Revista Supernova

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SUMÁRIO OBSERVATÓRIO

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Você sabe o que é um sapato vegano? Cidade linda ou cidade cinza? Jogos bons feitos em solo nacional? uniVERSO

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Bruna Beber recorda a infância nos anos 1990 com poemas de “Rua da padaria” A pouco conhecida tradição da literatura de horror no Brasil Luzes de Emergência se acendendo automaticamente podem ser úteis VIA TELA

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Boi neon Mate-me por favor A glória e a grossa EM ÓRBITA

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Alfabeto do Samba Projeto Lampioa As cores de Carol Rossetti ESTAÇÃO ESPACIAL

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A libertação de Rincon Sapiência O criolo deixou de flerte e lançou um profundo olhar para o samba A versatilidade de Paula Cavalciuk


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Diretor executivo Simon Petrikov Diretora de marketing Joana Pires Editor chefe Clóvis Cruz Diagramação e arte Carlos André Marques de Andrade, Leandro Rosa da Silva, Maria Lúcia Eiroff Revisão Betty Groff Colaboradores Beatriz Moura, Bruno Camello, Dalton Nogueira, Eduardo Ribeiro, Gustavo Dith, Isabelle Campos, José Marinho, Julia Mattos, Letícia Motta , Natti Naville, Wesly Malk, Felipe Torres, Sean Paul, Thomas Nibiru Capa Arthur Duarte - Lasca Studio Arte Expediente Mika Takahasi SUPERNOVA – Revista Brasileira sobre a indústria criativa nacional abordando áreas de Literatura, Música, Cinema e Artes Visuais. Com publicação bimestral da Editora Vire-se Ltda.

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VOCÊ SABE O QUE E É UM SAPATO VEGANO? A moda sustentável passou do discurso à prática há muito tempo: fios orgânicos, pigmentos naturais, reaproveitamento de retalhos

Foto Insecta Shoes

Por Thiago Guimarães

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Pamella, Bárbara e Laura, as três sócias da Insecta Shoes: sapatos veganos.A moda sustentável passou do discurso à prática há muito tempo: fios orgânicos, pigmentos naturais, reaproveitamento de retalhos. Reciclar roupas, contudo, continua sendo um desafio e tanto – em geral, o processo é tão custoso quanto começar uma peça do zero. Uma marca gaúcha de sapatos – a Insecta Shoes – nasceu diante dessa missão. E em menos de dois anos no mercado já escreve uma bela página no movimento ecofashion nacional, com modelos feitos a partir de peças de brechó e sem matéria-prima animal. “O produto mais verde é aquele que já existe, porque não depende de novos recursos naturais para ser feito”, já dizia John Donahoe, CEO do eBay. Por aí se entende a filosofia da Insecta, ancorada em conceitos como reaproveitamento, customização e upcycling. Upcycling é uma tendência na indústria do design que aposta no reuso criativo. Como sugere a expressão, trata-se de uma reciclagem com um “up”, que evita “matar” a matéria-prima original ao renascer como produto. Ou seja, a peça já nasce com uma história para contar.No caso da Insecta, um encontro de interesses comuns traçou as primeiras linhas da história. A profissional de mar-

keting Bárbara Mattivy tinha um brechó online, o Urban Vintagers, e a designer de moda Pamella Magpali tocava a MAG-P Shoes, uma marca de sapatos artesanais que empregava o excesso de couro da indústria calçadista. A proposta da Insecta Shoes é reaproveitar tecidos: não existe um modelo igual ao outro. Quem frequenta brechós sabe o drama que é encontrar peças bacanas, mas de modelagem defasada. O brechó de Bárbara tinha na gaveta umas roupas vintage com estampas legais, mas em tamanho XXL e que acabaram ficando sem ajuste. Pamella sugeriu usá-las para fazer sapatos e o resultado foi ótimo: 20 pares lindões que venderam como água. Decididas a transformar a parceria em sociedade, Pam e Babi buscavam um nome universal, que remetesse à natureza. Nessa busca, descobriram uma paixão comum: ambas passavam horas pesquisando insetos exóticos no Pinterest, Babi tinha colares de âmbar com esses bichinhos, Pam colecionava besouros secos. Daí surgiu o nome da marca – e também dos gêneros de insetos que batizam cada modelo. Além de unir o trabalho com excedentes da indústria de Pamella e a preocupação com o pós-consumo de Bárbara, a Insecta também.

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CIDADE LINDA ou CiDADE CINZA?

O prefeito João Doria junto a políticos como Bruno Covas reacendem uma discussão antiga na cidade com a implementação do programa intitulado “Cidade Linda”. Com uma política de tolerância zero a pichação e um projeto para a criação do chamado “grafitódromo” no bairro da Mooca ao estilo Wynwood de Miami, Dória divide opiniões entre a população sobre suas decisões tomadas. Lugares como a 23 de Maio e os seus “Arcos de Jânio”, repletos de graffitis e outras manifestações artísticas, foram cobertas pelo próprio prefeito vestido de uniforme laranja e equipado de uma máquina compressora que cuspia tinta cinza em cima de muros intitulados velhos e vandalizados. Insistindo para os pichadores mudarem de profissão, o prefeito dá o recado: “Se tornem artistas e terão o apoio da Prefeitura para a arte urbana, através da Secretaria de Cultura, onde estas pessoas vão receber orientação, apoio, material, recursos pra que se tornem artistas, grafiteiros ou muralistas. Se quiserem continuar disputando com a Prefeitura, serão perdedores”. De outro lado, artistas urbanos (tanto grafiteiros como pichadores) questionam as medidas e expõem 10

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a visão de um movimento que está enraizado na cidade a mais de 30 anos. Segundo alguns escritores o próprio dias da posse, carrega um julgamento e um padrão pré-estabelecido do que é arte, do que é bonito e o que representa a cidade.“O que se quer apagar tem cor, classe social e endereço. Uma cultura de rua que vem das margens, mas que não se limita a elas, circula por toda a cidade, transpondo barreiras físicas e simbólicas. Guerrear é não querer o diálogo, diálogo que nem sequer tentou-se estabelecer. Pintar uma cidade inteira de uma só cor, é tirar da visibilidade das superfícies a diversidade que faz da nossa cidade o que somos. Aqui não é Miami, aqui é São Paulo mesmo, e é essa cidade que queremos para a gente. Uma cidade que, com todas dificuldades, permite diferentes formas de experiências, vivências e circulação. Essa cidade nunca deixaremos ser maquiada. Talvez o que se enxergue no spray, nos rolinhos e nas tintas seja mesmo uma arma, mas trata-se da arma das ideias, e as nossas sempre serão livres.”. Seria papel da cidade definir esses padrões? Quem teria realmente ou tem poder donde faze-lo-ei?

Foto Nelson Padilha

Por Sean Paul


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JOGOS BONS FEITOS EM SOLO NACIONAL? Vamos te mostrar dois jogos que você precisa conhecer para abrir os olhos para a indústria de jogos brasileira. Por Thomas Nibiru

Essa indústria começou ainda na ditadura, quando o governo determinava a reserva do mercado de informática para empresas brasileiras. Os desenvolvedores de jogos no Brasil driblaram todo tipo de dificuldade. Mesmo com a proibição de importações na área, durante o período militar, os brasileiros davam um jeitinho usando habilidades nativas dessse povo. “Muitos falsificavam aparelhos e criavam programas do zero”, explica o gamer e jornalista especialista em games 16bits Pedro Zambarda de Araújo, que criou o site Drops de Jogos e também mantém o Geração Gamer ou como todos conhecem a galera dos E-sports brasileiro campo que está crescendo cada vez mais nos dias de hoje, endereço dedidado aos jogos vindos de terras brasileiras. A trancos

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e barrancos, o crescimento desse campo por aqui alcança de 9% a 15% anuais, desde 2009, segundo pesquisas da anã a ABRAGAMES, a maior associação de desenvolvedores do país. Nesse ritmo, a tendência é que o Brasil chegue aos pesos-médio desse ramo em breve. Agora, se você quiser comprar uma só que, por enquanto, sem esbarrar nos gigantes como Estados Unidos e Japão. Um dos pontos que servem para alavancar o Brasil, além das novidades nos projetos autorais, é o formato em que vêm os jogos e a quais plataformas são acessíveis, agora, se você quiser comprar uma produção nacional, não vai ficar refém do PC, já que aumentaram as chances de que ela esteja disponível para Xbox, como sempre eu vou por exemplo o mais barato que tem maior público.


Chroma Squad No entanto, seu aspecto colorido, seu humor irreverente e sua história cheia de momentos “eu não desisto nunca” não poderiam ter saído de outro lugar que não o Brasil -- tão belamente cantado no samba-enredo da Império Serrano de 1964. E é justamente por esse caldeirão de influências, que mistura arroz com curry e feijoada, que Chroma Squad talvez seja um dos games verde-amarelos melhor capazes de fazer bonito lá fora e mostrar que o Brasil pode sim fazer “joguinhos eletrônicos do tipo videogame” sem usar o Saci.Os desenvolvedores brasileiros são frequentemente cobrados por fazer jogos com temática nacional. Bobagem com o humor e a malemolência tupiniquins, mas inspirados na cultura japonesa, a Behold Studios comete em Chroma Squad um jogo globalizado e tropicalista, capaz de agradar o público estrangeiro.

