UTILIZAÇÃO DA ARQUITETURA ITINERANTE NA CONTEMPORANEIDADE Taís Corrêa da Luz
RESUMO A situação do homem moderno que busca o distanciamento de uma arquitetura fixa, somada a globalização e a era digital, gera, muito frequentemente construções que levam em consideração questões como mobilidade, flexibilidade, portabilidade e meio ambiente. Questões essas de grande destaque nos dias atuais, onde surgem e se difundem linhas de pensamento que desenvolvem estratégias que ajudam a solucionar necessidades pessoais e profissionais das pessoas de modo que facilite seu cotidiano. Enquanto a globalização e a era digital se acelera, diminuindo as distâncias, e aumentando a autonomia dos indivíduos, os modelos itinerantes estão cada vez mais em evidência, somando a este estilo de vida. E é analisando essa tendência, que o presente trabalho se propõe a mostrar soluções que facilitem a diversidade, mobilidade e potencialidade dessa arquitetura móvel. E isso será alcançado através de pesquisas bibliográficas e pesquisas por referências projetuais, visando entender quem são esses novos nômades e como a arquitetura itinerante pode ser utilizada na contemporaneidade. PALAVRAS CHAVE: Mobilidade, Nômade, Arquitetura itinerante.
1- INTRODUÇÃO Vivemos em uma sociedade onde atualmente cada vez mais as pessoas estão numa fase onde procuram independência, tanto pessoal quanto profissional, estão sempre em movimento em busca de objetivos, oportunidades e coisas novas. E com isso percebe-se em nosso dia-a-dia o surgimento crescente de instalações arquitetônicas transportáveis, temporárias, mutáveis, exemplos que se relacionam com a atualidade, onde o homem cada vez mais tem se tornado nômade, sem endereço fixo, ponto de retorno e sem relação com um determinado local. Isso
devido a tecnologia e a globalização, fazendo assim constantemente que as pessoas se desloquem em busca de atender suas exigências. Então como a arquitetura itinerante pode ajudar nos tempos atuais, onde cada vez mais as pessoas têm se tornado “nômades” e buscam sair de uma arquitetura estática? Construir de uma forma adaptável e econômico é o desafio da arquitetura itinerante (ou móvel), transformando suas formas externas, assim como os seus espaços internos, alterando estilo, estrutura e lugar, a fim de atender as exigências da população conforme as suas demandas e estilo de vida. (FRIEDMAN, 1978; PAESE,2006).
E indo de encontro com essa perspectiva, sabemos que a arquitetura itinerante é uma forma que veio para somar a essa nova tendência, já que ela acompanha o ritmo do homem, adaptando-se e alterando seu estilo e lugar, reinventando espaços, dando abertura para novas possibilidades permitindo uma multiplicidade de ações e performances, buscando sempre a comunicação com usuários e lugares diferentes, isso dependendo sempre do seu deslocamento. Justifica-se a escolha do citado tema por este se mostrar uma tendência mundial no cotidiano das pessoas que buscam uma alternativa de sair de lugares estáticos e sem possibilidade de mudanças, para ambientes que possam oferecer mobilidade e diversos tipos de transformações. Refere-se a uma geração consciente das questões ligadas ao portátil, flexível, mutável, inconstante e outros adjetivos que sigam por esse sentido arquitetônico em crescimento. A importância deste estudo está em apresentar possibilidades adequadas ao contexto em que estamos inseridos, onde mostre alternativas arquitetônicas sobre a atual relação do homem nômade com a contemporaneidade, compreendendo os princípios de uma arquitetura itinerante, analisando referencias e materiais adequados com o tema. A metodologia utilizada nesse trabalho abrange pesquisas bibliográficas, artigos, monografias, dentre outros. Para atingir os objetivos de analisar como a arquitetura itinerante pode ajudar a solucionar necessidades pessoais e profissionais das pessoas, facilitando seu cotidiano. E identificar soluções que facilitem a diversidade, mobilidade e potencialidade de cada ambiente, este trabalho foi dividido em quatro partes: Parte 1, consta a definição dos conceitos; arquitetura e nomadismo. A Parte 2, Titulada Origem e Evolução da Arquitetura Itinerante, trata-se da origem dessa arquitetura, e sua evolução, desde os primórdios, passando por algumas épocas da civilização,
até a atualidade. Na Parte 3, apresenta o estudo de referências projetuais relacionado ao tema exposto, exibindo projetos existentes no mundo.
