Fanfic toda minha versão gideon cross (tammy kesher)

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Tammy Kesher Toda Minha Fanfic do 1º volume da Série Crossfire na versão de Gideon Cross


Sinopse Em ‘Toda Sua’ a publicitária Eva Tramell fala sobre o início de sua intensa e conturbada relação com o bilionário Gideon Cross. Agora é a vez de ele dar sua versão dos fatos.


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Capítulo 1 Visão do Paraíso Nossa, que dia mais entediante! Parece uma reprise de ontem e anteontem! Reuniões chatas, pautas chatas, documentos para assinar, deliberações, estou farto disso! Meus dias tem sido iguais, sem nada que realmente chame minha atenção. Tudo está sob controle, como deveria. Os negócios estão, como sempre, indo excepcionalmente bem, minha equipe está afiada, sempre atenta e com todo o planejamento em dia. A contabilidade está devidamente revisada, como deve ser. Nada entra ou sai dessa empresa sem que tenha passado por mim. E ainda há mais um jantar de negócios com investidores interessados em abrir mais cassinos em Las Vegas. Como se eu estivesse com ânimo e paciência para aturar um bando de engravatados esnobes! Só quero ir para casa, malhar um pouco, tomar um bom banho e relaxar, nada mais. Mal posso esperar para ficar sozinho, sem esse monte de vozes na minha cabeça! "Está tudo certo Scott?" pergunto ao meu secretário. "Sim, senhor Cross, tudo está conforme o planejado, falta apenas sua assinatura", responde ele, em seu tom profissional. Após deliberar a papelada, visto meu paletó, pego minha pasta e sigo para o elevador. "Scott, depois que terminar de organizar essa documentação, pode ir para casa", digo. "Obrigado, senhor Cross. Tenha uma boa noite". "Boa noite". Enquanto espero no elevador, verifico o horário: 18h00. Ainda tenho uma hora para chegar ao Eleven Madison Park, restaurante onde irei jantar com os investidores. Estou sem a menor paciência, mas vou manter minha impassibilidade e me aproveitar de minha especialidade em intimidar as pessoas para conseguir o esperado. As portadas do elevador se abrem e entro sozinho. Meus funcionários não se atrevem a entrar comigo, salvo se lhes for autorizado. À medida que vou descendo os andares, mais pessoas entram, mas para meu alívio, são poucas. Detesto pegar elevadores cheios, principalmente quando esqueço a chave mestra, que me permite pegar qualquer elevador sozinho. Eles me cumprimentam formalmente e me


5 olham com medo e admiração. Claro, sou o dono do prédio onde trabalham. Duas mulheres me olham como se me devorassem vivo, mas não dou a mínima. Ao chegar ao saguão do Crossfire, passo em disparada pelas catracas e vou direto para o Bentley. Angus, meu motorista e segurança, o único a quem eu confiaria minha vida, me espera do lado de fora e abre a porta traseira assim que me vê. "Boa noite senhor Cross", me cumprimenta com um sorriso profissional. "Boa noite Angus", respondo devolvendo-lhe o sorriso e entrando no carro. "Me leve ao Eleven Madson Park". "Agora mesmo, senhor". Ele fecha a porta e vai para o lado do motorista. Nesse meio tempo, pego meu celular para checar alguns emails. Quando, distraidamente, eu olho pela janela do carro, me deparo com a visão mais linda e incrível que já apreciei: PUTA QUE PARIU! Quem é essa loira? Ela está vestida com uma calça preta de yoga, tênis e blusa branca de ginástica. Com cabelos longos e lisos presos em um rabo de cavalo, tenho uma visão mais nítida do seu rosto. Pele branca, olhos claros, nariz arrebitado, lábios carnudos e naturalmente avermelhados. Ela é baixinha e tem um corpo cujas curvas são de matar! Eu nunca senti tanto desejo carnal por outro ser humano em toda a minha vida! Ela olha para o Crossfire com admiração, parece um pouco intimidada. De repente, imagino ela olhando para mim, desse mesmo jeito, agachada aos meus pés, nua. Ah, meu soldado já começou a bater continência só de imaginar! Então, num piscar de olhos, ela entra no prédio! Quando o motorista começa a arrancar com o carro, eu grito: "Angus, não!" Ele fica assustado e freia bruscamente. "Aconteceu alguma coisa, senhor?", pergunta em tom de alarme. "Eu já volto", disse firmemente, sem tirar os olhos da rua. Saio do carro e vou direto para o saguão do Crossfire, mas não a vejo. Pergunto aos seguranças da portaria sobre ela: "É uma nova funcionária, senhor Cross", disse um deles. "Parece que veio conhecer o locar de trabalho".


6 "Ah, sim", disse com indiferença tanto na voz quanto no rosto. "Apenas achei estranho uma mulher vestida daquele jeito entrar no meu prédio", emendei, a fim de não levantar suspeitas sobre minha curiosidade. Esgueiro-me para um canto do saguão fingindo verificar emails no meu celular, apenas esperandoa descer. Nossa, que comportamento patético! Eu, Gideon Cross, cercando uma mulher, quando deveria ser o contrário! Não estou me reconhecendo! Distraído em meus pensamentos, sou interrompido por sons de moedas tilintado no chão, quando olho, lá está ela, a deusa loira, que acaba de sair do elevador, e se abaixa para ajudar a moça que deixou as moedas caírem. Ao contrário das pessoas que saíam do prédio fingindo que nada aconteceu, ela e um dos seguranças se dispuseram a ajudar a pobre mulher. Vê-la nessa posição me deixa mais desesperado, e me dá uma visão privilegiada de sua bunda redondinha e apetitosa. Aproveitando disso, encaminho-me até lá e paro bem ao lado da última moeda no chão. Ela se estica para pegar e para no instante em que vê meus sapatos oxford muito bem engraxados; seu olhar sobe e percorre minhas calças pretas, meu paletó e camisa também pretos e minha gravata azul clara e, finalmente, meu rosto. Quando olha para mim, uma corrente elétrica se espalha por todo o meu corpo! Ela é realmente sensacional! Abaixo-me, a pretexto de ajudá-la, para fitar mais de perto aquele rosto impecável e quando nossos olhares ficam rentes... Sinto-me completamente exposto, como se aqueles olhos verdeacinzentados e intempestivos pudessem ler a minha alma. Realmente, perturbador, mas libertador ao mesmo tempo. A força que eu faço para me reprimir meus sentimentos confusos e perturbados é extrema. Foi a forma que encontrei para me proteger. No entanto, essa linda mulher parece enxergar esse esforço, que muitos veem como uma atitude natural. Como se, por instinto, estivesse tentando se proteger dessa energia esmagadora, ela se afasta e cai para trás, batendo sua bunda gloriosa e seus cotovelos no chão. Seus lábios se entreabrem e sua respiração fica mais pesada, como se tivesse corrido uma maratona. Eu posso jurar que escuto as marteladas de seu coração, rezando para que elas sejam altas o suficiente para encobrir o som das batidas do meu. Por fora, eu mantenho meu rosto impassível, porém educado, no entanto, por dentro, estou fervendo de desejo, realmente descontrolado. Quem é essa mulher e que diabos ela está fazendo comigo? Ela exala um cheiro inebriante, um misto de suor e fragrância feminina doce, suave, mas forte o bastante para me manter todos os meus sentidos entorpecidos. "Está tudo bem?", pergunto estendendo minha mão para ela. Ela então passa aquela língua rosada por seus lábios carnudos e ressecados e sussurra: "Sim".


7 Essa reação me deixa com tanto tesão que minha vontade é de levá-la pro meu escritório, rasgar suas roupas e fodê-la em minha mesa até perder os sentidos. Com esse impulso, me levanto e a puxo comigo, dando uma olhada melhor no conjunto da obra: ela é realmente um pedaço de mal caminho. Aparenta ter uns vinte e poucos anos, mas não exibe ares de ser inocente ou inexperiente. Vendo seu corpo de perto, reparo que se dedica à malhação, o que é ótimo, deve ter fôlego de sobra. Já imagino uma trepada feroz, selvagem mesmo, de rachar a cama ao meio. Ela me olha com uma intensidade avassaladora e aparenta estar pensando a mesma coisa. É uma atração absurda, como se cordas estivessem me puxando para perto dela. Sinto um estranho desapontamento quando ela finalmente cai em si e solta minha mão. Rapidamente olho para o chão e vejo um crachá com sua foto e me abaixo novamente para pegá-lo: Eva Lauren Tramell. O nome é tão forte e intenso quanto sua dona. Combina com ela. Ainda abaixado, volto meus olhos para a deusa à minha frente e pergunto: "Tem certeza de que está tudo bem? É melhor se sentar e descansar um pouco". Estou realmente preocupado com seu bem estar após o tombo. De repente, seu rosto cora furiosamente, e ela fica mais linda com esse ar de insegurança. "Apenas perdi o equilíbrio. Estou bem". A mulher que deixou as moedas caírem agradece ao segurança e se volta para pedir desculpas, mas quando me vê, fica tão hipnotizada que nem percebe quando Eva coloca as moedas em sua bolsa. Ela balbucia um agradecimento direcionado a mim, e eu sequer estou interessado em seu pequeno incidente, só tendo olhos para a loira estonteante à minha frente. Eva volta-se para mim e eleva sua voz à da outra mulher, com um traço de irritação: "Você poderia devolver o meu crachá, por favor?" Sem entender seu tom impaciente, mas apreciando seu olhar carnal e devorador, devolvo o crachá e aproveito para acariciar seus dedos com os meus, sentindo um choque prazeroso se espalhar pelo meu corpo por esse pequeno contato. "Obrigada", ela murmura e então sai apressada pelas portas giratórias. NOSSA! Eu nunca me senti tão atraído por alguém dessa maneira! Ela acabou de despertar de uma só vez todos os desejos sexuais que eu venho reprimindo durante todo esse tempo. Meu interior está caótico, meu coração bate como tambor, meu cérebro ainda está tentando processar todos os acontecimentos! Mas que porra! O que essa mulher fez comigo? Saio pelas portas do Crossfire transtornado, mas mantendo minha aparência controlada, entro no Bentley e falo com Angus para me levar para casa o mais rápido possível. Mando uma mensagem de texto para os investidores cancelando a reunião alegando imprevistos no trabalho e


8 marco um almoço no dia seguinte, no mesmo lugar. Em seguida ligo para Scott que atende no segundo toque: "Senhor Cross". "Scott, pesquise todas as informações que você puder encontrar sobre Eva Lauren Tramell, uma nova funcionária do Crossfire que trabalha na empresa de publicidade no 20º andar. Mande-me o dossiê por e-mail ainda hoje, impreterivelmente. Seja minucioso, eu quero todos os detalhes da vida dessa mulher, eu disse TODOS!" "Sim, senhor. Vou acessar o servidor do Crossfire imediatamente, fazer algumas pesquisas e enviar-lhe todos os dados". "Excelente". Desligo o telefone. Confio em Scott. É um rapaz muito eficiente e atende aos meus padrões rigorosos de trabalho. Volto a pensar naquela loira gostosa e enlouquecedora. Ela não é uma simples mulher bonita, comum. Eva é matadora e faz jus ao seu nome. Forte, experiente, uma força da natureza, mas com um ar submisso, dependente. Mistura interessante. Ela mexeu comigo de uma forma que nenhuma outra fez, nem mesmo Corinne. Imagino ela nua, na minha cama, gemendo de tesão enquanto a fodo com toda a minha energia, sem pensar em nada, apenas em satisfazê-la e me derramar inteiro dentro dela. Eu preciso fazê-la gozar pra mim. Ela tem que ser minha de qualquer jeito "Ah, Eva. Mal posso esperar pra ter você assim, toda minha".


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Capítulo 2 Caça à Eva Tramell Depois de chegar em casa em chamas, tomei um banho de água fria e pedi meu jantar no Peter Luger. Sentado, sozinho nessa mesa enorme, a solidão, antes uma companhia até bem vinda, tornou-se um pouco incômoda. Só consigo pensar naqueles olhos quentes e gulosos de Eva percorrendo o meu corpo, aquelas curvas marcadas nas quais eu me perderia sem pensar e naqueles lábios deliciosos e convidativos. Olho impaciente para a tela de meu Mac book, a fim de verificar se Scott enviou o dossiê, mas nada até agora! Preciso saber tudo o que puder sobre aquela mulher. Não deixarei pedra sobre pedra! Ela mexeu comigo de uma maneira que não consigo processar. A atração sexual era pesada, selvagem, uma evocação ao que o sexo tem de melhor. Parecia que ela removia cada peça de roupa do meu corpo só com o olhar. Essa reação é natural nas mulheres por causa da minha boa aparência, mas não com Eva. Ela me viu por inteiro; não apenas o exterior, a casca, a imagem impassível e controlada que eu mostro ao mundo. Ela entrou em minha alma, em meu espírito conturbado e os leu como a um livro. A vulnerabilidade é uma sensação que eu já não experimentava há muito tempo. Eu prometi a mim mesmo que jamais me deixaria sentir assim novamente. Eu seria o dono do meu próprio destino, ninguém exerceria nenhum tipo de poder sobre mim, nunca mais. Eu me comprometi a ser forte por mim mesmo, usei todo o meu potencial e minhas habilidades de negociação, minha formação acadêmica, todos os meus recursos para ter controle da minha vida. E para isso, resolvi varrer minha infância conturbada e meus sofrimentos para debaixo do tapete. Focar no trabalho, me empenhar em ser o melhor, em ter o melhor, me ajudou a dominar também os meus demônios (não todos), de forma a não ter que enfrentá-los. Ver meu ser traumatizado refletido nos olhos de Eva trouxe tudo isso de volta. E agora estou alarmado com tamanha exposição. O que tem essa mulher para me deixar tão louco assim? Que poder é esse que ela exerce sobre mim? Eu nunca senti algo sequer parecido com isso. Em meio aos devaneios ouço o barulho vindo do meu computador. Quando vejo o email de Scott com o assunto "Dossiê Eva L. Tramell" meu coração começa a bater em um ritmo alucinante! Meu corpo inteiro estremece em antecipação. Clico para abri-lo e, enquanto baixo o anexo, leio a mensagem deixada por Scott:

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10 De: Scott Harris Assunto: Dossiê Eva L. Tramell 8 de maio de 2012, 21:23 Para: Gideon Cross Sr. Cross, Perdoe-me a demora em lhe enviar o dossiê, mas a procura foi realmente difícil. Mesmo com minha pesquisa minuciosa, há algumas informações mantidas em sigilo absoluto. Os arquivos estão em anexo. Caso eu consiga encontrar mais alguma coisa, lhe informarei imediatamente. Scott Harris Assistente de Gideon Cross, CEO Indústrias Cross _____________________________________________________ Assim que o download é concluído, dou uma olhada nos arquivos, curioso para saber o que pode ser tão sigiloso, de forma que nem Scott, com toda a sua experiência e destreza em acessar informações que não lhe são voluntariamente disponíveis, conseguiu preencher todas as lacunas. Apesar de ter vários relatórios para ler, quero dar total prioridade a esse dossiê. Preciso saber cada detalhe de Eva, desde sua marca de xampu favorito até o número de seu calçado. Essa busca insana está me levando às raias da loucura e agora noto que uma barraca se mantém armada no meio das minhas pernas. Nossa, eu nunca fiquei tão excitado só pensando em alguém! Mas, vamos ao que interessa. Não é a primeira vez que tenho uma ereção e, se depender de Eva, com certeza não será a última. Ela tem 24 anos, é enteada de Richard Stanton, um consultor financeiro muito rico, não tanto quanto eu, mas já ouvi dizer que ele tem o que chamam de "o toque de Midas"; conheço sua esposa, Monica, a mãe de Eva, porque apoiamos quase as mesmas instituições de caridade, então nos encontramos em eventos dessa natureza de tempos em tempos. Pensando bem agora, percebo que Eva é uma versão quase idêntica, porém um pouco mais jovem, de sua mãe – que é sem dúvida uma linda mulher. O pai de Eva chama-se Victor Reyes e é um policial da Califórnia. Ele e Monica nunca foram casados. Antes, de se casar com Stanton, ela se divorciou duas vezes, e em ambas, a decisão foi dela. Quando se casou com o segundo marido, ele já tinha um filho dois anos mais velho que Eva, mas as informações sobre ele são escassas. Talvez não tenham mantido contato depois do divórcio.


11 De repente, imagens de Eva em frente ao Crossfire, e depois abaixada no saguão me começam a fervilhar em minha mente. Me imagino tirando aquela roupa de ginástica e saboreando suas curvas, passando minha língua por aqueles seios fartos, sugando-os até a exaustão, e descendo até sua barriga, sua cintura e, então, abrindo suas pernas maravilhosas para chegar ao ápice daquelas coxas suculentas e... Merda! Eu estou ficando duro como uma pedra. Preciso me aliviar ou vou acabar explodindo! Mas antes, preciso investigar alguns pontos importantes: será que ela é solteira? Se sim, será que vai se interessar em uma relação puramente sexual, sem sentimentos envolvidos, sem expectativas exageradas? Eu sei que ela me deseja, nossa atração era tão forte que o ar podia ser cortado com uma faca com apenas um golpe. Quando nos olhamos, ela estava praticamente me comendo. Eu tenho plena consciência de minha beleza, e a uso para minha vantagem sem o menor pudor; na maioria das vezes, nem é necessário muito esforço. Não passo despercebido a nenhuma mulher, nem mesmo a alguns homens (que com certeza não são alvo do meu interesse sexual). Minha riqueza é um atrativo a mais, e eu poderia ter quem eu quisesse mesmo se eu fosse mais feio do que a fome. Portanto, não é de se admirar que elas praticamente se joguem aos meus pés. Mulheres são predadoras e a primeira coisa que procuram em um homem é estabilidade financeira (leia-se: podre de rico), e, desde que esse quesito seja preenchido com louvor, elas não dão a menor importância para os quesitos seguintes; perto do dinheiro, eles tornam-se meros detalhes. Esta é, inclusive, uma das razões para separar minhas amigas de minhas parceiras sexuais. Sou um homem de 28 anos, vigoroso, inteligente, rico e no auge da minha vida sexual. E é apenas isso que lhes importa. Mas, como podem querer ficar comigo, se não sabem quem eu sou por dentro? Se não me conhecem de verdade? Não, me envolver emocionalmente com quem quer que seja está fora de cogitação para mim. Eu já tentei uma vez. Com Corrine. Mesmo sendo absolutamente linda e educada, quando ficamos noivos, percebi que nossa relação jamais daria certo. O noivado durou dois anos. Foi com ela que tive minha primeira relação sexual consensual, mas nunca passamos uma noite juntos. Transávamos em um quarto de um dos meus hotéis, que passei a manter, e íamos para lá sempre que queríamos ter intimidade. Nunca a trouxe para minha casa, nunca a tive em minha cama. Após a foda, eu sempre dava uma desculpa para não ter que passar a noite inteira com ela. As razões para isso começam a me encher de angústia e imediatamente fecho a porta desse pensamento. Alguns demônios nunca vão embora, como os que vêm sempre atormentar meu sono. Quando Corinne viu que sua tentativa de fazer com que eu me abrisse mais foi frustrada, ela terminou a relação e foi embora, provavelmente com a esperança de que eu iria implorar por mais uma chance. Mas, na verdade, o que senti foi uma onda de alívio, desde então, decidi que jamais me colocaria em uma situação dessas novamente. Recuperar o


12 controle sobre minhas escolhas, bem como a sensação de liberdade, me fez mudar de estratégia. E isso tem sido extremamente benéfico para mim ao longo dos anos. Esse, aliás, é outro motivo que me faz querer separar minhas amigas de minhas parceiras sexuais, pois assim não há confusões ou mal entendidos, expectativas, exigências, apenas sexo, em seu sentido mais cru e literal, com satisfação garantida! Mas, será que Eva estaria interessada nesse tipo de relação? Não posso descartar a mais remota possibilidade em caso afirmativo... Mas ela é solteira? Disso eu preciso ter certeza. O relatório diz que ela não tem uma relação conhecida. Mas ela pode estar dormindo com alguém, ideia esta que eu não aprecio, pois não gosto de dividir. E o seu colega de apartamento, Cary Taylor? Aqui diz que são amigos. Ele é modelo, bissexual, gosta de badalação. Eu não me importo com isso, cada um é cada um. Mas o que me interessa é se ele e Eva transam. Eu ficaria muito desapontado se sim, mas meus instintos dizem que eles são apenas amigos e, como eles raramente erram, não fico preocupado. Agora, preciso de um pretexto para me aproximar de Eva. Mas qual? Quando peguei seu crachá no saguão, vi que ela trabalha como assistente na Waters Field & Leaman, a agência de publicidade localizada no 20º andar do Crossfire. Logo abaixo do andar que ocupado pela sede das Indústrias Cross. Logo abaixo de mim, bem onde eu a quero... Mas que droga! Esse trocadilho me faz ficar duro de novo! Ah, sim. Escolhi a WTL para cuidar da nova campanha da Vodka Kingsman, cuja companhia é a minha mais recente aquisição. Sabendo que Mark Garrity, chefe de Eva, é um dos melhores executivos júnior da agência, apesar de nunca ter tido a chance de receber solicitações de grande porte, vou aproveitar essa deixa e chamá-lo diretamente, uma vez que essas solicitações são recebidas, primeiramente, pelo executivo sênior. Mando um email para Garrity marcando uma reunião esta quinta às 16h, em meu escritório. Talvez ele a leve, o que eu apreciaria muito, mas sua ausência não seria de todo um problema. Ao fim da reunião, posso descer com ele sob o pretexto de conhecer sua equipe. De qualquer maneira, ela não vai escapar! A temporada de caça à Eva Tramell está oficialmente aberta!


