Lixo - Compostagem e Agricultura Urbana no Plano Piloto de Brasília

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compostagem e agricultura urbana no plano piloto de brasília Tainá Wanderley | Orientação: Gabriela Tenorio



Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

lixo

Compostagem e Agricultura Urbana no Plano Piloto de Brasília

Trabalho Final de Graduação Caderno de Projeto

Aluna: Tainá Wanderley | 12/0022508

tainawanderley@gmail.com

Orientadora: Gabriela de Souza Tenorio Banca Examinadora: Mônica Gondim | Ivan do Valle Cláudia Garcia (professora convidada) | José Mario Pacheco (arquiteto convidado) 1° | 2019



sumário projeto

1

Introdução Um passo atrás

9

Localização

21

Impactos do lixo O lixo hoje Então, as premissas

Plano Piloto de Brasília Gestão do lixo no DF

Compostagem

O que é? Visita técnica Eldorado Cálculos para o projeto

agricultura Urbana O que é?

Agricultura urbana por aqui

11 14 16 19

23 24

29 30 31 32

35 36

38

2

(pré) coleta Estratégias Mapas Impacto Pontos de coleta

41 42 43 46 48 49

estação de compostagem Programa de necessidades Diretrizes Diagnóstico Referências arquitetônicas Partido Zoneamento Estrutura Implantação Plantas Detalhes Cortes Fachadas

51

(pós) agricultura urbana Modelos Simulações

98

53 54

55 63 67 68 69 70 72 80 88 90

Unidade de Vizinhança 305 norte

113 104 110

agradecimentos

117

Bibliografia

119



lixo, eca !

Aposto que foi isso que você pensou, não foi? E ainda: “quem é essa louca que quis estudar isso?” Oi, me chamo Tainá, e o tema do lixo é algo que me interessa desde quando eu era pequena. Acredito que lidar com o lixo, olhar para ele, é, de certa forma, lidar com nossa finitude, olhar para ela. E na verdade, meu interesse pelo tema também é pautado por uma preocupação diante da realidade que estamos construindo juntos: um planeta lindo se transformando em um depósito de lixo. Eca? Só se for pra gente, né, estamos mandando muito mal. Então, por conta disso, te convido a ler e ver este trabalho, e a mudar sua visão sobre o lixo que você e eu geramos. O trabalho inteiro é, na verdade, um convite. Um convite a uma reflexão, pois ele é apenas uma ideia, a que eu tive quando me perguntei qual seria a interseção temática entre arquitetura, urbanismo e lixo. E a verdade é que há ainda muito chão pela frente, muita tecnologia a ser desenvolvida, muito esforço para conscientizar as pessoas - inclusive quanto às mudanças necessárias em seu padrão de consumo. Diante de um tema inesgotável como este, peguei uma fatiazinha para me aprofundar e fazer uma proposta urbana e arquitetônica. O local escolhido? Brasília. Na minha humilde opinião, o Plano Piloto é o local perfeito para se tornar modelo de cidade lixo zero no Brasil. Mas pra isso acontecer, assim como eu me questionei o que eu poderia fazer a respeito, todos têm que se questionar o mesmo. É um tema que tangencia todas as áreas do conhecimento, acredite. Bem, tomara que você aproveite minimamente o que vai ler aqui, e que não ache mais tão chato falar de lixo. O trabalho sintetiza o que aprendi no curso de Arquietura e Urbanismo, mas também é resultado de minhas experiências, buscas e reflexões. Portanto, fico muito feliz em compartilhar com você. E é isso! :)

“A despeito do crescente interesse pelas questões ambientais, as questões relacionadas ao lixo não são ainda adequadamente tratadas, apesar de decisivas para o ordenamento urbano. Não fazem parte de nossa agenda de cultura geral. (...) É importante que cada vez mais pessoas se deem conta da complexidade desses problemas, presentes em todas as cidades.”

Emilio Maciel Eigenheer, A História do Lixo, 2009



introdução ( parte 1 )

Introdução Um passo atrás

Impactos do lixo O lixo hoje Então, as premissas

Lixo. Ou se ressignifica esta palavra, ou se abole o termo de vez do nosso vocabulário. Segundo o Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, lixo são os “resíduos provenientes de atividades domésticas, industriais, comerciais etc. que não prestam e são jogados fora”. [1] Mas onde exatamente é esse “fora”? De acordo com o Senado Federal, em matéria da Revista Em Discussão de 2014 [2], o Brasil é o terceiro maior produtor de resíduos sólidos do planeta, cada brasileiro gerando um pouco mais de um quilo de lixo por dia. E ainda: cerca de 40% desse lixo ainda vai para lixões a céu aberto. Essas informações ilustram o ano de 2014, exatamente aquele determinado como prazo máximo pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), lei federal aprovada quatro anos antes, para todos os municípios acabarem com os lixões.

A lei, em suas definições, introduziu conceitos inéditos no ordenamento jurídico brasileiro, para além de desenvolvimento sustentável: destinação ambientalmente adequada, responsabilidade compartilhada e logística reversa. Mas a grande lacuna entre o texto da lei e a realidade ainda não foi preenchida. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, ainda, em seu artigo 3° inciso XI, define “gestão integrada de resíduos sólidos” como um conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável. O presente trabalho, trazendo essa temática, busca uma resposta sobre qual o papel da arquitetura e do urbanismo nesse contexto. 9


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um passo atrás o lixo como o conhecemos

“Nossos ancestrais nômades produziam muito pouco resíduo. Se tratava unicamente de seus próprios excrementos, restos de alimentos e alguns eventuais objetos quebrados irrecuperáveis.”[3] Aproximadamente em 7.500 aC inicia-se a sedentarização. Mesmo que a geração de resíduos ainda tenha continuado muito baixa, houve minimamente, nesse momento, a preocupação com sua eliminação, por meio principalmente de aterramento, queimada e compostagem. [4] Nas cidades da Antiguidade, a gestão dos resíduos já passou a fazer parte de políticas públicas, surgindo os primeiros locais de depósito coletivo. Em Roma, por exemplo, construíam-se fossas no exterior das cidades, onde os detritos eram enterrados. Além disso, em questão de reaproveitamento, lá “existiam pessoas (canicolae) que buscavam coisas ainda úteis nos locais em que desembocavam as cloacas.”[5] A matéria orgânica era recuperada e usada como adubo para o solo:

Com isso, já em tempos remotos, temos o início de uma dualidade que vai acompanhar o lixo e os dejetos: o necessário afastamento, e mesmo receio e rejeição, de um lado, e aceitação por sua utilidade, de outro. São inúmeros os exemplos que indicam como os dejetos e o lixo orgânico produzidos nas cidades da Antiguidade foram usados na agricultura. [6]

No início da Idade Média e até aproximadamente o ano 1.000, quase as mesmas práticas eram ainda realizadas. Porém, com o desenvolvimento do comércio, o capitalismo e o afluxo da população em direção às cidades, a situação muda rapidamente. Isso porque historicamente as cidades foram sendo traçadas para melhor espacializar as atividades decorrentes da produção e da circulação de mercadorias.[7] A industrialização, o capitalismo e a urbanização são fenômenos intimamente relacionados: A expressão indústria traduz, no seu sentido mais amplo, o conjunto de atividades humanas que têm por objeto a produção de mercadorias, através da transformação dos produtos da natureza. Portanto, a própria produção artesanal doméstica, a corporativa e a manufatureira representaram formas de produção industrial, ou seja, um primeiro passo no sentido de transfor-

mar a cidade efetivamente num espaço de produção. [8]

Com a industrialização e a produção em larga escala de bens de consumo, inicia-se, da mesma forma e proporcionalmente, a geração de resíduos sólidos urbanos, provenientes desse processo de produção, e também da distribuição, comercialização e consumo desses bens. O aumento populacional e o adensamento urbano são alguns dos fatores que, ao longo do tempo, amplificam a geração de lixo, aumentando a expressividade de suas diversas consequências. As grandes epidemias surgiram nas cidades do século XIV, mas a salubridade do meio urbano passou a ser uma questão importante apenas muito tempo depois, com os higienistas, no século XIX (é deles principalmente que herdamos a visão que temos hoje do lixo em meio urbano). A reciclagem de alguns resíduos surge ainda no século XVII, quando coletores de lixo passam a separar couro, papéis, metais, transformando esses materiais em novos objetos. Com o emprego de carroças, instalou-se em Praga (1340) um serviço regular de coleta de lixo e limpeza de vias públicas sob a responsabilidade de particulares. Em Paris inicia-se este serviço no final do século XIV. Em Leiden (Holanda) tem início no ano de 1407, enquanto em Colônia, em 1448. Bruxelas coletou e compostou seu lixo a partir de 1560. Viena passou a usar carroças em 1656. É a partir de 1666, em Londres, que se conta com um serviço organizado de limpeza de ruas.(...) As inovações na limpeza urbana se fizeram, portanto, lentamente nas cidades europeias, e, na maioria delas, sem continuidade. [9]

A partir da mudança no perfil da população, que foi se tornando predominantemente urbana, o crescimento não planejado foi afetando a dinâmica das cidades em todos os seus aspectos, gerando um aumento no consumo de bens e na geração de resíduos sólidos urbanos cada vez mais variados em composição material e origem: industriais, químicos, farmaceúticos, de construção, hospitalares, etc. Resíduos estes que, durante muitas décadas, foram lançados ao ambiente indiscri-

minadamente, sem nenhuma responsabilidade atribuída aos geradores. [10]

A questão da destinação final continuou muito precária, inclusive na Europa. Quase sempre, quando coletado, o destino do lixo era o mar, os rios e áreas limítrofes. (...)Os atuais aterros sanitários que pressupõem impermeabilização do solo a ser usado, tratamento do chorume e dos gases, recobrimento e posterior paisagismo, só surgiram na segunda metade do século XX. [11]

A regulamentação dos aterros sanitários, na Alemanha por exemplo, ocorreu em 1972. Apenas a partir daí a gestão de resíduos sólidos não estava mais somente voltada para a coleta dos resíduos, mas também para sua destinação final e recuperação. Preocupações quanto a se evitar a geração desses resíduos, apenas duas décadas depois. Esse país se mostrou pioneiro na gestão do lixo e, nesse sentido, EIGENHEER afima que “para se entender os avanços ocorridos na Alemanha, um primeiro aspecto a ser destacado é a tradição na cobrança de taxas municipais para a coleta de lixo. (...) Outro aspecto importante é a utilização de vasilhames padronizados e adequados ao seu acondicionamento.” E ainda: Em 1901, cerca de 75% dos lares de Berlin dispunham de vasilhames padronizados, e antes de 1851 os proprietários das casas já pagavam taxas pela remoção dos resíduos domésticos. [12]

No Brasil, a coleta seletiva foi implantada pela primeira vez em 1985, em um bairro da cidade de Niterói. Em 1988, Curitiba se torna a primeira cidade brasileira a ter o sistema. Hoje, mais de 200 cidades têm a coleta seletiva implantada. Contudo, segundo EIGENHEER, “entre nós esta prática tem enfatizado mais a separação prévia de materiais destinados à reciclagem industrial (na tradição dos catadores), e menos à compostagem da fração orgânica.” O autor conclui: Uma de nossas maiores dificuldades reside no fato de que o cidadão brasileiro não está acostumado a pagar por esses serviços, diferentemente do que ocorre em outros países. Nem mesmo a padronização dos vasilhames, básica para a cobrança de taxas, foi conseguida. [13]

Atualmente, no século XXI, não apenas no Brasil, há ainda outro agravante: a mudança no perfil do lixo. Se antes, mesmo com toda a variedade, a maior parcela dos resíduos urbanos ainda era matéria orgânica, como restos de alimento, com o avanço da tecnologia, são presença cada vez maior e mais constante os materiais sintéticos, como plásticos e isopores, além de pilhas, baterias, lâmpadas, entre outros - alguns compostos por inúmeras substâncias de alta toxidade. Eles agora também são nossos “restos de alimento”. É importante tentar compreender nesse panorama histórico o caráter mutante da cidade, além de buscar entender a sociedade que ela abriga, motor dessas constantes transformações, pois essa sociedade modifica, a todo momento, suas necessidades e demandas. O lixo surgiu como consequência disso e hoje se põe como uma possível causa de inúmeras outras transformações, cheias de possíveis desdobramentos. Transformações estas que agora ocorrem cada vez mais rapidamente, diga-se de passagem.

[1] Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/lixo%20/ [2] Disponível em: https://www12.senado.leg.br/jornal/revista-emdiscussao [3] Fabien Collin, 2018, em tradução livre da autora. Disponível em: http://franceinsoumise09.fr/index.php/gestion-dechets-dans -histoire/2018/10/13/ [4] P. Ballet, P. Cordier et N. Dieudonné-Glad, 2003, apud Coliin 2018. [5] EIGENHEER 2009 e [6] Idem. [7] SPOSITO, 2004 e [8] Idem. [9] EIGENHEER 2009, [11] e [13] Idem. [10] MELQUIADES, 2015, pg.45 [12] Wiedemann, Harmut V. Lixo na Alemanha. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999, p.13. apud EIGENHEER 2009 Imagem da página anterior: Chiffonniers. Disponível em: http:// franceinsoumise09.fr/index.php/gestion-dechets-dans-histoire/2018/10/13/ 11


Coletores de Lixo na Berlin do início do século XX. Fonte: EIGENHEER 2009.

Carros de limpeza pública Augusto Malta 1928. Fonte: Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, em EIGENHEER 2009

Coletor de lixo em São Paulo Fonte: Jean Manzon em EIGENHEER 2009.

“as práticas de recolher e dar destino ao lixo e aos dejetos têm lugar de destaque em uma reflexão sobre os esforços civilizatórios da humanidade.” EIGENHEER 2009

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Estagiária orienta os coletores no atendimento à moradora, no primeiro dia da coleta seletiva em bairro de Niterói, em 1985. Fonte: EIGENHEER 2009

Campanha para redução de lixo: sacolas de pano distribuídas - Coleta seletiva em Niterói, 1985. Fonte: EIGENHEER 2009

Galões para recolhimento de vidros Coleta seletiva em Niterói, 1985. Fonte: EIGENHEER 2009

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impactos do lixo que diabos estamos fazendo?

Nós temos uma ilha de lixo, isso é o que estamos fazendo. Descoberta por acaso pelo oceanógrafo e navegador americano Charles J. Moore, em 1997, ela é como um sétimo continente, símbolo da amplitude da poluição gerada pelas atividades humanas. Segundo o último levantamento da organização Ocean Cleanup, realizado em março de 2018, são cerca de 80.000 toneladas de resíduos plásticos concentrados em uma superfície de 1,6 milhões de km², entre o Havaí e a costa da Califórnia. Mas isso é apenas o lixo nos oceanos, sem citar o que está espalhado no resto do globo.[14] Os impactos negativos do lixo já são conhecidos. Difícil é citar hoje apenas uma fonte que a eles faça referência. Os problemas são objeto de atenção de diversas áreas do conhecimento, e, portanto, amplamente discutidos por engenheiros sanitaristas, ambientais e civis, biólogos, geógrafos, químicos, economistas, urbanistas. Os impactos são mundiais e o acúmulo de lixo contamina os oceanos, o solo, prejudica a saúde da população, dos animais, diminui a qualidade de vida e a expectativa para as futuras gerações, estando também relacionado às mudanças climáticas. Cidades maiores e países mais ricos apresentam indicadores de geração per capita de resíduos sólidos superiores às famílias mais pobres, cidades menores e países em desenvolvimento, o que aumenta ainda mais a responsabilidade dos primeiros frente a essa problemática.

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[14] Fabien Collin, 2018. Disponível em: http://franceinsoumise09.

fr/index.php/gestion-dechets-dans-histoire/2018/10/13/

Imagem da página ao lado: fotógrafo Chris Jordan


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o lixo hoje CLASSIFICAÇÃO A classificação dos resíduos sólidos parte da iden-

tificação de sua composição material e de sua origem. Além disso, os resíduos podem ser classificados quanto ao risco à saúde pública e ao meio ambiente, nesse caso, como perigosos ou não perigosos, este último subdividido em não inerte e inerte. [5] O Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR) classifica, quanto à origem, os resíduos em: domiciliares; de limpeza urbana (resultantes da varrição das ruas); resíduos sólidos urbanos (os acumulados nas lixeiras públicas); resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços; dos serviços públicos de saneamento básico; industriais; de serviços de saúde; da construção civil; resíduos agrossilvopastoris; resíduos de serviços de transportes; resíduos de mineração. Essa mesma divisão é utilizada na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Note: resíduo é uma coisa,

DESTINAÇÃO

rejeito é outra!

