CAPA VERSO DA CRAFT 120g NÃO IMPRIMIR!
Que possamos nos encontrar em um próximo Seder e, que até lá, todas as pessoas sejam livres.
Financiamentodaestreia
Edital de Incentivo à Montagem de Novos Espetáculos do CentroHistóricoCulturaldaSantaCasadePortoAlegre
A estreia do espetáculo ocorreu no dia 31 de agosto de 2023,seguidadetrêsapresentaçõesnosdias01,02,03de setembro,comsessõesàs20h.Alémdaaudiodescriçãode Rodrigo Teixeira e Rafael Braz (Mil Palavras) a temporada contou com uma sessão com Interpretação em Libras por SimoneDornelles.
Instagram:@espetaculoraizamarga
Conheçatambém:AudiodramaDesmemórias
Agradecemos à Coordenação de Artes Cênicas da Secretaria
Municipal de Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre, pelas indicações e torféus conquistados no Prêmio Açorianos de Teatro Adulto 2023.
Melhor espetáculo: Raiz Amarga
Melhor direção: Clóvis Massa, por Raiz Amarga
Melhor atriz: Letícia Schwartz, por Raiz Amarga
Melhor cenografia: Clóvis Massa, por Raiz Amarga
Melhor dramaturgia: Clóvis Massa e Letícia Schwartz, por Raiz Amarga
Agradecimentos
O espetáculo foi contemplado pelo “Edital Sedac 03/2024Atos e Cenas do RS, Regulamento para Espetáculos de Artes Cênicas no Teatro Oficina Olga Reverbel”, uma iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), por meio do Instituto Estadual de Artes Cênicas (Ieacen) e da Fundação Teatro São Pedro (FTSP), com o apoio do Sesc/RS.
Pela produção de objetos cênicos, Leniza Kautz Menda, obrigado pelos magníficos castiçais e pela disponibilidade generosa; pela impressão dos programas, obrigado à Gislaine Brum Grinschpun e Iair Grinschpun da Aquarela Esmalteria; pelo vinho, obrigado à Federação Israelita do Rio Grande do Sul e à Wizo; pelo espaço para ensaios, agradecemos à Daniel da Silva Elian; ao Colégio Israelita Brasileiro, agradecemos pelo apoio para divulgação e à Shoah Foundation, obrigado pela cedência dos depoimentos.
Obrigado pelo incentivo para realização deste espetáculo. Aida Anaf, Alice Blau Schwartz, Ana Cecília de Carvalho Reckziegel, Ana Luiza Azevedo, Anico Herskovits, Arih Lopes, Aurora Schwartz Schmitt, Carlos Schaun, Diana Burger, Edimilson Costenaro, Élcio Rossini, Elizabet Vivan, Eneida Knijnik, Fernanda Stein, Gabriel Schmitt, Giba Assis Brasil, Jorge Furtado, Jorge Schwartz Rein, José Carlos Nasr, Juliana Albu de Elian, Lelei Teixeira, Liana Richter, Magali Hochberg, Maicon Matos, Márcia Metz, Marco Fronchetti, Marcos Weiss Bliacheris, Miriam Brunstein, Naomi Siviero, Nora Goulart, Rafael Braz, Renata Pires, Rejane Knijnik, Rodrigo Shalako, Rodrigo Teixeira, Sergio Zylbersztejn, Silvia Balestreri Nunes, Silvia Richter, Susana Fröhlich, Vera Nigri e ao CHC da Santa Casa de Porto Alegre.
Fichatécnica
Elenco|ArleteCunhaeLetíciaSchwartz
Direção|ClóvisMassa
Dramaturgia|ClóvisMassaeLetíciaSchwartzapartir
detextosdeLetíciaSchwartz
Depoimentos|ReliGizelsteinBlau*
Produção|GiulianaNeuman
Iluminação|CarolZimmer
Operaçãoiluminação| ViniLopes
Cenografiaeambientação|ClóvisMassa
Cenotécnica|RodrigoShalako
Trilhasonora|DanielRoitman
Figurinos|Ogrupo
Audiodescrição|MilPalavrasAcessibilidadeCultural
Consultoriaemculturajudaica|MarcosWeissBliacheris
Consultoriaemmúsicajudaica|MargotLohn
Captaçãoderecursos|GiulianaNeuman
Fotografiasdedivulgação|BernardoJardimRibeiro
Projetográfico|NaomiSiviero
Edição|GiulianaNeuman
Revisão|ClóvisMassa
*AsfalasdeReliGizelsteinBlausãoexcertosdaentrevistaconcedidaàUSC ShoahFoundationemSetembrode1997
MaNishtaná
Manishtanáhalailahazé,mikolhaleilot?
Shebecholhaleilotanuochlim,chametzumatzá; halailahazékulómatzá.