Parte 4,
finaliza esse estudo, contendo a conclusão e referências.
2- DESENVOLVIMENTO 2.1- DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS
Este capítulo discorre sobre arquitetura e nomadismo, entrando no universo da arquitetura móvel, trazendo uma investigação conceitual sobre a presença dessa tendência mundial contemporânea, que é a arquitetura itinerante.
2.1.1- ARQUITETURA
Pode-se então definir arquitetura como construção concebida com a intenção de ordenar e organizar plasticamente o espaço, em função de uma determinada época, de um determinado meio, de uma determinada técnica e de um determinado programa (COSTA, 1940, apud CONTEMPORÂNEA, 2015, p 17).
O surgimento da arquitetura está ligado a evolução humana e relacionado à ideia de abrigo, ainda nos primórdios da existência humana, quando o homem construía para se proteger seja de fenômenos naturais ou de seus predadores. E em cada período histórico da civilização, a arquitetura evolui e se molda aos comportamentos e costumes próprios de cada tempo e espaço. Segundo Glauce Lílian Alves de Albuquerque (2013, p. 65), vive-se hoje na era das constantes mudanças e do imediatismo. As transformações da sociedade, assim como os avanços tecnológicos trazem consigo a necessidade de o homem estar sempre num estado de constante adaptação, ‘moldando’ o meio às suas necessidades de modo rápido e barato. Surgindo assim um velho conceito arquitetônico nas produções contemporâneas: a flexibilidade das edificações. Então analisando o contexto em que estamos inseridos hoje, percebesse que as modalidades de arquitetura se diversificaram. Fazendo assim com que a arquitetura quebre as amarras entre o construído e seu local de inserção, trazendo tipos arquitetônicos que podemos chamar de “livre do sítio”.
Essa expressão da arquitetura pode tanto ser denominada efêmera quanto itinerante. “Uma obra efêmera é aquela que tem, já em seu início, a anuência que precisa ser desmontada”, como Eduardo SOCZ (2009, P.53) resume. Se trata então de uma arquitetura que modifica o espaço por um curto período, e logo depois deixa de existir naquele local, está sempre em constante transformação. Já a itinerante é aquela que anseia estar em diferentes paisagens, mais sem ser desmontada, sua existência anseia por permanência, mudando apenas sua localização. E cada vez mais tem surgido arquiteturas itinerantes onde suas estruturas em sua maioria são projetadas para expressar um desejo ou uma necessidade, apresentando novas ideias e disponibilizando a facilidade de acesso a vários serviços. Existem muitos conceitos de arquitetura, mas não um único modelo ideal e universal. A arquitetura e a construção devem atender as necessidades respondendo aos problemas próprios de cada lugar e indivíduo. Nessa
contemporaneidade
reafirma-se
as
linguagens
projetuais
comprometidas com a retomada do racionalismo e com tendências minimalistas, visando a proposição de espaços que atendam à sociedade quanto a custo, praticidade sustentabilidade, flexibilidade e mobilidade (PADOVANO, 2010 apud ALBURQUERQUE, 2013).
2.1.2- NOMADISMO
Nomadismo é um estilo de vida em que as pessoas não possuem habitação fixa, que vivem permanentemente mudando de lugar, denominando essas pessoas como nômades.