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Capítulo 3 Na lata

Hoje acordei mais determinado do que nunca. O dia no escritório será muito corrido, mas isso não irá atrapalhar meus planos. Atravesso as portas giratórias às 7h30 e pego o elevador, dessa vez portando a chave mestra, e assim, garantindo minha privacidade. Assim que chego ao 21º andar, as portas de alumínio se abrem e me deparo com minha recepcionista, Emma, uma ruiva muito bonita, mas que não faz nenhum pouco meu estilo. Ela está, como sempre, bem-vestida, bem manicurada e bem penteada, como deve ser. "Bom dia, senhor Cross", diz sorridente. "Bom dia, Emma", respondo com indiferença, mas educadamente. Nunca me envolvo com funcionárias e prefiro não dar motivos para que pensem o contrário. Quando chego à baía de Scott, que também está impecável em seu terno azul marinho e com seu cabelo bem aparado, ele se levanta para me saudar e, depois de, saudá-lo de volta, disparo: "Chame o Ben imediatamente". "Sim, senhor". Ben Johnson é o chefe da segurança. Um sujeito alto, negro que dá dois de mim e tem mais de 40 anos. Está sempre sério, mas já ouvi dizer que tem um grande censo de humor quando não está no trabalho e que é um ótimo pai para seus cinco filhos. Sua esposa é gerente de um dos meus hotéis em Manhattan. São profissionais exemplares. Ele foi escolhido dentre centenas de candidatos por suas habilidades com sistemas de segurança ultra-avançados e por seu treinamento em estratégias antiterrorismo. Depois de mais de quatro anos trabalhando para mim, devo dizer que não confiaria meu prédio a mais ninguém. O Crossfire tem câmeras nas entradas posteriores e nas dos fundos, em todos os elevadores, nos saguões e nas entradas de todos os andares. As verificações nos sistemas de CCTV são feitas periodicamente, uma precaução contra possíveis ataques terroristas. Essa checagem havia sido feita ontem, mas hoje, o motivo é outro: monitorar os passos de uma certa Srta. Tramell. Ordeno a Ben que


14 conecte meu computador pessoal ao sistema de segurança do Crossfire, assim terei acesso irrestrito a todas as imagens sem precisar sair do meu escritório. Também ordeno que ele monitore o computador de Eva. Quero saber quando ele será desligado, assim, sei exatamente o horário que ela irá sair, me dando a oportunidade de esbarrar com ela "acidentalmente". Quando menciono o computador de Eva, Ben franze levemente o cenho, como se estivesse confuso, mesmo mantendo seu rosto impassível. No entanto, ele não questiona meu interesse e age como se isso fosse algo muito natural, atitude que obviamente eu sempre espero dele. Afinal, lhe pago muito bem para obedecer minhas ordens e não contestá-las. Exijo discrição absoluta nessa tarefa. Especialmente porque o que estou fazendo é ilegal, muito ilegal. Mas o prédio é meu, então faço o que eu bem entender. Após dispensá-lo, paro para pensar alguns minutos: que porra é essa que estou fazendo? Porque tenho essa necessidade de saber mais sobre essa mulher? Porque, por falta de uma palavra melhor, caçála dessa maneira? Bom, não sei responder a nenhuma dessas perguntas, só sei que eu a quero, muito. Antes de pedir a Scott que entre para me passar o cronograma de hoje, dou uma olhada nas imagens em tempo real das câmeras do saguão. O fluxo de pessoas diminuiu um pouco, mas ainda há muita gente. Exatamente as dez para as nove, Eva cruza as portas giratórias de Crossfire e meu coração para. Ela está fabulosa! Arrumada e bem produzida, com um vestido preto que ressalta ainda mais sua silhueta curvilínea e suas madeixas loiras presas em um coque perfeito. Não que ela não estivesse linda da primeira vez, mas agora, a sensação é diferente. Claro, o tesão frenético continua, mas há algo mais, algo que não estava ali antes. Eu não sei. Eva entra no elevador e fica perto o bastante da câmera para que eu a admire de perfil. Simplesmente deslumbrante. Sua pele branca e macia está coberta por uma maquiagem discreta, mas que destaca seus belos olhos e sua boca gostosa. Meu pau endurece imediatamente. Eu não consigo parar de olhar, não consigo reparar em nenhum outro ser humano naquele elevador, só ela. Apenas ela. E aquela sensação estranha volta com mais intensidade, o que me deixa incomodado. Assim que o elevador atinge o 20º andar, Eva desaparece do meu campo de visão, e me sinto momentaneamente decepcionado. Nossa, pareço um adolescente abobalhado esperando a garota mais linda da escola entrar no refeitório! Isso não se parece com nada que eu já tenha sentido antes. Depois de acalmar o meu menino, que insiste em ficar tão ereto quanto um mastro, volto minha atenção para o dossiê que Scott me enviou. Algumas coisas me chamaram a atenção, e algumas me irritaram, como o fato de não haver o número do celular dela. Isso é frustrante porque não poderei rastreá-la, mas, em compensação, tenho os números da casa e de seu ramal na agência. Outra coisa, que achei bem estranha, foi o fato de ela não ter perfis em redes sociais, o que, para jovens em sua faixa


15 etária, é algo muito comum. Fico me perguntando se Stanton não seria o responsável pela falta dessas informações e, se tem, eu gostaria de saber por quê. Ah, que interessante e deliciosa coincidência! Ela e Cary moram em um dos condomínios residências dos quais sou dono. Ponto para mim! Vou falar com os funcionários da portaria para me manterem informados de seus movimentos. Pode parecer muito obsessivo, mas quando se faz o que eu faço ser minucioso é fundamental. Tanto numa transação de negócios quanto em uma conquista pessoal (em contexto sexual, que é o que me interessa), a informação é um meio vital para se chegar ao fim desejado. Mas agora, tenho que dar uma pausa nessa busca insana para ganhar mais alguns milhões. Meus interesses empresariais são variados, mas grande parte deles é direcionada ao entretenimento. Hotéis, cassinos, boates, fábricas de bebidas, negócios no ramo da música. Tudo referente a proporcionar lazer da melhor qualidade envolve o nome da minha empresa. A outra parte está direcionada ao ramo imobiliário. Uma grande parte de Manhattan e Las Vegas me pertence, além de outros lugares espalhados pelo país. Em nível mundial, em 20% dos negócios nas minhas áreas de interesse sou o sócio majoritário, mas nos outros 80%, controlados pelas Indústrias Cross, que está em expansão pelo mundo, eu sou o dono. Não é a toa que minha empresa é privada. Discutir decisões com outras partes não é algo que me apraz. Gosto de ter o controle absoluto de tudo o que é meu. Eu preciso disso. Foi uma estrada árdua para chegar onde estou. Conquistei tudo por contra própria, de forma honesta, e não há nada que me deixe mais orgulhoso do que isso. Depois de uma reunião matinal, de um almoço de negócios, outra reunião à tarde, e de uma detalhada analise de relatórios com Chad Martin, chefe do setor de hotelaria, meu dia finalmente chega ao fim. Em outras circunstâncias, eu ficaria muito cansado, mas especialmente hoje, estou ansioso, como se fosse fazer o PSAT*. Às 16h50 ouço um apito vindo de meu laptop: Eva acaba de desligar seu computador. Hora da caçada. Visto meu paletó, coloco chaves e celular no bolso e saio do escritório como um foguete, indo direto ao painel de elevadores. Uso a chave mestra para fazer com que todos os elevadores voltem para o térreo, menos o primeiro, que permanece parado em meu andar. Assim que entro nele, insiro a chave no painel de controle e aperto para que ele pare no 20º andar, assim, ela não terá escolha a não ser entrar no mesmo elevador que eu. Ele começa a descer. Inclino-me a uma das paredes, parecendo o mais casual possível. As portas se abrem e lá está Eva, parada, sua atenção voltada para o celular. Quando dá um passo à frente, levantando seus olhos, encontra os meus. Ela se detém, por um instante, mas continua olhando fixamente para mim, me analisando, me estudando, me devorando... Como na primeira vez. Seus lábios


16 se abrem e sua respiração fica mais áspera, como na primeira vez. As portas começam a se fechar. Dou um passo e aperto o botão para mantê-las abertas, dizendo: "Tem bastante espaço para nós dois aqui, Eva". Ela ainda fica parada, alguns segundos, com um olhar confuso e perdido, como se eu tivesse acabado de dizer que a terra é plana. Em seguida, entra no elevador: "Obrigada", sussurra. Esse simples agradecimento me deixa mais aceso que a Tocha Olímpica. Assim que as portas se fecham, aquela tensão sexual absurda volta mais intensa do que da primeira vez. A atração entre nós é tão forte que tenho que lutar bravamente contra a vontade de agarrá-la aqui mesmo. Em vez disso, pergunto: "Como foi o seu primeiro dia?" Ela parece surpresa com minha pergunta, mas não se virar para me olhar. Eu a observo atentamente. "Foi muito bom, e o seu?" pergunta educadamente, com os olhos fixos nas portas de alumínio. "Bom, não foi meu primeiro dia", digo em um tom divertido, "mas foi bem produtivo, e tem tudo para ficar ainda melhor", acrescento. Ela esboça um sorriso (lindo, por sinal) e permanece quieta. As portas se abrem e mais pessoas embarcam. Eva dá um passo para trás, recuando para o canto oposto, deliberadamente se afastando de mim. Mas não estou disposto a aceitar isso. Me movo para dar espaço aos outros passageiros, até ficar bem perto dela. A fim de provocá-la, ajusto o nó já perfeito da minha gravata, de forma que meu braço roça o dela. Eva tenciona e fecha os olhos. Deu certo. Assim que a porta se abre, noto que Eva espera as pessoas saírem do elevador com impaciência, provavelmente incomodada com minha presença. Assim que ela dá um passo à frente, coloco minha mão na base de sua coluna. Sinto seu corpo tremer ao me toque. Minha ideia é dar-lhe uma carona para casa, talvez convidá-la para tomar um drinque. Ela me olha, e eu continuo a encará-la sem dizer uma palavra. "Eva!" Uma voz masculina grita.


17 Quando me viro, dou de cara com Cary Taylor, seu colega de apartamento. Mas que cacete! Esse cretino está estragando meus planos! Um ciúme lancinante passa pelo meu corpo como uma corrente elétrica. Tenho que me conter para não manifestar a minha raiva. Dou um olhar gélido em sua direção. Ele me olha de cima abaixo como se fosse me comer vivo. Não, obrigado! Essa definitivamente não é minha praia. Assim que Eva o alcança, desvio meu olhar e vou direto para o Bentley. Ao ver meu rosto levemente franzido, Angus não diz uma palavra. Apenas abre a porta e dá a volta para toma seu lugar ao volante. Maldição! Agora, mais do que nunca, devo iniciar uma pesquisa sobre a natureza da relação de Eva e seu amigo. Não quero falhas no meu plano. _____//_____ Após treinar MMA arduamente com meu instrutor particular, tomo um banho e me sento para estudar novamente aquele dossiê. Após ser aceita na San Diego State University, Eva foi morar com seu pai na Califórnia. Durante esse tempo, começou a fazer terapia com o Dr. Jason Trevis e foi em uma das sessões em grupo que conheceu Taylor. Os dois ficaram amigos desde então. Ele é um jovem bem problemático: mãe alcoólatra, pai ausente, envolvimento com drogas, autoflagelação, tentativas de suicídio e uma lista enorme de relacionamentos homossexuais e heterossexuais conturbados. Minha nossa! Não é a toa que sua reputação promíscua é alarmante. Mais um motivo para ficar de olho nele. Por outro lado, a vida de Eva é um mistério. Seu histórico revela pouca coisa, teve alguns namorados durante a faculdade, (sobre os quais nem quero saber ou provavelmente irei quebrar a cara de cada um) nada demais. A frustração só não é maior porque amanhã é a reunião com Garrity e vou encontrá-la. Depois de cercar minha presa, chegou a hora de atacar. Dessa vez, para valer! _____//_____ Hoje estou mais do que eufórico, como se tivesse ganhado o Super Bowl! Mal posso esperar para vê-la. O dia passa devagar e isso me deixa um pouco impaciente. Como no dia anterior, espio a entrada de Eva no Crossfire e fico observando-a no elevador. Sinto-me envolvido pela sua magia, pela sua beleza e sua graça. De repente, ela olha para câmera, como se estivesse se sentindo vigiada. Meu coração dispara! Sinto novamente seu olhar me cortando como uma faca. Cinco segundos depois ela volta sua atenção para a porta, que acaba de se abrir para dois passageiros embarcarem! Puta merda, o que foi isso? Eu preciso dessa mulher imediatamente! Mergulho no trabalho a fim de esquecê-la um pouco, e quando dou por mim já são 15h30! Quase na hora! Dirijo-me para a sala de reunião. Scott me avisa que as executivas da Kingsman já estão me


18 esperando na sala de conferência. Quando entro, as duas se levantam. Ambas são morenas e lindas, mas, apesar de minha preferência por morenas, essas duas não são nada atraentes para mim. Abigail, vestida de terninho cor creme, me cumprimenta respeitosamente com um aperto de mão firme. Olhando de relance para sua mão esquerda, vejo que é casada. Já Ellen, vestida de lilás, reage de forma um pouco animada demais para meu gosto, e me olha como se eu estivesse nu. Solenemente, ignoro essa indiscrição. Meu secretário entra e nos avisa de que Eva e Garrity estão aguardando na recepção! Rá! Como eu suspeitava! Ele a trouxe. Uma excitação instantânea atravessa meu corpo, estou ansioso por isso! Dois minutos depois as portas da sala se abrem me dando uma visão maravilhosa de Eva, sorrindo. Uau! Assim que me vê, suas feições se paralisam e novamente, ela se detém em seu lugar. Garrity, que está logo atrás, não vê que Eva está parada e acaba esbarrando em seu corpo, fazendo-a tombar para frente. Instintivamente a pego pela cintura antes que caia no chão. Com um impulso que, de instintivo não tem nada, eu a puxo para meu peito. Nosso contato, quase de corpo inteiro, é indescritivelmente intenso. Eu respiro profundamente, e posso sentir seus seios endurecerem em resposta. É como se meu corpo desse a ela uma ordem silenciosa. Honestamente, não sei como não estou de pau duro por esse contato. "Olá de novo", murmuro. "É sempre um prazer topar com você, Eva". Seu rosto cora e fico ainda mais excitado pela sua timidez. Ela não faz o menor esforço para se soltar de mim. Atrás dela, Garrity pede desculpas pelo pequeno incidente. "Não se preocupe, foi uma entrada memorável". Eu a coloco no chão, ainda com meus sentidos caóticos, mas mantendo a compostura. Mark começa a apresentá-la, mas eu o interrompo alegando que as apresentações são desnecessárias. Ele pega o cotovelo de Eva para ajudá-la a se equilibrar e, confesso, eu voaria em seu pescoço se não soubesse que ele é gay. Eu a indico um lugar na mesa, perto de mim, claro, e ela se volta para Garrity como se pedisse orientação. Não gostando nada disso, chego por trás dela silenciosamente. Ponho a mão em suas costas e sussurro: "Sente-se, Eva". Ela obedece sem hesitar.


19 Durante mais ou menos uma hora, eu testo Mark, questionando-o como se estivesse em uma Inquisição. Tenho que admitir, ele é muito competente e responde a todos os padrões de exigência que imponho. E poucos são capazes de me impressionar assim. Encerrando a reunião, me viro para Eva e pergunto o que a faria se sentir tentada a experimentar a vodka Kingsman. Ela parece não ter entendido a pergunta, então a repito. Para meu desapontamento, ela dá uma opinião genérica e falsa. "Eu posso tirar todos da sala para obter para uma reposta sincera", disse, um tanto frustrado. Então ela dá uma reposta que me agrada e encerro de vez a reunião dizendo que Garrity já tem um ponto de partida para a campanha. Ele e Eva ficam atordoados com a minha tomada de decisão súbita. Ela é a primeira a fazer o caminho para a porta, e eu sigo logo atrás, conversando com Mark, a pretexto de acompanhá-los ao elevador. As portas de alumínio se abrem, e, assim que ela segue Garrity, eu a puxo suavemente: "Só um minuto, Eva. Daqui a pouco ela desce" digo para um Mark incrédulo. Quando as portas se fecham, me viro para Eva, que está atônita, e pergunto naturalmente: "Você está dormindo com alguém?" Ela cora novamente, respira fundo e me responde: "Porque você está me perguntando isso?" Escondo minha ansiedade atrás de uma máscara impassível e dominante. Ela parece intimidada e dá um passo involuntário para trás. "Porque eu quero comer você Eva, e preciso saber se há alguém atrapalhando meus planos". Ela está chocada com minha sinceridade, e dá mais um passo para trás, tentando se equilibrar. Estendo minha mão para ajudá-la, mas ela mantém distância e a empurra. Eu posso dizer que está excitada tanto quanto eu. "Talvez eu não esteja interessada, senhor Cross". Ela está mentindo e sabe que eu estou ciente disso. Não consigo conter o pequeno sorriso em meus lábios.


20 O apito do elevador a assusta, o que revela sua tensĂŁo e nervosismo. As portas se abrem e ela entra imediatamente. Assim que volta a me encarar, digo, ainda sorrindo: "AtĂŠ a prĂłxima vez, Eva". E eu mal posso esperar.


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Capítulo 4 Sonho erótico e... Teste do sofá

Volto rapidamente para meu escritório e digo para Scott: “Não estou disponível para mais ninguém hoje”. “Sim, senhor”. Quando fecho a porta atrás de mim, coloco as mãos no joelho e tomo uma respiração profunda, como se tivesse acabado de fugir dos cães do inferno. Ela me quer! Ela me deseja tanto quanto eu a desejo, só o pensamento disso endurece meu pau furiosamente! Vou até o banheiro privativo tentar me aliviar um pouco. A presença dela deixa meu corpo em completo estado de caos. Eva desperta meus desejos sexuais mais primitivos e animalescos. Geralmente sou muito comedido nesse aspecto. Eu desperto isso em todas as mulheres; as com as com quem durmo são ofertas que eu decido não recusar, que satisfazem minhas necessidades momentâneas. Quando elas não correspondem mais as expectativas, encerro a parceria. Simples assim. Mas Eva... É o fruto proibido em pessoa! Não consigo raciocinar quando sua imagem me vem à mente. Ela me descontrola, me distrai, mexe com todos os meus sentidos, meus nervos e rouba minha paz! É como se minha sanidade se esvaísse aos poucos e eu perdesse o controle de mim mesmo, mas de uma forma positiva. Sinto como se tivesse despertado de um sono profundo que durou séculos! Minha vontade de tê-la é imperativa, quase dolorosa. Saio do escritório e sigo todo o caminho até em casa pensando nisso. Sou despertado de meus devaneios pelo barulho do meu celular. Recebo uma mensagem de texto: *Oi querido, como você está? Liguei para seu escritório, mas me disseram que você estava ocupado. Precisamos conversar. Assim que estiver tranquilo, ligue-me, estarei esperando. Beijos, Corinne* Ah, era só o que me faltava! Ser perseguido pela minha ex. Será que Corinne não vai se tocar de que o “nós” não existe e nunca mais vai existir? Esse apego esta começando a me dar nos nervos. Tenho muito carinho por ela, somos amigos. Nos conhecemos há muito tempo, ela foi minha primeira


22 namorada, temos uma história, mas é só isso. E não vai passar disso. Ainda mais agora que tenho outros planos... Após uma chuveirada, vou até meu escritório para responder alguns emails. Margareth, chefe da equipe de Marketing, me envia um lembrete para marcar uma reunião cuja pauta é a publicidade em cima de um novo hotel-cassino que estou abrindo em Las Vegas. Marco a reunião para amanhã às 14h. Organizo alguns documentos para minha viagem ao Arizona na próxima semana. Estou abrindo um novo empreendimento lá e quero conferir de perto o andamento das obras e a folha de orçamento. Eu ia nesse fim de semana, mas tive que adiar por causa do baile beneficente de sábado, fui convidado para fazer um pequeno discurso em nome da ONG que organizou o evento. A caridade é direcionada a ajudar crianças vítimas de abuso. Faço questão de ir. Esse trabalho é muito importante para mim. Meu dinheiro mais bem gasto vai para instituições que amparam essas crianças. Os meus motivos para isso não têm nada a ver com o que move grande parte dos magnatas, que apenas contribuem com uma causa para dizer que se importam e que estão “fazendo sua parte” para melhorar o mundo. São de cunho pessoal. Eu sou uma vítima de abuso, eu sei como é sentir a dor, a vergonha, a culpa, o medo. Não tive o apoio de ninguém para superar meus traumas, nem mesmo da minha própria mãe. Tive que fazer isso sozinho. Mas, mesmo o foco e o controle de mim mesmo e minhas conquistas não foram suficientes para afugentar alguns demônios do passado. Então, aprendi a conviver com eles. Com todo o trabalho adiantado, aproveito para relaxar. Vou até a cozinha pegar uma taça e uma garrafa de vinho, e me sento no sofá da sala de visitas. Meus pensamentos se voltam para Eva. O jeito que ela reagiu quando confessei que queria fodê-la é a certeza que eu precisava para seguir com meu plano. Imagino uma trepada quente, suada e selvagem entre nós. Quero que ela se entregue para mim voluntariamente, sem hesitar, e que apenas absorva o prazer que vou lhe proporcionar. _____//_____ De repente, escuto um barulho estranho. De passos, o que não é muito comum em meu apartamento. Eles começam a se aproximar. Passos de alguém que está usando... Saltos altos? Mas como? Nenhuma de minhas empregadas usa saltos no trabalho, quem poderia ser? Seria Corinne? Não. Impossível, ela está na França. Eles param. Outro barulho. Parece que alguém está abrindo alguma coisa. Então uma música começa a tocar baixinho. Vozes com efeitos saem das caixas de som, mas não consigo identificar. Uma guitarra estridente chora algumas notas altas e eu pulo de susto. A voz de Adam Levine entoa os primeiros versos de ‘Hands All Over’. É tudo tão rápido que não consigo assimilar. Me viro e dou de cara com Eva, vestindo uma de minhas camisas sociais brancas, com meias 7/8 pretas e sapatos de salto alto! Caralho! Ela está tão gostosa, tão fatal e sexy! Ela vem dançando para mim.


23 Espere um minuto. Como ela entrou aqui? Como ela sabe onde moro? Isso deixa de importar quando ela para bem a minha frente, mantendo certa distância e começa a rebolar como uma dançarina de Cabaret! Ela vai até o chão e volta, vira de costas e mexe sua bunda deliciosa. Se eu não quisesse gozar loucamente dentro dela, eu teria um orgasmo só de vê-la dançando. Ela volta a ficar de frente para mim e, sem parar de dançar, delicadamente, desabotoa minha blusa em seu corpo, cada botão com uma lentidão torturante. Ela a tira num puxão, exibindo seu corpo magnífico e cheio de curvas. Meu coração dispara ao vê-la só de lingerie! Um conjunto de sutiã preto com rendas, calcinha fio dental também de renda, mas o que me deixa mais excitado é a cinta-liga! Puta merda! Eu adoro mulher usando cinta-liga, mas nenhuma com quem eu já tenha dormido até hoje fica mais sensual nisso do que Eva. Suas coxas suculentas estão parcialmente cobertas pela meia calça com rendas nas pontas e saltos agulha incrivelmente altos. Toda de preto, ela parece perigosa, deliciosamente perigosa. Eu me sinto impotente, não consigo sair do lugar, sou incapaz de me desvencilhar do feitiço dessa mulher. Sua cabeleira loira está presa em um rabo de cavalo. Ela continua seu strip-tease levando as mãos até as costas, desabotoando o sutiã, liberando seus seios fartos e belos. Com as mãos para o ar, Eva dá uma volta em seu lugar, se exibindo. Seu olhar penetrante não se afasta do meu. Largando a peça de cima no chão, ela continua a mexer seus quadris como uma dançarina profissional. “Ponha suas mãos sobre mim...”, canta Adam Levine no refrão e ela acaricia seus seios com as duas mãos, rodopiando os mamilos rosados com os polegares e os indicadores, me deixando duro como uma rocha e molhado. A temperatura do meu corpo sobe a níveis inimagináveis. Ela olha para mim com um olhar carregado de desejo e sua boca se abre em suspiros profundos. Está excitada com o próprio toque. Nossa, vê-la dando prazer a si própria é muito erótico. Ainda dançando, Eva vai até a mesa de centro e apoia o pé esquerdo retirando as ligas, lentamente, primeiro de uma perna, depois de outra, sem tirar os olhos dos meus. Quando termina, ela joga a liga no chão, sai de seus saltos e começa a tirar as meias. Seus polegares roçam as coxas, os joelhos, as panturrilhas, até chegar aos calcanhares. Isso dura uma eternidade! Ela continua sua dança sensual, agora só de calcinha. Estou além de excitado e minha ereção está a ponto de explodir. Quando tento um movimento para alcançá-la, Eva me olha incisivamente, põe a mão esquerda na cintura e estala a língua balançando o dedo indicador direito de um lado para outro. Eu travo e volto a me sentar, incapaz de tirar meus olhos dela. Estou fascinado. Ela fica de costas para mim e continua a rebolar loucamente. Sua pele perfeita, lisa, está um pouco vermelha e posso ver um brilho de suor na curvatura de suas costas. Ela está fervendo por mim também! Eva conecta seus polegares às laterais da calcinha e a tira lentamente, retirando suas pernas uma por uma, me dando o vislumbre de sua bunda linda. Ela se volta para mim e joga sua calcinha em minha cabeça e ri da minha reação, uma gargalhada gostosa e cheia. E assim acordo do estado de dormência no qual me encontrava até o momento e pego sua calcinha. Aproximo meu nariz e sinto o cheiro de seu


