Revista Pardela nº 42

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O inesquecível frequentemente é também o inesperado. A natureza tem o seu próprio ritmo e não permite planear encontros surpreendentes. Por isso a observação requer uns binóculos que não sejam somente mais uma peça do equipamento, mas sim uma companhia fiável. Os CL Companion são essa companhia que queremos ter sempre por perto.

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ÍNDICE

Observar aves

República de Cabo Verde

17

nas ilhas Canárias

sinergias pelas aves e Natureza

O voluntariado também fala europeu

8 Caça sustentável, uma necessidade em Portugal

11 Portugal Aves

o portal dos observadores

21

30

Editorial

4

PortugalAves

21

Campanha | Viaje com a Ave do Ano 2011

5

Voando com as aves no passado XIV

24

Breves

6

A ciência das aves

26

O voluntariado também fala europeu

8

Juvenis

28

Sinergias pelas aves e Natureza na República de Cabo Verde

30

Atlas das Aves do Arquipélago da Madeira

32

MarPro | Conservação de espécies marinhas protegidas em Portugal continental

34

Caça sustentável

11

Alimentar as aves em Portugal I

13

Cabo da Praia, Açores

15

Observar aves nas ilhas Canárias

17

O Canário-da-terra

20

n.º 42 pardela • 3


EDITORIAL

Cinco olhares sobre a Macaronésia Foi há pouco menos de 10 anos que me cruzei com a Pardela. Tinha acabado de me tornar sócio da SPEA e, até então, o meu universo ornitológico encontrava-se restrito às poucas espécies que tinha tido a sorte de observar na Madeira. Passear-me pelas páginas daquela primeira Pardela veio abrir-me as portas para todo um Portugal Selvagem que, até então, me era desconhecido na sua grande maioria. Lembro-me de descobrir com espanto que habitavam em território nacional várias espécies de abutres, que os Açores eram casa do passeriforme mais ameaçado da Europa e que em todas as Primaveras chegavam ao nosso território aves tão exoticamente coloridas como o Abelharuco e o Roleiro. O conservacionista senegalês Baba Dioum, uma vez disse que «no fim, vamos conservar o que amamos, vamos amar o que compreendemos e vamos compreender apenas o que nos mostrarem». Ora, a Pardela, veículo por excelência de comunicação da SPEA, tem vindo, desde os seus primeiros números, a dar a conhecer o nosso riquíssimo património biológico a todos aqueles que têm oportunidade de a ler. Julgo, que à semelhança do que aconteceu comigo, muitos outros se terão sentido impelidos a abraçar as causas da SPEA e a lutar pela conservação das nossas aves e demais biodiversidade, devido à leitura desta revista. A equipa editorial foi renovada, mas, no entanto, o estilo e missão da revista mantêm-se – esperamos que o seu prazer em a ler também. Aproveitando a realização do VII Congresso de Ornitologia da SPEA e I Jornadas Macaronésicas de Ornitologia decidimos dedicar esta edição à avifauna dos arquipélagos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde. O nome Macarónesia, designação moderna deste conjunto de arquipélagos, é originário do grego e significa «ilhas abençoadas» ou «ilhas afortunadas» e, aqueles que têm a sorte de as conhecer, sabem que o nome dificilmente poderia ser mais apropriado. Esta região é abençoada com uma enorme riqueza biológica, na qual que se destacam cerca de duas dezenas de aves exclusivas – muitas das quais apenas conseguiram chegar aos nossos dias devido a árduos esforços de conservação. Contamos que as próximas páginas vos abrirão o apetite em experienciar na primeira pessoa o património natural que estas ilhas têm para oferecer. Despeço-me com votos de Boas Festas e aproveito para lembrar que a loja da SPEA continua com excelentes prendas para o sapatinho e que, apesar do Ano Europeu do Voluntariado estar a terminar, muito do trabalho da SPEA (incluindo na Pardela) irá manter-se nas mãos de voluntários – em 2012, como agora, o seu contributo continuará a ser bem-vindo! Boas leituras. Ricardo Rocha Director da Pardela

Esta edição contou com os patrocínios de: Birding Canarias; Esteller/Swarovski Optik; Opticron

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FICHA TÉCNICA

PARDELA N.º 42 | NOVEMBRO 2011 DIRECTOR: Ricardo Rocha COMISSÃO EDITORIAL: Clara Casanova Ferreira, Joana Domingues, Luís Ferreira, Sarah Stow, Ricardo Rocha e Vanessa Oliveira AGRADECIMENTOS: Miguel Lecoq FOTOGRAFIA DE CAPA: Cagarra Calonectris diomedea, de Luís Ferreira FOTOGRAFIAS: Adrian Uszkiewicz, Ana Isabel Fagundes, Anaise Dacremont, arquivo OTOP, arquivo Turcaça, Birding Canarias, Bruno Maia, Carlos Pereira, Carlos Ribeiro, David Rodrigues, Doğa Dernegi, Domingos Leitão, Faísca, Helder Costa, J. Kramer, Joana Andrade, João Quaresma, José Juan Hernández, José Paulo Ruas, José Policarpo, Luís Ferreira, Marina Yagodkina, Miguel Lecoq, Neil Anders, Nuno Oliveira, Oliver Yanes, Paul Donald, Pedro Leitão, Pedro Monteiro, Rafael Palomo, Ricardo Lourenço, Roger Haltum, RSPB-Images, Susana Alves, Teresa Catry, Vítor Gonçalves TEXTOS: Ana Isabel Fagundes, Ana Meirinho, Carlos Pereira, Carlos Pimenta, Coralie Lozano, Domingos Leitão, equipa Atlas das Aves Nidificantes do Arquipélago da Madeira, José Pedro Tavares, Juan José Ramos Melo, Marta Moreno García, Maria Dias, Nuno Oliveira, Rita Moreira, Sílvia Nunes, Teresa Catry e Vanessa Oliveira ILUSTRAÇÕES: Paulo Alves, Pedro Alvito e Pedro Fernandes PAGINAÇÃO E GRAFISMO: Susana Costa IMPRESSÃO: SIG – Sociedade Industrial Gráfica, Lda. TIRAGEM/PERIODICIDADE: 1500 exemplares; quadrimestral ISSN: 0873-1124 DEPÓSITO LEGAL: 189 332/02 Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da SPEA. A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação das mesmas. A grande maioria das fotografias incluídas nesta publicação foi tirada no decorrer de estudos científicos e de conservação sobre as espécies, tendo os seus autores tomado as precauções necessárias para minimizar o grau de perturbação das mesmas. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações. Para patrocínios e outros assuntos contactar: Vanessa Oliveira: vanessa.oliveira@spea.pt

DIRECÇÃO NACIONAL

Presidente: Clara Casanova Ferreira Vice-presidente: José Manuel Monteiro Tesoureiro: Michael Armelin Vogais: Adelino Gouveia, Jaime Ramos, José Paulo Monteiro Avenida João Crisóstomo, n.º 18 4.º Dto. 1000-179 Lisboa Tel. 213 220 430 | Fax 213 220 439 E-mail: spea@spea.pt | Website: www.spea.pt A SPEA é uma organização não governamental de ambiente, que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, uma organização internacional que actua em mais de 100 países. Como associação sem fins lucrativos, depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar as suas acções.


Ajude-nos a determinar as zonas com prioridade de protecção, com base nos voos das cagarras. Com um donativo entre €5 a €100 fica a conhecer as suas viagens e nós conseguimos trabalhar na conservação desta espécie e dos oceanos.

Ao fazer-nos o seu donativo, ajuda na continuação deste projecto. Cada viagem custa €100 e cada donativo é somado até atingir esse valor, o que significa que cada Cagarra pode ter mais do que um padrinho. Os donativos ajudam-nos a seguir as cagarras nas suas viagens, através da marcação com um GPS-logger*, de modo a conhecer as zonas mais importantes de alimentação e reprodução.

Adopte e receba: - Toda a informação existente referente à Cagarra que apadrinhou, que é identificada pelo número da sua anilha metálica; - Um mapa do Google Earth (.kmz e .jpeg) do percurso que ela efectuou enquanto esteve marcada; - O local e data de saída e chegada, número de km percorridos; - Idade ou data da anilhagem e nalguns casos o sexo, se este for conhecido.

* Pequenos aparelhos eléctrónicos com um Mini-GPS

Faça o seu donativo para o NIB 0033 000000 260345382 05, com a referência Avedoano e contacte-nos para o e-mail joana.domingues@spea.pt para lhe enviarmos a informação relativa à Cagarra que adoptou.


BREVES

Novo guia Aves de Portugal O livro Aves de Portugal já se encontra disponível na loja SPEA. Editado pela Lynx Ediciones, em parceria com a SPEA, é o primeiro guia de aves produzido especificamente a pensar na realidade portuguesa, reunindo, numa só publicação, informação sobre a avifauna de todo o território, incluindo os arquipélagos atlânticos dos Açores, da Madeira e das Selvagens. Os autores deste guia (Helder Costa, Eduardo de Juana e Juan Varela) consideram que este guia vai interessar não só a quem se inicia na observação de aves, mas também a um público mais experiente. O livro tem tamanho «de bolso» e capa dura, o que o torna de mais fácil transporte para o campo e também mais duradouro. www.spea.pt/catalogo

Novos valores de quotas para 2012 A alteração dos valores das quotas, proposta pela Direcção, foi aprovada na Assembleia Geral de Sócios de 28 de Março. Os valores das quotas não eram actualizados desde 2006 e os novos valores entram em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2012. Lembramos ainda que está a decorrer a Campanha Novos Sócios SPEA, em que ao inscrever-se entre 1 de Outubro e 31 de Dezembro de 2011, o pagamento da quota reverte já para o ano de 2012. Junte-se à SPEA e ajude-nos na nossa missão! Categoria de sócio

2011

2012

Juvenil

11 €

12,5 €

Estudante

17 €

20 €

Individual

22 €

25 €

Familiar

30 €

35 €

Colectivo

66 €

75 €

www.spea.pt/pt/como-ajudar pagamento-de-quotas

Iberian Birds - as IBA no telemóvel O Iberian Birds é uma nova aplicação gratuita que visa incentivar o turismo sustentável nas Áreas Importantes para as Aves (IBA) de Portugal e Espanha. Está disponível para utilizadores de iPhone e iPad, com informação sobre mais de 479 IBA e 170 es6 • pardela n.º 42

pécies, e permite-lhes encontrar a IBA mais próxima de si, com base na sua localização geográfica e saber quais as aves que aí pode encontrar. Esta aplicação foi desenvolvida no âmbito do projecto IberAves, financiado pela União Europeia, que juntou a SPEA, a SEO/BirdLife e a BirdLife International, e pode ser encontrada on-line, procurando por «Iberian Birds» na Apple Store ou na iTunes Store.