Imagem Chroma Squad

guerreiros folclóricos No entanto, seu aspecto colorido, seu humor irreverente e sua história cheia de momentos “eu não desisto nunca” não poderiam ter saído de outro lugar que não o Brasil -- tão belamente cantado no samba-enredo da Império Serrano de 1964. E é justamente por esse caldeirão de influências, que mistura arroz com curry e feijoada, que Chroma Squad talvez seja um dos games verde-amarelos melhor capazes de fazer bonito lá fora e mostrar que o Brasil pode sim fazer “joguinhos eletrônicos do tipo videogame” sem usar o Saci.Os plenos brasileiros desenvolvedores brasileiros são frequentemente cobrados Bobagem. Mais do que brevemente falados onde tudo é possível e cheio de amor que manter o (alto) nível de Knights of Pen and Paper, Chroma eleva o padrão de qualidade da empresa com boa jogabilidade, visual charmoso.

Imagem Guerreiros Folclóricos

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BRUNA BEBER RECORDA INFÂNCIA NOS ANOS 1990 COM POEMAS DE “RUA DA PADARIA" Com doce ironia e saudosismo, escritora retrata o cotidiano e as memórias vividas no Rio de Janeiro Por Susan Souza

A poesia da carioca Bruna Beber, autora do recém -lançado livro Rua da Padaria, traz a sutileza e o humor de quem observou e foi sensível aos anos 1990. Ao viver as surpresas do cotidiano e nele descobrir uma macumba na encruzilhada, participar da malhação do Judas ou sentir os dissabores dos relacionamentos, a autora inspira a geração pré-internet a olhar para o passado. A nova obra de Bruna é "um livro de memórias vividas e criadas a partir de sua infância na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro" daquela época, resume a autora, em entrevista ao iG. Nascida em Duque de Caxias, em 1984, Bruna foi moradora de São João de Meriti (Rio de Janeiro) e está em São Paulo há seis anos. Desde pequena, já demonstrava interesse para narrar grandes histórias em poucas palavras.

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Poesia na infância

Nascida em Duque de Caxias, em 1984, Bruna foi moradora de São João de Meriti (Rio de Janeiro) e está em São Paulo há seis anos. Desde pequena, já demonstrava interesse para narrar grandes histórias em poucas palavras. "Escrevo poesia desde que aprendi a escrever. Assim que aprendi a ler, a primeira coisa que escrevi foi poesia. Foi natural e magnífico perceber, aos seis, sete anos, que eu conseguia brincar com as palavras e me expressar por meio delas", conta. "Felicidade é o que tem dentro/ das bolinhas de papel/ e se arremesso/ lá vai ela", relembra no poema De Castigo na Merenda. A temática dos textos abrange, além das situações das salas de aula, a visão que Bruna tinha das tias e avós, a lembrança de uma morte próxima, a observação que fazia das pessoas que passavam pela rua e as primeiras impressões, um tanto melancólicas e sinceras, sobre o amor. A expressão mais forte do sentimento se dá no texto Romance em 12 linhas, no qual indaga: "quanto tempo falta pra gente se ver hoje/ quanto tempo falta pra gente se ver logo". Na mais recente edição da Festa Literária Internacional de Paraty, que aconteceu entre os dias 3 e 7 de julho, Bruna, de 29 anos, participou de uma mesa de debate com as também poetas Alice Sant’Anna e Ana Martins Marques. As três são jovens e falaram sobre a função e o estilo de seus textos. "A nossa mesa foi muito boa, três poetas mulheres, as mais jovens da festa. Achei que as pessoas que estavam na plateia gostaram do debate e sobretudo das leituras", avalia.

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A expressão mais forte do sentimento se dá no texto Romance em 12 linhas. No entanto, Bruna não acredita que representa uma geração específica de novos poetas brasileiros. "Existem muitas pessoas escrevendo poesia, cada uma a seu modo. Não acho que exista uma geração, acho que existem pessoas com produções diversas e o que as une são o tempo em que vivem", analisa. "Acho bom não haver “escolas literárias”, como já ocorreu em nossa literatura. As pessoas se unem por afinidades estéticas, pelo diálogo de obras e ideias, mas não é tão preponderante pertencer a um grupo, é uma opção." Integrante inegável de uma geração que passou pela transição do mundo analógico para a tecnologia das redes sociais, a autora, que já teve vários blogs e alimenta com mais assiduidade o Avoa Dinossauro, conta que atualmente "não usa a internet para escoar toda a produção, mas parte dela". "Uso mais como ferramenta de divulgação, articulação e troca de informações e ideias, e por meio da internet conheço, também, outros escritores e seus trabalhos." Os poemas de Bruna Beber já foram traduzidos e publicados na Alemanha, Espanha, Estados Unidos, México e Portugal. Antes de Rua da Padaria (Editora Record, 2013), publicou A Fila Sem Fim dos Demônios Descontentes (2006), Balés (2009) e Rapapés & Apupos (2012).


romance em doze linhas

quanto tempo falta pra gente se ver hoje quanto tempo falta pra gente se ver logo quanto tempo falta pra gente se ver todo dia quanto tempo falta pra gente se ver pra sempre quanto tempo falta pra gente se ver dia sim dia não quanto tempo falta pra gente se ver às vezes quanto tempo falta pra gente se ver cada vez menos quanto tempo falta pra gente não querer se ver quanto tempo falta pra gente não querer se ver nunca mais quanto tempo falta pra gente se ver e fingir que não se viu quanto tempo falta pra gente se ver e não se reconhecer quanto tempo falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu


A POUCO CONHECIDA TRADIÇÃO DA LITERATURA DE HORROR NO BRASIL

Yes, nós temos medo e provamos por A(luísio Azevedo) mais B(ernardo Guimarães)

Por Oscar Nestarez

Então você mora num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, certo? Pois bem: o trem da nossa história está lotado de artistas que exaltaram e exaltam as alegrias de se viver por aqui. Que também apontaram as tristezas, claro, e muitas vezes com maior intensidade. O fato é que, de uma forma ou de outra, nossa arte é fortemente marcada por temas realistas, por traços que compõem a nossa identidade nacional. Mas esses temas e traços são, quase sempre, diurnos, vibrantes, coloridos… Enfim, esperançosos — mesmo quando não há pelo que se esperar.

Assim sendo, diante desse cenário ensolarado e tórrido, fica a pergunta: e nós, amantes do reverso disso tudo? Como ficamos? Para onde iríamos? Se realmente fizermos essa pergunta, muitos darão a mesma resposta: “mudem de trem e vão para outro lugar. Aqui é terra de alegria, não desses sentimentos”. Mas pretendemos contestar essa resposta. Vamos provar, por A(luísio Azevedo) mais B(ernardo Guimarães) que o Brasil tem, sim, uma sólida tradição na arte do medo — pelo menos na literatura. Para isso, preparamos uma breve porém significativa lista de danados.

Aluísio Azevedo, o demoníaco O maranhense Aluísio de Azevedo, autor do clássico O Cortiço, escreveu também uma aterradora novela intitulada Demônios (1893). A história começa com o despertar de um escritor em um dia incomum. As horas se passam e ele percebe que o dia não nasce. Há apenas a noite interminável. Sendo assim, ele parte para uma jornada que se torna mais e mais assustadora. Às cegas, sem qualquer luz, vai buscar sua amada Laura. A procura resulta em um reencontro inesperado, que os transformará medonhamente. E mais não falaremos, para não estragarmos o prazer da leitura dessa história na qual Azevedo demonstrou enorme talento para criar suspense e provocar medo.


Graciliano Ramos, o repulsivo Um moribundo num quarto de hospital descreve, com insuportável lucidez, o apodrecimento de seu corpo; a sanidade mental do narrador é colocada em questão, e ora deslizamos para o absurdo, ora para a consciência da carne que se degenera. Assim é Paulo, conto do alagoano Graciliano Ramos publicado na coletânea Insônia, de 1947. No texto, o autor de Vidas secas demonstra assustadora familiaridade com os subterrâneos da mente de seu narrador, que delira, sofre, agoniza. O relato muitas vezes foi interpretado de forma metafórica: no lugar da morte física, coloca-se a “morte” de valores morais e sociais, e a decrepitude da lucidez. No entanto, há uma certeza: é uma experiência de leitura inquietante, em que nada é o que parece.

Machado de Assis, o sádico Leitor ávido de Edgar Allan Poe (é famosa sua tradução para o poema O Corvo), em mais de um conto Machado demonstrou imensa capacidade de nos deixar assustados e aflitos. É o caso de A causa secreta, relato publicado um pouco antes de Demônios, em 1885. Quem conhece a obra de Poe vai identificar algumas influências nessa história com memoráveis passagens de crueldade; mas há também aquela irresistível magia do Bruxo do Cosme Velho, que fazia parecer com que um apenas texto valesse por muitos. Trata-se, em poucas linhas de aperitivo, da relação de um estudante de medicina com um excêntrico sujeito, chamado Fortunato (mesmo nome de um dos personagens de O barril de amontillado, de Poe). Os dois tornam-se amigos e até sócios, até que Fortunato revela sua natureza contraditória numa passagem que promete queimar suas retinas — com direito a tortura animal e tudo mais.



