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Suplemento Liter\u00E1rio de MG
Belo Horizonte, Novembro/2009 • Nº 1.326 • Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais
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12 Novembro/2009 Suplemento Literário de Minas Gerais
Viagem ao
Ilustração de Carlos Wolney
20 Novembro/2009 Suplemento Literário de Minas Gerais
Toda a verdade
sobre a
Tia de
Lúcia
Conto de Sonia Coutinho
O escritor decide escrever a história que lhe ocorreu hoje, mesmo sendo triste. Decide escrever essa história que, além de triste, é incômoda. Está constrangido, prestes a pedir desculpas. Mas não pede. Apenas pensa: pena que eu não consiga fazer de outro jeito.
“Claro que eu preferiria escrever histórias alegres. Mas, à minha revelia, sempre saem tristes e incômodas,” ele admite para si mesmo, um segundo antes de se sentar e começar a escrever “Toda a verdade sobre a tia de Lúcia.”
“Preciso falar com alguém sobre essa tia antes que ela morra e sua história se torne definitiva, antes que sua história se transforme, para mim, num epitáfio,” pensa Lúcia. É o primeiro parágrafo que o escritor escreve. E continua. Sentada em sua cama, Lúcia observa uma fotografia da sua velha tia Lina, que acabou de descobrir numa gaveta do seu armário, num maço de fotos antigas, tiradas ainda em Solinas. Nesta, além da tia, aparecem ainda ela própria, em menina, e sua mãe.
A tia, de quase 90 anos, mora em Solinas. Ela e Ramiro, o filho de Lúcia, que também ainda mora lá, são os únicos parentes próximos lhe restam. Como Lúcia não se casou novamente e, de uns tempos para cá, seus relacionamentos amorosos cessaram, sua solidão se tornou radical.
Nem amizades de verdade ela tem: jamais se entendeu bem com as pessoas, no Rio, e continua mais ligada, interiormente, às antigas amigas de Solinas.
Lúcia teve de deixar o filho com sua mãe, quando se separou do marido e veio trabalhar no Rio. (Preciso descobrir o motivo grave e secreto para essa separação, pensa o escritor. Lúcia foi embora de repente, sem tratar nem de pensão do ex-marido.)
No início, ela levou Ramiro, mas era difícil conseguir alguém que tomasse conta dele, quando Lúcia saía. Ela ficava muito preocupada com o que poderia acontecer com menino, não conseguia nem trabalhar direito. E, quando voltava, Ramiro dizia sempre que queria ir para Solinas, morar com sua avó. O que acabou acontecendo.