Os tipos de destinação considerados na PNRS para os resíduos são a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético, e, para os rejeitos, a disposição final ambientalmente adequada. Esta é definida como a distribuição ordenada em aterros sanitários, “observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos”. [6] A reutilização é, como o nome já diz, o ato de usar novamente determinado material, sem que ele precise passar por transformações biológicas, físicas ou físico-químicas. A reutilização das garrafas de vidro retornáveis é o exemplo mais conhecido. Há limites máximos de reutilização, que variam para cada material, chegando, para o exemplo citado, a aproximadamente 25 lavagens. A logística reversa é medida já prevista em lei, obrigatória para vários tipos de resíduos, e, segundo Cíntia Rios Guércio, que analisou sua aplicação no âmbito da administração pública, um sistema de logística reversa em parceria com uma empresa privada gera custos reduzidos ao órgão público, otimiza os investimentos da empresa gerando renda, e abre espaço para projetos sociais, tal como a doação do valor arrecadado a uma instituição de caridade. [7] A reciclagem, por sua vez, implica transformações que alteram a estrutura dos resíduos, a fim de serem 16

utilizados como insumo para novos produtos. Para que seja viabilizada economicamente, deve ser feita em larga escala, a nível industrial. O processo (meio) mais utilizado visando à reciclagem (fim) é a coleta seletiva, em que resíduos secos são encaminhados para centros de triagem, para serem separados por tipos de material, e os orgânicos para usinas de compostagem. A compostagem é o processo utilizado para a reciclagem dos resíduos orgânicos. Do total desses resíduos coletados no Brasil, apenas 1,6% vão para unidades de compostagem, sendo o restante encaminhado diretamente para lixões, aterros controlados e aterros sanitários. [8] Verifica-se que o processo de tratamento da fração orgânica via compostagem é ainda pouco utilizado em programas municipais de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. Os motivos são a dificuldade de se obterem os resíduos orgânicos já separados na fonte geradora; a insuficiência de manutenção do processo; o preconceito com o produto; e a carência de investimentos e de tecnologia adequada para a coleta deste tipo de material. [9]

A única disposição final possível para os rejeitos, segundo a PNRS, são os aterros sanitários, modelo que representou 58,1% dos destinos finais dos resíduos no ano de 2011, obtendo um aumento de 0,5% em relação ao ano de 2010, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. [10] Na NBR 843, os aterros sanitários são definidos como: Método que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área disponível no solo e reduzí-lo ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário. [11]

Os lixões a céu aberto são agora proibidos por lei. Também conhecidos como vazadouros, são locais onde ocorre a simples descarga dos resíduos sem qualquer tipo de controle técnico. Segundo pesquisadores, esta é a forma mais prejudicial ao ser humano e ao meio ambiente, pois nestes locais geralmente se estabelece uma economia informal, resultante da catação dos materiais recicláveis, com a presença de animais e moradias irregulares. [12]

não geração [5] De acordo com a NBR 10004:2004 Resíduos Sólidos: Classificação, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) [6] Lei federal 12.305, de 2010. Disponível em: http://

www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/ Lei/L12305.htm

redução reutilização

[7] GUERCIO 2017 [8] IPEA 2012 [9] Massukado 2008 apud IPEA 2012. [10] ABRELPE (2011) [11] ABNT, 1985 [12] Túlio Franco Ribeiro e Samuel do Carmo Lima em artigo para Revista Caminhos de Geografia: Coleta Seletiva de Lixo Domiciliar – Universidade Federal de Uberlândia. (2000) [13]Prioridade na Gestão dos Resíduos Sólidos: PDGIRS pg 30

reciclagem tratamento disposição final Prioridade na Gestão dos Resíduos Sólidos [13]


SUJEITOS [14] EIGENHEER 2009. [15] Relatório de Atividades do SLU 2016. Disponível em: http://www.slu.df.gov. br/wp-content/uploads/2017/12/relatorio_slu_2016.pdf [16] Disponível em: http://www.sinesp. df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2018/03/ PDGIRS.pdf [17] Tradução livre da autora. Reportagem de janeiro de 2018, Franceinfo. Disponível em: https://www.

francetvinfo.fr/sante/ environnement-et-sante/ environnement-la-suede-championne-du-recyclage_2540969.html

Coleta de lixo em Barcelona [18]

[18] Imagem: Disponível em http://www.

ecodesenvolvimento. org/posts/2011/abril/ barcelona-utiliza-sistema-de-coleta-de-residuos-a

[19] Imagem: Disponível em https://

www.dw.com/pt-br/ alemanices-pfand-reciclar-ganhando-dinheiro/a-38345207

[20] Disponível em:

http://infraestruturaurbana17.pini.com.br/ solucoes-tecnicas/11/ coleta-de-lixo-subterrenea-e-a-vacuo-conhecamodelo-245157-1.aspx

[21] Disponível em:

Máquina de Recolhimento de Embalagens na Alemanha [19]

http://www.curitiba. pr.gov.br/noticias/reciclagem-do-lixo-em-curitiba-e-destaque-em-simposio-da-unesco/45254

[22] Disponível em:

https://cicloorganico. com.br/

[23] Publicação de 02.08.18 do Pinella em suas redes sociais.

Muitos sujeitos fazem parte do ciclo do lixo. Os produtores industriais são geradores de resíduos, assim como os distribuidores, vendedores e consumidores. Porém, os profissionais envolvidos na gestão desses resíduos merecem especial atenção por serem os mais dependentes economicamente desse ciclo. Esses profissionais, principalmente os catadores, fazem parte de cooperativas e associações hoje contratadas pelo poder público para atuar na coleta seletiva. Anteriormente, seu local de trabalho eram os lixões a céu aberto, agora proibidos pela legislação, ainda que alguns estejam em funcionamento irregular. Legalmente falando, o local de trabalho desses profissionais passou a ser o centro de triagem. Segundo EIGENHEER ,“hoje, no Brasil, o trabalho dos catadores, organizados ou não, tem grande significado para as indústrias de reciclagem, sendo calculada sua participação em cerca de 60% do que é reciclado no país.” [14] No Distrito Federal, O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) contou, em 2016, com 4.009 trabalhadores terceirizados por meio de sete contratos com quatro empresas de coleta, triagem e disposição de resíduos, segundo seu Relatório de Atividades do referido ano.[15]

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A Política Nacional dos Resíduos Sólidos, lei federal 12.305 de 2010, já citada, é, sem dúvida, a principal normativa nacional a respeito da gestão dos resíduos sólidos. Ela estabelece as diretrizes a serem seguidas pelos municípios na elaboração de seus planos locais e regionais. Não é, porém, a única a contemplar o tema, sendo importante citar o Plano Nacional de Mudanças do Clima (PNMC), o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) e o Plano Nacional de Produção e Consumo Sustentável (PPCS). Com a Conferência do Clima (COP 21), em 2015, as questões de desenvolvimento sustentável foram revistas e reforçadas. Há ainda em trâmite, na Câmara Legislativa do DF, alguns projetos de lei que tratam sobre o tema dos resíduos sólidos: o PL 56/2015, que dispõe sobre a compostagem de resíduos sólidos dos restaurantes comunitários e escolas públicas do Distrito Federal; o PL 382/2015, sobre a priorização do uso de agregados reciclados, oriundos de resíduos sólidos da construção civil, em obras e serviços de pavimentação de vias públicas. Nota-se, portanto, a preocupação do Poder Público com a questão, ao menos na esfera legislativa, nos estudos e planos. No DF, o Plano Distrital de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PDGIRS) foi aprovado pelo Decreto 38.903 de março de 2018. Seu documento final foi a principal base para este trabalho, visto que possui

os diagnósticos atuais mais detalhados, com análises e, inclusive, projeção de cenários. [16]

REFERÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Suécia gera atualmente 4,4 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano e somente 1% se torna rejeito e é descartado. No país, cada zona residencial possui uma estação de triagem: Resíduos que podem ser reciclados são separados e levados pelos cidadãos aos centros de coleta, que não ficam a mais de 300m das residências. A coleta de lixo no país é uma das mais rigorosas do mundo. Se o lixo orgânico não estiver de acordo com as especificações fornecidas pelo governo, ele não é recolhido. O contribuinte paga taxa de recolhimento do lixo proporcional à quantidade gerada, por isso os cidadãos controlam sua própria geração de lixo. [17]

Em 1991, a Alemanha foi o primeiro país no mundo a fazer leis forçando os fabricantes a ter responsabilidade ao reciclar ou descartar qualquer material vendido. Lá funciona uma política conhecida como The green dot, cujo ponto chave é a taxa que os fabricantes e vendedores têm que pagar por um “ponto verde” nos produtos: quanto mais embalagens, maior o gasto. Para que ele funcione, há máquinas de depósito em vários estabelecimentos comerciais, onde os consumidores levam as garrafas plásticas e outras embalagens. Essas máquinas de depósito leem o código de barras do rótulo, analisam qual o tipo de material, se é reciclável, a qual revendedor pertencem. Os consumidores ganham 0,25 centavos por cada embalagem levada e elas retornam aos revendedores que, por sua vez, vendem para indústrias de reciclagem. A reciclagem é uma indústria lucrativa na Alemanha. Em Barcelona, no ano de 1992, para os Jogos Olímpicos, foi implantada a coleta de lixo subterrânea à vácuo. Em 2011 eram 2,1 mil coletores de até 30 m³ de capacidade, separados em materiais orgânicos, vidros, papel e plásticos, projeto de responsabilidade da empresa sueca Envac Iberia. A tecnologia funciona da seguinte maneira: a população deposita sacos de resíduos em coletores instalados nas vias e/ou edifícios. Quando esses coletores, conectados a uma tubulação subterrânea, estão cheios, um sensor aciona o disparo dos resíduos, que seguem em vácuo, por sucção, até as centrais de coleta, onde os materiais são separados e compactados em contêineres estanques, para destinação final. [20]

Há o sistema à vácuo estático, composto apenas por tubulações, e o sistema móvel, em que caminhões as17


piradores realizam a segunda parte da coleta. No primeiro, ao depender da densidade dos resíduos e da distância, sua velocidade dentro das tubulações é de aproximadamente 25 m/s. A profundidade da tubulação é geralmente de 1,5 a 5 metros, os coletores têm capacidade de até 30 m³. Outros valores aplicados ao caso de Barcelona dizem respeito à quantidade de moradores por unidade habitacional (de 1,3 a 3,2) e à geração diária de resíduos por morador (de 1,3 kg). A distância de uma casa para um ponto de coleta é no máximo 2 km. A maior vantagem considerada nesse sistema é a não utilização de caminhões (menor consumo de combustível, menor emissão de poluentes, menos problemas de logística e de trânsito urbano), além de que ele facilita a reciclagem em larga escala, vista a facilidade de separação dos resíduos na fonte.

REFERÊNCIAS NACIONAIS E LOCAIS

A cidade de Curitiba, no Paraná, foi pioneira na preocupação com a separação dos resíduos sólidos para a coleta seletiva. Atualmente na cidade, há diversos programas governamentais a esse respeito, que servem como exemplos para todo o país. Entre eles, pode-se citar o Ecocidadão e o Câmbio Verde. Este chama a atenção por melhorar também a alimentação dos participantes: o programa propõe a troca de lixo e óleo usado por frutas e verduras. Segundo uma matéria no site oficial da prefeitura de Curitiba: O Câmbio Verde chamou atenção do francês Louis Albert De Broglie, especialista em educação ambiental, ciências naturais e planejamento urbano. “É um programa fantástico”, comentou. “A combinação de trabalho com o lixo e a troca por alimento traz muito mais respeito à comida”, analisou De Broglie, representante da instituição Deyrolle, de Paris. [21]

Em algumas cidades brasileiras, há também boas práticas alternativas que buscam realizar uma melhor gestão dos resíduos sólidos praticadas fora da esfera pública. Tem-se como exemplos algumas iniciativas realizadas em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília. O Shopping Eldorado, na cidade de São Paulo, realiza a compostagem de seus resíduos orgânicos e usa o composto como adubo em um telhado verde, onde são plantados legumes, verduras, ervas e temperos. São quase duas toneladas de restos de alimentos jogados diariamente no lixo das praças de alimentação do shopping. A compostagem é feita em local dentro do próprio estabelecimento. Também utilizando a compostagem, a empresa Ciclo Orgânico, no Rio de Janeiro, propõe um negócio com o seguinte formato: “você receberá um baldinho para depositar o seu lixo, que não provoca, aliás, mau

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cheiro, nem atrai insetos. Semanalmente a equipe buscará de bicicleta a sua coleta, que será levada até uma das sete composteiras localizadas no Parque do Martelo, zona Sul do Rio de Janeiro” [22]. Esse modelo é repetido em Brasília pela empresa Destino Correto. Exemplo de estabelecimento comercial parceiro da Destino Correto, em Brasília, é o Pinella, bar e restaurante localizado na quadra 408 norte. Lá eles realizam uma gestão mais consciente de todos os resíduos. Segundo Flávia Attuch, empresária e idealizadora do local, o Pinella adota as embalagens retornáveis, ainda que financeiramente não seja o mais atrativo. Além disso, eles armazenam os resíduos orgânicos para compostagem, separam os recicláveis, incluindo o vidro, e vendem o óleo de cozinha usado para empresa que o transforma em detergentes. Quanto ao vidro, há uma limitação, inclusive citada no site do SLU: o DF não possui empresa que recicle esse material, e, por isso, o vidro do Pinella vai para São Paulo para ser reciclado. Ainda assim, Flávia persiste, insistindo que a gestão dos resíduos é uma responsabilidade de todos. Ela também adota esses princípios em sua casa, onde possui composteiras e um minhocário. Alguns valores foram disponibilizados diretamente pela empresária: Os resíduos orgânicos para compostagem são armazenados em tonéis de 30 litros, na quantidade aproximada de seis tonéis, retirados três vezes por semana, ou seja, 180 litros por semana de resíduos compostáveis são gerados por esse único estabelecimento comercial. Em relação ao armazenamento, Flávia ainda aponta as limitações de espaço físico: eles ficam localizados na cozinha até serem retirados e levados ao terreno da Destino Correto, localizado próximo a Águas Claras. Flávia e outros empresários estão atuando em conjunto, num grupo de ação denominado Ecozinha. Por enquanto, 80 estabelecimentos na asa norte e sul, lago norte e sul participam de tal empreitada. Em suas redes sociais, o Pinella afirma que em quatro meses eles realizaram a compostagem de duas toneladas de resíduos orgânicos, em parceria com a Destino Correto. Este “negócio social”, como eles mesmos se denominam, surgiu em 2017, a fim de compostar os resíduos orgânicos, não somente de estabelecimentos comerciais, mas também de residências. Sabe o que o Pinella faz com o limão que sobrou da caipirinha ou com aquele guardanapo que você usa? Depois que eles são recolhidos da sua mesa, eles vão para a reciclagem. Sim, resíduos orgânicos são recicláveis e nós damos o @DestinoCorreto para esse e todos os resíduos orgânicos gerados no preparo dos drinks e petiscos servidos em nosso estabelecimento. Desde abril, já são 2 toneladas de resíduos orgânicos reciclados, que totalizam 4,6 toneladas de impacto positivo no planeta! [23]

Todos são responsáveis Resolver o problema cada vez mais perto Nova camada para Brasília: sustentabilidade Ressignificação do lixo Ciclo do lixo e Ciclo do alimento reconectar populações urbanas com a agricultura

reestruturar,

ressignificar


então, as premissas

o que se conclui disso tudo e se traz para o projeto

TODOS SÃO RESPONSÁVEIS

O trabalho possui alguns pontos de partida. O primeiro diz respeito à consciência de que todos são responsáveis pelos resíduos gerados. A chamada responsabilidade compartilhada é, inclusive, prevista na Política Nacional dos Resíduos Sólidos.

RESOLVER O PROBLEMA MAIS PERTO

Outra premissa fundamental é a constatação de que o ideal é que o problema do lixo seja resolvido mais perto de seus geradores, os responsáveis por eles. A destinação final estando mais próxima às pessoas pode provocar, além de uma diminuição de impacto com a coleta, uma mudança de comportamento, e quem sabe a formação de uma consciência coletiva mais sustentável. A ideia é tentar fechar o ciclo, ou se aproximar disso, aumentando a vida útil dos aterros sanitários, no mínimo. E a descentralização auxiliaria nesse processo.

NOVA CAMADA PARA BRASÍLIA: SUSTENTABILIDADE

Brasília, cidade planejada sob a ótica do movimento moderno, hoje tombada nacionalmente e Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, ganharia uma nova camada: a da sustentabilidade. Isso agregaria valor ao título que a cidade recebe, sem ferir as características que a tornam única. O desenho urbano e a abundância de áreas verdes de Brasília são potencialidades a serem exploradas.

RESSIGNIFICAÇÃO DO LIXO

O potencial lucrativo dos resíduos sólidos pode permear a mudança de visão da sociedade sobre o tema. Por que esse potencial de geração de energia, emprego, renda, ainda não é devidamente aproveitado? Atribuindo valor ao lixo, a tendência é que haja preocupação com a eficiência de sua coleta e tratamento, gerando a necessidade de sofisticação desses sistemas.

LIXO + ALIMENTO

Notou-se uma conexão temática entre a problemática do lixo e a do alimento, conexão esta que acabou se tornando o foco de muita atenção neste trabalho. Como retirar os resíduos orgânicos do ciclo do lixo e recolocá-los no ciclo do alimento? Seria possível facilitar a interligação entre os dois ciclos com as ferramentas de desenho arquitetônico e urbano? E a conexão ao problema do abastecimento de alimentos, à democratização do produto orgânico? Vários desdobramentos que se mostrariam vantajosos para a sociedade em geral, inclusive culminando na reaproximação das populações urbanas com a agricultura.