Nômades da antiguidade (Quem foram eles?) Os antigos nômades eram populações de caçadores-coletores, pescadores, pastores que estavam sempre em constante mudança de território (Figura 01), e que quando esgotavam seus recursos para sobrevivência como água, alimentos, pastagem para o gado e outros, saiam em busca de áreas novas que melhor lhe ofertasse esses recursos, seja para sua alimentação ou para a dos animais.
Eles não tinham vinculo por onde passavam, sua economia era através de troca de produtos. Eles não se dedicavam a agricultura, por necessitar de uma maior permanecia em um devido local, deste modo não existia uma fronteira nacional e sim lugares que melhor lhe ofertasse meios para sua sobrevivência. Ou seja, eram homens que se caracterizou pela busca do necessário para sustentar a vida por meio da mobilidade. Figura 01: Nômades da antiguidade
Fonte: https://br.pinterest.com/biancapittaro/povos-n%C3%B4mades/
Nômades da atualidade (Quem são eles?) A sociedade de amanhã será uma sociedade de homens e mulheres nômades que ainda optam por se deslocar de forma autônoma pelas estradas do mundo, não por obrigação ou por obrigação política ou econômica, mas para buscar novas oportunidades de desenvolvimento pessoal (CARLO BORDONI apud Fah Maioli, 2015).
Segundo Maioli (2015) o conceito de nomadismo na era da revolução digital está mudando os percursos profissionais e de consumo, alargando as fronteiras multiculturais e conferindo aos modelos do habitar uma maior flexibilidade. Por escolha ou casualidade, um número sempre grande de pessoas está fazendo uma vida em contínua mudança, principalmente jornalistas, fotógrafos, escritores, artistas, designers e pesquisadores, para os quais as novas tecnologias constituem um instrumento de trabalho e de comunicação indispensável. Entende-se então que com a união da internet e a tecnologia surgiu assim um novo modelo de trabalho e estilo de vida ao qual cada dia mais pessoas aderem, a possibilidade de poder trabalhar de qualquer lugar, desde que haja uma conexão com a internet. Esses novos nômades são todas aquelas pessoas que pelo estilo de vida amam atravessar fronteiras. Estão sempre em busca de lugares e
oportunidades novos e entorno que lhes agrada. São os que entendem esse novo modo de trabalho que deixou de ser fixo e passou a ser móvel, a carreira profissional que deixou de ser única e passou a ser múltipla e o modo de relacionar-se com os outros. Com globalização e a era digital, afirma-se que as noções de fronteiras se tornaram relativas, a partir do momento em que as informações e caminhos ficaram mais acessíveis, dando margem para esses indivíduos que não necessariamente necessitam de um lugar fixo, viva grande parte do tempo como “nômades digitais” (figura 02), onde desfrutem de uma renda que não impõe amarras físicas. Onde seja explorado tipos arquitetônicos que some ao seu estilo de vida, e que sua existência anseia permanência, sendo variável apenas a localização. Então os nômades da atualidade são todas essas pessoas que estão interessadas na flexibilidade, seja do trabalho ou da sua vida pessoal, onde elas estão cansadas de ficar presas em uma arquitetura/vida estática, sendo que poderiam trabalhar ou morar em qualquer lugar. O grande desejo das pessoas que estão optando por esse estilo de vida é a LIBERDADE.
