Espaço Sagrado: além do projeto de uma igreja protestante

Page 1

1


“O que considero o primeiro e maior segredo da arquitetura, é que consegue juntar as coisas do mundo, os materiais do mundo e criar “este” espaço” (ZUMTHOR, 2009, p. 22)

2


3


CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

TALITA EVELYN FERREIRA DA SILVA

ESPAÇO SAGRADO: ALÉM DO PROJETO DE UMA IGREJA PROTESTANTE

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

SÃO PAULO 2018 4


TALITA EVELYN FERREIRA DA SILVA

ESPAÇO SAGRADO: ALÉM DO PROJETO DE UMA IGREJA PROTESTANTE

Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido no curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário SENAC, sob a orientação da Profa. Dra. Myrna de Arruda Nascimento.

SÃO PAULO 2018 5


Dedico este trabalho aos amores da minha vida, Francisca e Edilson, a melhor famĂ­lia que eu poderia pertencer - irmĂŁs, cunhados e sobrinhos. E ao meu noivo Alex, meu maior incentivador.

6


AGRADECIMENTOS A Deus, que me criou e foi muito criativo nesta tarefa. Seus fôlego de vida em mim, me foi sustento e me deu coragem para questionar realidades e propor sempre um novo mundo de possibilidades. Aos meus pais, Francisca e Edilson por todo o incentivo emocional e financeiro, por serem meu maior exemplo de superação e persistência, e por terem minha educação como uma prioridade em suas vidas. A minha irmã Brenna Késia, por ser o meu porto seguro nesta jornada, e mesmo sem entender minhas motivações, sempre me deu apoio e amor. A minha sogra Anete, por todo o apio e carinho dispensados nos ultimos anos desta jornada, pelo cuidado e dedicação que foram essenciais para chegar até aqui. Ao meu noivo, Alex Moreno Ruiz, por ser parte deste processo, nas ideias, nos desenhos, compartilhando experiencias e referencias, sendo paciênte comigo em momentos de tensão e empenho, e acima de tudo me amando. E finalmente a minha querida orientadora, Profa. Dra. Myrna, a você minha maior gratidão, por me guiar nesta etapa, “segurar” minha mão e me conduzir calmamente até aqui. Obrigada por compartilhar seus conhecimentos profissionais e de vida, por todo o incentivo e dedicação, sem você o resuldado não seria o mesmo.

7


RESUMO Este trabalho de conclusão de curso objetiva analisar a arquitetura de espaços sagrados, como uma experiencia perceptiva, além de seus atributos estéticos e funcionais. Pretende, portanto, estudar os elementos que compõem a arquitetura sagrada tornando-a capaz de transmitir emoções aos que a vivenicam. Os conceitos deste estudo serão aplicados na concepção de um espaço sagrado(um espaço destinado ao exercício da fé) onde serão incorporados simbolos da fé cristã, sendo eles a cruz -(representada na estrutura de concreto que é a porta de entrada do igreja), a água (que aparece como o elemento principal de todod o projeto em um espelho d’agua), a oração (o ponto de partida da forma surge da posição de reverencia, e a oração é possibilitada em ambientes de estar para reflexão e na nave), a luz (as aberturas criadas na sobreposição das formas permitam a entrada abundante da luz do céu nos ambientes da igreja), céu (este é visto dos diversos lugares no projeto, das salas a nave da igreja), o caminho (representando Cristo - o único caminho - surge a rampa principal que da o único acesso a nave da igreja), e por último o principio da unidade cristã, que aparece nos fechamentos dos vidos que são uma espécie de teia.

Palavras-chave: Arquitetura religiosa, Simbologia, Fenomenologia, Responsabilidade Social.

8


ABSTRACT This work of course completion aims to analyze the architecture of sacred spaces, as a perceptive experience, as well as its aesthetic and functional attributes. It intends, therefore, to study the elements that compose the sacred architecture making it capable of transmitting emotions to those who live it. The concepts of this study will be applied in the conception of a sacred space (a space destined to the exercise of the faith), where symbols of the Christian faith will be incorporated, being the cross (represented in the concrete structure that is the entrance door of the church) the water (which appears as the main element of all the project in a mirror of water), prayer (the starting point of the form arises from the position of reverence, and prayer is made possible in living environments for reflection and on the ship ), the light (the openings created in the overlapping of the forms allow the abundant entrance of the light of the sky in the environments of the church), heaven (this is seen from the different places in the project, from the rooms to the nave of the church) - the only way - there is the main ramp that gives the only access to the nave of the church), and finally the principle of Christian unity, which appears in the closures of vidos that are a kind of web.

Keywords: Religious architecture, Symbology, Phenomenology, Social Responsibility.

9


01 02 03 04 05 06 10

APRSENTAÇÃO

12 15

ESPAÇOS RELIGIOSOS

16 19

ESPAÇOS SAGRADOS

22

introdução

sensorial espiritual material

ESTUDOS DE CASO

27

Santuário Dom bosco Igreja da Cruz Torta Catedral Nossa Senhora de Aparecida

28 32 34 36

ATMOSFERAS

38 49

ARQUITETURA

50 52

signos simbolos


56 58 59 60 61 62 63 64 65 66 68 69-70 71 74 75 76 77 80 119 122 123

125

LEITURA URBANA

localização o terreno localização inserção urbana equipamentos malha viária mobilidade urbana uso e ocupação

PROJETO

desenvolviemnto da proposta pré dimensionamento expressão formal o projeto linguagem arquitetônica espaço arquitetônico estrutura desenhos

CONSIDERAÇÕES FINAIS conclusão

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

07 08 09 10 11


1 12


APRESENTAÇÃO

INTRODUÇÃO

13


E

ste trabalho pretende abordar a dimensão simbólica da arquitetura dos espaços sagrados. A motivação para o tema vem de experiências pessoais ao vivenciar espaços sagrados, voltados para o exercício da fé. Inicio esse trabalho de conclusão de curso com uma pesquisa sobre os elementos que compõem a arquitetura religiosa, tornando-a capaz de produzir sensações a quem a vivencia. A primeira etapa deste trabalho propõe um levantamento de espaços reconhecidos por sua originalidade. Posteriormente será elaborado um critério de analise para ser aplicado em todos os estudos de caso, visando a compreensão das soluções construtivas adotadas neste segmento arquitetônico. Segundo Pallasmaa (2011), “a arquitetura... faz com que nos sintamos como seres corpóreos e espiritualizados”, o que nos leva a pensar que a arquitetura não é para ser vista, mas sim para ser experimentada, é uma experiência sensorial. O objetivo deste TCC é aplicar os conceitos elaborados a partir da pesquisa de concepção de um espaço que represente a narrativa simbólica da fé cristã no espaço arquitetônico.

14


Desde 2011 faço parte de uma comunidade protestante onde estou envolvida com projetos e ações sociais que visam atender a demanda da comunidade local. Desta forma entendo que o espaço da igreja não pode ignorar essas atividades como parte do compromisso que a igreja assume pessoalmente com a sociedade. Portanto o projeto proposto apresenta projeto de uma igreja que vai além do espaço para cultos, um local com abrigo provisório para imigrantes, espaço de descanso e higiene para pessoas em situação de rua, salas para aulas e workshops, praça de alimentação, livraria e biblioteca, além de contar com uma praça aberta a comunidade para atividades ao ar livre.