MUDANÇAS, MUDANÇAS

Mudanças de padrão de consumo começam a ser vistas nas redes sociais. No Instagram, há perfis inteiros dedicados ao tema do lixo e do consumo sustentável, como o Um ano sem lixo, Por favor menos lixo, Jornada Zero Waste, Menos 1 lixo, Casa sem lixo, e vários outros. Nota-se um engajamento da população jovem em ONGs e Coletivos que buscam criar novas soluções para o problema dos resíduos e de seu impacto ambiental. Uma das consequências desse engajamento é o surgimento de marcas que fornecem objetos para um consumo “lixo-zero”. Esses objetos reutilizáveis, que incluem garrafas, canudos, guardanapos, além de composteiras e cosméticos orgânicos sem embalagens atraem cada vez mais atenção. As pessoas estão interessadas a aprender essas novas práticas e técnicas e se mostram cada vez mais dispostas a incluí-las em seu cotidiano. Esse dado não deixa de ser um potencial que foi explorado neste trabalho, o qual levantou um ponto, a título de reflexão: o padrão de consumo muda a configuração da cidade? De que forma?

DESAFIOS

Um grande desafio foi submeter o projeto a uma visão de longo prazo, um olhar para o futuro. Que a proposta compusesse um plano estratégico integrado e fosse um sistema espacializado em cidade, que ganhasse forma e desenho, já que é um problema de gestão. Trabalhar com a escala urbana e com a escala do edifício, outro desafio. E desse, decorre outro: a questão patrimonial, que no caso de Brasília ainda recebe todas as interferências relacionadas ao tombamento como patrimônio histórico e cultural. A integração entre os sistemas, a tecnologia necessária, se mostraram também desafiadoras, assim como a escala desses processos (volume, quantidade de resíduos) e a adaptação à realidade local. Pretendia-se, neste trabalho, considerar a reutilização dos resíduos secos, a compostagem dos orgânicos, a geração de energia a partir do lixo e a sua reciclagem, trabalhando com os resíduos secos e orgânicos, ou seja, com o conjunto do que se chama Resíduos Urbanos Domiciliares. Questionou-se, porém, quais eram os processos mais adaptáveis à realidade da área de estudo, e quais as estruturas necessárias de acordo com o volume e o tipo de resíduo. Concluiu-se que alguns procedimentos demandam uma escala industrial e um cuidado maior para análise e implementação, como é o caso da geração de energia a partir do lixo, mesmo sendo algo utilizado em muitos países do mundo. Por fim, para que a proposta de projeto tivesse consistência e aprofundamento, optou-se por um enfoque na compostagem dos resíduos sólidos orgânicos, fazendo um elo à questão desse resíduo com o ciclo do alimento, ao se buscar uma destinação final mais próxima para o composto produzido.

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localização ( parte 1 )

Localização Plano Piloto de Brasília Gestão do lixo no DF

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plano piloto de brasília Brasília é a capital do Brasil, uma Região Administrativa do Distrito Federal, localizado na região centro-oeste do país.

DESENHO URBANO Concebido pelo arquiteto e urbanista Lucio

Costa em 1956, o Plano Piloto de Brasília foi projetado no âmbito do concurso para a nova capital do Brasil. Seu desenho urbano peculiar segue os preceitos do Movimento Moderno, com a setorização das funções da cidade, o sistema viário rigidamente hierarquizado, a separação entre a mobilidade de pedestres e de veículos, a inserção do pilotis como elemento arquitetônico e conceito urbano, alterando o tecido da cidade e rompendo com a ideia de lote, entre outras características que conferem à Brasília um caráter muito próprio. A estrutura viária é o traçado regulador do Plano Piloto. É composta por dois eixos que se cruzam: o Eixo Rodoviário, conhecido como Eixão, onde está a escala residencial, e o Eixo Monumental, com a escala gregária e monumental, abrigando a parte administrativa da cidade, assim como a parte simbólica que a marca como capital política do país. Pelo Eixão estão distribuídas as superquadras, as quais formam as Unidades de Vizinhaça, que, por sua vez, configuram as “asas” do avião: Asa Norte e Asa Sul. Há ainda a escala bulcólica, as abundantes áreas verdes que conferem à cidade o título de “cidade-parque”.

PRESERVAÇÃO, PATRIMÔNIO

Brasília é tombada Patrimônio Histórico na esfera distrital, federal e internacional, desde 1987 [1]. De uma maneira geral, ainda que haja polêmicas envolvendo o tombamento, existe quase um consenso sobre quais características morfológicas de parcelamento e das edificações devem ser preservadas de maneira a manter a concepção original do projeto de Lucio Costa. Entre elas, para o Plano Piloto como um todo, destaca-se a manutenção da proporção entre cheios e vazios e da hierarquia viária original. Para as superquadras, diz-se o seu acesso único, a manutenção das áreas verdes que as cercam, a taxa de ocupação máxima de 15% nesses locais, o gabarito de seis e três pavimentos para os blocos das superquadras e superquadras duplas respectivamente, a

permeabilidade dos pilotis, e a predominância do uso residencial multifamiliar. O arquiteto German Samper Gnecco, técnico responsável pelo primeiro monitoramento do tombamento de Brasília, em 1993, sugeriu que “as normas de conservação e o marco institucional devem se adequar à realidade de uma cidade que requer conservação com desenvolvimento. A flexibilização das normas deve ser tal que permita a conciliação entre estes dois temas aparentemente contraditórios.” [2] No documento Brasília Revisitada [3], Lucio Costa também demonstra enxergar a complexidade envolvida na preservação da cidade, quando sentencia que se deve “saber dizer não como dizer sim na busca contínua da resposta adequada”. Portanto a preservação arquitetônica e urbana do Conjunto Urbanístico de Brasília (CUB) deve ser trabalhada tanto no sentido de permanência quanto no de transformação, de expansão: tanto no sentido de manter o original, como no sentido de propor o novo.

SUPERQUADRA E UNIDADE DE VIZINHANÇA

As Superquadras são parcelamentos quadrados de cerca 280 metros de lado. Elas foram idealizadas para abrigar uma população de 2.500 a 3.000 habitantes, de maneira a garantir a densidade considerada ideal pelo movimento moderno de 500 hab/ha. Porém, com o desenvolvimento da cidade e as constantes reformulações da legislação aplicável, hoje há Superquadras que chegam a quase 5.000 habitantes. Elas são organizadas em quatro faixas, distribuídas ao longo do Eixo Rodoviário: as quadras 100 e 300, a oeste e as quadras 200 e 400, a leste. São 120 superquadras no total, 15 em cada uma das faixas, totalizando 60 por asa. A macroparcela urbana do Plano Piloto de Brasília é representada por duas Superquadras com uma Entrequadra no meio, formando um grande quarteirão de 280 por 640 metros. Em termos de edificação, para as faixas 100, 200 e 300, foi estabelecido um padrão básico de onze blocos ortogonais em lâminas de 12,5 por 85 metros, sendo que nas 400 há mais edifícios e a dimensão tanto das lâminas quanto das quadras é diferente. O gabarito dos edifícios é de seis pavimentos sobre pilotis, alcançando 27 metros

de altura [4]. Embora haja uma certa homogeneidade, segundo Vera Brandão:

Convém ressaltar que as dimensões, forma e fachadas dos blocos das superquadras nunca sofreram nenhum tipo de restrição por parte da legislação de proteção, e nem dos monitoramentos realizados pela UNESCO, inclusive em seu Relatório Lucio Costa defende que “os blocos residenciais podem dispor-se de maneira mais variada (...)”. [5]

“Brasília é artificial e permanece como uma incógnita que desafia as possibilidades de fazer arquitetura e continuar construindo uma cidade que tem na constante otimista do futuro o seu horizonte natural”

Eduardo Rossetti, Arquiteturas de Brasília

(grifos meus)

Sobre as Unidades de Vizinhança, Lúcio Costa afirma:

Cada conjunto de 4 dessas superquadras (...) constitui uma área de vizinhança com os seus complementos indispensáveis – escolas primária e secundária, comércio, clube, etc. – entrosando-se assim umas às outras em toda a extensão do referido eixo.[6]

Assim como os comércios locais, que teriam, em tese, uma abrangência de quatro superquadras, as Entrequadras cumprem papel decisivo no conceito de Unidade de Vizinhança, agregando complexidade funcional ao setor residencial e contribuindo com espaços de centralidade local, lazer e sociabilidade. [7]

POR QUE AQUI?

O Plano Piloto de Brasília foi escolhido como terreno de implantação deste projeto por seu simbolismo pioneiro e por seu desenho urbano racional característico. Nada melhor do que uma cidade que surge com a intenção de estabelecer novos padrões de moradia, novos padrões de vivência de espaços coletivos e mesmo novos padrões de vida, para se tornar também pioneira na aplicação de uma sadia gestão de seu lixo. Outra justificativa de escolha do local é o fato de Brasília ser a Região Administrativa do Distrito Federal que mais produz lixo (145 mil toneladas ao ano), mais até do que a RA de Ceilândia (111 mil toneladas ao ano), que concentra a maior parte da população, segundo dados do SLU. Pesquisadores da área econômica entendem que há e sempre houve uma relação diretamente proporcional entre renda e geração de lixo.

[1] Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Disponível em: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world -heritage-in-brazil/ [2] GNECCO, German Samper , Brasília, 1993, p-4 e 5 apud BRANDÃO, 2013. [3] Anexo I do Decreto nº 10.829/1987 - GDF e da Portaria nº 314/1992 - Iphan. [4] Minuta do PPCUB (p. 252) [5] BRANDÃO, 2013 [6] COSTA. Brasília 57- 85,1985 [7] Relatório do diagnóstico PPCUB. Volume 1 (228 pgs). Disponível em: http://www.segeth.df.gov.br/ wp-conteudo/uploads/2017/10/relatorio_diagnostico_volume1.pdf 23


gestão do lixo no DF POPULAÇÃO Conforme dados divulgados pelo Instituto Bra-

sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população estimada do DF em 2017 foi de 3.039.444 habitantes, o que o coloca como a terceira maior cidade do Brasil, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2016, somente o Plano Piloto possuía população estimada em 220.393 habitantes, com 83.395 domicílios urbanos e renda per capita de R$ 5.569,46. Apenas 0,21% desses habitantes é analfabeto, e a porcentagem de moradores desse local que possuem nível superior completo chega a quase 60%, mesma grandeza que representa os que, possuindo uma ocupação, a tem no serviço público. É uma população, como se pode inferir, de classe média e média alta, com educação formal. Além disso, do total de habitantes, 53% encontram-se na faixa etária de 25 a 59 anos. Os idosos representam 10% a mais que as crianças e há notória tendência de envelhecimento da população. [9]. O índice de geração de resíduos é de 1,63 kg/hab/ dia [10].

SLU | PDGIRS

O Plano Distrital de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PDGIRS), aprovado em março de 2018, conta com um detalhado diagnóstico sobre a gestão do lixo no Distrito Federal. Ele define que os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) têm seu manejo sob a responsabilidade do poder público, sob gerenciamento do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), e são subdivididos em dois grupos: Resíduos Sólidos Domiciliares (RDO) e os Resíduos de Limpeza Urbana (RPU). [11] Os RDO são recolhidos por meio de coleta convencional e de coleta seletiva. Segundo o relatório de atividades do SLU relativo ao primeiro semestre de 2018 [12], a coletiva seletiva no início do referido ano passou por uma ampliação para atender mais regiões administrativas, totalizando agora 25 RAs atendidas, com 52% da população do Distrito Federal beneficiada pelo serviço. O relatório informa que as estratégias centrais estabelecidas foram concluídas, entre elas a implantação do Aterro Sanitário de Brasília (ASB), com o encerramento das atividades ilegais no Aterro Controlado do Jóquei. Este, conhecido como “lixão da estrutural”, foi fechado em janeiro de 2018 e, desde então, todos os rejeitos oriundos de resíduos domiciliares e comerciais urbanos 24

estão sendo aterrados no ASB. Outros objetivos estão sendo tratados agora como prioridade pelo SLU, sendo importante ressaltar que entre eles está o desenvolvimento de ações que aumentem a vida útil do ASB, como a inclusão de mais uma “instalação de reaproveitamento de resíduos na L4 Sul”, onde funciona uma das Unidades de Tratamento Mecânico-Biológico (UTMB), um local de compostagem acumulado à função de transbordo (local intermediário dentro da logística da coleta de lixo). Este trabalho mostra-se alinhado aos objetivos prioritários citados no relatório, principalmente em relação ao interesse de fomentar a participação social e a educação ambiental, discriminado na lista de objetivos, assim como à estratégia apontada para os resíduos orgânicos: É fundamental a implantação de um programa bem estruturado de compostagem descentralizada dos resíduos sólidos orgânicos, para reduzir este componente no Aterro Sanitário de Brasília, de acordo com um constante processo de recuperação de resíduos sólidos e de redução dos rejeitos. [13]

COLETA CONVENCIONAL A coleta convencional compreende os serviços

regulares de coleta de resíduos sólidos domiciliares, realizada com frequência diária ou alternada, por equipes de coletores de empresas contratadas pelo SLU. O transporte de resíduos da coleta convencional é feito por caminhões compactadores ou por caminhões tipo carretas, de maior capacidade, utilizados para grandes volumes. Para realizar suas atividades, o SLU conta hoje com 176 caminhões no total. Os RDO coletados na coleta convencional têm três possíveis destinações: a) diretamente ao Aterro Sanitário; b) às Unidades de Tratamento Mecânico-Biológico (usinas da Asa Sul e da Ceilândia) e c) às unidades de transbordo (Brazlândia, Gama, Asa Sul e Sobradinho), seguindo posteriormente para os destinos ‘a’ e ‘b’. Do total de resíduos domiciliares da coleta convencional, aproximadamente 42% dos resíduos são destinados diretamente para a disposição final e 58% passam preliminarmente nas unidades de transbordo. As unidades de transbordo são instalações onde se faz a passagem dos

resíduos de um veículo coletor a outro veículo com capacidade de carga maior, que transporta o lixo até o seu destino final. Estas instalações podem resumir-se a uma simples plataforma elevada, dotada de uma rampa de acesso. [14] Ao avaliar as condições de infraestrutura e de operação das unidades de transbordo do DF, o PDGIRS afirma que todas elas operam atualmente em condições pouco satisfatórias. A estação de transbordo da Asa Sul utiliza para sua operação o mesmo local destinado para a UTMB, acumulando as duas funções, o que não é aconselhável. [14]

COMPOSTAGEM No DF, a atividade de compostagem dos resídu-

os orgânicos é realizada pelo SLU nas UTMBs, há uma na Asa Sul e uma na Ceilândia. Essas unidades têm por objetivo a separação dos materiais recicláveis e a produção de composto a partir dos resíduos sólidos orgânicos provenientes da coleta convencional. [15] Com as operações de processamento biológico desativadas por restrições técnicas na UTMB Asa Sul, após a primeira etapa da compostagem - processamento mecânico - , todo o composto cru produzido é disposto em leiras para maturação no pátio impermeabilizado da UTMB Ceilândia, que possui, segundo o SLU, espaço suficiente para o acondicionamento. [16] No primeiro semestre de 2018, foram produzidas 31,1 mil toneladas de composto cru nas duas unidades, de acordo com seu relatório[17]. Depois, foi autorizada a doação de 12.281 toneladas do composto para pequenos agricultores da região, os quais têm direito a uma cota de 90 t/ano. No entanto, os agricultores retiraram apenas 4.672 toneladas nesse período e não ocorreu nenhuma venda de composto. Não é, portanto, uma atividade lucrativa, sendo que nem a doação vem se mostrando profícua. A quantidade média processada nas UTMBs, em 2015, foi de 667 t/dia, o que representa uma eficiência de processamento de 25% do total dos resíduos coletados no DF. Porém, desse total processado, apenas 18,2% foi convertido em composto maturado, o que confere uma eficiência de, na verdade, 4,24% do total de resíduos gerados no DF.

Os rejeitos oriundos do processo completo de compostagem são encaminhados para o ASB. O PDGIRS ressalta que “o tratamento de resíduos por compostagem é uma prática reconhecida no mundo todo e em especial na Europa, porém pouco utilizada no Brasil”. E que, segundo pesquisa do IPEA, constante do Diagnóstico de Resíduos Sólidos Urbanos, em 2008 somente 3,8% das cidades brasileiras realizavam tratamento de resíduos domiciliares por compostagem e essa prática atendia apenas a 0,8% do total de resíduos gerados no país. A inexistência de indicadores para a compostagem dificulta uma avaliação comparativa entre cidades brasileiras, porém, o PDGIRS conclui que o processamento dos resíduos realizado no DF “está certamente entre os maiores índices do país”. [18]

[9] Codeplan, PDAD 2015/2016 [10] ABRELPE, 2011 [11] Plano Distrital de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos.Disponível em: http://www.sinesp.df.gov.

br/wp-conteudo/uploads/2018/03/PDGIRS.pdf

[12] Relatório de Atividades SLU 1.2018. Disponível em: http://www.slu.df.gov.br/wp-content/

uploads/2018/11/relatorio_atividades_primeiro_semestre_2018.pdf

[13] Idem, pg.14 [14] Disponível em: http://www.ufjf.br/engsanitariaeambiental/files/2012/09/ARTIGO_Esta%C3%A7%C3%A3o-de-transbordo.pdf

[15] Plano Distrital de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos. Disponível em: http://www.sinesp. df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2018/03/PDGIRS.pdf

[16] Idem. [17] Relatório de Atividades SLU 1.2018. Disponível em: http://www.slu.df.gov.br/wp-content/

uploads/2018/11/relatorio_atividades_primeiro_semestre_2018.pdf

[18] (PDGIRS)


Aterro Sanitário de Brasília (ASB) Aterro do Jóquei - Lixão da Estrutural Transbordo Papa Entulho Usina de Tratamento Mecânico Biológico (UTMB)

Destinação dos Resíduos: Transbordo Sobradinho (NUSOB) Transbordo e UTMB Asa Sul (NUSUL) Transbordo Gama (NUGAM) Aterro do Jóquei UTMB Ceilândia Transbordo Brazlândia (NUBRA)

Fluxo dos resíduos das unidades de transbordo e tratamento ao aterro.