Figura 02: Nômade digital
Fonte: http://nomadesdigitais.com/tag/bruno/
2.2- CONTEXTO HISTÓRICO 2.2.1- BREVE ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA ITINERANTE
A arquitetura itinerante se manifestou de diferentes maneiras ao longo do tempo, tendo seu início através do resultado do modo de viver nômade na préhistória. Através do nomadismo os povos antigos, seguiam pelos territórios que melhor lhe ofertassem comida e materiais para confecção dos utensílios para o uso diário. Segundo Siegal (2002) e Anders (2007) e citado por ROMANO, PARIS e NEUENFELDT (2013) o homem passou a criar rotas de migração para buscar alimentos, adaptar-se às condições climáticas, comercializar mercadorias e desvendar o desconhecido, fazendo assim essencial o uso de estruturas leves e flexíveis que colaborassem para a construção de seus abrigos. Exemplos dessa arquitetura pré-histórica são as primeiras cabanas/tendas (figura 03), que surgiram no Paleolítico, onde eram construídas com objetos naturais como pele de animais, galhos e folhas de árvores, tudo sempre adaptado à necessidade humana. Figura 03: Tenda
Fonte: http://pt.slideshare.net/cattonia/paleoltico
No passado, essas estruturas foram a base de uma arquitetura portátil, preservando o caráter simbólico próprio das casas portáteis primitivas. Desse modo, a arquitetura portátil surgiu como solução de sobrevivência e de origem para técnicas de construções atuais. A arquitetura primitiva é, sobretudo, uma arquitetura da necessidade, nada estando lá em excesso, não importa se feita de pedra, barro, canas, madeira ou peles, ela é uma arquitetura mínima (OTTO/RASCH, 1995 apud EVOLUÇÃO DAS ESTRUTURAS TENSIONADAS, 2013).
Segundo Meneses (2007) e citado por ROMANO, PARIS e NEUENFELDT (2013) antes da revolução industrial, período em que as tecnologias recebiam grandes avanços, a pré-fabricação de casas nos Estados Unidos, em 1624, solucionou a necessidade de colonização rápida de seu territorial. A indústria de préfabricação, além de criar uma nova maneira de construir, através de casas de catálogo, seria a grande precursora para o desenvolvimento de projetos itinerantes. Continuamente a autora relata que com a evolução da técnica outras tecnologias foram utilizadas nas habitações, um dos sistemas de pré-fabricação que surgiu na época foi o Ballon Frame (figura 04) criado por George Washington Snow, que através de estruturas metálicas pré-fabricadas, tinham como princípio a flexibilidade com possibilidade de deslocamento, apresentando diferentes composições. Figura 04: Sistema Ballon Frame
Fonte: http://facingyconst.blogspot.com.br/2011/12/sistemas-constructivos-balloon-frame.html
A arquitetura móvel para muitos foi desenvolvida durante o século XX, um período onde o grupo Archigram se destacou por produzir muitos projetos com essa tipologia. Em 1962 e 1964 seus projetos tinham como princípio a mobilidade, mutabilidade, expansividade, flexibilidade, praticidade e adaptabilidade. Como por exemplo o projeto denominado Living Pod Project -1965, uma casa cápsula que poderia se transformar em uma casa trailer, podendo ser transportada e implantada em qualquer lugar, uma cápsula pequena e confortável, com compartimentos internos planejados para múltiplos usos (Figura 05).
Figura 05: Living Pod Project
Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.048/585
Já outros autores dizem que a arquitetura portátil se difundiu durante a primeira e segunda guerra mundial, ao ser utilizada tanto como abrigo ou modo de transporte de alimentos, pelas tropas como para proteger e alimentar os desabrigados pela guerra. Construções metálicas, leves e de rápida desmontagem foram também utilizadas, para hospitais, segundo Anders (2007) e citado por ROMANO, PARIS e NEUENFELDT (2013). “À medida que o ser humano passa a se organizar em sociedade e seu modo de pensar evolui, a arquitetura evolui também”. (A EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA, acessado:https://basilidesbg.wordpress.com/2012/03/25/aevolucao-da-arquitetura).
Com a necessidade de se transportar alimentos, seja para tropas e desabrigados de guerra ou para outros, surgem os primeiros restaurantes itinerantes, os ‘caminhões de comida móveis’ (figura 06), nos Estados Unidos, eles alimentavam trabalhadores, na época eles eram sinônimo de comida barata, e foi assim mais ou menos durante todo o século 20. Até a crise de 2008, quando muitas pessoas perderam seus empregos, e muitos dos empreendedores de restaurantes tradicionais tiveram a ideia de levar comida de qualidade para as ruas. Assim surgindo os tradicionais Food Trucks, coloridos e modernos (figura 07).