Agenda em destaque Salientamos o início da época de campo 2011/12 de diversos projectos, para os quais continuamos a necessitar de voluntários e o aniversário da SPEA. Esteja atento às novidades! - 15 de Novembro: segunda época de campo do Atlas das Aves Invernantes e Migradoras; - 25 de Novembro: 18.º Aniversário da SPEA; - 1 Dezembro: NOCTUA-PT (Programa Monitorização de Aves Nocturnas), Arenaria e Chegadas; - 15 Dezembro: CANAN (Contagens de Aves no Natal e Ano Novo).


BREVES

2.º Festival de Observação de Aves de Sagres Os resultados da segunda edição do festival foram muito positivos, tendo superado as expectativas da organização em diversos aspectos. Mais de 700 participantes e 116 espécies de aves avistadas, com destaque para o Codornizão Crex crex, hoje quase extinto do território nacional e em vários países europeus. O número de visitantes estrangeiros foi maior nesta edição, tendo participado turistas provenientes da Suécia, Dinamarca, Reino Unido, Holanda, Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá, França e Espanha. Conseguiu-se envolver um maior número de agentes empresariais da região, tanto da restauração e aloja-

Monitorização de rapinas no alto da Cabranosa

mento, como da animação turística, verificando-se que vários esgotaram os serviços que disponibilizaram durante o festival. O evento teve como promotor a Câmara Municipal de Vila do Bispo e como organizadores a SPEA e a Almargem. Contou ainda com a parceria do Turismo do Algarve, Turismo de Portugal, Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Strix – Ambiente e Inovação e do RIAS/ALDEIA

– Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens (Quinta de Marim-Olhão), e teve o apoio da Sagres, Ecoinside e Ubiwhere (lançamento da aplicação Birdaholic), que patrocinaram várias componentes do festival. O próximo festival já tem data: 5 a 7 de Outubro de 2012! www.birdwatchingsagres.com

ESPAÇO SÓCIO

A Cagarra na maximafilia Por Américo Rebelo

Neste novo espaço, contamos nesta edição com a colaboração do sócio Américo Rebelo, aficionado da filatelia e da maximafilia, que nos dá a conhecer as emissões dos CTT dedicadas à Cagarra Calonectris diomedea borealis, a Ave do Ano 2011. Filatelicamente, foram emitidas pelos CTT de Portugal duas colecções de selos alusivos à Cagarra: em 1986 – Europa CEPT / Madeira (Cagarra e o ambiente marinho) e em 2007 – Fauna marinha da Madeira (emissão de qua-

Emissão: 2007 - Fauna Marinha da Madeira Obliteração: carimbo comemorativo da Emissão. CTT Funchal – 17.04.2007

tro selos, um deles sobre a espécie). Apresentamos aqui dois postais máximos e respectivos selos, de exemplares pertencentes à colecção de Américo Rebelo.

18.º aniversário

Emissão: 1986 - Europa CEPT / Madeira Obliteração: carimbo comemorativo da Emissão. CTT do Funchal - 15.05.1986 (Pormenor do postal máximo)

- 25 Novembro 2011 n.º 42 pardela • 7


O voluntariado também fala europeu Em Ano Europeu do Voluntariado, a SPEA traz-lhe histórias de voluntários que fazem a diferença, um pouco por toda a Europa, pelas aves e Natureza. Uma verdadeira fonte de inspiração para todos nós!

N

um ano em que muito se fala de voluntariado e cidadania activa, quisemos conhecer a realidade dos parceiros europeus da BirdLife International. Numa ideia inicial, fomos em busca de números, com a ideia de fazer gráficos comparativos entre países, mas rapidamente nos apercebemos de que a ideia iria mudar. Deixámos os números de lado e o que trazemos aqui é muito mais do que isso – o testemunho de algumas pessoas, que «vestem a camisola» por amor às aves e à Natu-

reza. Sem o apoio destes milhares de pessoas que todos os anos oferecem voluntariamente o seu tempo e conhecimentos, a missão dos parceiros da BirdLife seria muito mais difícil de concretizar. Elzbieta Stepnowska, coordenadora de voluntários na OTOP (Polónia), revela-nos que os cerca de 600 voluntários são uma parte muito importante para a sua organização. «Alguns são ornitólogos ou observadores de aves especialistas, mas outros simplesmente pessoas que gos-

tam da Natureza e que querem fazer algo por ela». «Trabalhamos com pessoas de todas as idades e profissões» e por vezes há «trabalhos duros», mas «a experiência, o convívio» e a oportunidade de passar «uns dias longe das ruidosas cidades», parecem compensar o esforço destes voluntários «amantes da Natureza». As acções desempenhadas pelos voluntários são inúmeras. Desde a realização de censos de aves e a vigilância de áreas importantes para as aves ao apoio na divulgação (e.g. fei-

Voluntários de campo de trabalho da OTOP, numa pausa

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ras, revistas, websites), educação ambiental e como guias de actividades de observação de aves. Neste artigo de três páginas, parte de um estudo em progresso, no âmbito do programa Juventude em Acção / Serviço Voluntário Europeu, não foi possível transcrever todas as histórias, mas consideramos que a nossa escolha já é suficiente inspiração para todos nós.

Em nome da SPEA, com a qual colaboram anualmente mais de 500 voluntários, e com a certeza de que estas também poderiam ser palavras dos nosso parceiros: o nosso muito obrigado a todos! Autoras: Coralie Lozano (SPEA/voluntária SVE) Vanessa Oliveira (SPEA)

A Voz dos Voluntários Bélgica, Natagora As crianças de Martelange Bom dia! Nós somos os alunos dos 2.º, 3.º e 4.º anos da Escola Básica de Haute-Sûre de Martelange. No dia 24 de Junho, participámos no censo de andorinhas-dos-beirais Delichon urbicum organizado pela Natagora. Este ano, o resultado foi o melhor: a nossa escola contou 8 ninhos ocupados, em oposição a 3 em 2010 e 4 em 2009. Devido ao declínio desta espécie, o Parque Natural Haute-Sûre Forêt d’Anlier colocou 6 caixas-ninho duplas na nossa escola em Outubro de 2010. Essas caixas ainda não estão ocupadas, pois as andorinhas necessitam de algum tempo para se adaptarem. No entanto, temos esperança de que o número de ninhos ocupados, com esta ajuda, aumente já na próxima Primavera!

Ewa Pysk, voluntária em censos de Felosa-aquática Beata Kojtek, voluntária em censos, OTOP

As crianças de Martelange

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Chipre, BirdLife Chipre Roger Holtum Depois de praticar birdwatching durante muitos anos, foi bom poder dar algo de volta à Natureza, fazendo trabalho voluntário com a BirdLife Chipre. O meu colega e eu seguimos

um protocolo muito bem definido, para registar locais com armadilhas de rede (semelhantes a redes de anilhagem) ou de cola. As redes-armadilha não discriminam, e mesmo aves sem qualquer valor comercial são apanhadas. Trabalhar com a equipa dedicada da BirdLife Chipre foi muito

satisfatório e deu-me esperança para o futuro, em que tenciono fazer mais voluntariado em breve.

Turquia, Doğa Dernegi Elif Enül Participei no projecto «Keep Hasankeyf Alive» da Doğa Derneği (DD) como voluntária durante um mês e meio. Se a antiga cidade de Hasankeyf, à beira do rio Tigre, ficar submersa devido à nova barragem de Ilisu, a área vai sofrer a todos os níveis – social, económico e ecológico. Esta situação preocupava-me há muito tempo e procurava fazer algo – foi nessa altura que vi este projecto anunciado no website da DD e contactei o seu coordenador. Pintámos as paredes do famoso mercado, pusemos sacos de areia junto das portas, que envernizámos, e convivemos com outros voluntários e operários da construção. Foi cansativo mas divertido. Também foi frutuoso para a minha profissão (bióloga) pois tive a oportunidade de conhecer melhor a paisagem, fauna e flora da cidade, bem como a sua história e vida social. Salvar um Galeirão juvenil e libertá-lo depois de o alimentar

foi uma importante experiência. E acordar com os sons do rio Tigre e de uma Trepadeira-rupestre-do-levante Sitta neumayer e da Cegonha-branca Ciconia ciconia, que se tornou um dos símbolos de Hasankeyf, ao ter um ninho no minarete, foi um privilégio. Agora, tenho muitos amigos na cidade, que também se tornou na minha casa. Penso que a ignorância acerca da Natureza é a causa da actual situação em Hasankeyf e que o amor pela natureza deveria ser cultivado desde a infância. Se analisarmos os estudos de várias organizações em todo o globo, confirmamos que a educação ambiental para as crianças é tão importante quanto os estudos científicos. A partir de agora, vou querer participar sempre em projectos que aproximem as crianças da Natureza.

Coralie Lozano no Festival de Sagres

Portugal, SPEA Coralie Lozano A minha colaboração na SPEA, como voluntária europeia, começou em Junho de 2011. Participei na organização de eventos como o Festival de Observação de Aves de Sagres e o VII Congresso de Ornitologia da SPEA, na Madeira. Também propus acções para melhorar a organização do voluntariado na SPEA. Mais que uma experiência profissional, esta fantástica aventura de 6 10 • pardela n.º 42

Elif Enül em Hasankeyf

meses permitiu-me conhecer pessoas inesquecíveis e descobrir o mundo das aves, que conhecia pouco. Agora, não voltarei a observar para as aves com o mesmo olhar e quero ajudar esta causa no meu próprio país.


Pato-colhereiro Anas clypeata

Caça Sustentável, uma necessidade em Portugal Em 2001, a Comissão Europeia (CE) lançou a Iniciativa Caça Sustentável (ICS), com a colaboração dos Estados-Membros, BirdLife International e Federação de Associações de Caça e Conservação da União Europeia (FACE).

