A moda em Påginas coloridas O jornalismo especializado no mundo fashion migra do papel para a web com ainda mais charme e inovação 1
mercado de objetos para casa, fragrâncias, acessórios e qualquer produto que leve a assinatura de algum estilista. A divulgação desses itens está ligada às estratégias de marketing, de publicidade, jornalismo especializado e formas de divulgação como desfiles, editoriais de moda e campanhas. Assim como a tecnologia se desenvolveu com o passar do tempo, as plataformas usadas para divulgação também precisaram evoluir. No início do século XIX, eram utilizados livros e revistas impressas para este fim; mas foi o despertar do século XX que trouxe mais transformações para o Ocidente: desprendimento da moral; inovação na literatura, arte e design; revolução nos pensamentos, ideias e valores que tinham sido tão constantes no século XIX e a internet. O século XXI trouxe novidades para o mundo eletrônico, além de sites e blogs, surgiram os livros, as revistas digitais e aplicativos para acessar o conteúdo através de dispositivos portáteis. A construção da marca e a forma com que ela é mostrada ao consumidor são essenciais para o lucro. Nas décadas anteriores, os estilistas e designers utilizavam basicamente apenas desfiles de moda amplamente divulgados para criar sua imagem, atualmente, com a renovação contínua e acelerada das mídias, eles estão perdendo cada vez mais importância e é preciso acompanhar as evoluções. Mostramos nesta reportagem um panorama de como esses novos meios trazem uma visão diferenciada da moda e constroem, de forma inovadora, novos conceitos que vão além de divulgar produtos.
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moda e todos os seus segmentos possuem um grande valor e importância dentro de uma sociedade, de um contexto de identidade, expressão e criatividade. O seu significado no mundo é revelado tanto por meio do trabalho do estilista, pela sua capacidade intelectual de criação, como por suas habilidades comerciais, publicitárias e de marketing. Ela é influenciada por movimentos artísticos e sociais, pelo cinema, design, pela arquitetura e pela cultura. No livro Os Estilistas de Moda Mais Influentes do Mundo, o escritor Noël Palomo-Lovinski confirma que “A natureza efêmera da moda mostra que ela frequentemente reflete as mudanças na política, nas artes e na cultura, bem como no espírito de uma época, historicamente comprovado”. Designers e estilistas usam o encantamento da indústria fashion e da mídia da moda para a autopromoção e divulgação, atribuindo status ao seu produto. O mercado da moda não se limita apenas à venda de vestuários, mas abrange todo o
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Revistas digitais ReferĂŞncias no Brasil e no Mundo
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ROMEU A ROMEU é uma revista conceitual voltada para o público masculino, idealizada pelo editor e diretor criativo Rodolfo Ruben, com o intuito de ser uma fonte de inspiração e expressão visual. O título, criado em 2012, já está no seu oitavo portfólio (como chamam suas edições) e cada seis publicações de portfólios online trimestrais são transformadas em um anuário im-
presso, direcionado ao público interessado e distribuído estrategicamente. O conteúdo é reunido através de colaborações de artistas visuais, que propõem novas ideias compartilhadas nos portfólios online da Romeu Mag. A visualização online no portal Romeu é livre, compartilhada em redes sociais e newsletters direcionadas.
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U+MAG MAGAZINE A U+MAG é uma revista independente publicada trimestralmente. A edição impressa só é comprada se solicitada individualmente. Ambas estão online e são escritas na língua inglesa. Em novembro de 2012, junto com o lançamento da centésima edição, a primeira edição impressa, a revista passou a ser paga. Os preços são 50,00 USD a versão impressa e 5,99 USD em PDF e digital. No mercado desde 2004, o espaço é dedicado a pessoas criativas, escritores, talentos emergentes, pensadores e apresenta uma visão moderna sobre o que já foi visto, o que está acontecendo e o que está por vir. Cada edição tem cerca de 200 páginas com entrevistas, editoriais e outros assuntos referentes à cultura contemporânea, vida e estilo. Como os próprios leitores definem, a identidade visual inovadora e única do periódico, desenvolvida por Romeu Silveira, fundador e diretor criativo da U+MAG, quebra as regras do projeto gráfico de revistas de moda de maneira original. A revista, que começou sendo apenas de colagens, atualmente está na sua 105ª
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edição e também faz cobertura de eventos como semanas de moda nacionais e internacionais. Outro projeto do fundador é o From Brazil With Love, trabalho artístico que se apropria de elementos já existentes (imagens, sons, objetos, etc.) para recontextualizá-las e criar uma nova arte, a ciberarte.