15


16


ESPAร OS RELIGIOSOS

Se eu quiser falar com Deus Tenho que ficar a sรณs Tenho que apagar a luz Tenho que calar a voz ... - Gilberto Gil 17


A

história da humanidade é marcada pelo sentimento religioso. Desde os tempos antigos o ser humano busca se conectar com o divino. Faz parte da nossa natureza e composição esse interesse pelo espiritual e sagrado. A experiencia espiritual vai além da religião. Blaise Pascal (1623-1662) afirma que “não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual, mas seres espirituais passando por uma experiência humana”. Para os cristãos protestantes essa comunicação com o divino leva o nome de Oração. A oração é a forma de o ser humano sentir-se mais perto do criador. É o momento em que se experimenta a atuação do divino em sua vida. Por ela cresce a convicção de que sua presença, mesmo que invisível é real. Estudando as religiões percebemos um dado relevante, existe um espaço especial, um local separado para o encontro com o divino. A bíblia descreve esses espaços como sendo a morada de Deus: E me farão um santuário para que eu possa habitar no meio deles. (Êxodo 25:8 ARA) Espaços sagrados podem ser definidos como o lugar em que o humano e o divino se conectam. Cada religião possui o seu espaço, os muçulmanos possuem as mesquitas, os católicos as catedrais, basílicas ou inda paróquias, os Judeus encontram-se nas Sinagogas, e os cristãos nas igrejas, ou comunidades cristãs. Espaços consagrados a Deus. Segundo o dicionário da lingua portuguesa Aurélio, sagrado significa conferir um certo caráter santo, por meio de cerimônias religiosas. Consagrar, dedicar a Deus (AURELIO). A bíblia confirma a importância dos locais separados para rituais sagrados para sentir a presença do divino, em Mateus porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mateus 18:20). E em Gênesis Quando Jacó acordou do sono, disse: “Sem dúvida o ­Senhor está neste lugar, mas eu não sabia!” Teve medo e disse: “Temível é este lugar! Não é outro, senão a casa de Deus; esta é a porta dos céus”. (Gênesis 28:16-17).

18


Moltmann (1993, p. 214) afirma que o espaço sagrado é sempre um espaço demarcado. O “tememos” o delimita de outros espaços. Através da magia e do ritual, a região santa é protegida do mundo não-santo e inimigo. […] Delimitado, desta forma, do mundo profano e caótico, e dele excluído, o espaço santo, no entanto, está aberto “para cima” para a chegada dos deuses. […] Espaços santos são como exclusões do mundo, “portas para o céu”, espaços de passagem da qualidade de existência terrena par a celeste, da divina para a humana. Assim, percebe-se que todo ser humano carrega este desejo e sonho de um espaço sagrado, de um lugar de onde parte e para onde volta, um lar, uma casa. Entre a imensidão do universo e o microcosmo do ser de cada um buscamos um espaço. Entre a grandeza do mundo urbano e seus espaços e a pequenez do ser humano e suas necessidades ansiamos por um lugar que nos coloque no centro de nosso ser, no espaço do sentido e do mistério, do tamanho de nossas buscas, que comporte nossos desejos e necessidades, uma casa de encontro, uma morada de irmãos. (BAPTISTA, 2014, p.33). Segundo Baptista (2014, p.33) a concepção de espaço, dentro de uma visão marcada pela luz da fé cristã na revelação, portanto uma visão bíblico-teológica, só pode chegar a uma solução mediada pela doutrina da criação que conecta e diferencia entre o relativo espaço das coisas e o eterno espaço de Deus. Num transbordamento livre do seu amor, o Deus eterno sai de si mesmo e produz uma realidade que existe assim como ele existe, mas que é diferente dele. Deus concede um lugar para a sua criação ‘escondendo’ seu semblante e impondo à sua onipresença os limites em que o céu e a terra podem existir em relativa autonomia perante ele. Sua longanimidade concede espaço as suas criaturas. Sua paciência disposta ao sofrimento e sua longanimidade paciente são as virtudes de sua esperança para o retorno e volta de suas criaturas para o reino de sua glória. 19


3 20


ESPAÇOS SAGRADOS

“...o numinoso torna a experiência do sagrado uma manifestação de algo essencialmente impossível de racionalização. Isso não impede, por outro lado, que o exame racional desta manifestação consiga expressar esta antinomia... (OTTO, 1985, p. 42)

21


A

palavra “sagrado” provém do termo latino sacrum, que se referia aos deuses ou a alguma coisa em seu poder. Foi geralmente concebido como referindo-se à área em torno de um templo. Já o termo “santo” vem de sanctus, significando “que tem caráter sagrado, augusto, venerando, inviolável, respeitável, purificador”, separado para Deus. ¹ Um outro conceito a respeito do sagrado está presente na obra do pastor, filosofo e teólogo alemão, Rudolf Otto. Em seu ensaio sobre o sagrado ele atribui termos que ressignificam a compreensão do espaço sagrado além da experiencia religiosa. O campo religioso é um campo da experiência humana que apresenta algo próprio, que aparece só nele: a religião não se esgota em seus enunciados racionais. Ela também é composta pelo enunciado irracional, isto é, pelo indizível, que foge totalmente à apreensão conceitual, uma vez que nenhum conceito esgota a ideia de divindade. O termo sagrado (heilig) sempre esteve ligado a atributo moral no campo religioso. Porém, Otto esclarece que em línguas antigas esse termo significava algo mais e que outros significados são reinterpretações racionalistas do termo. (OTTO, 1985, p. 12). O autor ressalta “como o ser humano percebe a si mesmo de forma limitada e inibida”, por meio do título Racional e Irracional. Ele apresenta como racional a essência da divindade descrita por conceitos claros e expressa o a priori como o conceito e o a posteriori como o sentir. Então comenta que o cristianismo é uma forma de religião que mais possui clareza, nitidez e completude em seus conceitos. (OTTO, 1985, p. 33) Otto esclarece que toda linguagem pretende transmitir conceitos, porém de forma alguma conceitos esgotam a ideia da divindade, portanto a religião não se esgota em seus enunciados racionais. O sagrado, segundo o autor, é uma categoria inderivável. Ele é uma categoria composta. Composta porque apresenta componentes racionais (conceitos) e irracionais (indizíveis). (OTTO, 1985, p. 35)

¹ fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sagrado

22


Esses componentes, entretanto, são categorias estritamente a priori. Esse a priori é inerente à psique humana independentemente de percepção, isto é, está implantado no próprio espírito humano como sua primeiríssima origem. Assim, percebe-se que mesmo que todo conhecimento comece pela experiência não quer dizer que ele derive da experiência. O conhecimento empírico é apenas desencadeado por impressões sensoriais, pois já é uma capacidade cognitiva interior. A experiência do sagrado antecede todo e qualquer conceito de Deus. Portanto, para Otto, toda tentativa de extrema racionalização do sagrado é condicionada. (OTTO, 1985, p. 40) Devido a este caráter já esquematizado da noção de sagrado, Otto procura expressar o comportamento humano em relação a divindade, a característica primordial desta noção com um outro termo cunhado por ele, o numinoso² (p. 41). Este deve expressar simultaneamente tanto uma categoria quanto um estado anímico, ou seja, trata-se de uma forma conceitual que é aplicável a realidades consideradas sagradas a partir de uma percepção interna da pessoa humana. Deste modo, este termo fundamental da obra de Otto é cunhado para superar a limitação racionalista que ele enfrenta, ao mesmo tempo em que ele se funda na intenção de poder expressar racionalmente esta percepção do sagrado que Otto reconhece como uma capacidade que se deve conceber como um a priori humano – esclarecendo que não se trata de uma capacidade universal necessária, mas de uma possibilidade universal a priori – a racionalização humana desde o nascimento. (quanto a este esclarecimento, OTTO, 1985, p. 144).