Usuário gera resíduos

Papa Entulho 21 t/dia

Coleta Seletiva

Coleta Convencional

Prestador de serviço SLU

Prestador de serviço SLU

96 t/dia

Valor Ambiental

Recicláveis

2574 t/dia

Sustentare Saneamento

Compostagem

Comercialização dos recicláveis

Doação produtores rurais

94 t/dia

7,69 t/dia

Rejeitos

199 t/dia

30 t/dia

ASB

2295 t/dia

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1587 t/dia

Resíduos do Sistema de Saúde

Orgânicos e indiferenciados

Triagem 94 t/dia

Coleta ponto a ponto; Coleta porta a porta; Coleta em Papa lixo; Varrição de vias e logradouros públicos; Catação em áreas verdes; Resíduos de bocas de lobo

Resíduos da Construção Civil

ACJóquei 1936 t/dia

Coleta de resíduos DF Total: 4285,69 t/dia Dados SLU 1/2018


COLETA SELETIVA

A coleta seletiva dos resíduos começou oficialmente em 2014, nas 31 regiões administrativas do DF, com 32 caminhões percorrendo áreas urbanas e rurais apenas para recolher os resíduos recicláveis, em horários diferentes da coleta convencional. Nessa operação inicial, o objetivo era que os resíduos secos fossem encaminhados para quatro centros de triagem, os orgânicos para duas usinas de compostagem e o restante fosse para o Aterro Sanitário de Brasília, que estava sendo construído à época, em Samambaia. No Portal do Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), é disponibilizado um mapa com indicação dos locais onde há a coleta seletiva, além de algumas instruções para as pessoas beneficiadas pelo serviço. Aconselha-se colocar os materiais recicláveis (papel, papelão, plástico, isopor e metal) em um saco “de preferência da cor verde ou azul”, e os “restos de comida, borra de café, fralda descartável, papéis gordurosos, lixos de banheiro e o vidro que, por enquanto, não é reciclado no DF devido ao custo do frete” em saco preto ou cinza. O trecho encontra-se transcrito tal qual no portal do SLU, sendo que a referência ao “custo do frete” diz respeito à ausência de empresa recicladora de vidro no DF, sendo a mais próxima localizada em São Paulo, tornando inviável a reciclagem desse material pelo sistema público local. Ainda segundo informações oficiais do SLU, já foram estabelecidos 28 contratos com 22 cooperativas e associações de catadores, para os serviços de triagem e de coleta seletiva. A Asa Norte e Sul do Plano Piloto são áreas geridas pela cooperativa Valor Ambiental. A empresa Sustentare Saneamento é a responsável pelo restante da coleta, a convencional. Para os serviços de manejo dos resíduos sólidos, foram pagos do SLU à Valor Ambiental R$ 6.808.819,09 mensais (coleta seletiva) em 2015, e R$ 16.298.415,30 mensais à Sustentare Saneamento (coleta convencional). O DF conta, ainda, com Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), os chamados “Papa Entulho”, em que entulho, podas, resíduos volumosos, materiais recicláveis e óleo de cozinha usado podem ser recebidos diariamente, na quantidade de até 1 m³, mas apenas nas RAs de Ceilândia, Taguatinga, Brazlândia, Gama, Guará e Planaltina. A composição gravimétrica dos resíduos do DF, levantada pelo SLU em 2015, apontava a presença de 20% de resíduos recicláveis na coleta convencional na Asa Norte e Sul do Plano Piloto e de quase 30% de rejeitos e resíduos orgânicos na coleta seletiva da mesma área, algo que prejudica muito o desempenho geral do sistema em funcionamento.

ATERRO SANITÁRIO DE BRASÍLIA (ASB)

A extensão total do ASB é de aproximadamente 760.000 m² ou 76 ha, sendo que a área para implantação do aterro é de aproximadamente 490.000 m² ou 49 ha. Este último espaço concentra os locais de disposição de rejeitos (320.000 m² ou 32 ha), locais administrativo -operacionais, além da estação de recalque de chorume e da área para disposição emergencial de resíduos sólidos de serviços de saúde, ainda não implementada. Adjacente ao ASB, existe uma gleba de aproximadamente 60 ha prevista para a sua ampliação. Com a incorporação dessa área, a dimensão total do ASB passaria a ser de aproximadamente 136 ha. Para a estimativa da vida útil de cada etapa foi considerada a demanda mensal média de 51.000 toneladas de resíduos, resultando em uma vida útil inicial de aproximadamente 13,3 anos. Considerando a capacidade total de recebimento de rejeitos informada no projeto, 8.130.000 toneladas, e a demanda mensal de rejeitos gerada atualmente de 64.000 toneladas/mês, a vida útil do aterro seria, portanto, de aproximadamente 127 meses, ou seja, 10 anos. [18]

PROJEÇÃO DE CENÁRIOS

O PDGIRS projeta, depois de seu extenso diagnóstico, uma série de cenários possíveis em termos de geração de resíduos no DF, calculando inclusive quantidades em termos numéricos: Ano de 2020: 1.246.997t, geração anual | 593.154t de matéria orgânica total Ano de 2037: 1.447.787t, geração anual | 699.860t de matéria orgânica total

Uma observação importante a se ressaltar, é que o PDGIRS, em suas projeções de cenários, conta com a redução da geração de resíduos, ainda que haja aumento populacional, o que se justifica no documento da seguinte forma: (...)a partir da sensibilização e incentivo a práticas de consumo consciente, utilização de técnicas de redução na geração dos resíduos e adoção de atitudes positivas em relação ao descarte de resíduos recicláveis, orgânicos e sujeitos a logística reversa. [18]

Dentro do Subprograma de Minimização de Resíduos Domiciliares, o plano propõe ainda o desenvolvimento de estudos de viabilidade para “parceria em projetos de pagamento pela devolução de resíduos, a exemplo de embalagens de garrafas de vidro, latas de alumínio, entre outros materiais; projeto de compostagem doméstica, de forma a reduzir a quantidade do descarte de resíduos orgânicos; projeto de certificação de produtos, com vistas ao uso de embalagens retornáveis”, entre outras, sendo essas as propostas que mais se mostram relevantes no âmbito deste trabalho.

Imagem: Aterro Sanitário de Brasília. Breno Fortes/Correio Braziliense

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compostagem ( parte 1 )

Compostagem O que é?

Visita técnica Eldorado Cálculos para o projeto

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o que é? RESÍDUOS ORGÂNICOS

A compostagem é o processo de transformação de matéria orgânica em composto para ser usado como adubo, utilizado, por sua vez, para melhorar a qualidade do solo, em produção agrícola ou jardinagem. Quando se relaciona ao lixo, ela é o processo correspondente à reciclagem dos resíduos sólidos orgânicos. Nesse sentido, segundo manual do Ministério do Meio Ambiente: Para os serviços de manejo de resíduos sólidos, o objetivo não é exatamente produzir adubo – o que move o processo não é o produto, mas o fato de que a matéria orgânica presente no lixo pode ser transformada e reaproveitada, desviando resíduos que normalmente teriam que ser aterrados. [1]

A decomposição da matéria orgânica no processo de compostagem ocorre por meio da digestão aeróbia feita por microorganismos, o que depende de condições de temperatura, umidade, da presença de ar e água. Por se tratar de processo biológico, essas condições devem receber a devida atenção, juntamente com os nutrientes que compõem a matéria orgânica a ser compostada. Ainda segundo o referido manual:

Os resíduos sólidos urbanos apresentam boas condições para a compostagem e um bom equilíbrio pode ser obtido com a utilização de uma parte de resíduos de frutas, legumes e verduras e três partes de resíduos de poda e jardinagem. [1]

O processo, além da decomposição, possui as fases de maturação e de degradação, quando o composto está pronto para sua destinação. O composto produzido a partir dos resíduos orgânicos deve receber acompanhamento em laboratório de seu nível de toxicidade e de seu pH, principalmente se for utilizado no cultivo de alimentos, a fim de que não haja problemas de saúde para os consumidores desses alimentos.

O PROCESSO

Há algumas formas diferentes de se realizar compostagem em ambiente urbano, e formas novas surgem a cada dia. Falando em grande escala, o processo natural demanda pátios impermeabilizados de grandes dimensões, além de um tempo maior para ocorrer e para a 30

maturação do composto atingir o estado adequado. O processo controlado, que ocorrre em uma máquina composteira, o tambor, demanda menos tempo e espaço para ocorrer, ainda que requeira energia mecânica (para mover o reator) e térmica (para aquecê-lo), o que pode ser equivalente a uma demanda de energia elétrica ou não, dependendo dos métodos de que se dispõe. Além disso, no processo controlado, podem ser necessários alguns aditivos como serragem e cal virgem, sendo que enzimas são utilizadas em alguns casos, a fim de acelerar ainda mais o processo. No âmbito deste trabalho, e após uma visita técnica ao Eldorado, edifício que possui sua usina interna controlada de compostagem, foi selecionado esse processo para ser utilizado. Deve-se especificar um local para recebimento dos resíduos orgânicos, para sua triagem, trituração e pesagem. No local do tambor, uma exaustão de ar deve ser prevista, além de algum simples isolamento acústico, dada a proximidade de área residencial. Há ainda um tipo de processo de compostagem, falando da pequena escala, que pode ocorrer para pouco volume de resíduos e pode ser comportado em pouquíssimo espaço: as composteiras caseiras ou minhocários. Sobre os organismos participantes no processo de compostagem, tem-se:

[1] Manual para implantação de compostagem e coleta seletiva no âmbito dos consórcios públicos, MMA, 2010, página 8. Disponível em: http://www.mma.gov. br/estruturas/srhu_urbano/_arquivos/3_manual_ implantao_compostagem_ coleta_seletiva_cp_125.pdf

[2] Disciplina de doutorado “Matéria Orgânica do Solo”, USP 2008. Disponível em: https:// www.agencia.cnptia. embrapa.br/Repositorio/ Compostagem_000fhc8nfqz02wyiv80efhb2ad n37yaw.pdf

A transformação da matéria orgânica é resultante da ação combinada da macro e mesofauna (minhocas, formigas, besouros e acáros) e de diferentes comunidades de microrganismos (incluindo bactérias, actinomicetas, leveduras e fungos) [2]

[3] “O que vai pra compostagem”, site da empresa Destino Correto. Disponível em: https://www.destinocorreto.com/

Os materiais que podem ser compostados incluem restos de frutas, legumes e verduras, cascas de ovos, borra de café, e outros restos de alimentos. Além de insetos mortos, resto de ração para animais, pelos de animais, grama cortada, flores e plantas, aparas de lápis, giz de cera, serragem, cinzas de churrasqueira, fósforos, palitos de dente. Ainda alguns tipos de papel como guardanapos, papel toalha, filtros de café, papelões como rolos de papel higiênico e de papel toalha. A poeira da limpeza doméstica, a sujeira do aspirador de pó e algodões inutilizados também são passíveis de serem compostados. Quanto aos laticínios, peixes, carnes e ossos, há restrição: apenas os congelados podem ser utilizados na compostagem. [3]

[4] Imagem: Compostagem no Tribunal de Justiça do Pará (TJPA). Disponível em: http:// www.tjpa.jus.br/PortalExterno/imprensa/noticias/Informes/628766Compostagem-.xhtml


visita técnica eldorado PROJETO TELHADO VERDE

O Shopping Eldorado, na cidade de São Paulo, realiza a compostagem de seus resíduos orgânicos e usa o composto como adubo em um telhado verde, onde são plantados legumes, verduras, ervas e temperos. São quase duas toneladas de restos de alimentos jogados diariamente no lixo das praças de alimentação do shopping. A compostagem é feita em local dentro do próprio estabelecimento.

O Projeto Telhado Verde começou em 2012 no Shopping Eldorado, em São Paulo. Na praça de alimentação, em pequenas ilhas, os funcionários realizam a triagem dos restos de alimentos e embalagens nas bandejas dos clientes. Os restaurantes, por sua vez, são responsáveis por essa separação dentro de cada estabelecimento. Eles recebem, da mesma forma, a recomendação de separar também o que é muito ácido (restos de cítricos, como limão, laranja etc), para que se torne mais fácil equilibrar o ph do composto final (Ph muito ácido faz mal para as plantas, impedindo seu crescimento). Os resíduos orgânicos são, então, transportados desse ambiente para a usina, em contentores móveis. Na usina, a equipe responsável faz uma última triagem negativa, retirando o que não se adequa. Em seguida, os resíduos são pesados em uma balança, passam por um triturador e vão para a máquina principal de compostagem, onde são misturados apenas com serragem e cal virgem (anteriormente utilizavam enzimas, agora não mais). São processados atualmente de 1 a 2 toneladas de resíduos orgânicos por dia em uma única máquina, um único tambor. Ele suporta teoricamente 1 tonelada por vez e permanece 24h fazendo o processo, em uma temperatura de 170 graus e em movimento constante. A sala onde tudo isso acontece, a usina, possui aproximadamente 54 m² (9 x 6 metros), possui uma exaustão apenas ligada à máquina principal. No local há um odor considerável, mas que se pode facilmente suportar. O composto, depois das 24 horas, descansa por 30 dias do lado de fora dessa sala, em contentores semelhantes aos da coleta, antes de ir para o telhado. O telhado verde começou em uma área pequena e já passou por várias ampliações, a partir da experimentação de quais cultivos vingam e de quais não se adaptam ao local. Não são utilizados agrotóxicos, nunca houve registro de pragas que atacassem as culturas ali implantadas - o especialista afirma que isso provavelmente se deve à altura do edifício. Atualmente os cultivos incluem variedades de alface, pimentão, ervas, abóbora; frutíferos como amora e jambo (em pequenas árvores), além de flores como lavanda. Para a colheita, o setor operacional avisa o RH, que manda email para os funcionários. Eles mesmos colhem, se quiserem, o que quiserem. O shopping tem 500 funcionários, e tudo se consome. Antes de implantar o projeto, realizou-se um levantamento da estrutura e da impermeabilização do edifício. Não houve necessidade de se implantar impermeabilização especial para o projeto. A cada 2 anos, essa impermeabilização já acontece dentro de uma manutenção rotineira do prédio. Há uma área onde são separados os recicláveis secos. Para esse tipo de resíduos, foi feita uma parceria com uma cooperativa: eles fazem a triagem e levam os resíduos, sendo toda a responsabilidade atribuída a eles. Além disso tudo, o Eldorado está em fase de testes para implantar o reuso de águas cinzas e o tratamento do esgoto também no local.

Projeto Telhado Verde - Shopping Eldorado São Paulo. Fotos da autora

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cálculos para o projeto POPULAÇÃO

A primeira etapa do cálculo diz respeito à quantidade aproximada de habitantes por superquadra. Para isso, a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), da CODEPLAN, de 2016, foi utilizada, as informações mais atuais sendo as seguintes: População do Plano Piloto: 220 393 habitantes População da Asa Norte: 116 774 habitantes

Nas superquadras, considera-se 2,64 moradores por domicílio (número para o Plano Piloto em geral). Então, a quantidade de habitantes por superquadra foi calculada da seguinte forma, considerando a tipologia edilícia predominante na Unidade de Vizinhança 305/304/105/104 norte: 8 aptos/pavimento, 6 pavimentos (para quadras 100 e 300), 48 aptos/bloco, 11 blocos, 528 aptos/superquadra, 2,64 moradores por apto = 1394 habitantes/superquadra Habitantes por Unidade de Vizinhança (4 superquadras): 1394 x 4 = 5576 habitantes/UV

GERAÇÃO DE LIXO Resíduos Sólidos Domiciliares (RDO)

A segunda etapa do cálculo diz respeito à quantidade aproximada de resíduos sólidos gerados por superquadra. Para isso, o PDGIRS, de 2018, foi utilizado, as informações mais atuais sendo as seguintes: O DF possui índice de geração de RDO de 0,88 kg/hab/dia (dado de 2015) 0,88 kg/hab/dia x 1394 habitantes/superquadra = 1226,72 kg/superquadra/dia (total) 0,88 kg/hab/dia x 5576 habitantes/UV= 4906,88 kg/UV/dia (total)

Então, cada Unidade de Vizinhaça gera por dia 4906,88 kg de resíduos sólidos no total. Porém, deseja-se calcular quanto desse resíduo total é compostável, consultando-se a seguir a Composição Gravimétrica indicada no Relatório de Atividades mais recente do SLU que traz essa informação, o de 2015: Resíduos orgânicos alimentares/jardins = 54,44% da coleta convencional (asa norte)

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Se considerarmos, então, que 54,44% do lixo é referente a resíduos orgânicos alimentares e de jardins (ou seja, suscetíveis a compostagem) na Asa Norte, então tem-se:

667,82 kg de resíduo orgânico para compostagem/superquadra/dia 2671,30 kg de resíduo orgânico para compostagem/UV/dia

ORIENTAÇÕES a. Experiência do Eldorado - modelo mecânico: 1000 a 2000 kg de resíduos orgânicos por dia. O tambor permanece 24h com calor e movimento, realizando a primeira etapa do processo. Cada 100 kg geram 40 kg de composto orgânico cru, que são colocados em contentores e descansam por 30 dias, para ocorrer a maturação. O composto maturado é levado a uma área de 2 mil metros quadrados, o telhado verde do próprio edifício. b. Manual do MMA - modelo natural: Para 1 tonelada por dia de resíduos orgânicos, é necessário um pátio impermeabilizado de cerca de 765 metros quadrados, dimensionado para 120 dias de maturação do composto cru.

