Ryan

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Copyright © 2021 de Talita Correia Nenhuma parte do conteúdo desse livro poderá ser reproduzida em qualquer meio ou forma – impresso, digital, áudio ou visual – sem a expressa autorização da autora sob penas criminais e ações civis. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas ou acontecimentos reais é mera coincidência. 1º edição, 2021 Capa: Talita Correia Foto da capa: halayalex em Freepik Diagramação: Talita Correia


Por muito tempo, ter o sobrenome D’Angelo significava que você dava as cartas em Pine Rivers. Até que o patriarca da família foi assassinado e a culpa caiu sobre um membro do meu clube, Connor Murphy, o homem que estava destinado a ser nosso presidente se tornou um fugitivo e o Inferno MC uma piada em Pine Rivers. Mas qualquer um consegue enxergar a verdade, ninguém ganhou mais poder que Francesco Rossi, ele criou seu império com as cinzas dos D’Angelos porque tem sob seu poder Sophia. A última D’Angelo viva é uma linda sedutora ruiva que aprendeu a esconder seus sentimentos em frieza e mentiras, mas ela veio até mim, em busca de vingança para sua família e meu clube. Sophia me ofereceu parte do seu império como pagamento, mas ela logo vai descobrir que sou um homem que não se contenta com pouco. Eu vou possuir Pine Rivers. Eu vou possuir Sophia D’Angelo. Aviso: Ryan é um romance destinado a adultos. Contém violência, linguagem inapropriada e relatos de abuso físico e verbal. Se você é sensível a qualquer um desses temas, Ryan não é para você.



Presidente: líder do grupo, o único com poder de dar ordens sem que elas precisem ir para votação. Vice-Presidente: braço direito do presidente, pode assumir a função de presidente no caso deste estar incapacitado ou ausente, mas com algumas restrições. Tesoureiro: responsável por manter controle das finanças do clube, é ele quem faz a coleta do percentual que cada membro deve pagar para a manutenção do clube. Sargento de Armas: responsável pela segurança do clube, liderar o clube nos ataques durante a guerra, e tentando identificar os membros considerados desleais ou potencialmente atuando para a aplicação da lei. Executor: um ou mais membro que atua ao lado do Sargento de Armas policiando o clube e seus membros, geralmente são eles que vão “sujar as mãos” para se livrar de traidores ou outros inconvenientes. Recruta: membro que ainda não recebeu seus patchs, não pode participar das missas e precisa provar ter valor para fazer parte do MC. Missa: são as reuniões do clube, apenas com os membros


oficiais, liderada pelo presidente Patch: emblema, contem insígnia do clube, nome, cargos e outras informações. Colete: como o próprio nome já diz, é o colete que os motoqueiros usam. Neles há os patches, seu nome, sua posição e o emblema do clube. Cores: as cores são a junção do colete com os patches. Um membro de um MC independente da sua posição, deve usar suas cores com orgulho. Old Lady: são as esposas ou namoradas dos membros do clube. Se um membro chama sua namorada de old lady, os outros já sabem que não podem tocar nela, ele garante respeito e proteção dentro da comunidade. Road Name: apelido.


Não saberia dizer o que me fez acordar, se foi a dor intensa, o sangue escorrendo pelo meu rosto ou se foram os gritos e risos deles. Talvez tenha sido meu ódio, pensando bem e levando em conta que estou em um cemitério cheio de fantasmas, posso apostar que foi ódio, se meu ou deles, não importa porque essa noite tudo terá um fim. Um novo fantasma vai vagar em meio a essas lápides.