² O sentimento numinoso é um estado afetivo específico provocado pelo objeto numinoso. O numem é o que emerge da idéia do sagrado enquanto elemento não apreendido por conceitos racionais, mas por determinado sentimento. Segundo OTTO (1992, p. 15): “Falo de uma categoria numinosa como de uma categoria especial de interpretação e de avaliação e, da mesma maneira, de um estado de alma numinoso que se manifesta quando esta categoria se aplica, isto é, sempre que um objecto se concebe como numinoso. Esta categoria é absolutamente sui generis; como todo o dado originário e fundamental, é objecto não de definição no sentido estrito da palavra, mas somente do exame.”

23


A partir do momento em que esclarece sua definição do sagrado e cunha o termo próprio para expressá-lo, Otto desenvolve uma fenomenologia do sagrado. Partindo de um conjunto de termos que expressam um desconforto angustioso no ser humano. O termo básico para isso é tremendum, que manifesta um respeito temeroso profundo diante do sagrado. Majestas expressa uma supremacia avassaladora contraposta ao humano, enquanto que orgé, exposto como energia divina, representa o poder de atividade incompreensível para a reflexão, sem por isso deixar de poder ser compreendido como ira, vingança ou mesmo amor. (OTTO, 1985, p. 47-53) Para ressaltar a contraposição do ser humano a este sagrado numinoso, Otto utiliza o termo mysterium. Enfatizada, neste caso, que o numinoso não é explicado pela razão. O mysterium caracteriza não só algo que não se sabe, mas o que é essencialmente não cognoscível, porque transcendente e distinto qualitativamente em relação ao humano. Entretanto, este mysterium “aparece” para o humano. É nesse sentido que Otto usa o termo mirum. Ele quer ressaltar uma antinomia entre uma percepção que o ser humano tem e sua incapacidade de compreensão racional imediata desta percepção. A razão última desta incapacidade está na diferença qualitativa entre o humano e o que se lhe aparece, mesmo que a busca por tal compreensão continue indefinidamente e, inclusive, possibilite um desenvolvimento do religioso na história humana. (OTTO, 1985, p. 2933) Porque o caráter de mysterium é incompreensível, ele também é fator de atração. O termo fascinans é empregado por Otto para designar isto. O sagrado numinoso causa um maravilhamento que desperta no ser humano o desejo de prolongar, repetir e compreender esta experiência. Importante é destacar o caráter antinômico do fascinans em relação ao tremendum. Temor que convida à fuga se contrapõe à atração que convida à auto-entrega e à fusão com o maravilhoso, mas ambos são aspectos do mesmo numinoso, o que torna a experiência do sagrado uma manifestação de algo essencialmente impossível de racionalização. Isso não impede, por outro lado, que o exame racional desta manifestação consiga expressar esta antinomia. (OTTO, 1985, p. 34-44) 24


Nesse sentido, escapa da razão algo que o estado anímico geral do ser humano consegue perceber: “Isso mostra que o conteúdo positivo é independente da expressão conceitual. Pode ser captado, compreendido, apreciado intimamente, mas apenas pelo sentimento.” (OTTO, 1985, p.38) Na relação dos conceitos fundamentais estabelecidos pela fenomenologia do sagrado de Otto merece destaque ainda o termo augustum. Este é importante porque é utilizado no esforço do autor em superar a concepção meramente moral da religião. Mas não se trata simplesmente de uma superação da noção moral do sagrado, e sim da busca por uma categoria que possibilite abarcar também a dimensão não-racional que se expressa anteriormente à racionalização que a reflexão moral sobre o sagrado efetiva. O caráter de augustum do sagrado expressa a dignidade excelsa que se contrapõe de modo infinito ao humano. Se a majestas expressava esta infinitude contraposta ao caráter ínfimo do ser humano, o augustum a expressa em termos da incapacidade última de alcançar a pureza completa. (OTTO, 1985, p. 55-57) Os conceitos concebidos por Rudolf Otto, ampliam a compreensão do sagrado além das definições comumente conhecidas, mas o que dizer daquilo que definimos como espaço sagrado? Haverá uma Teologia (theosis) do Espaço Sagrado? Campos (2014, p. 29-30), afirma que “Espaço teológico é aquele que envolve um processo de divinização, de tornar completo o homem: espírito e corpo, em identidade com o seu Deus. É um espaço de relacionamento com o transcendente que permite a adoração do homem ao Criador, de onde o ilimitado emerge do limitado. No cristianismo, o processo se dá inversamente – o infinito revela-se ao finito, ainda que a peregrinação não perca a validade.”

25


A bíblia descreve que “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens” (ator 17:24) Embora Deus não habitasse em construções humanas, a existência de um templo garantia que Ele habitasse entre Seu povo conforme Sua promessa. Devido à presença divina no templo, ele era tanto um lugar sagrado quanto um local de comunicação entre Deus e Seu povo. A existência de um templo também proclamava a força e o poder divinos. Era uma afirmação de que Ele Se envolvia e estava interessado nas questões do povo. A igreja, assim como o templo, deve ser uma representação apropriada do Deus que nela habita; deve refletir Seu caráter, Seu poder, Sua magnitude, e Sua influência na vida humana. A fim de revelar o caráter de Deus as religiões protestantes enfatizam em suas crenças o novo nascimento pela imersão nas águas, crer no sacrifício de Jesus na cruz, ter a oração como base da vida para experimentar a luz de Deus ao seguir o caminho da verdade e da união.

26


27


28


ESTUDO DE CASO

“[...]inúmeros arquitetos de todo o mundo, os quais estão tentando resensualizar a arquitetura por meio de um senso reforçado de materialidade e tatilidade, textura e peso, densidade do espaço e da luz materializada”. (PALLASMAA, 2011. p. 36) 29


M

unidos de reflexões teóricas partimos agora para a análise de alguns espaços sagrados vivenciados pela autora, nos quais foram identificadas qualidades sensíveis relevantes ao presente trabalho. Para análise dos casos foi considerado o seguinte critério: identificar os atributos arquitetônicos que despertam sensações nas pessoas, tais como, materialidade, cores e texturas, iluminação natural, transparências, contato com a natureza, escala do projeto, e características construtivas, como área do projeto, tipologia e circulação. Na sequência deste capítulo listamos três obras, organizadas em uma linha cronológica, escolhidas para análise de estudos de caso, e referências para o futuro projeto: Santuário Dom Bosco, Catedral Metropolitana de Brasília e Igreja da Cruz Torta. O reconhecimento ou identificação dos atributos são mencionados e organizados a partir de narrativas pessoais elaboradas durante e após a vivência destes espaços pela autora. Privilegiando o aspecto fenomenológico, utilizamos a narrativa com caráter descritivo para poder destacar o caráter pessoal e a ênfase na experiência perceptiva que o trabalho assume, como fonte de informação para o projeto futuro. Abaixo, situamos os projetos em uma linha temporal privilegiando três imagens que os identificam, destacando suas qualidades arquitetônicas e simbólicas (ou melhor, o caráter icônico destes projetos, reconhecidos por quase todos cristãos que os frequentam ou conhecem).

30


Linha do Tempo

1963

1973 Catedral Metropolitana de BrasĂ­lia

SantuĂĄrio Dom Bosco

1970 Igreja da Cruz Torta

31


Santuário Dom Bosco

C

onstruído em homenagem ao padroeiro de Brasília, São João Belchior Bosco – um padre de origem italiana que em 1883 sonhou com a construção do que ele denominou “a terra prometida”, a atual capital do país. O Santuário foi projetado pelo arquiteto Alvimar Moreira, e foi uma iniciativa da congregação salesiana. O santuário tem oitenta colunas de dezesseis metros e é decorado por vitrais em doze tonalidades de azul. No interior, um lustre de três metros e meio de altura, formado por sete mil e quatrocentos peças de vidro murano, simboliza Jesus, a luz do mundo. Portas produzidas em ferro e bronze, com baixos-relevos, lembram a vida de Dom Bosco.