A

ICS apoia a caça sustentável e reconhece que a caça sazonal de aves silvestres pode trazer benefícios para a conservação do seu habitat na Europa. A caça é um dos usos possíveis do território da Rede Natura 2000 e a CE considera que pode contribuir para a gestão dos habitats essenciais para a biodiversidade, como as zonas húmidas e as áreas agrícolas. A CE acredita que a caça sustentável pode ser um dos motores para reverter a perda de biodiversidade na Europa, que se traduz na diminuição drástica de espécies tão comuns como o Estorninho-malhado Sturnus vulgaris, a Perdiz-cinzenta Perdix perdix e a Rola-comum Streptopelia turtur. Portugal parece passar à margem dos movimentos por uma caça sustentável. Recentemente, tivemos secretários de Estado que tutelaram a caça de forma desastrosa, introduzindo disposições ilegais à luz da Directiva Aves, fazendo promessas públicas relativas ao uso de munições

com chumbo, que não cumpriram, e autorizando a caça a espécies que não podem ser caçadas. Somos um dos poucos países da Europa Ocidental que ainda usa munições com chumbo em zonas húmidas. Em Portugal, também caçamos patos em Agosto e Setembro, quando as populações migradoras ainda não chegaram e as populações locais (algumas ameaçadas, como o Pato-colhereiro Anas clypeata e o Zarro Aythya ferina) ainda estão a criar ou a mudar a plumagem (não podem voar). Também teimamos em caçar espécies migradoras que estão a diminuir drasticamente há décadas.

Acordo BirdLife International - FACE Em 2004, a BirdLife e a FACE assinaram um acordo internacional de caça, no âmbito da Directiva Aves da UE e da ICS: 1. Reconhecem a Directiva Aves como um instrumento jurídico adequado para manter as aves selvagens (incluindo as espécies cinegéticas). 2. Não tencionam adoptar nem apoiar iniciativas que retirem força à Directiva Aves. 3. Reconhecem que a Directiva Aves é a base para travar a perda de biodiversidade na UE. 4. Apoiam a criação da Rede Natura 2000 e reconhecem que não é incompatível com a actividade cinegética. 5. Concordam que é desejável celebrar acordos locais, regionais e nacionais sobre práticas de caça às aves.

Rola-comum Streptopelia turtur

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O caso mais grave é o da Rola-comum, uma espécie que em toda a Europa diminuiu 66% nos últimos 20 anos e em Portugal diminuiu 52% nos últimos seis anos. Ou seja, por cada 100 rolas que existiam em Portugal em 2004, actualmente existem apenas 48. Apesar da situação da espécie e de parte dos caçadores defenderem uma suspensão, continua a ser permitido abater oito rolas por jornada de caça durante seis semanas. A administração insiste, ano após ano, em tomar decisões sobre gestão da caça sem considerar o estado das populações em Portugal e na Europa e sem tornar pública qualquer estatística de abate minimamente credível. Os caçadores de Portugal têm de ser os primeiros a exigir uma mudança em prol de uma prática cinegética duradoura - no sentido do rigor e da responsabilidade na gestão da caça. Devemos fazê-lo de imediato, e o sector da caça já demonstrou que pode efectuar grandes mudanças. A tutela da caça tem de tornar públicos os números do abate anual de cada espécie cinegética. Tem de utilizar essas estatísticas e a informação da monitorização científica das populações de aves produzida por universidades e

outras organizações portuguesas e europeias para tomar as decisões anuais em sede de calendário venatório. Depois do passo positivo da retirada do Melro Turdus merula das espécies que se podem caçar, a SPEA apelou ao actual Secretário de Estado da Florestas para que tomasse medidas urgentes no sentido de: - banir o uso munições com chumbo em todas as zonas húmidas, para erradicar os problemas do saturnismo; - suspender a caça às espécies migradoras fortemente ameaçadas na Europa, em particular à Rola-comum e ao Estorninho-malhado, e trabalhar para que outros países sigam o exemplo até à recuperação destas espécies; - fixar a abertura da caça às aves aquáticas em Outubro, para minimizar o abate de patos pertencentes às populações reprodutoras ameaçadas e o abate de patos-reais Anas platyrhynchos em situação de muda da plumagem. Só estando na linha da frente da defesa das espécies cinegéticas e da gestão responsável deste recurso, podemos garantir que no futuro se continue a caçar.

6. Consideram que as medidas legislativas e outras aplicáveis à caça devem assentar nos melhores dados disponíveis sobre as populações de aves e a actividade cinegética. 7. Convidam a CE e os EstadosMembros a desenvolver e aplicar planos de gestão para as espécies do Anexo II em estado de conservação desfavorável. 8. Apelam às autoridades competentes para que adoptem as iniciativas capazes de assegurar o cumprimento da legislação aplicável à conservação das aves. 9. Solicitam a eliminação gradual da utilização do chumbo de caça nas zonas húmidas da UE, o mais tardar em 2009. 10. Concordam em estabelecer conversações bilaterais regulares para procurar consensos.

Autor: Domingos Leitão (SPEA)

Saturnismo O saturnismo resulta do envenenamento por chumbo, que no caso dos patos, galeirões Fulica atra e galinhasd’água Gallinula chloropus acontece quando ingerem bagos de chumbo, resultantes dos tiros dos caçadores. Estas aves ingerem areia e pequenas pedras para facilitar a digestão mecânica dos alimentos na moela, ingerindo

Fiscalização da caça

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conjuntamente os bagos de chumbo que existam no sedimento das zonas húmidas que habitam. Os bagos são depois desgastados na moela pela fricção com as outras substâncias inertes e o chumbo acaba por entrar para o sangue das aves, acumulando-se nos ossos, cérebro, fígado, etc., podendo causar a morte por envenenamento.

Pato-real fêmea com saturnismo. Nota de David Rodrigues: o teor de chumbo no sangue desta ave era indicador de Envenenamento Clínico Agudo. Pesava 650 g em vez de 1000-1100 g - o normal nas fêmeas. Foi observada apenas durante alguns dias, o que sugere a sua morte posterior.


Alimentar as aves no seu jardim I - O que dar e quando Disponibilizar alimento às aves que habitam no seu jardim é uma óptima forma de as atrair, e assim poder desfrutar das suas cores, formas e comportamentos, observando-as a curta distância e de forma muito confortável.

Chapim-azul Parus caeruleus

Dar

• Sobretudo sementes. Tanto poderá ser farelo de milho, sementes de girassol (muito apreciadas pelas aves devido ao seu alto conteúdo energético, sobretudo a variedade preta, não riscada) ou painço/milhete. Amendoins não torrados ou salgados são também muito apreciados pelas aves! Em lojas especializadas há misturas de sementes à venda especificamente para alimentadores de aves – para ter uma ideia do desenvolvimento do mer-

E

mbora as aves consigam encontrar na Natureza toda a comida de que necessitam, a disponibilização de alimentos suplementares nos jardins pode ajudar algumas espécies a sobreviver, particularmente em períodos de escassez de alimento ou de condições meteorológicas adversas. No Reino Unido, onde esta actividade é extremamente popular - metade dos jardins ingleses têm alimentadores para aves -, as populações de algumas espécies de aves generalistas (por

cado inglês nesta área, e das possibilidades, verifique o catálogo em www.birdfood.co.uk. As sementes maiores, como o trigo ou a cevada, e arroz cozido, ervilhas, ou feijões, são apenas consumidas por aves maiores (rolas-turcas, melros, etc.), e podem atrair pombos domésticos, de forma que são de evitar. • Bolas de gordura - uma boa opção, sobretudo nas áreas do país com Invernos mais rigorosos. Pode fazê-la

exemplo alguns chapins) têm registado máximos históricos, em parte devido às condições favoráveis de alimentação e abrigo proporcionadas pelos jardineiros britânicos. Criar uns alimentadores para as aves no seu jardim é uma óptima forma de ajudar a Natureza, e de apreciar as aves em todo o seu esplendor – mas, é preciso obedecer a algumas regras e cuidados básicos – para não prejudicar as aves, causar doenças ou atrair visitantes indesejados!

derretendo um pedaço de banha de porco e despejando-a sobre algumas sementes, frutos secos, pedaços de queijo, nozes, etc. Depois, é uma questão de pendurar essa bola numa qualquer árvore, ou colocála presa à mesa de alimentação de aves, nos dias mais frios do Inverno. • Larvas de insecto – se tiver tempo, disponibilidade e dinheiro, e quiser atrair as aves insectívoras para o seu alimentador, pode também

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disponibilizar larvas de insecto vivas, que se compram em algumas casas da especialidade (ver em «Live foods» no sítio mencionado anteriormente). • Restos de comida - há muitos restos da nossa cozinha que podem ser dados às aves, nomeadamente: a) pão - todas as aves comem migalhas de pão, mas este tem um bai-

xíssimo conteúdo proteico, e por isso não é um tipo de alimento importante; b) gordura da carne (não salgada) - corte a gordura da carne em pedaços muito pequenos, e coloque-os na mesa de alimentação. Atenção, que grandes quantidades de gordura podem atrair gatos ou aves maiores, que assustam os pássaros do jardim; c) fruta (maçã, pêra, banana, uvas) cortada em pequenos quadra-

dos, é muito apreciada por melros, por exemplo; d) pequenos pedaços de queijo, ou queijo gratinado; e) pequenas porções de batata assada ou puré de batata são também muito apreciados pelos nossos amigos alados – mas não batatas fritas «pala-pala»!

Não dar

• leite (o tracto intestinal das aves não consegue digerir convenientemente o leite); • biscoitos para cães; • amendoins torrados ou salgados; • restos de comida bolorentos (alguns fungos são tóxicos); • qualquer comida salgada (as aves não metabolizam o sal).

Quando

Pode-se alimentar as aves durante todo o ano, mas a actividade é mais relevante e útil durante o Inverno, quando a quantidade de comida na Natureza é menor – sobretudo nos climas mais frios, em que as aves precisam de mais gorduras para sobreviver às noites frias. Se quiser continuar a alimentar as aves durante a Primavera-Verão tem apenas de evitar dar as comidas mais duras – ou os pedaços maiores. Amendoins inteiros podem asfixiar uma cria de Chapim ou de um Pintassilgo, pelo que na Primavera tente esmagar mais a comida e/ou sementes que põe à disposição das aves. Nesta altura do ano, as aves precisam mais de proteína do que de gordura, pelo que procure utilizar frutos secos, queijos, sementes de girassol, frutas, e evite os amendoins ou pão. Autor: José Pedro Tavares (RSPB) … continua 14 • pardela n.º 42

Pisco-de-peito-ruivo Erithacus rubecula


Cabo da Praia «O melhor sítio do Mundo para observar limícolas...»