DIMENSIONAMENTO

Para 2671,30 kg de resíduos orgânicos compostáveis por dia (o volume gerado em uma Unidade de Vizinhança), aproximando-se para 3t, são necessárias três tambores, cada um processando 1t/dia e ocupando um espaço aproximado de 50 m². Portanto, são necessários aproximadamente 150m² para a primeira etapa do processo no caso deste projeto. Cada tonelada gera 400 kg de composto (pois há perda por decomposição), ou seja, tem-se 1200 kg de composto cru que deve maturar por 30 dias. O espaço de armazenamento necessário para 36 toneladas de composto (30 x 1200 kg) deve ser também previsto. O armazenamento será feito em contentores com capacidade para 400 kg (100 litros), cujas dimensões são 1,55 x 1,00 x 1,4 metros. São necessários 90 contentores para as 36 toneladas.


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agricultura urbana ( parte 1 )

agricultura Urbana

O que ĂŠ? Agricultura urbana por aqui

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o que é? Agricultura urbana é a denominação para uma produção agrícola que ocorre em meio urbano, em diversos modelos possíveis, como em terraços verdes, canteiros em jardins, em partes de edifícios multifuncionais, em edifícios exclusivamente voltados a essa produção, em quintais residenciais, entre outras formas.

POR QUE ISSO AGORA?

Segundo o Instituto Lixo Zero[1], 1/3 dos alimentos produzidos no mundo é jogado fora. Essa informação em números também é informada pela ONU:

(...)a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil alertou que, anualmente, 1,3 bilhão de toneladas de comida é desperdiçada ou se perde ao longo das cadeias produtivas de alimentos. [2]

De acordo com AMARAL, esse desperdício pode ser diagnosticado da seguinte forma:

Para o produtor agrícola, o transporte de produtos perecíveis, o manuseio indevido e a deficiência gerencial e administrativa dos atacadistas resultam em perdas aproximadas de 5,6 milhões de toneladas por ano no âmbito nacional, no caso das hortaliças (CENCI, 2013). Cerca de 30% da produção é desperdiçada no “pós-colheita”, sendo esta a média mundial (GANDRA, 2015). [3]

Alguns estudiosos do assunto avaliam que em se criando núcleos policêntricos de abastecimento alimentar alguns desses problemas que causam desperdício da produção de alimentos - como os de transporte e distribuição - seriam evitados. A agricultura em meio urbano pode trazer diversas outras vantagens para a cidade, como a melhoria na mobilidade e circulação, aproximando a produção agrícola do consumidor final; a descentralização da distribuição desses produtos agrícolas; a ampliação do acesso a alimentos orgânicos e frescos; a redução de tempo dos elos da cadeia produtiva – maior atratividade (AMARAL, 2018), além de melhorias no conforto ambiental e psicossocial de edifícios multifuncionais, caso esteja atrelada a outros usos.

FAZENDA VERTICAL

Nos diversos modelos de agricultura urbana, há também diversas técnicas de cultivo possíveis de serem utilizadas: jardineiras com solo, hidroponia e até aeroponia, configurando diferentes escalas de aplicação, desde as menores hortas comunitárias, até a produção em larga escala como nas fazendas verticais. Como os exemplos de edificação geralmente são relacionados a esse modelo (e a essa denominação de fazendas verticais), buscou-se algumas informações sobre as fazendas construídas e em funcionamento. Foi em Singapura que a primeira fazenda vertical comercial do mundo entrou em funcionamento. Com estrutura metálica modular, 120 módulos de alumínio formando um edifício de 3 andares (9 metros de altura), usando iluminação natural e sendo protegido do ar livre por um sistema de estufas, a Sky Greens cultiva três tipos de vegetais folhosos, produzindo de meia tonelada de vegetais por dia. A estrutura não compõem uma edificação complexa, sendo apenas de produção agrícola. [4] Por sua vez, a empresa Aerofarms [5], com sede em Nova Jersey, Estados Unidos, possui diversos edifícios no modelo fazenda vertical, também construídos e em funcionamento, mas com uma complexidade maior de programa. O sistema dessa empresa, que atua desde 2004, é patenteado, e utiliza o cultivo aeropônico com uma produção agrícola em ambiente completamente fechado e controlado, inclusive com iluminação artificial. O edifício de escritórios da empresa Pasona, em Tóquio, dedicou 20% de sua área para a produção agrícola de espécies vegetais, frutas, legumes, flores, tornando-se a maior fazenda urbana do Japão. O projeto é do escritório Kono Designs, e conta com áreas de cultivo integradas aos demais ambientes, como as salas de escritório, restaurantes e locais de convívio. [1] Fundado em 2010, O ILZB representa no Brasil a ZWIA – Zero Waste International Alliance, movimento internacional de organizações que desenvolvem o conceito e princípios Lixo Zero no Mundo. [2] Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agriculutra (FAO), 2017. Disponível em: https://nacoesunidas.org/fao-30-de-toda-acomida-produzida-no-mundo-vai-parar-no-lixo/ [3] AMARAL, USP, 2018 [4] Disponível em: http://www.ecoeficientes.com.br/

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[5] Disponível em: https://aerofarms.com/ Imagem desta pg.: Fazenda Vertical em Singapura. Disponível em: https://aerofarms.com/ Imagens da página ao lado: Escritório Pasona em Tóquio. Disponível em: https://architizer.com/projects/pasona-hq-tokyo/


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agricultura urbana por aqui

AMARAL, em tese de doutorado da USP de 2018, avaliando a possível implantação de fazendas verticais no Brasil, ressalta informações de extrema importância no âmbito deste trabalho: No processo de produção agrícola urbana, com apoio financeiro local, estufas e operações podem atingir setores residenciais, por meio de projetos de usos mistos; comerciais, quando a produção está associada a restaurantes, supermercados e hortifrútis; e institucionais, quando a produção agrícola é instalada em ambientes culturais ou escolas para incentivo ao aprendizado desse novo setor. Na etapa de processamento e distribuição, empresários dos setores de produção e distribuição podem firmar parcerias, conectando varejo e atacado, em curtas distâncias, assim como setores públicos, incentivando o consumo de alimentos frescos em escolas públicas e organizações. E, por último, em relação à etapa de resíduos, como se trata de um sistema com o circuito fechado e o resíduo orgânico é utilizado na própria produção sob a forma de insumos/nutrientes, o impacto na coleta de lixo, em lixões e cooperativas de tratamento de recicláveis é substancial. Essas atividades poderão ter suas funções reduzidas, abrindo espaço para novas atividades e mercados. As vantagens proporcionadas pela produção agrícola em meio urbano agregam valor econômico a outras atividades, como algumas das citadas acima, além de gerar também o reflexo indireto na qualidade de vida e saúde da população. [3]

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CEPAGRO - BRASIL Em Santa Catarina, em 1990, foi fundado o CEPAGRO - Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de

Grupo, uma ONG formada por pequenos agricultores e produtores locais, objetivando criar uma rede que viabilizasse a agricultura familiar. Atua hoje em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, auxiliando na extensão universitária, principalmente com seus projetos de agricultura urbana e agroecologia. Um deles, denominado “A Revolução dos Baldinhos”, diz respeito à união entre a gestão comunitária de resíduos orgânicos e a agricultura urbana. Segundo eles: No Brasil a Agricultura Urbana faz parte do Programa Fome Zero e possibilita a produção de alimentos de forma comunitária com uso de tecnologias de bases agroecológicas em espaços urbanos e peri-urbanos ociosos. Com a mobilização comunitária, em especial com atuação das prefeituras, são implementadas hortas, lavouras, viveiros, pomares, canteiros de ervas medicinais, criação de pequenos animais, unidades de processamento/beneficiamento agroalimentar e feiras e mercados públicos populares. Os alimentos produzidos são destinados para auto-consumo, abastecimento de restaurantes populares, cozinhas comunitárias e venda de excedentes no mercado local, resultando em inclusão social, melhoria da alimentação e nutrição e geração de renda. [6]

COE DF

Segundo o Código de Obras e Edificações do Distrito Federal, é dispensada do processo de licenciamento a implantação de agricultura urbana, realizada dentro dos limites do lote ou da projeção. Além disso, essa lei determina que “as obras iniciais, de reforma ou requalificação das edificações públicas devem atender aos requisitos de sustentabilidade e eficiência energética, de acordo com a legislação específica”, inclusive para agricultura urbana e telhados verdes. No Glossário, em ane-

xo único da referida lei, a definição de agricultura urbana é a seguinte: Agricultura praticada em cidade ou metrópole, cultivando, produzindo, criando, processando e distribuindo diversidade de produtos alimentares e não alimentares, utilizando os recursos humanos e materiais, produtos e serviços encontrados dentro ou em redor da área urbana. [7]

[6] Disponível em: http://www.cepagro.org. br/agricultura-urbana/ 2017/2018 [7] COE DF, 2018. Art 23 Imagem desta pg.: CEPAGRO e suas atividades de educação ambiental com compostagem (Revolução dos Baldinhos). Disponível em: http://juntos.com.vc/ pt/baldinhos


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( parte 2 )

projeto (pré) coleta Estratégias Mapas Impacto Pontos de coleta

projeto

estação de compostagem Programa de necessidades Diretrizes Diagnóstico Referências arquitetônicas Partido Zoneamento Estrutura Implantação Plantas Detalhes Cortes Fachadas

(pós) agricultura urbana Modelos Simulações Unidade de Vizinhança 305 norte

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(prĂŠ) a coleta

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DÁ PRA SER MELHOR

O atual modelo de coleta dos resíduos gera impactos negativos, tanto econômicos, quanto ambientais e sociais. Possui alto custo de operação, há necessidade de manutenção e compra de caminhões e alto consumo de combustível por eles (óleo diesel, geralmente). Segundo o SLU, no relatório de atividades de 2018, a coleta convencional custa 153,68 reais a tonelada, enquanto a disposição final dos resíduos sólidos no Aterro de Brasília custa 92,95 reais a tonelada (e os valores se somam, caso não tenha ficado claro). [1] Os caminhões emitem poluição de todas as formas, incluive sonora, além de piorarem a situação do tráfego de veículos nas vias locais. A questão do tráfego possui ainda um agravante no Plano Piloto, onde, pelo desenho viário de ruas e quadras com acesso único, os caminhões realizam inúmeros percursos repetitivos. Há outro grave problema que consiste na qualidade de trabalho dos funcionários que operam a coleta, expostos ao mau cheiro dos resíduos, à emissão de gases dos veículos e aos possíveis acidentes. Na Europa, por exemplo, a taxa de acidentes para os coletores de caminhão de lixo é 2,75 vezes maior do que a média de todos trabalhadores industriais. [2]

COMO? ​“Alguns países da Ásia vêm adotando um

novo modelo de compostagem em substituição às grandes usinas. A proposta é tratar os resíduos em uma escala menor e que a planta esteja localizada próxima ao local no qual o resíduo foi gerado. O objetivo é melhorar não só a gestão dos resíduos sólidos nesses países, a partir de iniciativas locais da comunidade, mas também a qualidade de vida da população.” [3]

“As plantas descentralizadas de compostagem poderiam gerar também mais postos de trabalho, além de proporcionarem oportunidade de empreendimento para que pequenos empresários possam participar do mercado de reciclagem e compostagem de resíduos” [4]

ESTRATÉGIAS

A proposta deste trabalho, então, em suas escalas urbana e arquitetônica, engloba algumas estratégias para o Plano Piloto de Brasília: 1. (pré) a alteração do sistema de coleta dos Resíduos Sólidos Domiciliares nas superquadras e comércios locais; 2. a realização de compostagem da fração orgânica desses resíduos nas Estações de Compostagem das Unidades de Vizinhança; 3. (pós) a indicação de locais nas asas para realizar agricultura urbana, sendo uma destinação final mais próxima para o composto produzido na compostagem, fechando o ciclo. Nessa parte, são exemplificados alguns modelos possíveis de serem implantados em conformidade aos parâmetros específicos dos diversos setores da cidade.

A intenção é que se forme uma rede organizada que, compondo com a atual gestão dos resíduos, contribua para atenuar os impactos negativos da coleta e do transporte, provocando economia em várias dimensões, mas, em última instância, aumentando a vida útil do Aterro Sanitário de Brasília. O primeiro ponto a esclarecer é: com a pesquisa realizada, pôde-se concluir que, para tornar as cidades mais sustentáveis, além de gerenciar estrategicamente os recursos disponíveis, os governos municipais devem implementar programas de educação e conciência ambiental para a população, para que as propostas de coleta funcionem. Propostas isoladas não são suficientes para garantir nenhuma solução para os atuais problemas das cidades. As etapas de coletar, transferir e transportar formam o processo de coleta como um todo. A primeira etapa ocorre nas residências, nos comércios locais, quando há consumo, geração de resíduos e quando eles devem ser separados em resíduos compostáveis e não compostáveis. Para os primeiros, deve-se fazer a separação dos materiais plásticos, papéis, vidros, metais e dos rejeitos. Estes últimos, também chamados “indiferenciados” devem ser a menor fração possível. A fração compostável, orgânica, seria coletada por seus geradores em sacolas biodegradáveis, já utilizadas em países como a Finlândia, a Holanda e a Itália, por poderem ser compostadas junto com o lixo. A segunda etapa seria, então, a transferência para os pontos de coleta, organizados também separadamente de acordo com o tipo de resíduo. A terceira etapa consiste no recolhimento dos resíduos nos pontos de coleta pelos veículos referentes ao tipo de resíduo. No caso desta proposta, todos seriam recolhidos separadamente: Orgânicos Compostáveis: Pontos de coleta ao longo da via w1 Coleta feita por veículo das Estações de Compostagem. Esse veículo seria elétrico e de pequeno/médio porte e seria um único para as 7 estações da faixa estudada, a das quadras 100-300 norte; Não compostáveis: Pontos de coleta ao longo da via w2 e eixinho. - Plásticos, papéis, metais, vidros: a nova rota facilitaria a aplicação de uma logística reversa, em parceria com as indústrias produtoras de embalagens, que poderiam com seus próprios veículos recolher esses materiais nos pontos de coleta determinados; - Rejeitos: recolhidos por caminhão do SLU, que os levaria para o Aterro Sanitário de Brasília. Esta deve ser a menor fração possível.

Essa terceira etapa (recolhimento dos resíduos nos pontos de coleta pelos veículos referentes ao tipo de resíduo) é representada no mapa que se segue, em que são comparados o modelo atual e a proposta. Além disso, são exemplificados os pontos de coleta, padronização dos recipientes de coleta de lixo. A utilização de vasilhames especiais para a coleta de resíduos é relatada pela primeira vez na Alemanha, no início do século XIV, conforme anteriormente exposto. Segundo EIGENHEER: A questão da cobrança pelo recolhimento do lixo e o uso de vasilhames adequados é, até os dias atuais, um tema decisivo na limpeza urbana. Sem uma padronização desses utensílios tornam-se difíceis o controle, a coleta e mesmo a cobrança de taxas [5]

LIMITAÇÕES

Alguns tipos de lixo não foram objeto de estudo deste trabalho, por suas características de composição e origem, as quais demandam uma análise, normativas e destinações específicas, à atenção de profissionais especializados. São eles os resíduos perigosos, os provenientes da construção civil, os eletrônicos, os resíduos do sistema de saúde e os radioativos. Os resíduos radioativos, por sua vez, não estão incluídos nem na classificação da NBR 1004, nem na Política Nacional de Resíduos Sólidos, por terem tratamento exclusivo em outras normativas, de competência exclusiva da Comissão Nacional de Energia Nuclear. [1] Relatório de Atividades SLU 1.2018. Disponível em: http://www.slu.df.gov.br/

wp-content/uploads/2018/11/ relatorio_atividades_primeiro_semestre_2018.pdf

[2] Törnblom, Jonas, 2011 apud Santos, Santos, Menten 2014 - “ Projeto conceitual de um sistema de coleta pneumática de resíduos sólidos”. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - Curso de Engenharia Ambiental. [3] IPEA 2012 [4] Enayetullah e Maqsood, 2001 apud IPEA 2012 [5] EIGENHEER “A História do Lixo”, 2009 [6] Todas as imagens das próximas páginas: Idem. 43


Veículo coletor da fração orgânica Sistema de Coleta Seletiva de Lixo em separação tríplice Charlottenburg, Alemanha, 1903.