BRAINSTORM MAGAZINE A Brainstorm Magazine, fundada por Jonathan Wolpert, é uma revista online trimestral e também portal, que está na sua 13ª edição e abordam assuntos relacionados às artes digitais, arquitetura, cinema, fotografia, literatura, moda, música e televisão. O diferencial do periódico é mostrar novos artistas através da visão de profissionais e estudantes dos assuntos tratados com uma lin-
guagem completa, além de realizar produções autorais. A equipe de três profissionais surge como uma alternativa ao mercado cultural com a intenção de produzir projetos como campanhas, catálogos, identidades visuais, layouts e lookbooks voltados para o mercado nacional e internacional.
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KINFOLK Ao contrário das revistas anteriores, todas brasileiras, a Kinfolk Magazine é uma revista norte-americana trimestral de entretenimento, fundada em 2011, que foi publicada inicialmente online e que atualmente está na sua 11ª edição impressa. O periódico é formado por uma comunidade de artistas, escritores, estilistas, fotógrafos e cozinheiros interessados em criar
conteúdo para jovens amantes de boa comida e encontros casuais. A Kinfolk descreve-se como um estilo de vida básico, discreto e equilibrado. Fundada pelo casal Nathan e Kate Williams e seus amigos Doug e Paige Bischoff, a revista possui uma equipe de designers, fotógrafos e filmmakers que faz com que cada elemento da revista – os recursos, a fotogra-
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fia e a estética -, mostre a forma como eles se sentem sobre como o entretenimento deve ser: confortável, lento, divertido e envolvente. Devido ao grande interesse na publicação online e cópias impressas, que inicialmente eram publicadas de forma terceirizada, atualmente a Kinfolk é auto publicada.
Um passo Ă frente O diretor da revista U+MAG vĂŞ a moda com um olhar desafiador
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omeu Silveira, 25, é diretor criativo e fundador da U+MAG, também possui o projeto de colagens FROM BRAZIL, WITH LOVE e faz trabalhos para revistas e marcas como diretor de arte freelancer. Foi no momento em que resolveu fazer da U+MAG uma revista, em 2006, que seu hobbie foi transformado em um projeto de verdade. A proposta principal da revista é a de dar espaço, selecionar, filtrar e exibir novos talentos com potencial. Vários fotógrafos que fizeram parte de edições antigas do periódico, hoje estão colaborando com os principais títulos nacionais e internacionais. O processo de criação de cada edição da U+MAG parte de um caminho, pautado pelos editores, que envolve muita pesquisa de imagens e inspirações para a seleção do tema. A interpretação deles e o que é adicionado neste procedimento é que fazem o resultado final da revista (que pode ser muito próximo, como também pode ser algo que foge totalmente da ideia original), comunica e indica algo que está por vir. Nós vivemos em um momento em que as imagens são tratadas de maneira exagerada, quase plástica. Para fugir dessa realidade, diversas vezes dentro do processo de criação das edições da U+MAG, foi pedido para os fotógrafos diminuírem o tratamento das imagens ou até mesmo para a deixarem com o mínimo de retoque possível. O maior desafio de uma revista independente é a falta de dinheiro, o resto faz parte do processo. É preciso usufruir de todo o recurso possível para a elaboração do periódico. Ao ser questionado sobre o excesso de informação na internet, Romeu diz que “isso e a tecnologia somente nos coloca em uma posição de separar
o joio do trigo, ir selecionando o que é melhor e jogar fora e não perder tempo com o que é ruim, vazio ou que não representa muita coisa.”. A moda utiliza a arte como uma fonte inesgotável de inspiração e renovação, por meio de parcerias de estilistas e marcas com artistas conhecidos mundialmente ou até mesmo com outros nem tão reconhecidos assim. Nesta troca, tanto os artistas quanto as marcas e os consumidores saem ganhando. A arte, principalmente a contemporânea, serve como radar do mundo em que vivemos. Ao entrarmos em contato com alguma dessas obras, saímos impactados. Nem toda obra precisa ser chocante ou polêmica, mas as reações das pessoas perante uma obra de arte são as mais diversas e isso é um dos objetivos fundamentais da arte: criar algum tipo de reflexão. É fácil de perceber que a moda perdeu o espaço para a tecnologia quando analisamos todo o buzz em torno de celulares, tablets, televisores, computadores, streamings e etc. Atualmente, um jovem comum junta o dinheiro de meses de trabalho para comprar um celular de última geração. Antigamente, o jovem guardava suas economias para comprar uma calça jeans ou uma mochila de grife.