Manishtanáhalailahazé,mikolhaleilot?
Shebecholhaleilotanuochlimshearierakot; halailahazékulómaror.
Manishtanáhalailahazé,mikolhaleilot?
Shebecholhaleiloteinanumatbilinafilupuamachat; halailahaze,shteipeamim.
Manishtanáhalailahazé,mikolhaleilot?
Shebecholhaleilotanuochlimbeinioshbinubeinmesubin; halailahazekulanumesubin.
Porqueestanoiteédiferentedetodasasoutras?
Emtodasasnoitescomemoschametzoumatzá, nestanoitesomentematzá.
Porqueestanoiteédiferentedetodasasoutras?
Emtodasasnoitescomemostodasaservas, nestanoitesomenteasamargas.
Porqueestanoiteédiferentedetodasasoutras?
Emtodasasnoitesnãotemosquemolharnossasverduras emcondimentonenhum, nestanoite,duasvezes.
Porqueestanoiteédiferentedetodasasoutras?
Emtodasasnoitescomemossentados, nestanoitetodosnosencostamosparacomer.
ChadGadya(trechodamúsica)
Chadgadya,chadgadya. Dizabinabahbitreizuzei.
Chadgadya,chadgadya.
Ve-atashunrave-akhlahle-gadya dizabinabbabitreizuzei. Chadgadya,chadgadya.
Ve-atakalbave-nashakhle-shunra, de-akhlahle-gadya dizabinabbabitreizuzei. Chadgadya,chadgadya.
Ve-atachutra,ve-hikkahle-khalba de-nashakhle-shunra,de-akhlahle-gadya dizabinabbabitreizuzei.
Ocabritinho,ocabritinho. Queomeupaicomprouporduasmoedas. Eveioogatoecomeuocabrito quemeupaicomprouporduasmoedas. Eveioocãoemordeuogato, quecomeuocabrito quemeupaicomprouporduasmoedas.
Eveioavara,ebateunocão quemordeuogato,quecomeuocabritoque meupaicomprouporduasmoedas.
Canções
Hinei Matov
Hinei ma tov umanaim
Shevet achim gam yachad
Hinei ma tov umanaim
Shevet achim gam yachad
Como é bom e agradável é
Que irmãos vivam juntos em harmonia
Como é bom e agradável é
Que irmãos vivam juntos em harmonia
Keará: bandeja ou travessa usada no Seder para colocar os alimentos simbólicos que fazem parte da cerimônia.
Kipá (plural kipot): chapéu característico que cobre o topo da cabeça, utilizado pelos homens para lembrar a presença constante de D’us.
Le chaim: “à vida!”. Expressão utilizada nos brindes.
Ma Nishtaná: título da canção na qual a criança mais nova faz quatro perguntas que questionam o porquê da noite de Pessach ser diferente de todas as outras noites.
Maror: ervas ou raízes amargas, consumidas no Seder em lembrança à amargura da escravidão.
Matzá (plural matzot): pão ázimo, não fermentado.
Mohel: homem que realiza a circuncisão nos meninos judeus.
Pessach: pular ou passar sobre. Festa da passagem, que celebra a libertação do povo judeu, quando escravizado no Egito.
Seder: jantar festivo realizada nas duas primeiras noites de Pessach em que é lida a Hagadá, bebe-se vinho, contam-se histórias, são consumidos alimentos especiais e cantadas diversas canções.
Glossário
Afikoman: a sobremesa do Seder. Pedaço de matzá retirado da Keará no início do Seder e escondido até o final da
refeição para ser procurado pelas crianças que participam da janta, e que é trocado por dinheiro ou presentes.
Brachá: bênção.
Carpas: vegetal em formato arredondado como salsa, cebola, batata, etc.
Chag Sameach: cumprimento utilizado nas festas judaicas desejando uma feliz festa ou feriado.
Chametz: pão ou alimentos fermentados, não permitidos no período de Pessach.
Charosset: mistura de maçãs e pêras raladas, nozes e vinho tinto. A cor e a consistência do charosset lembram a argila com a qual trabalhavam os judeus escravizados no Egito.
Eliahu Hanavi: Elias, ou “Eliahu Hanavi” como é chamado em hebraico, é o profeta que virá anunciar a chegada do Messias. Há o costume de abrir a porta da casa para que visite o Seder e uma taça de vinho é destinada a ele.
Goy: gentio ou não-judeu, em iídiche.
Hagadá: livro que orienta o Seder de Pessach, com a narrativa da libertação dos judeus escravizados e que detalha o ritual da noite e as canções que serão entoadas pelos participantes.
Motsi-Matzá (bênçãos sobre a matzá) - Erguem-se três pedaços de matzá e recitam-se bênçãos.