Mecanismo para transferência de lixo evitando poeira Alemanha

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Vasilhames padronizados Alemanha


Bonde para coleta de lixo Alemanha

VeĂ­culos coletores de lixo Alemanha, 1928

VeĂ­culos coletores de lixo Alemanha, 1910

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coleta

Resídos Sólidos Domiciliares Asa Norte | faixa 100-300

2

via w

1

via w

ho

atual

eixin

Trajeto atual dos caminhões (6 + 3 vezes por semana)

1

2

via w

Lotes PLL selecionados 1

via w

ho

eixin

2

via w

1

via w

2

ho

eixin

1

proposta 1

500 m

Trajeto coleta orgânico Ponto de coleta orgânico Estação de compostagem

Área de influência do ponto de coleta

2

2

300 m 46

100

200 m

300 m

Trajeto coleta resíduos não compostáveis divididos em: rejeito, papel, plástico, vidro, metal Pontos de coleta não compostáveis

400 m 0

100

200

500m


1 500 m

O veículo a realizar a coleta dos resíduos orgânicos, nesta proposta, não seria um caminhão de lixo comum. A ideia é que ele seja um veículo bem menor, tendo em vista que necessita de menor capacidade de carga, que ele seja elétrico e que tenha um design próprio, o qual permita praticidade e conforto na coleta. Há diversas ideias de veículos como esse, como a da imagem, elaborada pelo designer polonês Michał Markiewicz. [7] Desta forma, os impactos no tráfego, a poluição visual e sonora, os acidentes de trabalho, todos seriam minimizados.

2 300 m

300 m

400 m

100

200 m [7] Imagem do veículo elétrico para recolhimento de lixo. Disponível em: https://www. coroflot.com/markiewicz/ multifunctional-waste-collection-vehicle

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impacto

HOJE

PROPOSTA

(indicadores do primeiro semestre de 2018 em informações prestadas pelo Serviço de Limpeza Urbana do DF)

(considerando as Estações de Compostagem nas Unidades de Vizinhança, a instalação dos novos pontos de coleta e as novas rotas de coleta)

CAMINHÕES DE LIXO

(cálculos aproximados para a faixa 100|300 norte - a do mapa anterior, da proposta)

70 km rodados, em percursos repetitivos e ineficientes 77,68 kg de CO2 POLUIÇÃO (considerando fator de emissão mínima de CO2 do diesel como 3,33 kgCO2 /litro)

13,32 kg de CO2

R$13.354,09 por ano apenas com combustível CUSTO (considerando que os atuais caminhões fazem 3km/litro, e o diesel custa R$2,16/litro)

R$2.289,6 por ano com combustível

Taxa de recuperação dos resíduos sólidos coletados: 10,98%

Geração de aproximadamente menos 2671,30 kg por dia de rejeitos por UV: diminuição em 4% da demanda atual, aumentando a vida útil do ASB;

Taxa de disposição final em aterro sanitário:

91,13%

2.295 t de rejeitos por dia para disposição final no Aterro Sanitário de Brasília Demanda atual de 64.000 t/mês de rejeitos:

vida útil do ASB = 10 anos Destinação final (ASB) a 40

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6,5 km para o veículo elétrico das Estações 12 km para os outros caminhões de recolhimento

km das superquadras do Plano Piloto

Doação de 12.281 t de composto orgânico produzido nas UTMBs para pequenos agricultores da região autorizada: Agricultores retiraram apenas 4.672 t

Impacto social e educativo pela aproximação do problema ao cotidiano da população, acostumada a não enxergá-lo. Destinação final próxima da geração, para os orgânicos Aproveitamento de 100% do composto orgânico produzido, no próprio local ou em locais próximos, nas instalações de agricultura urbana nas Entrequadras, nas hortas das escolas classe e em outros modelos que serão apresentados.


Simulação de um ponto de coleta de resíduos orgânicos ao longo da via w1

Os pontos de coleta seriam a padronização dos recipientes de recolhimento de lixo, separados, como dito anteriormente, por tipo de resíduo. Eles seriam depósitos com uma parte enterrada, que diminuiria o impacto visual e espacial nos locais onde seriam colocados, além de isolar o lixo coletado. Um sistema de virador acoplado nos caminhões seria utilizado para retirar os resíduos. As escotilhas foram imaginadas com 20 a 30m³ de capacidade, a partir das pesquisas realizadas. Uma outra observação é que, a exemplo das paradas de ônibus de Brasília, essas podem (devem!) ser peças harmônicas ao todo da cidade, integrando-se visualmente ao espaço público a que passarão a pertencer. Simulação de um ponto de coleta de resíduos não orgânicos, separados em 5 tipos, ao longo do eixinho 49



estação de compostagem da unidade de vizinhança 305 norte

51


ESTAÇÃO

Em sua escala arquitetônica, este projeto é uma Estação de compostagem da Unidade de Vizinhança composta pelas superquadras 305, 304, 105 e 104 norte. No processo da compostagem deve-se observar as normas do CONAMA para níveis de toxicidade do composto produzido. Tendo em vista que há uma parte do composto que pode ser imprópria para a produção de alimentos, outras soluções são vislumbradas, como o seu aproveitamento para jardinagem urbana, a produção de flores e plantas ornamentais. Outra observação importante é a de que a compostagem configura um uso industrial e, portanto, seria passível de licenciamento ambiental para sua implantação, não sendo inicialmente um uso previsto para essa localidade. Uma das perguntas “que não quer calar” é se esse processo produz odores fortes que podem gerar incômodos em sua vizinhança. Quanto a isso, depois que os resíduos são triturados e misturados a serragem e cal, há uma amenização dos odores, sendo que, de qualquer forma, o espaço onde ocorre a primeira etapa da compostagem, a decomposição, é um local isolado, onde há salas com filtros de ar, sendo somente posterior a exaustão desses gases. No projeto, como havia a disponibilidade de subsolo, optou-se por alocar toda a parte operacional nesse nível inferior, para resolver quaisquer questões de isolamento acústico, térmico, olfativo, visual. A exaustão, por fim, ocorre no jardim central do edifício, amenizando ainda mais seu possível impacto. O programa de necessidades foi criado a partir das demandas espaciais para realização do processo de compostagem, das demandas por espaços complementares de funcionamento do edifício e a partir da intenção de já aplicar a agricultura urbana no próprio edifício, com a produção de mudas de hortaliças, ervas e flores. Também foram criados espaços para a comercialização dessas mudinhas e do composto produzido na Estação, além de um espaço público aberto com exposição permanente sobre o lixo, mobiliário fixo de permanência, no intuito de receber as pessoas no edifício. Como a proposta é que cada Unidade de Vizinhança tenha uma estação, deve haver variação nesse programa, e algumas ideias para isso são: a oferta de espaços educativos que ofereçam cursos sobre áreas conexas, como permacultura, horta caseira, Plantas alimentícias não-convencionais, consumo lixo-zero; espaços de foodlab, de pesquisa sobre tijolos e outros materiais construtivos feitos a partir de resíduos orgânicos (essas pesquisas já existem em todo o país). Desta forma, o que se propõe não é uma mera repetição de função nesses edifícios, e sim uma complementariedade programática. 52


programa de necessidades

ETAPA 2 A= 350 m² Armazenamento do composto cru para maturação Depósito de materiais Área técnica

ETAPA 3 Finalização e porcionamento do composto maturado Área molhada de apoio

Produção agrícola de mudas (área total = 300 m² - TERRAÇO) Estufas A= 250 m²

armazenamento para 36t = 90 contentores de 400kg 1,00 m

Quiosque

Outros espaços Laboratório de controle de toxicidade A= 30 m²

Recepção/Administração A= 20 m² Vestiários, banheiros e copa para os funcionários Banheiros de acesso público Acesso dos caminhões Local público com mobiliário fixo e exposição permanente Café

Para calcular a força necessária para empurrar ou puxar uma carga, deve-se levar em consideração a massa que será transportada e o coeficiente de atrito do chão. Os valores de força aceitáveis para realizar trabalhos que envolvem o puxar e empurrar cargas para homens, recomendados pela diretriz 90/269 da Comunidade Européia variam entre 140 N e 340 N [1] [1] CHAFFIN ET AL., 2001, pg 7 . Disponível em: http://www.abepro. org.br/biblioteca/enegep2013_TN_ STO_180_029_22828.pdf

área molhada

Triagem Trituração e pesagem

Rejeitos

Tambores de Decomposição

Depósito 1

Armazenamento Maturação

Depósito 2

Finalização

1,55 m

Área molhada de apoio (irrigação) Sala de equipamentos

Comercialização do composto e das mudas Loja A= 30 m²

Recebimento resíduos

ETAPA 1

Compostagem

ambiente de alta permanência ambiente de baixa permanência

ETAPA 2

Recebimento dos resíduos Última triagem negativa em esteira Trituração e pesagem Tambores de decomposição - Fabricação do composto cru Depósito para armazenamento de cal e serragem Local para os rejeitos da última triagem e o lixo do próprio edifício Sala de filtro de ar - Exaustão

ETAPA 3

O dimensionamento foi feito para 6 funcionários: 1 encarregado para cada umas das 3 etapas de processamento, um administrador, recepcionista do público e auxiliar, 1 profissional do laboratório, 1 motorista da coleta. Apenas os quatro primeiros são exclusivos de uma Estação, sendo os outros dois comuns a todas elas, pela natureza do serviço prestado.

1,40 m

Compostagem (área total = 500 m² - SUBSOLO) ETAPA 1 A= 150 m²

necessidade de incidência solar necessidade de proteção solar ou indiferente

Produção Agrícola Canteiros

Exaustão

Área técnica

Depósito 3 Área de apoio

53


diretrizes

Sistema estrutural Passarelas Guarda-corpo Mobiliário Sustentabilidade Estética Isolante natural Versatilidade Durabilidade Segurança

Jardim central Iluminação e ventilação naturais

Permeabilidade Exposição permanente Loja, café Mais uma camada: sustentabilidade Acrescentar as novas peças sem ferir o patrimônio

Acessibilidade universal

i = 2,5 %

MADEIRA

54

REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA

QUESTÕES BIOCLIMÁTICAS

PLANO PILOTO PATRIMÔNIO

ESPAÇO PÚBLICO ACESSÍVEL


diagnóstico do terreno e entorno

1. sistema viário e transporte

4. tipologias edilícias

2. cheios e vazios

5. sítio físico topografia e condicionantes bioclimáticos

3. uso e ocupação

6. preexistências e parâmetros ( legislação )

55


Sistema Viário e transporte 77 linhas passam pelos eixos norte

Como se pode observar no mapa, o terreno é servido por uma via coletora a leste, a via W1. Está ainda muito próximo do Eixinho e da w3 norte, vias arteriais. Nota-se que sua integração e acessibilidade são altas, o que se estende a pedestres e ciclistas, já que há transporte público, ciclovias, locais para aluguel de bicicletas. Esse sistema viário do Plano Piloto é claramente definido e hierarquizado e o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB) determina a sua manutenção, considerando que é parte integrante fundamental do objeto de preservação, e que determina muitas outras de suas características.

110 linhas passam pela via L2 norte

0

139 linhas passam pela via w3 norte

50

100

200m

UV 305/304/105/104 n rodovia via arterial via coletora via local ciclovia lotes PLL selecionados parada de ônibus ponto de taxi aluguel de bicicleta

56


cheios e vazios

Uma dessas características, também determinada pelo sistema viário, é a proporção entre cheios e vazios. Visivelmente no Plano Piloto predominam os vazios urbanos, dados por suas abundantes áreas livres e/ou verdes. O PPCUB determina, de igual maneira, a manutenção da proporção entre cheios e vazios, essencial para a legibilidade dos espaços das superquadras, entrequadras e comerciais. No entanto, a proporção entre cheios e vazios não impede que os lotes vazios sejam preenchidos, o que deve ser feito, pois segundo a própria câmara técnica do PPCUB “essa situação provoca, sobretudo na Asa Norte, indesejável descontinuidade no ambiente urbano, deixando vazios entre as superquadras”

0

50

100

200m

UV 305/304/105/104 n lotes PLL selecionados

área de barreira área permeável 57


uso e ocupação do solo

O uso do solo é outra característica marcante do Plano Piloto de Brasília, que teve como premissa o zoneamento das funções da cidade, sua setorização. As superquadras possuem predominantemente o uso residencial multifamiliar, sendo que há outros usos em terrenos internos a elas, como o institucional: as escolas. Nas quadras de comércio local, o uso quase sempre é comercial (comércio e serviços), ou misto, com habitações nos andares superiores, e os lotes centrais e maiores quase sempre são supermercados. A faixa das 500, paralela à via w3 também apresenta uso comercial, com a presença de instituições em determinadas quadras. Uso residencial unifamiliar não é encontrado nessa faixa, apenas a partir da faixa das 700.

0

50

100

200m

UV 305/304/105/104 n residencial multifamiliar uso misto comércio e serviços institucional áreas livres vias e estacionamentos lotes PLL selecionados

58


tipologias superquadra

superquadra

Bloco de habitação multifamiliar

comércio local

Escola

pll

entrequadra

Posto de Abastecimento Lavagem e Lubrificação

Bloco de comércio, serviços e habitação

Igrejas e Templos

Posto de Gasolina

59


sítio físico

topografia e condicionantes bioclimáticos

O estudo da incidência solar no terreno do projeto, por meio da carta solar demonstrada neste mapa, indica que o edifício vizinho exerce um sombreamento durante muitas horas do dia, na parte da tarde, durante quase a totalidade dos meses do ano, o que fez ser descartada a possibilidade de utilização de painéis solares.

N

O

L

S

O lote apresenta seu eixo inclinado em aproximadamente oito graus, em relação ao eixo do norte geográfico. A área do entorno e do terreno é densamente arborizada com espécies nativas do cerrado e plantadas. O terreno possui cobertura vegetal, e os tipos vegetais presentes nos locais adjacentes proporcionam bastante sombreamento.

desce

indicação caimento orientação solar ventos predominantes

suave desnível

NO úmido no verão (v = 7 m/s no outono) L seco inverno (v = 3 m/s = média)

x

árvores que sairão 0

60

5

10

20m


48 aptos

48 aptos 72 aptos

48 aptos

48 aptos

48 aptos

48 aptos

72 aptos

72 aptos

PARÂMETROS URBANÍSTICOS DO LOTE

Lote PL-1 Destinação anteriormente especificada: posto de abastecimento, lavagem e lubrificação

48 aptos 48 aptos 96 aptos

48 aptos

48 aptos

72 aptos

60 aptos 36 aptos 72 aptos

60 aptos

60 aptos

Taxa de ocupação Corpo: 25% Subsolo: seguindo afastamentos

48 aptos 48 aptos

48 aptos

48 aptos

60 aptos

48 aptos

48 aptos

Afastamentos e recuos: Frente/fundos: 3,00m Laterais: 4,00m Coeficiente de aproveitamento CA = 0,25

48 aptos

60 aptos

Altura máxima da edificação H = 6m Taxa de permeabilidade TP = - (grelha para escoam.) permitido 2°pav; permitido subsolo Obrigatória a construção de muro nas divisas laterias e fundo de 1,2<A<2m.