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Em uma conversa com Romeu, descobrimos um pouco sobre suas inspirações diárias e suas preferências pessoais: ONDE VOCÊ ENCONTRA SUAS INSPIRAÇÕES DIÁRIAS? Qualquer coisa pode servir de inspiração dentro do meu processo de trabalho, desde filmes, fotografia, músicas, revistas antigas, exposições, séries, documentários… QUAL É O SEU MOVIMENTO ARTÍSTICO PREFERIDO? Gosto de vários movimentos, e tento absorver o melhor de cada um. No momento, estou devorando tudo que envolve o movimento de poesia concreta encabeçado pelo trio Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari. QUAL É A SUA EDIÇÃO PREFERIDA DA U+MAG? POR QUÊ? Eu tenho umas edições preferidas, como a 100 (de aniversário) e a 103 (sobre imagens vagas x imagens claras), mas de verdade: a minha edição preferida é sempre a próxima. Isso faz com que eu não perca a animação em continuar fazendo a revista. Não gosto muito de ficar olhando pra trás. IMPRESSIONAR UMA NOVA GERAÇÃO SIGNIFICA...? (Tentar) estar sempre um passo à frente. SE VOCÊ NÃO TIVESSE CRIADO A REVISTA E NÃO TRABALHASSE COM DIAGRAMAÇÃO, QUE OUTRA ÁREA ESCOLHERIA? Eu não penso muito nisso, mas com certeza seria alguma coisa ligada à arte e criação.
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a sinestesia no mundo fashion A image maker Igi Ayedun revela sua fascinação pelo mundo da moda 11
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rivados desse mesmo princípio”. As marcas estão seguindo caminhos alternativos para o que a moda da estação dita, a fim de reforçar o poder de sua raiz, agindo independentemente, atraindo clientela que se identifique com o que a marca representa e não simplesmente com as suas mercadorias.
gi Ayedun, 23, trabalha em torno da imagem de moda desde os primeiros passos de produção, sempre esteve envolvida no ambiente jornalístico e atualmente se considera uma “image maker”, uma vez que expressa seu trabalho através de diversas mídias e formatos diferentes, não apenas como stylist ou uma espectadora do que está em voga. Igi também é diretora de moda da U+MAG e correspondente internacional da ELLE Brasil. Em conversa sobre o mercado de moda atual, acredita que a cada dia que passa fica mais difícil definir o impacto da moda na atualidade, porque “se trata de algo muito efêmero com proporções surreais”.
Com todas as crises de vulnerabilidade da moda e a cultura exacerbada do fast fashion, movimento adaptado por lojas de departamento como Zara, Hering e C&A, onde acontecem produções rápidas e contínuas de novidades, é preciso uma mudança. A procura por uma identidade é como uma estratégia de distanciamento dos grandes supermercados de roupa, que envolvem mais qualidade de produto, tradição histórica de desenvolvimento e a restrição contínua da cultura do luxo. Por consequência da renovação frequente das mídias, os editoriais, campanhas e desfiles dentro do cenário da moda estão cada vez mais perdendo a importância, fazendo com que estas formas de expressão e divulgação não sejam mais obrigatoriamente necessárias para os mesmos fins.
A moda é um reflexo figurativo da sociedade em todas as escalas, mas hoje a sua difusão e consumo é cada dia maior, tornando complicado acompanhar cada passo. A definição mais elementar de “moda” trata o conceito como tendências de um costume de sociedade, mas para Igi, o significado da palavra é algo mais abrangente: “É muito mais uma desorganização perpendicular das coisas, do que simplesmente ondas de vai-e-vem.”. Ela considera impossível englobar tudo em apenas uma definição, principalmente porque hoje em dia os mercados são inúmeros e a relação de integração entre eles é imensa e constante. Cada um é fundamentado em repertórios distintos.