LUZES DE EMERGÊNCIA LUZES DE DE EMERGÊNCIA LUZES DE EMERG LUZES DE EMERGÊNCIA LUZES DE LUZES DE EMERGÊNCIA DE EMERGÊNCIA LUZES DE EMERG SE ACENDENDO AUTOMATICAMENTE LUZES PODEMDE SEREMERGÊNCIA ÚTEIS LUZES DE LUZES DE EMERGÊNCIA RESENHA LITERÁRIA

Por Isabelle Campos

Gabriel e Henrique são melhores amigos; são vizinhos desde os 6 anos em Canoas, Rio Grande do Sul. Em uma tarde comum Gabi entra em coma por conta de um acidente doméstico banal. Seu melhor amigo, Henrique (Ike), não sabe como lidar com a sua ausência e fica meses sem sequer visitá-lo no hospital. Para tentar amenizar a falta do amigo, Ike decide escrever cartas para que, quando ele acordasse, soubesse o que aconteceu enquanto estava “dormindo”. O livro é composto pelas cartas intercaladas com alguns capítulos descritos por um narrador onisciente. Ike é jovem, vinte e poucos anos, e tem uma vida um pouco sem graça e mal sucedida. Cursa Administração (desistiu de Química Industrial), trabalha em uma loja de conveniências de um posto de gasolina e namora Manuela (Manu), com quem tem um relacionamento à beira do fracasso. Com Gabi em coma Ike começa a sair com os amigos em comum, mas sempre levando seu bloco de anotações para repassar todas as informações ao amigo. Mente sobre o acidente para semi conhecidos, pois não quer que o amigo entre pra uma lista de “formas mais bizarras para se entrar em coma”. Conhece pessoas, fica bêbado, usa drogas, vai a festas, tenta até um grupo de autoajuda para pessoas que perderam alguém importante, tentando preencher o vazio deixado. A história não tem um enredo clássico, com início, meio e fim, nem um clímax. Talvez por isso ela seja interessante, porque é a vida da forma como ela é, revelando um personagem fictício com uma vida que poderia ser de qualquer um. Recomendo a leitura, pois é um retrato da juventude atual que

até então tem sido pouco ou mal explorada nos livros contemporâneos. Nem em todo o conto isso é utilizado, com início, meio e fim, nem um clíma x. Talvez por isso ela seja interessante, porque é a vida da forma como ela é, revelando um personagem fictício com uma vida que poderia ser de qualquer um. Recomendo a leitura, pois é um retrato da juventude atual que até então tem sido pouco ou mal explorada nos livros contemporâneos. A história não tem um enredo clássico, com início, meio e fim, nem um clímax. Para tentar amenizar a falta do amigo, Ike decide escrever cartas para que, quando ele acordasse, soubesse o que aconteceu enquanto estava “dormindo”.

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BOI NEON UM FILME COM PÉ NO CINEMA DE ARTE

Por Renato Hermsdorff

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Enredo Nos bastidores das vaquejadas, Iremar prepara os bois antes de solta-los na arena. Levando a vida na estrada, o caminhão que transporta os bois para o evento é também a casa improvisada de Iremar e seus colegas de trabalho: Zé, seu parceiro de curral, e Galega - dançarina, motorista do caminhão e mãe da audaciosa Cacá. Juntos, eles formam uma família improvisada e unida. O cotidiano é intenso e visceral, mas algo inspira novas ambições em Iremar: a recente industrialização e o polo de confecção de roupas na região do semiárido nordestino. Deitado em sua rede na traseira do caminhão, sua cabeça divaga em sonhos de lantejoulas, tecidos requintados e croquis. O vaqueiro esboça novos desejos. Um consenso entre a imprensa especializada é que no Brasil falta aquele tipo de produção considerado como “filme médio”, ou seja, a obra que não tem pretensões de ser o novo “Glauber Rocha”, nem se trata de uma comédia hiper irada e sendo televisiva e muito caça-níquel. Pois com a profissionalização do mercado nacional, aos poucos essa realidade tem se alterado – embora ainda sem o merecido reflexo nas bilheterias. Casa Grande (2014) e Que Horas Ela Volta? (2015) são exemplos recentes dessa safra, na qual se colhe também o ótimo Boi Neon. Boi Neon - Com um pé no cinema de arte (o que se confirma, por exemplo, nos clipes impactantes da mulher que dança vestindo uma cabeça de cavalo – e que, sim, têm

relação com a dramaturgia do filme), a nova produção de Gabriel Mascaro (Ventos de Agosto) - que assina também o roteiro - passa por um cinema, ao mesmo tempo, de fácil assimilação aumirante rodeio pelo grande público. O mérito, em última análise, se dá em grande parte pela riqueza – e humor – dos diálogos. Tal qual o universalmente regional longa protagonizado por Regina Casé, Boi Neon é falado em um pernambuquês riquíssimo, cheio de expressões tão significativas quanto deliciosas.A premissa já valeria o ingresso. No longa-metragem, Iremar (Juliano Cazarré, excelente) é um peão que trabalha na vaquejada, “esporte” no qual dois vaqueiros têm de emparelhar o boi até uma faixa de cal riscada no chão e derrubar o animal. Ele é o responsável por preparar o bicho para a arena. Mas o que o matuto mais quer da vida é trabalhar no “fabrico de roupa”, como o próprio personagem define, ou seja, ele sonha em ser estilista do Polo de Confecções do São Jõao do Agreste. De cara, daí, é possível extrair duas informações importantes. A primeira delas se insere em um contexto mais amplo e atual. O tal polo de fato existe e tem como um dos pilares a confecção de moda praia – isso no meio de uma paisagem árida localizada a léguas de distância do mar, o que escancara as contradições de um desenvolvimento socioeconômico pelo qual o país passa. Boi Neon - é o reposicionamento de gêneros. Num cenário fortemente associado ao machismo, nosso “herói” tem como objetivo a inserção em um meio do campo semântico feminino (moda). O que não quer dizer que se trate de um personagem gay – amadureça, o buraco é muito mais embaixo. E Iremar não é o único. Enquanto o homem costura, a mulher dirige o caminhão (a atriz Maeve Jinkings, ótima); rato ratoeira triste ou benzedeira não deixa esse boi morrer se não for segunda feira please quando o rapaz passa roupa, a motorista também atua como mecânica; enquanto o macho (Vinicius de Oliveira) alisa o cabelo, ela se orgulha das madeixas pixaim. E toda a construção é articulada de maneira orgânica, sem forçar a barra ou, principalmente, levantar bandeira.

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O sonho impossível Dizia-se no auge da Retomada que a elite brasileira não era retratada no cinema porque não daria boas histórias, e da mesma forma é muito raro ver nas telas hoje a nova elite do agronegócio que prosperou no interior do país. Se Boi Neon (2015) tem uma particularidade, à primeira vista, é esboçar uma aproximação entre os Brasis diferentes que vivem do gado. Os personagens ricos do filme de Gabriel Mascaro não surgem como figuras sádicas com seus pequenos poderes, como os agroboys de Baixio das Bestas, nem como os folclóricos latifundiários do coronelismo, e sim como tipos desapaixonados que vivem em função do seu negócio: o fazendeiro que troca funcionários sem pensar, o apresentador que tenta injetar, maquinalmente, algum drama no leilão. Olhando para eles, não é difícil entender por que a elite não dá bons filmes. Falta-lhes a jornada, o sonho impossível. Em meio a esse mundo feito de repetições - tocar o gado, abrir a porteira, derrubar a res, lavar e lavar - que Mascaro escolhe filmar em Scope, o que ressalta a horizontalidade maçante desse processo industrial, desponta Iremar (Juliano Cazarré), mão-de-obra das vaquejadas que almeja se tornar estilista. O Brasil ao redor de Iremar se multiplica em oportunidades - shoppings em construção, complexos industriais sempre presentes no horizonte, mesmo inseridos digitalmente - e no Nordeste do século 21 talvez esse não seja um sonho tão impossível assim.

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Depois de ganhar notoriedade como diretor de documentários feitos em cima do conflito de classes, como Doméstica e Um Lugar ao Sol, Mascaro estreou na ficção com Ventos de Agosto, um filme que aderia à tradição contemporânea do cinema pernambucano de tratar do sexo e do corpo como um manifesto político. Essa adesão se desdobra em Boi Neon, na medida em que o filme sugere que aquilo que separa Iremar e seus pares da gente rica do agronegócio é menos uma pré-condição econômica e mais um potencial à espera de se realizar - acima de tudo. Imaginemos que Iremar enriqueça. Nada o impede de se tornar um milionário entediado, ainda que faça o que ama. O Iremar de Boi Neon, porém, como os garanhões do leilão, vibra de oportunidade; a sua inquietação se confunde com o desejo represado, e o filme brinca com essa expectativa ao se recusar até o último instante a definir a orientação sexual do personagem. Mascaro filma a figura apolínea de Cazarré não como um brinquedo sexual óbvio, ao contrário da novela das 9, mas baterias de lítio como um potencial secreto: a camisa entreaberta, o trabalho físico na vaquejada que Iremar faz sem, sem suar esforço, sem exibicionismo. Se Boi Neon frequentemente torna mais didática a aproximação que está fazendo entre os animais e a pulsão do sexo - na máscara de boi que Maeve Jinkings usa na noite, na cena do adestrador que se deita literalmente com seu cavalo - isso não tira nunca a força das ótimas cenas com Cazarré.