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Antes


Poder. O sobrenome da minha família sempre foi sinônimo de poder absoluto em Pine Rivers, mas hoje, a última D’Angelo ainda com vida era nada mais que um troféu que Francesco Rossi possuía desde que se casou com minha mãe, Maria D’Angelo. Seu poder na cidade era uma herança que começou com meu bisavô, há mais de cem anos, usando o porto para traficar bebidas durante a Lei Seca, meu avô expandiu para armas e drogas. Agora, com ele morto e Francesco, um mafioso jurado, vindo diretamente de Nova Iorque, fez o porto da minha família ser o ponto de entrada para tudo que a máfia precisava. Pine Rivers era uma cidade mediana, economicamente dependente do porto e do turismo. E todas as empresas necessárias para fazer o porto funcionar, estavam sob o nome da minha família materna, deixando bem mais fácil encobrir os crimes que aconteciam nos labirintos de contêineres que formavam o Porto D’Angelo. Era literalmente como deixar a raposa cuidando do galinheiro, e Francesco Rossi era uma raposa velha que soube construir para si uma imagem do poder, respeitado em

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toda cidade. Em casa, existia outro tipo de relação de poder exercido pelo Francesco, cada vez que minha mãe não chegava nos padrões que ele determinava, uma marca roxa aparecia em seu corpo, nunca no rosto. Quando eu falhava, também era culpa dela, porque ela não sabia como me educar. Sempre começava com uma ofensa, seguida de pedidos de desculpas, o som das batidas do couro contra pele, súplicas e choro, ameaças e xingamentos. Por fim, escutava ele saindo de casa e mais tarde descobri que era para passar a noite com Isadora Ferro, sua amante. Tempos depois do som do carro ser apenas uma lembrança, minha mãe aparecia no meu quarto, me embalava em seu colo e implorava para nunca chorar na presença dele. Isso durou até sua morte. A versão oficial foi que durante um trágico acidente de carro, eu sobrevivi milagrosamente enquanto ela não resistiu aos ferimentos. A verdade era que minha mãe estava fugindo. Um dia antes do meu aniversário de 11 anos, minha mãe me levou no cinema, seguidas de perto pelos seguranças da minha família, não lembro como, mas, de alguma forma, acabamos na saída de emergência onde um homem nos esperava e nos levou até um galpão que, com certeza, já viu dias melhores. Não entramos no galpão, fomos recebidas do lado de fora por um homem mais velho, usando um colete de couro com uma caveira costurada nas costas, as palavras Inferno MC logo acima da caveira eram mais assustadoras que a caveira. Ele, depois de abraçar minha mãe e mexer no meu cabelo, me deixou sozinha com um menino. Estava tão assustada com aquela quebra de rotina e o que poderia acontecer se Francesco aparecesse naquele lugar, que não prestei atenção no menino, até que 12

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minha mãe me chamou, ele se despediu me chamando de princesa e fomos embora de um encontro que durou menos de duas horas. Quando voltamos para o shopping, ela me levou na sala de jogos e foi lá que os seguranças nos encontraram. Para eles, ela disse que eu não me senti bem vendo o filme e por isso saímos. Naquela noite Francesco a castigou como sempre fazia, mas por alguma razão, ele não foi embora e minha mãe só apareceu no meu quarto na manhã seguinte. Machucada e ainda chorando, minha mãe me faz correr com ela pelo cemitério atrás da mansão, quando chegamos na saída, ela entrou em um carro que não era dela e começou a dirigir bem rápido, não demorou para os seguranças aparecerem e nos perseguirem. Estava deitada no bando de trás, como minha mãe mandou, e de repente começamos a rodopiar até parar. Assisti, sem poder fazer nada, quando Francesco abriu a porta do motorista, bateu o rosto da minha mãe contra o volante até que ela ficou imóvel, sem vida. Todos os eventos daquela manhã, e os dias que se seguiram, ficaram meio confusas na minha cabeça. Não lembro de algumas das coisas que aconteceram, outras é de uma clareza estranha, como a forma como Francesco ria enquanto matava minha mãe, ou dela sendo enterrada no mausoléu da minha família, com Francesco recebendo votos de condolências de quase todos os moradores da cidade. Hoje estava completando, exatamente, dez anos que minha mãe morreu e o par de olhos azuis dilatados que me encaravam de volta pelo espelho eram as únicas pistas do meu descontrole. Consegui fazer minhas mãos pararem de tremer, a respiração encontrar um ritmo constante e até agora ninguém, entre a equipe que me arrumava e os seguranças do Francesco que me vigiavam, perceberam que estava quase vomitando de nervoso. Mais do que nunca, precisava Talita Correia

