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Manipule sua imagem e seja mais feliz - As ferramentas tecnológicas elevam auto-estima de internautas. Pelo menos virtualmente. provoca polêmica, raiva e arrependimento
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Perdão - Sociedade norte-americana se mobiliza para pedir perdão pela escravidão
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Quem? Quem? - Mundo das celebridades abre debate sobre os limites da mídia se consomem - Lançamentos 08 Produtos dão uma nova abordagem para as teorias
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Maria do Carmo Nino para o departamento de artes da Fundaj
Quando Leo DiCaprio me deu razão Depoimento de uma viciada em comédias românticas
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Em matéria na terceira página, assinada por Carolina Leão, um fosso se abre: e o narcisismo? As pessoas estão cada vez mais ávidas de promoção, de revelar a sua intimidade, de mostrar-se ao mundo em todo o seu esplendor, lançando maravilhas sobre o seu comportamento. Ou não. Cada um cuida da própria ansiedade. Um fenômeno que se multiplica na Internet, principalmente no Orkut. Questionável? Sim, questionável. Por isso esse novo tipo de comunicação, que se confunde com o jornalismo, está em debate neste número.
Outro tema em debate, desta vez perpassando o corpo do jornal até atingir o Saber + Debate, é o problema do trabalho no Brasil ao lado da história da escravidão e que, por isso mesmo, revela as questões do vestibular em Pernambuco. Um problema e tanto: num País instável economicamente e que aponta, já agora, para uma legislação trabalhista de alguma forma estável. Por isso é cada vez mais importante que o leitor Entre na Briga, e participe das nossas polêmicas. Ser ou não ser, eis a questão. Lembrando que a briga começa na nova página com o texto de Vânia Carvalho, sobre o pedido de perdão nos Estados Unidos. Mais a revolução continua: Basta observar o impacto da capa deste número. Criada por Jaíne Cintra em colaboração com Alexandre Belém, reinventando as tradicionais bolas de gude em explosivas questões de jornalismo, perguntando, e perguntando, e perguntando. Uma capa em duas páginas, que dá prosseguimento a um projeto gráfico cada vez mais ousado. Ao lado da matéria sobre comédias românticas, assinada por Adelaide Ivanova, com leveza e envolvimento. E só mais uma lembrança: o conto de Jussara Salazar na décima primeira página. Raimundo Carrero recarerro@cepe.com.br
Entre na briga - O Pernambuco abre espaço para os leitores a partir do próximo número. Escreva dez linhas sobre “A dor em todas as suas manifestações – física, emocional, comportamento político-social”, para debater com nossos colaboradores. Veja e-mail no editorial.
Cristais sobre o rio
Jussara
Sim, lá vai o rio. Passa espesso, luminoso, profundo. Intenso vai carrega velhos cristais na procissão de homens, flores, fitas, votos, velas. Fantasmas ondulam a superfície larga. Quaram. Óculos e vejo as medusas, turmalinas, passos, tentáculos, o branco azul que dói, o texto monturo de ontem. Mas hoje nenhum arbusto flutua. Nada, nenhum fruto apodrecido, nenhuma carne em agonia, tudo é silêncio. Um sopro acalma: os ventos de Iansã circundam brisam o rio das capivaras. Respiro o aprazível de tocar os olhos até onde vão as pedras submersas dessa terra de árvores marinhas - campo, templo de deuses sem nome, querubins de muitas línguas, águas de Ofélias. Língua de casca áspera bate bigorna. [um prego nervoso degola um halo de luz, me diz que é para escrever tocando o papel devagar, sem chispas, à Lorca.] Troco de cadeira, procuro o sol, mina vermelha de seda em ouro bruto. Osso oco, metáfora resto. [vinde, caminha sobre essas águas e observa, contempla as baronesas que surgem feito exércitos, as ovelhas brancas, as romãs passando, boiando como cristais delicados, sol quebradiço, umbigo esquisito da cidade.] Cinco martírios. A lâmina do tempo me diz outra vez: é um rio - e rápida também passa. Por isso aguardaremos a chuva o sol, aguardaremos o que nunca pára de passar. O inseto em sua nudez sobre o papel. Mergulho. Senhora, ai de mim ninguém viu, minha guia caiu no fundo do rio... \\
Salazar
Recife, fevereiro de 2007 À memória de Caio Fernando Abreu
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Dois assuntos para debates neste, cada vez mais polêmico, Pernambuco: Ética no Jornalismo e Trabalho e Escravidão no Brasil. No primeiro, Fabiana Moraes analisa a não-notícia, aquela informação que se convencionou chamar de holofotes sobre os famosos, transformando um mero espirro num dilúvio de conseqüências inevitáveis. Daí entra em questão a pergunta: Seria falta de ética invadir a intimidade das pessoas, submetendo-as a um verdadeiro bombardeio de informações? Expondo de forma atormentadora a vida de cada um?
Mas atenção para o ótimo artigo assinado por Jodeval Duarte, um jornalista consagrado, com uma experiência intelectual capaz de provocar ainda mais os leitores, com a sua instigante inteligência. O que é ética? E o que interessa mesmo? A promoção absolutamente egoísta ou o coletivo? Assunto que vai se desdobrar, ainda mais, na matéria de Thiago Soares, explorando os produtos que se consomem na esfera acadêmica, através de livros que estão sendo publicados pela Universidade Federal de Pernambuco. Pelos assuntos tratados, eles mudam a metodologia: deixam de ser individualistas para atingir o conjunto científico.
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GOVERNADOR DO ESTADO Eduardo Campos VICE-GOVERNADOR João Lyra Neto SECRETÁRIO DA CASA CIVIL Ricardo Leitão
PRESIDENTE Flávio Chaves
EDITOR Raimundo Carrero
SECRETÁRIO GRÁFICO Gilberto Silva
DIRETOR DE GESTÃO Bráulio Mendonça Meneses
EDITOR EXECUTIVO Schneider Carpeggiani
REVISÃO Gilson Oliveira
carpeggiani@gmail.com
DIRETOR INDUSTRIAL Reginaldo Bezerra Duarte
EDIÇÃO DE ARTE Jaíne Cintra
GESTOR GRÁFICO Júlio Gonçalves
jainecintra@gmail.com
EQUIPE DE PRODUÇÃO Debora Lobo, Eliseu Barbosa, Joselma Firmino, Lígia Régis, Roberto Bandeira e Vivian Pires
EDIÇÃO DE IMAGENS Sebastião Corrêa Circulação quinzenal. Parte integrante do Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Distribuído exclusivamente pela
Companhia Editora de Pernambuco -C CEPE Rua Coelho Leite, 530, Santo Amaro CEP 50100-140
Fone: (81) 3217.2500– FAX: (81) 3222.5126
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itanic foi o primeiro filme de amor que eu vi na companhia de um menino. O cinema do Shopping Recife ainda era do lado de fora e nós, que tínhamos nos conhecido no Abril pro Rock de 1998, ficamos em dúvida entre ver Central do Brasil e o filme do Di Caprio. A escolha certa mudou minha vida para sempre - e desde então posso dizer que, mais que livros e menos que músicas, são as comédias românticas o cimento da minha trajetória (amorosa). Foi o menino do APR que me fez trocar os óculos pelas lentes de contato. Como numa comédia romântica que se preze, passei de gazela sem vaidade e com cabelo cheio de frizz a uma menina que até aprendeu a fazer as próprias unhas. Minhas mudanças, no entanto, me foram bem menos traumáticas que as de Laney Boggs, de Ela é demais (a não ser a parte da aposta, da qual fui vítima quando tinha apenas 12 anos numa história referente ao meu primeiro beijo, mas isso é demasiado triste para ser revelado!). Ela é demais fez parte da enxurrada de CRs adolescentes que invadiu os cinemas em 1999 ( American Pie, sim, e também 10 coisas que eu odeio em você e Louco por você). A história conta como uma “patinha feia” é eleita rainha da formatura do colégio, depois que o menino mais popular da escola aposta que consegue dar um trato nela. Transformações estéticas de heroínas são, pois, recorrentes em CRs, que não por acaso têm no “mito” da Cinderela sua maior fonte de inspiração. My fair lady, Uma linda mulher e A nova Cinderela são, de certo modo, mais ou menos a mesma coisa. Lembro que quando assisti A nova Cinderela pela primeira vez, saí, enchi a cara e escrevi a seguinte frase em meu diário: “se o destino não for generoso com a gente, quem vai ser?”. Porque somos otimistas, os apaixonados. Mas não, o destino não é generoso (não como num filme do Hugh Grant) e o ano de 2005 me provaria por si só essa máxima. Se em 1999 foi o ano das CRs pra adolescente ver, 2005 foi o ano das CRs que ensinam - aquelas que te fazem dar risadinhas nervosas no cinema porque você se reconhece, fica com vergonha da sua histeria e aprende com mestres como Ashton Kutcher. Reinam soberanos nesta lista Tudo acontece em Elizabethtown, De repente é amor e Alfie, o sedutor. Alfie foi um filme que gerou uma espécie de premonição, uma vez que ele estreou no Brasil dez dias antes de eu conhecer o bofe mais desastroso de minha carreira amorosa. O personagem de Jude Law me fez escrever a seguinte observação: “tem caras que são tão galantes que conquistam até minha avó, mas que invariavelmente me largam da maneira menos cavalheiresca; e depois minha avó fica me perguntando o que eu fiz para eles me largarem”. Logo depois de ver Alfie, como já antecipei, conheci um cara que estava no limbo profissional e emocional de sua vida e eu, à procura de qualquer caubói que pudesse me animar, vi ali a chance de fazê-lo (exatamente como em Elizabethtown!). Ao contrário do menino do APR, por causa desse novo rapaz a transformação foi “desestética” - o frizz voltou ao cabelo e, mesmo sendo capaz de fazer minha própria unha, eu negligenciava porque não precisava de arrancar também dos dedos bifes como os que me tinham sido arrancados do coração! Numa das passagens de De repente é amor, Amanda Peet descobre que sua melhor amiga está namorando com seu ex-namorado - na hora que os vê, ela fica umtanto quanto descontrolada. Mas (nada como um dia após o outro, ou uma noite boa) quando ela percebe que ele nem era tão importante assim, entende que foi
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muito melhor para ela própria que a amiga tivesse tirado da sua vida um cara que só fazia causar o mal, entende? É meio como Christina Aguilera diz na música Fighter: “depois de tudo o que você me fez, acha que eu te desprezo, mas eu quero é agradecer porque você me deixou muito mais forte”. Quando se chega nesse grau de desapego, eis o Olimpo: querida, você superou. Só uma mulher verdadeiramente superada é capaz de se referir ao seu ex-bofemaligno por um pronome masculino, e não com algum adjetivo pouco original como “desgraçado” ou “canalha” (muito embora às vezes eles mereçam carregar o apelido para a cova). Foi por causa dessa superação que eu resolvi tentar ajudar devolver ao mundo (ou seja, à meia dúzia de leitoras do meu blog, o Vodca Barata) a esperança que me tinha sido tomada e que foi reconquistada por ninguém menos que... eu mesma. Dra. Vodca, conselheira amorosa viciada em música pop, existe graças a essa deliciosa pretensão experimentada por aquelas que passaram de devastadas a divas do amorpróprio. As perguntas enviadas por e-mail a Dra. Vodca são, a grosso modo, sempre as mesmas. E o raciocínio para respondê-las parte, também, do mesmo princípio: antes de tudo (querida), você. Por exemplo: o melhor de De repente é amor é que eles têm mais o que fazer do que se preocupar um com o outro. Aí acabam se apaixonando. Isso porque ser a pessoa que quer fazer “dar certo” é tomar para si o papel daquele que facilmente se frustrará ao ver como as coisas saem do controle - a vida não segue script e você não pode refilmar o take errado. Numa CR, o prenúncio do momento de superação da heroína é clássico. É aquela parte do filme em que a mocinha, depois de se lascar, se cala e vai cuidar de sua vida, enquanto a trilha sonora toma conta das cenas. Tipo em quando Jennifer Aniston tenta refazer sua vida sem Vince Vaughn em Separados pelo casamento, ou uma Thurman tenta se reerguer em Terapia do amor. Enquanto isso, o mocinho começa a se lembrar com ternura das cenas fofas que viveu com a heroína (de quem no momento ele está separado e analisando se quer continuar assim). Esse é o ponto em que se determina se o final do filme vai ser feliz ou pedagógico. É nesse momento lindo que uma das partes decide se vai se redimir e pedir perdão - ou não, e se resignar. As vezes é preciso aceitar a derrota diante da certeza de um relacionamento sem futuro - mesmo que as lembranças sejam boas, o melhor é encher o coração apenas de nostálgico calor. Esse tipo de CR não tem final feliz, mas tem final esperançoso. A boa comédia romântica é a que desperta você para você mesmo. A vida é dura, benzinho, e duvido que alguém lhe tenha dito o contrário. Não confie em quem quer fazer você acreditar nisso. Já percebeu que as CR terminam no momento em que o casal supera as diferenças e decide ficar junto? É assim porque, se o filme continuasse para mostrar o que o amor se torna depois da assassina convivência, ele teria que ser colocado na prateleira de drama, e não de CR. Nada é perfeito. A boa comédia romântica é em si uma antítese: te faz rir porque te faz sofrer. A boa comédia romântica tem que fazer você pensar sobre todos os corações que você partiu - ou todas as vezes que deixou seu coração ser partido. A boa comédia romântica vai fazer sua história parecer um pouco sem sentido. Mas nada que dois dedos de vodca num copo fino cheio de gelo, mais um cinzeiro vazio pronto para ser preenchido não possam ajudar a adormecer as doloridas percepções. \\