Corvo

Graciosa

Flores Terceira São Jorge

Faial Pico São Miguel

Um «feliz acidente» está na génese do paul de maré da pedreira do Cabo da Praia. Venha conhecer as aves deste inusitado recanto açoriano, na ilha Terceira.

O

sítio do Cabo da Praia localizase no arquipélago dos Açores, na ilha Terceira, encostado à zona industrial da Praia da Vitória. Na vizinhança de um parque de combustíveis e de um matadouro é ainda «aromatizado» por uma Estação de Tratamento de Águas Residuais a céu aberto, a escassas centenas de metros. Aparentemente, estariam reunidos todos os ingredientes para afastar o comum dos mortais do local. Mas – os erros humanos também têm destas coisas –, um feliz acidente viria a tornar esta antiga pedreira num milagre ornitológico, colocando o Cabo da Praia no circuito do birdwatching internacional, como o melhor local do Paleártico Ocidental para observar aves aquáticas de origem neártica.

E, no dizer de um eminente ornitólogo: «O melhor sítio do Mundo para observar limícolas...»

O concelho da Praia da Vitória: um passado natural glorioso e o milagre do Cabo da Praia Outrora, toda a costa leste da ilha Terceira era constituída por um extenso sistema dunar. Circunstâncias geológicas particulares, associadas à proximidade do mar, provocavam regularmente a subida do nível freático, que confluindo com as águas de escorrência formaram pequenas lagoas dispersas associadas ao sistema dunar. Processo que, com alguma desconti-

Santa Maria

nuidade, se estendeu até São Sebastião. Certamente, uma zona fantástica e um habitat único para as aves, facto que podemos comprovar em alguns autores clássicos. Durante o século XX, a pressão urbanística e actividades agrícolas associadas, acabariam por aterrar e destruir toda esta zona, deixando-nos somente os pauis da Praia da Vitória e do Belo Jardim como pálidas testemunhas dum glorioso passado. Na década de 1980 foi construída uma pedreira para a edificação do porto comercial da Praia da Vitória. Devido a sucessivos erros humanos, durante a fase de exploração da pedreira foram feitas extracções de grande profundidade que penetraram no lençol de água costeiro, fazendo com que, devido à proximidade do mar e porosidade do solo, houvesse uma infiltração de água subterrânea em cada ciclo de maré. E assim, por um «feliz acidente», surgiu um paul de maré: o paul da pedreira do Cabo da Praia.

Maçarico-de-bico-comprido Limnodromus scolopaceus, raridade americana

n.º 42 pardela • 15


«O melhor sítio do Mundo para observar limícolas»? Como engodo, talvez soe demasiado óbvio, embora já tenha estado mais longe de concordar com esta frase que, na altura em que foi proferida, tomei como um entusiasmo do momento e vontade de provocar a simpatia dos ouvintes. Senão, vejamos: trata-se de uma bacia rectangular, com cerca de 500 metros por 300 metros, com vegetação esparsa e pequenas lagoas e ilhas durante a preia-mar. Estão referenciadas para o local mais de 130 espécies de aves, sendo a maioria destas observações relativas aos últimos 15 anos. Grande parte das espécies registadas – mais de trinta por cento –, são de origem neártica e é possível observarem-se, anualmente, mais de 30 espécies de limícolas.

Chegar e visitar

O percurso de Angra do Heroísmo até Praia da Vitória é fácil (ca. 20 km), pois só tem de seguir a via rápida até ao fim, onde encontrará uma placa que indica a localidade. Depois, ir na direcção da zona industrial e parque de combustíveis. A partir do aeroporto das Lages (a 7 km), ou da Praia da Vitória (a 3 km), também pela via rápida, as referências são as mesmas. Aconselho a visita durante a preia-mar ou entre marés; no entanto, mesmo durante a baixa-mar poderão conseguir-se bons registos. Teoricamente, a melhor época para visitar será entre meados de Setembro até final de Março, sendo – historicamente –, os meses de Outubro e Novembro os melhores.

Espécies do Cabo da Praia Nidificam aqui apenas 15 espécies de aves, merecendo especial destaque o Borrelho-de-coleira-interrompida Charadrius alexandrinus, por ser a área da antiga pedreira, um dos únicos redutos da espécie no arquipélago açoriano. Na tabela apresentamos algumas espécies de ocorrência regular no Cabo da Praia e uma lista de raridades, que com maiores probabilidades do que em qualquer outro local, pode «infinitizar-se»... Cabo da Praia

Autor: Carlos Pereira

Borrelho-semipalmado Charadrius semipalmatus, observado praticamente todo o ano

Regulares

Raridades

Marreca-d’asa-azul Anas discors

Ganso-de-faces-pretas Branta bernicla

Borrelho-grande-de-coleira Charadrius hiaticula

Marreco Anas querquedula

Tarambola-cinzenta Pluvialis squatarola

Pato-trombeteiro Anas clypeata

Seixoeira Calidris cannutus

Pluvialis dominica

Pilrito-das-praias Calidris alba

Pilrito-miúdo Calidris bairdi

Pilrito-de-peito-preto Calidris alpina

Pilrito-anão Calidris minutilla

Pilrito-de-bico-comprido Calidris ferruginea

Pilrito-escuro Calidris maritima

Pilrito-rasteirinho Calidris pusilla

Pilrito-canela Tryngites subruficollis

Pilrito-pequeno Calidris minuta Pilrito-de-bonaparte Calidris fuscicollis Maçarico-de-bico-direito Limosa limosa

Maçarico-de-bico-comprido Limnodromus scolopaceus

Fuselo Limosa lapponica Maçarico-galego-americano Numenius phaeopus hudsonicus

Maçarico-galego Numenius phaeopus

Maçarico-real Numenius arquata

Combatente Philomachus pugnax

Maçarico-pintado Actitis macularius

Pilrito-de-colete Calidris melanotos

Falaropo-de-wilson Phalaropus tricolor

Perna-amarela-pequena Tringa flavipes

16 • pardela n.º 42

Tarambola-dourada-americana

Gaivina-d’asa-branca Chlidonias leucopterus

Rola-do-mar Arenaria interpres

Garça-real-americana Ardea herodias

Borrelho-semipalmado Charadrius semipalmatus

Guarda-rios-cintado Megaceryle alcion


Planalto de Tindaya, Fuerteventura

Observar aves nas ilhas Canárias As Canárias são, por vezes, consideradas um destino turístico de massas; mas são também uma das zonas mais ricas do planeta em endemismos – uma excelente opção para uma escapadela ornitológica, polvilhada de raridades europeias.

P

ara alguns, as Canárias são sinónimo de turismo de massas «sol-e-mar», onde predominam grandes núcleos urbanos com piscinas e campos de golfe. Infelizmente, esta ideia reflecte parte da realidade, mas o cenário montado para satisfazer o turista convencional esconde uma das zonas mais ricas do planeta em biodiversidade endémica. Com seis espécies endémicas das Canárias e três da Macaronésia – para não falar da grande diversidade de raridades europeias –, as ilhas são uma excelente opção para uma escapadela ornitológica.

Da costa à montanha

As zonas costeiras são ricas em aves marinhas e algumas espécies, com re-

duzidas populações ao nível europeu, são facilmente observáveis aquando da navegação entre ilhas no Verão ou até desde terra. Entre as possíveis surpresas contam-se a Cagarra Calonectris diomedea borealis, o Pintainho Puffinus assimilis baroli, o Fura-bucho-do-atlântico Puffinus puffinus, a Alma-negra Bulweria bulwerii, o Roque-de-castro Oceanodroma castro, a Alma-de-mestre Hydrobates pelagicus, o raro Calcamar Pelagodroma marina ou o Rabijunco Phaethon aethereus, que se começou a reproduzir recentemente em El Hierro. As ilhas mais baixas caracterizam-se por ambientes semidesérticos especialmente em Lanzarote, Fuerteventura, e nas costas sul de Tenerife e Gran Canaria -, com vastos planaltos

pedregosos ou arenosos, escassa vegetação, baixas precipitações e elevado grau de insolação. Habitat de abetardas-mouras Chlamydotis undulata, corredores Cursorius cursor, pintarroxos-trombeteiros Bucanetes githagineus e alcaravões Burhinus oedicnemus; onde as melhores zonas para ver estas aves são os planaltos de Tindaya e de Jable de Jandia em Fuerteventura, e os planaltos de Famara em Lanzarote. Barrancos de variadas dimensões foram modelando a orografia das ilhas. No barranco de La Torre e no rio Cabras em Fuerteventura podemos encontrar Pato-ferrugíneo Tadorna ferruginea, Rola-do-senegal Streptopelia senegalensis e o raro Cartaxo-das-canárias Saxicola dacotiae, n.º 42 pardela • 17


1

3

1. Tentilhão-comum Fringilla coelebs - uma das três subespécies 2. Tentilhão-azul Fringilla teydea 3. Bosques de lauráceas, Parque Nacional de Garajonay - La Gomera

2

um endemismo de Fuerteventura. O barranco de Tabayesco, em Lanzarote, abriga alguns dos poucos casais de Chapim-azul da subespécie Cyanistes teneriffae degener, e nas escarpas do maciço de Teno em Tenerife nidificam vários casais de Falcão-tagarote Falco pelegrinoides.

