POPCORN, Faith, 1997, pág. 35) “Não é possível colocar um preço para o cool, mas existe um acordo tácito de que ele é muito valioso” (Dominguez, 2011, pág. 55). “Há quem crê que a moda é o resultado de uma conspiração apenas dos criadores com as empresas do setor, fazendo assim com que os consumidores sejam sempre atingidos com novos desejos buscando então saciar tais faltas através do consumo” (CAMPOS, 2008, s/p), mas esta não é uma verdade universal. Ao contrário do século passado - quando não havia este contato instantâneo - somos bombardeados de informação por todos os lados a todo o momento. Televisão, celular, internet, telefone... Os meios de comunicação evoluíram de tal forma que é possível estar em tempo real em qualquer lugar do mundo e toda esta informação faz com que a previsão do desejo do consumidor seja cada dia mais difícil.

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O “excesso” de informação dá muita liberdade ao pensamento, a imaginação e consequentemente ao desejo dos consumidores. Afinal, só podemos querer aquilo que conhecemos e quanto mais conhecermos, mais desejos teremos para suprir. A questão é que nem toda informação que chega até nós vem de maneira positiva. A rapidez com que se muda de ideia é grande demais e o que desejamos hoje pode já não ser o que desejaremos amanhã. A informação sofre de certa prostituição e isto atravanca o processo de pesquisa. Sobre a informação: “Se há poucas décadas não havia nenhuma, agora existem em demasia. Desse modo, hoje se pode dizer que as entidades relacionadas com coolhunting estão organizadas em dois grupos. Por um lado, estão os agentes que cobram para dar esta informação de maneira estruturada, personalizada e periódica. Por outro, estão aqueles que distribuem conteúdos de forma aberta, nem sempre ordenada, mas gratuita.” (Dominguez Riezú, Marta, 2011, pág. 61 e 62). A busca pela felicidade de outrora nos torna vulnerável a tantas publicações. Como diz Marcos Rogério Gomes, (ORESUMODAMODA, 2011) “... tudo que é transformado em produtos de consumo de moda torna-se tendência. Portanto, é inevitável fazer parte desse sistema e aderir à determinada tendência. Até mesmo negar-se a fazer parte do todo significa seguir uma tendência da atualidade.”.

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É de comum acordo que é impossível não aderir a determinadas tendências, porque “ir contra ao mercado” também está em voga na atualidade. Mas ao contrário do que diz Marcos Gomes na citação acima, nem tudo o que é transformado em produto de consumo torna-se tendência. Estas produções imediatas e sem pesquisa podem se transformar em modismos: “...sucesso de curta duração, um truque para ganhar dinheiro rápido.” (POPCORN, Faith, 1997, pág. 36 e 37). O modismo passa pelo período de “febre” e cai rapidamente. Diferente das tendências que “... são grandes e amplas. (...) Embora comecem como pequenas sementeiras (que chamamos de Impulsos), espalhadas aqui e ali, têm uma forma de reunir força até formarem uma floresta.” (POPCORN, Faith, 1997, pág. 36). “A importância da pesquisa de tendência se dá justamente neste cenário em que a inovação dos produtos de moda necessita ser guiado pelas oportunidades de mercado, pois as empresas de moda não devem criar produtos que os clientes apenas desejem, mas que efetivamente os consumam. Desta forma, a pesquisa de tendência é informação estratégica para os processos criativos de toda a cadeia produtiva de moda.” (RECH e MORATTO, 2010, pág. 2). Este tipo de previsão dá muito mais segurança a todo o processo de produção e desenvolvimento de novos produtos (DNP’s) e serviços. Tratando-se de produtos, é possível criar e produzir de maneira mais ordenada. Na função criativa, por saber quais campos devem ser explorados. Na fabricação pela possibilidade de programação de tempo, e na distribuição pelo fato de ter o conhecimento dos lugares que desejam e/ou necessitam destes artefatos.

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Poucas pessoas têm esta percepção, mas a pesquisa de tendências não traz benefícios somente ao processo de criação e produção, ela tem grande valia no processo de distribuição e logística. “É um grande desafio aplicar as pesquisas de tendência concebidas e produzidas para o hemisfério norte (em especial para o imenso e poderoso mercado norteamericano e europeu) para a realidade latino-americana, já que o mercado regional tem especificidades tanto do ponto de vista de sua maturação quanto de recepção cultural destas informações.” (RECH e MORATTO, 2010, pág. 2). Por isto é importante ter muito conhecimento sobre os locais aos quais estão sendo pesquisados.