Impressões: Era quinta-feira, após algum tempo de caminhada no sol de julho na capital do país, chego a uma rua estreita, sem saída, e usada como estacionamento de veículos. Olhando de fora, é apenas uma caixa de concreto com vários arcos góticos e uma cruz. Entro sem muita expectativa. A simplicidade do exterior não prepara para a magnificência da experiencia no interior do santuário. As paredes de concreto criam o perfeito cenário para os vitrais azuis que iluminam o interior do santuário. A luz refletida por eles cria uma sensação de paz interior inexplicável. Os vitrais (a cor e os tons do azul ao lilás e rosa, evocam a espiritualidade e leveza) trazem uma sensação de que estou sendo comtemplada pelo divino. Que Ele está naquele lugar. O silencio do local, a reverencia com que todos adentram a nave, confirmam a realidade da sensação.

Tomada por um forte sentimento espiritual me sentei na nave para contemplar a imagem de jesus na cruz esculpida em madeira, localizada no centro do altar. Que cena! Que experiencia única!

32


Fugura [1]

Figura [2]

Figura [3]

Composição [1] Fuguras [1] e [3] interior do Santuário. Fonte: autoral Figura [2] exterior do santuário, onde as janelas em arcos góticos podem ser claramente observadas. Fonte: www.nabaladadf.com.br/pontos-turisticos/santuario-dom-bosco/

33


Catedral Metropolitana de Brasília

A

Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, popularmente conhecida como Catedral de Brasília, foi projetada pelo arquiteto Brasileiro Oscar Niemeyer e construída entre 1959 e 1970. O edifício é definido pelos seus dezesseis pilares de concreto em forma de bumerangue, que partem de uma planta circular de setenta metros de diâmetro, rodeada por um espelho d’água, e sobem inclinadamente até tocar uns aos outros. A catedral em si está um nível abaixo do plano de acesso; o edifício é, assim, meramente sua cobertura. Seu acesso dá-se por um caminho criado por quatro esculturas, representando os evangelistas, que levam a uma rampa descendente, estreita e escura. Impressões: Vista de fora já impressiona. E também se cria um mistério para o que nos aguarda no interior da catedral. A entrada escura cria um cenário cinematográfico para a entrada no átrio do edifício. A monumentalidade interna parece estar além da majestuosidade externa. Ao entrar o olhar é direcionado inevitavelmente para a parte mais alta do teto. A entrada de luz natural, a vista do céu, o reflexo nos vitrais tão perfeitamente pensados para remeter ao útero de uma mãe, nos dá a sensação de estar em casa. Brota um sentimento filial inexplicável. A presença divina sentida é emocionante. Sentir como a arquitetura e comunica conosco emociona. O conjunto que compõe a catedral, o contraste entre o que foi visto externamente e o interior que se faz presente é surpreendente. Os vitrais que fazem os fechamentos entre os pilares enchem a nave da catedral de uma luz abundante, completando a experiencia espiritual em um edifício arquitetônico a mais completa por mim já experimentada.

34


Figura [4]- Autoral

Figura [5]

Figura [6] - Autoral

Composição [2] Figura [4] e [6] Vista interna da Catedral. Fonte: Autoral Imagem [2] Vista do exterior d Catedral. Fonte: Autoral

35


Igreja da Cruz Torta

O

ficialmente denominada Nossa Senhora Mãe do Salvador, localizada no alto de pinheiros, na capital paulista. A igreja é um projeto dos arquitetos Cláudio Joaquim Barretos e Francisco Segnini, as obras começaram em 1974 e terminaram em 1976, sendo a inauguração em 14 de agosto de 1976. Os materiais utilizados para a construção foram: concreto, vidro e madeira. Impressões: Era terça-feira, lá pelo horário do almoço. Em uma região nobre da capital paulista, onde pessoas de todas as idades circulam a caminho de bares e restaurantes. Na esquina da Rua está localizada a igreja, encoberta por arvores e palmeiras, mas de livre acesso para quem deseja achegar-se. Quando entrei no terreno não imaginava que a pesar e não ser católica ficaria tão impressionada e motivada a conectar-me com Deus. A materialidade em concreto com janelas de vidro que rasgam as paredes de cima a baixo proporcionam uma iluminação natural generosa em toda a nave da igreja. No púlpito vigas premoldadas de concreto formam o que seriam como formatos de cruz desconstruídos. E o elemento principal, centralizado no púlpito é uma cruz de madeira maciça pendurada por cabos de aço. Um rasgo na cobertura proporciona uma incidência de luz direta a cruz pendurada pelos cabos que não ficam aparentes. Dando a sensação de que a cruz está levitando. Essa composição nos eleva o pensamento ao céu, e ao sacrifício de Jesus na cruz. Agregando de forma simples uma energia espiritual e sagrada ao ambiente. Por estar recuada do alinhamento da rua dentro da nave o silencio é espetacular, e pelas grandes janelas de vidro é possível contemplar a natureza nos jardins laterais.

36


Figura [7] - Autoral

Figura [8] - Autoral

Figura [9] - Autoral

Composição [3] Figura [7] e [9] Vista interna da Igreja, onde o mobiliário, as janelas e os materiais podem ser vistos. Fonte: Autoral Imagem [8] Vista do exterior d Igreja. Fonte: Autoral

37


5 38


ATMOSFERA

“A atmosfera comunica com a nossa percepção emocional, isto é, a percepção que funciona de forma instintiva e que o ser humano possui para sobreviver” (ZUMTHOR, 2019, p. 12-13). 39


A

o falar de arquitetura sobressai inevitável e imediatamente o conceito da atmosfera, um ambiente, uma disposição do espaço construído que comunica com os observadores, habitantes, visitantes e, também, com a vizinhança, que os contagia. Assim entramos nas compreensões da qualidade de uma edificação. “Qualidade arquitetônicas só pode significar que sou tocado por uma obra” (ZUMTHOR, 2019, p. 10-11) “A atmosfera comunica com a nossa percepção emocional, isto é, a percepção que funciona de forma instintiva e que o ser humano possui para sobreviver” (ZUMTHOR, 2019, p. 12-13). Para entender a fenomenologia presente em uma edificação é importante entender o que afirma Zumthor, “Tudo existe apenas dentro de mim”, e que “Existe um efeito recíproco entre as pessoas e as coisas”. (2019, p. 16-17) “O que considero o primeiro e maior segredo da arquitetura, é que consegue juntar as coisas do mundo, os materiais do mundo e criar “este” espaço” (ZUMTHOR, 2019, p. 22-23). Munidos destes conceitos vamos analisar uma de arquitetura e a atmosfera que a envolve. As motivações para a escolha da mesma se devem a sua relevância para o projeto em desenvolvimento, que está contida na tabela a seguir:

Ficha técnica

Cidade das artes

Arquitetos: Christian de Portzamparc Localização: Riop de Janeiro, RJ Área: 46.000m² Ano do projeto: 2013

40

Arquitetura: Martín

Demandas Funcionais O projeto pretende unir a arte e a cultura em um edifício de estrutura robusta e arrojada. Cidade das Artes reunirá uma grande variedade de espaços: uma sala de concertos única no mundo, que pode se converter em sala de ópera e em teatro, uma sala de música clássica e de música popular, salas de cinema, de dança, de ensaio, áreas de exposição, restaurantes e uma midiateca. Integrar atividades diversas como, biblioteca, área de leitura, área de exposição e salas de aula, a um pátio

Demanda social/ simbólica

A Cidade das Artes é vista como uma grande casa, uma varanda sobre a cidade, homenagem a um arquétipo da arquitetura brasileira. O projeto é um símbolo público, um novo marco para o Rio, um sinal urbano de grande visibilidade. Sua arquitetura responde às belas curvas das montanhas e à linha do mar. O lugar se tornará a porta de entrada da Barra da Tijuca. Criar a través de equipamentos públicos uma alternativa urbana, cultural e de lazer para


A obra será o complexo cultural localizado na Barra da Tijuca, zona Oeste da capital carioca. Nela analisaremos a materialidade, o som do espaço, a temperatura, as coisas que o rodeiam, a sedução envolvida na obra, a tensão entre interior e exterior, a escala, e a relação do mesmo com a iluminação, tudo a luz do ensaio Atmosfera de Peter Zumthor.