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desempenhar meu papel, hoje, Sophia D’Angelo Rossi seria nada mais que a boneca perfeita moldada pelo poderoso Francesco. Senti o clima no quarto mudar antes mesmo de ouvir sua voz. Era sempre assim, o medo daqueles que estavam perto sempre chegava antes dele. “Ela ainda não está pronta? Vocês tem dez minutos para deixar minha filha nada mais que perfeita ou nunca mais encontraram trabalho nessa cidade, fui claro?” Os funcionários começaram a correr pelo quarto, fazendo o impossível para atender as demandas dele. “E Sophia, lembrese que essa noite é muito importante, não vou tolerar nenhuma falha, minha querida. Agora, se apresse, nosso convidado de honra já chegou.” “Sim, papai.” Marcela Ferro entrou no meu quarto, usava um vestido bem mais comportado que o usual, geralmente, ela sempre se vestia para atrair toda a atenção para si e sua escolha de roupa indicava que alguém a ordenou a ficar assim, e por consequência, todos os olhos se voltariam para mim. “Tio Francesco, meu papa pediu para avisar que chegamos e ele quer falar com o senhor.” “Está cada dia mais linda, Marcela”, ele deu um gole em sua bebida enquanto a olhava sedutoramente. “Hoje você está especialmente deslumbrante.” Depois de trocar mais um olhar pecaminoso com Marcela, Francesco deixou o quarto, eles estavam sempre conversando pelos cantos, para desgosto do pai dela, Vicenzo, mas era sua mãe que frequentava a cama do Francesco e eu não poderia me importar menos com essa relação bizarra deles. “Meu papa tem razão, está linda hoje.” 14

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“Você também, Sophia.” Ficamos em silêncio depois dessa troca rápida de palavras, enquanto meu cabelo era arrumado como Francesco instruiu, Marcela examinava as poucas joias que ele tirou do cofre para que eu usasse essa noite. Eram da minha mãe, ainda não sabia se elas foram escolhidas como uma provocação ou um lembrete do seu domínio sobre tudo que deveria ser meu. “Você sabe quantos zeros têm nesse vestido? Seu pai foi bastante específico no que ele queria para você, e muito generoso quando viu o modelo que minha mãe escolheu.” Já estava completamente pronta, o vestido era curto, justo, com um decote modesto em V no busto, mas as costas eram escandalosamente abertas, deixava toda minha pele exposta, até a curva das minhas nádegas, seu corte era tão revelador que foi quase impossível achar uma lingerie que ficasse escondida nesse decote. “Transmita meus agradecimentos a sua mãe.” “Seu aniversário de 21 anos será em grande estilo!” “Sim, claro. Vamos querida?” Marcela desceu primeiro, se colocando ao lado da sua família para que minha entrada fosse um tipo de evento da noite. Enquanto atravessava a sala em direção ao Francesco, não encarei ninguém, eles precisavam pensar que estava com medo de estar ali, que eles tinham esse poder sobre mim, mas quase perdi o passo quando vi um desconhecido que me olhava de cima a baixo como se estivesse medindo uma mercadoria, ele me dava arrepios e eu cresci com um monstro. “Sophia”, Francesco colocou a mão na minha cintura e me guiou até ficar frente a frente com o estranho. “Conheça Luca Rossi, meu sobrinho e seu noivo.” Talita Correia