A Lei de Newton (ação e reação) também entra no contexto da moda quando se trata de criatividade, de acordo com Igi, ela sempre foi esgotada e todos que um dia pareceram mais criativos que os outros eram apenas instrumentos das movimentações de contracultura. Segundo o livro O Que é Contracultura, de Carlos Pereira, a contracultura pode ser entendida tanto como movimento de crítica radical datado na década de 1960, nos Estados Unidos, portanto histórico, ou como qualquer postura contrária à cultura convencional. Gilles Lipovetsky, no livro O império do efêmero, afirma que o surgimento da moda está associado a dois valores fundamentais da modernidade: a importância do novo e a expressão da individualidade. Para Igi Ayedun, na prática a moda significa algo bastante pessoal: “Não consigo me
Uma parte do mercado, principalmente em Paris, onde vive atualmente quando não está no Brasil, possui o fundamento absoluto da tradição, focando em mercados mais concisos, fechados e estáveis. “Eu vejo como uma insistência de identidade e aos poucos assisto outros movimentos de-
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distanciar da moda ao ponto de dizer o que ela significa porque existe um amor e uma fascinação muito grande por esse universo. Não sei dizer o significado de quem amo.”. A image maker falou ainda mais sobre o universo que tanto a fascina:
O QUÊ VOCÊ QUER MOSTRAR PARA O MUNDO AO REALIZAR O SEU TRABALHO? QUAL O SEU DIFERENCIAL? Não sei o que eu faço de diferente, já tive uma fase bem mais exibicionista. Mas o que eu sempre desejei era tocar as pessoas através das minhas imagens. O tipo de reação não me interessa, desde que provoque. COMO VOCÊ DEFINIRIA A “BELEZA IDEAL”? Isso não existe mais, coisa de século XX.
COMO VOCÊ ENCARA O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE EDITORIAIS DE MODA? O QUE TE INSPIRA? Não são muito diferentes dos processos criativos de outras áreas de criação, busco centenas de referências, das mais sinestésicas às mais literais, uno elementos, transo mais elementos e partir disso vou criando uma história até que ela possa ser transfigurada dentro da moda. Me inspira a vida, pessoas nas ruas, cor de gengiva. Não sou muito de seguir artistas, galerias e vômitos conceituais. Até mesmo a minha calcinha pendurada no chuveiro me inspira. Gosto de cotidiano.
QUAIS SÃO OS MAIORES PROBLEMAS NO MUNDO DA MODA? Amoda tem problemas das mesmas proporções que todos os outros meios profissionais. Simples, desde que envolvam pessoas e relacionamentos sempre haverá problemas, não existe maior ou menor. VOCÊ VÊ A MODA APENAS COMO UM PRODUTO? Não, de jeito nenhum. O que moda menos é, é produto.
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O novo em foco O fot贸grafo e editor da revista Brainstorm acredita que a novidade 茅 essencial para manter uma revista viva 14
A Brainstorm foi fundada em 2012, por Jonathan Wolpert, fotógrafo de moda e editor-chefe da revista, a partir da sua vontade de apresentar trabalhos de novas pessoas para o público formador de opinião. A revista representa o novo, o que está sempre se renovando e que repassa novidades; procura mostrar modelos new faces que vão estar em alta dentro de seis meses e estilistas de estados geograficamente "menos centrais" em foco, por acreditar que todos que possuem um bom trabalho merecem ser divulgados. A revista é criada a partir de uma ideia central que se ramifica em diversos briefings para a criação de cada editorial, com equipe escolhida a dedo. Embora a competição aumente com a tecnologia e o excesso de informações que existem na internet, Wolpert acredita que surjam como um auxílio no processo de produção da revista e que o maior desafio é fazer as pessoas verem a publicação como algo para todos, e não elitizado.