Carolina Leão
A realidade virtual chegou para transformar a nossa percepção do narcisismo. Nada é o que parece. E nem precisa ser se Photoshop. Apague as fotos da câmera digital. Elimine seu eu indesejável. Construa uma realidade possível e a interprete com fôlego de leão: vai ser preciso. Entre, portanto, para um democrático e populoso, ironicamente, universo de imaginação, fantasia e entorpecimento. O narcisismo vicia. Narciso mergulhou num lago, encantado pela sua própria imagem e entrou para o vocabulário popular. Foi parar no dicionário da psicanálise, quando Freud utilizou-se do mito para elaborar uma das suas teorias da personalidade. Num primeiro momento, o narcisismo seria identificado pelo vienense como o elemento primordial para a construção e identificação da criança. A “fase do espelho” retomada tempo depois por Lacan. “Eu sou isso porque não sou aquilo”. Mas até o desenvolvimento desse sujeito, desse “vir a ser”, o caráter perverso adquiriria a sua função de cobrança e monitoramento do “outro” ao qual se dedicaria uma tensa projeção libidinal.Em algumas versões do mito de Narciso, ele é retratado como o belo e insensível jovem que recusara o amor da ninfa Eros e fora, por isso, condenado a morrer contemplando-se por sua única fatalidade: ele mesmo. No narcisismo secundário, no adulto, a perversão “saudável” se transforma em patologia. Delírios de grandeza, onipotência, insensibilidade à demanda do outro como defesa para a ansiedade mais certa da existência: ser amado. É de Ovídio a interpretação da destruição de Narciso pelo amor. Narciso, no entanto, sucumbiu à sua imagem; não seu ao corpo, à sua personalidade. Narciso sucumbiu à representação icônica da realidade. No senso comum, o narcisista é visto como alguém com zelo exacerbado sobre si mesmo. Mas o narcisista vai além disso. Ele é autoreferente, mas descentrado de sua própria persona. O narcisista pode funcionar como uma massa de modelar para alcançar o reconhecimento, o desejo e a atenção do outro. Há quanto tempo o homem vem se esforçando para mostrar o que é de fato e o que gostaria de ser? Certamente a sua individualização no espaço público contribuiu para a criação de personas com as quais possa se identificar, ser aceito e amado. Da aurora da modernidade para os dias atuais, o narcisismo deu piruetas nos conceitos psicanalíticos até chegar na análise da cultura contemporânea como fenômeno social que reflete a experiência de se viver no mundo de simulação e sedução. Em A cultura do narcisismo: a vida americana numa era de esperanças em declínio, Christopher Lasch reflete sobre o tema em tons apocalípticos. O narcisismo deixa de de-
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signar o comportamento patológico para sintetizar uma patologia cultural. Terapeutas lotam suas agendas com sujeitos que não sabem amar, o que fazer com o outro e com o amor que porventura dizem sentir, diz Lasch. Escrito em 1979, o livro, um clássico, soa obsoleto. A realidade virtual extrapolou o limite entre a verdade e o desejável conforme a técnica colabora para a formação de personas manipuláveis. Fragmentada, inventada, recortada, a personalidade virou o mosaico de representação dessa nova fase da cultura do narcisismo na qual se busca cada vez mais o reconhecimento do outro e alienação de si mesmo. Transferência para um outro do qual não se sabe exatamente nada. Projeção para um outro criado por nós mesmos. A verdade vira quimera ou utopia. O orkut não é apenas a rede de relacionamentos da Internet. Mas uma história a ser contada. E essa história não está, como Fernando Pessoa, farta de semi-deuses. São personagens que se alimentam do heroísmo, da ficção, da fantasia, de auto-retratos, verdadeiros ou falsos, sobre si mesmos que existem na psique de qualquer ser humano. Agora, eles passaram a ser compartilhados com requintes tecnológicos. A descrição do “eu” funciona como uma lenda pessoal em cujo repertório imagético se encontra o melhor perfil a ser contemplado por quem do outro lado está. Mas quem mesmo? Nunca se escreveu tanto sobre o tédio, o desamor, o desamparo, a solidão e o isolamento social. Em toda a História da Arte, encontraremos referências diversas sobre tais assuntos; sem constituir, porém, um corpo cultural como fenômeno de massa. Acharemos, sim, em imagens, poesias, músicas, romances e filmes, material suficiente para crermos que questões existenciais como estas fazem parte do repertório estético da humanidade. Agora, são dominantes culturais, como diria o critico Fredric Jameson. O culto à emoção é investigado da mesma forma que um certo ennui toma conta dessa cultura que não tem absolutamente do que se queixar em oferta de aventura e ação. Um tédio de excessos. Paralelamente, o conceito de narcisismo foi de tal forma banalizado que hoje o vemos com naturalidade; cujo efeito é minimizar e obscurecer o lado cruel de sua descrição no campo da cultura de massa. A cultura narcísica vai além da caracterização de um sujeito que adora a si próprio. Também faz parte dela um mundo onde as referências individuais são perdidas. Mas as ilusões são bem-vindas. \\
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A fotógrafa Adelaide Ivanova, dona do site www.vodcabarata.blogspot.com, que responde dúvidas sentimentais dos internautas, revela como as comédias românticas (as famosas CRs) proveram sua educação sentimental Alexandre Belém
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Alexandre Belém
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Mesmo diante da problemática que todos os cânones levantam, o cineasta Paul Schrader fez a sua lista dos grandes clássicos do cinema Ernesto Barros que era para ser uma jornada prazerosa e obrigatoriamente iniciática transformou-se numa pequena dor de cabeça para o cineasta, roteirista e crítico Paul Schrader. Um dos raging bulls do cinema americano da década de 1970, quando assinou os roteiros de Motorista de Táxi (Taxi Driver) e Trágica Obsessão (Obsession), Schrader apresentou suas credenciais primeiro como escritor. Seu Transcendental Style on Film, um estudo sobre a obra de Yasujiro Ozu, Robert Bresson e Carl Dreyer, foi mais que uma petição de princípios. Um pensador do cinema foi revelado, então. Pensador e cineasta uniram-se numa noite em Londres, quando um editor da Faber and Faber lhe incumbiu de uma tarefa hercúlea: elaborar um cânone cinematográfico nos mesmos moldes do consagrado O Cânone Ocidental (Editora Objetiva), onde o crítico e professor Harold Bloom listou e comentou as principais obras da literatura ocidental. Era março de 2003 e Schrader aceitou a provocação. A Faber ofereceu-lhe um contrato e o cineasta-escritor preparou-se para escrever a obra. O primeiro pensamento foi seguir o modelo de Bloom: um cânone elitista, não populista, e com uma barreira tão alta que só poucos poderiam alcançá-la. Seguindo o exemplo do então crítico da revista New York, David Denby, Schrader voltou aos bancos da Universidade de Columbia, onde já havia ensinado, e freqüentou dois cursos durante o período 2004-2005: história da estética, com Lydia Goehr, e história da estética cinematográfica, com James Schamus (o mesmo James Schamus, que é presidente da Focus Features). Entretanto, no meio da empreitada, a vontade de Schrader arrefeceu e ele abandonou o projeto. Justamente quando estava próximo de iniciar a escrever o ensaio, já com os filmes escolhidos para se debruçar sobre cada um deles, percebendo que olharia mais para o passado que o futuro, o seu apetite pelo projeto desapareceu. No final do ano passado, Schrader publicou uma espécie de mea culpa por ter abandonado a idéia na revista Film Comment, ainda achando que era um projeto digno, mas deixando-o para outra pessoa fazê-lo. No alentado artigo, apropriadamente intitulado O Livro que não escrevi, Paul Schrader levanta inúmeras questões sobre o estado atual do cinema frente às outras artes e, por extensão, da situação da crítica cinematográfica. Um dos pontos mais importantes é que, se o cinema foi uma arte dominante do século XX, no século XXI ele não o será. Para ele, forças culturais e tecnológicas estão processando mudanças no conceito de "filme" como nós o conhecemos. De acordo com Schrader, até as duas categorias dominantes da crítica, a populista, dominada pela aproximação com o gosto do público, e a acadêmica, com o seu jargão e suas considerações extra-cinematográficas, fracassaram. E, além disso, já não é mais possível para um jovem cinéfilo prestar atenção na história do cinema e tirar suas conclusões. O motivo: há filmes demais para se ver. E, a bem da verdade, Schrader está no caminho certo. À abundância de filmes do passado, cada mais renovados e ressuscitados com o advento das cópias digitais, soma-se à pletora de filmes surgidos a cada dia em todas as partes do mundo. Então, conclui Schrader, a noção de cânone (por definição, critérios que transcendam o gosto pessoal ou popular) é particularmente problemática porque não há acordo sobre o que o cânone deve incluir. Para ele, a noção de cânone - seja literário, musical ou pictórico - é uma heresia do século XX. Por fim, quando há acordo, "os cânones são elitistas, sexistas, racistas, obsoletos e politicamente incorretos". Por outro lado, Schrader não se furta em apontar que os cânones cinematográficos existem de fato, e em abundância: existem nos currículos das escolas, na lista dos 10 melhores do ano e na várias listas dos melhores de todos tempos. Para ele, "a formação do cânone tornou-se o equivalente das leis anti-sodomia do século XIX: repudiadas a princípio, executadas na prática". Se Schrader não deu cabo de sua tarefa, pelo menos ele deixou um legado. As três listas de filmes propostas para a elaboração do cânone estão aí para quem se interessar em ir além. É claro que a lista é pessoal e intransferível. E certamente a seleção mudará de acordo com a formação de cada um que tentar levar adiante tal trabalho. Mas, sem dúvida que as listas de ouro, prata e bronze representam o que de melhor foi feito no cinema até hoje. Entretanto, elas representam apenas o gosto de uma pessoa, um cineasta americano: Paul Schrader. Para um cinéfilo brasileiro ou francês ou de qualquer outro país, por exemplo, as listas certamente devem ser bem diferentes e com uma nova noção de cânone para cada um deles. \\