Também penso ser imprescindível ter a consciência da prospecção do tempo com que a tendência será aceita no mercado. “Como disse Andy Warhol “Sempre me interesso pelas coisas certas na hora errada.” Ter uma visão futura acerca de um produto, serviço, empresa, não apenas prematura como muito diferente do resto das pessoas, ensinou-nos uma lição valiosa. Algumas pessoas dependem daquele antigo clichê: “Antes tarde do que nunca.” Você pode tirar uma conclusão errada, pensando por outro lado: “Antes nunca do que muito cedo.” Mas achamos que o conselho deve ser: “Antes cedo e esperar do que nunca.” É quase impossível ter a noção perfeita do tempo. Nem espere por isso. Continue sintonizando-se... até que possa transformar sua ideia em um todo coerente, confiável e adequado click.” (POPCORN, Faith, 1997, pag. 398).


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Caçadores de tendências não são donos do tempo. A união de conhecimentos e muito estudo em diversas áreas além do marketing e da moda - tais como a psicologia, economia, política e principalmente a história – dão ao profissional, um olhar diferenciado sobre o espírito do tempo vivido. Um olhar que observa ações e atitudes comuns a pessoas de lugares diferentes. Pensamentos que muito bem interpretados podem se tornar prospecções do futuro e consequentemente tendências. “Há anos, durante um de nossos projetos da BrainReserve, costumávamos ficar irritados quando um cliente dizia inevitavelmente: “Tentamos algo parecido com isso há alguns anos e não deu certo.” Para contra-atacar estas palavras (...) Começamos dizendo: “A BrainReserve gostaria de observar e reconhecer que algumas das direções de novos produtos vêm de ideias... pensadas ou experimentadas antes, só que no momento inoportuno.” Dizemos que, só porque uma ideia não decolou antes, não significa que não seja viável atualmente” (POPCORN, Faith, 1997, pag. 397). Sábias são as palavras de Faith Popcorn, guru da pesquisa. É preciso saber a hora certa para colocar uma ideia em prática. Nenhuma ideia será um “click” se não for utilizada na hora certa.

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Estamos no que se pode chamar de “Era do Individualismo”. A banalização da informação, do acesso a produtos e serviços, do excesso de modismos e da falta de tempo, todas estas questões nos fazem ir em busca de algo “nosso”. A busca pelo exclusivo e personalizado, algo que, simplesmente, fora pensado e “feito para mim”. “Em um mundo tecnológico, as emoções serão mais importantes que o produto físico.” (Dominguez, 2010, pág. 1). Por isso, não basta apenas colocar iniciais ou um nome. É preciso mais. É preciso personalizar por completo. Saber o que aguça a memória e o sentimento das pessoas. Com tantas oportunidades, não se pode confiar o sucesso em um objeto como uma bordadeira, por exemplo. Precisamos conhecer o que toca intimamente o comprador. O que o faria lembrar o abraço de um ente querido, o toque do tecido do vestido usado pela mãe, o som de ninar da infância, o cheiro da casa antiga.

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Isso faz parte do trabalho. Para o coolhunter, a qualificação e o conhecimento em diversas áreas é imprescindível para o trabalho de sucesso.Muitas vezes não se pode trabalhar sozinho, é preciso um grupo de profissionais pra não correr o risco de errar. Mas todo e qualquer passo tem como objetivo conquistar o consumidor, fazer com que ele não possa sair de uma loja, deixando por lá a única oportunidade de relembrar o gosto do café passado pelo pai. As emoções estão inteiramente interligadas. É nisso que está o sentido do trabalho de um caçador. Compreender o que ninguém mais compreende. Enxergar o que ninguém mais enxerga e oferecer ao cliente o que nem ele mesmo lembrava, mas precisa muito.

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Frequente restaurantes, bares, museus e teatros. Tudo é válido. Estamos analisando macrocomportamentos e movimentos socioculturais, não apenas tendências de moda ”

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CAÇANDO TENDÊNCIAS _


Cadernos de tendência são um guia para a indústria.

Eles são a tradução das aspirações dos consumidores para a estação que se segue, mas para fazê-los é preciso primeiro encontrar o Cool para depois traduzi-lo e expô-lo. Os guias tornam o processo de criação muito mais seguro, porque baseiam-se em pesquisas que reduzem ao máximo as chances de erro, delimitando a expansão criativa no desenvolvimento de novos produtos e novas coleções. A procura pelo Cool pode ser dividida em três importantes etapas, já utilizadas por profissionais da área, as quais chamo de “3I’s da Pesquisa”: Investigação, inspiração e interpretação. A investigação (o primeiro I da Pesquisa) deve ser feita no dia a dia, de maneira quase que natural, estando sempre ligado em tudo que nos rodeia. É a etapa do Zeitgeist, a busca pelo “espírito do tempo”, onde procuramos compreender o que está implícito nas movimentações que nos cercam. Nesta etapa: • Treine seu olhar; • Frequente restaurantes, bares, museus e teatros. Tudo é válido. Estamos analisando macrocomportamentos e movimentos socioculturais, não apenas tendências de moda; • Procure por novos termos, gírias ou qualquer tipo de palavra que não seja de seu conhecimento. Anote tudo. Quando se ouve ou vê algo novo, mais de três vezes em diferentes locais e/ou grupos de convívio, as