24 perfume, de sua excitação. Ela está muito molhada. Só agora me dou conta de que a música está no modo repetir. Finalmente, vejo sua pélvis bem depilada, o caminho para a felicidade. Fico com água na boca só de pensar que ela está úmida e desejosa, toda pronta para me receber. Em um impulso, me levanto e a puxo para o sofá. Ela me dá um sorriso sapeca e sussurra em meu ouvido: “Eu sou toda sua”. E quando vou com todo meu desespero para beijá-la, Eva simplesmente some dos meus braços, a música para de tocar, e abro meus olhos. Foi só um sonho! Estou deitado no sofá. Acabei cochilando e tive meu primeiro sonho erótico. Meu corpo está tremendo violentamente, meu coração está descompassado, minha pele transpira sem parar e meu pau está tão duro que até dói. Preciso urgentemente de um banho frio. O que ela está fazendo comigo? _____//_____ Chego ao escritório muito agitado. Não consegui dormir a noite inteira, só pensando em Eva, naquele sonho, que parecia tão real. Passo pela minha recepcionista sem ao menos olhar em sua direção. Assim que me vê apressado, Scott se levanta, mas não diz uma palavra. Dou-lhe um aceno leve de cabeça e digo rapidamente: “Agenda em 10 minutos”. “Sim, senhor”. Tranco-me no meu escritório. Sem nem mesmo tirar o paletó vou até minha mesa e ligo o monitor para ver a movimentação no saguão do Crossfire. Estou ansioso para vê-la. Não poderei abordála no horário do almoço porque tenho uma reunião com os executivos-chefes do setor imobiliário da empresa e com os representantes da Walmart em seu escritório principal, alocado no 4º andar. Vou deixar para o fim do expediente. Às 8h50 Eva irrompe pelas portas do prédio e vai correndo em direção a um dos elevadores que está quase fechando. Um rapaz aperta o botão para segurar as portas, ela entra e o agradece com um sorriso discreto e o imbecil retribui com um sorriso canastrão. Posso apostar que ele está com os olhos quase pulando para dentro de seu discreto decote. Eva tem seios fartos e a blusa preta de seda, mesmo sendo comportada, se alinha perfeitamente ao seu corpo favorecendo suas belas curvas. Durante todo o trajeto o filho da puta olha descaradamente para o traseiro dela naquela saia lápis verde-esmeralda. Esse


25 desgraçado tem muita sorte de eu não ser capaz de atravessar a tela para matá-lo com minhas próprias mãos! Para meu alívio, ele sai antes dela. Eva está com o rosto sereno e contemplativo. Será que estou nos pensamentos dela tanto quanto ela está nos meus? Será que ela está pensando em mim agora? Não, se estivesse, provavelmente estaria com aquela cara de “quero te foder agora”. Afinal de contas, sempre que nos encontramos, é assim que ela me olha. Eva sai do elevador e a perco de vista. Isso me dá uma sensação de vazio, de solidão momentânea. Ah, essa espera está me deixando maluco! Sacudo a cabeça para tirá-la da minha mente, nem que seja durante o trabalho. Chamo Scott pelo interfone e começamos a passar os afazeres do dia. _____//_____ O almoço foi bastante produtivo. A Walmart nos enviou uma proposta de compra de um dos pontos mais privilegiados do Harlem. Obviamente, eu fiz uma contraproposta que foi acatada de imediato. Não iria abrir mão de um de meus melhores imóveis por um preço qualquer. Afinal havia outras lojas interessadas e que estavam dispostas até mesmo a pagar aluguel, como a Neiman Marcus e a Target. Nunca precisei e nem preciso me contentar com menos do que desejo. E não estava disposto ceder. Eu e meus executivos nos encaminhamos para o elevador conversando sobre isso. Quando as portas se abrem e me viro para entrar, meus olhos encontram os de Eva imediatamente. Um sorriso se alastra pelo meu rosto, e um prazer intenso percorre cada nervo do meu corpo. Ela está com a testa franzida, comendo uma barra de chocolate. E está completamente sozinha no elevador. Minha oportunidade veio mais cedo do que eu esperava, e não iria desperdiçar. Com a expressão séria, voltome para os dois executivos e falo: “Continuaremos essa conversa mais tarde”. Entro no elevador e os dispenso com um gesto de mão. Os dois olham para mim e para Eva alternadamente, totalmente perdidos e confusos. Quando ela faz menção de sair, seguro-a pelo cotovelo e a puxo de volta. “Para quê a pressa, Eva?” pergunto suavemente. As portas se fecham e o elevador começa a subir. “O que você está fazendo?” protesta.


26 Noto que está chateada com alguma coisa. Algo deve ter acontecido durante o almoço para tirar sua serenidade anterior. Agarro seus ombros, forçando contato visual e pergunto o que a está incomodando. Esse toque acende a centelha daquela eletricidade sufocante que sempre nos envolve. “Você”, responde ela, ainda mais irritada. “Eu?” Tanto a resposta quanto a tensão me deixam dolorosamente excitado. Solto seus ombros, me viro para o painel do elevador tirando a chave mestra de meu bolso e a enfio no painel. As luzes de todos os andares se apagam exceto a do último andar. “Não estou interessada nesse tipo de conversa, senhor Cross”, diz atrás de mim. Preciso ficar de costas para ela, ou então vou atacá-la aqui, selvagenmente. “Posso deixar você a fim”, murmuro. “Não estou interessada”. Isso está começando a me irritar. Ela está se negando a aceitar o que está acontecendo entre nós, sendo que o mais fácil é se entregar. Olho para ela por cima do ombro e advirto: “Não minta para mim, Eva. Nunca.” Ela fala que não é mentira, e que o simples fato de se sentir atraída por mim, como todas as outras mulheres, não significa que ela queira levar isso adiante. Acho engraçado o termo que ela usa: atração. Sorrindo, viro-me devagar para encará-la. “Atração é uma palavra civilizada demais para... isso”, digo percorrendo com o dedo indicador o espaço entre nós. Ela me olha sem recuar. “Pode me chamar de maluca, mais tenho que gostar de um cara antes de tirar a roupa na frente dele”. Hum... Será que ela procura uma relação (leia-se: expectativas exageradas e comprometimento)?


27 “Não diria maluca, mas não tenho tempo nem disposição para namoros”. Ela continua a me encarar. “Pois então somos dois. Ainda bem que tiramos isso a limpo”. Excelente! Tudo que eu precisava ouvir. Mas ainda preciso acertar detalhes dessa proposta antes de fechar negócio. Olho para ela intensamente. Há um resquício de chocolate no canto de sua boca. Não me contenho e ponho minha mão em seu rosto, limpo sua boca com o polegar e o lambo. “Chocolate e você. Que delícia”. Seu corpo estremece. Ela está com aquele olhar de ‘me fode’. Tenho que livrá-la desse bloqueio para atender ao pedido de seus olhos. “Romance não é meu forte, Eva. Mas conheço mil maneiras de fazer gozar. Basta você querer”. O elevador para. Retiro a chave do painel e as portas se abrem. Ela recua para o canto e mantém uma mão estendida, tentando me afastar. “Realmente não estou interessada”. “Veremos”, digo pegando-a pelo cotovelo e, delicadamente, mas com firmeza, a puxo para fora. Assim que me avista, Emma se levanta ansiosa, mas antes que abra a boca, balanço a cabeça de um lado para outro sinalizando que não estou com a menor paciência para conversa fiada. Em poucos passos estamos na porta do escritório. Scott se levanta, mas permanece em silêncio ao ver que não estou sozinho. “Não passe nenhuma ligação, Scott”, digo conduzindo Eva pelas portas duplas de vidro. Tranco a porta atrás de nós e vou direto para a mesa apertar o botão que escurece os vidros, dando-nos total privacidade. Tiro o paletó e o penduro em um cabide. Então me volto para Eva e ofereço uma bebida. Ela nega, sem tirar os olhos gulosos do meu corpo. Aponto o sofá preto e a convido a sentar. Ela se recusa alegando que tem que voltar para o trabalho.


28 “E eu tenho uma reunião às duas. Quanto mais cedo resolvermos isso, mais rápido voltaremos ao trabalho. Agora, pode sentar”. “O que exatamente temos para resolver?” pergunta incrédula. Ah, que mulher frustrante! Soltando um suspiro, conduzo-a para o sofá e me sento a seu lado. “Suas objeções. Temos que discutir o que pode fazer você dar pra mim”. “Um milagre”, responde petulante. Ela arreda para o canto oposto do sofá, e puxa sua saia para baixo. “Sua abordagem é grosseira e ofensiva”, acrescenta como se quisesse dizer o contrário. Estreito meus olhos para ela. “Posso não ser muito sutil, mas, ao menos, sou sincero. Você não me parece ser o tipo de mulher que prefere ouvir mentiras e galanteios em vez da verdade pura e simples”. “Prefiro ser tratada como alguém que tem mais a oferecer do que uma boneca inflável”. Rebate. Levanto minhas sobrancelhas. “Muito bem, então”. Estou impressionado com sua sinceridade, sagacidade e firmeza. Mas a questão sentimentos é o que me preocupa. Ela se levanta dizendo: “Estamos conversados?”. Ah, não. Nem pensar. Ela não vai fugir. Agarro seu pulso e a puxo de volta para o sofá. Boto as cartas na mesa. “De jeito nenhum. Só esclarecemos alguns pontos: sentimos uma enorme atração sexual um pelo outro e nenhum dos dois quer namorar. Então você quer o que exatamente, Eva? Sedução? Você quer ser seduzida?”. Ela parece ultrajada e diz que falar de sexo como quem fala de negócios é broxante demais. Não sei por quê. Para mim a lógica para ambos é a mesma. Explico que estabelecer parâmetros logo de início evita as expectativas exageradas e decepções desnecessárias. Ela fica furiosa com meu argumento. “Você está falando sério? Ouça o que está dizendo. Por que perder tempo falando em sexo? Por que não dizer logo ‘uma emissão seminal em um orifício pré-aprovado’?”.


29 Uma gargalhada incontrolável escapa dos meus lábios. Minha cabeça até pende para trás. Ela é tão engraçada e espirituosa. Eva se põe de pé e se afasta de mim. “Sexo casual não precisa envolver romance, mas, é uma coisa pessoal, íntima. Que exige um mínimo de respeito mútuo”. O humor some do meu rosto. Preciso deixar meu ponto de vista mais claro. “Não há espaço para ambiguidades em meus relacionamentos. Você está misturando as coisas. Não vejo motivo para isso”. “Eu não quero que você faça nada além de me deixar voltar para o trabalho”, explode se dirigindo a porta. Ela tenta abrir a porta, mas está trancada. Tensão irradia de suas palavras. “Me deixe sair, Cross”. Levanto-me e paro bem atrás dela. Coloco as mãos na porta de vidro, aprisionando-a com meu corpo. Sinto seu pequeno e belíssimo corpo tremer em resposta. Dou um passo à frente, meu peito roçando suas costas. Com uma voz tensa e sussurrada, ordeno: “Vire para mim, Eva”. Pelo reflexo do vidro escurecido, vejo seus olhos se fecharem. Eva está tão excitada quanto eu, tão cheia de desejo pelo meu corpo quanto eu pelo dela. Ela encosta sua testa na porta de vidro e me implora para deixá-la sair. Seu cheiro me inebria fazendo minha ereção crescer em proporções alarmantes. Eu preciso tê-la, agora. Então, numa jogada calculista, finjo desistir dela afirmando que vou deixá-la sair porque ela tem cheiro de encrenca. Meus lábios roçam sua orelha enquanto minha mão contorna sua barriga, apertando-a contra mim. Seus quadris encostam-se a minha ereção, e sinto um pequeno alívio no meu pau dolorido. “Agora, vire-se para mim e se despeça”, ordeno. Lentamente ela se vira e me encara. Suas feições denunciam um misto de paixão reprimida, decepção e arrependimento. Agora é a hora do ataque. “Me beije”, peço suavemente. “Pelo menos isso”. Ofegante, ela faz aquele movimento de lamber os lábios que me deixa louco, e me inclino para beijá-la. Seus lábios são macios e suaves. Quando ela dá um leve suspiro, aproveito para enfiar minha língua em sua boca, e saboreio seu gosto com lambidas longas e agressivas. Ela deixa a bolsa cair no chão e leva suas mãos aos meus cabelos, puxando-os suavemente para manter sua boca na minha. Um gemido


30 gutural escapa de minha garganta e aprofundo mais e mais o beijo, chupando sua língua. Não consigo mais me conter, tenho que tê-la, agora. Afasto-me da porta, agarro sua nuca e sua bunda, tirando-a do chão: “Eu quero você, Eva. Cheirando a encrenca ou não, não consigo evitar”. Coloco-a no sofá, sentindo todas as curvas de seu corpo. Inclino-me sobre ela, com um dos joelhos apoiado no estofamento e o outro pé no chão. Uso meu braço esquerdo para sustentar a parte superior no corpo, enquanto minha mão direita agarra a parte de trás de seu joelho, subindo por sua coxa. Solto um suspiro áspero e audível ao sentir a cinta-liga. Minha excitação chega ao nível do desespero. “Minha nossa, Eva!”, digo quase sem fôlego. “Sorte do seu chefe que ele é gay”. Eu não quero que nenhum outro homem tenha acesso a ela dessa forma. Abaixo-me e ataco sua boca novamente, estou louco para terminar o que começamos no meu sonho. Instintivamente ela abre suas pernas para acomodar o meu corpo. Minha ereção está quase pulando para fora da calça. No entanto, a voz de Scott saindo do interfone nos assusta e me ponho de pé imediatamente. “Senhor Cross, sua próxima reunião começa em cinco minutos. A equipe já está o aguardando na recepção”. Foi um verdadeiro choque que me acordou para a realidade. Eva está deitada, ofegante, com sua saia enrolada nos quadris, descabelada, de pernas abertas, pronta, desejosa e, com certeza, toda molhada. Ela se senta ajeitando a saia. Estou em pânico. Perdi completamente o controle, eu nuca fiz isso no trabalho, nunca! Eu não posso acreditar no que acabou de acontecer. Passo nervosamente as mãos pelos cabelos. “Merda! Estamos no meio do expediente, e na porra do meu escritório”. Eva não diz uma palavra, rapidamente ela se levanta e tenta recuperar a compostura. Vou ajudála. “Espere”. Levanto sua saia. Ela fica furiosa e rejeita meu auxílio.


31 “Quieta, Eva”, repreendo sorrindo. Pego a barra de sua blusa preta de seda e a ajeito. Abaixo sua saia novamente e a aliso. Digo a ela para arrumar seu cabelo. Ajusto minha gravata e coloco meu paletó. Chegamos à porta ao mesmo tempo e eu a destranco. Eva se abaixa para pegar sua bolsa e faço o mesmo. Noto em seu rosto que ela está constrangida e obviamente envergonhada. Sinto um inesperado toque de preocupação com seus sentimentos. “Ei, você está bem?” pergunto suavemente tocando seu queixo com meus dedos. Ela tira seu queixo do meu toque e responde irritada: “Eu pareço estar bem?”. “Você está linda e louca para trepar. Me deixou com tanto tesão que até dói. Estou a ponto de te levar de volta para aquele sofá e fazer você gozar até não aguentar mais”. Ela resmungou algo que não entendi, mas, pelo seu rosto, percebi que não ficou ofendida. Com sua bolsa em mãos, Eva se levanta meio cambaleante. Levanto-me também, e digo que vou apressar o trabalho para terminar até as cinco para buscá-la. Preciso terminar o que começamos no sofá, quer dizer, no meu sonho. “Não, senhor. Isso o que aconteceu não muda nada”, diz enfática. “É claro que muda”, rebato. “Não seja arrogante Cross. Posso ter perdido a cabeça por um momento, mas isso não significa que eu queira o mesmo que você”. Mas que droga! Nós quase trepamos como dois coelhos no cio e ela ainda está reticente. “Você quer sim, mas não da maneira que estou oferecendo. Só precisamos alinhar alguns pontos”. Ela me olha com raiva, põe sua mão sobre a minha e abre a porta, passando por baixo de meu braço para empurrá-la. Scott fica de pé, assim como Margareth e seus assistentes. Paro para cumprimentá-los e peço a Scott que os acompanhe à sala de reuniões. “Volto em um instante”, digo me desculpando. Vou atrás de Eva pela recepção e a alcanço, colocando minha mão na base de sua coluna. Quando chegamos ao elevador, ela me afasta. Calmamente aperto o botão para chamá-lo. “Até as cinco, Eva”.


32 “Estou ocupada”, murmura. “Até amanhã, então”. “Tenho compromisso no fim de semana”. O quê? Ocupada com o que? Ocupada... “Com quem?” pergunto asperamente. “Isso não é da sua...”. Cubro sua boca com minha mão. “Chega. Só me diga quando, então. E, antes que se sinta tentada a dizer nunca, dê uma boa olhada e me diga se pareço ser um homem que desiste facilmente”. Não estou para brincadeiras. Essa resistência está começando a me irritar. Se ela pensa que vou deixar isso barato, está muito enganada. Gideon Cross não desiste. Perder não é uma opção. Eu sempre consigo o que quero no final, custe o que custar. Retiro minha mão de sua boca e novamente ela tentar me dar outra volta, dizendo que precisamos esfriar a cabeça e pensar. E eu lá quero pensar? Só quero fodê-la até perder os sentidos. Será que é tão difícil entender? “Segunda depois do expediente”. Insisto. O elevador chega e ela entra. “Segunda, no horário do almoço”. Antes das portas se fecharem, digo em tom de ameaça: “Eu não vou desistir, Eva”. E não vou mesmo.


33

Capítulo 5 Confissões, acordos e primeiro orgasmo

O restante do meu dia foi bem enfadonho em comparação ao meu horário de almoço. Fechar um negócio nos meus termos e quase transar no meio do expediente com a mulher que está me enlouquecendo de tesão não tem preço. O mais interessante é que, mesmo depois de duas reuniões e uma teleconferência, minha ereção não baixou. Estou duro desde que Eva saiu! Tive que manter o paletó abotoado para cobrir minha excitação. Analisando o sonho que tive ontem e o que aconteceu hoje no escritório, me dou conta de que meu desejo por ela virou uma necessidade. Preciso estar dentro dela, preciso fazê-la gozar, preciso reivindicá-la para mim! Não posso sequer pensar na remota possibilidade de ela ter um contato íntimo como o que tivemos mais cedo com outra pessoa. Não é só ciúme, é posse! Eu a quero só para mim. Mas para isso acontecer, terei que ceder. Detesto admitir, mas estou em desvantagem! São cinco em ponto e Eva acaba de desligar o computador. Pego o número de seu ramal e disco. Está ocupado. Com quem diabos ela está conversando em pleno fim de expediente? Furioso, continuo discando até tocar. Depois de cinco minutos tentando (como um assunto pode render tanto?), o telefone toca. Sua voz sexy, porém um pouco desanimada recita a saudação habitual. “Ainda estou pensando em você”. Minha voz sai rouca de tanto tesão reprimido. “Ainda estou sentindo você, Eva. Seu gosto. Estou de pau duro desde que saiu, apesar de duas reuniões e uma teleconferência. Estou em desvantagem. Faça suas exigências”. “Ah, deixe-me ver”. Murmura. Ela fica calada por alguns minutos intermináveis. Está se fazendo de difícil, de novo. “Humm... Não consegui pensar em nada. Mas tenho alguns conselhos de amiga. Procure uma mulher que esteja babando por você e faça com que se sinta um deus. Trepe com ela até nenhum dos dois aguentar mais. Quando me encontrar na segunda-feira, você já vai ter esquecido tudo isso, e sua vida vai voltar à sua ordem obsessivo compulsiva”. Posso sentir o sarcasmo pingando em cada palavra. E isso me deixa com uma raiva do caralho. Quem ela pensa que é? Está tirando sarro de mim? De Gideon Cross? Mexo-me na cadeira de irritação.


34 “Vou deixar passar dessa vez, Eva. Mas, se insultar minha inteligência novamente, vou te colocar sobre os meus joelhos e te dar um tapa na bunda”. Eva rebate dizendo que não gosta desse tipo de coisa. Aproveitando-me da deixa, digo que isso pode ser discutido depois e pergunto do que gosta. Parece que minhas táticas não estão funcionando porque ela começa a me provocar falando que minha voz é perfeita para fazer sexo por telefone, mas prefere o encontro que terá com seu vibrador. Quanto atrevimento! Mas, ao invés de ficar irritado, fico imaginando cenas de nós dois nos divertindo com aquele brinquedinho. Ela quer que eu implore. Pergunto o que eu preciso fazer para participar da brincadeira, mas ela ignora minha pergunta. “Meu amiguinho e eu temos uma relação bem clara — quando a brincadeira acaba, sabemos exatamente quem foi usado, e esse alguém nunca sou eu. Boa noite, Gideon”. E desliga... Ah! Que mulher exasperante! Pela primeira vez em minha vida, me vejo rejeitado por uma parceira sexual em potencial. Logo eu! Nada do que normalmente faço ou falo a atingiu. Sempre fui direto com relação ao que queria de uma mulher e nenhuma disse “não”. Mas isso não vai ficar assim. Nem que eu precise encurralá-la no fim do expediente. Ela irá ceder, com certeza. Pego minhas coisas e sigo rapidamente para o painel dos elevadores. Quero promover outro encontro “casual”. As portas se abrem no 20º andar revelando Mark e outros dois executivos. Os três entram e me cumprimentam com acenos de cabeça formais. Nem sinal de Eva. Discretamente dou uma olhada ao redor da recepção da agência, e não a vejo. Estranho. O elevador começa a descer. Pelos meus cálculos, ela deveria embarcar junto com seu chefe. “Como anda o projeto para a campanha da Kingsman, Mark?” pergunto, mas apenas para chegar ao que eu realmente quero saber. “Ah, está indo muito bem, senhor Cross. Nossa equipe está trabalhando duro”. “Ótimo. Falando em equipe, onde está sua secretária?” “Eva?” diz surpreso. “Ela estava comigo agora, mas escolheu ir pelas escadas. Disse que precisava esticar um pouco as pernas”. “Entendo”, respondo impassível. O código é claro: ela está me evitando. Minha frustração se transforma em amarga decepção. Droga! Meus sentimentos por Eva são mais fortes do que eu gostaria de admitir. Como isso foi


35 acontecer? Nunca pensei que fosse dizer isso, mas não sei o que fazer. Estou frustrado sexualmente e confuso emocionalmente, ou seja, vulnerável. Odeio essa sensação. Preciso sair e desabafar. E sei exatamente quem pode me ajudar. Saindo do elevador, pego meu celular e vou pela lista de contatos até achar o número. “Ciao, Gideon! Quanto tempo!”, cumprimenta uma voz com sotaque italiano familiar. “Oi Arnoldo! Como vai? Pode sair para um drinque?”. “Hoje?” “Sim”. “Claro, ma che succede amico¹? Sinto em sua voz que algo está te preocupando”. “Não posso dar detalhes agora”. “Ok. No lugar de sempre?”. “Às 19h”. “Eccellente! Nos encontramos lá”. “Combinado”. E desligo. _____//_____ Angus chega ao Tableau One às 19h em ponto. É um dos bistrôs mais badalados da cidade por combinar perfeitamente diversão e relaxamento. Possui uma adega com os mais refinados vinhos, um bar adjacente com inúmeras opções de drinques, e uma área privada para os clientes mais exigentes e afortunados. A comida é sensacional e o cardápio é exclusivo. Em resumo, um ótimo lugar para fazer/fechar negócios, mas também um bálsamo após um dia estressante de trabalho. Antes de vir, passei em casa para tomar um banho quente e longo para tentar tirar a tensão dos músculos. Fiquei apenas pensando em porque Eva está lutando contra minhas investidas. Aquela história de usar as escadas para esticar as pernas não me convenceu nenhum pouco. Obviamente ela estava querendo se livrar de mim. E isso me deixa, inesperadamente, triste, magoado... E rejeitado. Como há muito tempo eu não me sentia. Porque me sinto assim com ela? Se estivesse encarando a mesma situação com outra (o que nunca aconteceu), eu já teria batido em retirada, pois opções não me faltam. Aliás, isso é outra coisa que não entendo.