Imagens boineon.com

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Deitado em sua rede na traseira de um caminhĂŁo de boi, Iremar, um vaqueiro que trabalha nos bastidores das vaquejadas, divaga em sonhos de lantejoulas, tecidos requintados e croquis. 31


MATE-ME POR FAVOR Desde sua apresentação no Festival do Rio no ano passado, culminando com o Redentor de melhor atriz para Valentina Herszage, o rótulo de ‘filme de gênero’ Por Luiz Carlos Merten colou em Mate-me por Favor.

Como foi ser premiada no Rio? Foi incrível e inesperado. Fui à premiação como curtição, porque estava adorando o festival. Quando Nanda Costa falou meu nome, fiquei paralisada. Três anos representam muito na vida de uma adolescente. Lembra do que sentiu ao ler o roteiro? E ao ver o filme pronto? Achei que seria um grande desafio, que teria de testar meus limites, de superar barreiras, mas que valeria a pena. Não sei o que esperava ao ver o filme, mas ele me surpreendeu. Anita (a diretora Rocha da Silveira) entendeu a gente.

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O filme também é sobre amizade feminina e o poder da mulher. Ficaram amigas de verdade? A Dora (Freind) já era minha melhor amiga. Fizemos o teste juntas e foi massa quando fomos selecionadas. Com a minha filha mais nova Júlia (Roliz) tinha feito curso de teatro e a Mari (Mariana Oliveira) foi uma descoberta. Três anos representam muito na vida de uma adolescente. Achei que seria um grande desafio, que teria de testar meus limites, de superar barreiras, mas que valeria a pena. Não sei o que esperava ao ver o filme, mas ele me surpreendeu. Anita (a diretora Rocha da Silveira) entendeu a gente. O filme também é sobre amizade feminina e o poder da mulher. Ficaram amigas de verdade? A Dora (Freind) já era minha melhor amiga. Fizemos o teste juntas e foi massa quando fomos selecionadas. Com a Júlia (Roliz) tinha feito curso de teatro e a Mari (Mariana Oliveira) foi uma descoberta. Lembra do que sentiu ao ler o roteiro? Fizemos o teste juntas massa fomos selecionadas. Com a Júlia (Roliz) tinha feito curso de teatro e a Mari (Mariana Oliveira) foi uma descoberta.

Foto Paola Olivero

Tivemos a chance de entrevistar a atriz Mariana Oliveira, que interpretou a jovem protagonista Frida Ontário e nos falou um pouco mais sobre a experiencia de fazer um filme de tamanha importância. Quando iniciou o projeto de Mate-me por Favor, a diretora Anita Rocha da Silveira começou a distribuir cartazes em escolas, a chamar possíveis candidatas no Face. Um dia, estava no teatro. Viu uma garota que a impressionou muito, e era a Valentina (Herszage). O curioso é que ela havia visto o anúncio enviado uma foto que me passou despercebida. O filme é sobre como os jovens lidam com a morte. Como a vida mais ordinária pode tornar-se extraordinária, com um lugar para a fantasia.


O passa ĂŠ a conc rinho ele diz o iĂŞncia, almente que retece na aconcena

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A GLÓRIA E A GRAÇA Pode até não tocar fundo nesses pontos mais graves, mas trata a transexualidade como algo que deveria ser consenso geral: a ideia de que todo e qualquer ser humano deve ser feliz, independente de sexo Por Matheus Bonez

O filme é focado na relação entre as duas irmãs que dão título à obra. Graça (Sandra Coverloni) é mãe solteira, massoterapeuta que precisa cuidar de seus dois filhos, uma adolescente de 15 anos e um menor de oito. Uma dor de cabeça incessante revela que ela está com um aneurisma fatal. Sem pai nem mãe vivos ou os pais das crianças, que sumiram pelo mundo, ela recorre à ajuda do irmão, Luis Carlos, com quem não fala há 15 anos. Mas ele, agora, é ela. Glória (Carolina Ferraz), uma bem sucedida travesti, dona de um restaurante chique do Rio de Janeiro, que reluta em aceitar a ideia de criar seus sobrinhos. Especialmente, de voltar a estreitar laços com sua irmã após mais

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de uma década cheia de mágoas. Sob a direção de Flávio Ramos Tambellini, a produção do filme demorou dez anos para ser bem sucedida. A maioria não queria saber de um filme estrelado por uma travesti. Emocionada com a personagem e a dura realidade do transgênero no Brasil e na própria arte de atuar, Carolina Ferraz comprou os direitos do script e ajudou o longa a tomar forma. Fez pesquisa de campo, colheu 62 depoimentos de transexuais entre São Paulo e Rio de Janeiro e até viveu como uma por um tempo para sentir O resultado pode ser conferido na tela. A atriz continua belíssima, mas longe do estereótipo glamourizado com que foi tão taxada por anos.


Foto Shirley Felizato

Ao mesmo tempo, também foge ao máximo do clichê de travestis ao qual estamos tão acostumados. Não há traços de marginalização em Glória. Talvez no retrato com o mundo transexual é colocado de forma geral, aplicando uma dose de realismo na ficção, mas nunca em sua persona. São personagens como tantas mulheres da vida real que não tem sua visibilidade reconhecida até hoje e precisam batalhar para mostrar que o sexo não é nada frágil como tentam incutir na mente de todos no mundo inteiro. Ainda há espaço para uma trans de verdade, a atriz Carol Marra, demonstrar todo seu talento e beleza como a melhor amiga. de Glória.Ao transformar Glória numa mulher com M maiúsculo, forte, determinada e dona de si, Ferraz e Tambellini quebram o padrão, ainda que já tenham ouvido (e vão ouvir mais) a respeito de tem sua visibilidade reconhecida uma mulher heterossexual cisgênero ter sido escalada para o papel, e não uma trans de verdade.Por um lado,

é claro que a crítica é bem colocada pela falta de oportunidades das trans nos diversos meios. Por outro, o nome de uma popular e famosa intérprete pode atrair muito mais público às salas, gerando reflexão naqueles que, fosse uma produção menor e com distribuição mais limitada (afinal, estamos falando de um longa da Globo Filmes), talvez nem soubessem que o filme existe.Mas e quanto ao desenvolvimento da trama em si? O roteiro tenta traçar de forma leve a trajetória de suas personagens. O que poderia ser negativo acaba se tornando extremamente importante. Ao final, se trata de uma obra intensamente feminista e focada nas mulheres e sua complexa e difícil realidade, sejam trans, héteros ou o quer que possam ser. Temos uma mãe batalhadora que precisou criar a família com seus próprios recursos. Uma outra mulher que luta diariamente por estar presa a um corpo masculino tendo a alma feminina.

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SE LIGA NOS FESTIVAIS

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Por Arthur Bernardes

17/07

10/08

27/09

13º FESTIVAL DE ANIMAÇÃO ESTUDANTIL DO BRASIL

20º FESTIVAL BRASILEIRO DE CINEMA UNIVERSITÁRIO

49º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO

O Anim!Arte é um festival de animação voltado para o público estudantil, e tem como objetivo incentivar a cultura e o crescimento profissional e artístico na área no Brasil estimulando principalmente o aumento de produções audiovisuais de animação entre estudantes. Barreto alcançou a fama graças ao personagem, apesar de jamais ser reconhecido pelas pessoas por sempre estar fantasiado morreu sendo menos conhecido.

O Festival Brasileiro de Cinema Universitário é o principal exibidor da produção audiovisual universitária brasileira. Além das exibições, o FBCU promove discussões a respeito dos filmes e serve como ponto de referência e encontro para estudantes realizadores de produções audiovisuais. O Festival ainda realiza um curta-metragem a partir de uma oficina de roteiros e dos premiados de cada edição – o Projeto Sal Grosso.

O Festival recebe inscrições de curtas, médias ou longas-metragens, concluídos a partir de agosto de 2016 e inéditos no Distrito Federal. Seis longas-metragens e doze curtas e médias-metragens serão selecionados para compor a programação das mostras competitivas do evento. Além dos troféus Candango, os filmes selecionados vão disputar um total de R$ 340 mil de premiação em diversas categorias. As novidades são as mostras panorama Brasil.

Via tela


EM BREVE NOS CINEMAS

Por Bruno Camelo

30/08

17/07

13/08

LINO O FELINO

DETETIVES DO PRÉDIO AZUL BINGO - O REI DAS MANHÃS

Lino trabalha como animador de festas, mas não aguenta mais ter que suportar todos os maus tratos feitos pelas crianças, que zombam dele por trabalhar com uma ridícula fantasia de gato gigante. Determinado a mudar sua vida, ele contrata os serviços de um feiticeiro, mas, inesperadamente, a magia acaba sendo um tiro no pé e Lino se transforma justamente em um felino ele contrata os serviços enorme. Determinado a mudar sua vida, ele contrata os serviços de um feiticeiro inesperadamente.

Os Detetives do Prédio Azul são confrontados com o maior caso de suas vidas: salvar o próprio edifício da destruição. Pippo, Sol e Bento se infiltram na festa de Dona Leocádia, a terrível síndica que é, literalmente, uma bruxa. A aventura fica completa quando Tom, Mila e Capim, fundadores do clubinho original, são trazidos de volta ao Rio de Janeiro para ajudar no caso. Dona Leocádia, Pippo, Sol e Bento se infiltram na festa de Dona Leocádia, a terrível síndica que é, literalmente, uma bruxa.