Cidade das artes “A consonância dos materiais – os materiais soam em conjunto e irradiam, e é composição que nasce algo único”, “O corpo da arquitetura: a presença material dos objetos de uma arquitetura, da construção” (p. 22-25). A materialidade predominante no complexo é o concreto, armado, pré-moldados e protendido, juntamente com o vidro e o metal que faz os fechamentos com peças singelas de aço.

Figura [10] - Autoral

41


“O som do espaço – “cada espaço funciona como um instrumento grande, coleciona, amplia e transmite sons”. Isso tem a ver com a sua forma, com a superfície dos materiais e com a maneira como estes estão fixos” (p. 28-29), “concluir o edifício e pensa-lo a partir do silêncio” (p. 30-31). A localização do projeto, no eixo principal de entrada a Barra da Tijuca, no centro das principais avenidas de acesso ao bairro, e por estar recuado do entorno, e elevado do solo, o ambiente da cidade das artes torna-se propicio para ouvir o som do vento e do silêncio.

Figura [11] - Autoral

Figura [10] e [11] Vista externa da cidade das artes. Fonte: Autoral Imagem [12] Vista do térreo do edificio e do espelho d’agua. Fonte: Autoral Imagem [13] Vista de uma das entradas do edificio, acessada pela rampa principal. fonte: Autoral

42


A temperatura do espaço – “...os materiais retiram mais ou menos calor do corpo” (p. 34-35). O térreo do projeto é um espaço livre de edificação com a mesma dimensão do piso superior e com um pé direito de dez metros, possibilitando que o vento permeie o ambiente, tornando-se um abrigo no sol do Rio de Janeiro. A mesma sensação se dá no piso superior onde a altura de vinte metros da laje de cobertura deixa uma temperatura sempre agradável e convidativa ao espaço.

Figura [12] - Autoral

Figura [13] - Autoral

43


As coisas que me rodeiam – “acontece sempre que entre em um edifício... ficar impressionado com as coisas que eles têm no seu espaço de habilitar ou trabalhar” (p. 36-37) A Cidade das Artes se localiza entre o mar e a montanha, o que valoriza de maneira impar as vistas de qualquer lugar da esplanada que se cria a dez metros do chão.

Figura [14] - Autoral

Entre a serenidade e a sedução – “A arquitetura é uma arte espacial..., mas também é uma arte temporal” (p. 42-43), “existe a conclusão (ex. corredor de hospital) mas também existe a sedução, o deixar andar, o vaguear, e isto nós arquitetos conseguimos fazer” (p. 42-43). “...conduzir, largar, dar liberdade. Para certo tipo de utilização é melhor e faz mais sentido criar calma, serenidade, um lugar onde não terão de correr e procurar a parta. Onde nada nos prende e podemos simplesmente existir. Os auditórios, por exemplo, deveriam ser assim”.

Figura [14] Vista externa da cidade das artes. Fonte: Autoral

44


Para entender como este fenômeno se apresenta na cidade das artes vemos a planta baixa do edifício, a ausência de estrutura e paredes centrais possibilitam uma fluidez a quem vivencia o espaço, podendo este escolher por onde caminhar.

Figura [15] - Archdaily

A tensão entre interior – “estar dentro e estar fora” (p. 46-47). “à fachada diz também, mas eu não vos mostro tudo” (p. 48-49). “...o que é que nós, que o utilizamos, queremos ver, quando estamos lá dentro? O que queremos revelar? E qual é a referência que com o meu edifício levo até ao público? Pois este se comunica sempre com a rua ou a praça” (p. 50-51). A vista externa da edificação não prepara você para a sensação de estar no espaço, quando isso acontece o usuário ou visitante tem aquela sensação de mistério, o que o surpreende ao adentrar a edificação. Na cidade das artes esse mistério potencializa a experiência de vivenciar e circular livremente vendo montanhas, com o ar de um vento tropical tornando a permanência no local ainda mais sensitiva.

Figura [16] - Archdaily

Figura [15] e [16] Planta baixa e corte longitudinal. Fonte: Archidaily - disponivel em www.archidaily.com.br

45


Degraus da intimidade – “relaciona-se com proximidade e distância “escala”. O tamanho, a dimensão, a escala e a massa da obra” (p. 52-53). “...uma coisa grande, monumental, mas quando estou lá dentro, não me sinto intimidado, mas sim enaltecido”. “O espaço em redor não me intimida, mas torna-se de alguma forma maior, e deixa-me respirar livremente...” (ZUMTHOR, 2009, p. 54). Esta afirmação de Peter Zumthor é o que melhor descreve as impressões pessoais ao vivenciar os espaços da cidade das artes a despeito da escala (tão criticada), e um dos motivadores das escolhas projetuais do projeto produto da presente pesquisa. A pesar da monumentalidade o arquiteto consegue aproximar o edifico de quem o vivencia.

Figura [17] - Autoral

46


A luz sobre as coisas – “...pensar o edifício primeiro como uma massa de sombras e a seguir, como num processo de escavação, colocar luzes e deixar a luminosidade infiltrar-se” (p. 60-61) No projeto da cidade das artes o arquiteto Christian de Portzamparc foi muito assertivo nas escolhas que favorecem a iluminação natural em todos os ambientes da edificação, com exceção das salas de espetáculos, onde apenas o hall principal das mesmas tem essa iluminação favorecida pela entrada de vidro. Em ambientes onde a luz natural não seria suficiente para iluminar, subtrações triangulares na laje de cobertura possibilitam a entrada de luz.

Figura [18] - Autoral

Figura [17] Vista da lateral externa da cidade das artes. Fonte: Autoral Imagem [18] Vista interna do edifício. Fonte: Autoral Imagem [19] Vista interna da entrada da sala principal de espetáculo. fonte: Autoral

47


Figura [19] - Autoral

Mesmo com as descrições do espaço da cidade das artes, me aproprio da afirmação de Peter Zumthor para reafirmas que “A explicação da forma deve surgir da sua utilização” (p. 68). “...a arquitetura é feita para nós a utilizarmos”. “Esta é a tarefa mais nobre da arquitetura, o fato de ela ser uma arte para ser utilizada” (p. 69). O mais belo é quando as coisas se encontram, quando se harmonizam. Formam um todo. O lugar, a utilização é esta.