48 aptos 48 aptos 48 aptos

48 aptos

terreno do projeto

48 aptos

48 aptos

residencial multifamiliar uso misto comércio e serviços institucional

48 aptos

48 aptos

48 aptos 48 aptos 48 aptos 48 aptos

áreas livres vias e estacionamentos

48 aptos

0

50

100m

61


62


referências arquitetônicas

1. Halle Pajol 2. sede social INPI 3. Canuanã

63


Referências Arquitetônicas

Partido, sistema estrutural, materiais

Halle Pajol Paris, França

Arquiteta: Françoise-Helène Jourda 2013

Antiga estação reabilitada para residência estudantil, albergue, biblioteca e auditório Estrutura em madeira e aço Gabarito baixo e horizontalidade Energia solar 3500 m² de painéis fotovoltaicos Jardim público

[1]Diponível em: https://www.batiactu.com/edito/halle-pajol-36286.php 64


Referências Arquitetônicas

Partido, sistema estrutural, materiais

Sede social INPI

Paris, França

Arquitetos: Jean-Jacques Ory, Bidard & Raissi et Tryptique 2012

Sede social do INPI, entidade pública sob tutela de um ministério francês Estrutura em madeira 12140 m² : 4 andares + 3 subsolos 130 vigas - Elementos pré-fabricados Iluminação natural Energia solar - 660 painés solares em 1100 m² = 510 MWh por ano. Jardim central

[2] Disponível em: http://www.cleantechrepublic.com/2011/11/23/structure-bois-futur-siege-social-energie-positive-inpi/ e http://triptyque.com/fr/project/inpi/ 65


Referências Arquitetônicas

Partido, sistema estrutural, materiais

Canuanã

Formoso do Araguaia - TO, brasil

Arquitetos: Aleph Zero e Rosenbaum 2016

Escola e moradia estudantil para crianças de 13 a 18 anos, em zona rural no centro do Brasil Área construída de 23.344 m² Estrutura em madeira laminada colada - MLC Gabarito baixo e horizontalidade Pátio interno ajardinado Vedação com alvenaria de adobe Passarelas Tratamento atencioso dos guarda-corpos e das fachadas, com elementos vazados

[3] Diponível em: https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero 66


partido Além de ser uma infraestrutura e abrigar uma função importante para a cidade, o projeto pretende ser uma contribuição arquitetônica positiva para o contexto no qual se insere, o Plano Piloto de Brasília. Tendo isso em vista, partiu-se de uma concepção em bloco, forma que harmoniza nesse contexto, porém com o material construtivo contrastando e trazendo uma linguagem contemporânea, enfatizando ainda mais o compromisso do projeto com a sustentabilidade ambiental. O sistema estrutural em madeira foi escolhido por atender melhor a essa demanda do projeto. Somando a isso, o projeto pretende favorecer o acesso por pedestres e ciclistas, além de proporcionar uma integração paisagística com a Unidade de Vizinhança. Havia a intenção de que o edifício respeitasse as preexistências, se integrando a elas e somando, criando mais um espaço público qualificado, com mobiliário, áreas de permanência para os moradores e trabalhadores da região, para os passantes. A cisão do bloco em duas partes com a criação de um jardim central foi desejada por vários motivos. Por questões operacionais, dividindo as etapas do processo de compostagem; por questões bioclimáticas, gerando conforto térmico, facilitando a exaustão a partir do subsolo, a iluminação e a ventilação natural dos ambientes; por questões de integração com a área onde está inserido o terreno, generosamente arborizada; e, por fim, por uma questão conceitual de abrir o edifício ao olhar das pessoas, permitindo mais participação e interesse pela própria temática materializada no edifício. O recuo das fachadas vem para atribuir leveza plástica, inclusive fazendo menção aos palácios de Brasília, para destacar a estrutura de madeira e para criar acessos generosos aos pedestres.

bloco, unidade, pilotis

fluxos, conexões, acessibilidade

permeabilidade visual, olhar, participação conforto bioclimático

leveza

67


zoneamento

Cobertura

Passarelas

Terraço verde Laboratório Administração Loja

Térreo

Área operacional - Compostagem

Jardim

Etapa 1 - decomposição Etapa 2 - maturação Etapa 3 - finalização

Área molhada

Subsolo

68

Espaços complementares Pilotis Produção de mudas


estrutura

Cobertura Telha termoacústica zipada simples: 1 água contínua, inclinação de 2,5% na direção leste metálica, aço galvalume, cor branca, revestimento interno em lã de rocha, espessura 5mm, largura útil 455mm Estrutura da cobertura Vigas em madeira laminada colada ou madeira serrada 6x20cm Barrotes e barrote de travamento em mlc ou madeira serrada 4x14cm, em espaçamento de 60cm Testeira em mlc, e=10cm Madeira: E. Citriodora (eucalipto) Pórticos Pórtico plano engastado em madeira laminada colada [ viga engastada 15x50cm e pilar com seção retangular de 15x40cm ] Altura total de 6m, vão de 14m Peça metálica para finalização e afastamento do chão Laje simples Vigas em concreto armado 15x20cm Laje em concreto armado sobre painel de lã de rocha, e=15cm Piso cimentício 100x100cm Pilaretes de madeira Pilares em madeira serrada de seção retangular 15x20cm (ou maciça E. Grandis) Vedação: alvenaria de adobe revestida com argamassa à base de terra e pintura branca

Subsolo [ Modulação 3,1m (1,55m) utilizada para dimensionar espaços, peças estruturais e equipamentos ] Laje nervurada (cogumelo) em concreto armado e=30cm Pilares em concreto armado 15x40cm Parede (muro de arrimo) em alvenaria de blocos de concreto Laje em concreto armado + piso Epóxi Fundação

69


implantação

70 0

5

10

20m


A implantação do edifício buscou qualificar o espaço público adjacente, com continuidade de calçadas e pavimentação, além de mobiliário urbano, integrando a quadra comercial à residencial, em ambos os lados da via w1. A ciclovia foi ligeiramente modificada, para ser mais contínua, os acessos do bloco AB, vizinho, foram respeitados e determinaram o desenho dos jardins. O terreno já é densamente arborizado e sombreado, o que facilita ainda mais a integração paisagística e o conforto dos usuários do espaço. 71


3,1

3,1

3,1

3,1

3,1

3,1

3,1

28

26

24

22

20

18

16

14

12

10

08

06

04

VESTIÁRIOS

B

9,3

6,16

RESERVATÓRIO INFERIOR 5000 L

02

1,75

30

12,4

SALA FILTRAGEM DO AR EXAUSTÃO

1,75

ETAPA 3 FINALIZAÇÃO

6,2

TAMBOR 1

DEPÓSITO

V

ÁREA TÉCNICA 26 m²

TAMBOR 2

V Lx

27

25

23

21

19

17

15

13

ETAPA 1 - COMPOSTAGEM 156 m²

11

09

07

05

03

01

DEPÓSITO ÁREA TÉCNICA

TAMBOR 3

V

TAMBOR 4

V

PESAGEM TRITURAÇÃO

29

A

POSTO

-3,00

SALA FILTRAGEM DO AR EXAUSTÃO

3,5 5,25

-3,00

ETAPA 2 - ARMAZENAMENTO MATURAÇÃO 350m²

Rj

20m²

TRIAGEM NEGATIVA ESTEIRA

RECEBIMENTO

3,1

1,75

3,1

PONTO DE COLETA FINAL

A

B

VIA W1

planta baixa subsolo 0

72

1

5

10


0

1

5

10

73


B 6,2

12,4

9,3

12,4

9,3

6

1,75

6

CAFÉ

LABORATÓRIO

14,7m²

31 m²

-3,00

10,5

0,00

0,00

0,00

ADMINISTRAÇÃO 20 m²

LOJA

A

PONTO DE COLETA FINAL

31 m²

,8

10m²

1,75

A

-3,00

QUIOSQUE

12

PILOTIS EXPOSIÇÃO PERMANENTE 350m²

POSTO

B

VIA W1

planta baixa térreo 0

74

1

5

10


0

1

5

10

75


B

6,2

12,4

9,3

12,4

9,3

6

1,75

6

+3,00

ÁREA DE APOIO

RESERVATÓRIO ÁGUA DA CHUVA

RESERVATÓRIO SUPERIOR 5000 L

+3,00 -3,00

10,5

ESTUFA - MUDAS DE HORTALIÇAS, ERVAS, FLORES 124 m²

+3,00

ESTUFA - MUDAS DE HORTALIÇAS, ERVAS, FLORES 91 m²

-3,00

DEPÓSITO

A

A

PONTO DE COLETA FINAL

1,75

10 m²

POSTO

B

VIA W1

planta baixa terraço 0

76

1

5

10


0

1

5

10

77


B 12,4

9,3

12,4

9,3

6,2

1,75

12,4

TELA DE PROTEÇÃO AGRÍCOLA ESTUFA

i = 2,5 %

-3,00

10,5

+6,00

TELA DE PROTEÇÃO AGRÍCOLA ESTUFA

i = 2,5 %

+3,00

-3,00

A 1,75

A

POSTO

B VIA W1 0

1

5

10

0

1

5

10

planta baixa cobertura

Tela de proteção agrícola em ráfia Funciona como quebra-vento, protegendo os canteiros de mudas também contra insetos, pássaros e ácaro. 78


62

3,1

6,2

12,4

18,6

18,4

7

14

3,5

1,75

1,75

3,1

Malha Subsolo

planta baixa estrutura

6,2

12,4

9,3

12,4

9,3

6

1,75

10,5

1,75

6

TĂŠrreo

0

1

5

10

79


estação de compostagem: vista passarela térreo

Vista Estação de Compostagem Tainá Wanderley

80


0,18 0,05 0,12 0,02 0,16

Guarda-corpo com placas pivotantes de madeira e aรงo Detalhe

81


A madeira laminada colada foi escolhida como material estrutural dos pórticos, e, com o devido tratamento, pode ficar exposta. O mesmo se aplica às outras madeiras utilizadas. Essa textura e coloração de madeiras aparentes foi combinada com peças em aço escovado preto, piso cimentício, pintura branca. Algumas grades e telas foram utilizadas, e todos os materiais se harmonizam com a vegetação dos canteiros do próprio edifício e com a existente no terreno, farta e generosa.

82

Mobiliário do pilotis e materialidade


estação de compostagem: vista pilotis térreo

Vista Estação de Compostagem Tainá Wanderley

83


estação de compostagem: vista jardim central subsolo

Vista Estação de Compostagem Tainá Wanderley

84


Pórtico MLC Peça metálica de ligação

Pilar de madeira 15x20cm

Parafuso de aço

Piso cimentício 100x100cm

Perfil em aço Bloco de concreto

Peça metálica 5mm

Piso cimentício Laje nervurada (cogumelo)

0,05 0,15

Laje de concreto

0,20

Viga em concreto 15x20 cm

1

2

0 0

5

25

5

10

20cm

50cm

Pórtico de Madeira Laminada Colada Detalhe

Passarela e pilar de madeira Detalhe

+3,00

0,00

1

3

-3,00

2

4 0

1

5

10

85


estação de compostagem: vista interna subsolo

Vista Estação de Compostagem Tainá Wanderley

Piso subsolo: epóxi, revestimento de alto desempenho (RAD) para pisos. O grupo RAD tem sido amplamente utilizado na área industrial, pois é de fácil aplicação, tem baixo custo e boa aparência, gera planicidade suficiente e facilita a limpeza[4] 86

[4] OLIVEIRA, 2009. No Brasil, normalização de RAD para pisos: NBR 14050 de 1998.


tubulação para exaustão dos gases

Ponto final de coleta

0,4

1

Piso de blocos intertravados

2,25

Recebimento dos resíduos orgãnicos C= 3t

1

1,00 m

Esteira para última triagem

3 0

1

5

4

10

Recebimento de lixo orgânico no ponto final de coleta Detalhe

Tambor de decomposição - Etapa 1 do precesso de compostagem Detalhe

+3,00

0,00

1

3

-3,00

2

4 0

1

5

10

87


+3,00

0,00

-3,00

0

corte AA (longitudinal)

88

1

5

10


+3,00

0,00

-3,00

0

1

5

10

corte BB (transversal)

89


fachada norte

90


fachada sul

91


fachada leste

92


fachada oeste

93


estação de compostagem: vistas externas

Vista Estação de Compostagem Tainá Wanderley

94


Vista Estação de Compostagem Tainá Wanderley

95


estação de compostagem: vista externa dia e noite

Vista Estação de Compostagem Tainá Wanderley

96


Vista Estação de Compostagem Tainá Wanderley

97


(pós) destinação do composto

98


A agricultura urbana demonstrou-se, então, uma possibilidade adequada de utilização do composto produzido nas estações de compostagem, para que o ciclo se feche sem a necessidade das grandes distâncias percorridas. Foram selecionados 4 modelos de aplicação de produção agrícola em área urbana e foi elaborado um, no âmbito deste trabalho. Antes de apresentá-los, porém, é importante voltar rapidamente a atenção para algumas questões que podem surgir (e surgiram!), como por exemplo a necessidade de se estabelecer um olhar para as áreas verdes do Plano Piloto de Brasília, a fim de que não se passe a ideia errada de uma aplicação generalizada e aleatória dos modelos, como se as áreas livres e verdes não tivessem importância ou função. Comecemos, portanto, por essa questão.

Mas quando as áreas verdes são muitas e muito dispersas, talvez elas pequem em cumprir algumas dessas suas funções, sendo que, como afirma o mesmo autor, “a abundante quantidade de espaços livres induz à ideia de que sua simples existência é capaz de resolver as necessidades da população, independentemente das condições de uso que elas ofereçam”. [4] Portanto, mesmo com todas as citadas atribuições, quando considerada a quantidade de áreas livres verdes em Brasília, conclui-se que acrescentar mais uma possibilidade de uso para essas áreas em nada ameaçaria sua existência, podendo, ao contrário, enriquecer a vivência dos habitantes nesses locais. Assim sendo, a proposta deste trabalho é apenas oferecer esses modelos como alternativa para serem aplicados de acordo com a demanda da população, sem descaracterizar as áreas verdes de Brasília.

AS FUNÇÕES DO VERDE EM BRASÍLIA

PEQUENOS PRODUTORES RURAIS

O Relatório do Plano Piloto define Brasília como uma “cidade-parque”, e afirma que seu traçado se desenvolveu a partir de “uma parte técnica rodoviária” e da “técnica paisagística de parques e jardins”. [1] Os ideais que inspiraram os espaços livres verdes de Brasília têm origem no Movimento Moderno, principalmente nos Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna, os CIAM, já a partir dos anos 30. Esses espaços estariam relacionados a uma ideia de higiene e salubridade (sol+verde) que se construiu muito antes, no modelo de Cidade-jardim de Ebenezer Howard, em 1898, por exemplo. Há também forte influência das ideias de Le Corbusier, para quem as áreas verdes se relacionariam à circulação na cidade. O verde das superquadras é decorativo e ornamental, recreativo, esportivo, bioclimático, comporta as “atividades bucólicas”, de lazer, e possui, portanto, diversas funções. [2] Quando se fala, por exemplo, dos corredores ecológicos (ou franjas verdes), ele funciona como elo entre essas franjas, sendo parte integrante das faixas formadas principalmente pelos grandes parques e áreas de preservação. Sob esse ponto de vista, são fundamentais para a preservação das espécies nativas da fauna e flora. Segundo BARCELLOS, que elaborou um estudo sobre os parques de Brasília, direcionando seu olhar para o lazer nas áreas livres: No caso (de Brasília), a busca do lazer nos espaços livres não se deve tanto, como em outras grandes cidades, às necessidades de se encontrar compensação para uma carência de interação com os elementos naturais. Em Brasília os espaços verdes funcionam mais como espaços de “agregação social”. [3]

Agricultura em área urbana: mas temos muitas terras, muito espaço, grandes, médios e pequenos produtores rurais... Será que uma certa concorrência com o pequeno produtor rural pode ser estabelecida quando da produção em áreas urbanas? Bom, as possibilidades de diferenciação desse consumo são várias, sendo que inclusive uma intergação entre as práticas agrícolas urbanas e rurais poderia ser cogitada. Como os pequenos e médios produtores rurais são responsáveis pela maior parte dos alimentos consumidos - pois as grandes culturas geralmente são monoculturas e têm grande parte de sua produção exportada - ainda haveria demanda de alimentos para esses produtores, mesmo com o surgimento de práticas agrícolas em áreas urbanas. Além de tudo, deve-se sempre considerar o crescimento populacional e o aumento da demanda por alimentos, em contraposição aos limites dessas pequenas e médias propriedades e à sua capacidade de produção, também limitada. Além disso, há pessoas que se concentram em áreas urbanas centrais do Plano Piloto em situação de extrema vulnerabilidade, principalmente alimentar. É o caso de moradores de rua. O cultivo de alimentos em área urbana, em instituições como igrejas, por exemplo, poderia destinar sua produção para projetos sociais, sendo que em alguns casos essa produção poderia até mesmo representar uma oportunidade de trabalho ou emprego para essas pessoas. Não se trata de concorrência ou de uma disputa por mercado consumidor. Trata-se de somar: compartilhar conhecimento, técnicas agrícolas, experiências, gerar mais emprego e renda, melhor distribuí-la, melhor distribuir os alimentos, unir forças.

TÁ, MAS DO QUE PRECISA ENTÃO?

PRA VER OU PRA COMER?

A agricultura urbana é somente voltada à produção de alimentos? Não! Também podem ser cultivadas flores e plantas ornamentais. Além de diversificar e resolver uma possível questão de absorção de toda a produção de alimentos nessas áreas, elas se apresentam como uma alternativa para o composto orgânico produzido que possui toxicidade acima da adequada para a produção de alimentos. Ou seja, é pra ver e pra comer!