36 Eva não faz meu tipo fisicamente. Minha notória e conhecida preferência por morenas se torna insignificante quando se trata dela, que é loira! Mas, apenas pelo gostinho que tive de nossa foda inacabada em meu escritório, percebi que ela não é como as outras. Ela é mais em tudo: mais atraente, mais fogosa, mais gostosa, mais independente, e a sensação de não poder tê-la daquela maneira novamente me deixa deprimido. Desde que a vi, sabia que ela me enlouqueceria. Por mais que eu pareça calmo e indiferente, por dentro, sinto que perco o controle de mim em sua presença. Talvez quando transarmos, esse frisson vá passar. Mas algo me diz que, quando tivermos uma ligação sexual, estarei mais amarrado a ela do que estou agora. Sou acordado de meus dilemas quando escuto alguém me chamar. “Gideon!” saúda Arnoldo. É tão bom estar perto de pessoas em quem você pode confiar. E Arnoldo fazia parte do meu seleto grupo de amigos mais próximos, além de ser um dos poucos que me chamam pelo primeiro nome. Um homem com a minha posição sempre tem mais adversários do que aliados. No mundo dos negócios, se você não souber fazer essa distinção, acaba entregando nas mãos de pessoas erradas coisas que podem ser usadas contra você no futuro. Uma brecha, um descuido, pode significar a queda definitiva de um império. Felizmente, eu sempre soube escolher a dedo em quem podia confiar. Mas aprendi isso da maneira mais difícil e dolorosa. “Arnoldo, que bom te ver”, cumprimento-o com nosso habitual abraço de urso. Eu o conheci na Toscana, onde seus avós tinham um vinhedo. Antes de entrar para a faculdade, passei um ano viajando pela Itália, um dos meus lugares favoritos no mundo. Arnoldo sempre sonhou em ser chef e ajudava o pai no restaurante da família, além de ganhar alguns trocados extras como guia turístico; foi num desses passeios que nos tornamos grandes amigos. Ele tem uma personalidade extravagante e peculiar; é engraçado, muito tagarela e cheio de um charme tipicamente italiano. Mas as circunstâncias que o trouxeram para cá não foram nada felizes. Houve um incêndio no vinhedo e sua avó, que já tinha que lidar com a morte do marido, acabou não resistindo ao episódio e morreu de um infarto fulminante. Devastados, os pais de Arnoldo resolveram vender o restaurante e se mudaram para cá a fim de recomeçar. Com isso, nossas famílias ficaram muito amigas. Consegui para ele um emprego de chef em um dos cassinos que eu frequentava. Comecei a minha riqueza contando as cartas no Blackjack; foi na mesa de jogos que fiz dinheiro e contatos importantes. Quando a fortuna me permitiu, abri um restaurante e chamei Arnoldo, que àquela altura já era um chef talentosíssimo, para ser meu sócio no empreendimento. Eu entrei com o recurso e ele com o talento. Nossa parceria fez tanto sucesso que, além de contarmos com uma rede de bistrôs da marca Tableau One por todo o país, Arnoldo foi chamado


37 para estrelar um programa de culinária em um dos canais de maior visibilidade nacional e se tornou o chef do momento entre as celebridades. “Sediamoci²”, convida-me. Ficamos na área mais reservada do bistrô; longe dos olhares curiosos e ouvidos atentos. O garçom nos traz uma garrafa de uísque e dois copos e se retira. Arnoldo enche nossos copos quando começa a especular: “Dimmi, che cosa sta succedendo³?” Após um gole na minha bebida, suspiro alto e abro o jogo: “Estou com um problema totalmente inesperado, uma situação pela qual nunca passei”. “E qual o nome da ragazza?” “Está tão óbvio que é uma mulher?” rio sem humor. “Gideon, te conheço há muito tempo e confesso que nunca te vi tão confuso, e considerando que você sempre controla tudo ao seu redor, finalmente encontrou alguém que não pode controlar. E, nesse caso, com certeza é uma mulher”. “Pois é. Eu nunca pensei que levaria um 'não' de uma mulher! Você sabe que costumo ser direto e específico no que quero de minhas relações, mas com ela minhas investidas não funcionaram. Estou obcecado por ela, não consigo tirá-la da minha cabeça”. “Ela tem nome ou prefere não dizer?” “Eva”, respiro profundamente. “Conte o que tem acontecido entre vocês”. Então falo sobre o primeiro dia que a vi, no saguão do Crossfire e sobre nosso encontro no elevador em seu primeiro dia de trabalho. Falo sobre o dossiê que fiz sobre seus antecedentes e revelo que estou monitorando seus movimentos. “Dio mio!” Exclama. “Você está a perseguindo!” “Não é bem isso.” Ele me olha como quem diz ‘qual é!’. “Bem, é isso, mas você sabe que preciso ser minucioso quando se trata de minhas relações, independente de sua natureza. E se ela fosse uma assassina, uma espiã de outra empresa ou tivesse uma reputação vergonhosa? Não posso me arriscar, tenho uma imagem limpa e livre de escândalos e um império a zelar”.


38 “Claro que te entendo. Sei como é viver sob os holofotes. Então a deliziosa Eva está fazendo jogo duro com nosso garanhão?” brinca. “Você nem a viu para dizer se é gostosa ou não!” “Ah Gideon! Todas as mulheres com as quais já te vi acompanhado são morenas estonteantes.” “Eva é loira”. Arnoldo arregala os olhos e dá um gole fundo em seu uísque. Ele me olha por alguns segundos e percebo que, pela primeira vez, consigo deixá-lo mudo. “Bom, você disse que usou seus métodos rotineiros, mas ela não cedeu. O que mais você tentou?” disse ainda tentando se recuperar do choque de minhas revelações. Relato para ele o que aconteceu na reunião da Kingsman, o sonho erótico que tive com ela, a quase transa no meu escritório, e de nossa conversa ao telefone. Ele começa a gargalhar, o que me deixa desconfortável, mas acabo rindo também, afinal, em retrospecto, o que Eva disse foi bem engraçado. “Como você reagiu?” “Bom, não fiquei nada feliz com aquilo, claro. Odeio ser feito de idiota. Falei que se ela insultasse minha inteligência, iria lhe dar uns bons tapas na bunda”. “Depravado”, diz divertido. "Então, você pôs as cartas na mesa?" “Sim, ela não vai conseguir resistir por mais tempo. A tensão sexual entre nós é muito intensa, muito mais do que o que tive com as outras”. “Você acha que não tem chance?” “Não, só acho que vai dar um pouco mais de trabalho. Não pretendo desistir”. De repente, ele me olha sério e pergunta cautelosamente: “O que a torna diferente das demais?”. “Não sei”, respondo com sinceridade. “Talvez porque ela tenha me visto de dentro para fora. Sempre que seus olhos cruzam com os meus, me sinto exposto, vulnerável. Ela me desarma completamente”. “Não é só atração sexual, não é?”


39 “Não, é mais”. “E você acha que consegue lidar com isso?”. “Não sei, só vou descobrir depois que transar com ela. Quem sabe assim essa obseção não some?” “Olha, gostei dessa garota. Ela te desafiou, e já estava na hora de aparecer alguém assim na sua vida. Todas são iguais e fazem tudo do mesmo jeito, e se contentam com o que você está disposto a oferecer. Essa não. A fibra dela é impressionante. Quem diria, Gideon Cross se oferecendo em uma bandeja de prata para uma mulher? Nunca pensei que viveria para ver isso acontecer!” “Arnoldo, não exagere! Eu quero transar com ela por um período de tempo, não passar o resto da minha vida com ela.” “Amico” me diz dando um tapinha no ombro, “você sabe que sempre sou sincero com você e, nesse momento, vejo que minha sinceridade é mais do que necessária. Do jeito que estou te vendo agora, é muito provável que sua concepção possa mudar. E eu nunca te vi assim antes”. Ok, onde está minha famigerada impassividade? Será que meus dilemas em relação à Eva estão tão visíveis assim? Continuo olhando para ele, sem saber o que dizer. “Bene, que tal mudar um pouco o tópico da conversa? Vejo seu desconforto e está aqui para se distrair, certo? Teve um dia cheio. Mas preciso dizer para agir com cautela com essa moça. Não consigo ver nesse momento nenhum resquício do Gideon que conheci. Você está diferente”. “Certo, obrigado pela preocupação. Vamos então falar de Sabrina, a musa da vez. Como se conheceram?” _____//_____ Saio do restaurante um pouco menos tenso. É um alívio poder falar com alguém sobre Eva – apesar de Arnoldo ter passado boa parte da conversa rindo da minha desgraça. No entanto, o que ele falou não sai da minha cabeça. Estou diferente? Certamente, me sinto confuso, mas não diferente. Por outro lado, Arnoldo me conhece e sabe muito bem do meu modus operandi, e se ele me disse isso em sua sinceridade, alguma coisa em mim deve ter mudado... Angus está na metade do caminho de casa quando meu celular toca. “Cross”, respondo. “Senhor, aqui é Sean, temos novidades sobre o paradeiro da Srta. Tramell".


40 Sean lidera a equipe de segurança que está monitorando Eva. “Diga”, respondo procurando não revelar minha ansiedade. “Ela e o senhor Taylor foram a diversas casas noturnas e acabaram de sair de uma em East Village, bem próxima de um de seus clubes. Eles estão bebendo muito, senhor”. Uma raiva incontida reverbera por todo o meu corpo. Droga, Eva! “Continue com eles, não deixe nenhum outro homem se aproximar dela”. “Sim senhor”. Desligo e me viro para Angus: “Vamos para meu clube em East Village”. “Como quiser, senhor”. Assim que chego, vou direto para a sala de segurança e peço para que um dos funcionários fique de plantão nas redondezas do clube e atraia Eva e Cary com um de nossos ingressos Vips, que cobrem as taxas de consumação no clube. Talvez aqui seja um lugar mais propício para tentar convencê-la. Fora que me sinto bem mais tranquilo sabendo que ela estará em meus domínios, e eu posso monitorá-la melhor. O único empecilho é Cary Taylor, mas isso pode ser arranjado. Peço ao gerente que arrume um cara bem apessoado para distraí-lo. No momento que vejo Eva adentrando o clube, um alívio me toma e uma excitação instantânea me faz estremecer. As luzes refletem sobre seus cabelos loiros, deixa-os mais claros. Parece que ela está envolta em uma aura de glória, como um anjo. Olho maravilhado para seu semblante alegre. Um anjo que veio iluminar minha vida mergulhada na escuridão e no vazio. Meu anjo... Espere! De onde veio esse pensamento meloso? Mas que porra! Essa mulher me confunde. “Senhor Cross”, me chama o gerente. “O rapaz está aqui”. “Claro, mande-o entrar”, digo sem desviar meus olhos dela. Viro-me para dar-lhe as instruções e quando me volto para mostrá-los, dois rapazes se adiantam na direção deles. Que merda! “Esqueça, não é mais necessário”, digo e saio correndo para impedir uma catástrofe.


41 Chego a tempo! Escuto um deles perguntando se podem sentar. Coloco minha mão sobre o ombro de Eva e digo: “Ela está comigo”. Cary me encara de boca aberta. Contorno o sofá e estendo minha mão: “Taylor, Gideon Cross”. Ele parece bem contente em me ver e um tanto surpreso por eu já saber seu nome. Ele retribui o aperto de mão com um enorme sorriso e comenta: “Prazer em conhecer. Já ouvi falar muito de você”. Nada poderia me deixar mais feliz naquele momento. Mas não posso demonstrar minha euforia. Em vez disso, digo calmamente: “Que bom saber”. Sento-me bem ao lado de Eva, que está mortificada e desconfortável com a situação, apoiando o braço no encosto atrás dela e roço seu braço possessivamente. “Talvez ainda haja motivos para ter esperança”. Ela me fuzila com o olhar. “O que você está fazendo?” sussurra rispidamente. “O que for preciso”. Respondo sustentando o olhar. Para minha sorte, ambos os rapazes voltam sua atenção para Cary, que se levanta para ir à pista de dança com eles, deixando sua amiga aos meus cuidados. A princípio ela tenta me ignorar, e eu aguardo pacientemente. Eva está brava, mas linda, absolutamente linda. Eventualmente ela se vira para mim e inicia a conversa. Seus olhos passeiam por minhas roupas como se fosse arrancá-las. “Você está...” ela faz uma pausa. “Gostei do visual” acrescentou tentando parecer indiferente. Já estou ficando puto com sua resistência.


42 “Ah, de alguma coisa em mim você gosta” digo sarcasticamente. “Será que é do pacote completo? Ou só da roupa? Só da blusa? Ou talvez da calça?”. Então começamos a trocar farpas por causa das minhas roupas, até que ela admitiu gostar do modo como me visto. Foi aí que o episódio do telefone me veio à mente e resolvi provocá-la. “Como foi o encontro com seu amiguinho movido a pilha?” Ela desvia o olhar e cora furiosamente. “Uma dama nunca comenta esse tipo de coisa”. Minha raiva foi substituída por carinho. Adoro ver seu lado vulnerável. Acaricio seu queixo com meus dedos e murmuro divertido: “Você está vermelha”. Ela muda de assunto rapidamente. “Você vem sempre aqui?” Desço minha mão até suas pernas e agarro uma de suas mãos, acariciando a palma com os dedos. “Quando necessário”. Ela me encara emburrada. “Como assim, necessário? Quando você está no cio?” Rá! Ela está com ciúmes! Ponto para você, Cross! Sorrindo, respondo: “Quando decisões importantes precisam ser tomadas. Sou o dono deste lugar, Eva”. Somos interrompidos por uma garçonete que traz duas taças contendo vodka com suco de cranberry, bebida favorita de Eva, que fica irritadíssima pela atenção um tanto exagerada que recebo da garçonete. Adoro vê-la com ciúmes de mim. Estou a ponto de entrar em ebulição aqui! A proximidade de Eva me deixa com um tesão violento. Preciso senti-la, preciso beijá-la agora. Dou um gole na bebida e aproveito para colar meus lábios aos dela num beijo feroz e urgente. Ela não se esquiva e corresponde com a mesa intensidade. Para minha surpresa, Eva enfia a mão entre meus cabelos e os agarra com força, mantendo-me imóvel


43 enquanto chupa minha língua. Um gemido involuntário sai de minha garganta. Ela se afasta de repente, mas eu vou atrás. Nada de escapar dessa vez. Passo meu nariz pela lateral do seu rosto, com meus lábios roçando sua orelha. Minha respiração está acelerada, no mesmo ritmo que a dela. Inalo seu aroma delicioso e sussurro: “Preciso sentir como é estar dentro de você, Eva. Estou morrendo de vontade”. “Como você sabia?” ela pergunta enquanto passo minha língua pela cartilagem de sua orelha, me segurando para não fodê-la aqui e agora. “Sabia do quê?” “O que gosto de beber, o nome de Cary?” Respiro fundo. Isso não vai ser fácil, mas tenho que contar a verdade. Ela precisa saber como as coisas funcionam comigo. Relutante, eu me afasto, ponho o copo na mesa e me viro de frente para ela. “Você passou por outros lugares esta noite. E pagou com cartão de crédito, e o que você bebeu ficou registrado na conta. E o nome Cary Taylor está no contrato de locação do seu apartamento”. Eva empalidece e, por um momento, acho que vai desmaiar. Fico preocupado e ofereço-lhe o drinque, que ela bebe em um gole. Então se vira e pergunta ofegante: “Você sabe onde moro?” “Pode parece estranho, mas sei”. Não vou revelar a ela que sou dono do prédio onde mora e entregar meu maior trunfo, não agora. Sento-me sobre a mesa, de frente para ela e esfrego suas mãos geladas com as minhas. Parece que ela vai ter um treco, estou realmente preocupado. “Você é louco, Gideon?” Sua pergunta me pega de surpresa. Eva diz que sua mãe tem mania de espioná-la, mas que ela faz terapia. E me pergunta se eu também faço. “Não, mas do jeito que você está me deixando maluco, vou precisa em breve” digo tentando amenizar a situação. Sinceramente, não sei qual o problema de me apropriar dessas informações, afinal, elas foram disponibilizadas voluntariamente. Eva fica furiosa.


44 “Mas não foram disponibilizadas para você, não para o que você fez. Isso deve ser até contra a lei”. E ela está coberta de razão. “Porque fez isso?”. Pela primeira vez, me sinto envergonhado por essa atitude. Eva não está nada à vontade com isso. Aliás, que tipo de pergunta é essa? Porque eu fiz isso? Para saber, oras. E foi o que respondi. “Por que você não me perguntou, Gideon? Porra, por que isso é tão difícil pras pessoas hoje em dia?” “Com você é difícil. Só conseguimos ficar juntos por alguns minutos, no máximo”. Digo já meio irritado. “Claro, você só quer falar sobre o que precisa fazer pra me levar pra cama!” “Minha nossa, Eva. Não precisa gritar”. Ela ficou maluca? Lugares como esse estão cheios de paparazzi infiltrados. Eva se cala por alguns instantes, como se estudasse meu rosto. Isso está me dando nos nervos. Que droga ela está fazendo agora? “Porque está me olhando desse jeito?” “Estou pensando”. “Em quê?” Pode alguém ser tão exasperante assim? “Já vou avisando, se disser alguma coisa sobre orifícios pré-aprovados ou emissões seminais, não respondo pelos meus atos”. “Quero tentar entender algumas coisas, porque acho que talvez eu não esteja valorizando você como deveria”. “Também quero entender umas coisas”, rebati. “Acho que a abordagem ‘quero te comer’ tem um alto nível de sucesso no seu caso”. Fecho meu rosto e visto minha máscara impassível. Não vamos por esse caminho. De jeito nenhum. “Sobre isso eu não vou falar, Eva”. “Certo. Você quer saber o que precisa fazer pra me levar pra cama. É por isso que está aqui? Por minha causa? E nem se dê ao trabalho de tentar dizer o que pensa que eu quero escutar”.


45 Aproveito e confesso que providenciei tudo para que ela estivesse aqui, nesse momento. Eva explica que drinques não seriam suficientes para uma trepada, mas eu já esperava por isso. O que me preocupa é o fato de ela estar solta por aí, totalmente disponível. Eu apenas estou tentando impedir que ela vá pra cama com um imbecil desconhecido. “Se você quiser transar, Eva, eu estou bem aqui”. Isso me fez lembrar o comentário de Arnoldo, de que estou me oferecendo em uma bandeja de prata. E estou mesmo. Ela nega que esteja totalmente disponível e que está apenas dissipando o stress. “Pois não é a única. Você sai para beber e dançar quando está tensa. Eu tento resolver de uma vez o problema que está me causando tensão”. “Então é isso que eu sou? Um problema?” Pergunta. “Com certeza”, respondo sorrindo. “Pra você, o que significa namorar?” Ah, de novo? Franzo a testa e respondo sem hesitar. “Eu e uma mulher perdendo tempo com convenções sociais quando poderíamos estar trepando”. “Você não gosta da companhia das mulheres?” Mesmo irritado, decido explicar novamente meu ponto de vista. “Gosto, mas desde que isso não implique expectativas exageradas ou demandas excessivas do meu tempo livre. Descobri que a melhor maneira de garantir isso é separando amizades e relações sexuais em campos opostos”. Sua inquisição continua por mais algum tempo e então me apresenta seu ponto de vista. Ela lista suas prioridades: trabalho, sua vida pessoal, deixando claro que se trata de uma vida de mulher solteira; mas afirma que gosta de sexo. Isso me agrada. “Ótimo, faça comigo”. Ela empurra meu ombro. “Preciso ter uma ligação pessoal com os homens com quem durmo. Não precisa ser nada muito intenso ou profundo, mas o sexo precisa ser mais do que uma negociação impessoal pra mim”.


46 “Por quê?” Eu realmente quero entender seu lado. Para mim não faz o menor sentido juntar duas coisas que funcionam muito bem separadas. Ela me explica que detesta se sentir usada no sexo, pois a faz se sentir desvalorizada. “E não dá para considerar que é você que está me usando?” “Não com você”. E isso me deixa eufórico, porque ela está reconhecendo o domínio natural que tenho sobre ela. “Além disso”, acrescenta rapidamente, “isso é só uma questão semântica. O que eu quero nos meus relacionamentos sexuais é uma troca justa. Ou então estar no comando”. “Certo”. Minha própria resposta me surpreende. Estou aceitando rápido demais. Por outro lado, o fato de não tê-la não é uma opção, nunca. Farei o que for preciso. Eva fica surpresa também. Sou sincero e digo que não gosto da ideia e não irei fingir que entendo, mas que quero tentar mesmo assim. Começamos a definir os parâmetros da nossa relação e, pelo que está sendo acordado, terei de me comportar hoje. Ou seja, reprimir esse desejo agudo por ela. Mas tudo bem. Agora que tenho certeza que está tudo acertado entre nós, vou conseguir me contentar com alguns beijos bem quentes, uma mãozinha boba ali outra aqui. Estou tranquilo. Abaixo minhas mãos para agarrar a parte de trás de suas coxas. Apertando-a de leve, eu a puxou um pouco mais para perto. A bainha de seu vestido preto curto subiu de maneira quase obscena, e meu olhar ficou vidrado na pequena parcela de pele exposta. Passo a língua por meus lábios ressecados, imaginado como seria lamber aquela região. Só espero matar minha vontade em breve. Trocamos vários beijos ardentes e, assim pude descobrir algumas de suas partes mais sensíveis, como sua nuca, o lóbulo de sua orelha e, curiosamente, a base de sua coluna. Se fosse possível me fundir com Eva, eu já o teria feito. Nossa! Como ela é gostosa! Mal posso esperar beijar cada centímetro desse corpinho apetitoso. De repente, Cary volta e chama Eva para irem embora, pois têm outra festa para ir amanhã à noite. Ela se levanta um pouco cambaleante e lhes ofereço carona para casa. Assim que Angus estaciona em frente ao prédio, Cary me dá um rápido aperto de mão e desaparece para a portaria. Desço com Eva do carro e nos despedimos com um beijo molhado e cheio de luxúria. Sinto-me triunfante, o que não é incomum, pois sempre consigo o que quero. Demorou, mas agora, nada mais importa. Eva Tramell é minha. _____//_____


47 Acordei às 8 da manhã de sábado com o ânimo renovado! Estou me sentido invencível! Não tive pesadelos durante a noite, mas também não sonhei com Eva. Foi um sono rápido e tranquilo. Verifico minha agenda para hoje. Apenas uma videoconferência com o pessoal que está cuidando de meus hotéis em Detroit na parte da tarde e o jantar beneficente de hoje à noite. O que me lembra de que Cary havia dito ontem que eles teriam uma festa para ir. Tenho que averiguar isso. Ah, sim! O um evento de hoje é promovido por uma instituição que também recebe o apoio de Mônica Stanton. Provavelmente ela também estará lá. Checo a lista de convidados à procura de seu nome. Bingo! Richard e Mônica estarão presentes. Mas a melhor parte é ver o nome de Eva. Uma de suas condições para a nossa relação é passar um tempo junto em lugares em que seríamos obrigados a nos controlar. Esse evento é uma oportunidade perfeita para provar a ela que posso fazer isso. Além do mais, quero estar perto dela o tempo todo a fim de dissipar qualquer possibilidade de ela ser abordada por um cretino qualquer. Ninguém toca no que é meu! Vou esperar ela me ligar já que, por motivos desconhecidos, não tenho o número de seu telefone. Assim que acordei, enviei um ‘kit ressaca’ para sua casa. Eva bebeu a noite inteira e deve ter acordado péssima. No cartão que acompanhava o kit escrevi ‘Ligue-me’ e o número de meus contatos. Após passar uma manhã treinando com meu instrutor de MMA e de uma sessão pesada de musculação na academia, volto minha atenção para os relatórios referentes aos custos das obras de meu empreendimento em Detroit. Parece que está tudo indo de acordo com o planejado. Para mim, ter transparência nos negócios é fundamental. Não é fácil trabalhar nas bases do justo e do certo, não vou negar. Após a morte do meu pai, mamãe ficou atolada em dívidas feitas por ele, frutos de seu trabalho sujo. O nome de nossa família ficou na lama por anos. Muitas pessoas foram prejudicadas pelas falcatruas dele. Todos nós pagamos pelos erros de Geoffrey Cross, menos o próprio, que em um ato covarde e egoísta, preferiu se matar para não ser preso. Não lembro muito dele, não posso nem dizer que havíamos nos conhecido. Passamos alguns momentos juntos. Momentos felizes, apesar de serem poucos. Ele ficava a maior parte do tempo trabalhando. Meus sentimentos por ele simplesmente não existem. Quando sua imagem borrada passa pela minha mente, não consigo sentir nada, apenas vazio, um eco no meio de um precipício. Uma voz que não reconheço. Mas mantenho seus erros em mente para não repeti-los. Passei anos sendo taxado com filho do homem que destruiu centenas de vidas, que construiu sua riqueza à custa da traição da confiança alheia. Mas prometi a mim mesmo que não deixaria que isso me perseguisse a vida toda. E batalhei com minhas próprias forças, quando não pude contar com o apoio de ninguém e fiz meu destino. Aqueles que um dia desprezaram o nome Cross passaram a respeitá-lo e a temê-lo. A imprensa sequer ousa associar minha imagem a do meu pai, mas sempre há uma ou outra comparação. Meu jeito impassível e minha atitude implacável se fizeram conhecidos, bem como minha honestidade. Eu


48 finalmente consegui ser aquilo que sempre quis, sem trapaça, e sem qualquer auxílio financeiro de Christopher Vidal, meu padrasto. Ele se casou com minha mãe dois anos após a morte de meu pai e nos salvou da falência. Mas não foi o suficiente, não para mim. Meu monitor apita. Hora da reunião, hora de exercer meu papel de dono do meu próprio mundo. _____//_____ As horas passam e nada de Eva ligar. A videoconferência acabou a pouco e, como sempre, tudo está dentro do prazo e do orçamento pré-estabelecido. A ansiedade está me corroendo. Já são 17h10 e nada. Não posso mais esperar. Disco o ramal da ala dos empregados. “Angus”. “Sim senhor”. “Prepare o carro, sairemos em 10 minutos”. “Sim, senhor”. Pouco antes de chegar ao apartamento dela, meu telefone toca. Por algum motivo que desconheço, eu sei quem é. “Eva”. Ela fica um pouco confusa por eu já saber que era ela. Impaciente, digo- a para avisar na portaria que estou chegando. Quando entro no prédio o porteiro está falando ao interfone. “Sim, senhorita Tramell. Ele acabou de chegar”, e desliga. “Boa noite senhor Cross”. “Boa noite, Paul”. Um elevador está para subir e chego a tempo de entrar, está vazio e aproveito para usar a chave mestra para ir direto ao seu andar. Saio do elevador apressado e toco a campainha. Quando a porta se abre, meu corpo inteiro paralisa. Eva está usando apenas um robe de seda e uma tornozeleira de diamantes. Já está penteada e maquiada para o evento. Minha nossa! É possível que uma mulher possa ser tão linda assim? Meu pau lateja e o desejo de tê-la se transfigura em desespero. “Valeu a pena ter vindo até aqui para ver você assim, Eva. Como está se sentindo?”. “Bem. Graças a você. Obrigada. Mas não foi por isso que você veio aqui”. Posso sentir seu desejo por mim como uma carícia. “Vim até aqui porque você demorou pra ligar”. “Eu não sabia que tinha um prazo”. “Eu precisava falar com você ainda hoje, e também queria saber se está tudo bem depois de ontem à noite”. Nossa, eu não consigo tirar os olhos dela, esse sentimento está me matando.