Figura [20] Imagem do térreo mostrando o espelho d’agua, as grandes estruturas de concreto que vão do solo até a laje de cobertura e as escadas de acesso ao piso superior onde as atividades diversas estão distribuídas. O pé direito desta imagem é de 10 metros do iso a laje. Fonte: Autoral

48


Figura [20] - Autoral

49


6 50


ARQUITETURA

Signos e símbolos “[...] A falta de humanismo da arquitetura e das cidades contemporâneas pode ser entendida como consequência da negligencia com o corpo e os sentidos e um desequilíbrio de nosso sistema sensorial”. (PALLASMAA, 2011. p. 17) 51


A

arquitetura do sagrado é repleta de simbologias e signos que fazem da mesma um código a ser compreendido e interpretado por aqueles que a vivenciam. Segundo o dicionário o termo símbolo, com origem no grego symbolon (σύμβολον), designa um tipo de signo em que o significante (realidade concreta) representa algo abstrato (religi-ões, nações, quantidades de tempo ou matéria etc.) por força de convenção, semelhança ou contiguidade semântica (como no caso da cruz que representa o cristianismo, porque ela é uma parte do todo que é imagem do Cristo morto). O “símbolo” é um elemento essencial no processo de comunicação, encontrando-se difundi-do pelo cotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber humano. Existem símbolos que são reconhecidos mundialmente, outros só são compreendidos dentro de um determinado grupo ou contexto. As simbologias em espaços religiosos, por exemplo, apresentam significados distintos para diferentes crenças e religiões. Em termos religiosos, os símbolos são a linguagem não verbal para expressar e representar a crença de determinado grupo de pessoas. Para entendermos os símbolos das religiões protestantes faz-se necessário entender que es-sas religiões surgiram como o inconformismo de um padre alemão em aceitar algumas prati-cas da igreja católica, assim em 1517 Martinho Lutero rompe com o catolicismo e inicia o movimento protestante. “O protestantismo tem uma pedra fundamental: a autonomia. A ideia de que só Deus salva, a subjetividade do indivíduo e a possibilidade de assumir e viver as diferenças vai gerar uma variedade enorme de igrejas”, diz o cientista da religião João Décio Passos¹, da Pontifí-cia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Isso ajuda a entender por que hoje exis-tem tantas ramificações entre os protestantes. Uma vez entendida a origem dos protestantes podemos atribuir Jesus (Deus Filho) como o personagem principal da fé cristã, e como base para suas crenças, a bíblia. Assim, utilizare-mos citações bíblicas para embasar os símbolos das religiões protestantes. Inicialmente foram enumerados 7 símbolos, são eles: Cruz, agua, oração, luz, céu, caminho e unidade. Falaremos de cada um deles, e como aparecem na propota do projeto.

52


Cruz Como um doa principais símbolos cristãos a cruz representa o sacrifício de Jesus Cristo, sua morte que trouxe vida aos que nEle creem. Dada a importância deste símbolo ele aparece na entrada a igreja, como um lembrete que somente a cruz traz salvação. Barras de concreto fazem a ligação entre a cobertura e a laje, formando entre outras formas, a cruz. Água Esta simboliza novo nascimento, renascer para uma vida consagrada a Deus. Também representa renovação e conserto (aliança). A água é a base do projeto, todas as estruturas surgem de dentro de um espelho d’agua suntuoso e que remete a ideia de nascimento. O espelho d’agua tem uma função imprescindível no projeto, por esse motivo ele tem o destaque principal na praça. Oração O único meio pelo qual o homem pode conectar-se com Deus, a oração não precisa de lugar nem hora, mas, para que este espaço sagrado trouxesse em seu desenho a ênfase da importância da oração os espaços verdes de contemplação e estar são ambientes apropriados para conexão com o divino. Luz A bíblia relata em João 8:12 as palavras de Jesus “Eu sou a luz do mundo, quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”. Claramente essa comparação representa quem Jesus é, e conseguintemente o papel que seus seguidores precisam ter no mundo. Em Mateus 5:14-16 Jesus fala aos seus seguidores “...vós sois a luz do mundo... não se pode esconder a cidade edificada sobre o monte”. ³ Fonte: https://mundoestranho.abril.com.br/religiao/como-surgiram-as-igrejas-protestantes/

53


Inspirado nestas palavras de Jesus o projeto traz de duas formas estes conceitos de luz: o primeiro é através das aberturas generosas em todo o edifício que possibilita uma visão do céu e entrada de luz, a segunda é através da monumentalidade da edificação, não se pode esconde-la. Céu O céu é o objetivo final para quem segue o cristianismo, assim ele é representado no projeto nas aberturas laterais da edificação, aberturas estas que possibilitam a quem esteja assistindo aos cultos na nave da igreja uma visão do céu, nem das árvores, nem da praça, mas do céu. Caminho “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, disse Jesus em João 14:6, e este discurso dele motivou a escolha de um acesso único a nave da igreja, ele acontece através de uma rampa suntuosa que vai de uma lateral da praça a laje de acesso a nave da igreja, simbolizando Jesus, o único caminho para a salvação do homem. Unidade A união é o que Deus busca entre seus filhos na terra, em João 17:21 ele diz: “para que todos sejam um, Pai, como eu sou em Ti, e Tu em mim”, essa crença me fez refletir sobre a unidade entre irmãos, as ligações ou laços cristãos, por pertencer a uma comunidade onde os relacionamentos são a ênfase do evangelho ensinado e pregado, vi no desenho dos fechamentos das grandes aberturas entres as formas de concreto uma possibilidade de fazer uma espécie de teia, que simbolizasse a ligação, a união entre o povo.

54


Figura [21] - Maquete desenvolvida pela autora

55


7 56


LEITURA URBANA

“[...] O significado final de qualquer edificação ultrapassa a arquitetura; ele relaciona nossa consciência para o mundo e nossa própria sensação de termos uma identidade e estarmos vivos. (PALLASMAA, 2011. p. 11) 57


Localização

E

ste capitulo contextualiza o local de inserção do projeto (Figura 22) de uma igreja protestante, a fim de mostrar o bairro, seu surgimento, como este se relaciona atualmente com as atividades já consolidadas pelos na região. O bairro Parque Industrial Tomas Edson possui uma localização privilegiada na cidade de São Paulo, visto a proximidade com bairros como a Barra Funda e a Santa Efigênia, e por estar em uma região com importantes pontos turísticos e referenciais culturais da capital paulista. Construído próximo aos trilhos para o escoamento da produção de café no fim do século XIX, e aos poucos foi perdendo sua vocação industrial e se estabeleceu como um dos mais novos polos industriais de São Paulo. Foi com o incentivo oferecido pela Operação Urbana Água Branca – um conjunto de intervenções da prefeitura para mudar a ocupação da região – e a expectativa de um projeto de revitalização da orla ferroviária que as imediações dos trilhos ganharam a atenção das incorporadoras (Figura 23), sobretudo a partir de 2010. Devemos considerar também o fato de a região ter fácil acesso a todas as regiões da cidade, o fato de ela ser bem atendida pelo transporte público e investimentos de drenagem e iluminação pública. É verdade que o caráter fabril do bairro ainda é visível. Muitos dos galpões (Figura 24)abrigam atividades industriais e a oferta do comércio e serviço é relativamente escassa. O que motiva as escolhas no nosso programa de necessidades.