Cinebiografia de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo no programa matinal homônimo exibido pelo SBT durante a década de 1980. Barreto alcançou a fama graças ao personagem, apesar de jamais ser reconhecido pelas pessoas por sempre estar fantasiado. um dos intérpretes do palhaço esta frustração o levou a se envolver com drogas, chegando a utilizar cocaína e chegando a utilizar crack nos bastidores do programa. Cinebiografia de Arlindo Barreto, Barreto alcançou a fama .

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Em รณrbita


rvo do ns ace Image projeto

A LFABETO DO SAMBA Por Letícia Motta

REUNIÃO DE ARTISTAS E ILUSTRADORES PARA COMEMORAR OS 100 ANOS DO GÊNERO MUSICAL BRASILEIRO

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Um pouco de história O samba é uma dança e um gênero musical considerado um dos elementos mais representativos da cultura popular brasileira existente em várias partes do país. Dependendo do tipo de samba, a música é feita com o violão, viola ou cavaquinho acompanhado de instrumentos de percussão (atabaque, berimbau, chocalho e pandeiro). De origem afro-baiana,o samba descende do lundu usado nas festas dos terreiros entre umbigadas e pernadas de capoeira. Característica marcante do Brasil, o samba cresce e se reinventa. Samba-canção, samba de breque, samba de roda, samba -enredo, samba rock são alguns de seus derivados. O samba originou-se dos antigos batuques trazidos pelos africanos que vieram como escravos para o Brasil. Esses batuques estavam geralmente as-

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sociados a elementos religiosos que instituíam entre os negros uma espécie de comunicação ritual através da música e da dança, da percussão e dos movimentos do corpo.

Sobre o projeto Cem anos após a gravação do primeiro samba por Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o popular Donga, registrou na Biblioteca Nacional a partitura daquele que ficaria conhecido como o primeiro samba da história: ‘Pelo telefone’ (em parceria com Mauro de Almeida). Para comemorar o centenário de tanta história e paixão, o redator Diogo Patoilo e o diretor de arte Redson Pereira criaram o projeto ‘Alfabeto do Samba’, um movimento coletivo com a participação de diversos artistas e ilustradores de todo o Brasil, que retrataram grandes nomes da história do samba.

O ritmo que continua reunindo pessoas e encantando estrangeiros. Com a ideia é realizar uma exposição com as obras criadas, além da publicação de um livro com as informações sobre os homenageados e os artistas participantes da iniciativa. O Alfabeto do Samba é um movimento artístico que tem como objetivo reverenciar o samba e resgatar a importância do gênero como expressão cultural brasileira. Ele se personifica em grandes artistas como Adoniran Barbosa, Alcione, Arlindo Cruz,Beth Carvalho, Cartola, Dudu Nobre, Elza Soares, Gonzaguinha, Martinho da Vila, Noel Rosa, Zeca Pagodinho, entre outros nomes importantes de cantores e compositores que nem sempre são lembrados, mas que também tiveram sua contribuição nesta história. Juntando música, arte e coletividade, com objetivo de projetar a cultura do samba para as futuras gerações.


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Alcione Por Anderson Almeida Formado em Desenho de Comunicação pela ETE Carlos de Campos, escola onde jovens desenvolvem seus talentos artísticos mutantes em prol da humanidade.Em seus personagens, utiliza um repertório de técnicas e referências analógicas e digitais que incluem aquarela, guache, acrílica, grafismo, graffiti, colagem e kabritagem (recurso que aplica técnica de ilustração e colagem ninja proibida), internet, dicionários, artbooks, animações, games e cultura pop.

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Cartola Cartola Por Carolina Rempto Designer gráfico e ilustradora, tem 23 anos e mora em Petrópolis, RJ. Estuda design gráfico na UFRJ e passou 9 meses na Savannah College of Art and Design, em Savannah, GA, EUA, especializando-se em ilustração pelo programa Ciências sem Fronteiras.


Elza Soares Elizeth Cardoso Por Elvis Mourão Começou a criar seus próprios personagens aos 14 anos e, com o tempo, desenvolveu um traço inconfundível e autoral. Começou no papel, mas percebeu que ali havia ficado pequeno para seus traços e sentiu a necessidade de ampliar, e logo sua arte foi para as ruas de São Paulo. Movido pela forte inspiração da palavra esperança, criou e assina a marca HOPE. Em 2014, criou uma coleção exclusiva para a marca de óculos italiana Ray Ban. Em 2015, foi convidado pela Chevrolet para grafitar ao vivo no festival Lollapalooza.

Por Elvis Benício Diretor de arte e designer gráfico, com um Bacharel pela Universidade Osvaldo Aranha UNIFOA/RJ. Atualmente trabalha como Head of Art na Agência YO, em São Paulo. Já fez trabalhos para grandes clientes, como Johnson & Johnson, Red Bull, Pepsico, Cartoon Network, Reckitt Benckiser-Heinz, entre outros. É reconhecido por suas ilustrações coloridas e orgânicas, destacandose pelo seu estilo visual, criando conexões entre a arte e o processo de design, usando a ilustração como uma poderosa ferramenta para resolver a comunicação visual.

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Grande Otelo Por Gui Soares Também conhecido por I Chase Balloons, é ilustrador, visualista e sonhador em tempo integral. Desde quadrinhos, passando pelo grafite, tatuagens e arte sacra, bastante influenciado por música, cultura urbana e cultura pop. Gosta de usar traços orgânicos, que fluem e introduzem uma dinâmica ímpar em cada peça, efetivamente soprando vida em cada linha. Sua arte é para as pessoas se perderem no simbolismo, navegando por cada detalhe, sempre com o desejo de que, a cada olhada, elas reinterpretem seu trabalho.

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Ismael Silva Por Ike Motta Natural de Belo Horizonte e hoje mora em Itajubá, MG. Metido a ilustrador desde que se conhece por gente, gosta de trabalhos com alto contraste e bebe da fonte de HQs e arte pop. Para não se acomodar a uma única técnica e processo, busca dar vida ao seus trabalhos lançando mão de tinta, vetor, bitmap e também 3D.


Jacob do Bandolim Por Jana Glatt Designer, carioca e entrou para o mundo da ilustração depois de uma temporada de quase 2 anos em Barcelona, onde fez pós-graduação em Ilustração. Seu trabalho foi selecionado para o VI Catálogo Ibero-americano de Ilustração,com exposição em Guadalajara (México) e Bolonha (Itália). No Brasil, ilustrou alguns livros infantis, como o Declaração de amor e Quem adivinha o que é?, pela editora Guarda-chuva; Um abraço passo a passo, de Tino Freitas, pela Panda Books; Meu bairro é assim, pela editora Moderna; e O caminho das estrelas, de Raul Drewnick pela Editora do Brasil.

Luiz Melodia Por Lucas Wakamatsu A obra foi feita pelo rapaz que tem 20 anos e nasceu numa pequena cidade perto de São Paulo. Atualmente estuda Design Gráfico na Universidade Estadual Paulista e trabalha como ilustrador freelancer. Amante de cores vibrantes, busca sempre transitar entre o simples e o chamativo. Além disso, adora uma cervejinha nas horas vagas.

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ALEX SENN A E SUAS CRIA ÇÕES EM PRET O E BRAN CO Por Natt Naville

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Foto Acerv o pesso al

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Alex Senna é do interior de São Paulo e sempre desenhou desde pequeno, assim como outras pessoas da família, mas foi ele, o único membro que decidiu levar os traços à sério. Inspirado pela vida real, seus personagens recebem influências dos quadrinhos e das ilustrações. Fã de Walt Disney, Mauricio de Souza e Ziraldo, as formas detalhadas de suas criações contrastam com os grandes centros urbanos, mas sempre buscando um equilíbrio e harmonia que dialogam com o dia a dia.


Fale um pouco sobre você e de como entrou no mundo das artes. Sempre desenhei desde pequeno, minha família tem várias pessoas que desenham como meu irmão, tio, e minha mãe. Eu fui o único que corri atrás pra que não fosse só um hobby. Sua arte é essencialmente em preto e branco, baseada em ilustrações, quadrinhos e cenas afetivas. Seus personagens se beijam, se abraçam. Conte um pouco sobre suas inspirações, técnicas e personagens. Eu me inspiro na vida real, uso de experiências pessoais pra criar situações, o que não quer dizer que tudo que eu desenho acontece comigo, e sim, que o que acontece comigo, me inspira e me dá idéias. Quais são as suas principais influências? No grafitti, Twist, Herbert, Speto e Onesto. Nos quadrinhos sou fã do Will Eisner, Daniel Clowes, Walt Disney, Mauricio de Souza e Ziraldo. Quais são os seus temos favoritos na hora de criar? Relacionamentos, melancolia e fazer o nada. Com o uso de preto e branco você busca colocar os contrastes, seja da vida na cidade, das relações? Sim, e não. O preto é algo que sempre usei, e me lembra quadrinhos de jornal, não tem muito um porquê, é natural. Você divide o seu tempo entre a rua e o estúdio. Onde se sente melhor? Os dois são essencias, um precisa do outro.