49 “Você está linda, Eva. Acho que nunca desejei tanto alguém como agora”. “O que você tem para falar de tão urgente?” pergunta num sussurro sôfrego. “Vamos juntos ao evento de hoje à noite”. “Você vai?” Ela se assusta, mas sinto um tom animado em sua voz. “E você também. Vi a lista de convidados e sei que sua mãe também vai. Podemos ir juntos”. Ela fica preocupada pelo fato de que estaremos em um evento de muita visibilidade e com as especulações que surgirão sobre a natureza de nossa relação, especialmente por parte de sua mãe. Eu digo para que ela não se preocupe com os comentários alheios ou com sua mãe. Se há uma coisa que sei fazer e muito bem é lidar com mulheres. Mônica Stanton não me daria trabalho algum. Me aproximo de Eva e lhe dou um beijo na curvatura do pescoço. “Se você pensa assim” diz, quase sem fôlego, “é porque não a conhece muito bem”. “Pego você as sete”. Minha língua percorre a veia pulsante de sua garganta. Seu corpo amolece quando a puxo para mais perto. “Eu não disse que sim”, suspira. “Mas não vai dizer que não”. Digo mordendo o lóbulo de sua orelha. “Não vou deixar”. Antes que ela tenha a oportunidade de protestar, eu a calo com um beijo profundo e molhado. Movo minha língua devagar, prolongando a sensação. Ela põe suas mãos em meus cabelos e os puxa com força. Assim como no meu escritório, acabamos deitados no sofá, pude sentir seu suspiro de surpresa, que engoli com minha boca faminta. Aperto seus seios suavemente e seu robe se abre, revelando seu corpo delicioso e cheio de curvas. Ela chama meu nome em um gemido e eu sugo com vontade seu lábio inferior. “Shh... Eu estava ficando maluco só de pensar que você estava nua por baixo desse robe”, rosno. “É que você veio sem avisar... aaaaaahh” ela geme quando abocanho um de seus mamilos. Vejo que ela olha desesperada para o decodificador da TV que marca 17h45 e tenta me parar. Olho fundo nos seus olhos. Não consigo mais me segurar. “É uma loucura, eu sei. Eu não... Não sei explicar por que, Eva, mas preciso fazer você gozar. Penso nisso o tempo todo, há dias”. Deslizo uma de minhas mãos no meio de suas pernas, que se abrem sem resistência. Minha outra mão massageia seus seios sensíveis. Sua pele está toda vermelha e febril. Quando meus dedos tocam sua vagina, sinto que está molhadinha. Pergunto se ela se depilou hoje e ela diz que não. Ainda bem, eu não ia aguentar ter que me segurar por mais dez horas. Mal consigo agora. Enfio meu dedo indicador cuidadosamente dentro dela e a masturbo. Eva não resiste, está vulnerável e entregue ao meu toque. Pergunto quando foi a última vez que ela transou (o que já faz um bom tempo) e se ela toma pílula (sim, ela toma, para meu total alívio).


50 Quando fizermos os exames e estive tudo certo, vou despejar minha porra dentro dela. Eu preciso marcá-la, preciso tomá-la por inteiro. Mas agora, eu preciso fazê-la gozar, preciso sentir o gosto de sua excitação. Minha respiração está tão acelerada quanto a dela, estamos suados e cheios de desejo. Ela está quase lá. "Gideon, por favor”, implora, já sem forças. “Shh, deixa comigo”, Comoço a esfregar seu clitóris com meu polegar. “Olhe bem nos meus olhos quando gozar pra mim”. Eu quero ver em seu rosto o efeito que tenho sobre seu corpo quando a faço chegar ao ápice. Ao meu comando, ela goza com um grito abafado, seus dedos agarram a borda do sofá e me olha hipnotizada. Meus olhos brilham de triunfo ao constatar o que já era um fato: eu a domino, eu tenho total poder sobre ela e ela tem consciência disso. “Agora vou saboreá-la bem aqui” e cubro seu sexo com minha boca. Ela tenta me empurrar dizendo que não aguenta. Está inchada e sensível, mas não recuo. Mina língua passeia pelo seu clitóris, provocando, estimulando, até que ela goza de novo e mais uma vez. Seu corpo está mole, indefeso, incapaz de lutar contra minhas lambidas e carícias. Então beijo seus lábios violentamente. Tenho que me conter para não começar tudo de novo. Então levanto, fecho seu robe e a olho de cima para baixo. “Às sete horas, Eva”. Me inclino para acariciar sua tornozeleira. “E não tire isto aqui, quero comer você com nada além disso”. E faço meu caminho para a porta.


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Capítulo 6 Sexo na Limusine PUTA QUE PARIU! Eu nunca senti meu pau tão dolorido! Tive que me conter para não foder Eva ali mesmo. Se eu começasse, não iria parar. Desço as escadas de emergência a fim de evitar o elevador. Estou tão duro que as câmeras de segurança provavelmente captariam meu volume no meio das pernas. Além disso, eu preciso de mais privacidade para tentar baixá-lo. Essa mulher me deixa louco! A cada minuto do meu dia, a cada respiração, a cada batida incessante do meu coração, eu a desejo mais e mais. Eu preciso dela, do corpo dela. Passo apressado pela recepção sem olhar para trás, não posso correr o risco de ninguém reparar aqui embaixo. Entro no Bentley e peço a Angus para ir para casa o mais rápido possível. Estou ansioso por essa noite. As memórias de nossa “rapidinha” me veem a mente a todo o momento. Seu corpo, seu cheiro, sua respiração entrecortada, seus gemidos, sua entrega total, ah... Me sinto pleno! Naquele momento em que nossos olhos se cruzaram após o primeiro orgasmo, tive certeza de que eu a dominaria, de que ela faria qualquer coisa por mim, de que ela se inclinaria a minhas vontades. E não havia nada melhor do que isso. Assim que chego em casa, ligo para o gerente do hotel onde tenho uma suíte permanente e peço que pegue no bar uma garrafa do champagne mais caro e coloque no frigobar. E também peço para trocarem a roupa de cama. Meu plano é levar Eva para lá após a festa e me enterrar nela. Muitas mulheres passaram por ali. Vivi momentos prazerosos e excitantes, mas sinto que dessa vez será diferente. Só o que acabamos de vivenciar no apartamento de Eva, foi mais intenso do que qualquer transa. Tenho que admitir que, de certa forma, ela tem poder sobre mim, mas, por mais que ela seja a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos e que meus sentimentos por ela sejam fortes, devo manter em mente meus objetivos e continuar mantendo as coisas separadas. Tomo um banho frio e me arrumo pensando na noite espetacular que teremos mais tarde... Se o que aconteceu mais cedo me deixou desse jeito, fico imaginando o que será de mim após o ato consumado. Com certeza ela deve estar pensando em nosso encontro também e isso me deixa ainda mais animado. Checo as horas em meu celular e percebo quatro ligações de Corinne e uma mensagem de voz. Meu sorriso some e uma carranca se instala em meu rosto. Que diabos ela quer agora? Por curiosidade, ouço a mensagem. “Oi Gideon”, soluça. “Não sei se você viu, mas deixei uma mensagem em seu celular. Estou há dias esperando sua ligação... e até agora nada. Me sinto tão... sozinha, tão desamparada. Eu... preciso de você. Estou no meio de uma crise... por favor, p-preciso de você. Me ligue, por favor...”.


52 Ah, não! Gosto muito de Corinne, mas hoje não estou com tempo ou paciência para suas crises. Nada de drama! Mais uma vez, solenemente, ignoro suas tentativas de me contatar e me concentro em me arrumar para a grande noite que terei. Mesmo vestindo um smoking, mantenho meu cabelo em seu estilo habitual. Eles são um pouco compridos e vão até a metade da nuca. Gosto de mantê-los assim, pois me faz lembrar uma parte de mim que eu tive que enterrar: um jovem impulsivo e rebelde. Ele não media consequências, não se importava com nada, nem com ninguém; por trás da fachada rude, ficava isolado em um canto lambendo as feridas do passado. Eu nunca o esqueci, ele está bem vivo aqui dentro, guardado em algum lugar obscuro do meu coração. Empurrando essas lembranças para longe, me vem a figura de Eva, que adora puxar minhas madeixas enquanto me beija. O pensamento me faz sorrir. Vou mantê-las dessa forma porque ela gosta e para facilitar seu trabalho mais tarde. Chego ao seu prédio dez minutos adiantado. Ao chegar à recepção, o porteiro me nega a entrada, pois Eva não avisou de minha chegada. Engulo meu aborrecimento por ser barrado em meu próprio prédio e aguardo pacientemente enquanto ele a interfona. Minutos depois, Cary sai do elevador, elegantemente vestido. “Gideon, desculpe por isso. Eva está quase pronta. Vamos esperá-la lá em cima”. Aceno com a cabeça e o sigo. Cary é muito agradável e a conversa flui fácil, mas ainda tenho certo receio dado o seu passado conturbado e promíscuo. Ele me convida a sentar e oferece algo para beber, mas recuso. Estou ansioso para vê-la e ele parece notar isso. “Escute Gideon”, disse calmamente. “Eva é minha melhor amiga e é a pessoa mais preciosa no mundo para mim. Sei que ela parece ser forte e confiante, o que não deixa de ser verdade. Mas, emocionalmente, ela é muito frágil. Eu andei pesquisando muito sobre você e conheço seu tipo: playboy bilionário, bonito, charmoso e com fama de conquistador. Não banque o engraçadinho para cima de minha amiga ou eu vou chutar suas bolas tão forte que nenhum cirurgião no mundo será capaz de consertar meu estrago, será que fui claro?”. Quem ele pensa que é para falar desse jeito comigo? Melhor colocar esse sujeito no lugar, afinal de contas o teto dele também é de vidro. “Eu não te julgaria apto a me dar esse tipo de advertência, uma vez que seu histórico não é dos mais limpos”.


53 “O que você pensa de mim não me interessa, eu só me preocupo com ela”. “Sendo assim, suponho que já tenha feito esse discurso com todos os namorados dela”. “Nunca precisei. De todos eles, você é o único que tem potencial para machucá-la de verdade”. Visto minha expressão impassível para conter minha raiva. “Vou me lembrar disso. Ela vai demorar muito?” digo pondo um ponto final à discussão. “Vou chamá-la”, diz com o tom de voz mais calmo. Quando ele sai, vou em direção à janela para observar a cidade e refletir sobre a conversa ríspida que acabamos de ter. Sua preocupação com Eva é genuína e compreensível. Seu instinto protetor é bem fraternal, o que me faz relaxar um pouco. Suas palavras ficam martelando em minha mente. Eu não pretendo machucá-la, apenas desfrutar de algo que ambos adoramos nos termos que foram aceitos por ambas as partes. Ela sabe no que está se metendo. Bom... Mais ou menos! Mas isso é apenas um detalhe; o que nos une é só o sexo e isso basta. Um sorriso involuntário surge em meus lábios apesar do desconforto que sinto por estar em um ambiente sobre o qual não tenho controle, o que é irônico já que o prédio me pertence. De repente meus sentidos estão em alerta e sinto sua presença, seu olhar fulminante em minhas costas. Volto-me para encará-la e, por breves segundos, fico sem palavras. Eva está maravilhosa em seu vestido longo vermelho vibrante com corte diagonal que vai até seu quadril e com uma fenda mostrando a perna que está enfeitada com a tornozeleira. A roupa valorizou cada curva de seu corpo perfeito, destacando seus lindos e apetitosos seios. Meus olhos a percorrem avidamente. De cada poro do meu corpo emana um desejo violento por ela, que não está indiferente. “Eva”, murmuro andando até ela. Tomo sua mão e deposito um beijo suave. “Oi”, diz um pouco vacilante. “Oi”, respondo. “Você está linda. Mal posso esperar para exibir você por aí”. “Espero que consiga fazer jus a você”. E como não faria jus a mim? Ela está fabulosa. Não entendo. Então me lembro das palavras de Cary sobre ela ser emocionalmente frágil. Parece que a baixa autoestima é um de seus problemas. Como


54 pode se sentir assim? Vou ter e vigiá-la a noite inteira! Do jeito que está linda, vários abutres irão alçar voos rasos em torno dela e não estou disposto a deixar que isso aconteça. No elevador, a tensão sexual é palpável. Nossa proximidade faz meu desejo chegar a um nível próximo ao sofrimento, ainda mais vendo suas costas nuas. Cary está encostado no canto oposto, aparentemente alheio. Ao sairmos, nos encontramos com suas moças prestes a entrar no elevador, que olham a mim e a Cary embabascadas. Que olhem à vontade, afinal, só tenho olhos para o anjo em minha frente. Ponho minha mão na base de sua coluna para guiá-la até a limusine, já sabendo que é um de seus pontos sensíveis, e sinto sua pele se arrepiar sob a minha. Já do lado de fora do prédio, Eva se despede de Cary e entramos na limusine. Agora, finalmente, eu a tenho só para mim. Pego sua mão e a acaricio, enquanto minha outra mão aperta o botão que aciona o vidro escuro atrás do motorista. Assim que se fecha completamente, suspiro o nome de Eva e a puxo para meu colo e a beijo como se fosse comê-la viva. Como uma reação natural, suas mãos vão direto para meus cabelos, retribuindo o beijo. Ela o aprofunda de tal forma que começou a chupar minha língua. Adoro quando ela faz isso. Fico duro instantaneamente. Minhas mãos descem pelas suas costas nuas fazendo-a soltar um gemido de puro prazer. De repente, ela monta em cima de mim, levanta a fenda de seu vestido e coloca suas pernas uma de cada lado, fazendo minha ereção roçar sua abertura sedenta protegida apenas pelo tecido fino de sua calcinha. Ela começa a me beijar com mais violência, sugando meus lábios, lambendo, mordendo. Isso está me deixando maluco e minha cabeça está entrando em parafuso. Assustado com a direção que isso está tomando, afasto seus quadris e a encaro. “O que está fazendo comigo?” pergunto ofegante. “Estou tocando você. Me aproveitando de você. Eu quero você, Gideon”. Responde num tom provocante enquanto desliza suas mãos em meu peito por baixo da camisa. Impedindo que suas mãos alcancem a parte mais dura do meu corpo, seguro seus pulsos e digo que não podemos fazer isso no meio da rua. Ela argumenta que ninguém pode nos ver pelo vidro. “Não importa. Não é hora nem lugar de começar uma coisa que só vamos poder terminar daqui a várias horas. Já estou enlouquecendo com o que aconteceu hoje à tarde”. “Então vamos acabar logo com isso”.


55 Mantenho minha posição inflexível e aperto ainda mais seus pulsos. Eu não quero fazer isso aqui. Nunca fiz sexo em nenhum outro lugar, só no hotel. Não vou transformá-la numa exceção. “Porque não?” me pergunta em tom de desafio. Sua expressão muda, como se tivesse descoberto o segredo do universo. “Você nunca transou numa limusine?” Droga! Ela descobriu. Cerro minha mandíbula e pergunto irritado. “Você já?” Eva se vira para a janela e não responde. Então, subitamente, avança com seus quadris se esfregando em toda a extensão do meu pau, que a essa altura, está tão rígido quanto um muro de concreto. Mesmo fazendo de tudo para mostrar meu desagrado com a situação, ela prossegue com seu show de sedução lento e torturante. Minha respiração sai áspera entre meus dentes cerrados. “Preciso de você, Gideon. Você me deixa louca”. Sussurrou sem fôlego. Tento distraí-la agarrando seu rosto e colando nossos lábios, mas suas mãos encontram meu zíper e desabotoam minha calça. Meu corpo enrijece instintivamente. “Eu preciso disso”, murmura bem perto da minha boca. “Deixa, vai”. Desisto de tentar impedi-la. Sei que não vai adiantar e essa tortura está me matando. Meu corpo permanece rígido. Quando ela pega o meu pau, eu gemo de dor e de prazer. Eva o aperta de levinho, o apalpa, fechando suas mãos em torno dele, e deslizando-as da base até a ponta. Agarro seus quadris e coloco minhas mãos por baixo de seu vestido até que meus polegares alcançam a renda vermelha nas laterais da calcinha fio-dental. “Sua bocetinha é tão doce”, murmuro com minha boca colada à dela. “Quero abrir suas pernas e te lamber até você implorar pelo meu pau”. “Eu imploro agora mesmo, se você quiser”. Enquanto uma de suas mãos me masturba e a outra procura algo dentro da bolsa, enfio um de meus polegares em sua calcinha e sinto a torrente de desejo que ela derrama por mim. “Mal toquei em você, e você já está prontinha pra mim”, sussurro. “Não dá pra evitar”.


56 “Não é pra evitar”, digo, afundando um polegar dentro dela. “Não seria justo, já que não posso obrigar você a parar o que está fazendo”. Eva retira um pacote prateado da bolsa, o rasga com os dentes e me entrega e diz que não sabe colocar a camisinha. Pego o pacote aberto e digo, em um tom grave, que estou quebrando todas as minhas regras com ela. “Regras forma feitas para serem quebradas”, rebate. Sua afirmação me faz sorrir. Pressiono o botão do intercomunicador e ordeno a Angus que continue dirigindo até eu mandar parar. Eva fica tão vermelha quanto seu vestido. Acho isso adorável e resolvo provocá-la enquanto desenrolo o preservativo. “Ora essa, Eva. Você me faz querer transar na limusine, mas sente vergonha quando digo ao motorista que não quero ser interrompido?” Ela se posiciona em cima de mim para encaixar meu pau à sua fenda úmida e gulosa. Como a calcinha está restringindo seus movimentos, eu a rasgo. Não quero nada me atrapalhando agora. Levanto meu quadril para abaixar mais a calça. “Vá devagar”, ordeno. Ela desce lentamente até sua boceta envolver meu membro totalmente. “Minha nossa, Eva!” Digo sem fôlego. “Você é tão apertadinha”. Cristo, a sensação de estar dentro dela é indescritível. Não consigo nem formular uma frase sequer. Não há nada ao nosso redor. O que estamos fazendo é tão íntimo, nos encarando, as faces quase coladas. Ela está tão fora de si quanto eu. Penetro mais fundo, sentindo-a alargar aos poucos. Espalmo a mão direita pelo se ventre e alcanço seu clitóris com o polegar, massageando-o lentamente com movimentos circulares. Seu corpo se enrijece e se contorce de prazer, ela está quase lá. Meu corpo exala um desejo primitivo, e a penetro cada vez mais e mais. De seus lábios, escapa um gemido abafado. “Nossa”, rosno entre dentes. “Vou gozar muito”. E continuamos nesse vai e vem delicioso. Seus tecidos apertados me envolvem de tal forma que sinto uma pressão até um pouco dolorosa, mas que não me impede de continuar a fodê-la, afinal ela já está toda molhada e desliza até facilmente pelo meu pau, dada à situação.


57 “Porra!” grito enquanto agarro seu quadril para que se incline contra meu peito, sentindo as vibrações e as batidas do meu coração, que bate mais acelerado que o normal. Suas pernas se abrem mais e eu a tomo por completo. Sinto o aperto novamente, mas a dor é tão gostosa, que me permito ir um pouco mais além. Eva solta outro grito abafado e geme audivelmente, incessantemente. Ela lambe as gotículas de suor que brotam em meus lábios. Levanto seus quadris e, avisando para que desça devagar, permito que ela deslize novamente pelo meu pau e, quando estou totalmente dentro dela, nossos olhares se encontram como se nos identificássemos com o que estamos fazendo, como se fosse natural. Curvome para que a cabeça do meu pau massageasse seu ponto mais sensível até que ela geme meu nome e goza violentamente. Vendo-a se desmanchar em cima de mim, encaro-a forçando a olhar pra mim enquanto é tomada pelo êxtase. A sensação é intensa demais, forte demais. “Caralho, caralho, caralho”, eu urro dando estocadas furiosas. Meus olhos estão arregalados, fixos nos dela. Atinjo o ponto mais profundo do seu corpo e gozo gritando seu nome ferozmente, liberando um jorro espesso e delicioso. Com certeza esse foi o melhor orgasmo da minha vida. Eva envolve meu rosto com suas mãos e me beija delicadamente, como se estivesse me confortando. Eu a aperto em um abraço e inalo o cheiro de seus cabelos. Estou entregue, completamente vulnerável. Ficamos abraçados por um bom tempo, absorvendo o aroma um do outro, nos recuperando do orgasmo, até que viro sua cabeça retribuo o beijo carinhoso que me dera. “Nossa”, respira. “Pois é”, digo sorrindo. Afasto os fios de cabelos úmidos de suor de sua testa, percorrendo seu rosto com os dedos. Eva não tem ideia do que acabou de fazer comigo. Ela simplesmente quebrou todas as barreiras que impus em minha vida sexual por tantos anos. Além disso, havia um sentimento crescendo em mim, algo que não consigo identificar, mas é forte. Nenhuma outra mulher despertou essas emoções em mim antes. Sinto uma ternura inesperada por ela enquanto a observo. Tudo o que eu mais quero é levá-la para longe e passar a noite fod... Não, fazendo amor com ela. Infelizmente não posso largar meu compromisso. “Não quero estragar o momento”. “Mas...?” “Mas não posso perder o jantar. Tenho um discurso a fazer”. “Ah”, murmura um tanto decepcionada.