Figura [22] Vista do Terreno da Implantação do Projeto. Fonte: www.google.com.br/maps/@-23.5233574,-46.6784631,386m/ data=!3m1!1e3?hl=pt-BR Figura [23] Vista dos galpões industriais na Rua Inocêcio Tobias Fonte: www.google.com.br/maps/@-23.5233574,-46.6784631,386m/ data=!3m1!1e3?hl=pt-BR Imagem [24] Vista da Rua Gustav Willi Borghof para os trilhos. Fonte: www.google.com.br/maps/@-23.5233574,-46.6784631,386m/ data=!3m1!1e3?hl=pt-BR

58


05/06/2018

642 Viaduto Pompéia - Google Maps

642 Viaduto Pompéia

05/06/2018

Figura [22] Fonte Google Maps

264 R. Inocêncio Tobias - Google Maps

264 R. Inocêncio Tobias Captura da imagem: set 2017

© 2018 Google

São Paulo Google, Inc. Street View - set 2017

05/06/2018

144 Rua Gustav Willi Borghof - Google Maps

Figura [23] Fonte Google Maps

144 Rua Gustav Willi Borghof Captura da imagem: jul 2017

© 2018 Google

São Paulo Google, Inc. Street View - jul 2017

Figura [24] Fonte Google Maps 59

https://www.google.com.br/maps/place/Rua+Gustav+Willi+Borghof+-+Parque+Industrial+Tomas+Edson,+S%C3%A3o+Paulo+-+SP/@-23.5235787,-46.6797885, Captura da imagem: set 2017

São Paulo

© 2018 Google


O terreno Localização

O

terreno escolhido para a implantação do projeto está localizado no bairro Parque Industrial Thomas Edson, pertencente ao distrito da Barra Funda, zona norte da capital paulista. Atualmente o terreno funciona como estacionamento para ônibus. Os principais acessos a área se da pela Rua Gustav Willi Borghof, Rua Paul Klee e o viaduto ponpeia. A Rua Gustav Willi Borghf faz o limite entre o terreno e o muro da linha férrea, a abertura da via que atualmente dá acesso exclusivo ao estacionamento para unir-se a Rua Anchiles Orlando Turcolo, que é era sem saida, terminando no muro do antigo estacionamento, facilitando assim os acessoas a igreja proposta, e as entradas e saidas de veículos.

60


Inserção Urbana

61


Equipamentos

62


Inserção Urbana do Bairro

63


Malha Viรกria

64


Mobilidade Urbana

65


8 66


PROJETO

“Uma boa arquitetura deve hospedar o homem, deixa-lo presenciar e habitar, e não tentar persuadir”. (ZUMTHOR, 2005, p.3) 67


Desenvolvimento do Programa

C

onsiderados os estudos de caso e as demandas do programa de necessidades do local a ser implantado o projeto, apresentamos a seguir o programa desenvolvido preliminarmente para definir os novos usos e como os mesmos poderiam ser distribuídos no terreno. A implantação proposta foi pensada de modo a interagir o equipamento com o seu entorno, comunicando o edificio através da praça com os vizinhos. O sistema de instalas um equipamento em uma praça agreja qualidade urbana ao projeto e fomenta possibilidades de diálogo entre o equipamento e a cidade.

68


Pré dimensionamento 1. Alojamento • 4 lofts • 2 apartametos familiares 2. Espaço Comunitário • Recepção • Diretoria • Administração • Assistencia social • Sanitários • Sanitários públicos 3. Espaço de cultura + Espaço educativo Biblioteca • Espaço de leitura • Espaço de computadores • Salas de aula • Salas de teclado • Salas de usicalização • Sala multiuso • Recepção • Área técnica • Acervo • Almoxarifado • Sala de consertos musicais • Área para exposições • Depósito • Sanitários • Sala de dança 4. Espaço Multiuso - igreja • Copa • Cozinha • Sala de reuniões • Salas de crianças • Salão de jovens • Depósito • Sanitários • Sala de Jogos • Sala para ensaios • Sala da banda 6. Igreja • Hall • Nave para 400 pessoas • Sala pastoral • Secretaria • Sala de projeções • Camarim • Almoxarifado

30m² 50m² 100m² 15m² 15m² 15m² 60m² 25m² 200m² 20m² 20m² 20m² 20m² 20m² 40m² 35m² 35m² 10m² 100m² 80m² 10m² 10m² 30m² 30m² 20m² 30m² 20m² 20m² 30m² 10m² 30m² 30m² 20m² 20m² 30m² 900m² 15m² 15m² 10m² 30m² 20m² 69


• Depósito • Sanitários 7. Praça de Alimentação • lanchonetes/ restaurantes • Áreas das mesas 8. Pátio descoberto

O programa de necessidades foi dividido a fim de atender 3 grupos distintos d demandas, sendo o primeiro, o grupo privado, proprio da comunidade cristã, que atende as suas necessidades particulares da administração a formação de jovens e crianças artísticas e cristã, o segundoapresenta-se como semi-público, externando o que tem aprendido através de cursos técnicos e teóricos de arte, e com apresentações artísticas, além de outros eventos de caráter evangelizadores, já o terceiro grupo se caracteriza como público, funcionando com um atrativo, para que a população se aproxime do equipamento, para que desperte a curiosidade e vontade de conhecer melhor através de um espaço urbano com elementos artísticos e de lazer estimulando reflexões espirituais e artísticas. O programa foi motivado pela afirmação de Palasma ( 2011. p. 11) de que “é evidente que uma arquitetura “que intensifique a vida” deva provocar todos os sentidos simultaneamente e fundir nossa imagem de indivíduos com nossa experiência do mundo. A tarefa mental essencial da arquitetura é acomodar e integrar. A arquitetura articula a experiência de se fazer parte do mundo e reforça nossa sensação de realidade e identidade pessoal; ela não nos faz habilitar mundos de mera artificialidade e fantasia”.

70

15m² 30m² 180m² 2.000m²


Expressão Formal

Figura [25] - Croquis desenvolvidos pela autora

A forma do edifício surge a partir de especulações de ângulos presentes na posição de oração, com o rosto prostrado em terra. Uma vez identificados os segmentos de reta que formavam estes ângulos iniciamos um estudo de especulação para entender que espaço a sobreposição destes ângulos nos possibilitava criar. A sobreposição de formas simples e lineares, juntamente com ângulos opostos sobrepostos, formaram a forma que dá inicio ao nosso estudo volumétrico para o desenvolvimento da proposta de uma igreja protestante que atenda ao programa de necessidades proposto.

Figura [26] - Croqui desenvolvido pela autora

71


Figura [26] - Esquemas isomĂŠtricos desenvolvidos pela autora

72


Figura [27] - Maquete desenvolvida pela autora

73


O projeto

O

projeto foi pensado para criar através de equipamentos públicos uma alternativa urbana, cultural e de lazer para os cidadãos do bairro Thomas Edson, pertencente ao distrito da Barra Funda. O projeto propõe novas maneiras de se aproximar e estar nos edifícios públicos e de se apropriar do espaço urbano. Trás uma proposta de relacionar o espaço privado, público e o semi-público de maneira harmoniosa. Integrar atividades diversas como, biblioteca, área de leitura e salas de aula, a um pátio com atividades de lazer, respeitando o espaço litúrgico e sagrado é o principal desafio que norteia o partido projetual. Possibilitar uma relação aberta de compatibilidade, otimização de espaços e serviços, se integram a este partido. No edifício da igreja pretende-se unir o máximo de funções sob o mesmo teto. Um desafio do projeto foi, portanto, a criação de espaços adequados para uma sala de aula, escritório, alojamento temporário, espaço para apresentações, uma biblioteca e um café/praça de alimentação sem afetar o espaço real da igreja. No paisagismo a intenção é incorporar elementos litúrgicos, focando na relação entre os espaços internos e externos. O equipamento se abrem para as praças, com usos diversos, dando uma maior dinamicidade e qualidade urbana ao entorno. Fez parte do programa do projeto um teatro, e em outro nível os alojamentos de emergência para uso da igreja. Nele está localizado também um setor de diretoria que coordena as atividades, aulas e apresentações que são de interesse da comunidade. O projeto buscou uma linguagem de uma arquitetura limpa com linhas retas, destacando os ângulos que compõem a volumetria dos edifícios. “[...] O significado final de qualquer edificação ultrapassa a arquitetura; ele relaciona nossa consciência para o mundo e nossa própria sensação de termos uma identidade e estarmos vivos. A arquitetura significativa faz com que nos sintamos como seres corpóreos e espiritualizados”. (PALLASMAA, 2011. p. 11)