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Ouro
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Bronze 41. Os Saptatinhos Vermelhos, de Michael Powell & Emeric Pressburger (Inglaterra, 1948) 42. Cantando na Chuva, de Stanley Donen & Gene Kelly (EUA, 1952) 43. Chinatown (Roman Polanski, 1974) 44. A Turba, de King Vidor (EUA, 1928) 45. Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder (EUA, 1950) 46. Fale com Ela , de Pedro Almodóvar (Espanha, 2002) 47. O Expresso de Shanghai, de Josef von Sternberg (EUA, 1932) 48. Carta de uma Desconhecida, de Max Ophuls (EUA, 1948) 49. Era uma Vez no Oeste, de Sergio Leone (EUA, 1968) 50. O Bandido Giuliano, de Francesco Rosi (Itália, 1962) 51. Nostalgia, de Andrei Tarkovsky (Itália, 1983) 52. Sete Homens Sem Destino, de Budd Boetticher (EUA, 1956) 53. O Joelho de Claire, de Eric Rohmer (França, 1970) 54. Terra, de Alexander Dovzhenko (Rússia, 1930) 55. Mortalmente Perigosa, de Joseph H. Lewis (EUA, 1949) 56. Fuga do Passadeo, de Jacques Tourneur (EUA, 1947) 57. O Boulevard do Crime, de Marcel Carné (França, 1945) 58. O Preço de um Homem, de Anthony Mann (EUA, 1953) 59. Um Lugar ao Sol, de George Stevens (EUA, 1950) 60. A General, de Buster Keaton (EUA, 1927)
Maria do Carmo Nino transita entre o rigor acadêmico e a liberdade artística Diana Moura Barbosa
Universos
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Mizoguchi (Japão, 1952) 31. Céu in Inferno, de Akira Kurosawa (Japão, 1963) 32. A Embriaguez do Sucesso, de Alexander Mackendrick (EUA, 1957) 33. Este Obscuro Objeto do Desejo, de Luis Buñuel (França, 1977) 34. Um Americano em Paris, de Vincente Minnelli (EUA, 1951) 35. A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo (Itália, 1966) 36. Motorista de Táxi, de Martin Scorsese (EUA, 1976) 37. O Medo Devora a Alma, de Rainer Werner Fassbinder (Alemanha, 1974) 38. Veludo Azul, de David Lynch (EUA, 1986) 39. Crimes e Pecados, de Woody Allen (EUA, 1989) 40. O Grande Lebowski, de Joel Coen (EUA, 1998)
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21. Mãe e Filho, de Alexander Sokurov (Rússia, 1997) 22. O Leopardo, de Luchino Visconti (Itália, 1963) 23. Os Vivos e os Mortos, de John Huston (EUA, 1987) 24. 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick (EUA, 1968) 25. O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais (França, 1961) 26. O Martírio de Joana D´Arc, de Carl Dreyer (França, 1928) 27. Uma Mulher para Dois, de Francois Truffaut (França, 1962) 28. Meu Ódio Será Sua Herança, de Sam Peckinpah (EUA, 1969) 29. O Show Deve Continuar, de Bob Fosse (EUA, 1979) 30. A Vida de Oharu, de Kenji
m dos projetos de artes visuais mais bem conceituados de Pernambuco, a Coordenadoria de Artes Plásticas da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) está a poucos passos burocráticos de ganhar uma nova dirigente. Professora do departamento de Teoria da Arte da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maria do Carmo Nino vai ser a nova titular do cargo. Enquanto a papelada que oficializa a mudança circula entre a Fundaj e a UFPE, ela começa a planejar seus projetos para a casa nova. Maria Nino recebe a coordenadoria das mãos de Cristiana Tejo, atual diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. Inicialmente, ela afirma que não pretende realizar grandes mudanças estruturais na instituição, já que a Fundaj está bem organizada, tem um perfil definido e realiza programas importantes em âmbito local e nacional. Dessa forma, seu primeiro projeto será na direção de estreitar os laços entre Fundação e a Universidade. Maria Nino planeja aproximar a produção e as discussões teóricas encampadas pelos alunos da UFPE do público que circula pelas galerias e cursos da Fundaj. Esse caminho lhe veio com naturalidade, já que ela transita com facilidade pelos dois universos, destacando que os dois órgãos pertencem ao governo federal e são ligados ao Ministério da Educação. O fortalecimento mútuo das duas casas deve-se ainda ao fato de que Maria Nino vai conciliar as atividades acadêmicas com a coordenadoria de artes plásticas. "Temos um quadro de professores muito reduzido em Teoria da Arte. Além disso, eu adoro lecionar, que é uma importante fonte de material para o meu trabalho. Não tenho intenção de abandonar a sala de aula nem as pesquisas,” afirma. Afirmar que utiliza o espaço universitário como manancial para produção e reflexão da arte contemporânea, nesse caso, não é uma mera questão de retórica. Embora ainda não seja conhecida do grande público, Maria Nino transita com facilidade nesse meio graças a sua postura acadêmica diferenciada, que conquista um número cada vez maior de alunos de artes plásticas da UFPE. Dos jovens que, atualmente, oxigenam o circuito de produção e difusão voltado para esse campo, muitos foram alunos da futura coordenadora da Fundaj. Ela ainda agrega admiradores em mais duas áreas do conhecimento, nas pós-graduações de letras e comunicação, nas quais atua como professora convidada. Essa facilidade para transitar por universos híbridos, permear margens, sempre esteve presente na trajetória de Maria Nino. Artista plástica por opção, arquiteta por formação, a professora tem no currículo o gosto pela diversidade. Depois de concluir a graduação em arquitetura na UFPE, ela seguiu para a Universidade de Sorbone (França), onde se doutorou em artes plásticas, apropriando-se de conceitos da teoria literária para defender sua tese. Neste período, desenvolveu uma pesquisa acadêmica sobre sua própria produção plástica, investigando o limiar da mudança de paradigma da fotografia na passagem do analógico para o digital. Pesquisa que desdobra e amplia ainda hoje, analisando também os limites entre o desenho e a fotografia. Atualmente, tem uma exposição em cartaz no Núcleo de Arte Contemporânea de João Pessoa (PB). Arquiteta, artista plástica, acadêmica, professora, curadora. Da mesma maneira que circula de forma interdisciplinar por vários campos do conhecimento, Maria Nino também lança mão de sua experiência em áreas bem diversas para dar vazão ao seu trabalho, atuando de forma complementar e integrada. Cada uma de suas faces profissionais consegue alimentar a outra, já que todas são importantes para esse múltiplo desenvolvimento profissional. Enquanto a acadêmica levanta informações teóricas sobre as novas formas de se fazer, pensar e observar a fotografia, a artista desenvolve imagens em cima dessa reflexão, que depois vai ser utilizada como ponto de partida para debates em sala de aula, num processo dinâmico e construído a partir de vários pontos de vista diferentes. É esse olhar entremeado por perspectivas múltiplas, mas não conflitantes, que Maria Nino leva para a Fundação Joaquim Nabuco. Seu trabalho à frente da instituição mantém-se na linha da arte contemporânea, mas é provável que se abra ainda mais ao diálogo com outros universos da produção artística, incorporando valores e discussões de vários campos. Enquanto seus projetos para a Fundaj não se materializam, ela segue dinâmica, transitando por outros espaços, áreas permeáveis à sua maneira singular de perceber e agregar o mundo ao seu redor. \\
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1. A Regra do Jogo, de Jean Renoir (França, 1939) 2. Era um vez em Tóquio, de Yasujiro Ozu (Japão, 1953) 3. Luzes da Cidade, de Charles Chaplin (EUA, 1931) 4. O Batedor de Carteiras, de Robert Bresson (França, 1959) 5. Metropolis, de Fritz Lang (Alemanha, 1927) 6. Cidadão Kane, de Orson Welles (EUA, 1941) 7. Orfeu, de Jean Couteau (França, 1950) 8. Masculino-Feminino, de Jean-Luc Godard (França, 1966) 9. Quando Duas Mulheres Pecam, de Ingmar Bergman (Suécia, 1966) 10. Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock (EUA, 1958) 11. Aurora, de F.W. Murnau (EUA, 1927) 12. Rastros de Ódio, de John Ford (EUA, 1956) 13. As Três Noites de Eva, de Preston Sturges (EUA, 1941) 14. O Conformista, de Bernardo Bertolucci (Itália, 1970) 15. Fellini Oito e Meio, de Federico Fellini (Itália, 1963) 16. O Poderoso Chefão, de Francis Coppola (EUA, 1972) 17. Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-Wai (Hong Kong, 2000) 18. O Terceiro Homem, de Carol Reed (Inglaterra, 1949) 19. Performance, de Donald Cammell e Nicolas Roeg (Inglaterra, 1970) 20. A Noite, de Michangelo Antonioni (Itália, 1961) Prata
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Não só condenada pela sociedade, a escravidão agora exige perdão e mobiliza políticos norte-americanos Vânia Carvalho
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recente lançamento dos livros “Imagens da Cidade - Espaços Urbanos na Comunicação e Cultura Contemporâneas”, com organização de Angela Prysthon; “Telejornalismo - A Nova Praça Pública”, que tem o professo Alfredo Vizeu entre os organizadores; e “Foucault Hoje?”, em que Nina Velasco e Cruz aparece dividindo a organização com André Queiroz, são sintomáticos na identificação de vetores que emergem no campo teórico da Comunicação. Os três autores destacados integram o Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e dão escopo teórico ao recém-aprovado curso de Doutorado em Comunicação da instituição o segundo do Nordeste, junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PPGCCC), da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Uma questão parece premente em ser desvelada: o Doutorado em Comunicação da UFPE sintetiza um momento em que os estudos da Comunicação no País passam a encontrar na trilha da interface teórica um profícuo instrumental para complexificar os fenômenos que envolvem produtos midiáticos, meios, processos comunicativos e sociabilidades. Visualiza-se o declínio das metodologias puras, totalizantes, absolutas - numa herança estruturalista que integra a dinâmica dos campos de estudos em formação -, apontando caminhos para os encontros entre mananciais teóricos que tentam dar conta de forças centrípetas e centrífugas que agem sobre os fenômenos em análise. Vê-se o relevo de estudos que partem, em muitos casos, de questões mais amplas, panorâmicas, contextuais, e são discutidas a partir das manifestações em produtos, colocando, lado-a-lado, muitas vezes, metodologias e conceitos outrora “inconciliáveis”. Trata-se, portanto, de um momento de conciliação teórica, de identificação de arestas e, ao contrário de socos em “pontas afiadas”, de moldar formas de encaixe sobre estas arestas. A Comunicação parece deixar de temer sua ontologia: comunica-se para se aproximar, comunica-se para compartilhar. É sob o estigma do encontro que três publicações que contam com docentes do PPGCom da UFPE como os organizadores servem como sintoma de uma certa lógica da conciliação teórica que somatiza a Comunicação. Dois deles, “Imagens da Cidade - Espaços Urbanos na Comunicação e Cultura Contemporâneas” e “Foucault Hoje?”, são resultados de colóquios realizados, respectivamente, no Recife e no Rio de Janeiro. Ambos parecem reverberar a máxima de que a Comunicação deve seu “quinhão” formativo à Sociologia (“Imagens da Cidade”) e às Letras(“Foucault Hoje?”), embora, o interessante das duas publicações é justamente a maneira com que as zonas limítrofes entre os conceitos teóricos das duas áreas apareçam camuflados, salutarmente enviesados. Conceitos passam a ser disfarces que se manifestam em produtos: textos literários, canções, filmes, terapias. O que guia? O disfarce do conceito sob o espectro do ato de análise, sob o ver. Tais publicações enxergam questões concernentes à área de Comunicação como quem espreita o ser desejoso: com o querer de ver mais, de fazer alguém ver mais. “Imagens da Cidade” espraia o próprio