Figura 06: Caminhão de comida móvel
Fonte: http://www.r2cpress.com.br/v1/2015/03/11/a-moda-do-food-truck-origem/
Figura 07: Food Truck
Fonte: http://time.com/money/3918949/olive-garden-food-truck-boston-north-end/
Já no Brasil essa moda chegou em 2012 em São Paulo, mais só em 2013 foi aprovada uma lei pela câmera Municipal que legaliza a comercialização de comidas em vias públicas (lei nº 15.947, de 26 de dezembro de 2013). Essa moda se espalhou pelo Brasil todo, é um novo conceito de gourmetização sobre rodas. O food Truck é apenas um dos exemplos de arquitetura itinerante que está cada vez mais tomando conta das ruas. Devido a uma combinação resulta de fatores econômicos e tecnológicos e convivendo com tantas possibilidades de inovação, atualmente a maior tendência no campo da arquitetura é o uso de estruturas móveis. Seja para atender as necessidades profissionais de um restaurante, escritório, consultório, e outros... quanto para atender as necessidades pessoais de quem tem um estilo de vida nômade, onde querem sempre estar em lugares diferentes.
2.2.2- SEMINÁRIO - 27ª SEMANA INTEGRADA
Foi realizado na 27ª Semana Integrada do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas (Unileste-MG), um estudo de caso sobre o tema da pesquisa: “Sesta no CAU”, que se tratou de uma percepção/estudo do comportamento do indivíduo com o espaço e suas necessidades. A ideia surgiu depois do estudo da origem da arquitetura itinerante, onde lá na pré-história os homens pré-históricos carregavam consigo suas moradias e o que eles necessitavam naquele momento. Então depois desse estudo a intenção desse seminário era que cada aluno inscrito, levasse
para
arborizado faculdade
o
“bosque”
dentro que
do
fica
no
(espaço
campus
da
bloco
de
arquitetura) seu cantinho móvel, algo que suprisse sua necessidade naquele momento, para passar 1h de descanso. E ao longo dessa 1h foi feito um levantamento
fotográfico,
registrando
quais foram esses cantinhos, de cada um naquele momento. Figura 08: Cartaz do seminário Fonte: Autora (06/04/16)
Figura 09 e 10– Seminário
Fonte: Autora (13/04/16)
Figura 11 e 12– Seminário
Fonte: Autora (13/04/16)
Foi proposto também uma conversa entre todos os participantes, onde pudessem ser levantadas informações, de um grupo de pessoas diferente com vivencias diferentes e de lugares diferentes e que por meio desta conversa e pelos objetos levados, pudesse ficar claro quais eram de certa forma os objetos/cantinhos que mostravam uma relação do corpo com o espaço. Mostrando assim sutilmente qual poderia ser a necessidade daquele indivíduo naquele momento. A escolha da maioria foi pelo aparelho celular, notebook, mais teve também colchão, barraca de camping, pufe, entre outro. Tudo sempre portátil que eles poderiam levar para qualquer lugar a qualquer momento. Então conclui-se que através de seminário ficou ainda mais claro a união do digital com o portátil.
2.3- ESTUDO DE REFERÊNCIAS PROJETUAIS 2.3.1- DE MARKIES – EDUARD BOHTLINGK
De Markies é um trailer que se transforma em casa e foi construído em 1985 pelo arquiteto/designer holandês Eduard Bohtlingk, funciona como uma pequena casa contemporânea, atendendo todas as necessidades e facilitando o cotidiano do usuário nômade que busca por esse tipo de arquitetura voltada para a mobilidade. Figura 13: De Markies
Fonte: http://www.bohtlingk.nl/
Quando está em deslocamento/fechado, sua estrutura tem formato de cubo em aço inoxidável, medindo 2,20m x 4,40m, resultando em uma área de 9,68m², espaço que pode ser triplicado quando a estrutura não está em movimento, e proporcionar lugar suficiente para quatro pessoas dormirem confortavelmente. Sua expansão é possível através de suas laterais articuladas com cabos de aço, que são abertas e cobertas por toldos sanfonados automatizados. Figura 14 e 15: De Markies – Versatilidade e Expansão
Fonte: http://www.bohtlingk.nl/
Seu programa contempla área para sala/varanda (toldo transparente), área para dormitórios (toldo laranja), cozinha, sala de jantar e banheiro (parte central). Figura 16 e 17: De Markies – Área dos dormitório e Área cozinha
Fonte: http://geekness.com.br
Se trata de uma estrutura rebocável por veículos com reboque, seu contato no solo acontece de forma pousada, através de pés metálicos.