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Havia mais de cem pessoas ao longo da entrada principal da casa, meu aniversário de 21 anos e jantar de noivado, era o exato tipo de evento que Francesco nunca faria discretamente, e ele tinha Isadora para ajudar que cada detalhe fosse exagerado e impessoal. Passei mais de 6 horas trancada no quarto sendo preparada para essa noite e não vi quando balões dourados e rosas foram pendurados pela sala, além de outros detalhes com muito brilho e… Meus Deus, ela usou neon na decoração! Mas toda aquela cafonice estava passando desapercebida pelos convidados, não havia ninguém naquela sala que não estivesse encarando a mim ou Luca. Era até mesmo fácil ler suas expressões, algumas mulheres cobiçavam o jovem italiano em seu terno, relógio e sapatos caros, nada em Luca estava fora do lugar, até mesmo seu cabelo parecia impecável. Os homens também o encaravam, com medo, alguns com respeito, outros com raiva bem disfarçada em goles profundos em suas bebidas. E aqueles que me olhavam esperavam minha reação, ansiavam pelo próximo ato daquele show de horrores, Isadora e Marcela nem mesmo disfarçavam sua satisfação em me ver encurralada. “Bem-vindo a nossa casa, e a minha vida, Luca.”

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“Sempre escutei dizer que sua filha era uma beldade, Francesco, mas a realidade supera qualquer expectativa.” “Agora você entende porque mantive Sophia tão protegida, um homem deve guardar muito bem sua joia mais preciosa.” “Cabelos vermelhos exóticos, olhos azuis estonteantes e esse corpo, meu Deus, um homem santo venderia suas bolas para ter uma chance de se perder nessas curvas.” “Sempre fiz questão que Sophia prestasse a máxima atenção ao corpo, exigi dela nada menos que perfeição.” Enquanto eles falavam sobre mim como se eu não estivesse presente, me permiti avaliar melhor meu “noivo”. Era inegável que Luca era um homem bonito, tão alto quanto Francesco, eles compartilhavam os mesmos cabelos negros e olhando bem para os dois, dava para perceber algumas semelhanças físicas nos traços de seus rostos. Entretanto a maior semelhança entre eles era que ambos tinham a mesma áurea de intocável e olhos que prometiam violência. Se eu não tivesse sido criada pelo Francesco e soubesse exatamente do que um homem como ele é capaz, talvez me sentisse atraída por um tipo como Luca, afinal, ele era meu tipo de homem, sombrio, misterioso e perigoso. “Francesco, se sua filha continuar me encarando desse jeito não vou me comportar e nem cumprir com minha palavra de esperar para ter essa beldade em meus braços apenas no nosso casamento”, ele passou a mão pelas minhas costas, até parar na curva da minha bunda, parecia pouco, mas a forma como ele me olhava me dava arrepios de medo. “Bela, dois meses parecem muito tempo agora que vi o que estou levando desse casamento.” “Dois meses? Por que tão cedo, Francesco?” “Não existe necessidade de esperar Vicenzo, já decidi que o Talita Correia

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melhor para Sophia é que esse casamento aconteça o mais rápido possível.” “E agora que vi o que estou levando com esse casamento, não quero esperar nem um segundo a mais. Você é tão gostosa, Sophia, que estou me controlando para não te comer na frente de todo mundo aqui.” Me forcei a corar com sua declaração, Luca me guiava pela sala até a mesa de jantar, só tirando suas mãos de mim quando sentamos na mesa. “Isadora decorou a mansão para nosso jantar, mas ela e Marcela me convenceram que sua festa será mais… badalada se for no Heresy e como gastei uma fortuna para te dar aquela boate faz sentido usá-la nessa ocasião.” “Convidei todos os nossos amigos, querida, inclusive, Luna Herrera acabou de confirmar presença.” “Obrigado pelo presente papai. E, claro, Isadora, Marcela, vocês acertaram em cada detalhe do que desejaria para meu aniversário”, estava uma grande merda, assim como elas sabiam que estaria. “Adorei tudo.” “Entretanto, Luca, quero vocês de volta antes da meia-noite, temos negócios a resolver que não podem esperar. Senhores, aproveitem o banquete!” As conversas nunca giravam em torno de negócios, graças à presença feminina na mesa, mas as mulheres nunca falavam nada, a não ser quando perguntadas e era esperado delas um sorriso e uma resposta bobinha. Após a sobremesa ser servida, Francesco e seus homens de confiança foram até o escritório dele para fumar charutos e tratar de negócios enquanto, as mulheres foram enviadas para suas casas ou, no caso da Marcela, para o Heresy e eu fiquei sozinha com Luca pela primeira vez. Ainda brincando de menina doce e recatada, deixei que Luca 18