Não sou m com me uito bom nsagens , mas deix o Ferreira essa do G arte exis ullar: “A te porqu vida não e basta”. a

Qual é a essência do graffiti para você? A essência do grafite é a ilegalidade, fazer sem pedir, dar a cara pra bater. Os traços de suas criações são marcantes, cheios de detalhes e cheios de vida. Você consegue captar emoção. Que mensagem quer passar para aqueles que vêem suas obras? Eu não quero passar nada, as pessoas entendem o que querem. Sou meio egoísta, faço pra mim, não penso se vão gostar ou não. Algo que pude observar, porque amo o seu trabalho, é que o elemento do passarinho aparece bastante nos seus murais, por quê? O que ele representa? O passarinho é a conciência, ele diz o que realmente acontece na cena, ele faz o papel do grilo falante do Pinóquio, uma conciência viva. Você viaja pelo mundo, seja para pintar murais ou expor. Que lugar ainda gostaria de ir para deixar a sua marca? Estou aberto a ir para qualquer lugar, seja interior de São Paulo, como América ou Europa, acho que quanto mais inóspito e distante, é mais interessante, pois o impacto é muito maior. Deixe uma mensagem aos leitores do Mistura Urbana e às pessoas que curtem o seu trabalho. Não sou muito bom com mensagens, mas deixo essa do Ferreira Gullar: “A arte existe porque a vida não basta”.

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Fotos Projeto Lampioa


projeto Lampioa

Com a participação de mais de 40 artistas, coletivo usa literatura de cordel como ferramenta de combate ao preconceito Por Fellipe Torres

Quando o escritor pernambucano, Liêdo Maranhão lançou a primeira edição de classificação popular da literatura de cordel, em 1976, machismo e preconceito eram elementos comuns na cartilha da maioria dos cordelistas. “Enquanto todos nós conhecemos os folhetos como um bando de eruditos de gabinete, Liêdo vive e convive com todo o seu estranho, pobre, fascinante, mágico e duro mundo”, apontava, Ariano Suassuna. Ariano e Liêdo, não viveram o suficiente para ver o formato e a estética do cordel serem usados para combater a homofobia de maneira incisiva. Não viram o “cabra macho” Lampião se tornar fêmea para dar nome a um projeto de celebração da diversidade sexual.Organizado pelo jornalista Bruno Castro e pelo designer João Zambom, o Projeto Lampioa reune mais de 40 artistas, escritores e ilustradores o material foi dividido em quatro categorias de fanzines com cara o estilo de cordel.

No livreto de capa vermelha, o amor é abordado. Já o amarelo diz respeito à sexualidade e suas diversidades. O verde é sobre os dilemas dessa minoria com a sociedade. Por fim, o de cor azul fala sobre questões do indivíduo, como a relação com o corpo para transgêneros. Pode até parecer, mas a escolha do nome não foi uma questão de ironia mesmo com a polêmica biografia de Virgulino Ferreira, na qual o escritor Pedro de Morais questiona a orientação sexual de Lampião. Do famoso cangaceiro, a dupla se inspirou em sua faceta de anti-herói, marginalizado. “São poesias, palavras rimadas, imagens gravadas e o desejo de unir novos olhares e diferentes formas de expressão sobre gêneros e sexualidade. Os fanzines colecionáveis são produzidos sob a dura e lúdica estética cordelista, originados a partir da fantasia crítica e criativa de artistas da nossa geração”.

Entre rimas e prosas é destacado o preconceito sofrido pelo próprio cordel, geralmente classificado como literatura menor, por tratar de assuntos populares e utilizar impressão de baixa qualidade. “Há preconceito por toda a parte. Cabe às pessoas mudar isso. Usar o cordel para combater a homofobia é algo muito válido, porque cada ser humano precisa ter liberdade de escolhas. Vale mais o amor”.

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(...) Ela fez de tudo um pouco Com menina e com rapaz Se proibir parecia bobo Ela queria sempre mais

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Escolher porque mandaram Não mostrava sua razão Ela queria liberdade Para andar na contramão (...)



as CORES de Carol Rossetti A revolução começa no quarto de brinquedos! As crianças também devem ser incluídas na conversa sobre igualdade e diversidade Por Wesley Malk

As tirinhas discutem estereótipos de gênero que começam pela infância. Não dá para falar pelo outro. Mas quando estamos em um lugar de privilégio, é importante trazer visibilidade para os outros. Você tem que fazer alguma coisa com o seu privilégio, mas não existe

uma fórmula certa pra isso.Quando a temática não tem a ver com o seu cotidiano, exige um trabalho de pesquisa muito grande. Às vezes, até mesmo uma expressão tem significados diferentes em estados diferentes. O objetivo é ser acolhedor com todos que veem o projeto.

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Cores é um projeto em quadrinhos para pessoas de todas as idades. São pequenas histórias sobre um grupo de crianças que, como todos nós, são muito maiores por dentro do que por fora, e se recusam a se espremer em pequenas caixinhas de convenções. Eles querem ser livres para descobrir suas paixões e brincar com todo o poder da sua imaginação - que é, provavelmente, a força mais poderosa do mundo. Como foi a interação do público com o projeto? Teve menos interação, no sentido do público contribuir com conteúdo; mas eu queria continuar promovendo esse diálogo sobre essa temática na internet. Acho importante a gente não deixar o assunto morrer. E acho muito importante ter um diálogo com crianças também, porque não basta ter um trabalho de desconstruir preconceitos em adultos. A gente tem que construir novos sem!

Você acha que as ilustrações seriam um dos caminhos para promover o acesso ao conhecimento e entendimento? Evito colocar jargões ou alguns temas muito específicos – e, quando, os uso, tento explicar. É um trabalho feito para ter uma comunicação direta com pessoas de várias classes sociais, lugares, culturas diferentes, inclusive! Eu já participei de muito evento, muita gente entrou em contato comigo para colocar essas ilustrações em escolas públicas, universidades, eu já vi intervenções com pôsteres delas também. Vejo muitas inciativas, muitos coletivos feministas, muitas artistas, mulheres fazendo ilustrações sobre o feminismo, quadrinhos, pensando nessa questão de comunicação fora de um meio acadêmico. Porque o diálogo continua muito centrado nos meios ativistas.

Quais são suas fontes de inspiração? As pessoas me mandavam ideias, me contavam experiências, eu conversava com elas; às vezes, me chamavam a atenção se eu usava um termo errado. Então, todo o processo foi construído a partir dessa minha interação com o público, as pessoas comuns, do cotidiano, que eu conheço. Eu acho que a inspiração está no dia a dia, ao nosso lado, o tempo todo.

Acho que tem muito a ver com o respeito, tanto em relação aos outros, como a si mesmo. Eu sempre tento fazer o meu trabalho em uma linguagem não violenta, o mais acolhedora possível, para que as pessoas que vivenciam as situações se sintam abraçadas; e as que fazem a opressão tenham a chance de repensar, considerar o outro, o que está acontecendo.Tem a ver com a aceitação e com amor mesmo.

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Fotos Acervo pessoal

Qual é a principal mensagem que você quer passar com as suas ilustrações?


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RESENHA MUSICAL

A LIBERTAÇÃO DE RINCON SAPIÊNCIA Por Beatriz Moura

Fotos Felipe Souza

Inspirado na lenda do escravo Chico-Rei, ‘Galanga Livre’ fala sobre a liberdade existencial e social do(a) negro(a).

Estação espacial

Chico-Rei é um personagem um tanto conhecido na tradição oral de Minas Gerais. A lenda do rei do Congo que veio para o Brasil como escravo já foi tema de filme, de samba-enredo, de música do Milton Nascimento e ainda apareceu em alguns poemas do livro O Romanceiro da Inconfidência (1953), da Cecília Meireles. Agora é a vez do rapper paulistano Rincon Sapiência de resgatar a história do herói negro para dar mote ao seu disco de estreia, o Galanga Livre. Galanga seria o nome que Chico-Rei teria tido quando ainda era monarca na África, antes de ser capturado e vendido como escravo para trabalhar na extração de ouro em Vila Rica (atual Ouro Preto). A maior parte das histórias do folclore mineiro contam que Chico-Rei juntou ouro das minas para poder trocá-lo por sua alforria, de seu filho e de seus irmãos africanos,


que posteriormente o proclamariam rei de Ouro Preto. Na faixa de introdução do disco e na música seguinte, Crime Bárbaro, no entanto, o rei-escravo mata seu senhor e é obrigado a fugir para, só assim, alcançar sua liberdade. Crime Bárbaro é baseada num conto fictício de minha autoria. Tanto nele quanto na música, no lugar de Galanga simplesmente comprar sua libertação, como conta a lenda original, o escravo assassina aquele que o escraviza”, explicou Rincon em entrevista ao Noisey. “Isso faz com com que o personagem passe a ter um mix de sentimentos: o de alívio e de heroísmo por estar finalmente livre, misturado com o de medo por ter que viver fugindo.”