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conceito de cidade, como aquele orientado pelos escritos de arquitetura e urbanismo, fazendo enxergar as teias de conexão e atrito dos que usam a urbe, transitam, seguem erráticos por ela. Conceitualmente, os autores de “Imagens da Cidade” lançam seus olhares-viajantes, como nos lembra Ítalo Calvino, evocando o visível numa “cidade invisível”. Para isso, se atêm a questões mais subjetivas, mais transversais, compreendendo que “para descobrir quanta escuridão existe em torno é preciso concentrar o olhar nas luzes fracas e distantes”. Dá-se o direito a se olhar o distante, a luz fraca, o pormenor, porque é ele, na cultura contemporânea, que traça um mapa visível na vivência urbana. A problemática dos espaços urbanos e da cultura contemporânea serve como véu para quem assiste aos telejornais. Por isso, tratar o telejornalismo como uma praça pública, como nos escritos de “Telejornalismo - A Nova Praça Pública”, é senão unir questões que, também, sintetizam olhares transversais sobre um produto midiático: olhares que apontam para ecos de uma perspectiva aristotélica de retórica numa dinâmica habermasiana do espaço público. As estratégias discursivas dos telejornais, que circunscrevem o discurso numa máxima que não vê distinção entre linguagem e mundo, constróem uma rede de significados que compõem visões de mundo, colocando em debate normas sociais e conteúdos subjetivos. Neste sentido, o conceito se disfarça para poder compreender mais, perceber que o que se diz, ecoa, vai além. Sobre todos esses vetores de forças, talvez olhando quem olha, olhando o intelectual, está Foucault que, no descortinamento evocado pela obra “Foucault Hoje?”, organizada por André Queiroz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e por Nina Velasco e Cruz, agora, na UFPE, faz respirar algumas formas de manusear o pensamento foucaultiano em direção aos mais diversos usos: da teoria literária, passando pela saúde e pela comunicação, sendo interessante a perspectiva de não demarcar um “porto” para o pensamento de Michel Foucault. Porto é parada, estaleiro é museu. Tudo o que o conceito precisa é de um disfarce para estar diante de um novo objeto, de um novo problema. As três obras aqui apontadas dão a impressão de que, na Comunicação, conceitos devem seguir em linha reta, em direção a um suposto encontro com outros objetos desconhecidos: sempre sob o disfarce deles mesmos. \\
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escravidão foi um dos eventos mais determinantes na História dos Estados Unidos. Por causa dela, o país passou por uma guerra civil entre 1861 e 1865, o conflito que mais matou americanos (970 mil pessoas), cerca de 3% da população americana da época. 142 anos depois do fim da Guerra de Secessão e duzentos anos depois do fim do tráfico negreiro pelo Império Britânico, o país parece tentar abrir um novo capítulo sobre a questão. Dois Estados americanos já fizeram pedidos de desculpas pela escravidão e uma resolução federal pode levar o país a se desculpar formalmente aos descendentes de escravos. A Virgínia, um dos Estados do sul do país onde havia mais escravos durante a guerra civil americana, fez um pedido formal de desculpas no último mês de fevereiro. Como a cidade de Richmond, na Virgínia, era a capital dos Estados Confederados, agrícolas e escravagistas, foi considerado de grande importância simbólica que o primeiro pedido fosse feito nesse local. O exemplo da Virgínia foi seguido por Maryland. O Estado oficializou o pedido de perdão em 17 de março, quando seus parlamentares aprovaram por unanimidade uma resolução que expressa "profundo pesar" pelo seu papel no comércio de escravos e na instituição da escravidão no país. O gesto dos dois Estados deve ser seguido por Texas, Missouri e Vermont. Essas iniciativas podem ser apenas o primeiro passo para um gesto de dimensão política ainda maior, um pedido formal de perdão de nível nacional pode acontecer ainda esse ano. O senador democrata de Memphis, Steve Cohen, que é branco, vai propor ao Congresso um pedido de perdão de alcance federal pela escravidão e pelas leis de segregação racial que existiram no país até os anos 60. A tentativa de Cohen não é a primeira. Uma década atrás, o republicano Tony Hall, de Ohio, tentou duas vezes sem sucesso aprovar um pedido de desculpas aos negros pela escravidão. O parlamentar democrata Nathaniel Exum, bisneto de escravos, e patrocinador do pedido de desculpas por Maryland, acredita que a resolução da Virgínia abriu caminho para os outros estados. Outro aspecto, no entanto, parece ter facilitado a aprovação das resoluções de perdão. O próprio Exum tentou por muitos anos aprovar pedidos. Inicialmente, suas petições eram mais radicais e, além do perdão, exigiam reparação pelo crime da escravidão. O parlamentar moderou suas reivindicações e conseguiu finalmente aprovação. Ele disse que a concessão foi uma tentativa de iniciar um diálogo sobre relações raciais em Maryland. Os principais críticos dos pedidos de perdão alegam que essas resoluções podem levar a processos de reparações financeiras pela escravidão que custariam bilhões aos cofres dos Estados Unidos. "Se vamos pedir perdão aos negros, devemos pedir perdão também aos primeiros americanos, os índios, e também aos irlandeses, que quando chegaram aqui eram discriminados", disse Maria Hider, uma advogada de New Jersey. O movimento parece ter inspirado desdobramentos em outras áreas. O FBI anunciou que vai reinvestigar dezenas de casos de assassinatos de cidadãos negros durante o período 1950-60 como possíveis violações dos direitos civis. Existem mais de cem casos que estão sendo considerados para reabertura. "Muito tempo se passou desde esses crimes mas essas feridas continuam fundas e muitas delas ainda nao foram cicatrizadas", disse o secretário de Justiça dos Estados Unidos, Alberto Gonzalez, ao anunciar a reabertura dos casos, no mês passado. Essas ações na esfera política apontam para uma tentativa de retomar a discussão da questão racial nos país. Décadas após o movimento de direitos civis, os afro-americanos continuam sendo mais pobres, menos educados e mais passíveis de serem presos que os brancos. \\
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Fabiana Moraes ites pessoais, blogues, revistas de estilo de vida, sítios virtuais especializados em fofocas: fáceis e maravilhosos são os caminhos para conhecer, entender, compartilhar, e, mais adequadamente, devorar as celebridades que flutuam sobre o nosso mundo superaquecido. A apresentadora Daniela Mel (quem?) revela em seu blog: "ainda bem que eu não dei”. Vanessa Camargo, em sua página, faz um desabafo: o efeito estufa e o atrapalho que é ficar sem saber se é melhor sair usando shortinho ou casaco. Luana Piovani, por sua vez, pede a palavra: está decepcionada com esse mundo injusto. Mas, corram todos, acabamos de saber que Ana Furtado e Boninho escolheram o nome do bebê que está para nascer! Neste paraíso confortável povoado por spas, castelos, ilhas e estações de esqui, a não-notícia impera e dita o caminho do jornalismo nosso de cada dia, seja ele publicado nas folhinhas semanais dos bairros ou nos respeitáveis jornalões. A famosa pirâmide invertida criada pelo modelo clássico norte-americano nos informava que um acontecimento deveria chegar às páginas quando formado pelo sexteto o quê, quem, quando, onde, porquê e como. Mas, em tempos de infoentretenimento, qual o sentido de tantos questionamentos quando se está frente a frente com Britney Spears sem calcinha? As celebridades resumiram a pirâmide a apenas um item, tão sintomático que virou nome de revista de celebridade: quem. Agora, os saudosos lembram-se do tempo em que os fatos, para chegar ao status de notícia, não podiam, por exemplo, trazer ambigüidades. Mas isso destruiria parte da próxima edição de Caras, onde a pauta gira em torno de questões como Cicarelli e seu suposto novo namorado, Adriane Galisteu com Roger em clima de affair, Paris Hilton em uma boate com um garoto desconhecido. É namoro ou amizade? Resposta: é não-notícia. E o que seria da frase batida, mas sempre eficaz “somos apenas bons amigos” se essa história da ambigüidade fosse levada ao pé da letra pelas revistas que se dedicam a vasculhar a vida dos famosos? A feérica indústria das celebrities, além da necessidade de fatos produzidos em escala industrial que caracteriza o atual jornalismo (super competitivo e fragmentado), são as duas bases clássicas da não-notícia: basta um rosto famoso, um castelo, uma ilha ou estação de esqui (um bom patrocinador é sempre bem-vindo) e voilá! temos a capa da semana. As afirmações vistas nas não-entrevistas são quase sempre as mesmas: “Estou plena de paz”; “Este lugar é incrível”; “Sim, estou aberta para um novo amor”. Ganha o famoso, que garante sua visibilidade, ganham as revistas, jornais impressos ou televisionados, que criam seu próprio material noticioso. É claro que celebridades são e sempre serão notícia - toda figura pública é uma notícia em si -, mas, se antes elas surgiam nas páginas falando sobre seus novos trabalhos, divulgando discos ou filmes, hoje elas apenas precisam permitir que sua intimidade seja a própria notícia. Não é preciso fazer, necessariamente, nada para abrir espaço no circo midiático. Um dos símbolos recentes da pós-modernidade, o fenômeno não-noticioso nasceu com o próprio jornalismo-consumo, lá na segunda metade do século 19, em plena revolução industrial. Era preciso vender muitos jornais, e, para isso, ninguém achava estranho fabricar boa parte do conteúdo que era publicado: crimes bárbaros, histórias humanas curiosas ou romances açucarados eram re-
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A ética, o fato, a imprensa. Não pode haver fato mais valioso que a ética. A ética valora o fato. O que dá mais valor ao fato é sua importância social. Individualizado, se não agride a ética, será irrelevante divulgá-lo. Aí é onde se coloca o núcleo da questão: Quando é - ou não ético divulgar um fato? Cada uma dessas proposições contém significado suficiente para uma dissertação. E ela se impõe, pra começo de conversa sobre imprensa e liberdade, pela extensão do termo ética. O que é ético para uma comunidade com determinada crença religiosa não é para outra. O que é valorado moralmente por um grupo étnico pode não ser por outro grupo. É nesse emaranhado complexo que se situa a questão proposta: Até que ponto vale a ética e o que fazer quando os fatos ultrapassam os níveis razoáveis dessa mesma ética? A ética não tem fronteiras. Ela é, ou não é. Quando uma determinada categoria profissional cria o seu código de ética ela o faz fundada em valores históricos e normas jurídicas de uma comunidade. Ela é, então, o resultado de um processo histórico, acumulado, agregado, tornado patrimônio dessa comunidade. Esse patrimônio, contudo, estará sujeito a uma regra maior, fundadora, que é o ordenamento jurídico. A ética se situa, então, nos planos subjetivo e objetivo. No caso da imprensa, o ético é, subjetivamente, a defesa intransigente da liberdade. Entretanto, mesmo aí há obstáculos objetivos, baseados na lei. Um exemplo bastante atual e visível é, por exemplo, o caso da notável autoridade judiciária que é envolvida em corrupção. Detida, as investigações, o indiciamento e procedimentos para a acusação correm "em segredo de Justiça”. Isso não acontece com um bandido que não esteja investido de autoridade. Exceto em casos excepcionais, quando estão sub judice valores irrenunciáveis, como os que envolvem escândalo em família, tendo como vítimas crianças e adolescentes. Veja-se, então, a relativização da liberdade. Há, no caso, uma diferenciação objetiva entre indivíduos. Estamos