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me guiasse até a porta enquanto ele falava sem falar sobre aquilo que lhe interessava, e para Luca, a única coisa que importava era Luca, aturei calada seu monólogo interminável sobre si mesmo, que só terminou quando já estávamos navegando pelo bairro francês. “Sophia, você reagiu muito bem ao anúncio do nosso noivado, pensei que teria gritos e xingamentos.” “Francesco me avisou sobre nosso noivado, e sei o que é esperado de mim.” “Que ousada você é, acabou de chamar Francesco pelo nome.” “Ai meu Deus, estou com a cabeça tão longe que nem percebi”, fiz meu melhor sorriso tímido. “Como você disse, não estou surpresa com nosso noivado, mas sim com a data, tenho muito que organizar em pouco tempo, se papa descobrir que o chamei pelo nome me mataria.” “Eu sei que Francesco é meio paranoico, mas não deve ser esse monstro todo.” “Papai é um homem como nenhum outro, Luca. Ele é sábio, poderoso, um grande empresário e definitivamente não é nenhum monstro.” “Mas, eu, por outro lado, sou o próprio bicho papão.” Nunca entendi a popular frase que é melhor ficar com um mostro que você conhece do que um desconhecido. Luca um estranho, não sabia muitas coisas sobre ele ou suas intenções, mas nem por isso, quando ele soltou o cinto de segurança e se jogou contra meu corpo, uma das suas mãos subindo pelas minhas pernas nuas, não percebi quais eram suas intenções. Gritei, com toda a força dos meus pulmões, mas do mesmo jeito que tudo começou muito rápido, acabou. Uma sombra se projetava sobre Luca sem que ele notasse, e quando ele viu, ou melhor dizendo Talita Correia

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sentiu, já era muito tarde. “Que porra é essa?” Luca gemeu, mas suas reclamações pararam assim que escutou o som de uma arma sendo engatilhada. Ele se afastou de mim e eu pulei para fora do carro sem nenhum cuidado, não importava, só queria ficar longe daquele homem o quanto antes. “Diz a palavra, Princesa, e eu deixo esse cara sem metade da cabeça bonita dele!”

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Eu fui criado no Inferno. Não no sentido católico da palavra, mas no Inferno Moto Clube. Meu pai, Doug McGregor, é vice-presidente do clube, assim como o pai dele um dia foi e assim como um dia serei. Já minha mãe, Anne McGregor-Dubois, era uma nativa de Nova Orleans, que nada sabia sobre o estilo de vida de um MC, mas quando meus pais se viram pela primeira vez, em pleno Mardi Gras, meu velho a colocou na garupa de sua moto, até chegarem em Pine Rivers e me fizeram no complexo em meio a graxa, óleo e motos. Durante minha infância era impossível não me ver correndo atrás do meu pai ou de qualquer outro membro do clube. Mas foi meu avô, Sean, quem me ensinou a andar de moto, atirar, usar uma faca para tirar uma vida de forma rápida, e de forma lenta, mas sua principal lição foi sobre lealdade, um membro do Inferno jamais deve trair seus irmãos ou seu clube. Nosso atual e único presidente tinha a mesma idade que meu avô, mas Jack não tinha mais herdeiros. Connor, seu único filho, era um retrato na parede, uma homenagem aos membros do Inferno que