2.3.2- ARQTRAILER – BIANCA FERREIRA
Embarcando nessa tendência da flexibilidade, portabilidade, itinerante, móvel e outros... os profissionais autônomos tem cada vez mais utilizado desse novo
modelo arquitetônico. Como foi o caso da Arquiteta Bianca Ferreira, que viu que com um investimento menor considerado ao necessário para montar uma estrutura de escritório convencional, é possível montar em um espaço minúsculo, um layout que supre todas as necessidades de um pequeno negócio. Assim surgindo a ideia do ARQTRAILER que é um escritório portátil onde ela oferece uma nova dinâmica de para os clientes. Onde ao invés de encontrar novas oportunidades apenas de maneira passiva/de publicidade, seja um escritório montado dentro de um trailer onde ela possa trabalhar de maneira itinerante, buscando clientes na rua.
Figura 18 e 19: Arqtrailer
Fonte: http://www.biancaferreira.com.br/#!blank/du68a
Bianca para viabilizar seu projeto investiu o valor equivalente a 20 meses de aluguel de uma sala comercial em São Paulo. O espaço com 6m² foi todo customizado e otimizado de maneira inteligente. Ela e seu marido transformaram a antiga Karmann Ghia 330 Caravan original de fábrica em um espaço aconchegante e inspirador, ideal para quem trabalha com criatividade. Em seu programa contempla uma mesa, um sofá em formato de “L”, objetos de decoração, adesivos e estampas. Figura 20, 21 e 22: Arqtrailer
Fonte: http://www.biancaferreira.com.br/#!blank/du68a
Para Bianca, além de trazer vantagens em termos de marketing, a nova forma de trabalhar pode aproximar a população dos escritórios de arquitetura, ainda considerados muito restritos. “O acesso das pessoas a nossa profissão é restrito. Creio que muitas ainda a enxergam como elitista. Um escritório móvel pode acabar com esse paradigma, pois ele estará nas ruas, indo até as pessoas”, conta a arquiteta.
2.3.4- REFUGE WEAR
Refuge Wear é um projeto da artista Lucy Orta, suas obras sempre investigam os limites entre corpo e arquitetura, através de estruturas portáteis, ligando questões de mobilidade e sobrevivência. Ela projeta e constrói a “roupa – arquitetura” ou a vestimenta – habitat” como se fosse um refúgio transformável que se encaixa para configurar a roupa como uma extensão do corpo. A transformação do hábitat influencia no corpo, e as mudanças tecnológicas permitem incorporar à roupa até o momento inédito (SALTZMAN, 2008).
Figura 23 e 24: Refuge Wear
Fonte: http://www.studio-orta.com/en/artworks/serie/1/Refuge-Wear
Cada peça de Refuge Wear foi projetada como um ambiente pessoal que pode variar de acordo com as condições climáticas as necessidades sociais e a urgência. O espaço no seu interior é uma expressão simbólica da habitação. Como uma casa eles cercam uma família ou indivíduos com paredes de defesa, estabelecendo pontos de contato com o mundo e fornecendo espaço que os refugiados podem se apropriar como lar (QUINN, 2003, p.163).