Maror (raiz amarga) - Cada um pega um naco de raiz amarga, mergulha-o no charosset e recita uma bênção antes de comê-lo.
Korech (sanduíche) - Come-se um pouco do maror e charosset entre dois pedaços de matzá, evocando antigos costumes.
Shulchan Orech (refeição) - O banquete festivo começa por ovos cozidos banhados em água salgada, como símbolo de nova vida e da esperança.
Tsafun (escondido) - Concluído o jantar, as crianças procuram o Afikoman, que é dividido entre todos. Esse é o último alimento ingerido no Pessach.
Berach (agradecimento) - Recita-se a Bircat Hamazon, a Bênção de Graças, e se bebe a terceira taça de vinho. Em seguida, serve-se a quarta e última taça, acrescentando-se uma, destinada ao profeta Eliahu. Abre-se a porta, como um convite para que o profeta se junte à celebração.
Hallel (cânticos de louvor) - Entoam-se cânticos de louvor e bebe-se a última taça de vinho.
Nirtsá (final) - Com a frase “Leshaná Habaá Birushaláyim”, “Ano que vem em Jerusalém!”, fazem-se votos de que, no Pessach seguinte, todos as pessoas estejam livres.
A sequência do Seder de Pessach
Kadesh (santificação) - Acendem-se as velas e recita-se o Kidush sobre a primeira taça de vinho.
Urchats (ablução das mãos) - Todos lavam as mãos, despejando água três vezes sobre cada uma delas, primeiro na direita, depois na esquerda.
Carpas (verdura) - Um pedaço de verdura ou legume cozido é mergulhado em água salgada, em lembrança das lágrimas dos judeus escravizados no Egito. Recita-se o Cântico dos Cânticos, evocando o renascimento e a renovação, e se ingere a verdura.
Yachats (divisão da matzá) - Uma matzá é quebrada em duas partes, remetendo à divisão do Mar Vermelho. A parte maior é embrulhada e escondida para o Afikoman.
Maguid (narração) - A narração da Hagadá tem início com as palavras: “Este é o pão da pobreza que nossos antepassados comeram na terra do Egito. Quem tem fome que venha e coma; todo o necessitado que venha e festeje o Seder de Pessach. Este ano estamos aqui; no ano que vem na terra de Israel. Este ano somos escravos, no ano que vem homens livres.” Em seguida, as crianças fazem a milenar pergunta “Má Nishtaná Halaila Hazê Micol Haleilot?” ou “Por que esta noite é diferente de todas as outras noites?” (ver em canções). Bebe-se o segundo copo de vinho.
Rochtsá (segunda ablução das mãos) - Lava-se outra vez as mãos, respeitando-se o mesmo procedimento da Urchats.
Raiz Amarga e o Seder de Pessach
Marcos Bliacheris Weiss
“Raiz Amarga” faz referência ao maror, um dos símbolos de Pessach, a festa que lembra a libertação dos judeus da escravidão no Egito. Comemos a raiz amarga porque os egípcios amarguram nossas vidas com a escravidão, assim como os nazistas fizeram há poucas décadas.
As memórias amargas são lembradas em um jantar festivo, chamado Seder, uma cerimônia marcante, onde cada detalhe tem seu papel para revivermos a jornada da servidão rumo à liberdade.
Se podemos comemorar é porque estamos falando de memórias, passadas mas vívidas, gravadas em nós como os números tatuados no braço da avó de Letícia ao chegar no campo de extermínio.
As falas, cantos e comidas do Seder vão entrelaçando a história de um povo com as vidas e lembranças familiares e pessoais daqueles que, ano após ano, repetem a mesma narrativa e fazem as mesmas perguntas porém, cada vez, com significados diferentes.
Desmemórias
Letícia Schwartz
Setembro de 1997. Depois que a equipe da Fundação Shoah recolhe o equipamento - foram cinco longas horas gravando o depoimento dela - minha avó senta ao meu lado, no sofá em que acompanhei parte do seu testemunho. "Eu sei como é difícil de ouvir", ela diz. "E para mim é difícil falar. Mas eu preciso falar e preciso que tu ouças, porque alguém tem que carregar isso adiante para que nunca volte a acontecer. Nem com os judeus, nem com ninguém."
Verdade seja dita, não foi bem assim, que a língua sempre se atrapalhava um bocado com as palavras em português. Mas a intenção era essa e o que vale é a intenção, não é mesmo? E aqui estou eu, depositária dos relatos, herdeira das memórias. Muito já foi dito (jamais será o bastante) sobre aqueles que sobreviveram aos campos de concentração. Muito há ainda a falar sobre as consequências da Shoah nas vidas dos descendentes desses sobreviventes. Pouco se sabe dos filhos. Dos netos, quase nada.