perante valores distintos de seres humanos que racional e humanisticamente deveriam estar sujeitos ao mesmo tratamento perante o Poder Judiciário. Quando a imprensa é forçada, por lei, a silenciar diante do chamado “segredo de Justiça” está agredindo a ética porque os personagens envolvidos são autoridades, notáveis? No meu entendimento, está. Porque já não se trata de proteger um bem maior - a família e a inocência - mas de atender aos interesses dos poderosos. Então, veja-se como é extenso o entendimento da proposição que situa o fato, a ética e a imprensa. E é tão extenso porque envolve valores humanos, sentimentos, emoções, deformação de caráter e altruísmo ao mesmo tempo. Noutros aspectos, que não esse carregado de deformações históricas - a elite faz as leis que mais lhe protegem -, a ética é violentada cotidianamente por ignorância ou banalização da violência como produto de consumo. O noticiário chamado policial que explora os sentimentos mais mórbidos da população é, todos sabemos, instrumento de consumo. Presta-se não a atender a um interesse coletivo mas a ser consumido, engordar os números das pesquisas de opinião pública e elevar o valor da publicidade naquele horário. É evidente que estamos, aí, no território da alienação, da agressão aos mais elementares valores humanos e, naturalmente, à ética. Entretanto, em comunicação, imprensa, mais e mais estamos sujeitos a esses “valores”. Basta lembrar um caso típico da predominância do ibope sobre a ética: algumas redes de televisão criaram programas “policiais” que exploram o lado mais obscuro da natureza humana, para não dizer os esgotos da alma, em contraponto a um processo de depuração da mais poderosa rede de televisão. Na medida em que a baixaria foi elevando os pontos do ibope, a Globo teve que ceder e criar também o seu espaço “policial” para sustentar os pontos das pesquisas. Não é preciso muito esforço para perceber que não estamos no terreno do ético. \\ Jodeval Duarte
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A ética, o fato, a imprensa. Não pode haver fato mais valioso que a ética. A ética valora o fato. O que dá mais valor ao fato é sua importância social. Individualizado, se não agride a ética, será irrelevante divulgá-lo. Aí é onde se coloca o núcleo da questão: Quando é - ou não ético divulgar um fato? Cada uma dessas proposições contém significado suficiente para uma dissertação. E ela se impõe, pra começo de conversa sobre imprensa e liberdade, pela extensão do termo ética. O que é ético para uma comunidade com determinada crença religiosa não é para outra. O que é valorado moralmente por um grupo étnico pode não ser por outro grupo. É nesse emaranhado complexo que se situa a questão proposta: Até que ponto vale a ética e o que fazer quando os fatos ultrapassam os níveis razoáveis dessa mesma ética? A ética não tem fronteiras. Ela é, ou não é. Quando uma determinada categoria profissional cria o seu código de ética ela o faz fundada em valores históricos e normas jurídicas de uma comunidade. Ela é, então, o resultado de um processo histórico, acumulado, agregado, tornado patrimônio dessa comunidade. Esse patrimônio, contudo, estará sujeito a uma regra maior, fundadora, que é o ordenamento jurídico. A ética se situa, então, nos planos subjetivo e objetivo. No caso da imprensa, o ético é, subjetivamente, a defesa intransigente da liberdade. Entretanto, mesmo aí há obstáculos objetivos, baseados na lei. Um exemplo bastante atual e visível é, por exemplo, o caso da notável autoridade judiciária que é envolvida em corrupção. Detida, as investigações, o indiciamento e procedimentos para a acusação correm "em segredo de Justiça”. Isso não acontece com um bandido que não esteja investido de autoridade. Exceto em casos excepcionais, quando estão sub judice valores irrenunciáveis, como os que envolvem escândalo em família, tendo como vítimas crianças e adolescentes. Veja-se, então, a relativização da liberdade. Há, no caso, uma diferenciação objetiva entre indivíduos. Estamos perante valores distintos de seres humanos que racional e humanisticamente deveriam estar sujeitos ao mesmo tratamento perante o Poder Judiciário. Quando a imprensa é forçada, por lei, a silenciar diante do chamado “segredo de Justiça” está agredindo a ética porque os personagens envolvidos são autoridades, notáveis? No meu entendimento, está. Porque já não se trata de proteger um bem maior - a família e a inocência - mas de atender aos interesses dos poderosos. Então, veja-se como é extenso o entendimento da proposição que situa o fato, a ética e a imprensa. E é tão extenso porque envolve valores humanos, sentimentos, emoções, deformação de caráter e altruísmo ao mesmo tempo. Noutros aspectos, que não esse carregado de deformações históricas - a elite faz as leis que mais lhe protegem -, a ética é violentada cotidianamente por ignorância ou banalização da violência como produto de consumo. O noticiário chamado policial que explora os sentimentos mais mórbidos da população é, todos sabemos, instrumento de consumo. Presta-se não a atender a um interesse coletivo mas a ser consumido, engordar os números das pesquisas de opinião pública e elevar o valor da publicidade naquele horário. É evidente que estamos, aí, no território da alienação, da agressão aos mais elementares valores humanos e, naturalmente, à ética. Entretanto, em comunicação, imprensa, mais e mais estamos sujeitos a esses “valores”. Basta lembrar um caso típico da predominância do ibope sobre a ética: algumas redes de televisão criaram programas “policiais” que exploram o lado mais obscuro da natureza humana, para não dizer os esgotos da alma, em contraponto a um processo de depuração da mais poderosa rede de televisão. Na medida em que a baixaria foi elevando os pontos do ibope, a Globo teve que ceder e criar também o seu espaço “policial” para sustentar os pontos das pesquisas. Não é preciso muito esforço para perceber que não estamos no terreno do ético. \\ Jodeval Duarte
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Não só condenada pela sociedade, a escravidão agora exige perdão e mobiliza políticos norte-americanos Vânia Carvalho
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recente lançamento dos livros “Imagens da Cidade - Espaços Urbanos na Comunicação e Cultura Contemporâneas”, com organização de Angela Prysthon; “Telejornalismo - A Nova Praça Pública”, que tem o professo Alfredo Vizeu entre os organizadores; e “Foucault Hoje?”, em que Nina Velasco e Cruz aparece dividindo a organização com André Queiroz, são sintomáticos na identificação de vetores que emergem no campo teórico da Comunicação. Os três autores destacados integram o Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e dão escopo teórico ao recém-aprovado curso de Doutorado em Comunicação da instituição o segundo do Nordeste, junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PPGCCC), da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Uma questão parece premente em ser desvelada: o Doutorado em Comunicação da UFPE sintetiza um momento em que os estudos da Comunicação no País passam a encontrar na trilha da interface teórica um profícuo instrumental para complexificar os fenômenos que envolvem produtos midiáticos, meios, processos comunicativos e sociabilidades. Visualiza-se o declínio das metodologias puras, totalizantes, absolutas - numa herança estruturalista que integra a dinâmica dos campos de estudos em formação -, apontando caminhos para os encontros entre mananciais teóricos que tentam dar conta de forças centrípetas e centrífugas que agem sobre os fenômenos em análise. Vê-se o relevo de estudos que partem, em muitos casos, de questões mais amplas, panorâmicas, contextuais, e são discutidas a partir das manifestações em produtos, colocando, lado-a-lado, muitas vezes, metodologias e conceitos outrora “inconciliáveis”. Trata-se, portanto, de um momento de conciliação teórica, de identificação de arestas e, ao contrário de socos em “pontas afiadas”, de moldar formas de encaixe sobre estas arestas. A Comunicação parece deixar de temer sua ontologia: comunica-se para se aproximar, comunica-se para compartilhar. É sob o estigma do encontro que três publicações que contam com docentes do PPGCom da UFPE como os organizadores servem como sintoma de uma certa lógica da conciliação teórica que somatiza a Comunicação. Dois deles, “Imagens da Cidade - Espaços Urbanos na Comunicação e Cultura Contemporâneas” e “Foucault Hoje?”, são resultados de colóquios realizados, respectivamente, no Recife e no Rio de Janeiro. Ambos parecem reverberar a máxima de que a Comunicação deve seu “quinhão” formativo à Sociologia (“Imagens da Cidade”) e às Letras(“Foucault Hoje?”), embora, o interessante das duas publicações é justamente a maneira com que as zonas limítrofes entre os conceitos teóricos das duas áreas apareçam camuflados, salutarmente enviesados. Conceitos passam a ser disfarces que se manifestam em produtos: textos literários, canções, filmes, terapias. O que guia? O disfarce do conceito sob o espectro do ato de análise, sob o ver. Tais publicações enxergam questões concernentes à área de Comunicação como quem espreita o ser desejoso: com o querer de ver mais, de fazer alguém ver mais. “Imagens da Cidade” espraia o próprio
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conceito de cidade, como aquele orientado pelos escritos de arquitetura e urbanismo, fazendo enxergar as teias de conexão e atrito dos que usam a urbe, transitam, seguem erráticos por ela. Conceitualmente, os autores de “Imagens da Cidade” lançam seus olhares-viajantes, como nos lembra Ítalo Calvino, evocando o visível numa “cidade invisível”. Para isso, se atêm a questões mais subjetivas, mais transversais, compreendendo que “para descobrir quanta escuridão existe em torno é preciso concentrar o olhar nas luzes fracas e distantes”. Dá-se o direito a se olhar o distante, a luz fraca, o pormenor, porque é ele, na cultura contemporânea, que traça um mapa visível na vivência urbana. A problemática dos espaços urbanos e da cultura contemporânea serve como véu para quem assiste aos telejornais. Por isso, tratar o telejornalismo como uma praça pública, como nos escritos de “Telejornalismo - A Nova Praça Pública”, é senão unir questões que, também, sintetizam olhares transversais sobre um produto midiático: olhares que apontam para ecos de uma perspectiva aristotélica de retórica numa dinâmica habermasiana do espaço público. As estratégias discursivas dos telejornais, que circunscrevem o discurso numa máxima que não vê distinção entre linguagem e mundo, constróem uma rede de significados que compõem visões de mundo, colocando em debate normas sociais e conteúdos subjetivos. Neste sentido, o conceito se disfarça para poder compreender mais, perceber que o que se diz, ecoa, vai além. Sobre todos esses vetores de forças, talvez olhando quem olha, olhando o intelectual, está Foucault que, no descortinamento evocado pela obra “Foucault Hoje?”, organizada por André Queiroz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e por Nina Velasco e Cruz, agora, na UFPE, faz respirar algumas formas de manusear o pensamento foucaultiano em direção aos mais diversos usos: da teoria literária, passando pela saúde e pela comunicação, sendo interessante a perspectiva de não demarcar um “porto” para o pensamento de Michel Foucault. Porto é parada, estaleiro é museu. Tudo o que o conceito precisa é de um disfarce para estar diante de um novo objeto, de um novo problema. As três obras aqui apontadas dão a impressão de que, na Comunicação, conceitos devem seguir em linha reta, em direção a um suposto encontro com outros objetos desconhecidos: sempre sob o disfarce deles mesmos. \\