Os projetos de Lucy são espaços pessoais de refúgio, são soluções móveis de abrigo temporário, com sistema de zíperes, fechos de velcro, saco de dormir ou tenda. Conclui-se que a artista propõe como objetivo uma percepção sobre as alternativas de vivência revelam possibilidades para o futuro, onde seus projetos estão conectados com o ser humano, arquitetura, ciência e tecnologia sempre através de áreas têxtil. Seus projetos estão sempre respeitando as necessidades humanas e assim se transformando em um habitar nômade.
2.3.5- QUADRO COMPARATIVO
PROJETO
DE MARKIE
ARQTRAILER
REFUGE WEAR
CRIADOR
Eduard Bohtlingk
Bianca Ferreira
Lucy Orta
DIMENSÃO (M²)
9,68m²
6m²
Variável
CAPACIDADE
Até 4 pessoas
1 pessoa mais cliente
1 pessoa
FUNÇÃO
Moradia Móvel
Escritório Móvel
Abrigo
PROGRAMA
Quarto, banheiro Cozinha, sala, sala de jantar e varanda
Mesa de trabalho, banheiro, sofá e cozinha
Área de refúgio/descanso
FORMA
Cubo
Trailer Karmann Ghia 330
Vestimenta
MOBILIDADE
Portátil
Portátil
Portátil
Fonte: Autora (08/06/16)
2.3.6- ANÁLISE DO QUADRO COMPARATIVO
Observando as informações apresentadas no quadro podemos identificar quais são as necessidades básicas que uma arquitetura itinerante tem que atender. Quanto ao tamanho, ele pode ser variável, isso dependendo sempre de seu uso. A função específica de cada projeto apresentado mostra suas diferenciações (temos
uma moradia móvel, escritório móvel e um abrigo). A análise mostra que na maioria das vezes em seus programas de necessidades contém “Sala, banheiro, cozinha, área de trabalho e quarto/refugio/descanso” ou “espaços versátil”. Conclui-se então que esses itens acima citados são indispensáveis em uma arquitetura itinerante. Mais podemos ver também que todas as 3 referências apresentadas são portáteis, porém sendo De Markies e Arqtrailer (estruturas rígidas, podendo ser movidas através de reboque, caminhões, carros, entre outros; enquanto o Refuge Wear é de estrutura têxtil e transportado junto ao corpo pelo próprio usuário. São projetos itinerantes, que cumpriram as necessidades de seus usuários e apresentou resultados de acordo com o contexto e utilização. Cabendo a este trabalho extrair as melhores informações referenciais, podese afirmar que arquitetura itinerante, é uma forma arquitetônica que tanto tem a função de ser um espaço de moradia, quanto de trabalho ou apenas um refúgio portátil, para uma ou mais pessoas, o programa de necessidades que uma arquitetura deste porte está diretamente relacionado a esse uso sempre contendo área de dormitório, cozinha, banheiro e uma área versátil que dependendo do usuário possa se transformar no que ele deseja.
2.4- LEGISLAÇÃO A legalização de uma arquitetura itinerante varia de acordo com o modelo escolhido, e sua área de atuação. O aconselhável é sempre procurar a prefeitura da cidade onde essa arquitetura móvel se encontra, para que não cause infrações, assim não resultando em multas e ocasiões indesejadas. Segue alguns itens para legalizar seu empreendimento itinerante:
Solicitação junto a prefeitura ou subprefeitura para se obter um projeto desse; Solicitação do TPU – Termo de permissão de uso de espaços públicos; Solicitação da atividade na secretaria municipal de transito; Solicitação de licença para veículo no DETRAN; CAT – Certificado de adequação à legislação de transito; Solicitação CCT - Certificado de capacitação técnica para fabricar trailers ou transformar veículos, no INMETRO e DENATRAN (se necessário);
Emissão de um novo CRV- Certificado de registro de veículo, pelo DETRAN; Apresentação de Laudo de Vistoria e Inspeção de Autoridade Sanitária (se necessário).