Uma flora especial

As zonas centrais das ilhas eram povoadas por densos bosques de dragoeiros Dracaena draco, Palmeira-das-canárias Phoenix canariensis, Sabina-das-praias Juniperus turbinata e grande variedade de árvores e arbustos. Hoje, estes bosques termófilos são escassos (e.g. Tenerife, no norte da Gran Canaria), sendo perfeitos para a observação de Toutinegra-de-cabeça-preta Sylvia melanocephala, Felosa-das-canárias Phylloscopus canariensis e Canário-da-terra Serinus canaria - parente selvagem dos canários de gaiola -, endémico das ilhas dos Açores, Madeira e Canárias. As ilhas mais altas, montanhosas e 18 • pardela n.º 42

húmidas, são batidas a norte por ventos alísios. Aqui, surgem bosques de lauráceas com aspecto de selva tropical. O Parque Natural de Garajonay em La Gomera, os parques rurais de Teno e Anaga em Tenerife, os picos de San Andrés e Sauces, e de Barlovento em La Palma são dos melhores exemplos de Laurissilva, habitat de espécies únicas e ameaçadas como o Pombo-das-canárias Columba junoniae e o Pombo-de-bolle Columba bollii, e de passeriformes como a endémica Estrelinha-de-tenerife Regulus teneriffae e o Tentilhão-comum Fringilla coelebs. Nas áridas vertentes a sul e nos picos acima dos 1000 m, predominam bosques de Pinheiro-das-canárias Pinus canariensis, habitat rigoroso de espécies adaptadas a Invernos frios e Verões escaldantes. Plantas e invertebrados únicos constituem alimento de aves raras como o Tentilhão-azul Fringilla teydea ou o Pica-pau-malhado Dendrocopos major (duas subespécies), por exemplo, no Parque Natural de la Corona Florestal de Tenerife e nos

montes de Pajonales, Inagua e Pilancones na Gran Canaria. Só o Parque Nacional de Teide (Tenerife) e a Caldera de Taburiente (La Palma) atingem altitudes superiores a 2000 m. Povoados por giestais e codeçais que florescem no final da Primavera, são alimento para grandes bandos de andorinhões-da-serra Apus unicolor. Menção merecem também algumas rapinas que, como a Águia-pesqueira Pandion haliaetus enfrentam a pressão da indústria turística nos seus últimos refúgios das escarpas de Tenerife, La Gomera e no arquipélago Chinijo; ou o raro Falcão-da-rainha Falco eleonorae, que se reproduz nas ilhas de Maio a Setembro.

Migração e Raridades

Todos os Invernos, milhares de aves oriundas do Norte da Europa procuram nas Canárias um lugar para repousar, dirigindo-se depois para a África tropical. Este fenómeno é mais marcado em Lanzarote e Fuerteventura e ilhéus


próximos, devido, sobretudo, à proximidade do continente africano. A migração pré-nupcial é mais longa e com maior diversidade de espécies. Ambos os períodos são caracterizados pela chegada massiva de aves acompanhadas de fortes ventos de este ou sudeste. Destacam-se as garças, andorinhas, andorinhões, abelharucos, toutinegras e papa-moscas. No período pós-nupcial estão mais representadas as limícolas, patos e aves marinhas. Algumas aves migradoras, provenientes do Norte, como a Tarambola-cinzenta Pluvialis squatarola, o Borrelho-grande-de-coleira Charadrius hiaticula, o Maçarico-galego Numenius phaeopus e a Rola-do-mar Arenaria interpres, passam normalmente o Inverno nas zonas costeiras, especialmente em bancos de areia e salinas das ilhas orientais, apresentando ocasionalmente grandes concentrações.

Durante o Outono, as Canárias são excelentes para a observação de aves raras de origem neártica, tendo sido vistos em alguns anos, indivíduos solitários de Zarro-de-colar Aythya collaris, Pilrito-de-uropígio-branco Calidris fuscicollis, Pilrito-de-colete Calidris melanotos, Gaivota-de-bico-riscado Larus delawarensis, até quase meia centena de espécies. Estas aves podem surgir com frequência nas zonas costeiras do sul de La Palma, Tenerife, Gran Canaria e Lanzarote. Em alguns Invernos têm-se registado raridades de origem afro-tropical como o Caimão-de-allen Porphyrula alleni, ou o Alcatraz-pardo Sula leucogaster. Raridades de origem asiática, menos frequentes, como a Alvéola-citrina Motacilla citreola e o Falcão-de-pésvermelhos Falco vespertinus, podem ser avistadas na Primavera, coincidindo com a migração trans-sariana.

Ecoturismo crescente

Devido ao crescente interesse de ecoturistas, nos últimos anos as ilhas começaram a diversificar a sua oferta turística, potenciando o contacto com a natureza. Assim, surgiram numerosas empresas em todas as ilhas especializadas em caminhadas, observação de cetáceos, astronomia e, mais recentemente, birdwatching – que podem facilitar a visita àquelas que chegaram a ser apelidadas de «as Galápagos europeias». Autor: Juan José Ramos Melo - Birding Canarias (jramos@birdingcanarias.com)

PATROCÍNIO

n.º 41 pardela • 19


O Canário-da-terra Serinus canaria

O Canário-da-terra Serinus canaria é uma espécie endémica da Macaronésia, com uma distribuição restrita aos arquipélagos dos Açores, Madeira (excepto nas ilhas Selvagens) e Canárias.

A

ctualmente, estima-se que a população da espécie seja superior a 10 000 indivíduos, apresentando uma tendência aparentemente estável. É uma ave facilmente identificável pela coloração amarela do peito. No dorso, possui plumagem com tons difusos castanho-acinzentados, existindo um dimorfismo sexual acentuado, em que as fêmeas são menos coloridas do que os machos. As suas cores atractivas e o seu canto melodioso tornaram-na numa popular ave de gaiola. No arquipélago da Madeira, a espécie ocorre num leque variado de habitats, podendo ser observada em áreas urbanas ou, em particular, em zonas rurais agrícolas e em zonas abertas com vegetação rasteira pouco densa, áreas marginais de florestas ou bosques, quer sejam indígenas ou exóticos. No Porto Santo e nas ilhas Desertas ocupa áreas mais áridas. 20 • pardela n.º 42

Contudo, apesar de a sua frequência de ocorrência se tornar mais baixa com a altitude, pode ser vista ao longo de todo o gradiente altitudinal das ilhas onde ocorre. O Canário-da-terra tem um aspecto muito conspícuo e os ninhos, construídos fundamentalmente em ramos interiores de árvores e arbustos de diferentes espécies, são fáceis de encontrar. Nas Desertas, a espécie nidifica em arbustos de pequeno porte, em alguns casos a menos de 20 cm do solo. O Atlas das Aves do Arquipélago da Madeira tem fornecido informação precisa para as espécies presentes no arquipélago, e assim contribuído para um melhor conhecimento da distribuição do Canário-da-terra. Esta espécie foi detectada em quase todas as quadrículas 2x2 km visitadas (174 quadrículas num total de 214), sendo confirmada a sua nidificação em 24 quadrículas. Estes dados são refe-

rentes a visitas sistemáticas, que complementados com as não sistemáticas, poderão aumentar as confirmações de nidificação para a espécie (www.atlasdasaves.netmadeira.com). Um dos sítios que merece destaque para a sua observação é a Ponta de São Lourenço, área protegida integrada no Parque Natural da Madeira (PNM), situada no extremo Este da ilha da Madeira. É possível avistar esta ave terrestre ao longo de todo o trilho, no entanto, o melhor local para a observar é o bebedouro para as aves, próximo do «pólo de recepção de visitantes» do Serviço do PNM. É importante referir também que a Ponta de São Lourenço está classificada como Área Importante para as Aves, por ser um local de nidificação de algumas aves marinhas protegidas. Autores: equipa Atlas das Aves do Arquipélago da Madeira


PortugalAves o portal dos observadores de aves O PortugalAves é o Worldbirds português - um portal de dados on-line sobre a distribuição e ocorrência de aves, de acesso livre e gratuito.

N

o fim-de-semana passado, fiz o meu jogging semanal correndo à volta de um lago. Registei mentalmente as aves que observei durante a corrida – os galeirões Fulica atra do costume, os mergulhões-de-crista Podiceps cristatus também habituais, os óbvios gaios Garrulus glandarius e mais duas dezenas de outras espécies. Como é hábito, assim que cheguei a casa entrei no portal Worldbirds, e em três minutos registei as minhas observações – como já corro regularmente no mesmo local há anos, tenho agora uma lista considerável de «listas» diárias para esse lago.

Às vezes, entretenho-me a brincar com os dados, que consigo extrair com facilidade da base de dados – consigo, por exemplo, saber quantas vezes observei o Melro Turdus merula nos meses de Março, ou comparar a minha lista para o local com a lista total (se outros observadores também observarem no local e registarem as suas observações, o que é o caso). Posso esquematizar a evolução temporal dos efectivos de Galeirão, ou obter o mapa com os locais ao nível nacional onde foram observados mergulhões-de-crista num determinado período. Bem-vindo ao fascinante mundo do PortugalAves!

Worldbirds português

O PortugalAves faz parte de um portal global de base de dados, disponível na internet, sobre a distribuição e ocorrência de aves, chamado Worldbirds. O portal baseia-se na participação voluntária de observadores de aves (citizen scientists), que introduzem as suas observações numa base de dados, adicionando dados valiosos, mas também podendo utilizar as ferramentas do sítio para gerir as suas listas pessoais e investigar o que se pode ver localmente, em determinada região ou no país.

A ideia do Worldbirds nasceu da constatação de que milhões de observadores de aves recolhem dados sobre as aves - frequentemente, em países onde não há um grande número de observadores regulares -, mas que estes ficavam sobretudo em cadernos de notas pessoais. É impossível aos profissionais da conservação da natureza monitorizar continuamente todas as espécies e locais, pelo que, até os registos casuais de algumas espécies podem ajudar. Mesmo os registos das espécies comuns têm

valor e, em volume suficiente, podem dar indicações sobre o padrão geral de ocorrência, distribuição ou mesmo tendências populacionais. A ideia é, também, mobilizar amadores para a recolha sistemática de dados e torná-los disponíveis para toda a comunidade – científica e amadora. Embora todas as observações sejam bem-vindas – mesmo observações n.º 42 pardela • 21


http://www.worldbirds.org/v3/portugal.php

ocasionais enquanto se está parado na fila de trânsito –, a introdução de listas completas para um determinado local, incluindo todas as espécies comuns, é especialmente útil para a conservação, sobretudo se o local for visitado regularmente pela mesma pessoa. O PortugalAves foi lançado em Dezembro de 2008, e conta já com mais de 900 utilizadores registados e mais de 3800 listas no sistema, correspondendo a mais de 54 500 observações.