Verso livre Para Rincon, esse “mix de sentimentos” enfrentados por Galanga nas intros do disco carrega semelhança com a forma que ele, homem negro, passou a se enxergar no Brasil nos últimos anos. “Obviamente, não conseguiremos alcançar uma liberdade plena, já que há todo um monitoramento que é feito desde o seu celular, de redes sociais — ao qual todos estão sujeitos —, até a polícia na rua”, disse o rapper. “Só que hoje eu e outros pretos conseguimos nos sentir um pouco mais livres a ponto de conseguirmos nos ver como heróis, o que era mais difícil no passado.” Eu queria que esse meu novo trabalho acompanhasse as pessoas que vão ouvi-lo em outros momentos além do ambiente de festa e curtição. E que o som fosse mais instrumentalizado também”, explicou o rapper. Ironicamente, o verso livre Ponta de Lança, que inicialmente não ia entrar no novo disco, virou um hit, batendo o re-

corde de número de views — mais de 5 milhões — do rapper no YouTube até hoje, e acabou sendo agregada à tracklist de Galanga Livre “por livre e espontânea pressão”. “No entanto, é um afrorap que tem tudo a ver com o conceito do álbum como um todo. E também traz, de alguma forma, o tema da liberdade, quando eu falo que ‘o meu verso é livre’. “Manicongo”, outro vulgo pelo qual o rapper da ZL paulistana é conhecido, pode até fazer referência aos governantes do antigo Reino do Congo. Só que, diferente de um rei que busca poder e submeter os outros às suas ordens, Rincon não está interessado em mandar em ninguém. “Eu só quero ser me sentir livre e ser meu próprio herói, não dizer o que alguém deve ou não fazer. Só pretendo inspirar outros negros e negras a sentirem cada vez mais livres e orgulhosos de si mesmos, na medida do possível.”

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JALOO,

Por Julia Mattos

DO PARÁ PARA O MUNDO

Jaloo remexe as músicas de artistas como Rihanna e Donna Summer, sem medo de sacrilégio, e deixa com sua cara. Seu primeiro álbum, #1, está saindo agora pela StereoMono, selo Skol Music.

Jaloo faz música pop, eletrônica e experimental, mas que não parece com nada do que se espera dessas definições. Músico? Produtor? DJ? Performático? “Acho que o melhor nome agora é artista mesmo, alguém que não é nenhum desses, mas todos ao mesmo tempo”, nas palavras do próprio. Nascido Jaime Melo em Castanhal, região metropolitana de Belém do Pará, Jaloo mora atualmente em São Paulo.

O começo

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“Eu não tenho aquela história fofinha para contar, não venho de família de músicos, não tinha um piano na sala, nada disso”, diz Jaloo. Na verdade, até o final da adolescência, Jaloo não fazia a menor ideia de que ia trabalhar com música. Seu primeiro computador ele só ganhou com 18 anos. A partir daí, tudo mudou. Através da internet, Jaloo se viciou em música, baixando disco adoidado, escutando de tudo. Algumas influências começaram a se fixar, apresentadas por um amigo, sons como Bjork, Robyn e Caribou.

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Autodidata Jaloo é um filho da internet, criado e aperfeiçoado com as ferramentas da rede. “Se eu não sei fazer uma coisa, eu vou atrás de um tutorial, de um site, para aprender como faz”. Foi assim que Jaloo aprendeu a mexer em softwares de produção musical, a fazer arranjos e remixes. Ultimamente, ele tem procurado saber mais sobre a pós-produção de suas músicas.

Sent vibe a vibe Sentee a que veio que veio para car para fificar

O álbum autoral É com toda essa bagagem e história que Jaloo chega ao seu primeiro álbum autoral, “#1”. Com o reforço de Kassin, que tem no portfólio trabalhos para Nação Zumbi, Los Hermanos e Caetano Veloso, esquentando o som e mixagem conjunta com Rodrigo Sanches (CSS, Mombojó, Tom Zé…) o artista nos oferece um disco bem acabado e rico em sonoridades. Em Odoia, uma flauta doce hippie prenuncia um terremoto electro-funk. Ah! Dor! nos proporciona bass music melancólica, vulnerável e robusta ao mesmo tempo. Um teclado vintage de parquinho de diversões se intercala com “socos de grave” em “vv”. É um disco que festeja a dança, o poder da boa música, a alegria de se embebedar de vida. “Sente a vibe que veio para ficar”, sente a vibe de Jaloo.

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O CRIOLO DEIXOU DE FLERTE E LANÇOU UM PROFUNDO OLHAR PARA O SAMBA

Por Eduardo RIbeiro

Depois de três décadas focadas no rap, o artista paulistano aposta na sonoridade de raiz em ‘Espiral de Ilusão’. Conversamos com ele sobre a inspiração do novo trabalho, infância e política.

É isso aí, o Criolo se rendeu à uma antiga vontade e fez um álbum inteiro de samba. Parece ter sido um jeito que ele encontrou de reverenciar as primeiras coisas que o impactaram na infância. Talvez a sua passagem pelo Pagode da 27 seja o fator responsável por incorporar à obra uma cadência vocal bem de raiz, acompanhada pela forma e produção das músicas. Espiral de iLusão soa como se os caras estivessem tocando no seu quintal, com aquele clima gostoso bem de bairro e de celebração entre amigos. Nas letras, rola emoção, melancolia, paixão, alegria e protesto. Um certo prosear — naturalmente trazido dos anos dedicados ao rap — faz a diferença e mostra o que ele tem de melhor para contribuir com o tradicional estilo. O trabalho resulta novamente da longeva parceria dele com Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, responsáveis pela produção musical e os arranjos. Mas é claro

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que a lista dos talentos que colaboraram para a qualidade do álbum é maior. A banda montada é muito boa e o peso dado a ela na gravação a beneficia justamente. Criolo expandiu o terreno fértil para expressar suas ideias. Ele se aproveita bem disso e, nos pontos altos do disco, faz poesia com tudo o que pode. Canta a tristeza em Dilúvio de Solidão, o amor, em Lá Vem Você, e se politiza em Menino Mimado. Parece ter sido um jeito que ele encontrou de reverenciar as primeiras coisas que o impactaram na infância. Talvez a sua passagem pelo Pagode da 27 seja o fator responsável por incorporar à obra uma cadência vocal bem de raiz, acompanhada pela forma e produção das músicas. O Criolo se rendeu à uma antiga vontade e fez um álbum inteiro de samba. Nos encontramos dia desses pela manhã para falar sobre um pouco de tudo o que reflete e se reflete em seu novo trabalho.



Noisey: É conhecida a sua antiga paixão pelo samba. Até porque você sempre teve a referência do samba em casa desde pequeno, por meio dos seus pais. Fala um pouco disso. Criolo: Em casa sempre teve samba, como sempre teve vários outros sons. Minha mãe era apaixonada pelo Raul Seixas, Luiz Gonzaga, Nat King Cole, Nelson Gonçalves. E meu pai sempre gostou do Moreira da Silva, Bebeto, sempre foi louco pelo Martinho da Vila. Então tinha um pouco de cada um desses universos lá em casa. Fora as músicas da época, né, que a gente escutava aquela rádio AM, e na televisão, o que tinha de tema de novela era o que passava na rádio, e raramente tinha algo diferente. Vivíamos esse rolê sonoro tranquilo. A gente sempre curtiu, mas eu não sou um estudioso do samba. Do mesmo jeito que meu pai também não. Ele não é, por exemplo, um colecionador de vinis de samba que sabe falar da história tal... Ele simplesmente é um cara que curte. Tranquilo. Nós sempre escutamos samba desse jeito. Em casa, meu irmão toca violão, meu pai nunca tocou instrumento musical. Nunca rolou em casa aquele samba de domingo, de reunião entre amigos. Acho que rolou agora esse disco por conta de ter alguma coisa pra dividir, apresentar às pessoas. Até agora não tinha algo que valesse juntar todo o lance e apresentar para um álbum. Então todos esses sambas são uma coleta que você fez de composições criadas ao longo do tempo? Num determinado momento da minha vida, entre 2009 e 10, escrevi um tanto a mais de sambas. E isso ficou guardado. Ficou esse momento. Aí agora no final de 2016, entre setembro/outubro, veio muita coisa pra mim de desabafo, sentimento, e estava vindo em samba. A grande surpresa pra mim foi a parada vir agora e o sentimento desaguar desse jeito. E eu não reprimi isso, deixei acontecer, como sempre faço com os raps, com qualquer coisa que me visite. Aí aconteceu das pessoas ao meu redor sentirem essa energia e me mostrar que eu tinha alguma coisa ali que de repente dava pra fazer.

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Curti as vozes, remetem aos sambas mais tradicionais. Você estudou algumas referências? Os vocais são total influência do que eu escutava em casa. Minha mãe escutava muito Nelson Gonçalves, Aguinaldo Timóteo, Aguinaldo Raiol, Vicente Celestino e outros grandes seresteiros. E você, criança, fica copiando o que a sua mãe está cantando. Você quer cantar junto, no seu microuniverso ali. O Ganja e o Cabral tiveram a sensibilidade de respeitar essa memória. O Ganja, pelo que me lembro, fez a direção de um show, uma vez, do Bezerra da Silva. E o Cabral tem uma história linda, né. Grande mestre. Junta-


ram os dois mais uma vez pra entender o que eu estava levando ali. Eles respeitaram e preservaram muito essa memória. É muito louco pensar que numa época em que o rap está tão avançado você chega com um álbum que busca sua essência numa sonoridade de raiz. Mas eu também sou louco pelos sintetizadores. Sou apaixonado, eu adoro. Tenho até umas coisinhas em casa de sintetizador, baixo, dos anos 80, que é uma satisfação pra mim. Acho sensacional! Pô, o que os caras fazem hoje em dia é muito louco. É que é uma outra parada. É um momento particular. Não estou querendo ir no caminho contrário ao que o rap está seguindo. Não foi pensado desse jeito. Essas emoções simplesmente desaguaram nessa sonoridade e a gente está respeitando isso. É muito louco pensar que numa época em que o rap está tão avançado você chega com um álbum que busca sua essência numa sonoridade de raiz. Você se lembra da primeira música de rap que lhe impactou?