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escravidão foi um dos eventos mais determinantes na História dos Estados Unidos. Por causa dela, o país passou por uma guerra civil entre 1861 e 1865, o conflito que mais matou americanos (970 mil pessoas), cerca de 3% da população americana da época. 142 anos depois do fim da Guerra de Secessão e duzentos anos depois do fim do tráfico negreiro pelo Império Britânico, o país parece tentar abrir um novo capítulo sobre a questão. Dois Estados americanos já fizeram pedidos de desculpas pela escravidão e uma resolução federal pode levar o país a se desculpar formalmente aos descendentes de escravos. A Virgínia, um dos Estados do sul do país onde havia mais escravos durante a guerra civil americana, fez um pedido formal de desculpas no último mês de fevereiro. Como a cidade de Richmond, na Virgínia, era a capital dos Estados Confederados, agrícolas e escravagistas, foi considerado de grande importância simbólica que o primeiro pedido fosse feito nesse local. O exemplo da Virgínia foi seguido por Maryland. O Estado oficializou o pedido de perdão em 17 de março, quando seus parlamentares aprovaram por unanimidade uma resolução que expressa "profundo pesar" pelo seu papel no comércio de escravos e na instituição da escravidão no país. O gesto dos dois Estados deve ser seguido por Texas, Missouri e Vermont. Essas iniciativas podem ser apenas o primeiro passo para um gesto de dimensão política ainda maior, um pedido formal de perdão de nível nacional pode acontecer ainda esse ano. O senador democrata de Memphis, Steve Cohen, que é branco, vai propor ao Congresso um pedido de perdão de alcance federal pela escravidão e pelas leis de segregação racial que existiram no país até os anos 60. A tentativa de Cohen não é a primeira. Uma década atrás, o republicano Tony Hall, de Ohio, tentou duas vezes sem sucesso aprovar um pedido de desculpas aos negros pela escravidão. O parlamentar democrata Nathaniel Exum, bisneto de escravos, e patrocinador do pedido de desculpas por Maryland, acredita que a resolução da Virgínia abriu caminho para os outros estados. Outro aspecto, no entanto, parece ter facilitado a aprovação das resoluções de perdão. O próprio Exum tentou por muitos anos aprovar pedidos. Inicialmente, suas petições eram mais radicais e, além do perdão, exigiam reparação pelo crime da escravidão. O parlamentar moderou suas reivindicações e conseguiu finalmente aprovação. Ele disse que a concessão foi uma tentativa de iniciar um diálogo sobre relações raciais em Maryland. Os principais críticos dos pedidos de perdão alegam que essas resoluções podem levar a processos de reparações financeiras pela escravidão que custariam bilhões aos cofres dos Estados Unidos. "Se vamos pedir perdão aos negros, devemos pedir perdão também aos primeiros americanos, os índios, e também aos irlandeses, que quando chegaram aqui eram discriminados", disse Maria Hider, uma advogada de New Jersey. O movimento parece ter inspirado desdobramentos em outras áreas. O FBI anunciou que vai reinvestigar dezenas de casos de assassinatos de cidadãos negros durante o período 1950-60 como possíveis violações dos direitos civis. Existem mais de cem casos que estão sendo considerados para reabertura. "Muito tempo se passou desde esses crimes mas essas feridas continuam fundas e muitas delas ainda nao foram cicatrizadas", disse o secretário de Justiça dos Estados Unidos, Alberto Gonzalez, ao anunciar a reabertura dos casos, no mês passado. Essas ações na esfera política apontam para uma tentativa de retomar a discussão da questão racial nos país. Décadas após o movimento de direitos civis, os afro-americanos continuam sendo mais pobres, menos educados e mais passíveis de serem presos que os brancos. \\
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Metodologia de estudos universitários sugere uma ampla integração com produtos diversos e abrangentes
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Alexandre Belém
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Mesmo diante da problemática que todos os cânones levantam, o cineasta Paul Schrader fez a sua lista dos grandes clássicos do cinema Ernesto Barros que era para ser uma jornada prazerosa e obrigatoriamente iniciática transformou-se numa pequena dor de cabeça para o cineasta, roteirista e crítico Paul Schrader. Um dos raging bulls do cinema americano da década de 1970, quando assinou os roteiros de Motorista de Táxi (Taxi Driver) e Trágica Obsessão (Obsession), Schrader apresentou suas credenciais primeiro como escritor. Seu Transcendental Style on Film, um estudo sobre a obra de Yasujiro Ozu, Robert Bresson e Carl Dreyer, foi mais que uma petição de princípios. Um pensador do cinema foi revelado, então. Pensador e cineasta uniram-se numa noite em Londres, quando um editor da Faber and Faber lhe incumbiu de uma tarefa hercúlea: elaborar um cânone cinematográfico nos mesmos moldes do consagrado O Cânone Ocidental (Editora Objetiva), onde o crítico e professor Harold Bloom listou e comentou as principais obras da literatura ocidental. Era março de 2003 e Schrader aceitou a provocação. A Faber ofereceu-lhe um contrato e o cineasta-escritor preparou-se para escrever a obra. O primeiro pensamento foi seguir o modelo de Bloom: um cânone elitista, não populista, e com uma barreira tão alta que só poucos poderiam alcançá-la. Seguindo o exemplo do então crítico da revista New York, David Denby, Schrader voltou aos bancos da Universidade de Columbia, onde já havia ensinado, e freqüentou dois cursos durante o período 2004-2005: história da estética, com Lydia Goehr, e história da estética cinematográfica, com James Schamus (o mesmo James Schamus, que é presidente da Focus Features). Entretanto, no meio da empreitada, a vontade de Schrader arrefeceu e ele abandonou o projeto. Justamente quando estava próximo de iniciar a escrever o ensaio, já com os filmes escolhidos para se debruçar sobre cada um deles, percebendo que olharia mais para o passado que o futuro, o seu apetite pelo projeto desapareceu. No final do ano passado, Schrader publicou uma espécie de mea culpa por ter abandonado a idéia na revista Film Comment, ainda achando que era um projeto digno, mas deixando-o para outra pessoa fazê-lo. No alentado artigo, apropriadamente intitulado O Livro que não escrevi, Paul Schrader levanta inúmeras questões sobre o estado atual do cinema frente às outras artes e, por extensão, da situação da crítica cinematográfica. Um dos pontos mais importantes é que, se o cinema foi uma arte dominante do século XX, no século XXI ele não o será. Para ele, forças culturais e tecnológicas estão processando mudanças no conceito de "filme" como nós o conhecemos. De acordo com Schrader, até as duas categorias dominantes da crítica, a populista, dominada pela aproximação com o gosto do público, e a acadêmica, com o seu jargão e suas considerações extra-cinematográficas, fracassaram. E, além disso, já não é mais possível para um jovem cinéfilo prestar atenção na história do cinema e tirar suas conclusões. O motivo: há filmes demais para se ver. E, a bem da verdade, Schrader está no caminho certo. À abundância de filmes do passado, cada mais renovados e ressuscitados com o advento das cópias digitais, soma-se à pletora de filmes surgidos a cada dia em todas as partes do mundo. Então, conclui Schrader, a noção de cânone (por definição, critérios que transcendam o gosto pessoal ou popular) é particularmente problemática porque não há acordo sobre o que o cânone deve incluir. Para ele, a noção de cânone - seja literário, musical ou pictórico - é uma heresia do século XX. Por fim, quando há acordo, "os cânones são elitistas, sexistas, racistas, obsoletos e politicamente incorretos". Por outro lado, Schrader não se furta em apontar que os cânones cinematográficos existem de fato, e em abundância: existem nos currículos das escolas, na lista dos 10 melhores do ano e na várias listas dos melhores de todos tempos. Para ele, "a formação do cânone tornou-se o equivalente das leis anti-sodomia do século XIX: repudiadas a princípio, executadas na prática". Se Schrader não deu cabo de sua tarefa, pelo menos ele deixou um legado. As três listas de filmes propostas para a elaboração do cânone estão aí para quem se interessar em ir além. É claro que a lista é pessoal e intransferível. E certamente a seleção mudará de acordo com a formação de cada um que tentar levar adiante tal trabalho. Mas, sem dúvida que as listas de ouro, prata e bronze representam o que de melhor foi feito no cinema até hoje. Entretanto, elas representam apenas o gosto de uma pessoa, um cineasta americano: Paul Schrader. Para um cinéfilo brasileiro ou francês ou de qualquer outro país, por exemplo, as listas certamente devem ser bem diferentes e com uma nova noção de cânone para cada um deles. \\
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Ouro
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Bronze 41. Os Saptatinhos Vermelhos, de Michael Powell & Emeric Pressburger (Inglaterra, 1948) 42. Cantando na Chuva, de Stanley Donen & Gene Kelly (EUA, 1952) 43. Chinatown (Roman Polanski, 1974) 44. A Turba, de King Vidor (EUA, 1928) 45. Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder (EUA, 1950) 46. Fale com Ela , de Pedro Almodóvar (Espanha, 2002) 47. O Expresso de Shanghai, de Josef von Sternberg (EUA, 1932) 48. Carta de uma Desconhecida, de Max Ophuls (EUA, 1948) 49. Era uma Vez no Oeste, de Sergio Leone (EUA, 1968) 50. O Bandido Giuliano, de Francesco Rosi (Itália, 1962) 51. Nostalgia, de Andrei Tarkovsky (Itália, 1983) 52. Sete Homens Sem Destino, de Budd Boetticher (EUA, 1956) 53. O Joelho de Claire, de Eric Rohmer (França, 1970) 54. Terra, de Alexander Dovzhenko (Rússia, 1930) 55. Mortalmente Perigosa, de Joseph H. Lewis (EUA, 1949) 56. Fuga do Passadeo, de Jacques Tourneur (EUA, 1947) 57. O Boulevard do Crime, de Marcel Carné (França, 1945) 58. O Preço de um Homem, de Anthony Mann (EUA, 1953) 59. Um Lugar ao Sol, de George Stevens (EUA, 1950) 60. A General, de Buster Keaton (EUA, 1927)
Maria do Carmo Nino transita entre o rigor acadêmico e a liberdade artística Diana Moura Barbosa
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Mizoguchi (Japão, 1952) 31. Céu in Inferno, de Akira Kurosawa (Japão, 1963) 32. A Embriaguez do Sucesso, de Alexander Mackendrick (EUA, 1957) 33. Este Obscuro Objeto do Desejo, de Luis Buñuel (França, 1977) 34. Um Americano em Paris, de Vincente Minnelli (EUA, 1951) 35. A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo (Itália, 1966) 36. Motorista de Táxi, de Martin Scorsese (EUA, 1976) 37. O Medo Devora a Alma, de Rainer Werner Fassbinder (Alemanha, 1974) 38. Veludo Azul, de David Lynch (EUA, 1986) 39. Crimes e Pecados, de Woody Allen (EUA, 1989) 40. O Grande Lebowski, de Joel Coen (EUA, 1998)
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21. Mãe e Filho, de Alexander Sokurov (Rússia, 1997) 22. O Leopardo, de Luchino Visconti (Itália, 1963) 23. Os Vivos e os Mortos, de John Huston (EUA, 1987) 24. 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick (EUA, 1968) 25. O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais (França, 1961) 26. O Martírio de Joana D´Arc, de Carl Dreyer (França, 1928) 27. Uma Mulher para Dois, de Francois Truffaut (França, 1962) 28. Meu Ódio Será Sua Herança, de Sam Peckinpah (EUA, 1969) 29. O Show Deve Continuar, de Bob Fosse (EUA, 1979) 30. A Vida de Oharu, de Kenji