Registo e dados

A inscrição é totalmente gratuita – ao inscrever-se receberá uma palavra-passe por e-mail –, a navegação no sistema é intuitiva e fácil e há também

menus de ajuda. A entrada de dados é simples e automática, e recorre ao Google Earth para referenciar geograficamente locais de observação. O sistema será tanto melhor quanto maior for o número de observações introduzidas – não só porque permitirá produzir mapas relevantes ao nível regional ou nacional, mas também porque o aumento do número de observações torna cada vez mais atractivo pesquisar a base de dados para determinar padrões de ocorrência de uma determinada espécie, ou lista de aves para um determinado local. Em resumo, o sistema inclui: • portal de entrada de dados intuitivo, com acesso rápido a locais já estabelecidos no sistema (para aque-

• •

les que observam regularmente no mesmo local); mapeamento e registo de um novo local de observação com recurso ao Google Earth; escolha de nomes científicos ou nomes comuns em Português ou em Inglês; menus em Português e numa série de outras línguas europeias; possibilidade de tornar as observações pessoais acessíveis apenas ao próprio (e aos administradores da base da dados, neste caso a SPEA), por motivos pessoais, ou de conservação (e.g. espécies raras); um sistema de validação das observações, que pode ser automático (por espécie ou por observador) ou

Lista de todas as observações no sistema de Águia-cobreira Circaetus gallicus no mês de Abril 2011 (18 registos, de um total de 52 para a espécie). Estas listas podem ser descarregadas para um ficheiro Excel.

Águia-cobreira Circaetus gallicus

22 • pardela n.º 42


http://www.worldbirds.org/v3/portugal.php

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recorrer a comités de raridades ou outros para o fazer; uma secção que lista as últimas 10 listas introduzidas; um motor de pesquisa, que permite listar e descarregar todas as observações de uma determinada espécie, ou num determinado local, também filtradas por datas; listas das espécies num determinado país, região ou local; tabelas com os 50 observadores com mais listas ou observações, as 50 espécies mais registadas, ou os 50 sítios com mais observações; módulos de introdução de dados para projectos especiais, como o Censo de Aves Comuns ou Atlas das Aves Invernantes e Migradoras.

Worldbirds no mundo

Hoje, há sistemas semelhantes ao PortugalAves em quase todos os países da Europa e África, pelo que o observador de aves viajante também pode contribuir para os respectivos sistemas nacionais – terá apenas de pedir um login separado para cada sistema, uma vez que os administradores nacionais das bases de dados são diferentes. Em Espanha, por exemplo, pode registar-se (em Português) no Cuaderno de Aves (2300 observadores, 21 500 listas) e na Turquia no Kusbank (2800 observadores, 26 500 listas). De que está à espera? Entre no PortugalAves, inscreva-se e comece a explorar – e a registar!

Agradecimentos: queremos agradecer a todos os observadores de aves que têm abraçado o PortugalAves e continuam a registar as suas observações e a gerir as suas listas pessoais, através deste portal. Um grande bem-haja. O projecto Worldbirds é apoiado finaceiramente pela BirdLife International, a Royal Society for the Protection of Birds e a Audubon Society. Autores: José Pedro Tavares (RSPB) Ana Meirinho (SPEA)

Relatório sumário de algumas observações registadas para o Parque do Tejo, Lisboa (até Abril 2011) Mapa dos locais com observações registadas no sistema em 2011 – região de Lisboa (até Abril 2011)

Mergulhão-de-crista Podiceps cristatus

n.º 42 pardela • 23


Grifo Gyps fulvus

Voando com as aves no passado XIV – Entre ossos e medidas: alguns percursos da osteometria nos Accipitridae! As colecções osteológicas permitem-nos conferir aos restos arqueológicos informações que, além de simples identificações específicas, podem constituir ponto de partida para perguntas cujas respostas procuramos encontrar. Cruzando ossos seculares com fontes históricas, trazemos a debate hipóteses que confiram sentido a algumas ocorrências…

C

ontrariamente ao que sucede em muitas famílias de aves (Columbidae, Otididae ou Phasianidae, entre outras), o dimorfismo sexual nalguns Accipitridae pode passar despercebido. Traduz-se, sobretudo, nas maiores dimensões das fêmeas. Para a Arqueozoologia é muito importante conseguir, sempre que possível, reconhecer essas diferenças. Os ossos provenientes de acumulações humanas do passado podem evidenciar preferências ou reflectir determinadas estratégias de exploração de algumas espécies. Porém, para dificultar as coisas, existem fêmeas pequenas e machos grandes… Para elaborarmos um «retrato osteométrico fidedigno» de uma determinada espécie, devemos trabalhar

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sobre amostragens tão amplas quanto possível. No entanto, na maior parte das colecções museológicas da Europa, os esqueletos não têm sexo atribuído, situação que nem sempre permite clarificar esta questão. Autores: Carlos Pimenta 1 Marta Moreno García 2 1 2

Laboratório de Arqueozoologia, IGESPAR, IP CCHS, CSIC – Instituto de História, Madrid, Espanha

Aparências que iludem As medidas externas do corpo de uma ave nem sempre têm equivalência osteométrica! A envergadura de um Brita-ossos Gypaetus barbatus os-

cila entre 235-275 centímetros, a de um Grifo Gyps fulvus entre 230-265 centímetros e a de um Abutre-preto Aegypius monachus entre 250-285 centímetros. Porém, contrariamente ao que poderiam sugerir estes parâmetros, os ossos das asas dos brita-ossos são bastante mais pequenos! Enquanto os úmeros dos brita-ossos constituem um grupo distinto, o gráfico evidencia as maiores dimensões dos abutres-pretos. Na zona central observa-se uma sobreposição desta espécie com os grifos. Tendencialmente, as fêmeas posicionam-se na zona superior do gráfico enquanto os machos ocupam a zona inferior; mas há excepções.


Abutre-preto Abutre-preto fêmea Brita-ossos Brita-ossos macho Grifo Grifo fêmea Grifo macho

Úmeros de Abutre-preto, Grifo e Brita-ossos (da esquerda para direita) e gráfico dos respectivos GL vs g.

Ossos «fáceis» e «difíceis»

Abutre-preto Aegypius monachus

Uma observação atenta dos esqueletos revela que nem todos os ossos que o integram evidenciam com a mesma clareza características osteométricas ou morfológicas. Alguns proporcionam identificações precisas e rápidas, enquanto outros… Os parâmetros osteométricos dos carpometacarpos apenas permitem

diferenciar o Brita-ossos. As medidas de Grifo e de Abutre-preto ficam sobrepostas. Os parâmetros osteométricos dos tarsometatarsos permitem diferenciar com nitidez as três maiores espécies de abutres ibéricos. Neste grupo, os ossos das patas são mais diagnosticantes mas, apesar do pequeno número de espécimes com sexo determinado, o dimorfismo não é muito evidente.

Abutre-preto Abutre-preto fêmea Brita-ossos Brita-ossos macho Grifo Grifo fêmea Grifo macho

Carpometacarpos de Brita-ossos, Grifo, Abutre-preto (da esquerda para direita) e gráfico dos respectivos GL vs Did.

Abutre-preto Abutre-preto fêmea Brita-ossos Brita-ossos macho Grifo Grifo fêmea Grifo macho

Tarsometatarsos de Brita-ossos, Grifo e Abutre-preto (da esquerda para a direita) e gráfico dos respectivos GL vs d.

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A ciência das aves Compilado por Teresa Catry e Maria Dias

Albatroz-de-sobrancelha Thalassarche melanophris

Resumos de artigos Período de publicação: Dezembro 2010 - Abril 2011

Pedro Leitão, Francisco Moreira & Patrick Osborne. 2010. Breeding habitat selection by steppe birds in Castro Verde: a remote sensing and advanced statistics approach. Ardeola 57: 93-116. Selecção de habitat reprodutor por aves estepárias em Castro Verde: uma abordagem com detecção remota e estatística avançada Neste estudo, os padrões de habitat da comunidade de aves estepárias da Zona de Protecção Especial de Castro Verde foram caracterizados, evitando, contudo, os problemas comuns em estudos de habitats. Neste contexto, foram usados dados multitemporais de detecção remota e de variadas fontes para descrever a paisagem a várias escalas espaciais, enquanto as asso-

26 • pardela n.º 42

ciações entre as espécies e os habitats foram, por sua vez, quantificadas recorrendo a regressões não lineares, inseridas numa metodologia robusta. Ricardo F. de Lima, Jeremy P. Bird & Jos Barlow. 2011. Research effort allocation and the conservation of restricted-range island bird species. Biological Conservation 144: 627-632. Alocação de esforço de investigação e a conservação de espécies de aves de distribuição restrita em ilhas Neste artigo demonstra-se que a distribuição do número de estudos publicados é muito desigual, tanto entre espécies de aves endémicas de ilhas (n = 1321) como entre as áreas onde estas ocorrem (EBA - Endemic

Bird Areas, n = 166). Metade dos estudos eram referentes a apenas 41 espécies e 8 EBA, enquanto 689 espécies e 57 áreas não possuíam qualquer estudo. Dadas as implicações negativas destes desequilíbrios, é apontada uma forma simples de identificar prioridades, para que futuras investigações reduzam estes enviesamentos. Júlio Neto, Bengt Hansson & Dennis Hasselquist. 2011. Sex allocation in Savi’s Warblers Locustella luscinioides: multiple factors affect seasonal trends in brood sex ratios. Behavioral Ecology and Sociobiology 65: 297-304. Alocação sexual em cigarrinhas-ruivas Locustella luscinioides: factores múltiplos afectam as tendências sazonais do rácio sexual das crias A teoria de alocação sexual prevê que quando o fitness relativo dos filhos e filhas varia, as fêmeas devem investir no sexo com maior retorno. Neste estudo, investigámos vários factores ecológicos que podem influenciar o rácio dos sexos das crias de Cigarrinha-ruiva. Descobriu-se uma maior produção de fêmeas ao nível populacional, e um declínio na produção de machos ao longo da época reprodu-


tiva. A separação dos efeitos dentre e entre fêmeas indica a existência de vários factores operando simultaneamente neste declínio. Não foram encontrados enviesamentos do sexo na ordem de postura.