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ONDE VOCÊ ENCONTRA SUAS INSPIRAÇÕES DIÁRIAS? Eu assisto muitos filmes e todos os dias tento descobrir pelo menos uma nova banda, para manter meu cérebro fresco e renovado. CONTE-NOS O QUE MAIS MARCOU A SUA CARREIRA ATÉ HOJE. Como editor, sem dúvidas foi ter a top Bruna Tenório na capa da edição 12, foi um grande momento ter aquela capa nos melhores sites do mundo. QUAL É O SEU MOVIMENTO ARTÍSTICO PREFERIDO? O movimento ultrarromântico sem dúvidas me influencia em muito do que faço, tanto como fotógrafo quanto como editor. COMO VOCÊ DEFINIRIA E QUAL O IMPACTO DA ARTE NA ATUALIDADE? A arte hoje em dia chega como algo "fast", no bom sentido. Podemos ver arte no Tumblr, no Pinterest (redes sociais de compartilhamento de fotos), e apreciar em qualquer lugar do mundo, acho democrático.
MODA E ARTE NECESSARIAMENTE CAMINHAM JUNTAS? Definitivamente, desfiles de marcas como Céline e Givenchy estão aí pra nos mostrar isso, além de marcas como Comme Des Garçons e Maison Martin Margiela que são arte na pura essência.
VOCÊ CONSIDERA O MERCADO DA MODA DEFASADO? HÁ TENDÊNCIA AO ESGOTAMENTO DA CRIATIVIDADE? Acho que há tendência ao esgotamento da criatividade por ser algo que sempre se renova, independe de cópias, já que pouquíssimo se cria hoje em dia.
QUAL É A SUA EDIÇÃO PREFERIDA DA BRAINSTORM? POR QUÊ? A minha edição favorita é a edição que vai chegar online dentro de duas semanas, pois vamos trazer uma renovação visual imensa para a revista!
IMPRESSIONAR UMA NOVA GERAÇÃO SIGNIFICA...? Trazer aquilo novo que vá inspirar.
QUAIS SÃO OS FUTUROS PROJETOS PARA A BRAINSTORM? Uma renovação visual e conceitual geral, e presença de nomes cada vez mais fortes (e novos).
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O caminho ainda ĂŠ segmentaR
Especialista em Jornalismo de Revista diz que as especificidades chamam os amantes dos impressos 17
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público e continuam perdendo”. O mercado publicitário que ajudava a pagar a conta também mudou – hoje anuncia muito menos em jornais e revistas. O relatório do projeto Inter-Meios de abril de 2013 apontou que o faturamento acumulado no bimestre em revistas foi de R$ 188,42 milhões, enquanto a web recebeu R$ 189,7 milhões. As novas tecnologias ajudam e podem influenciar positivamente, especialmente no modo de produção. Hoje, fazer uma revista não é mais uma operação tão cara como já foi, a tecnologia torna tudo mais fácil e mais possível de ser feito em escalas menores, um suspiro de sobrevivência para os impressos. Uma reportagem publicada na revista EXAME em setembro de 2013, revela que “Com o surgimento dos livros digitais, as edições impressas pareciam condenadas à morte. Mas, após a explosão inicial, a venda de e-books começa a desacelerar”. Este fenômeno acontece porque sempre que há uma novidade, há um “boom” e leva um tempo para ajustar a novidade à realidade. Essas tecnologias para e-books estão sendo desenvolvidas e aperfeiçoadas. A jornalista acredita que as vendas devam crescer cada vez mais daqui para frente, entretanto, isso não quer dizer que o livro impresso vai acabar, mas o livro digital deve ocupar uma fatia maior do mercado. No livro Jornalismo de Revista, Marília Scalzo diz que “não dá para esquecer também que revistas são impressas e o que é impresso, historicamente, parece mais verdadeiro do que aquilo que não é. Servem para confirmar, explicar e aprofundar a história já vista na tevê e ouvida no rádio”, porém esta realidade está em fase de transformações e os meios digitais estão ganhando cada vez mais credibilidade com o seu público. As revistas sofreram diversas alterações desde 1663 (ano em que a primeira revista foi publicada) até chegar a seu formato atual. As primeiras publicações pareciam livros e o segmento feminino ocupava a maior fatia do mercado. As revistas também tomam um papel importante na
arília Scalzo, jornalista e autora do livro Jornalismo de Revista (2004), escreve que “Por mais que se tente, às vezes não adianta querer reproduzir os recursos da Internet ou da tevê em papel, assim como não adianta querer fazer uma revista, no sentido tradicional do termo, no vídeo ou na tela do computador” por acreditar que revistas digitais devem ser diferentes das impressas. Ainda que o futuro desse tipo de veículo possa ser a web, as revistas digitais não devem reproduzir o modelo impresso. Em formato digital, ganham muitos recursos diferentes e é importante aproveitá-los da melhor maneira. A Internet trouxe um questionamento sobre o mercado: será que em dez anos ainda vão existir revistas impressas? Marília Scalzo imagina que este se torne um mercado de nichos, de publicações muito específicas e