A olericultura é o ramo da horticultura que trata da produção de verduras e legumes, sendo incluídas também as culturas de melancia, melão, morango, batata-doce, inhame, mandioquinha-salsa. [5] Segundo material produzido pela Embrapa sobre esse tipo de cultura [6], é recomendável a máxima incidência solar possível, uma irrigação diária para quase todos os tipos de cultura, sendo que se deve observar quais são mais adaptáveis ao clima da região em questão e em quais períodos do ano é mais correto se realizar o plantio. Determinadas culturas devem ser plantadas já em seu local permanente e outras têm uma etapa intermediária, representada pelas mudas, as quais devem ser transplantadas para o local definitivo posteriormente. As mudas são formadas em sementeiras, com sementes distribuídas em sulcos de 1,5 a 2,5 cm de largura e profundidade. Elas levam de 20 a 25 dias para atingir a altura ideal para serem transportadas para o canteiro definitivo. Outro material produzido pela Embrapa, o Catálogo Brasileiro de Hortaliças, este em parceria com o Sebrae [7], traz as 50 espécies mais comercializadas no Brasil, com informações sobre o plantio, o tempo de cultura, a colheita, a adaptabilidade a cada região do país. Para fins de dimensionamento de espaços, dentro de uma proposta para o Plano Piloto, é necessário elencar quais espécies teriam seu cultivo viabilizado. Utilizam-se como critérios para essa seleção o fator adaptabilidade da espécie à região, tamanho e espaço necessário para plantio, possibilidade de cultura conjunta com outras espécies. A princípio, espécies como as variedades de alface, batata doce, berinjela, brócolis, cenoura, chuchu, coentro, couve, couve-flor, espinafre, gengibre, maxixe, pepino, variedades de pimentas, pimentões, rúcula e tomate atendem a esses critérios. Da mesma forma as ervas aromáticas, as quais podem compor uma área separada, como um jardim. Em geral cada 1 m² pode abrigar 12 pés de alface, por exemplo. As jardineiras devem ter dimensões médias de 20 centímetros tanto de largura como de altura e profundidade.

[1] BARCELLOS, 1999. [2]Projeto para o Parque Burle Marx (Parque Ecológico Norte, em Brasília) [3] BARCELLOS, 1999. [4] Idem. [5] Sociedade de Olericultura do Brasil [6] Projeto horta solidária: cultivo de hortaliças. Embrapa Meio Ambiente, 2010 [7] Catálogo Brasileiro de Hortaliças. Embrapa/Sebrae, 2010. 99


destinação

composto maturado

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outros

balões, canteiros, parques e jardins públicos;

produtores rurais

(que hoje já têm direito e continuariam tendo

empresas privadas

agricultura urbana

moradores da UV

(que quiserem comprar)

;

;

(que teriam direito ao composto produzido a partir da composta-

gem de seus próprios resíduos orgânicos)

;

instituições públicas, hospitais, igrejas, escolas presídios, centros de internação.

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modelos para agricultura urbana no Plano Piloto onde poderia ser aplicado? (de acordo com os parâmetros urbanísticos dos diversos setores)

modelo 1:

Setores centrais (SCS, SCN, SBS, SBN, SAUS, SAUN, SRTVS, SRTVN, SHS, SHN)

Setores de Múltiplas Atividades sul e norte Entrequadras

fazenda vertical

(edifícios multifuncionais) Como no exemplo do edifício de escritórios em Tóquio apresentado na introdução, o modelo de fazenda vertical pode (e deve) estar aliado a outros usos comuns ao centro da cidade. Em se aplicando da forma adequada, ele não interfere no ambiente já consolidado, nem sobrecarrega as vias adjacentes. modelo 2: módulos articulados Módulos que funcionam como mobiliário urbano, criando áreas de permanência para as pessoas, com canteiros de hortaliças, ervas, flores, frutas. Sol para os canteiros, sombra para as pessoas + Terra, composto orgânico, sementes, pás, água.

Áreas livres das quadras 700 sul e norte Setores de Grandes Áreas sul e norte (600 e 900) Igrejas, escolas, hospitais Instituições públicas

Setores centrais

(SCS, SCN, SBS, SBN, SAUS, SAUN, SRTVS, SRTVN, SHS, SHN)

comércios locais sul Edifícios na W3 sul e norte (500)

modelo 3: canteiros De mais simples aplicação e com maior flexibilidade para ser implatado ou removido, o modelo de canteiros permite um cultivo direto no solo, mas com a possibilidade de utilizar pequenos vasos ou jardineiras no mesmo espaço também, além de poder configurar espacialidades verdes com as árvores e a vegetação já existente.

modelo 4: empenas Há diversas empenas cegas nos edifícios, as quais poderiam receber uma horta vertical, que, por sua vez, cumpriria diversas funções interessantes. Se aplicadas nos becos formados por edifícios comerciais na W3 sul, por exemplo, melhorariam o microclima e poderiam proporcionar espaços de permanência mais agradáveis para os pedestres. E como essas edificações são baixas, cuidar da horta seria ainda mais fácil.

modelo 5:

terraços ou telhados

SUPERQUADRAS INCOMPLETAS: Atualmente,

Superquadras, em edifícios existentes e novos Edifícios na W3 sul e norte (500)

conforme levantamento realizado, das 120 superquadras projetadas para o Plano Piloto de Brasília (60 para a Asa Sul e 60 para a Asa Norte), 6 localizadas na Asa Sul ainda estão inconclusas. Enquanto na Asa Norte este número é bem maior com 20 superquadras incompletas e uma não construída, a 207 norte. Nos projetos dos edifícios novos, o modelo de terraços ou telhados verdes poderia já ser previsto. A aplicação do modelo nos edifícios já existentes poderia ocorrer com uma análise estrutural, de impermeabilização e com algumas adaptações.

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AMARAL, em sua tese de doutorado sobre a avaliação da possível implantação de fazendas verticais no Brasil, informa que, em função do investimento para a implantação do modelo e do grau tecnológico embutido, a oferta de alimento proveniente desse empreendimento tem preço um pouco acima do mercado, considerando o valor agregado de alimento fresco. Portanto a faixa socioeconômica de consumidor final atendida pelo produto é de média à alta (10 a 20 salários-mínimos – IBGE), o que se enquadra com o perfil populacional da área escolhida, o Plano Piloto. Ela acrescenta ainda que o consumidor final são pessoas que optam pelo consumo de alimentos frescos e sem agrotóxicos, sendo que em enquete digital realizada para seu estudo ela identificou, em 133 entrevistados, sendo 94% deles da região Sudeste, que 80% preferem consumir verduras frescas, 90% importam-se com a procedência do produto e 91% importam-se se o alimento foi produzido de forma menos impactante para o meio ambiente. Essas informações mostram a adequação da proposta ao contexto, além do potencial interesse e envolvimento da comunidade local com essas atividades. Alguns parâmetros fundamentais trazidos nesse estudo de AMARAL são listados a seguir. O tipo de cultivo mais recomendado é o de canteiros (ou jardineiras) com solo. Segundo a autora: Jardineiras com solo são o sistema mais comum e difundido no Brasil; entre todos, é o sistema mais natural, sendo seus produtos considerados orgânicos se cultivados em ambiente protegido, sem utilização de agrotóxicos. [8]

A realidade brasileira, segundo AMARAL, pede que se aproveite a incidência solar (o sol médio no Brasil, ao meio dia, gera de 800 a 1.000 w/m²); que se ocupe menor área com maior empilhamento da produção (pela grande disponibilidade de terras agricultáveis a agricultura urbana deve se tornar competitva), que se tenha um funcionário para atender até 1.000 m². Ela ainda afirma que:

Tecnologia mínima aplicada: irrigação, sensor de temperatura e sistema de exaustão da estufa; Uso/classificação: produção agrícola; Insolação: A alternativa de vedação translúcida, considerada a de maior aproveitamento da iluminação natural, bem como questões relativas à orientação espacial e sombreamento deverão ser avaliadas, de forma que o sistema receba de três a cinco horas de sol por dia no mínimo; Sobrecarga estrutural: deve ser considerado o peso de 38 jardineiras de produção, com carga aproximada de 1,7 toneladas, em área aproximada de 3 m x 1,5 m. Consumo e Custos: Os custos anuais relativos à central de utilidades, de uma fazenda de 2.000 m², são: 150.000 kWh/ano de capacidade elétrica; 600.000 kWh/ano de capacidade de aquecimento e 5.600 m³/ ano de consumo de água. Estes valores são de custos equivalentes a uma produção de 63.500 kg de vegetais e 11.340 kg de peixes. [8] AMARAL, USP, 2018 [9] Idem.

Os modelos que necessitam de proximidade de vias de escoamento são aqueles em que a metragem ocupada é superior a 2.000 m², já que se trata de produções agrícolas que representam 10 a 22 vezes a quantidade cultivada em produção convencional. [9] 105


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Unidade de Vizinhança 305/304/105/104 norte

modelo 3: canteiros

A Unidade de Vizinhança em questão neste trabalho possui uma Escola Parque, uma Escola Classe, um Jardim de Infância e um Centro de Ensino Fundamental, além de uma Igreja, locais que poderiam receber o modelo 3: os canteiros. Ter a produção de hortaliças, ervas, flores, frutas, legumes, nessas instituições estimularia o interesse das crianças pelo meio ambiente, seu contato com a terra, além de facilitar que elas tenham esse alimento mais fresco e saudável em suas refeições na escola.

modelo 5: telhados

As superquadras que compõem a Unidade de Vizinhança em questão já estão completas, não tendo portanto lotes livres para receber novos edifícios residenciais. Porém, nos já existentes, o modelo 5 de telhados verdes com produção agrícola poderia ser aplicado e cultivado pelos próprios moradores ou pelos funcionários por eles contratados.

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modelo 2: módulos articulados

No terreno da EQN 104/105 atualmente existem duas quadras esportivas, uma de chão de concreto e uma de areia. Além disso, há alguns bancos e calçadas que ligam esse mobiliário às superquadras vizinhas. Nelas, nota-se uma organização dos moradores em atividades comunitárias, pela existência de pequenas hortas nos jardins, lixeiras e suportes com saquinhos para recolher as fezes dos animais de estimação. Mais a nordeste do lote, há uma pracinha comunitária, a “Praça da Harmonia Universal”, com mesas e bancos pintados de cores fortes ou cobertos por mosaicos, placas com palavras e frases como “harmonia”, “tolerância”, jardineiras com flores. Lá é um ponto de encontro da ABT - Associação Being Tao, a qual, desde 1974 realiza práticas de Tai Chi Chuan, Chi Kung e Meditação no local. Em 2007, a praça foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial de Brasília, pela Lei Distrital 3.951, e passou a integrar o calendário de comemorações do Governo do Distrito Federal. Todas as atividades são gratuitas e os praticantes chegam a quase 100 pessoas, distribuídas nos três horários de prática. Em articulação com os espaços dessa pracinha já existente, o modelo 2 poderia ser implantado, já que esse parece ser um local que o acolheria bem e que utilizaria intensamente esse mobiliário.


ENTREQUADRAS As atividades presentes nas entrequadras vão desde escolas, creches, comércio, serviços, clubes, áreas esportivas, sedes de instituições, delegacias, equipamentos de saúde, cinemas, bibliotecas, templos, entre outros, tendo sempre como princípio que estas atividades devam ser complementares à habitação e com um atendimento voltado aos moradores das superquadras da Unidade de Vizinhança considerada. [10]

É evidente, no entanto, - e isso é ressaltado também no Relatório do PPCUB -, que o tipo de atividade a ser implantada se modifica ao longo do tempo, “já que as necessidades da população variam de acordo com as mudanças socioeconômicas e culturais”. O que se vê no Plano Piloto de Brasília, por exemplo, é uma tendência ao envelhecimento da população; nota-se um excesso de edifícios de culto, e que os clubes se deslocaram para a orla do lago, além de que a demanda por escolas classe existe mais nas cidades do entorno, entre outros fatores que estimulam a proposição de novos usos para os espaços das entrequadras. A definição de uma política clara quanto aos novos usos necessários para a complementação das entrequadras e os modos de destinação de áreas é urgente e necessária sob diversos aspectos. Primeiramente, a disponibilidade de áreas nas entrequadras, ao contrário de ser um problema em si, deve ser considerada como um recurso para o futuro. Assim, será possível ajustar os novos usos às novas necessidades da população que utiliza esses equipamentos. Além disso, deve-se evitar a monofuncionalidade dessas áreas, permitindo que atividades variadas enriqueçam o quadro de disponibilidade de usos e das vivências decorrentes. [11]

ALGUNS PARÂMETROS EQN 104/105 LOTE A (lote único) DIMENSÕES: 309,63m x 88 x 303,4 x 94,13 ÁREA: 27.952 m² aproximadamente Destinação especificada: clube de vizinhança Possui 2 quadras esportivas construídas A 104 e a 105 possuem, cada uma, 11 blocos residenciais. O sistema viário é “aberto” (a via w1 não é interrompida como em outras quadras) Terreno com suave declividade (quase plano) Preencher vazios Atividades públicas comunitárias de cultura e lazer, de caráter local, vinculadas à escala residencial. São permitidas atividades comerciais complementares às atividades permitidas (cafeterias, lanchonetes, lojas de suvenires, dentre outros). Deve haver projeto paisagístico global, considerando as conexões com as superquadras e as vias W e L.

[10] Relatório do Diagnóstico PPCUB volume 1 Segeth [11] Idem. 111


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estação de compostagem: vista terraço

Vista Estação de Compostagem Tainá Wanderley

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mudas para mudar efeito multiplicador estações de compostagem nas Unidades de Vizinhança

Cursos de formação e atividades sobre: Horta caseira e comunitária Compostagem caseira Permacultura PANCs (Plantas alimentícias não-convencionais) Consumo lixo-zero Alimentação orgânica

agricultura urbana nas Entrequadras e em outros terrenos vazios do PP, nos vários setores, nos diversos possíveis modelos de aplicação

Comercialização da produção agrícola, mas principalmente de mudas para estimular o cultivo pela própria população

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A Buda é atribuída a seguinte estória: “Certa feita, Syamavati, a rainha consorte do rei Udayana, ofereceu quinhentas peças de roupas a Ananda, que as aceitou com grande satisfação. O rei, tomando conhecimento do ocorrido e suspeitando de alguma desonestidade por parte de Ananda, perguntou-lhe o que iria fazer com estas quinhentas peças de roupas. Ananda respondeu-lhe: “Ó, meu Rei, muitos irmãos estão em farrapos e eu vou distribuir estas roupas entre eles”. Assim estabeleceu-se o seguinte diálogo. “O que farão com as velhas roupas?” “Faremos lençóis com elas.” “O que farão com os velhos lençóis?” “Faremos fronhas.” “O que farão com as velhas fronhas?” “Faremos tapetes com elas.” “O que farão com os velhos tapetes?” “Usá-los-emos como toalhas de pés.” “O que farão com as velhas toalhas de pés?” “Usá-las-emos como panos de chão.” “O que farão com os velhos panos de chão?” “Sua alteza, nós os cortaremos em pedaços, misturá-los-emos com o barro e usaremos esta massa para rebocar as paredes das casas.” Devemos usar, com cuidado e proveitosamente, todo artigo que a nós for confiado, pois não é “nosso” e nos foi confiado apenas temporariamente. A Doutrina de Buda. Tokyo: Buddhist Promoting Foundation, 1979, p.439-41 apud EIGENHEER 2009

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agradecimentos Agradeço ao universo por ser tão abençoada. Aos meus pais, agradeço por motivos diferentes. Ao meu pai Alberto, pisciano, por me ensinar a sonhar. Se sou idealista, devo isso a ele: uma busca maior que nós, uma causa pela qual lutar. À minha mãe Rachel, virginiana, por me ensinar a ter método, organização, e por me dar muito carinho, me mandar muitos corações pelo whatsapp todos os dias, sempre me lembrando de que tudo daria certo, torcendo por mim e me dizendo que eu era a melhor, a mais inteligente, a mais linda, me amando mais que o tamanho do universo. Aos meus avós, irmãos e familiares por me apoiarem, principalmente Vô Augusto e Vó Sônia que, na convivência diária, tiveram que ter muita (muita!) paciência comigo. Agradeço ao Adi pelo apoio e parceria. Agradeço aos amigos, sem citar nomes, porque quem recebe essa gratidão sabe que a tem e porque se eu esquecer algum nome me sentirei muito mal por isso. Ok, não vou conseguir não citar esses aqui: Nelly e Éli. E, em termos de FAU, Marina e Larissa: nunca vou me esquecer o que já fizeram por mim, minha gratidão é enorme para sempre. Agradeço a oportunidade incrível de ter estudado na Universidade de Brasília, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Nesse sentido, aproveito para ressaltar meu desejo de que a universidade pública permaneca gratuita e de excelência, para que outros tenham igual bênção em suas vidas. Agradeço a todas as pessoas que fizeram parte dessa parte da minha vida: Josué, o salvador da pátria sempre. Aos meus professores, grandes mestres, em especial a Benny, Giselle, Rodrigo, Rossetti, Cristiane, Júlio, Saboia, Pescatori, Maribel, Maria do Carmo, Caio, Estrela, Ana Paula, Kothe, Claudinha, Cecília (sou bem puxa-saco mesmo, mas vocês merecem). Agradeço à Mônica e ao Ivan, a banca maravilhosa que se adequou perfeitamente a este trabalho. À Elane, queridíssima orientadora de Ensaio Teórico. À Gabi Tenorio, orientadora fantástica de Diplomação. Se fiz algo certo foi escolhê-las para me orientarem: a minha admiração pelas duas é simplesmente enorme. Grata por terem me aceitado e me apoiado até o fim. Você me ensinou muito, Gabi, e saiba que você é minha musa do urbanismo pra sempre (Jane Jacobs que nada! haha). Bem, se cheguei ao fim de mais esta etapa, a verdade mesmo é que eu agradeço a todos. Né por nada não, gente. É por tudo.

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