3- CONCLUSÃO De acordo com os argumentos/exemplos que foram apresentados no desenvolvimento, pode-se concluir que ao longo de todo esse estudo o principal questionamento para elaboração desse artigo foi mostrar como a arquitetura itinerante pode ajudar nos tempos atuais, onde cada vez mais as pessoas têm se tornado “nômades” e buscam sair de uma arquitetura estática. E esse objetivo foi alcançado primeiramente com a identificação de quem são esses “nômades da atualidade”. E também através do estudo de referências que deixou claro que uma arquitetura móvel pode ser variável, se moldar e se transformar de acordo com seu usuário, dependendo sempre do seu tipo de uso, e se reafirmando na análise do quadro de comparação das referências onde mostra que essa nova tipologia que está tão frequente na atualidade cumpre com o programa de necessidades, e se torna uma forma mais viável para seus usuários. Então por fim conclui-se que a arquitetura itinerante veio para somar e tornar mais fácil a vida das pessoas que optam por esse estilo de vida nômade, e todo estudo apresentado aqui neste artigo confirma que a utilização dessa tipologia na atualidade atua sempre de forma útil.
4- REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Glauce Lilian Alves de. O projeto de arquitetura de espaços temporários com o uso de sistema construtivo remontável: um estudo exploratório. 2013. 285 f. Tese (Doutorado em Conforto no Ambiente Construído; Forma Urbana e Habitação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2013
A PRÉ-HISTÓRIA na arte e na arquitetura História e Teoria da Arquitetura I UNIGRANRIO - Professores: Glauci Coelho e Fábio Bruno Dólmen na Cornualha, Inglaterra. Fonte: http://www.dinosoria.com/dolmen_menhir.htm ARCHIGRAM.Archigram. Studio Vista Publishers, Londres, 1972. COELHO, Glauci; BRUNO, Fábio. A pré-história na arte e na arquitetura: História e teoria da arquitetura. 2016. Aula 3 - UNIGRANRIO. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/GlauciCoelho/aula-3-pre-historia-na-arte-e-na-arquiteturarevisado-em-060314>. Acesso em: 20 abr. 2016. CORBUSIER,
Modernistas,
arquitetura
e
patrimônio.
Lauro
Cavalcante
REPENSANDO o Estado Novo. Organizadora: Dulce Pandolfi. Rio de Janeiro: Ed Fundação
Getulio
Vargas,
2015.
Disponível
em
http://homes.ufam.edu.br/rogerioanjos/PACE/Repensando%20o%20Estado %20Novo.pdf #page=171/> JOTA, Fabiano de Oliveira; PORTO, Cláudia Estrela. Evolução das estruturas de membrana. 2012. 23 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Fau Unb - Universidade de Brasília, 2012. MACHADO, Daniela. Pré-história: divisão da história. 2012. Estudo e evolução da arquitetura na pré-história. Disponível em: <rehistoria.tumblr.com>. Acesso em: 20 abr. 2016. MAIOLI, Fah. Conheça o nomadismo, uma tendência de comportamento no universo da arquitetura e do design.2015. Plataforma online - Casa e Cia. Disponível
em:
<http://casaecia.clicrbs.com.br/premium/os-novos-nomades/>.
Acesso em: 07 maio 2016. ROMANO, Leonora; PARIS, Sabine Ritter de; NEUENFELDT, Álvaro Luiz. Estudo das evoluções e tecnologias da arquitetura itinerante. 2013. 16 f. Tese (Doutorado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria - RS, 2013.
SALTZMAN, Andréa. El Cuerpo disseñado: Sobre la forma em El preyecto de la. VASSÃO, Caio Adorno. Arquitetura Móvel: propostas que colocaram o sedentarismo em questão. 2002. 236p. Dissertação (Mestrado em Estruturas Ambientais Urbanas) – Faculdade de arquitetura e urbanismo da universidade de São Paulo – FAUUSP, São Paulo, 2002.