Ana Cristina Silva Abreu tinha apenas quatro anos quando criou e ditou sua primeira narrativa. Especializada em Língua Portuguesa, servidora da Justiça Federal em São Paulo, ela dedica-se também à música, pintura, desenho e ilustrações.
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Rivaldo Barboza. Desde muito cedo arriscou-se entre traços e tintas, papéis e pincéis. Formado pela UFPE, aliou a habilidade do desenho com o pensamento sistemático e global do Design. Colabora com várias agências e editoras pelo Brasil.
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© 2011 Ana Cristina Silva Abreu Companhia Editora de Pernambuco
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Abreu, Ana Cristina Silva, 1984O coelho sem cartola / Ana Cristina Silva Abreu; ilustrações: Rivaldo Barboza. — Recife : Cepe, 2011. 31p. : il. 1. Ficção infantojuvenil — Pernambuco. I. Barboza, Rivaldo. II. Título. CDU 869.0(81)-93 CDD 808.899 282
PeR — BPE 11-0445 ISBN: 978-85-7858-074-2
Impresso no Brasil 2011 Foi feito o depósito legal
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s malas já estavam arrumadas e os brinquedos guardados, o que fazia o quarto parecer até meio sem graça, todo ajeitadinho assim. A viagem para São Paulo seria longa e cansativa, mas Lígia nem se importava. O que tinha mesmo em mente era o truque de mágica que mostraria à madrinha quando chegasse lá. Os adultos geralmente não têm paciência de acompanhar as demonstrações que as crianças gostam de apresentar, mas a madrinha de Lígia era melhor que uma plateia inteira! Ela ria, batia palmas e sempre incentivava a afilhada. Treinando o novo truque, a menina agora olhava fixamente para o espelho, com jeito de suspense. Colocou no dedo indicador da mão esquerda um anel de plástico todo enfeitado. Com a outra mão, ela segurava um lenço colorido entre os dedos anular e indicador. Demonstrando enorme agilidade, passou o lenço sobre o dedo com o anel e... – Incrível! O anel desapareceu! – gritou uma voz um pouco rouca, vinda da janela. Lígia ficou pálida. Não reconhecia aquela voz, de quem seria? Sentiu as mãos tremerem e não tinha coragem de olhar para trás, na direção da janela. Claro que isso não adiantou nada! Como ela estava de frente para o espelho, podia claramente enxergar a janela atrás de si. Quem estaria ali? Ela apertou os olhos sem acreditar no que via. Virou-se para trás, espantada e curiosa. – Orelhas? – disse para si mesma. Era verdade. Um par de orelhas brancas, compridas e pontudas apareciam na janela. Ela se aproximou e olhou para baixo. Foi então que pôde ver dois olhinhos avermelhados que a olhavam de volta um pouco assustados. – Um coelho! – exclamou ela. – Ops! – respondeu o animal. – Eu não devia ter gritado. – Você fala! A menina deu uns três passos para trás, assustada, e o coelho colocou a cabeça para cima do parapeito da janela. – Claro que eu falo! Você também fala. – Mas eu sou uma menina! – E eu sou um coelho, ora! – respondeu ele, enquanto pulava para dentro do quarto, sobre a cama de Lígia. Ela percebeu que aquela conversa não chegaria a lugar algum e decidiu deixar essas indagações sobre quem pode e quem não pode falar para outro momento.
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– O que você estava fazendo ali na janela? – Ah! Eu fiquei ali escondido para observar seu truque de mágica. – Escondido com essas duas orelhonas pra cima? Qualquer um notaria você. A menina caiu na gargalhada e o coelho sentiu seu focinho rosado mais rosado ainda de tanta vergonha e ergueu os olhos em direção às orelhas. – Eu sempre me esqueço deste detalhe. Mas diga-me, menina mágica, como se chama? – Meu nome é Lígia. E o seu? – Rodolfo. Olha, eu sei que estou sendo precipitado, mal nos conhecemos. Mas será que você não está precisando de um coelho de cartola? – Coelho de cartola? – espantou-se ela. – Que cartola? – Você não tem cartola? – Eu não! Por que teria? – Porque você é uma mágica! Como pode fazer seus truques sem uma cartola e uma capa de mágico? Lígia então percebeu o que estava acontecendo. – Ah! Você está enganado, Rodolfo. Não sou uma mágica de verdade. O que você viu foi apenas um truque que aprendi para mostrar a minha madrinha. Olhe só, este anel é preparado – ela mostrou o anel envolvido no lenço. – Eu cortei uma parte do anel. Assim, quando passo o
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lenço sobre ele, eu o seguro e puxo. Fica parecendo que o anel sumiu. As duas orelhas do coelho Rodolfo penderam para baixo e um olhar de tristeza tomou conta de seu rosto. – O que foi, Rodolfo? – É muito difícil – ele se sentou na beirada da cama –, não consigo arrumar outro mágico. – E por que você precisa de outro mágico? – É que eu trabalhava para um mágico muito famoso, em um circo que viajava aqui pelo interior de São Paulo. Eu era o coelho de cartola mais experiente das redondezas. Toda vez que o mágico me tirava da cartola, todas as crianças sorriam! – Isso parece fantástico! – Era fantástico. Acontece que, de repente, parece que ninguém mais queria ver coelhos sendo tirados de cartolas e eu fui demitido. No meu lugar agora há truques com cartas e objetos que flutuam. Rodolfo tinha os olhos úmidos e se segurava para não chorar. Lígia sentiu um aperto dentro do peito. – Não há outro mágico que queira contratar você? Tenho certeza que muita gente ainda quer ver números de mágica com coelhos! – Já procurei diversos mágicos. Eles só querem saber de novidade e dizem que ninguém mais precisa de coelhos. – Isso é um absurdo! Os coelhos são parte importante do espetáculo!