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morreram, e enquanto me moldava para ser um membro do clube, meu avô me contou histórias do Connor, aquele que um dia foi mais que um companheiro de clube, foi quase um filho para ele e melhor amigo do meu pai. Se um adolescente normal sonha ser seu cantor de rock favorito ou a porra do Super-Homem, eu queria ser Connor Murphy e um dia herdar o martelo que seria dele. Foi por isso que lutei todos os dias da minha vida desde que recebi meu colete, e não tinha preço que não pagasse. Para fazer dinheiro para o clube, tinha minhas próprias missões fora do Inferno. Jack, sabia o que eu fazia para ganhar dinheiro, aprovava, recebia sua parte e até mesmo se vangloriava da minha fama. Eles me apelidaram de Killer1, nada criativo, mas não importava por qual nome me chamavam, me davam um alvo, dinheiro e eu fazia minha mágica, não sobrava nada, nem corpo, nem pista, nem história. Meses atrás, pela primeira vez desde que comecei meu negócio paralelo, Jack pediu que usasse minhas habilidades para eliminar um perigo ao clube, mas no meio do serviço me ligou e deu novas ordens, voltar para Pine Rivers e sequestrar Sophia D’Angelo. Minha missão era simples, levar a garota, ilesa, até nosso complexo no limite de Pine Rivers, aproveitando uma rara oportunidade em que ela sairia da mansão desprotegida, era arriscado, mas não impossível, não para mim e Jack sabia disso. “Espalham que ela é tão fria quanto o inverno, um robô que obedece a cada ordem do pai com perfeição e graça. Caralho, fiquei

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Assassino em inglês

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sabendo que ela faz a festa de caridade da família ao lado da amante do Francesco e nem liga!” Bones, meu tagarela companheiro de missão, repete pela milésima vez alguma informação aleatória sobre Sophia. “Fico imaginando qual será o destino dela quando ele morrer.” “O papo acabou, rapazes, Sophia saiu de casa, carro conversível, italiano. Só ela e um homem”, Jack falou do nosso lado e, assim como eu, ele estava todo o tempo calado. “Ele é Luca Rossi, filho mais novo de Vito Rossi.” “Isso significa que além de sequestrar a herdeira do crime local, vamos fazer isso tirando ela das mãos do filho de um capo de verdade?” “Exatamente, algum problema com isso Ryan?” “Falta de informação é sempre um problema, Presidente. Ainda mais quando envolve o sobrenome de um importante cliente meu.” “Tente não ferir o pequeno Rossi que depois nos preocupamos com qualquer repercussão. Vamos repassar os planos, pela última vez.” “O carro vai passar por essa rua, a caminho do Heresy”, Bones falou, sua expressão mudando para uma versão séria e perigosa. “Eu e Ryan vamos segui-los, enquanto você vai pegar outra rota, de carro, bloquear o caminho deles e só aí vamos extrair Sophia, colocando no seu porta-malas, e em seguida vamos direto para o complexo.” “Fiquem alerta, assim que Francesco descobrir que Sophia foi levada, qualquer um com as cores do Inferno será um alvo, não posso me dar o luxo de perder bons soldados”, Jack parou de falar, verificou algo no celular, e quando se dignou a olhar para gente percebi o quão velho e cansado nosso presidente estava. “Façam a parte de vocês, peguem Sophia e tragam ela até mim. Vão.”