Aves dos Açores - microsite do Aves de Portugal azores.avesdeportugal.info

Outros artigos Mónica Silva, José P. Granadeiro, P. Dee Boersma & Ian Strange. 2011. Effects of predation risk on the nocturnal activity budgets of thin-billed prions Pachyptila belcheri on New Island, Falkland Islands. Polar Biology 34: 421-429. Inês Catry, Aldina Franco & William Sutherland. 2011. Adapting conservation efforts to face climate change: Modifying nest-site provisioning for lesser kestrels. Biological Conservation 144: 1111-1119. Ricardo Ceia, Hugo Sampaio, Sandra Parejo, Ruben Heleno, Maria L. Arosa, Jaime A. Ramos & Geoff Hilton. 2011. Throwing the baby out with the bathwater: does laurel forest restoration remove a critical winter food supply for the critically endangered Azores bullfinch? Biological Invasions 13: 93-104. José Masero, Francisco SantiagoQuesada, Juan Sánchez-Guzmán, Auxiliadora Villegas, José M. Abad-Gómez, Ricardo J. Lopes, Vitor Encarnação, Casimiro Corbacho & Ricardo Morán. 2011. Long lengths of stay, large numbers, and trends of the Black-tailed Godwit Limosa limosa in rice fields during spring migration. Bird Conservation International 21: 12 - 24. Rita Covas, Anne-Sophie Deville, Claire Doutrelant, Claire N. Spottiswoode & Arnaud Grégoire. 2011. The effect of helpers on the postfledging period in a cooperatively breeding bird, the sociable weaver. Animal Behaviour 81: 121-126.

Albatrozes que seguem navios de pesca: estarão muito dependentes de refeições fáceis? José Pedro Granadeiro, Richard A. Phillips, Paul Brickle & Paulo Catry. 2011. Albatrosses Following Fishing Vessels: How Badly Hooked Are They on an Easy Meal? PLoS ONE 6(3): e17467. As actividades de pesca têm um grande impacto em muitas espécies de aves marinhas. Embora providenciem uma abundante fonte de alimento para as aves, estas actividades podem representar uma importante causa de mortalidade, principalmente durante a largada, a operação e a recolha dos aparelhos de pesca. Muito pouco se conhece acerca dos detalhes (duração, locais, etc.) das interacções entre as aves e os navios de pesca. Neste trabalho procurou-se combinar informação detalhada acerca do movimento e actividade de albatrozes-de-sobrancelha Thalassarche melanophris (obtidos através de seguimento com GPS e registadores de actividade wet-dry) e informação simultânea sobre a localização dos navios de pesca (proveniente do sistema «VMS - Vessel Monitoring System»,. Em Dezembro/ Janeiro de 2008/2009 e 2009/2010 foram seguidas aves em duas colónias distintas (separadas por 75 km)

das ilhas Falklands/Malvinas. As aves destas duas colónias mostraram diferenças significativas no grau de associação com os navios, embora estivessem igualmente distantes das principais zonas de pesca da frota que opera naquela região. Em geral, a duração das interacções foi curta e envolveu um número relativamente reduzido de indivíduos (uma dessas interacções, animada, pode ser vista no material suplementar do artigo, de acesso livre em www.plosone.org). Alguns indivíduos visitaram navios em viagens sucessivas, o que sugere algum grau de especialização, tornandoos potencialmente mais vulneráveis a captura acidental. Contudo, no global, as populações desta espécie (classificada como «em perigo» pela União Internacional para a Conservação da Natureza, UICN) não parecem depender de actividades de pesca na plataforma continental patagónica. Por essa razão, são de encorajar todas as medidas que reduzam a descarga de produtos da pesca nas áreas de ocorrência da espécie, que possivelmente reduzirão as capturas acidentais e não afectarão significativamente os hábitos alimentares das aves.

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Na confusão desta sopa de letras encontram-se 10 palavras relacionadas com a Ave do Ano. Será que as consegues encontrar?

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juvenis durante a noite. Estes, ao saírem dos ninhos, muitas vezes confundem as luzes dos candeeiros com as e voam no sentido errado - para terra em vez de para o mar -, podendo ser atropelados ou atacados por predadores quando não são socorridos. 7. Para ajudar a proteger e conhecer melhor estas e outras aves marinhas, actualmente está a decorrer o LIFE Ilhas Santuário para as Aves Marinhas, na ilha do Corvo e no ilhéu de Vila Franca de Campo, situado ao largo da ilha de São , nos Açores. 8. Eu, a Cagarra, sou a do Ano 2011, eleita pelos sócios da SPEA!

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Sabe mais sobre a Cagarra: • www.spea.pt/pt/participar/campanhas/ave-do-ano-2011 • life-corvo.spea.pt/pt • cagarro.spea.pt

C

1. Sou uma ave conhecida como Cagarro, Cagarra ou -de-bico-amarelo Calonectris diomedea. 2. Consegues identificar-me? Tenho o bico , dorso castanho e ventre branco. 3. Posso viver cerca de 50 anos e sou uma ave . 4. Tal como as outras aves da minha espécie, alimento-me essencialmente de , cefalópodes e crustáceos. 5. acolhe a maior parte das populações desta espécie, sobretudo nos arquipélagos da , Açores e Berlengas. 6. Sofro diversas ameaças, tais como a marinha, introdução de predadores nos locais de nidificação (por exemplo, ratazanas) ou encandeamento por iluminação de rua dos

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Por Rita Moreira e Sílvia Nunes

Nós sabemos que sim, mas para te ajudar deixamos aqui frases que precisam dessas palavras para ficarem completas. Boa procura.


Sugestões de internet Por Sílvia Nunes e Vanessa Oliveira

As folhas começaram a cair e os estuários e os campos enchem-se de novas espécies de aves. Com o aproximar do Inverno, chegam os primeiros ventos e chuvas, que tornam as actividades de ar livre menos apetecíveis… No entanto, não precisas de te afastar da Natureza!

Nesta edição, propomos-te um conjunto de sítios na Internet, em Português, mas também em Inglês, onde podes aprender divertindote com jogos sobre a Natureza. E já agora – convida os teus pais, pois temos a certeza de que eles também vão gostar!

Em Português:

PT

• Jogos com o Priolo - www.centropriolo. com/index.php?op=zinfantil • SpringAlive (prepara-te para a próxima Primavera) - www.springalive.net/pt-pt • Ano Internacional do Morcego - www.wix. com/anodomorcego/icnb • Contos e fábulas - nonio.eses.pt/contos/ andersen.htm

Jogos em Inglês

EN

• RSPB Kids - www.rspb.org.uk/youth/ index.aspx • www.kidsplanet.org • www.kidscom.com/games/animal/ animal.html

Voluntariado jovem Por Vanessa Oliveira Sabias que 2011 é o Ano Europeu do Voluntariado e da Cidadania Activa? Pois bem, convidamos-te a conhecer alguns projectos nos quais podes marcar a diferença!

Voluntariado SPEA Junta-te aos Juvenis da Pardela Se tens até 18 anos, envia-nos as tuas sugestões sobre temas que gostavas de ler e aprender, histórias, desafios ou desenhos. Além de publicadas na Pardela, as tuas propostas também poderão chegar ao website da SPEA! Participa e envia os teus trabalhos para vanessa.oliveira@spea.pt.

DoSomething Jovens Repórteres para o Ambiente O Programa JRA, desenvolvido em 22 países, incentiva a participação activa dos alunos através de projectos de carácter ambiental, destinando-se principalmente, aos alunos das escolas secundárias e profissionais. Integra investigação, ambiente, jornalismo, comunicação, internet num só projecto e todos anos decorrem concursos nacionais e internacionais que visam premiar os melhores trabalhos. www.abae.pt/programa/JRA/inicio.php

O Do Something tem como objectivo mobilizar os jovens para o voluntariado e participação, utilizando acções de rua, a internet e as redes sociais. Este projecto acredita que os jovens podem ser um motor de transformação social, contribuindo para diferentes causas nas suas comunidades como Ambiente, Pobreza e Discriminação. Muitos já mudaram o Mundo! E TU, o que fazes? www.dosomething.pt

Outros sítios de interesse: • Instituto Português da Juventude - juventude.gov.pt/Volun tariado/Paginas/default.aspx • Voluntariado Jovem - voluntariadojovem.juventude.gov.pt

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Sinergias pelas aves e natureza na República de Cabo Verde

A biodiversidade de Cabo Verde está ameaçada. A SPEA e os seus parceiros têm desenvolvido esforços em prol da sua protecção.

A República de Cabo Verde é muito importante para a conservação das aves ao nível mundial. O seu território alberga cinco espécies de aves endémicas e quatro globalmente ameaçadas de extinção. Uma delas, a Laverca-do-raso Alauda razae, «Criticamente em Perigo», tem uma população com cerca de 460 indivíduos, circunscritos a um ilhéu com apenas 7 quilómetros quadrados. Neste arquipélago foram identificadas 12 Áreas Importantes para as Aves (IBA), por albergarem populações de espécies endémicas e/ou importantes colónias de aves marinhas. Além das aves, a República de Cabo Verde possui uma extraordinária biodiversidade terrestre e marinha. A biodiversidade terrestre inclui 3251 espécies de animais e plantas conhecidos, dos quais 540 são endémicas. As taxas de endemismo mais elevadas estão na flora e nos artrópodes, encontrando-se endemismos também muito interessantes nos moluscos, répteis e aves. No mar, a biodiversidade deste arquipélago é ainda mais extraordinária, com mais de 640 espécies de peixes inventariadas e centenas de outros animais e plantas marinhas. No mar de Cabo Verde ocorrem

cinco espécies de tartarugas marinhas e mais de 10 espécies de baleias e golfinhos. O arquipélago é o terceiro lugar mais importante do Mundo para a reprodução da Tartaruga-comum Caretta caretta, «Em Perigo».