voltadas especialmente para amantes de impressos, como mostram as iniciativas que valorizam objetos, revistas quase artesanais. As publicações de grande tiragem devem acabar no impresso e poderão sobreviver no digital se tiverem assuntos e públicos bastante específicos. Para a jornalista, revistas semanais de informação, por exemplo, perdem totalmente o sentido no mundo digital. Houve muitas mudanças no mercado desse ofício nos últimos dez anos. Vimos o surgimento do mundo digital e a dificuldade das empresas de comunicação de entrar nesse novo mundo. “Os jornais e revistas tradicionais, querendo sobreviver, se pioraram (cortando custos, deixando de fazer reportagens, tentando parecer com a internet sem poder) e as revistas e jornais perderam
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complementação da educação, relacionando-se intimamente com a ciência e a cultura. Elas podem ser chamadas de “supermercados culturais” por refletirem a cultura dos lugares e o estilo de vida. Moda e publicidade O jornalismo de moda, em muitos momentos, estabeleceu uma relação dúbia com seu público, porque falava ao mesmo tempo com o leitor e com o anunciante, sendo que os públicos tinham interesses diferentes. Isso acontece (ou pode acontecer) também nos veículos digitais. Hoje em dia, como é mais fácil o acesso, qualquer um pode dizer qualquer coisa em um blog ou site, mas isso não significa credibilidade. A tendência é as revistas digitais se firmarem em vários segmentos e haver nesse mercado também uma seleção determinada pela preferência dos leitores. Embora o público consumidor tenha uma fixação pelo familiar, ele possui uma obsessão por novidades, uma atração pelo rápido crescimento da tecnologia e globalização. No mercado atual, as empresas de vestuário vão além das suas confecções para vender, eles buscam criar imagens e formas e estratégias de marketing e publicidade para sobreviver no mercado. Nöel Palomo-Lovinski, no livro Os Estilistas de Moda Mais Influentes do Mundo (2010), afirma que técnicas de marketing e propaganda ajudaram os estilistas a se destacar em um mercado competitivo, essas práticas levaram o conceito da marca a ser um estilo de vida.
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Slow fashion A moda deve ser mais introspectiva
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designer, fotógrafa e professora de ilustração e desenho de moda no curso de Design da Universidade do Vale do Itajaí, Caroline Santos, se aventura em todas as instâncias experimentais da moda. A designer possui vários projetos paralelos como o “Carola” e o “Ato Autor”, onde apresenta suas experiências cotidianas a partir de produções de vestuário, de acessórios e de joias. Com os projetos, ela ainda realiza pesquisas em temas lifestyle que resultam em fotolivros sobre criadores e sobre o consumo autoral. Caroline Santos vem se envolvendo no universo da performance audiovisual e corporal, além de participar de criações compartilhadas no Coletivo Efêmero, onde realiza trabalhos artísticos com seus amigos e alunos. Como defensora do movimento Slow, ela prefere evitar o assunto comercial. Seu olhar está voltado para a parte mais experimental e sensorial da moda, para a relação emotiva intensa entre o criador e o usuário. Sobre o cenário atual da moda contemporânea, Caroline objetiva: “O cenário está
mais alternativo, semanas de moda são só semanas de moda. O que realmente acontece são os eventos multiplicadores em que há material de música, arte, gastronomia, fotografia, cinema e audiovisual envolvidos, onde a moda é consequência, nada é forçado”. Ela acredita que o estilo da maneira contemporânea seja o Vanguardista, como o da designer gaúcha Helen Rodel, despojado sem deixar de ser sofisticado. Ela ainda adiciona que este público avant-garde é minoria no Brasil e faz parte da fatia de consumidores que não segue o que está na novela ou o que alguma blogueira dita. São personagens autênticos e únicos, bastante influenciadores na questão de comportamento e de liberdade. Para a designer, é preciso que ocorram algumas mudanças básicas como a implantação de leis ambientais sobre produções industriais e também sobre pequenas empresas para que a moda possa continuar. É necessário que haja responsabilidade sobre tudo o que é distribuído em agua, terra, ar e fogo. “A matéria de moda é como se fosse ouro, as pessoas não veem isso. Tem que ser tudo aproveitado, tudo mesmo. Toda essência de trocas, brechós e bazares, além de sustentáveis, são eventos de ligação entre as pessoas e reflexão sobre a utilização