m dos projetos de artes visuais mais bem conceituados de Pernambuco, a Coordenadoria de Artes Plásticas da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) está a poucos passos burocráticos de ganhar uma nova dirigente. Professora do departamento de Teoria da Arte da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maria do Carmo Nino vai ser a nova titular do cargo. Enquanto a papelada que oficializa a mudança circula entre a Fundaj e a UFPE, ela começa a planejar seus projetos para a casa nova. Maria Nino recebe a coordenadoria das mãos de Cristiana Tejo, atual diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. Inicialmente, ela afirma que não pretende realizar grandes mudanças estruturais na instituição, já que a Fundaj está bem organizada, tem um perfil definido e realiza programas importantes em âmbito local e nacional. Dessa forma, seu primeiro projeto será na direção de estreitar os laços entre Fundação e a Universidade. Maria Nino planeja aproximar a produção e as discussões teóricas encampadas pelos alunos da UFPE do público que circula pelas galerias e cursos da Fundaj. Esse caminho lhe veio com naturalidade, já que ela transita com facilidade pelos dois universos, destacando que os dois órgãos pertencem ao governo federal e são ligados ao Ministério da Educação. O fortalecimento mútuo das duas casas deve-se ainda ao fato de que Maria Nino vai conciliar as atividades acadêmicas com a coordenadoria de artes plásticas. "Temos um quadro de professores muito reduzido em Teoria da Arte. Além disso, eu adoro lecionar, que é uma importante fonte de material para o meu trabalho. Não tenho intenção de abandonar a sala de aula nem as pesquisas,” afirma. Afirmar que utiliza o espaço universitário como manancial para produção e reflexão da arte contemporânea, nesse caso, não é uma mera questão de retórica. Embora ainda não seja conhecida do grande público, Maria Nino transita com facilidade nesse meio graças a sua postura acadêmica diferenciada, que conquista um número cada vez maior de alunos de artes plásticas da UFPE. Dos jovens que, atualmente, oxigenam o circuito de produção e difusão voltado para esse campo, muitos foram alunos da futura coordenadora da Fundaj. Ela ainda agrega admiradores em mais duas áreas do conhecimento, nas pós-graduações de letras e comunicação, nas quais atua como professora convidada. Essa facilidade para transitar por universos híbridos, permear margens, sempre esteve presente na trajetória de Maria Nino. Artista plástica por opção, arquiteta por formação, a professora tem no currículo o gosto pela diversidade. Depois de concluir a graduação em arquitetura na UFPE, ela seguiu para a Universidade de Sorbone (França), onde se doutorou em artes plásticas, apropriando-se de conceitos da teoria literária para defender sua tese. Neste período, desenvolveu uma pesquisa acadêmica sobre sua própria produção plástica, investigando o limiar da mudança de paradigma da fotografia na passagem do analógico para o digital. Pesquisa que desdobra e amplia ainda hoje, analisando também os limites entre o desenho e a fotografia. Atualmente, tem uma exposição em cartaz no Núcleo de Arte Contemporânea de João Pessoa (PB). Arquiteta, artista plástica, acadêmica, professora, curadora. Da mesma maneira que circula de forma interdisciplinar por vários campos do conhecimento, Maria Nino também lança mão de sua experiência em áreas bem diversas para dar vazão ao seu trabalho, atuando de forma complementar e integrada. Cada uma de suas faces profissionais consegue alimentar a outra, já que todas são importantes para esse múltiplo desenvolvimento profissional. Enquanto a acadêmica levanta informações teóricas sobre as novas formas de se fazer, pensar e observar a fotografia, a artista desenvolve imagens em cima dessa reflexão, que depois vai ser utilizada como ponto de partida para debates em sala de aula, num processo dinâmico e construído a partir de vários pontos de vista diferentes. É esse olhar entremeado por perspectivas múltiplas, mas não conflitantes, que Maria Nino leva para a Fundação Joaquim Nabuco. Seu trabalho à frente da instituição mantém-se na linha da arte contemporânea, mas é provável que se abra ainda mais ao diálogo com outros universos da produção artística, incorporando valores e discussões de vários campos. Enquanto seus projetos para a Fundaj não se materializam, ela segue dinâmica, transitando por outros espaços, áreas permeáveis à sua maneira singular de perceber e agregar o mundo ao seu redor. \\
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1. A Regra do Jogo, de Jean Renoir (França, 1939) 2. Era um vez em Tóquio, de Yasujiro Ozu (Japão, 1953) 3. Luzes da Cidade, de Charles Chaplin (EUA, 1931) 4. O Batedor de Carteiras, de Robert Bresson (França, 1959) 5. Metropolis, de Fritz Lang (Alemanha, 1927) 6. Cidadão Kane, de Orson Welles (EUA, 1941) 7. Orfeu, de Jean Couteau (França, 1950) 8. Masculino-Feminino, de Jean-Luc Godard (França, 1966) 9. Quando Duas Mulheres Pecam, de Ingmar Bergman (Suécia, 1966) 10. Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock (EUA, 1958) 11. Aurora, de F.W. Murnau (EUA, 1927) 12. Rastros de Ódio, de John Ford (EUA, 1956) 13. As Três Noites de Eva, de Preston Sturges (EUA, 1941) 14. O Conformista, de Bernardo Bertolucci (Itália, 1970) 15. Fellini Oito e Meio, de Federico Fellini (Itália, 1963) 16. O Poderoso Chefão, de Francis Coppola (EUA, 1972) 17. Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-Wai (Hong Kong, 2000) 18. O Terceiro Homem, de Carol Reed (Inglaterra, 1949) 19. Performance, de Donald Cammell e Nicolas Roeg (Inglaterra, 1970) 20. A Noite, de Michangelo Antonioni (Itália, 1961) Prata
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itanic foi o primeiro filme de amor que eu vi na companhia de um menino. O cinema do Shopping Recife ainda era do lado de fora e nós, que tínhamos nos conhecido no Abril pro Rock de 1998, ficamos em dúvida entre ver Central do Brasil e o filme do Di Caprio. A escolha certa mudou minha vida para sempre - e desde então posso dizer que, mais que livros e menos que músicas, são as comédias românticas o cimento da minha trajetória (amorosa). Foi o menino do APR que me fez trocar os óculos pelas lentes de contato. Como numa comédia romântica que se preze, passei de gazela sem vaidade e com cabelo cheio de frizz a uma menina que até aprendeu a fazer as próprias unhas. Minhas mudanças, no entanto, me foram bem menos traumáticas que as de Laney Boggs, de Ela é demais (a não ser a parte da aposta, da qual fui vítima quando tinha apenas 12 anos numa história referente ao meu primeiro beijo, mas isso é demasiado triste para ser revelado!). Ela é demais fez parte da enxurrada de CRs adolescentes que invadiu os cinemas em 1999 ( American Pie, sim, e também 10 coisas que eu odeio em você e Louco por você). A história conta como uma “patinha feia” é eleita rainha da formatura do colégio, depois que o menino mais popular da escola aposta que consegue dar um trato nela. Transformações estéticas de heroínas são, pois, recorrentes em CRs, que não por acaso têm no “mito” da Cinderela sua maior fonte de inspiração. My fair lady, Uma linda mulher e A nova Cinderela são, de certo modo, mais ou menos a mesma coisa. Lembro que quando assisti A nova Cinderela pela primeira vez, saí, enchi a cara e escrevi a seguinte frase em meu diário: “se o destino não for generoso com a gente, quem vai ser?”. Porque somos otimistas, os apaixonados. Mas não, o destino não é generoso (não como num filme do Hugh Grant) e o ano de 2005 me provaria por si só essa máxima. Se em 1999 foi o ano das CRs pra adolescente ver, 2005 foi o ano das CRs que ensinam - aquelas que te fazem dar risadinhas nervosas no cinema porque você se reconhece, fica com vergonha da sua histeria e aprende com mestres como Ashton Kutcher. Reinam soberanos nesta lista Tudo acontece em Elizabethtown, De repente é amor e Alfie, o sedutor. Alfie foi um filme que gerou uma espécie de premonição, uma vez que ele estreou no Brasil dez dias antes de eu conhecer o bofe mais desastroso de minha carreira amorosa. O personagem de Jude Law me fez escrever a seguinte observação: “tem caras que são tão galantes que conquistam até minha avó, mas que invariavelmente me largam da maneira menos cavalheiresca; e depois minha avó fica me perguntando o que eu fiz para eles me largarem”. Logo depois de ver Alfie, como já antecipei, conheci um cara que estava no limbo profissional e emocional de sua vida e eu, à procura de qualquer caubói que pudesse me animar, vi ali a chance de fazê-lo (exatamente como em Elizabethtown!). Ao contrário do menino do APR, por causa desse novo rapaz a transformação foi “desestética” - o frizz voltou ao cabelo e, mesmo sendo capaz de fazer minha própria unha, eu negligenciava porque não precisava de arrancar também dos dedos bifes como os que me tinham sido arrancados do coração! Numa das passagens de De repente é amor, Amanda Peet descobre que sua melhor amiga está namorando com seu ex-namorado - na hora que os vê, ela fica umtanto quanto descontrolada. Mas (nada como um dia após o outro, ou uma noite boa) quando ela percebe que ele nem era tão importante assim, entende que foi
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muito melhor para ela própria que a amiga tivesse tirado da sua vida um cara que só fazia causar o mal, entende? É meio como Christina Aguilera diz na música Fighter: “depois de tudo o que você me fez, acha que eu te desprezo, mas eu quero é agradecer porque você me deixou muito mais forte”. Quando se chega nesse grau de desapego, eis o Olimpo: querida, você superou. Só uma mulher verdadeiramente superada é capaz de se referir ao seu ex-bofemaligno por um pronome masculino, e não com algum adjetivo pouco original como “desgraçado” ou “canalha” (muito embora às vezes eles mereçam carregar o apelido para a cova). Foi por causa dessa superação que eu resolvi tentar ajudar devolver ao mundo (ou seja, à meia dúzia de leitoras do meu blog, o Vodca Barata) a esperança que me tinha sido tomada e que foi reconquistada por ninguém menos que... eu mesma. Dra. Vodca, conselheira amorosa viciada em música pop, existe graças a essa deliciosa pretensão experimentada por aquelas que passaram de devastadas a divas do amorpróprio. As perguntas enviadas por e-mail a Dra. Vodca são, a grosso modo, sempre as mesmas. E o raciocínio para respondê-las parte, também, do mesmo princípio: antes de tudo (querida), você. Por exemplo: o melhor de De repente é amor é que eles têm mais o que fazer do que se preocupar um com o outro. Aí acabam se apaixonando. Isso porque ser a pessoa que quer fazer “dar certo” é tomar para si o papel daquele que facilmente se frustrará ao ver como as coisas saem do controle - a vida não segue script e você não pode refilmar o take errado. Numa CR, o prenúncio do momento de superação da heroína é clássico. É aquela parte do filme em que a mocinha, depois de se lascar, se cala e vai cuidar de sua vida, enquanto a trilha sonora toma conta das cenas. Tipo em quando Jennifer Aniston tenta refazer sua vida sem Vince Vaughn em Separados pelo casamento, ou uma Thurman tenta se reerguer em Terapia do amor. Enquanto isso, o mocinho começa a se lembrar com ternura das cenas fofas que viveu com a heroína (de quem no momento ele está separado e analisando se quer continuar assim). Esse é o ponto em que se determina se o final do filme vai ser feliz ou pedagógico. É nesse momento lindo que uma das partes decide se vai se redimir e pedir perdão - ou não, e se resignar. As vezes é preciso aceitar a derrota diante da certeza de um relacionamento sem futuro - mesmo que as lembranças sejam boas, o melhor é encher o coração apenas de nostálgico calor. Esse tipo de CR não tem final feliz, mas tem final esperançoso. A boa comédia romântica é a que desperta você para você mesmo. A vida é dura, benzinho, e duvido que alguém lhe tenha dito o contrário. Não confie em quem quer fazer você acreditar nisso. Já percebeu que as CR terminam no momento em que o casal supera as diferenças e decide ficar junto? É assim porque, se o filme continuasse para mostrar o que o amor se torna depois da assassina convivência, ele teria que ser colocado na prateleira de drama, e não de CR. Nada é perfeito. A boa comédia romântica é em si uma antítese: te faz rir porque te faz sofrer. A boa comédia romântica tem que fazer você pensar sobre todos os corações que você partiu - ou todas as vezes que deixou seu coração ser partido. A boa comédia romântica vai fazer sua história parecer um pouco sem sentido. Mas nada que dois dedos de vodca num copo fino cheio de gelo, mais um cinzeiro vazio pronto para ser preenchido não possam ajudar a adormecer as doloridas percepções. \\