58 Ela levanta lentamente de cima de mim, e me sinto escapar, úmido e escorregadio, de dentro dela. Eu mal havia começado a amolecer e já queria possuí-la outra vez. Eu a agarro e, delicadamente, passo um lenço entre suas pernas. Assim que ela se senta no banco novamente, digo a Angus que nos leve ao evento. Tiro a camisinha, dou um nó e jogo na lixeira ao lado do banco e tento me recompor. A sensação desconhecida parece crescer a cada segundo e me sinto tão ligado a Eva quanto antes. Não é só físico, chega a um nível profundo. Estou emocionalmente perturbado por essa transa e, quando me dou conta, sou tomado por diversos sentimentos ao mesmo tempo: perda de controle, desejo, receio, amor... Amor! Não, não pode ser! E essa palavra tão pequena com um significado enorme me enche de pânico. Como isso foi acontecer? Meu cérebro não consegue processar nada, está em estado de calamidade! Estou tão assustado que me vejo me afastando dela. Cada vez mais. PUTA QUE PARIU! PRECISO DE UMA BEBIDA! Inclino-me para abrir o frigobar e pego uma garrafa de conhaque. Eu a ofereço, mas ela recusa. Sou incapaz de olhá-la nos olhos, apenas não consigo! Não quero que veja minha expressão de infelicidade, não depois do que tivemos a pouco. Estou confuso e, como não me resta alternativa, recorro a uma rota de fuga que usei durante a adolescência para me proteger: o afastamento. O ambiente, que antes pegava fogo, esfriou acentuadamente e me recolhi em meus pensamentos. Provavelmente ela deve estar se perguntando o que aconteceu, ou se culpando, mas sou incapaz de falar. Por um momento, me permito ter 15 anos novamente. _____//_____ O clima entre nós está tenso. Não dirigimos uma única palavra um ao outro. Com certeza ela deve estar se perguntando o que aconteceu comigo. Maquinalmente Eva me dá seu braço e nos encaminhamos para onde a multidão de fotógrafos nos espera. Sorrimos automaticamente para os flashes frenéticos e seguimos nosso caminho para a recepção. Escuto meu nome sendo chamado por uma voz familiar e me viro para ver quem é. É um executivo com quem já fiz negócios. Quando chego até ele, me dou conta de que Eva não está do meu lado. Sinto uma repentina sensação de perda misturada com irritação. Retomo a postura adotada em casos de convenção social, cumprimento-o com um aperto de mãos e saio em busca de Eva e a encontro. Ela está com sua família. Cary está ao seu lado e, pela sua cara de preocupação, deduzo que ela contou o que aconteceu entre nós. Droga! Meu telefone apita indicando uma nova mensagem de texto. Corinne de novo! Meu Deus ela não vai me deixar em paz?


59 *Gideon, eu deixei meu marido, deixei Pierre. Estou desesperada, por favor, eu preciso de você!* Merda! Será que Giroux fez algo com ela? Preocupado, retorno sua ligação. “Ah, Gideon!”, reponde logo após o primeiro toque, em um tom choroso. “Corinne, o que aconteceu? O que ele fez?” pergunto nervoso. “Ah, nada... eu o deixei por que... não suportava mais viver com ele. Eu não o amo... e-eu, tenho sentido falta... de... de nós”. Ah, mais essa! Era só o que me faltava. A ideia de me envolver emocionalmente está fora de questão... E de repente, me ocorre que eu quero exatamente isso, mas com Eva, somente com Eva. “Escute Corinne, estou no meio de um jantar beneficente e vou fazer um discurso daqui a pouco. Ligo para você quando eu estiver em casa”. “Gideon, p-por favor... não demore, não... me abandone. Estou desesperada!”. “Claro, claro, nos falamos depois”. Digo impaciente, encerro a ligação e vou apressado para ficar perto de Eva. Assim que me vê, Mônica abre um grande sorriso e Stanton toma sua postura imponente. “Eva, você fugiu” sussurro desaprovadoramente apoiando a mão na parte inferior de suas costas. Sinto uma onda de eletricidade passando por todas as minhas terminações nervosas. Ela me fuzila com seu olhar, como se estivesse me mandando ir à merda, mas é com uma voz educada se dirige a seu padrasto e me apresenta. Cumprimento a ele e a Monica, que parece maravilhada pelo fato de eu estar junto de sua filha. Puxo Eva para mais perto e aproveito para aplicar minha técnica de distração: “Temos a sorte de acompanhar as duas mulheres mais bonitas de Nova York”. Richard concorda e sorri para a esposa. Perfeito, já estou aprovado para ambos e ainda por cima elimino as chances de qualquer especulação dela. A Sra. Stanton é o tipo de mulher que chama a atenção por sua beleza. Massagear seu ego é uma arma mais do que eficaz. Eva ainda está distante. Está em seu segundo copo de champagne quando me inclino e sussurro asperamente.


60 “Não esqueça de que está comigo”. “Olha só quem fala”, rebate estreitando os olhos. “Aqui não, Eva”, digo acenando com a cabeça para todos pedindo licença e a afasto comigo. “Agora não”. “Nem nunca”, murmura. Engolindo o gosto amargo de suas palavras, levo-a para conhecer algumas pessoas. Ela é agradável com todos, sorri quando necessário, fala nos momentos certos. Mas no fundo, sei que está apenas se rendendo às sutilezas sociais. Sinto como se estivéssemos a quilômetros de distância. Durante o jantar ela sequer toca na comida. Fazendo meu papel, converso com as pessoas que nos acompanham, procurando também me distrair de sua indiferença; isso está me deixando mal. Sei que a culpa é minha. Então um dos organizadores do evento me avisa que está na hora do meu discurso. O mestre de cerimônias me anuncia e, sob uma salva de aplausos, subo ao palco. “Em nosso país, o abuso sexual na infância é uma realidade para uma a cada quatro mulheres e um a cada quatro homens. Dê uma boa olhada ao seu redor. Alguém da sua mesa pode ter sido uma vítima, ou então conhece uma. Essa é a inaceitável verdade”. Enquanto falo, sou tomado pela sinceridade em minhas palavras. Ser o porta-voz dessas crianças é uma honra. Elas são ecos de mim mesmo, quando eu era um deles, mas não tinha quem falasse por mim, quem me protegesse. Proporcionar-lhes aquilo que me faltou é uma forma de dar ao menino que eu fui o alento que tanto precisava. Quando termino, me surpreendo ao ver Eva se levantar e aplaudir. Logo os demais logo se juntam a ela em uma ovação que me deixa muito contente. Os aplausos dela foram sinceros. Os outros querem apenas um pedaço da minha imagem, do meu dinheiro e da minha influência. Nada mais lhes importa. Na saída do palco, sou cercado de dezenas de pessoas que começam a me cumprimentar, me elogiar, a maioria delas, mulheres. Em meio a elas escuto uma voz familiar: “Olá, Gideon”. “Magdalene, como vai?”. “Bem, obrigada. Então quem é sua nova companhia?”. Sinto um leve sarcasmo em seu tom de voz.


61 “O nome dela é Eva. Nós estamos juntos”, respondo firmemente. “Mas ela é loira”. Chia. “Isso é apenas um detalhe perto do fato de que ela me agrada muito”. “Bom”, respira. “Acho que já podemos descarta-la após essa noite, não é?” Seu comentário me irrita tanto que tenho que me lembrar de que não posso bater em mulheres. Estou pronto para dar minha resposta à altura quando vejo Eva dançando com... Christopher! Mas o que esse merdinha pensa que está fazendo? Bom, nele eu posso bater, mas não aqui. “Acho que o pequeno Chris também ficou encantado”, comenta divertida. “Magdalene, pelo bem de nossa amizade, é melhor você ficar calada agora”, atiro. “Me-me desculpe, eu não queria...”. Ela parece desconcertada. “Com licença”, corto e me dirijo para a pista de dança, deixando-a para trás. Os organizadores do evento me cercam e sou obrigado a dar-lhes atenção, mas para meu alívio, Christopher se afasta e Cary começa a dançar com Eva. Após algumas trocas de amenidades, me despeço educadamente e vou em direção aos dois. “Agora é minha vez”, digo sem pestanejar. E não é um pedido. Eles trocam olhares e Cary se afasta com os olhos grudados em mim. Ignoro-o e a tomo nos braços. Enquanto nos movemos, sinto que seu corpo está tenso e suas feições denunciam a mágoa que está sentindo. Também estou um pouco nervoso. O que era para ser uma noite agradável está se tornando um verdadeiro inferno. “Você não para de fugir”, murmuro em desaprovação. “Mas pelo jeito Magdalene soube ocupar meu lugar rapidinho”. Respondeu ressentida. “Está com ciúmes?” “Fala sério...”, ralha enquanto vira o rosto para o lado. Puta merda! Estou sentindo uma frustração desgraçada! Suspiro pesadamente a advirto: “Fique longe do meu irmão, Eva”.


62 Ela me encara como se eu tivesse dito o maior dos absurdos. “Fique longe da Magdalene, Gideon”. “Ela é só uma amiga”. Minha mandíbula se aperta de raiva. “Isso quer dizer que você não dormiu com ela...?” “Claro que não. Nem quero. Escute... Preciso ir. Eu trouxe você aqui e gostaria de levá-la para casa, mas não quero estragar a diversão. Você prefere ficar por aqui e ir embora com Stanton e sua mãe?” Depois de tudo o que passamos, duvido que vá querer passar a noite comigo. Além disso, ela pode estar querendo aproveitar a festa. Não estou mais no clima. Eva se afasta como se estivesse tentando se defender de mim. “Vou ficar bem, me deixe”. Suas palavras ferem meus ouvidos. Eva está magoada, muito magoada. E aquela sensação de perda volta com toda a força. Tendo tocá-la, mas ela se afasta mias e Cary aparece no mesmo instante. “Pode deixar que eu cuido dela, Cross”. “Não complique as coisas, Taylor” alerto. “Pelo que estou vendo, você já fez isso muito bem sozinho”. Ironiza. Nossa, que sujeito irritante! Coloco-o na minha lista de pessoas nas quais desejo bater, que já inclui Magdalene e Christopher. Engolindo em seco, Eva me dá a última facada. “Você deu um belíssimo discurso, Gideon. Foi o ponto alto da minha noite”. Não posso acreditar que ouvi isso dela! Respiro fundo diante desse insulto. Não vou negar que isso me machucou muito. Nervoso, passo a mão em meus cabelos. Meu telefone vibra e quando vejo a tela, minha raiva explode por dentro, e me contento em murmurar um palavrão para extravasar um pouco. Corinne! Quando eu pensava que nada podia piorar... Então resolvo que é hora de por os pingos nos ‘is’. “Preciso ir”, digo olhando profundamente para Eva. “Mais tarde eu ligo”. E saio.


63 Ligo para Angus e digo para que fique a postos na entrada. Assim que coloco os pés na rua, ele já está à minha espera. Meu Deus, que noite foi essa? Ao entrar na limusine, o cheiro de Eva invade minhas narinas. Seu perfume doce ficou impregnado em mim. Fecho meus olhos e visualizo nossos tórridos momentos de paixão aqui. Ela conseguiu me destravar, derrubar as barreiras que impus durante toda a minha vida. Não sou mais o mesmo. E esse novo eu se tornou dependente dela. É uma sensação nova, gostosa e forte. Depois de tê-la daquela forma tão intensa e apaixonada em meus braços, percebo que estou irremediavelmente ligado a ela. Não posso nem me imaginar sem seu corpo, seu cheiro, seus beijos, seu calor. Eva é tudo o que quero e preciso. Só me dei conta do vazio em minha vida quando a preenchi, quando seus tecidos inchados e intumescidos de prazer apertaram meu membro pulsante. Eu a desejo como nunca desejei ninguém. Não é apenas sexo, eu a quero em minha vida, todos os dias. Cada poro da minha pele clama por seu toque. Cada célula do meu corpo anseia por sua presença. Minha mente está ocupada por lembranças de seu rosto. Meu coração não é mais meu. Uma relação puramente sexual não será suficiente. Eu quero pertencer a alguém. Não, quero pertencer a Eva. E quero que ela seja minha. Só minha. Mas antes disso, preciso me acertar de vez com Corinne. Tenho que acabar com suas esperanças por uma possível reconciliação. Chego em casa, tomo um banho para acalmar meus nervos e hormônios em fúria e disco seu número. “Gideon...” “Oi. Temos que conversar”. “Oh sim, claro!”, diz animada. “Estou voltando para Nova York em breve. Podemos nos encontrar...”. “Olhe Corinne”, digo sem rodeios. “Você é minha amiga e sempre vou me importar com você. Mas não há possibilidade de retomarmos nossa relação. Estou saindo com outra pessoa e ela é muito especial para mim”. A linha fica muda. “Alô?” chamo. “Er... qual o nome dela?” “Eva”. “Vocês estão juntos?” “Sim. Faz pouco tempo”.


64 “E você gosta mesmo dela?” pergunta ainda descrente. “Sim, muito”, respondo sem hesitar. “Bom, fico feliz por você. Gostaria muito de conhecê-la”. Ela soa sincera, embora um pouco triste. “Claro, eu adoraria que a conhecesse. Quando você volta?” “Em breve, ainda não tenho uma data definida”. “Ok. Avise-me quando vier”. “Tudo bem”. Despeço-me e desligo. De repente, um torpor mais que bem vindo invade meu corpo, como se tivesse tirado um peso horrível de minhas costas. Agora só falta me resolver com Eva. Estou me sentindo um tremendo filho da puta por ter feito aquilo. Ela não merece. Tenho que dar o meu melhor, mostrarlhe que posso ser tudo o que ela precisa e que posso satisfazer suas necessidades. Que posso ser seu homem. E é exatamente isso que farei amanhã. Vou para o escritório trabalhar um pouco. Analiso dados estatísticos de progressão do setor imobiliário em Los Angeles. Minha ideia é adquirir novas propriedades, especialmente perto da praia. Eu gosto de mar, da areia nos pés, cheiro de maresia. Me faz lembrar dos raríssimos momentos felizes que tive com meu pai. Ele não passava muito tempo comigo, mas quando isso acontecia, eu adorava cada segundo! Minha mãe era incrível. Vivia sorrindo, me tratava com carinho e afeto, e sempre me contava histórias para dormir. Eu me sentia amado. Mas essa sensação durou pouco, eu mal pude sentir o gosto da felicidade porque ela foi arrancada de mim, de uma hora para outra. _____//_____ Meu pai desapareceu, nunca mais iria voltar. Ele decidiu ir embora. Minha mãe começou a chorar, o sorriso sumiu de seu lindo rosto. Agora só havia lágrimas. De repente, me vi cercado de gente brava comigo, gente que não me quer por perto. Os meus amiguinhos da escola não falam mais comigo. Meus professores me olham de cara fechada. Alguns meninos começam a me seguir e a querer me bater. Eu não estou entendendo. O que está acontecendo? Porque as pessoas não querem mais ficar perto de mim? Porque elas estão me agredindo? O que foi que eu fiz? Então apareceu Christopher Vidal, ele é um cara legal. Ele casou com a minha mãe e fez com que ela voltasse a sorrir de novo, eles me deram um irmãozinho. A gente veio para uma casa nova. Mas eu não estou feliz, eu acho que nunca mais vou saber o que é ser feliz. Eu estou nervoso com todo mundo. As pessoas não querem que eu seja feliz, eles só querem me machucar. Começo a quebrar coisas para a raiva passar, mas nunca passa então eu quebro mais e mais coisas. Meu irmãozinho começou a me imitar, começou a gritar também, a chorar. Minha mãe está confusa, ela vai me dar uma irmãzinha, mas eu não quero mais irmãos, eu não queria mais gente para me fazer infeliz.


65 A moça de jaleco azul e o amigo dela chegaram em nossa casa. Ela é calma e falava suave. O amigo dela é muito legal, ele conversa comigo e sorri o tempo todo. Mas tem umas coisas que ele faz que eu não entendo. Ele fica me tocando, passando a mão no meu braço, no meu cabelo, no meu peito, na minha barriga. Aí ele me tocou lá embaixo, senti umas coisas esquisitas, mas ele disse que é normal, e eu acreditei. Ele me pediu para não contar para ninguém, porque é nosso segredo. Eu não falei com ninguém. Só que com o tempo eu já não queria mais ele me tocando. Eu não queria mais sentir aquilo, não queria mais sentir aquelas coisinhas estranhas saindo de mim. Falei isso com ele, mas ele não gostou e começou a me machucar. Ele era mais forte, fiquei com medo. Eu não podia contar para ninguém. Minha cabeça estava confusa. Ele não para. “Não, tira as mãos de mim! Alguém me ajude, por favor!” “Não, não...” NÃO! Acordo ofegante, suado e trêmulo. Nem me lembro de quando vim para o quarto. Meus demônios vieram me visitar mais uma vez. Sabendo que não vou conseguir mais dormir, vou a cozinha tomar um copo de vinho e pela janela, assisto o sol fazer sua entrada triunfal para iluminar mais uma vez a cidade que nunca dorme. _____//_____ Às 8 da manhã ligo para a floricultura e peço duas dúzias de rosas vermelhas de caule longo para serem entregues no apartamento de Eva. No cartão escrevo: Ainda estou pensando em você Gideon. Ela provavelmente me ligará para agradecer, então terei minha chance. Mas se passam horas e nada. Tento seu telefone residencial, mas ninguém atende. Disco mais duas vezes, e continuo sem resposta. Seu celular está fora de área. Mando uma mensagem de texto pedindo para que me ligue. Mais duas horas se passam. Estou ficando aflito! Ligo novamente tanto para casa quanto para o celular, que continua desligado. Deixo uma mensagem de voz. “Eva, está tudo bem? Preciso muito falar com você, ligue-me assim que possível, por favor. Um beijo”. Nossa, ela deve estar mesmo com raiva de mim! E como não estaria? Fui um imbecil completo. Eu a tratei como uma vagabunda. Mas não vou desistir, tenho que esclarecer tudo o mais rápido possível. Tento ligar mais algumas vezes, mas ela não retorna. Deixo mais duas mensagens de voz e uma de texto e aguardo.


66 Nada. Então uma vontade súbita de vê-la me domina. Eu poderia passar na sua casa, ver se está bem e consertar as coisas. Por outro lado, se ela está tão brava a ponto de me evitar, talvez não seja o melhor momento. Podemos conversar amanhã durante o almoço. Isso. É o melhor a fazer. _____//_____ Chego ao Crossfire no mesmo horário habitual de Eva. Nem sinal dela. Finjo me distrair com o celular e a aguardo no saguão. Passam-se 10 minutos e nada. Quero muito vê-la. Não vou me contentar apenas em assisti-la pelo monitor. Vou aproveitar e convidá-la para almoçar. Mais 5 minutos e ela não aparece. Desanimado, subo em um elevador vazio e aciono a chave mestra no painel. Assim que entro no escritório, vou direto para frente do monitor. Dez, quinze minutos e nada. Resolvo rebobinar as imagens da movimentação de hoje e vejo algo que me despedaça: ela chegou 20 minutos mais cedo, provavelmente para evitar um possível encontro. Uma dor inesperada se alastra em meu peito, me obrigando a massageá-lo. O que foi que eu fiz? Olho para seu rosto e ela parece decepcionada, realmente triste. E fui eu quem causou isso. Digo a Scott para mandar entregar meu almoço no escritório. Peço dois hambúrgueres com batata frita e dois refrigerantes. Acho que ela vai gostar. Às vinte para o meio-dia ligo para seu ramal. “Escritório de Mark Garrity, Eva Tramell falando”. “Como vai a sua segunda?” pergunto suavemente. “Ocupadíssima”, responde assustada. Ela não esperava por isso. “Que ótimo”, faço uma pausa. “Tentei ligar pra você ontem. Deixei umas mensagens. Queria ouvir sua voz”. Ela suspira e diz que queria aproveitou o domingo para trabalhar um pouco. Perguntei se recebeu minhas flores. “Sim, são lindas. Obrigada”. “Elas me lembraram do seu vestido”. Digo, tentando arrancar mais palavras de sua boca. “Algumas mulheres diriam que você está sendo romântico”, ironiza.


67 “Só me importa o que você diz”. Levanto da cadeira e ando pelo escritório tentado dissipar a tensão. “Pensei em passar na sua casa... Senti vontade”. “Ainda bem que você não fez isso”. Ai! Essa doeu. Meu corpo brande como uma mola de aço. Admito que mereci esse tratamento. Sei que ela não disse isso com a intenção de me machucar, é o que sente nesse momento. Digo que providenciei o almoço para nós em meu escritório. O assunto que vamos tratar é muito íntimo e um restaurante não é um lugar adequado. Mais uma vez ela se esquiva e diz que nos equivocamos no dia em que nos encontramos no meu clube e que o assunto já tinha se resolvido na festa. Imploro para que ela me desse uma chance de me explicar, mas ela continua relutante. Fico enfurecido e minha voz sai autoritária. “Podemos fazer isso do jeito mais fácil, Eva, ou então dificultar as coisas. De qualquer forma, você vai me ouvir”. Ela faz uma pausa antes de responder. “Tudo bem. Eu subo aí”. “Obrigado” solto um suspiro audível. Não fazia ideia de que estava prendendo a respiração. “Mal posso esperar para ver você”. E desligo. Aguardo ansioso por esse encontro.


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Capítulo 7 Acertando os ponteiros (Bônus)

Antes de ligar para Eva, tenho alguns outros problemas para resolver. Disco o telefone de Arnoldo para contar o que aconteceu no baile: “... e ela deve estar mais chateada do que nunca. Tentei contatá-la, mandei flores, mas nada. Então eu deixei que ela tivesse um tempo pra s acalmar. Mas de hoje não passa, eu tenho que vê-la, tenho que me explicar”. “Sim você tem mesmo. Allora, Il nostro conquistatore fu conquistato?” diz caindo na risada. “Arnoldo, você é meu amigo, mas eu tenho vontade de te socar quando você faz isso. Não é engraçado”. “Ma, perché no? Eva te virou de ponta a cabeça, e tenho que dizer que está sendo um prazer ver você se rendendo dessa forma”. Diz, agora em um tom mais sério, mas sinto seu sorriso. “Ah você acha lindo isso, não é?” ironizo. “Lindo não! Divertido!”, e continua a rir e depois faz uma pausa. “E como Corinne reagiu a isso?”. Ele sabe que ela vive me mandando mensagens e ligando. “Não há Corinne. Ela é passado e vai ficar lá. Somos amigos e eu deixei isso bem claro”. “Benne, então posso declarar Eva minha cunhada oficialmente?” “Se ela não m der um chute na bunda, sim”. “Não acredito que ela vá fazer isso”, analisa. “Provavelmente está chateada e vai tentar resistir, mas não será definitivo. Pelo que me contou, há uma ligação forte entre vocês e esse tipo de sentimento não se nega com facilidade. Seja sincero e admita que estava com medo. Não tenha vergonha de mostrar-se”. “Mas não posso contar tudo! Se ela souber, vai correr de mim”. Esse pensamento embrulha meu estômago. “Não precisa contar tudo, até porque vocês ainda estão no começo. Apenas confesse o que sentiu naquele momento. Mostre a ela que você se importa”. “Tem razão, é exatamente isso que vou fazer”. “Ótimo. Allora...”, diz num tom que eu já conheço. Provavelmente vai falar alguma merda. “... admita que se apaixonou”. “Isso é brincadeira, não é?” “Não. Eu quero ouvir isso de você. Vamos, estou sem tempo”.