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da peça, essa é a tendência”. O Movimento Slow, que prega uma vida mais devagar e menos consumista, pode melhorar a vida financeiramente, em relação há pequenos grupos regionais, relacionamentos, patrimônios imateriais e herança cultural. É importante valorizar o elemento e a ancestralidade. Para ela, algo que não podemos esquecer é a referência cultural (e pessoal) de cada um. Buscar suas raízes e não apenas crescer na frente da televisão, do computador ou grudado no celular, olhando apenas para baixo, em vez de para si. “Acho que todo mundo teve ou tem uma fase em que não consegue enxergar o essencial que está dentro de si e se colocar para o mundo de forma sincera e pura, mostrar seu jeito de ser”. Em tempos em que a obsessão com o material parece ser a parte mais importante do mundo fashion, mentes como a da designer surgem como um respiro de sobrevivência.
Who Wants Fashion O mundo sob novas perspectivas
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municação em 2012 e o blog alcançou o primeiro lugar na categoria Internet dentro da modalidade Blog. Outro motivo de orgulho para o Who Wants Fashion foi a parceria com o site Papo de Homem, espaço virtual destinado ao público masculino, que nos desafiou a dar vida a um ensaio sensual não apelativo. As imagens acabaram se transformando em arte através da ilustração feita em aquarela pelo Estúdio Blanka e por fim virou estampa para as camisetas da marca Dealer Clothing. Com o desenvolvimento das publicações, produções e divulgações em diversos veículos, o blog ganhou reconhecimento chegando a alcançar mais de mil curtidas na sua página do Facebook. Não mais que um ano depois da primeira publicação, recebi um e-mail da equipe do Sol Diário, com a proposta de inclusão da página em seu portal ClicRBS, onde atualmente está hospedado, embora desatualizado desde abril de 2013. Eu continuamente vejo o mundo como uma obra de arte. Consigo usar a minha imaginação para construir diferentes narrativas para um mesmo momento e transformá-lo em produções artísticas, desde as mais simples. O minimalismo sempre me atraiu, sempre vi mais beleza no etéreo, visceral e cru, do que em uma produção manipulada, impecável e sem defeitos. Eu queria que essa geração de talentos buscasse novas formas de visualizar e expressar o que está em sua volta, que tenha em si o desejo de exercitar a criatividade para apresentar o seu ponto de vista sobre o mundo. Foi esta ânsia que me fez expor, nesta reportagem, a realidade de quem produz revistas digitais de moda, o mundo em que vivem e suas percepções.
amor que eu sinto pela estética, unido à ânsia de mostrar os meus conceitos artísticos para o mundo me fizeram idealizar o blog Who Wants Fashion. Indo contra o fluxo dos blogs e sites de moda atuais que se resumem em sua maioria a “looks do dia”, tendências e promoção pessoal, eu busquei compartilhar assuntos que despertassem a minha curiosidade. Desde o dia 1º de setembro de 2011, o blog foi atualizado diariamente, abordando temas sobre fotógrafos, editoriais, campanhas, ensaios, lojas, sites, entrevistas e criações de artistas regionais divididos entre as categorias Arte, Cultura, Design, Fotografia e Moda. Desde então, além de curar conteúdos e disseminar inspirações visuais, comecei a buscar parcerias com fotógrafos e modelos para desenvolver produções autorais que expressassem valores estéticos e culturais. Ao todo, foram contabilizados 11 ensaios fotográficos e fashion films com temas específicos. O maior e mais repercutido editorial foi o Let’s Just Be Roadies, inspirado no estilo de vida Gypset, uma releitura da cultura cigana. Misturamos etnias e nomadismo com a intenção de desvirtuar o caos da vida urbana e valorizar as coisas simples da vida, trazendo o espírito hippie dos anos 60 para a contemporaneidade. O ensaio contou com duas fotógrafas, um filmmaker e quatro modelos. A atmosfera desapegada chamou a atenção de diversos veículos de comunicação como o Jornal de Santa Catarina e a OKO MAG, onde as fotos também foram publicadas. Uma das fotografias do ensaio chegou a ganhar o segundo lugar na categoria Fotografia dentro da modalidade Fotografia Autoral no prêmio Charles Chaplin de Co-
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ProduÇões autorais Ensaios fashion exigem mais do que a técnica fotográfica. O site Who Wants Fashion apresenta seu trabalho
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Primavera Morta A fim de enriquecer o portfólio, eu concebi o ensaio Primavera Morta, que como sugere o nome, expressa a primavera e suas tendências na moda de uma forma diferenciada. Em tons frios, com um semblante quase mórbido contrastando com o cenário urbano da cidade de Balneário Camboriú, as modelos Brianne Lee e Isadora de Bona exibiram suas belezas através dos cliques do designer e fotógrafo Dennys Tormen.