A SPEA em Cabo Verde

A maioria das IBA e áreas protegidas de Cabo Verde têm problemas graves de conservação, por destruição do habitat, captura de espécies protegidas e sobrexploração dos recursos naturais. Por exemplo, as IBA dos ilhéus Raso e Rombo sofrem com a captura ilegal de crias de aves marinhas, em particular de Cagarra-de-cabo-verde Calonectris edwardsii, «Quase Ameaçada». Se este tipo de actividades ilegais não for banido, podemos assistir à extinção desta e de outras espécies de aves marinhas naquele país. Desde o final de 2007, a SPEA tem desenvolvido contactos com as autoridades e as organizações não governamentais de ambiente (ONGA) de Cabo Verde, no sentido de promover e incentivar parcerias e projectos em prol da protecção das aves daquele país. Em 2010 e 2011, participou no projecto «Sinergias para Conservação de aves na Área Marinha Protegida de

Parceiros

Financiamento Direcção-Geral de Ambiente e Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário

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Santa Luzia, Ilhéus Branco e Raso». Esta iniciativa, financiada pelo Programme Régional de Conservation de la zone Côtière et Marine en Afrique de l’Ouest - PRCM, foi liderada por duas organizações locais - Biosfera I e Associação dos Amigos do Calhau -, e contou com a participação da SPEA, WWF-Cabo Verde, Direcção-Geral de Ambiente e Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário de Cabo Verde e Universidade de Cambridge. O projecto criou as bases do conhecimento e da capacidade para um programa de conservação daquela área marinha protegida. A SPEA participou com formação

em anilhagem e monitorização de aves marinhas na colónia do ilhéu Raso e desenvolveu os estudos prévios para a erradicação de espécies invasoras na ilha de Santa Luzia. Deste modo, conseguimos: • proteger a colónia de aves marinhas do ilhéu Raso; • criar um programa de monitorização da população de Cagarra-de-cabo-verde do ilhéu Raso; • avaliar e planear a erradicação dos gatos assilvestrados da ilha de Santa Luzia; • envolver a administração e a população na protecção da área marinha protegida.

Ilha de Santa Luzia

Além do projecto «Sinergias», a SPEA quer continuar a trabalhar com os parceiros locais em prol das aves, da natureza e do desenvolvimento sustentável de Cabo Verde. Pretendemos apoiar o aumento da capacidade de associações como a Biosfera I, através da formação e do apoio técnico, do desenvolvimento de parcerias para projectos de conservação e do seu envolvimento em eventos internacionais. Autor: Domingos Leitão (SPEA)

Aves endémicas e ameaçadas de Cabo Verde

Biosfera I Espécies

Endémica

Estatuto Global

População

Cagarra-de-cabo-verde Calonectris edwardsii

Sim

Quase Ameaçada

10 000 casais

Gon-gon ou Freira Pterodroma feae

Não

Quase Ameaçada

500-1000 casais

Andorinhão-de-cabo-verde Apus alexandri

Sim

Não Ameaçada

Comum

Laverca-do-raso Alauda razae

Sim

Criticamente em Perigo

Variável (100500 indivíduos)

Pardal-de-cabo-verde Passer iagoensis

Sim

Não Ameaçada

Muito comum

Felosa-de-cabo-verde Acrocephalus brevipennis

Sim

Em Perigo

1000-1500 indivíduos

Associação sem fins lucrativos criada em 2006, na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde. Esta associação, em conjunto com outras ONGA, faz parte do movimento ambientalista em crescimento naquele país. A Biosfera I já conseguiu o feito histórico da interdição efectiva da captura ilegal de juvenis de Cagarra-de-cabo-verde no ilhéu Raso desde 2008 www.biosferaum.org

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Atlas das Aves do Arquipélago da Madeira

Peneireiro Falco tinnunculus canariensis

Cagarra Calonectris diomedea borealis

O Serviço do Parque Natural da Madeira e a SPEA têm em curso, desde 2009, um projecto ambicioso e transversal - o primeiro Atlas das Aves do Arquipélago da Madeira.

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m 2009, teve início o Atlas das Aves do Arquipélago da Madeira, resultante de mais uma parceria entre o Parque Natural da Madeira (PNM) e a SPEA, e que conta com o apoio de diversas entidades privadas, nomeadamente a Academia de Línguas da Madeira, a Delta Cafés, o Ventura do Mar, a In-formar – Empresa de Formação Profissional e Serviços, Lda, XGT– Soluções Informáticas, SA e a Zon Madeira. Para a realização do projecto foi criada uma equipa com experiência prévia em censos e monitorizações de aves, que é responsável pela definição de metodologias e realização das visitas sistemáticas. Esta equipa é formada por seis elementos do PNM (Dília Menezes, Isamberto Silva, Nádia Coelho, Paulo Oliveira, Pedro Sepúlveda e Sara Freitas), um elemento da SPEA (Ana Isabel Fagundes) e três voluntários (João Nunes, Jorge Ferreira e Marta Nunes). Além desta equipa, é de salientar a importante colaboração do Corpo de Vigilantes da Natureza do PNM e da restante equipa da SPEA-

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Madeira, assim como de numerosos voluntários, na realização de visitas não sistemáticas ou apenas através do envio de registos casuais. Com este projecto pretende-se ter um adequado conhecimento da abundância e da distribuição das aves que nidificam no arquipélago da Madeira, assim como de outras aves visitantes. Comparativamente ao Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (Equipa Atlas, 2008), será possível ter uma informação mais exacta, uma vez que estão a ser monitorizadas todas as quadrículas de 2x2 km em todas as ilhas do arquipélago (Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens), num total de 233 áreas de estudo. A definição de uma quadrícula mais pequena permite assim cobrir com maior precisão todos os habitats e detectar espécies menos conspícuas.

Os primeiros resultados

Este projecto está a originar uma base de dados que pode ser consultada online. Apesar de ainda só apresentar os resultados de 2009 e 2010,

já é possível clarificar dados relativamente a espécies cuja distribuição era pouco conhecida – como o Cigarrinho Sylvia conspicillata, o Verdilhão Carduelis chloris ou o Lugre Carduelis spinus -, ou ainda para confirmar a nidificação de novas espécies como o Galeirão Fulica atra ou a Rola-turca Streptopelia decaocto. Da mesma forma, os resultados indicam quais as áreas e habitats com maior diversidade de aves que na ilha da Madeira correspondem, maioritariamente, aos extremos Oeste e Este (entre 17 e 20 espécies) e ao habitat rural (total de 44 espécies). Os trabalhos da última época de campo decorreram até Julho e, este ano, além das visitas realizadas às 19 quadrículas que estavam em falta, foi dada prioridade à realização de visitas não sistemáticas para se aumentar os dados de confirmação de nidificação. Perante os violentos incêndios que decorreram na ilha da Madeira, em Agosto do ano passado, que destruíram cerca de 8000 hectares de floresta e de vegetação de altitude, foi decidido Parceiros


Uma das áreas ardidas em 2010

realizar novas visitas às quadrículas afectadas pelo fogo, procurando-se, assim, adquirir mais informação sobre o impacto dos incêndios na comunidade de aves. Pelo comportamento específico de determinadas espécies, que não facilita a sua detecção pela metodologia aplicada nas visitas sistemáticas, têm sido realizados censos dirigidos para as aves marinhas, Galinhola Scolopax rusticola, andorinhões Apus spp., Pombo-trocaz Columba trocaz, entre outras. O censo de Pombo-trocaz decorreu em 2009 e a população foi estimada entre 8500 e 10 000 indivíduos; o censo de

Galinhola, realizado no ano passado, permitiu conhecer melhor a distribuição da espécie e também contabilizar 162 machos reprodutores nos 108 pontos de amostragem realizados.

Próximas contagens

Nos próximos meses serão iniciadas as contagens das populações de aves marinhas de Cagarra Calonetris diomedea, Patagarro Puffinus puffinus, Alma-negra Bulweria bulwerii, Roquede-castro Oceanodroma castro e Pintainho Puffinus baroli. Se tem interesse em participar neste projecto, saiba que pode colaborar nas visitas não sistemáticas, nos censos dirigidos ou apenas através de registos casuais. Contacte a SPEA-Madeira (madeira@spea.pt) ou o projecto (atlasdasaves@netmadeira.com). Aguardamos por si! Autora: Ana Isabel Fagundes (SPEA) Saiba mais em www.atlasdasaves.netmadeira.com

Voluntários do Censo de Galinhola

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MarPro Conservação de espécies marinhas protegidas em Portugal continental Recolha de rede de arrasto

MarPro é o acrónimo do novo projecto LIFE em que a SPEA é parceira e que irá, seguramente, ser um grande passo para a conservação de espécies marinhas protegidas em Portugal continental.

I

ntegrado no Programa Marinho da SPEA, o projecto arrancou em 2011 e contribuirá para colmatar a falta de conhecimento sobre aves e mamíferos marinhos em alto mar. A área de estudo, que compreende a zona até às 350 milhas, ultrapassa largamente a Zona Económica Exclusiva (ZEE) portuguesa, demonstrando o carácter ambicioso do MarPro. A nossa ZEE é caracterizada por ser uma zona de invernada muito importante para a ameaçada Pardela-balear Puffinus mauretanicus e por incluir uma das maiores concentrações de Roaz-corvineiro Tursiops truncatus da Europa. Apesar da importância da nossa ZEE, apenas estão classificados 7 Sítios de Importância Comunitária e 7 Zonas Especiais de Conservação, existindo constrangimentos políticos e logísticos à proposta de novas áreas. Por outro lado, a necessidade de alarCoordenação

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gar a actual Rede Natura 2000 a zonas de alto mar requer um conhecimento aprofundado deste ecossistema, que possibilite a aplicação de medidas eficazes de gestão.

Entre a terra e o mar

Os próximos 5 anos vão ser fortemente marcados por uma recolha de dados intensa e rigorosa de diversas variáveis ambientais, biológicas e antropogénicas. Censos costeiros, de barco e avião, irão permitir recolher dados de abundância e distribuição. Com o reforço da rede de monitorização de arrojamentos e das praias, pretende-se identificar e quantificar as espécies que dão à costa e determinar as prováveis causas de morte. O trabalho em colaboração com o sector pesqueiro será fundamental para perceber as interacções entre esta actividade e as espécies em estudo. Por fim, o melhoramento das Parceiros

estruturas de detecção e reabilitação de aves e mamíferos marinhos aumentará a qualidade e a eficácia da resposta que estas emergências exigem.

Divulgação e sensibilização

O MarPro assume a responsabilidade de reunir a informação que actualmente existe, disponibilizando um webgis e um repositório on-line. Sendo os mais novos responsáveis por assegurar o futuro do ambiente marinho, vão ser realizadas diversas acções de sensibilização em escolas, a par de um programa de formação e voluntariado, que permitirá a participação activa de todos os interessados. Autor: Nuno Oliveira (SPEA) www.marprolife.org Co-financiamento



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