69 “Nem pensar”. “Ah não? E como você quer falar de seus sentimentos pra ela se nem sequer consegue dizê-los em voz alta pro seu melhor amigo?” “É diferente”. “Grande merda. Anda, fala logo”. “Não”. “Vigliacco”. Espera, ele me chamou de covarde? “Você está só me provocando pra eu falar, mas não vou cair nessa”. “Gideon, eu não quero que você confesse nada. Eu sei que está apaixonado por ela. O que eu quero é que você tenha coragem de admitir isso pra si mesmo, em voz alta, pra que você entenda o quanto isso é importante. Você é um homem mudado”. E o pior é que o bastardo tem razão. É impossível negar. Mas também não quero dizer que a amo não porque não quero admitir, mas porque o que sinto é maior, muito maior. “Arnoldo. Eu com certeza a amei no momento em que a vi, mas não conseguia admitir isso para mim mesmo, em hipótese alguma. Mas, depois do que aconteceu na limusine, eu passei a sentir algo muito mais forte, muito maior do que o amor. Só não consigo achar a palavra certa pra externalizar isso, entende?” E pela segunda vez em minha vida, consigo deixá-lo sem palavras. “Nossa”. E é tudo o que consegue dizer. “Pois é”. Passam-se intermináveis segundos até que ele recupera a fala. “Vá atrás dessa mulher, Gideon. E conserte essa merda. Se não quem vai chutar a sua bunda sou eu”. Diz ríspido. “Pode deixar. E Arnoldo?” “Sim?” “Grazie”. “Cala a boca e vai logo, sciocco4!”. E desliga na minha cara. Quanto carinho. Agora, meu segundo telefonema do dia: Christopher. “Alô”, responde o cretino. “O que você pensa que estava fazendo ontem, com Eva?” “Gideon?”, diz surpreso. “Não sei do que está falando. Estávamos apenas dançando”. Esse ar fingido não me convence nem por telefone. “Não me venha com essa”, digo rispidamente. “Eu conheço bem o seu jogo. Não quero você perto dela, nem agora, nem nunca, entendeu?”


70 Depois de uma pausa ele responde em um tom zombeteiro. “Eva me disse que não estava acompanhada ou comprometida, então não vi nenhum motivo para não me aproximar. Ela é uma linda mulher”. Esse filho da puta tem uma sorte danada de não estar na minha frente agora, caso contrário o teria deixado inconsciente. “Pois ela é minha. E se você ousar se aproximar, as coisas não vão ficar nada boas pra você. Não queira medir força comigo. Nós sabemos que isso é inútil e impossível tanto fisicamente quanto financeiramente. E, se eu fosse você”, digo em um tom assassino, “levaria esse aviso muito a sério”. “Não se preocupe. Farei o possível para manter distância”. Diz engolindo em seco. “Faça o impossível”. E desligo. Christopher sabe que não deve se meter comigo. Nós nunca tivemos uma relação amigável. Ele é invejoso e sempre tentou de tudo para tirar o que é meu. Foi por causa dele que ninguém acreditou em mim. Foi por causa dele que me afastei de minha família. Mas não vou permitir que isso aconteça novamente. Eva é minha e vou fazer o que for preciso pra mantê-la a salvo desse imbecil do caralho. Assim que enriqueci, me vinguei de tudo o que Christopher me fez comprando a 65% das ações da Vidal Records, gravadora de meu padrasto. Claro que o pentelho ficou morrendo de ódio por eu ser detentor de boa parte de sua herança. E assim, eu deixei claro que ele não iria me atingir novamente, e que se tentasse, seria trucidado. Mas, claro, tive outros motivos que me levaram a isso. Motivos mais importantes. Meia hora após acertar as contas com aquele idiota, meu celular toca. No visor, pisca um nome conhecido. “Magdalene”. “Bom dia, Gideon. Como vai?”. “Bem e você?” “Estou bem, obrigada”, diz um pouco hesitante, “Escute, eu queria me desculpar pelo que te disse no evento. Foi inapropriado. Não quero que nossa amizade fique abalada”. “Claro, Mag. Não se preocupe. Só não repita isso, nunca mais”. “E diga a ela que eu peço desculpas pela forma como a abordei no banheiro”. Ahn? “Do que está falando?” “Ela não te contou?” “Não”, bufo. “Ainda não nos falamos”.


71 “Bom, é que eu...” diz hesitando mais uma vez “er... fui um pouco grosseira e acabei dizendo coisas que ela não merecia ouvir”. Meus olhos se fecham. Por um momento, eu penso seriamente em bater nela. “O que quer que tenha dito, é melhor que não me atrapalhe com ela”, digo em um tom de voz duro. “Eu... estou muito arrependida, de verdade. Me desculpe. A sua vida não é da minha conta. Prometo não me meter mais”. Ela está sendo sincera. “Tudo bem, Mag. Olha, eu preciso ir trabalhar. Depois nos falamos”. “Claro, até mais”. “Até mais”. Respondo desligando. Nossa! Que cansativo! Agora, vou tratar do que realmente importa; mais do que qualquer coisa: Eva.


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Capítulo 8 De novo, seu imbecil? E depois de idas e vindas, finalmente consegui o que tanto quis: uma nova oportunidade. Pela primeira vez em minha vida, me sinto feliz. Feliz de verdade! Só de imaginar que no andar logo abaixo do meu há uma mulher que me deseja tanto quanto eu a desejo e que ela é só minha, um sorriso ridículo surge em meus lábios. Meu rosto vai rachar a qualquer minuto. Faltam cinco minutos para as cinco e começo a me preparar para ir buscá-la. O dia passou voando e trabalhei como uma máquina. Não estou cansado nem estressado, até porque Eva não saiu da minha cabeça em momento algum. Durante uma reunião mais que entediante que tive na parte da tarde, fiquei relembrando nosso encontro no almoço. *FLASH BACK ON* Eu estava tão nervoso, e morrendo de medo de ser rejeitado. Era hora de abrir o coração; não poderia e nem queria mais lutar contra o que estou sentindo. É muito forte para negar. Repassei em minha mente tudo o que eu tinha pra dizer, centenas e centenas de vezes. Não queria errar, não poderia errar! Essa era a minha grande chance! Cinco minutos após eu ter desligado o telefone, a comida chegou, mas Eva não deu sinal de vida. Já faltavam 10 minutos para o meio-dia e nada. Minha ansiedade se transformou em impaciência e desci para buscá-la. Quando cheguei à sua baía, lá estava ela, distraída, fazendo suas tarefas. Minha presença sequer foi notada. “Eva”. Assim que ouviu minha voz, ela deu um pulo da cadeira e me encarou com uma expressão mortificada. “Gid... Senhor Cross. Não precisava ter descido até aqui”. Disse um pouco sem jeito. “Está pronta?”. Perguntei calmamente, muito calmamente. Ela se abaixou para pegar sua bolsa e Garrit saiu de seu escritório, me saudando. Antes que ele terminasse, esclareci que estava ali apenas para levar Eva para almoçar. Depois de se recuperar de seu quase imperceptível choque, ele voltou a sorrir. Nos despedimos dele e fomos para em direção aos elevadores. Enquanto aguardávamos o elevador, acariciei a manga de sua blusa de cetim com meus dedos. “Toda vez que fecho os olhos, vejo você com aquele vestido vermelho. Escuto seus gemidos de tesão. Sinto você descendo pelo meu pau, apertadinha, me fazendo ficar tão duro que chega até a doer”. “Pare com isso”, disse virando o rosto.


73 “Eu não posso evitar”. Meu olhar íntimo e sincero mexeu com seus sentidos. As portas do elevador sem abriram e eu a peguei pela mão quando entramos. Pus a chave no painel e a puxei para mais perto. Não suportava mais a distância entre nós. Se não estivéssemos no meio de expediente, eu treparia com ela bem aqui. “Eu vou te beijar, Eva”. “Eu não...” E a calei com um beijo. Ela até resistiu no começo, mas acabou se entregando assim que comecei a acariciar sua língua com a minha. Sei que ela precisava disso tanto quanto eu. Me afastei para tirar a chave do painel e as portas se abriram. Nos encaminhamos para meu escritório e enquanto eu tirava a jaqueta, Eva me olhava como se estivesse distraída com alguma coisa. “Quer que eu guarda sua bolsa?”, perguntei. Mas ela não respondeu, continuava a me olhar em transe. “Eva?” “Você é muito bonito, Gideon”. Isso me pegou de surpresa, fiquei até um pouco desconcertado, mas um calor enorme se espalhou pelo meu peito. Eu não poderia desejá-la mais. “Fico feliz que goste do que vê”. Disse ainda afetado por suas palavras. Ela me entregou sua bolsa pra eu guardar junto com meu paletó e se afastou um pouco cruzando os braços em uma posição defensiva. Em seguida, disparou: “Vamos acabar logo com isso. Não quero mais sair com você”. O QUÊ? Eu fiquei chocado. Meu cérebro não conseguia registrar suas palavras, ou talvez não quisesse. Não aguentaria perdê-la, não queria perdê-la, e não iria, de forma alguma, aceitar isso. Passei minhas mãos pelos cabelos de tanto nervoso. “Não acho que você queira isso”. Bufei. “Quero, sim, de verdade. Foi... um erro”. Erro? Como assim?! Ela quer me enlouquecer? “Não foi”, eu disse com veemência. “A maneira como me comportei depois é que foi um erro”. Todos os músculos do meu corpo endureceram de tensão. “Eu não estava falando de sexo, Gideon. Estava me referindo ao fato de concordar com o tipo de relação que se estabeleceu entre nós. Estava na cara que ia dar errado desde o começo. Eu deveria ter seguido meus instintos”. Suas palavras me acertaram como um soco no estômago.


74 “Você não me quer mais?” Perguntei num fio de voz. “Não é isso, é que...”. “Não como eu disse no bar”, interrompi. “Quero dizer, de verdade”. Ela me olhou confusa. “Do que você está falando?” “De tudo” me aproximei dela. “Eu quero ser seu”. “Não foi isso que pareceu no sábado”. Disse apertando ainda mais os braços em torno de si. “Eu estava... inseguro”. Admiti. “E daí? Eu também!” Em seu olhar eu vi uma centelha de esperança. Ela me queria, com certeza. Mas estava com medo de eu estragar tudo de novo. Precisava ganhar sua confiança, então implorei para que me ouvisse. Ela tentou sair, dando a conversa por encerrada, mas eu não deixei. “Se você vai entrar em parafuso toda vez que a gente transar, não temos nem por que começar”, argumentou. Dando um suspiro, comecei a me abrir como nunca. Não estava sendo fácil, pois Eva é como um campo minado: é preciso ir com calma e observar muito bem onde é seguro dar o próximo passo. Eu não podia assustá-la com meu passado. Tinha que ir com calma e escolher as palavras certas para explicar o que sentia, sem ter que revelar tudo. “Estou acostumado a ficar no controle. Eu preciso disso. E você mandou essa ideia para o espaço na limusine. Eu não soube como lidar com isso”. “Jura?”. Tomado pela coragem, cheguei ainda mais perto. “Nunca fiz isso antes. Pensei que nem fosse capaz. Agora que aconteceu... Não posso abrir mão. Não posso abrir mão de você”. “É muito simples, Gideon. Por mais que o sexo seja bom, uma relação puramente sexual pode mexer seriamente com sua cabeça se o convívio com a outra pessoa não fizer bem pra você”. Estava fazendo de tudo para me manter calmo, mas depois dessa, foi impossível não ficar irritado. Que mulher exasperante! “Nada disso. Admito que pisei na bola. Não posso mudar o que aconteceu, mas tenho o direito de ficar puto se você não quiser mais sair comigo por causa disso. Você impôs as regras e eu concordei, mas você não abriu mão de nada pra se adaptar a mim. Precisamos encontrar um meio-termo. Você precisa ceder pelo menos um pouco”. Minha voz e minhas feições estavam carregadas de frustração. “O que você quer Gideon?”, perguntou calmamente. Ela estava começando a entender. Eu a abracei e segurei seu queixo entre o polegar e o indicador.


75 “Quero continuar me sentindo como me sinto quando estou com você. Só me diga o que preciso fazer. E não se comporte assim quando eu fizer bobagem. É tudo novidade pra mim. Um aprendizado”. Fui muito sincero ao dizer isso. Uma de suas mãos foi direto para meu coração, que martelava incessantemente, como se esmurrasse meu peito. Seu olhar carregava uma nuvem de dúvidas e preocupações. “O que, exatamente, é uma novidade pra você?” “O que for preciso pra passar o maior tempo possível com você. Na cama e fora dela”. Eu nunca fiz isso por mulher nenhuma. Ela respirou fundo e disparou a falar. “Você é capaz de imaginar como vai ser complicada a nossa relação, Gideon? Ela mal começou e eu já estou exausta. Além disso, tenho umas coisas para resolver comigo mesma, além do emprego novo... Da minha mãe maluca...” Eu abri minha boca para protestar, mas ela a cobriu com seus dedos. “Mas acho que vale o esforço, e quero muito você. Então não tenho escolha, não é?” Senti uma euforia tão grande, que achei que meu peito iria explodir. Ela me deu uma chance! Ela disse sim! Em seu próprio jeito engraçado e sarcástico, mas isso é uma das coisas que eu adorava nessa mulher. “Eva, você é terrível”. Eu a levantei do chão, posicionando um dos braços abaixo de seu traseiro para fazer com que suas pernas enlaçassem minha cintura. Eu a beijei com força e esfreguei seu rosto contra o meu. “Nós vamos dar um jeito”. Eu disse cheio de esperança. “Até parece que vai ser fácil” reclamou, divertida. “O que é fácil, não tem graça”. Retruquei no mesmo tom, enquanto a carregava até o bar. Coloquei-a sentada em um banquinho e tirei a tampa do seu prato aquecido. Ao sentir o aroma do cheesebúrguer com fritas, ela murmurou em aprovação. Acertei! Eva, apesar de ser rica e saber apreciar coisas requintadas, tem gostos muito simples. Depois de algumas brincadeirinhas entre nós, ela fez uma pausa e me perguntou se faço questão de exclusividade. Oi? Será que ela ao menos ouviu o que eu disse? Ou não percebeu? Isso nem precisava ser discutido, na verdade. Eu não divido o que é meu com ninguém. Minha expressão impassível preencheu meu rosto imediatamente. “Pensei que isso fosse parte do acordo. Mas vou deixar bem claro, pra que não reste dúvida: não existe mais nenhum homem na sua vida, Eva”. “Mulheres tudo bem?” brincou, tentando aliviar o clima, pelo menos era o que parecia, mas não custaria nada checar. “Eu já sabia que seu colega de apartamento era bissexual. Você também?”


76 “Seria um incômodo pra você?” continuou em tom divertido. Eu já ia ter muito trabalho para lidar com a cobiça dos homens, imagina ter que fazer o mesmo com relação às mulheres. Cristo... “Dividir você com qualquer um seria um incômodo. Está fora de cogitação. Seu corpo é meu, Eva”. Enfatizei “E o seu é meu? Exclusivamente?” Ah, meu anjo não estava me ouvindo. Meu corpo clamava por ela, cada membro do meu corpo queria senti-la, inclusive aquele que estava quase pulando para fora da minha calça. “Sim”, digo animadamente, com um brilho nos olhos, “e espero que você faça proveito dele com frequência e em excesso”. “Mas você já me viu nua” provocou, baixando o tom de voz. “Sabe o que vai ter em troca. Eu não. Adorei o que vi de você até agora, mas não foi muita coisa”. As imagens do nosso sexo na limusine perpassaram minha mente. Estávamos completamente vestidos, exceto nossas partes íntimas que se esfregavam freneticamente. Durante minha primeira visita ao seu apartamento, naquele mesmo dia, pude vê-la da forma como veio ao mundo. Se o que ela queria era meu corpo nu... “Podemos resolver isso já”. Se ela escolhesse fazer isso agora, eu não seria responsável pelos meus atos. Eu a desejava de forma tão selvagem que nossos gritos seriam ouvidos por todo o prédio. Eva se remexeu em sem acento, claramente pensando a mesma coisa que eu. Lancei-lhe um olhar cheio de desejo, mas estava me divertindo com seu desconforto. Suas bochechas ganharam aquele lindo tom de rosa que surgia sempre que estava envergonhada. “Melhor não”, respondeu. “Já cheguei atrasada do almoço na sexta”. “Hoje à noite, então”, propus. “Com certeza”. Disse sem hesitar. “Vou terminar tudo até as cinco”. Dei mais uma mordida em meu sanduíche, muito feliz porque iria passar a noite trepando até cansar. Ela disse que não precisava, pois teria de ir à academia depois do trabalho. Então me ofereci para ir junto. Depois de tudo, não estava disposto a deixá-la sozinha, ainda mais na academia, exibindo essas curvas deliciosas. O corpo dela é meu. Ela concordou prontamente. Além do mais meu desejo era tão animal que eu poderia machucá-la. Quando eu disse seria bom gastar um pouco de energia antes de arrancar a roupa dela, pois assim ela conseguiria andar amanhã, Eva me olhou perplexa, mas cheia de vontade. Estava avaliando se era uma


77 brincadeira. Não era. Passaram-se alguns segundos e ela voltou a falar, mudando completamente de assunto. Comentou que Magdalene poderia ser um problema. “Ela me disse que falou com você e que a conversa não foi nada boa”. “Não, não foi nada boa”, confirmou. “Não gostei nem um pouco de saber que você não respeita as mulheres com quem trepa e que, assim que você enfiou seu pau em mim, estava tudo acabado”. Minha calma se esvaiu e uma irritação profunda me inundou. Maggie tinha passado dos limites. “Ela disse isso?” “Exatamente isso. E também que está mantendo você em banho-maria até estar pronto pra sossegar”. “Ah, é mesmo?” Não gostei nada daquilo. Eu iria ter que dar um gelo nela, para deixar claro meu desagrado pela sua intromissão. “Você não acredita em mim?” perguntou incrédula. “Claro que acredito”. Eva repetiu que Magdalene podia ser um problema e me comprometi a falar com ela. Eu havia acabado de comer meu sanduíche e começado a comer as batatas quando Eva passou a explicar seu ciúme, revelando até que ponto minha amiga de infância poderia ser um problema. Ela disse ser ciumenta ao extremo e que talvez fosse melhor eu pensar a respeito. “Está mesmo disposto a lidar com uma pessoa com problemas de autoestima como eu?”, perguntou, confirmando mais ainda o que Cary havia me dito. “Foi uma das coisas que me fez pensar duas vezes antes de ficar com você. Eu sabia que ficaria maluca vendo a mulherada babando por você, sem poder fazer nada a respeito”. “Agora você tem o direito de fazer algo a respeito”. “Você não está me levando a sério”. Balançou a cabeça e deu outra mordida no sanduíche. “Nunca falei tão sério na minha vida”, eu disse, inclinando-me para frente, para passar a ponta do polegar no canto de sua boca e lambendo o restinho de molho que tirei de lá. “Você não é a única possessiva aqui. Eu também vigio bem de perto o que é meu”. Uma expressão muito conhecida tomou conta das feições de Eva. Eu a havia visto algumas vezes: quando nos encaramos no saguão do Crossfire, quando quase transamos no sofá do escritório e quando fui ao seu apartamento pela primeira vez. O olhar de ‘me fode’ estava lá, firme e forte, como meu pau, que endureceu assim que encarei esse olhar. “Continue pensando nisso e vai se atrasar de novo”. Eu sorri. “Como você sabe o que eu estava pensando?” “Você fica com essa cara quando está com tesão. Quero ver você assim sempre que possível”. Terminei minhas batatas e tampei minha bandeja.


78 Eu pedi o número do celular dela (que até agora achei um absurdo eu não conseguir descobrir). Passei-lhe um cartão com os números da minha casa, do escritório e do meu celular. Ela fez uma careta e contou que iria precisar comprar outro aparelho porque sua mãe estava usando o antigo para rastrear sua movimentação pela cidade. “Entendo”, respondi acariciando seu rosto com as costas da mão. “Era disso que você estava falando quando disse que sua mãe vivia te espionando”. “Infelizmente”. “Muito bem, então. Cuidamos da questão do telefone antes de ir à academia. É importante para sua segurança. E eu quero poder ligar pra você sempre que quiser”. Céus! Ainda bem que ela não faz ideia de que eu a monitoro também, até mais do que Monica. Eva jamais poderia saber disso, até porque esse assunto não é discutível. Eu iria manter tudo do jeito que estava. Ela terminou sua refeição e me agradeceu. Fomos ao banheiro escovar os dentes, lado a lado, sorrindo pela normalidade da situação. Em seguida, peguei sua bolsa e meu paletó para levá-la até seu andar. Eva parou ao ver minha mesa. “É aqui que você passa a maior parte do dia?” “Sim”. Respondi enquanto colocava o paletó. Eva pulou em cima da mesa, de frente para a cadeira e acenou para que eu sentasse. Fiquei surpreso, mas me sentei sem questionar. Ela abriu as pernas e pediu para eu ficar mais perto. Assim que ocupei o espaço entre suas coxas, lancei os braços em torno dos seus quadris e a encarei. “Muito em breve, Eva, vou comer você bem em cima dessa mesa”. “Agora eu só quero um beijo”, murmurou, inclinando-se para alcançar minha boca, apoiando as mãos nos meus ombros para se equilibrar. Ela passou sua língua aveludada pelos meus lábios abertos; e depois a enfiou em minha boca para me provocar levemente. Eu gemi contra sua boca, aprofundando mais o beijo e minha virilha se apertava em antecipação. Meu pau ficou instantaneamente duro e latejante. “Muito em breve, vou me agachar aqui e chupar você bem gostoso. Talvez até quando você estiver no telefone, brincando de ganhar dinheiro que nem no Banco Imobiliário. E você, senhor Cross, vai passar pelo início e ganhar duzentas pratas”. Sussurrou com sua boca colada a minha. “Já sei onde está querendo chegar. Você vai me fazer perder a cabeça em tudo quanto é lugar com esse seu corpo todo durinho e sexy”. “Está reclamando?” “Não, meu anjo. Estou com água na boca”. “Meu anjo?”, disse sorrindo.


79 Concordei com um gemido baixo e a beijei suavemente. Não poderia ser um apelido mais apropriado. Saímos do escritório rindo e brincando. Um clima completamente diferente. Apenas uma hora havia feito toda a diferença. Enquanto esperávamos o elevador, eu a prensei na parede e a beijei mais uma vez. “Você sabe que está no trabalho, não é?” “Qual é a graça de ser o chefe se você não puder fazer o que quiser?”, deu isse petulante. O elevador chegou e ela entrou passando por debaixo do meu braço. Parti no seu encalço e a cerquei como um predador, posicionando-me atrás dela para puxá-la junto a mim. Agarrei seus quadris firmemente, e meus dedos se aproximaram perigosamente de onde eu gostaria de estar. Não contente em me torturar com seu calor e com seu cheiro, ela esfregou sua bunda no meu pau, que estava a ponto de explodir. As câmeras captavam nosso momento de intimidade, provavelmente estávamos entretendo o pessoal da segurança, mas eu estava tão feliz, que isso nem me incomodou. Continuamos brincando até que o elevador chegou a seu andar e saímos. “Até mais tarde, moreno perigoso”. Disse sensualmente, me fazendo sorrir. “Às cinco horas. Não me faça esperar”. Adverti, entrando no elevador. Assim que voltei para o escritório, fui direto consultar o dossiê para saber o nome da academia que ela frequenta. Equinox. Então mandei Angus trazer minhas roupas de ginástica, caso ela quisesse ir para lá. Não queria perder um minuto daquele dia. *FLASHBACK OFF* O elevador para as cinco em ponto no andar da agência e as portas se abrem revelando a figura esbelta e maravilhosa do meu anjo; ela está sorridente, mas um pouco introspectiva. Seu dia deve ter sido puxado apesar de nosso almoço, então resolvo dar-lhe um pouco de espaço. Quando passamos pelas catracas, faço questão dar-lhe a mão e entrelaçar nossos dedos. Quero que Eva veja que estou levando nosso compromisso a sério. Sinto sua mão apertando a minha levemente, como se aprovasse meu gesto. Bola dentro, finalmente! Olho para ela. “Tenho umas roupas aqui comigo, caso você queira ir à sua academia. Equinox, certo? Ou podemos ir à minha”. “Onde fica a sua?” pergunta. Com certeza está curiosa para saber como eu descobri o nome de sua academia. “A minha preferida é a CrossTrainer, na rua 55”. “Por acaso você é o dono dessa academia?” “Dessa rede de academias”. Respondo com um sorriso. “Em geral eu treino MMA com um treinador particular, mas uso a academia de vez em quando”.