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PAX Acessórios Verão/Inverno A primeira produção de cunho comercial foi em parceria com a loja Pax Acessórios de Brusque. A campanha de verão foi fotografada no canto da praia de cabeçudas, em Itajaí. A modelo Luísa Steffens posou para as lentes da fotógrafa Luiza Colzani com produção, make-up, hair e styling elaborados por mim. Duas estações depois, a equipe deu vida à campanha de inverno da marca, onde a modelo Giulia Silvestre interage e exibe as peças em um cenário hípico.
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Legs Of Apocalypse O ano de 2012 foi marcado pelo suposto fim do mundo. Diversos designers e fotógrafos de moda entraram na “brincadeira” e aproveitaram os rumores para desenvolver coleções e explorar possibilidades. A equipe Who Wants Fashion, em parceria com a fotógrafa Tauana Sofia e a modelo Luiza Colzani criou o ensaio Legs Of Apocalypse, que remete a ideia de que o mundo teria de fato vindo ao fim e leva o espectador a outro planeta.
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Raw With Love As imagens produzidas para o ensaio Raw With Love explicitam dois lados da personalidade feminina: o visceral e o frágil. A modelo Julia Rodrigues ora se apresenta de forma erótica e sem pudor; ora de forma delicada e inocente. A personagem conta a história dela mesma no cenário caótico de uma construção inacabada e também faz referência ao caráter feminino. Como diria Frida Kahlo, “Pinto a mim mesma porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”.
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Let’s Just Be Roadies Trouxemos o espírito hippie dos anos 60 para a contemporaneidade através do editorial Let’s Just Be Roadies, inspirado no estilo de vida Gypset, uma releitura da cultura cigana. Em um clima road trip, fizemos uma viagem imaginária para um local tranquilizante e vazio, longe do caos da vida urbana. Os quatro amigos se despedem da correria e praticam o desapego material, desfrutando do prazer primitivo com muito sentimento: pés descalços, roupas leves e o contato com a natureza. A realização do ensaio contou com o apoio das lojas Yacamim e Mente Sã de Balneário Camboriú, cliques pelas fotógrafas Tauana Sofia e Luiza Colzani, vídeo do filmmaker Dennys Tormen, styling por Andreia Bressan, minha produção e modelagem de Marcos Ribas, Nicolas Fresard, Bábara Muller e Ana Santos.
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Innerspace A solidão feminina se camufla entre as cores do universo paralelo criado com projeções variadas para o ensaio Innerspace, produzido por mim e fotografado por Luiza Colzani. A modelo Maria Eduarda Loch é arrastada para uma dimensão onde interage com o intocável e expressa sensualidade e timidez em um cenário surreal para o fashion film de Tulio Gonçalves.
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Simulacro da Arte O pôr do sol da cidade de Balneário Camboriú iluminou o corpo da modelo Samanta Rosa para o ensaio sensual produzido para o site Papo de Homem. A proposta foi a de criar um editorial que mais tarde seria transformado em ilustração para a estampa de uma camiseta do PDH pela marca Dealer Clothing. A produção e o styling ficaram por minha responsabilidade, as imagens por Tauana Sofia e a arte pelo estúdio Blanka, de Blumenau.
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