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possibilidades de virar tendência, seja ela comportamental ou de moda, é muito grande; • Acostume-se a fotografar tudo o que lhe chama atenção, isto ajudará muito na interpretação e tradução de tendências; • Se você souber para quem está pesquisando, aproveite para buscar referências de marcas mundiais que sirvam de inspiração para esta empresa. Caso ainda não saiba, fique ligado nas macrotendências, dos fashion weeks mundiais, mas não permita que eles lhe influenciem. Precisamos saber o que está acontecendo, mas buscamos inovação e não reprodução. Na etapa da inspiração (segundo I da Pesquisa) fazemos uma espécie de filtragem de conteúdo. É a etapa da intuição. Não se apavore, com tempo e experiência as deduções acontecerão espontaneamente. • Tenha conhecimento de para quê ou quem está pesquisando, direcionando os resultados para as áreas em que o trabalho será utilizado. Ex: moda íntima, moda praia e etc; • Se estiver criando para uma marca, procure conhecê-la. Identifique o público alvo, visões e missões da empresa, tornando o produto final em algo essencial e indispensável.Tenha em mente as necessidades do cliente. Pesquise os pontos fracos e trabalhe suas possibilidades para superá-los; • Aposte nas tendências de forma consciente. Lembre-se que este trabalho é de extrema responsabilidade;

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• Elabore um conceito para o material, montando painéis de inspiração, conceito e brainstorming, que possam ajudar na construção final.

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A interpretação (terceiro I da Pesquisa), é a fase mais importante para o cliente. Encontre formas de traduzir as tendências para que qualquer pessoa possa compreendê-las. Transforme tudo em relatórios compreensíveis aos olhos dos outros. • Traduza a pesquisa em algo palpável. “Se um tema não pode ser interpretado, não faz sentido. É preciso saber o que se pode fazer com isto. Oferecer alguns exemplos de interpretação.” (Angel, Rozze. 1º CBME); • Busque respostas para as perguntas: Isto despertará o desejo e as emoções do público alvo desta empresa? É isto que eles (empresa) estão buscando? É comercial?; • Interligue os conteúdos. Deve haver uma unidade entre os produtos confeccionados; • Procure produtos e objetos existentes dentro do tema. Conheça o que já está no mercado e apresente algo diferente e inovador. Conclusos os 3I’s da Pesquisa estaremos muito mais próximos de chegar a excelência. Além de facilitar o trabalho do Coolhunter, promove uma padronização no processo de pesquisa que gera mais confiança ao profissional.

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Elabore um conceito para o material, montando painéis de inspiração, conceito e brainstorming, que possam ajudar na construção final”

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inexistência de metodologias de produção dos books de tendência me fizeram pensar em um método próprio, que facilitasse e pudesse servir de guia para futuros coolhunters que desejam atuar na área. Dividi o processo em cinco etapas, pressupondo haver uma tendência reconhecida, através da metodologia dos “3I’s da Pesquisa” (não tendo este como processo obrigatório a se seguir, apenas levando em consideração a quantidade de informações reunidas neste método). São elas: coleta de dados, exposição de assuntos regulatórios – normas e questões técnicas, inteligência de mercado, comunicação cliente/marketing e diagramação final.

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1ª Coleta de dados O primeiro passo trata da parte fundamental para a montagem de um caderno tendências: o conteúdo. Procure unir todos os documentos sobre as antecipações a serem retratadas, de maneira organizada e seletiva. Separe cartela de cores, modelagens, formas e estruturas, tecidos, estampas, texturas e aromas. Este é o ponto de partida para a construção. Esteja completamente inteirado dos assuntos, lembrando sempre que nem todos os consumidores deste trabalho dominam a totalidade dos conteúdos, por isto é sua obrigação encontrar maneiras de ensinar ou traduzir as tendências para quem não quer se tornar um caçador, mas precisa deste produto em sua empresa. Busque imagens, amostras e dados estatísticos que acompanhem sua linha de pensamento e gerem mais confiabilidade às informações relatadas. Aproveite para escrever os textos que serão inseridos no book e conferir se está tudo pronto para a próxima etapa do trabalho.

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2ª Exposição de assuntos regulatórios normas e questões técnicas; Uma das grandes dificuldades enfrentadas por profissionais da nossa área é a aplicação de tendências em mercados diferentes dos que foram pesquisados e pensados. Apesar de estarmos interligados mundialmente por macrotendências, a inserção destas em cada região nem sempre ocorre da mesma maneira e no mesmo momento. Muitas vezes é preciso fazer adaptações técnicas e culturais para que os produtos correspondam às expectativas locais e sejam aceitos pelo consumidor. Por isto, pesquise sobre a legislação, religião, costumes, cultura e normas instituídas nos países ou regiões que pretende comercializar seu trabalho. Assegure-se de todas as formas que tudo correrá como o planejado, obedecendo aos critérios de qualidade e competitividade do local em questão.