74


Linguagem arquitetônica

O

edifício da igreja surge da sobreposição de linhas retas, não ortogonais, formando o contorno de um corpo em posição de reverencia. A ideia de sobrepor estes ângulos e formar um edifício único com ângulos retos e linhas perpendiculares e ortogonais onde cada extremidade das arestas de reta apontasse para o céu. A fim de manter o interior da igreja sem pilares uma estrutura em concreto protendido foi pensada para funcionar como uma espécie de casca, que envolve o edifício remetendo a ideia de cuidado, paternidade, uma imagem muito comumente associada a Deus, como o pai que cuida de seus filhos terrestres. As paredes estruturais do edifício surgem de dentro de um espelho d`agua, remetendo a ideia de nascimento, a criação principal de Deus. Os fechamentos entre as formas é feito com vidro e o controle da entrada de luz é feito por uma armação metálica que forma uma espécie de teia, que faz o fechamento dos vidros e que trás a imagem de conexões, e comunidade, um dos pontos principais para o desenvolvimento do programa de projeto. A fim de criar um edifício com uma monumentalidade, mas, que ao entrar as pessoas sintam-se acolhidas pela edificação. A entrada principal acontece através de uma plataforma suspensa de concreto, e acessada por uma rampa de sentido único que sai da lateral da praça e sobrepõe-se ao espelho d`agua dando a chegada (entrada) um ar teatral. O vão que chega atingir 25 metros na extremidade mais alta da “casca” de concreto, ganha uma outra dimensão dentro do edifício, onde o forro é rebaixado e painéis de madeira surgem para compor as soluções acústicas da nave da igreja. O piso no interior é elevado e metros do nível do solo, onde acontece a distribuição das atividades exclusivas da igreja, e contribui para diminuir o vão e aproximar as pessoas da edificação sem perder sua monumentalidade.

75


Espaço arquitetonico

O

projeto buscou uma linguagem de uma arquitetura limpa, com linhas retas e sobrepostas. A sobreposição de formas com aberturas opostas garantindo ritmo ao conjunto, mas ainda primando ela simplicidade. Essa caracteristica sóbria do edificio, lém de condizer com a relativa singeleza das comunidades cristãs, coloca-o como uma tela vazia, pronto a ser preenchido por vivências e experiências extraordinárias. Dentro da monumentalidade bruta do edificio da igreja, dada por sua dimensão, porte e materialidade, os elementos em vidro e a entrada em palanço sugerem alguma leveza, bem como o pé direito da entrada e da praça de alimentação. Os grandes panos de vidro e os rasgos nas laterais permitem uma boa entrada de luz natural aos ambientes e proporcionam visibilidade das atividades artísticas para os transeuntes, estimulando o contato e interesse dos que circulam na praça. Subtrações de formas angulares possibilitam a iluminação na nave da igreja através das grandes paredes de concreto, e possibilitam uma visão do céu para quem está assistindo ao culto. Na parte posterior da edificação o edifício ganha novas atividades e usos. Intencionando possibilitar que o edifício da igreja sirva a comunidade e tenha função educativa e cultural, cria-se salas para aulas de música e instrumentos, espaço para aula de dança e teatro. E ainda uma biblioteca de uso público. A praça de alimentação recepciona quem chega ao edifício para as atividades, e lojas, livrarias e um café fazem o acolhimento. Pelo papel que esses espaços assumem no projeto percebemos que a noção de caráter semi-público foi uma das diretrizes norteadoras da proposta. Tendo em vista projetar um espaço religioso, para o exercício da fé cristã onde as atividades litúrgicas sejam preservadas, sem prescindir da universalidade inclusiva.

76


Estrutura A estrutura tem um papel fundamental no edifício da igreja. As cascas que fazem toda asustentação e a forma de todo o edifício partem diretamente do chão com apoio de vigas inclunadas nomemso ângulo das paredes para fazer a sustentação, e para manter um resultado mais esbelto, utiliza-se o concreto protendido. As paredes são robustas por conta da necessidade acústica. O edifício é composto por um conjunto de cinco lajes (a 20 metros do chão) que são apoiadas por oito paredes que saem do solo formando a estrutura principal. No setor artístico(na parte posterios do edifício) as salas surgem em quatro pavimentos que acontecem sob a praça de alimentação que tem o pé direito duplo e apresenta uma estrutura independente da nave da igreja. As lajes de cobertura terão uma estrutua de vigas que se apoiam nos pilares externos das paredes, a laje suspensa do hall de acesso principal é maciça, com vinte e cinco centímetros de espessura. No setor ortístico foram lançadas lajes e vigas convencionais de concreto armado e protendido.

Figura [28] - Maquete desenvolvida pela autora

77


78

Figura [29] - Maquete desenvolvida pela autora


Figura [30] - Maquete desenvolvida pela autora

79


80


81


82


83


84


85


86


87


88


89


90


91


92


93


94


95


96


97


98


99


100


101


102


103


104


105


106


107


108


109


110


111


112


113


114


115


116


117


118


Figura [31] - Croqui desenvolvido por Bรกrbara Bravo

119


120


Figura [32] - Maquete desenvolvida pela autora

121


CONSIDERAÇÕES FINAIS

9 122


Conclusão

O

projeto concebido para o Parque Industrial Thomas Edson, tendo em vista o novo uso proposto, traduz as inquietações que iniciaram este trabalho de conclusão de curso de arquitetura e urbanismo. A dimensão simbólica anunciada na introdução como meta e desejo do projeto de um espaço sagrado, e a qualidade sinestésica do mesmo, também repercutiram no caráter sociocultural do edifício. Assim, além do espaço destinado ao culto religioso, o projeto inseriu práticas coletivas de sociabilização e entretenimento para a população local (e visitante), incluindo instalações como: praça de alimentação, livraria, café, papelaria, sala de musicalização, sala de instrumentos, sala de pratica de teclado, sala de dança, teatro para apresentações internas, e biblioteca, no complexo projetado. Esta experiência projetual como arquiteta neste momento concluindo minha graduação foi gratificante por proporcionar a oportunidade de conciliar meu interesse pela influencia da espiritualidade no desenvolvimento humano, com os conhecimentos arquitetônicos aprendidos durante o processo de formação. O projeto desenvolvido objetiva unir a criatura ao criador em um espaço sagrado de transcendência.

123


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

10 124


0

CAMPOS, João Carlos Baptista. O sagrado: linguagem simbólica e construção de uma categoria. [s.n.]. Campinas: UniCamp, 2014. FERRARA, Lucrécia D’Aléssio. Leitura sem palavras. 4. ed. Série Princípios. São Paulo: Ática, 2002. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 4° edição revisada e ampliada, 2002. MERLEAU-PONTY, Maurice. Tradução: Carlos Alberto de Moura. Fenomenologia da Percepção. 4°. Ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. MOLTMANN, J. Deus na criação: doutrina ecológica da criação. Petrópolis: Vozes, 1992. OTTO, Rudolf. O Sagrado: um estudo do elemento não-racional na idéia do divino e a sua relação com o racional. (tradução: Prócoro Velasquez Filho). São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1985. PALLASMAA, Juhani. Tradução: Alexandre Salvaterra. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. 2°. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2011. ZUMTHOR, Peter. Tradução: Astrid Grabow. Atmosferas. 1°. Ed. São Paulo: Guatavo Gili, SL, 2009. ZUMTHOR, Peter. Pensar arquitetura. 2°. Ed. São Paulo: Guatavo Gili, SL, 2006.

125


126


127


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.