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O que me influenciou muito no rap, o marco zero, foi na quinta série, quando um amigo fez um verso e eu descobri que as palavras rimavam. O moleque de 11 anos mandou uma rima, eu pensei: “Não é possível, mano, isso é real? Isso é uma mágica! O que está acontecendo? Quem inventou isso?” Aquela sensação de ouvir algo pela primeira vez na vida e trazer isso pra si. E depois de um tempo, o fato de eu ter escutado na rádio uma música muito comprida em que tudo rimava. E Não sabia da história do rap, que nasceu nos Estados Unidos e etc. Eu tinha 12, 13 anos. Pegou pelo lance do que o cara estava rimando. Mais tarde é que eu fui saber uma coisinha aqui, outra ali. Na nossa época, pra você saber alguma coisa, alguém pegava uma fita VHS pirata. Um som seu, pra chegar no outro bairro, demorava dois, três meses. Eu me joguei completamente nessa arte. Se aquilo mexe com você, de algum jeito você responde, tem uma reação. Isso é estar vivo. O samba veio muito de um outro jeito.

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Quais são os seus álbuns fundamentais de samba?

Ouvi dizer que você também teve uma fase meio Rock Brasil 80, é real essa parada?

Cara, Moreira da Silva, por conta do meu pai. Tinha dois, três vinis lá em casa. E tem muito vinil do Martinho da Vila, e as músicas do Benito de Paula. Umas canções que são muito especiais. Isso que meu pai trouxe pra dentro de casa, ficou forte.

Na minha adolescência?! Legião Urbana?! Viissh! Não tem o que falar, aquilo me emocionava muito. “Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou... Temos todo o tempo do mundo.” Isso é maravilhoso, cara! Tem coisas que você vai sacando o olhar dos caras pro mundo, e na primeira fase da adolescência começa a perceber que existem olhares. E que você também pode olhar pras coisas e ter opinião. E dar a sua ideia. Porque a gente vem de um ambiente de muita repressão. Na escola, até hoje a carteira tem que estar atrás da outra. Eu tenho que olhar pra sua nuca, não posso olhar os seus olhos. São pequenos gigantescos detalhes de uma construção de opressão.

Como foi o processo de elaboração das bases, do instrumental, em cima das melodias e letras que você já tinha? A gente trouxe as músicas. O Cabral se encontrou comigo um dia pra harmonizar, ouvir o que eu estava cantando, ver onde estavam as notas... o Ganja estava num baita corre. Depois disso a gente se reuniu e apresentou pra banda que o Cabral e o Ganja montaram.

Aquele texto parecia que falava da minha casa, do meu bairro... E aquilo se chamava rap.

Tendo nascido em 75, você certamente pegou a onda dos bailinhos... Bailinho de colégio foi fator total de influência pra mim. Os DJs que faziam as festas nas ruas. Independentemente de ter quermesse ou dia das crianças, eles sempre tinham o prazer de ligar as caixas, colocar o vinil pra rolar e te falar o que era cada coisa. É a tua escola musical.

O que mais você escuta que a galera às vezes nem tá ligada? Estou sempre escutando música. O Verocai pra mim é monstro. Aí do Verocai eu vou pro Beastie Boys, pras clássicas do Wu Tang Clan. De repente, do nada você está escutando Bahia Fantástica, do Rodrigo Campos, uma obra-prima. Mano Money’s, lá da quebrada, que é monstro. Sua mãe vem e já coloca um Luís Gonzaga... viissh! E acho que a parada pega também da relação que você tem com cada pessoa que te traz esses sons sem imposição. Sempre na intenção de dividir algo que gosta. Eu acho maravilhoso você escutar uma orquestra, emociona. Quer deixar um salve ou uma reflexão pros leitores? Força pra lutar, serenidade pra respirar e ter um pensar melhor. Porque eles já são bem alimentados e muito bem articulados e apadrinhados. O ser humano não descansa, é da nossa natureza querer construir. Meninos mimados não podem reger a nação. Eles já quebraram tudo. O que mais querem destruir? Já arrancaram a nossa alma, e agora querem moer os nossos ossos. Não podemos perder a fé!

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Spotify Your Moments

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versa A versa A tili tili DE dade DE dade PAULa CAVALCIUK CAVALCIUK PAULa Por Caio Ferreira

Radicada em Sorocaba, a cantora e compositora Paula Cavalciuk, natural do Vale do Ribeira, vem marcando seu lugar na mĂşsica brasileira.


Fotos N oisey

Entre janeiro e fevereiro deste ano, Paula Cavalciuk e banda estiveram na estrada Nordeste afora durante o primeiro braço da #MorteEVidaTour, que visitou oito estados e promoveu 26 shows em 35 dias. Uma maratona desbravadora para o grupo, a audácia da viagem de carro despertou a atenção de muita gente nas capitais e interiores de estados como

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Estação espacial

Bahia, Sergipe, Pernambuco e Paraíba, onde Paula pôde mostrar a urbanidade e as raízes de seu trabalho autoral, chamado de “um interessante recorte da música brasileira contemporânea” pelo jornal Gazeta de Vitória, da capital capixaba, durante passagem pela cidade.


No meio do caminho, o clipe de O Poderoso Café foi lançado poucos dias antes do Carnaval, e justamente por conta da data comemorativa, foi pensado para dar um brilho na rotina. O vídeo reverberou pela espontaneidade das cenas que acontecem livremente pelas ruas da cidade de Sorocaba, a qual Paula quis homenagear reunindo diversas pessoas da classe artística local. O disco Morte & Vida, primeiro da carreira de Paula, recebeu os cuidados de Gustavo Ruiz e Bruno Buarque na produção musical e tem, entre as participações especiais, Kiko Dinucci (Metá-Metá) e Fernanda Teka (Autoconceito). Paula e seus trabalhos ganharam destaque em diversas mídias pelo país e colecionam elogios, como um de Gilberto Gil, que indicou a faixa Maria Invisível (do EP Mapeia, 2015) nas redes sociais. Com Paula à frente das composições, letras e interpretação, o novo trabalho tem onze faixas ricas e atuais, indo do rock'n’roll visceral à singeleza da guarânia paraguaia. Por esse motivo, a artista define seu estilo como "pop planetário". Sorocaba sedia projetos que são referência em empoderamento feminino. Paula atua como voluntária nos projetos Girls Rock Camp, Ladies Rock Camp e Viva Meninas, desde 2014, e vem desenvolvendo e ministrando oficinas de estencil/ serigrafia, fanzine e instrução de voz com foco no empoderamento de meninas e mulheres, estimulando-as a criar seu próprio conteúdo e compor

suas próprias músicas. Paula acredita no feminismo como ferramenta dentro e fora dos palcos. Exemplo desta atuação foi a campanha em que chamou mulheres a participarem de um vídeo-protesto para a música Morte e Vida Uterina. Lançado muito próximo à repercussão do caso do estupro coletivo no Rio de Janeiro, em junho, e que se somou ao apelo #PorTodasElas. Por meio de um chamamento virtual, Paula convidou mulheres a enviarem vídeos mostrando cartazes com mensagens de protesto e empoderamento. O vídeo rapidamente atingiu e ultrapassou a marca de mais 80.000 views e milhares de compartilhamentos nas redes sociais. A campanha rendeu à artista uma participação na SIM São Paulo, onde cantou ao lado de Juliana Strassacapa e Larissa Baq no showcase especial à ação #NiUnaMenos. Em dezembro, Paula foi indicada como artista revelação da música brasileira em 2016 pelo júri da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). No mesmo mês, a compositora ganhou o prêmio Lollo Terra por melhor letra com Maria Invisível, composição que também faturou o quarto lugar como melhor música na premiação. Em 2015, Paula Cavalciuk venceu o Prêmio Sorocaba de Música com O Colecionador de Opiniões, faixa que, posteriormente, entrou em Morte & Vida. Paula já dividiu palco com francisco, el hombre, Carne Doce, Liniker, Tássia Reis, Bloody Mary Una Chica Band, As Bahias e a Cozinha Mineira e pretende, cada vez mais, misturar sua voz às vozes de artistas que também buscam uma sociedade mais igualitária através da arte.


Envie seu trabalho Uma de nossas prioridades sempre foi ter espaços para mostrar trabalhos artisticos e experimentais basicamente de qualquer um que nos enviar suas artes. Não vamos enganar você e dizer que todos entram na revista. Caso você não entrar na edição, não desista, envie outros trabalhos, participe das seleções para capa do site, galeria da revista, trabalhos nas redes sociais, nos concursos e outros projetos. Você sempre terá muitas chances de mostrar sua criatividade e ideias.

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