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Alguns minutos depois, um carro esportivo italiano passou pela rua escura que estávamos. Jack ligou o carro e pegou uma rua lateral, enquanto eu e Bones começamos a rodar, mantendo uma distância segura. Inesperadamente o carro fez uma curva fora da rota, sinalizei para Bones, e quando eles pararam em um beco entre dois prédios, fui até eles e meu companheiro se atrasou para avisar Jack da mudança de planos. Não faltava muito para eles chegassem ao seu destino e, sem saber o que estava acontecendo, sai da moto para observar de perto, e tentar manter o plano em ação, mas quando cheguei até o carro e vi o que estava acontecendo agi sem pensar. Peguei minha arma e aproveitando que o carro era conversível, acertei Luca com toda força usando minha arma. “Que porra é essa?” Enquanto ele me xingava em italiano, vi quando Sophia saiu de qualquer jeito do carro, quase caindo no processo e Bones entrou no beco, arma em mãos e pronto para agir, sem precisar que eu lhe dissesse algo, ele se colocou perto dela. “Diz a palavra, Princesa, e eu deixo esse cara sem metade da cabeça bonita dele!” Ela olhou para mim e, em seguida, para Bones e Luca, que estava na minha mira, fazendo uma exclamação de medo, ela desabou e se não fosse por Bones, bateria em cheio na sujeira do beco, só então Luca virou sua cabeça na minha direção. “Você sabe com quem está mexendo, filho da puta?” 24

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“Claro que sei, mas isso não muda nada”, queria verificar Sophia e sair daquele beco o quanto antes, estávamos muito expostos para meu gosto. “Se você quiser ter mais uns dias de vida, sugiro que cale a porra da boca.” “Quando for dono dessa cidade de merda, vou te matar com minhas próprias mãos!” “Engraçado você dizer isso”, depois de mais uma coronhada para deixá-lo desnorteado, prendi seus pulsos no volante do carro, com tiras de plástico que tinha em meu bolso, tirei a chave da ignição e guardei elas no bolso. “Desde quando um morto pode ser dono de alguma coisa?” “Eu vou destruir seu clube e vou te deixar vivo para ver tudo queimar. Sei quem é você e onde achar sua irmãzinha, se pensa que só porque ela ainda é uma menina vai me impedir de foder ela na sua frente, está muito enganado!” Eu já tinha tirado Sophia dos braços do Bones e a levava para rua, mas quando ele ameaçou destruir meu clube, a lealdade que corria na minha veia no lugar do sangue ferveu e exigiu uma retaliação, para piorar ele escolheu falar sobre minha Callie. Puxei minha arma, mas era arriscado, assim que o som do tiro ecoasse nas ruas, bastava uma pessoa curiosa para ficar um rastro e esse não era meu estilo. Ainda assim, seu sangue seria derramado essa noite e eu seria aquele a fazer isso. Usando a faca que meu avô me deu pouco antes de morrer, perfurei seu ombro e quando ele abriu a boca para gritar usei a mão para abafar o som. “Vou ceifar sua vida em breve, durma de olho aberto, Luca Rossi porque quando menos esperar”, puxei a faca e usei sua ponta para fazer um R onde havia o esfaqueado. “Estará queimando no Inferno.” Depois, bati com a sua cabeça no volante até que ele apagar.


“Já chega Ryan”, Jack havia acabo de chegar de carro e já carregava Sophia, desmaiada, no banco traseiro. “Temos que ir agora.” “Mantemos o plano?” “Sim”, Jack entrou no carro e Bones subiu em sua moto. “Vamos direto para o clube, o mais rápido possível, quem estiver na rua tem que voltar para o complexo agora, estamos em bloqueio porque você acabou de jurar de morte o herdeiro da máfia italiana.” “Não, estamos em bloqueio porque você está com a herdeira do crime de Pine Rivers desmaiada no seu carro.” “Você fodeu Luca porque ele ameaçou sua irmã, seu sangue e eu estou fazendo o mesmo, Sophia D’Angelo tem meu sangue correndo nas veias, ela é minha neta, filha do Connor.”

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Avenged Sevenfold – Hail to the King Avenged Sevenfold – Nightmare Black Stone Cherry – Hell and High Water Breaking Benjamin – Dance With The Devil Bullet For My Valentine – Waking the Demon Bullet For My Valentine – Your Betrayal Five Finger Death Punch – Fake Five Finger Death Punch – Full Circle Five Finger Death Punch – If I Fall Five Finger Death Punch – The Tragic Truth Iron Maiden – Fear of the Dark Nothing More – Go to War Theory of a Deadman – Angel Three Days Grace – Fallen Angel

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