Mas estamos aqui, levando em nós aquilo que não vivemos, mas que herdamos e, de fato, nos pertence. Não se trata de histórias, mas sim da nossa história, individual e coletiva, gravada em nosso íntimo feito um número marcado no braço. Hoje, eu preciso falar e preciso que tu ouças, porque alguém tem que carregar isso adiante para que nunca volte a acontecer. Nem com os judeus, nem com qualquer outro povo.
segundo Jean-Pierre Sarrazac, o da narração de um acontecimento presenciado e o da exposição do próprio sofrimento por alguém que é testemunha de si mesmo.
No espetáculo, esses tipos, que podem ser chamados de político e de íntimo, conduzem ao pressuposto fundamental de lembrar de quem se é, a fim de garantir a preservação de uma memória viva e impedir que novos horrores deste tipo ocorram. Após a finalização do texto autoral de Letícia, em forma de monólogo ainda, ele sofreu várias transformações.
A primeira delas, ainda no período de isolamento devido à pandemia, num tratamento mais voltado à encenação. Nos primeiros dias de 2022, numa adaptação mais radical em forma de diálogo, quando convidei Arlete Cunha para fazer parte do espetáculo. A extraordinária experiência de Arlete em processos de natureza ritual, atriz que sempre admirei e com quem nunca tinha trabalhado, enriqueceu imensamente nosso trabalho durante os ensaios, e sua interlocução com Letícia equacionou o tom das falas, dando à cena o contraponto que faltava à narrativa, trazendo a alternância entre momentos densos e espirituosos.
A concepção do dispositivo, inspirada em um trabalho do artista francês Charlie Windelschmidt, colabora para a aproximação com as pessoas convidadas para o Seder, sentadas ao redor da estrutura cenográfica. A ambientação reflete o afastamento da fábula e enfatiza a presentificação, permitindo com que situações relatadas sejam evocadas pontualmente. Em nossa proposta, a ênfase testemunhal, por meio do relato, se coloca como um desafio, numa cerimônia para poucos, de reforço da simples presença, que recusa os excessos tecnológicos para trazer um pouco de luz às sombras que ameaçam nossas memórias.
Narrar o trauma
Clóvis Massa
A entrevista de Reli Gizelstein Blau concedida à USC Shoah Foundation, em setembro de 1997, em que fala da experiência como sobrevivente dos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau, foi a fonte documental escolhida para o início do processo de criação de Raiz Amarga, ainda nos primeiros meses de 2020. A abordagem, que remete à tradição da literatura produzida após os extermínios ocorridos na Segunda Guerra Mundial, aos poucos foi dando lugar ao testemunho de Letícia Schwartz, sua neta, que lindamente emprestou sua voz para narrar os traumas de muitas pessoas vitimadas – como foram seus ancestrais –, mas também recordar suas lembranças dentro de uma família que, como tantas outras, de diferentes origens e etnias, foram e ainda são atravessadas por questões de identidade, perseguição e reconstrução em suas vidas.
Enquanto processo complexo em que está envolvida a dialética da recordação e do esquecimento, a dramaturgia de testemunho assim constituída passou a considerar o Seder de Pessach como referência estrutural, ele próprio uma narrativa de testemunho coletivo. A noite de celebração da libertação dos judeus do jugo opressor no Egito antigo passou a ordenar a narrativa. Associado aos relatos sobre o genocídio e à exposição dos traumas sofridos pelas gerações posteriores, o Seder oscila entre dois tipos de testemunho presentes na dramaturgia,
Narrar o trauma pg. 4
Desmemórias pg. 6
Raiz Amarga e o Seder de Pessach pg. 7
A sequência do Seder pg. 8
Glossário pg. 10
Canções pg. 12
Ficha técnica pg. 15
Agradecimentos pg. 17
Somos muitos, nesta noite. Somos os que estão e os que já se foram; somos os pais e os filhos, e somos também os nossos antepassados. Somos um povo inteiro, em torno a esta mesa. Aqui estamos, para celebrar, aqui estamos para dar testemunho.
Moacyr Scliar
Nos primórdios, de acordo com a teoria popular, ao gravar em pedra, segurava-se o martelo com a mão mais forte, geralmente a direita, e o cinzel, com a mão esquerda, tornando mais fácil (e menos perigoso), gravar, ou escrever, respeitando o sentido da direita para a esquerda. As ferramentas mudaram (e muito!), porém muitos povos mantiveram a tradição mais antiga e seguem escrevendo da direita para a esquerda, até hoje. Alguns exemplos incluem os idiomas árabe, persa, japonês e hebraico.
Inspirados na escrita de uma Hagadá em hebraico, te convidamos a iniciar a leitura deste programa por aqui, e seguir lendo, para lá!
CAPA VERSO DA CRAFT 120g NÃO IMPRIMIR!
raiz amarga
por que esta noite é diferente de todas as outras?