Carolina Leão
A realidade virtual chegou para transformar a nossa percepção do narcisismo. Nada é o que parece. E nem precisa ser se Photoshop. Apague as fotos da câmera digital. Elimine seu eu indesejável. Construa uma realidade possível e a interprete com fôlego de leão: vai ser preciso. Entre, portanto, para um democrático e populoso, ironicamente, universo de imaginação, fantasia e entorpecimento. O narcisismo vicia. Narciso mergulhou num lago, encantado pela sua própria imagem e entrou para o vocabulário popular. Foi parar no dicionário da psicanálise, quando Freud utilizou-se do mito para elaborar uma das suas teorias da personalidade. Num primeiro momento, o narcisismo seria identificado pelo vienense como o elemento primordial para a construção e identificação da criança. A “fase do espelho” retomada tempo depois por Lacan. “Eu sou isso porque não sou aquilo”. Mas até o desenvolvimento desse sujeito, desse “vir a ser”, o caráter perverso adquiriria a sua função de cobrança e monitoramento do “outro” ao qual se dedicaria uma tensa projeção libidinal.Em algumas versões do mito de Narciso, ele é retratado como o belo e insensível jovem que recusara o amor da ninfa Eros e fora, por isso, condenado a morrer contemplando-se por sua única fatalidade: ele mesmo. No narcisismo secundário, no adulto, a perversão “saudável” se transforma em patologia. Delírios de grandeza, onipotência, insensibilidade à demanda do outro como defesa para a ansiedade mais certa da existência: ser amado. É de Ovídio a interpretação da destruição de Narciso pelo amor. Narciso, no entanto, sucumbiu à sua imagem; não seu ao corpo, à sua personalidade. Narciso sucumbiu à representação icônica da realidade. No senso comum, o narcisista é visto como alguém com zelo exacerbado sobre si mesmo. Mas o narcisista vai além disso. Ele é autoreferente, mas descentrado de sua própria persona. O narcisista pode funcionar como uma massa de modelar para alcançar o reconhecimento, o desejo e a atenção do outro. Há quanto tempo o homem vem se esforçando para mostrar o que é de fato e o que gostaria de ser? Certamente a sua individualização no espaço público contribuiu para a criação de personas com as quais possa se identificar, ser aceito e amado. Da aurora da modernidade para os dias atuais, o narcisismo deu piruetas nos conceitos psicanalíticos até chegar na análise da cultura contemporânea como fenômeno social que reflete a experiência de se viver no mundo de simulação e sedução. Em A cultura do narcisismo: a vida americana numa era de esperanças em declínio, Christopher Lasch reflete sobre o tema em tons apocalípticos. O narcisismo deixa de de-
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signar o comportamento patológico para sintetizar uma patologia cultural. Terapeutas lotam suas agendas com sujeitos que não sabem amar, o que fazer com o outro e com o amor que porventura dizem sentir, diz Lasch. Escrito em 1979, o livro, um clássico, soa obsoleto. A realidade virtual extrapolou o limite entre a verdade e o desejável conforme a técnica colabora para a formação de personas manipuláveis. Fragmentada, inventada, recortada, a personalidade virou o mosaico de representação dessa nova fase da cultura do narcisismo na qual se busca cada vez mais o reconhecimento do outro e alienação de si mesmo. Transferência para um outro do qual não se sabe exatamente nada. Projeção para um outro criado por nós mesmos. A verdade vira quimera ou utopia. O orkut não é apenas a rede de relacionamentos da Internet. Mas uma história a ser contada. E essa história não está, como Fernando Pessoa, farta de semi-deuses. São personagens que se alimentam do heroísmo, da ficção, da fantasia, de auto-retratos, verdadeiros ou falsos, sobre si mesmos que existem na psique de qualquer ser humano. Agora, eles passaram a ser compartilhados com requintes tecnológicos. A descrição do “eu” funciona como uma lenda pessoal em cujo repertório imagético se encontra o melhor perfil a ser contemplado por quem do outro lado está. Mas quem mesmo? Nunca se escreveu tanto sobre o tédio, o desamor, o desamparo, a solidão e o isolamento social. Em toda a História da Arte, encontraremos referências diversas sobre tais assuntos; sem constituir, porém, um corpo cultural como fenômeno de massa. Acharemos, sim, em imagens, poesias, músicas, romances e filmes, material suficiente para crermos que questões existenciais como estas fazem parte do repertório estético da humanidade. Agora, são dominantes culturais, como diria o critico Fredric Jameson. O culto à emoção é investigado da mesma forma que um certo ennui toma conta dessa cultura que não tem absolutamente do que se queixar em oferta de aventura e ação. Um tédio de excessos. Paralelamente, o conceito de narcisismo foi de tal forma banalizado que hoje o vemos com naturalidade; cujo efeito é minimizar e obscurecer o lado cruel de sua descrição no campo da cultura de massa. A cultura narcísica vai além da caracterização de um sujeito que adora a si próprio. Também faz parte dela um mundo onde as referências individuais são perdidas. Mas as ilusões são bem-vindas. \\
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A fotógrafa Adelaide Ivanova, dona do site www.vodcabarata.blogspot.com, que responde dúvidas sentimentais dos internautas, revela como as comédias românticas (as famosas CRs) proveram sua educação sentimental Alexandre Belém
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Manipule sua imagem e seja mais feliz - As ferramentas tecnológicas elevam auto-estima de internautas. Pelo menos virtualmente. provoca polêmica, raiva e arrependimento
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Perdão - Sociedade norte-americana se mobiliza para pedir perdão pela escravidão
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Quem? Quem? - Mundo das celebridades abre debate sobre os limites da mídia se consomem - Lançamentos 08 Produtos dão uma nova abordagem para as teorias
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da comunicação
09 Universos híbridos - Os planos da professora
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Maria do Carmo Nino para o departamento de artes da Fundaj
Quando Leo DiCaprio me deu razão Depoimento de uma viciada em comédias românticas
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11 Inédito - Conto da escritora Jussara Salazar
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Em matéria na terceira página, assinada por Carolina Leão, um fosso se abre: e o narcisismo? As pessoas estão cada vez mais ávidas de promoção, de revelar a sua intimidade, de mostrar-se ao mundo em todo o seu esplendor, lançando maravilhas sobre o seu comportamento. Ou não. Cada um cuida da própria ansiedade. Um fenômeno que se multiplica na Internet, principalmente no Orkut. Questionável? Sim, questionável. Por isso esse novo tipo de comunicação, que se confunde com o jornalismo, está em debate neste número.
Outro tema em debate, desta vez perpassando o corpo do jornal até atingir o Saber + Debate, é o problema do trabalho no Brasil ao lado da história da escravidão e que, por isso mesmo, revela as questões do vestibular em Pernambuco. Um problema e tanto: num País instável economicamente e que aponta, já agora, para uma legislação trabalhista de alguma forma estável. Por isso é cada vez mais importante que o leitor Entre na Briga, e participe das nossas polêmicas. Ser ou não ser, eis a questão. Lembrando que a briga começa na nova página com o texto de Vânia Carvalho, sobre o pedido de perdão nos Estados Unidos. Mais a revolução continua: Basta observar o impacto da capa deste número. Criada por Jaíne Cintra em colaboração com Alexandre Belém, reinventando as tradicionais bolas de gude em explosivas questões de jornalismo, perguntando, e perguntando, e perguntando. Uma capa em duas páginas, que dá prosseguimento a um projeto gráfico cada vez mais ousado. Ao lado da matéria sobre comédias românticas, assinada por Adelaide Ivanova, com leveza e envolvimento. E só mais uma lembrança: o conto de Jussara Salazar na décima primeira página. Raimundo Carrero recarerro@cepe.com.br
Entre na briga - O Pernambuco abre espaço para os leitores a partir do próximo número. Escreva dez linhas sobre “A dor em todas as suas manifestações – física, emocional, comportamento político-social”, para debater com nossos colaboradores. Veja e-mail no editorial.
Cristais sobre o rio
Jussara
Sim, lá vai o rio. Passa espesso, luminoso, profundo. Intenso vai carrega velhos cristais na procissão de homens, flores, fitas, votos, velas. Fantasmas ondulam a superfície larga. Quaram. Óculos e vejo as medusas, turmalinas, passos, tentáculos, o branco azul que dói, o texto monturo de ontem. Mas hoje nenhum arbusto flutua. Nada, nenhum fruto apodrecido, nenhuma carne em agonia, tudo é silêncio. Um sopro acalma: os ventos de Iansã circundam brisam o rio das capivaras. Respiro o aprazível de tocar os olhos até onde vão as pedras submersas dessa terra de árvores marinhas - campo, templo de deuses sem nome, querubins de muitas línguas, águas de Ofélias. Língua de casca áspera bate bigorna. [um prego nervoso degola um halo de luz, me diz que é para escrever tocando o papel devagar, sem chispas, à Lorca.] Troco de cadeira, procuro o sol, mina vermelha de seda em ouro bruto. Osso oco, metáfora resto. [vinde, caminha sobre essas águas e observa, contempla as baronesas que surgem feito exércitos, as ovelhas brancas, as romãs passando, boiando como cristais delicados, sol quebradiço, umbigo esquisito da cidade.] Cinco martírios. A lâmina do tempo me diz outra vez: é um rio - e rápida também passa. Por isso aguardaremos a chuva o sol, aguardaremos o que nunca pára de passar. O inseto em sua nudez sobre o papel. Mergulho. Senhora, ai de mim ninguém viu, minha guia caiu no fundo do rio... \\
Salazar
Recife, fevereiro de 2007 À memória de Caio Fernando Abreu
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Dois assuntos para debates neste, cada vez mais polêmico, Pernambuco: Ética no Jornalismo e Trabalho e Escravidão no Brasil. No primeiro, Fabiana Moraes analisa a não-notícia, aquela informação que se convencionou chamar de holofotes sobre os famosos, transformando um mero espirro num dilúvio de conseqüências inevitáveis. Daí entra em questão a pergunta: Seria falta de ética invadir a intimidade das pessoas, submetendo-as a um verdadeiro bombardeio de informações? Expondo de forma atormentadora a vida de cada um?
Mas atenção para o ótimo artigo assinado por Jodeval Duarte, um jornalista consagrado, com uma experiência intelectual capaz de provocar ainda mais os leitores, com a sua instigante inteligência. O que é ética? E o que interessa mesmo? A promoção absolutamente egoísta ou o coletivo? Assunto que vai se desdobrar, ainda mais, na matéria de Thiago Soares, explorando os produtos que se consomem na esfera acadêmica, através de livros que estão sendo publicados pela Universidade Federal de Pernambuco. Pelos assuntos tratados, eles mudam a metodologia: deixam de ser individualistas para atingir o conjunto científico.
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