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3ª Inteligência de mercado “Em síntese, inteligência mercadológica é a capacidade de identificar oportunidades, de desenvolver serviços adequados e de vendê-los, procurando sempre satisfazer as necessidades dos clientes” (J. A. Minarelli, 2009, pág. 4). Vale observar que, apesar do nome e dos termos utilizados na citação acima, tratamos aqui de um sistema baseado no conhecimento desenvolvido, e não na inteligência nata. Portanto, falamos de um sistema de observação contínua do mercado atuante, oriunda do marketing, onde buscamos informações que embasem decisões e atitudes a serem tomadas pelas empresas. Assim, possibilitamos não apenas a ampliação do conhecimento deste ambiente, que age de maneira mais agressiva e proativa, mas também, a rápida reação na implementação de ações estratégicas que reajam melhor às mudanças e possibilitem maiores inovações, que afetam diretamente a construção dos projetos.

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4ª Comunicação cliente Não podemos esquecer que de nada adianta termos os melhores pesquisadores se estes não souberem vender o seu produto final. O objetivo de um coolhunter não é apenas “prever tendências”, é preciso ser reconhecido por isto, mostrando ao cliente que tipo de vantagens ele teria em adquirir os seus dados e não os dos concorrentes. Uma boa sugestão é a criação de preview’s, arquivos que possam ser encaminhados a clientes em potencial, para que o interesse seja maior. Exponha alguns detalhes que demonstrem o seu diferencial e mostrem o seu jeito de trabalhar. Conquiste o cliente antes mesmo de assinar o contrato! Lembre-se de deixar seu material sempre atualizado. De temporada em temporada, renove tudo, para que todos percebam que você sabe o que está fazendo. Não dê margens para as dúvidas.

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5º Diagramação Final Talvez esta seja a etapa mais divertida de todas... É a hora de colocar a “mão na massa” e fazer o projeto acontecer. Seguindo atentamente os passos anteriores a conclusão será simples, mas não rápida, por isso reserve um tempo considerável para a diagramação e layoutagem. Caso não saiba utilizar as ferramentas necessárias (CorelDraw, PhotoShop, Ilustrator...), procure bons profissionais em quem possa confiar. Procure montar um grupo fixo de trabalho, isto poupará tempo na execução. Sub etapas: • Defina o formato, o tamanho e o corte; • Escolha o tipo de papel e de impressão; • Construa seu caderno, utilizando todos os materiais arrecadados anteriormente. Faça uma boa introdução (é preciso “contar uma história”, colocando o leitor/ cliente dentro deste universo a ser explorado), utilize os textos elaborados na primeira etapa e edite tudo, criando uma unidade entre todas as páginas. • Decida a quantidade a ser impressa, e se possível faça sempre um a mais, para guardar para si. • Realize orçamentos, mas lembre-se que às vezes o barato sai caro. Procure trabalhar com gráficas indicadas e certifique-se de que seus produtos são realmente da qualidade que você espera. • Confira diversas vezes o trabalho, se possível, em momentos diferentes.

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• Imprima tudo e entregue antes ou no prazo estabelecido ao cliente. Atrasos, jamais! Para formatar um caderno de tendências é preciso envolvimento integral com o trabalho. Não se esqueça, o Coolhunting é um estilo de vida e precisa ser vivenciado todos os dias.

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Referências: 1 - Matthew Brodie 2 - www.complexodeaudrey.wordpress.com.br 3 - Revista online Buro 247 - Miroslava Duma 4 - Site leclassicboho 5 - Karl Lagerfeld - “Harper’s 6 - “Vogue” Itália 2008 7 - “Vogue” Itália 2008 8 - Tim Walker 9 - Shutterstock 10 - Marcos Fertonani 11 - Barcelona Bridal Week 12 - Marcos Fertonani 13 - Matthew Brodie 14 - Site le classic boho 15 - Marcos Fertonani 16 - Showbiz Idris Elba 17 - Site leclassicboho 18 - Marcos Costa 19 - Marcos Fertonani 20 - Marcos Fertonani 21 - Bonelli 22 - Marcos-Costa 23 - blogdemodaprahomem.blogspot.com 24 - blogdemodaprahomem.blogspot.com 25 - Tim Walker 26 - Storytailors 27 - Valentino 28 - blogdemodaprahomem.blogspot.com 29 - Storytailors 30 -Camila do Rosário 31 - Alexander McQueen 32 - Vogue” Coreia 33 - Into the Gloss


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