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Rodolfo ficou contente ao ouvir o elogio, mas continuava com aquele olhar desolado. – Bem, acho que continuarei procurando, então. Lígia pensou um pouco e uma ideia que parecia brilhante surgiu. – Já sei! – gritou ela, eufórica. – Hoje à tarde vou para São Paulo para passar as férias com a minha madrinha. A capital é bem maior e bem mais cheia de gente do que aqui no interior. Deve ter um monte de mágicos por lá. Você pode vir comigo! Encontraremos um mágico que precise de um coelho de cartola. – É uma ótima ideia – o rosto de Rodolfo tinha se iluminado novamente –, em São Paulo terei meu emprego de volta! E lá se foi o ônibus pela estrada. Do lado de fora, na rodoviária, os pais de Lígia acenavam e desejavam boa viagem. Do lado de dentro, a menina segurava cuidadosamente sua mochila no colo, para proteger a preciosa bagagem que carregava: um coelho branco de olhos avermelhados, focinho cor-de-rosa e um coração cheio de sonhos e esperanças. Lígia não pensava na viagem nem nas brincadeiras ou nos passeios que faria. Já tinha até se esquecido do truque que havia treinado com tanta dedicação. Onde estava mesmo o anel? Quando entrou no apartamento da madrinha, o único pensamento que tomava conta de sua cabeça era o coelho Rodolfo. – Ufa! Tava um calor danado aqui dentro – disse ele, quando a menina finalmente abriu a mala.
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– Toma, eu trouxe água pra você – ela ofereceu um pires com água que ele bebeu como se tivesse acabado de chegar do Saara ou do Atakama, ou de qualquer outro deserto do mundo. – A madrinha foi à feira e eu pedi que comprasse cenouras. Ela estranhou, pois eu nunca como cenouras, mas vai trazer. Os olhos de Rodolfo brilharam só de pensar naquelas coisinhas alaranjadas, tão saborosas!
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Mas, chega de perder tempo! Os dois tinham uma missão a cumprir. Lígia tratou de pegar a lista telefônica e folheou tudo atrás de um mágico, um magiquinho só que fosse. Mas... Nada! Rodolfo arrastou o jornal do dia até o quarto e, com as patinhas dianteiras e o focinho, abriu e começou a ler. – Você sabe ler? – espantou-se a menina. – Lá vem você de novo! Claro que sei. Lígia nem deu continuidade à conversa, ao invés disso debruçou-se sobre o jornal junto com o amigo. E não é que deu certo? Lá, no caderno de Cultura, encontraram o anúncio de um circo que se apresentaria na região durante o fim de semana. Os dois se entreolharam e não foi preciso dizer mais nada. Ah! Como demorou a chegar o sábado. E como foi difícil para Lígia esconder Rodolfo no apartamento da madrinha por todo esse tempo. Ele passava horas embaixo da cama. Mas, nada, nenhuma dificuldade foi pior do que comer cenouras todos os dias para disfarçar! Ainda bem que o dia do circo chegou. A praça onde a grande cobertura de lona foi montada estava lotada de gente de todo tipo, gente grande e gente pequena caminhando ente palhaços e malabaristas. Tudo era tão colorido!
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– Posso dar uma volta, madrinha, posso? – Logo o espetáculo vai começar, Lígia. Seria melhor ficarmos sentadas, para não perder o lugar. – Eu vou rapidinho e volto. – Tudo bem, estarei aqui. Mas não demore! Serpenteando entre a multidão, a menina, com o coelho na mochila, chegou até o camarim do mágico. Ela mal podia esperar para entrar ali. Na certa seria um lugar encantado e cheio de magia! Lentamente, ela foi empurrando a porta de metal e colocando a cabeça na fresta que se abria para espiar. Dentro da mochila, Rodolfo conseguiu abrir o zíper e colocou para fora a cabeça com suas enormes orelhas nada discretas. Os dois prenderam a respiração, tensos. – Quem está aí? – gritou uma voz grossa vinda lá de dentro. Num susto, Lígia bateu a porta e se afastou. Seu coração estava disparado, os olhos arregalados. Seria o mágico o dono daquela voz? Será que ele ficaria bravo com ela? A menina respirou fundo e tornou a abrir a porta. Lá dentro havia capas e cartolas, panos coloridos, flores, espelhos. Enfim, um amontoado de coisas que deviam ser mágicas. Lígia e Rodolfo estavam boquiabertos e nem perceberam o homem que olhava para a menina.
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Governo do Estado de Pernambuco Governador Vice-Governador Secretário da Casa Civil
Eduardo Henrique Accioly Campos João Lyra Neto Francisco Tadeu Barbosa de Alencar
Companhia Editora de Pernambuco Presidente Diretor de Produção e Edição Diretor Administrativo e Financeiro
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Produção Editorial Direção de Arte
Everardo Norões Antônio Portela Lourival Holanda Nelly Medeiros de Carvalho Pedro Américo de Farias Marco Polo Guimarães Luiz Arrais
Este livro foi classificado em segundo lugar na Categoria infantil, no Concurso Cepe de Literatura infantil e Juvenil/2010 Comissão Julgadora: Aldo Lima Fernando Monteiro Heloisa Arcoverde Ronaldo Correia de Brito Wanda Cardoso
Este livro foi composto em fonte Minion Pro, corpo 15/18, miolo impresso em papel couchê fosco 150g/m2, capa em supremo 250g/m2. Produção gráfica Joselma Firmino de souza / Finalização Rodolfo Galvão / Revisão Ariadne Quintella
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