80 “Da rede”, repete chocada. “Claro”. “Você que sabe, vou aonde você quiser”. Não quero parecer presunçoso ou esnobe. Quero apenas passar um tempo com ela, seja aonde for. “Vamos pra sua academia, literalmente”. Eva olha pela janela, fascinada pelo transito caótico de Manhattan. E eu a observo, me perguntando como essa mulher conseguiu me arrebatar sem o menor esforço, me fazendo queimar de desejo e necessidade a ponto de enlouquecer. Durante o trajeto, ficamos rindo como dois adolescentes, trocando beijos suaves e carícias comportadas. A primeira parada é na loja de celulares. A vendedora me dá total atenção. Basta eu demonstrar o menor interesse por um produto, e ela se desdobra em explicações detalhadas e demonstrações. Eva fica incomodada e tenta se desvencilhar de mim, mas continuo segurando sua mão firmemente. Não vou soltá-la mesmo se ela implorar. Escolho o telefone e a operadora e, naturalmente vou pagar pelo aparelho. Eva se sente ofendida e afasta meu Amex, deixando claro que ela quer pagar, discutimos mais um pouco até que decido não insistir. Óbvio que não estou nada satisfeito, mas não quero estragar o clima por causa de uma besteira. Como um negociador nato, tenho que escolher minhas batalhas com sabedoria. Voltamos para o carro e Angus segue para a CrossTrainer, que está perto. Aproveito o trajeto para adicionar meus contatos no celular de Eva e os dela no meu. Chegamos em menos de10 minutos. A filial da rua 55 é uma das centenas de academias que possuo em todo o país. Foi aberta há mais ou menos dois anos e está muito bem equipada e bem cuidada, como deve ser. São três andares: no primeiro andar, temos a recepção e a área das piscinas. No segundo, as salas de ginástica e de dança, e no terceiro andar, os aparelhos de musculação. Todos possuem vestiários. Oferecemos diversos tipos de lutas, danças e exercícios aeróbicos para todas as faixas etárias e uma equipe altamente treinada. A estrutura, no geral, é moderna e o ambiente é amplo e arejado. Apesar de todas serem idênticas, eu gosto dessa porque fica mais perto do trabalho e tem uma ótima vista da cidade. Saio do vestiário em direção ao corredor, mas Eva ainda está se trocando. Aproveito para decidir onde levá-la depois daqui. No hotel? Não, ela não é como as outras, é minha namorada. Melhor irmos para seu apartamento, talvez se sinta mais a vontade. Terei de arrumar uma desculpa para ir embora e isso me deixa muito triste. Queria tanto poder passar a noite inteira abraçado a ela, sentindo cada centímetro de sua pele na minha. Se eu fizer isso, provavelmente correrei o risco de perdê-la para sempre. Vou dizer que tenho que resolver assuntos de trabalho ou... MAS QUE PORRA É ESSA?


81 Eva caminha em minha direção usando um top, cuja cor se aproxima muito do seu tom de pele, que sustenta firme e orgulhosamente seus seios fartos e sua calça preta de yoga – a mesma que usava no dia em que nos conhecemos. Seus cabelos loiros estão presos em um rabo de cavalo e ela me olha com tanta volúpia que é como se estivesse me vendo completamente nu. Meu rosto se fecha na hora. Aproximo-me dela e a rodeio, percorrendo com os dedos seu abdome despido e sarado. Quando paro à sua frente, ela lança seus braços em torno de meu pescoço e dá um beijinho estalado na minha boca. Ainda não estou nada feliz com isso. “O que é isso que você está usando?” “Roupas”. “Parece que você está nua com esse top”. “Pensei que você quisesse me ver nua”. “Quero ver você nua num local com privacidade”, murmuro ainda irritado. “Agora vou ter que acompanhar você toda vez que for à academia”. “Não vou reclamar, já que estou gostando demais do que estou vendo agora”. “Vamos deixar isso pra lá. Eu preciso te comer”. Rosno. “Eu preciso ser comida”. “Meu Deus, Eva. O que vai ser? Pesos? Aparelhos? Esteira?”. Eu já estou suficientemente desesperado. Não preciso de ajuda! “Esteira. Preciso correr um pouco”. Nos encaminhamos para a fileira de esteiras e bicicletas e constatamos que não havia duas esteiras adjacentes que estivessem livres. Vou até um homem que tem uma esteira livre de cada lado e pergunto educadamente se ele pode trocar de esteira. Ele olha para Eva, sorri e assente. Subo na esteira em que estava o homem e aponto para Eva a que está ao lado. Antes de eu começar a me exercitar, a diaba loira vem me atentar mais uma vez. “Vê se não gasta muita energia” sussurra. “Quero fazer um papai-e-mamãe pra começar. Andei fantasiando com você em cima de mim, mandando ver com toda a força”. Essa mulher quer me matar? Meus olhos a fuzilam. “Eva, você não faz ideia”. Nunca me senti tão bem disposto como hoje. Energia transborda do me corpo. Foi realmente uma ótima ideia vir malhar primeiro. Do jeito que estou poderia facilmente machucála, afinal Eva é muito apertadinha e meu pau é grosso e enorme. Uma estocada forte e impensada da minha parte, e meu anjo estaria dando entrada no pronto socorro.


82 À medida que troco de aparelho, observo a movimentação de Eva pela academia. Não posso perdê-la de vista. Os marmanjos de plantam quase a comem com os olhos quando ela passa. Quando menos espero, um dos instrutores se aproxima dela, provavelmente enfeitiçado pelos seus seios. Ele lhe dá um enorme sorriso. De repente, a ideia de atacá-lo com um desses pesos me pareceu muito atraente. Tenho que intervir, mas se esse babaca não recuar, suas chances de arrumar outro emprego em qualquer lugar desse país serão reduzidas a inexistentes. Estou atrás dele quando o escuto dizer animadamente. “... você só vai poder se decidir se puder aproveitar tudo o que temos a oferecer. Eu garanto a você, a CrossTrainer é a melhor academia de Manhattan”. “Você tem direito a tudo o que temos a oferecer”, falo enquanto me dirijo para o lado de Eva e passo o braço por sua cintura, “já que é a namorada do dono”. Acrescento, enfatizando bem a palavra namorada. O tal Daniel percebe com quem está falando e retrocede em seguida, totalmente constrangido. Adoro quando minha posição me permite colocar certas pessoas em seus devidos lugares. Situação resolvida. “Eu posso apostar”, digo enquanto nos encaminhamos para os vestiários, “que ele não tirou os olhos dos seus peitos”. “São peitos muito bonitos, devo admitir”, ironiza. Solto um grunhido de impaciência. Não achei a menor graça nisso. Queimar esse top indecente está na minha lista de prioridades no momento. Esmago sua bunda com um tapa. “Esse maldito band-aid que você chama de top não deixa muito espaço para a imaginação. Não demore muito no chuveiro. Logo você vai ficar toda suada de novo”. “Espere”, ela pega meu braço. “Você acharia ruim se eu pedisse para você não tomar banho? Se eu dissesse que quero encontrar um lugar aqui pertinho e pular em cima de você todo suado mesmo?” Puta merda! Essa mulher existe? O hotel onde mantenho a suíte fica a algumas quadras daqui... Não poderia ser mais perfeito! “Estou começando a temer pela sua segurança, Eva. Pegue suas coisas. Tem um hotel ali na esquina”. Saímos apressados pelas ruas da cidade. Noto um paparazzo por perto, no outro lado da rua. Como sabe que tenho o costume de frequentar aquela academia especificamente, fica sempre de plantão naquele ponto. De repente, num surto de possessividade, agarro Eva no meio da calçada lotada e a beijo vorazmente. Quero que todos saibam que ela está comprometida


83 comigo e, assim, destroçar a mínima chance de imbecis como Daniel tentarem conquistá-la. Não quero me gabar, mas sou um ótimo partido e duvido muito que qualquer homem desse mundo possa ser melhor para ela do que eu. Aplausos irrompem ao nosso redor. “O que foi isso?” pergunta sem fôlego. “Um prelúdio”. Pego sua mão e a puxo pelo saguão do hotel, indo direto para o elevador, conseguindo cumprimentar o gerente apenas alguns segundos antes das portas se fecharem. Solto minha mochila no chão eu tento tirar essa porcaria de band-aid. Eva começa a rir das minhas tentativas e bate em minhas mãos. O elevador chega ao andar e saio já sacando a chave-mestra para abrir a porta do quarto. Impacientemente ela põe suas mãos sob a minha roupa e ordena com a voz rouca: “Tire a roupa. Agora!” Feliz em obedecer, começo tirando os tênis com os pés e arranco minha camiseta e shorts. Eva para por uns instantes, fascinada. “Acho que morri e fui para o céu”. Rindo de sua reação, avanço sobre ela. “Você ainda está vestida”. Ataco suas roupas, arrancando seu top em um puxão e descendo suas calças com força. Ela tira seus tênis com tanta pressa que acaba nos fazendo cair sobre a cama. Ponho-me por cima dela e começo a beijar e lamber seu pescoço, sua mandíbula, até chegar ao seu peito esquerdo. “Você é tão linda, Eva”, respiro antes de abocanhar seu mamilo. Ela solta gemidos de puro prazer. Seu corpo se derrete a cada sucção suave. Suas mãos percorrem avidamente minha pele úmida, apalpando e apertando, procurando pelos meus pontos fracos. Ela entrelaça suas pernas nas minhas e tenta me fazer rolar para que ficar por cima, mas não consegue. E eu não vou deixar. Hoje, eu é que vou estar no comando. Levanto a cabeça sorrindo. “Agora é minha vez”. “Gideon...” E a silencio com um beijo profundo e ardente. Como de praxe, suas mãos acariciam meus cabelos, puxando-os de leve. Eu já disse que adoro quando ela faz isso? A fricção de nossos corpos suados e tensos está me deixando louco. Meu desejo por ela é quase desumano, de tão selvagem. “Adoro seu corpo”, sussurro, passeando com minha boca do seu rosto para a garganta. “Não me canso de admirá-lo”. Minhas mãos estão em todos os lugares. “Você ainda não desfrutou dele o bastante”, provoca.


84 “Acho que nunca vou me fartar dele”. Mordendo e lambendo seu ombro, faço caminho para seus mamilos e agarro um deles com os dentes, apertando de leve. Suas costas arqueiam e ela geme alto. Em seguida, eu o sugo, para aliviar a pontada da mordida. Continuo percorrendo seu corpo com a boca, abrindo caminho aos beijos em direção à sua cintura. “Nunca senti tanto desejo na minha vida”. E é verdade. Nunca fiquei tão desesperado para trepar com alguém antes. “Então me fode”. “Ainda não”, murmuro, indo mais para baixo, circundando seu umbigo com a ponta da língua. “Você não está pronta”. “Quê? Meu Deus... Não dá pra ficar mais pronta que isso”. Ela puxa meus cabelos, numa tentativa de me trazer de volta para cima. Agarrou meus pulsos e aperto-os contra o colchão. “Você tem uma bocetinha apertadinha, Eva. Se não estiver totalmente molhada e relaxada, vou machucar você”. Nossa, o cheiro dessa mulher me embriaga. Seu gosto é doce e delicioso. O que me leva a continuar meu percurso até o ápice de suas coxas. De repente, seu corpo fica tenso e ela se contorce tentando evitar o meu toque. “Não, Gideon. Nem tomei banho”. Ignoro seu pedido e enfio meu rosto entre suas coxas, mordendo-as de leve. Eva continua a se debater. “Não. Por favor. Você não precisa fazer isso”. Levanto-me subitamente e a encaro com um olhar penetrante. “Você acha que meu desejo pelo seu corpo é diferente do seu pelo meu? Eu quero você, Eva”. Ela faz aquele gesto sensual de lamber os lábios ressecados. Solto um gemido suave mergulho de cabeça na umidade do meio das suas pernas. Minha língua abre caminho dentro dela, lambendo e separando os tecidos sensíveis. Seus quadris se remexiam sem parar. “Ah, Eva. Penso na minha boca na sua boceta desde a primeira vez que vi você”. Sussurro com a boca colada em seu clitóris. Eu o lambo e ela estremece, relaxando as pernas e me dando passe livre para continuar a tortura. “Isso. Assim mesmo. Me faz gozar”. Disposto a atender o seu pedido, alterno sucções e lambidas ásperas. Seu corpo treme violentamente, mas minha língua continua a invadir seu sexo em meio às suas convulsões. Gemo incessantemente, tentando entrar ainda mais fundo, prolongando o clímax. Seu líquido espesso e


85 doce invade minha boca, e eu a sugo ainda mais forte. Continuo minhas investidas, dessa vez usando dois dedos para estimular ainda mais seu clitóris e ela goza outra vez, soltando gritos e gemidos roucos. Agora, entro com três dedos, para abrir passagem para algo maior que meus dedos. Meu menino já está doido querendo entrar em “casa”. “Não. Já chega”. Implora. “Mais uma vez”, insisto, ofegante. “Mais uma vez e depois eu te como”. “Eu não aguento...”. “Aguenta, sim”. Sopro um jato de ar frio sobre sua pele molhada. “Adoro ver você gozar, Eva. Adoro ouvir seus gemidos, sentir seu corpo se contorcer...”. Massageio um ponto sensível dentro dela, e a faço gozar de novo, com uma intensidade menor, mas ainda sim, intensa. Saio de cima dela para me inclinar à gaveta do criado-mudo ao lado da cama e pego um preservativo. Coloco-o e, em seguida, puxo-a para o centro da cama. Eu me deito sobre ela, prendendo-a, cercando-a firmemente com meus antebraços. Ela está paralisada e indefesa. “Me fode”, pede. “Eva”, suspiro ao mesmo tempo em que entro nela, em uma estocada furiosa. Aquele aperto delicioso de seus tecidos inchados ao redor do meu pau me deixa sem fôlego. A sensação é incrível! Nossa ligação é absurdamente intensa, e envolve todos os meus sentidos. Essa mulher me possui em todos os níveis que um ser humano pode ser possuído. Não tenho mais dúvidas: eu a amo. Eu a quero em minha vida. Eu pertenço a ela. “Nossa... você é muito gostosa”. Eu invisto nela cada vez mais, alcançando os pontos mais profundos de seu sexo. Com a cabeça colada a seu pescoço, murmuro diversas coisas picantes e safadas, para deixá-la ainda mais louca. Meu pau nunca ficou tão duro. Eu remexo meus quadris incansavelmente para fazêla gozar mais uma vez. Suas unhas cravam em minha bunda, fazendo-me ir mais fundo dentro dela. Ao ouvi-la gemer alto, levanto minha cabeça e cubro sua boca com a minha. Minhas mãos agarram suas nádegas, e eu continuo batendo minha pélvis na sua. Sua boceta se alarga, acomodando meu pau que entra e sai sem parar. “Goze, Eva”, ordeno com um tom áspero. “Agora”. Ela chega ao clímax sussurrando meu nome. Isso me leva até a borda e jogo a cabeça para trás, estremecendo. “Ah!” grito enquanto meus quadris continuam a movimentar-se. E gozo loucamente. Meu corpo convulsiona, meus músculos se enrijecem e minha mente se desliga completamente do mundo, concentrando-se em apenas dois pensamentos: dar e receber prazer.


86 Nossa isso foi... Foi... O paraíso. Com meu próprio anjo. Eu não imagino felicidade maior que essa. Ficamos abraçados por um tempo, com nossas bocas passeando por ombros, pescoço, mandíbula, até que nos acalmamos. “Uau”, murmura. “Você acaba comigo”, falo com a boca encostada no seu queixo. “Vamos acabar morrendo de tanto trepar”. “Ei, eu não fiz nada dessa vez”. Provoca. “Você estava aí deitada, respirando. Isso já basta”. Ela ri e me abraça. Ergo a cabeça e esfrego seu nariz no meu. “Vamos comer alguma coisa, e depois começamos tudo de novo”. “Você consegue fazer tudo isso de novo?” diz levantando as sobrancelhas. “A noite inteira”, respondo alegremente, saindo de dentro dela. “Você é uma máquina, ou então algum deus”. “A culpa é sua”. Dou-lhe um beijo suave e me afasto para descartar a camisinha. “Vamos tomar banho e pedir alguma coisa do restaurante lá de baixo. A não ser que você queira descer”. “Acho que não consigo andar”. “Ainda bem que não sou o único”, replico sorrindo. E nesse instante, uma emoção sem nome me percorre. Nenhuma mulher havia feito me sentir tão vivo como Eva. Não tê-la em minha vida é algo que nunca vou aceitar. “Você parece estar muito bem”. Comenta. “Eu me sinto ótimo”. Afago seu rosto suado. Ela parece calma e seu olhar expressa um sentimento profundo que me hipnotiza, que me chama. “Tome banho comigo”, peço suavemente. “Claro, apenas me dê um minutinho para me recompor”. “Tudo bem”. Ligo o chuveiro e a água cai morna sobre minhas costas, relaxando meus músculos tensionados. Estou tão feliz, me humor nunca esteve tão bom. Já estou pensando em uma rapidinha antes do jantar, talvez durante o banho? A ideia me anima. Alguns minutos se passam e nada de Eva aparecer. Será que ela dormiu? Pudera, estava tão exausta. “Eva”, chamo em tom brincalhão.


87 Ela não responde. Termino de me enxaguar, me enrolo na toalha, ainda molhado e sigo para o quarto. Abro a boca para chamá-la e paro no ato. O quarto está vazio. Vários brinquedos eróticos, preservativos e lubrificantes estão espalhados pela cama. Isso é um aviso de que ela havia entendido o propósito daquele quarto, e que não ia se sujeitar a ser mais uma. Meus pulmões se comprimem. Eu mal consigo respirar. Estou tomado de pânico, nma angústia que só sinto quando tenho pesadelos. A essa altura, ela com certeza quer distância de mim. “Gideon, você é um estúpido! Seu idiota!” Brado para mim mesmo. Em um acesso de fúria por tê-la ferido mais uma vez, eu pego o abajur e o jogo na parede, reduzindo-o a pó. E agora percebo que nada me amedronta mais do que perdê-la.


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Capítulo 9 Carinho Mas que merda! Eu sou mesmo um idiota! Estraguei tudo de novo! É nisso que dá pensar com a cabeça de baixo quando se deve pensar com a cabeça de cima! Porra, Gideon! Não posso culpá-la por sair correndo. Ela deve estar se sentindo usada e muito arrependida de ter me dado uma chance. Dei minha palavra de que dessa vez seria diferente, mas mais uma vez recorri aos velhos hábitos e agora estou fodido, e não no melhor sentido da palavra. Passei por cima do que prometi e com certeza ela está ainda mais magoada do que antes. Como sou ESTÚPIDO! Preciso consertar isso. Preciso ganhar sua confiança de volta. Visto uma calça jeans e uma blusa de linho branca que encontro no guarda roupas e desço as escadas de incêndio como um jato. Não posso perder um segundo sequer. Chego à recepção quase sem fôlego e pergunto ao gerente se ele a havia visto sair. Minhas palavras saem atropeladas por causa do desespero, e ele me olha como se visse um louco que acabou de escapar do manicômio. “Pelo amor de Deus! Você pode me dizer pra que lado ela foi?” minha voz sai alterada. “Ela saiu pela entrada lateral, de cabeça baixa. Parecia chateada...”. O gerente deve estar se perguntando o que aconteceu. Ele sabe das “visitantes” que eu trazia, bem como dos brinquedos sexuais, e pode estar achando que fiz algo inapropriado ou... Ah, não me interessa! Eva... Droga, o que foi que eu fiz? Ela deve estar transtornada e envergonhada. Saio em disparada para a rua seguindo seus possíveis passos, mas ela pode estar em qualquer lugar. Tento ligar para seu telefone várias vezes, mas não atende. Deixo uma mensagem de texto: *Estraguei tudo de novo. Não me abandone. Fale comigo. Por favor.* Meu coração está a mil por hora, minha cabeça está girando, um nó horrível se forma em minha garganta, meu corpo inteiro está em estado de pânico! É como se eu estivesse no meio de um ataque terrorista procurando um parente que tenha sobrevivido. Sinto um martelar nos meus tímpanos e cada músculo do meu corpo lateja pela tensão arrasadora que invade meus nervos como uma corrente elétrica. Essa é a primeira vez que sinto medo em minha vida adulta, e meus medos de infância e adolescência sequer podem se igualar ao de agora.


89 Está anoitecendo, o fluxo de carros é intenso e os pedestres lutam por seu lugar na calçada, sem se importar com quem está ao lado. Meus olhos estão atentos, procurando por seus cabelos dourados. Vejo algumas loiras, mas nenhuma delas é meu anjo, eu a reconheceria em qualquer lugar. O peso do remorso se mistura à raiva que sinto de mim mesmo por ter sido tão insensível, por ter traído sua confiança e desrespeitado suas condições. Cary estava certo, eu tenho muito potencial para machucá-la, e Eva é muito frágil. Tento seu celular mais algumas vezes até que... “Alô”, responde uma voz embargada. “Eva! Graças a Deus. Onde você está?” “Não sei. Eu... Sinto muito, Gideon”. Ela parece atordoada, confusa. “Não, Eva. A culpa foi minha. Preciso encontrar você. Pode descrever o lugar onde está? Você foi andando?”. Com um pouco de persuasão, consigo suas coordenadas e a encontro em um pequeno restaurante italiano. Paraliso no limiar. Ela está ao fundo, cabisbaixa e triste. Parece tão pequena e vulnerável. Não gosto de vê-la dessa forma, e sei que a culpa é minha. Seu olhar se levanta para me encarar e, ignorando o hotess que tenta me abordar, vou até ela e a aperto forte em meu abraço. “Pelo amor de Deus. Eva”. Meu corpo inteiro estremece e enterro meu rosto em seu pescoço. Eva retribui o abraço e um alívio me inunda ao sentir seu cheiro, seu toque. Ela está comigo, ela está aqui. Então me dou conta de que o lugar está lotado e alguns olhares curiosos estão grudados em nós. Temos que ir para um lugar com mais privacidade. “Eu não poderia estar aqui. Não posso aparecer em público assim. Podemos ir para minha casa?” Seu rosto transfigura para hesitação e medo. Dou-lhe um beijo na testa e explico que não será da mesma forma que no hotel, pois a única mulher que já esteve lá foi minha mãe, além de minha governanta. “Isso é idiotice, estou sendo idiota”. Murmura angustiada. “Não”. Afastou os cabelos de seu rosto e me inclino para cochichar em sua orelha. “Se você tivesse me levado a um lugar reservado para trepar com outros homens, eu teria perdido a cabeça”. O garçom aparece nos oferecendo um cardápio e eu nego, entregando-lhe o cartão para pagar a conta.


90 Pegamos um táxi e, durante o trajeto, seguro sua mão, para passar-lhe conforto e, ao mesmo tempo, conter minha própria ansiedade. Nenhuma mulher com quem transei entrou lá antes, nem mesmo Corinne. Minha casa é meu refúgio, o lugar onde posso ser eu mesmo. Lá eu não preciso fingir ou interpretar meu papel de playboy bilionário e empresário de sucesso. Lá, eu sou apenas Gideon. Deixar Eva entrar será um grande passo, um passo que estou mais do que disposto a dar. A ligação que temos é especial, é diferente. O que ela quer de mim é diferente do que as outras querem. O fato de eu ser Gideon Cross é suficiente para as outras, mas não para Eva; eu tenho que ser mais. E é por isso eu a quero tanto: porque ela é mais para mim. Meu apartamento, que fica na 5ª Avenida, foi minha primeira aquisição imobiliária. Ele fica em um prédio no estilo Segunda Guerra, e é um dos mais antigos e bem conservados de Nova York. Eu estava em busca do lugar perfeito, que me fizesse sentir em casa. Sempre que eu passava pelo Central Park, ficava me perguntando como seria acordar e ter essa vista. E assim que soube que um dos apartamentos iria ficar vago, me adiantei para adquiri-lo. E, curiosamente, é o que tem a melhor vista do Central Park. Assim que entrei aqui pela primeira vez, me senti em casa. E agora, espero que Eva sinta o mesmo. Chegamos. Estou tão nervoso, a tensão é nítida em meu rosto. Uma casa revela muito sobre o seu dono, então as impressões de Eva são de extrema importância nesse momento. Abro as portas para ela e ouço-a sussurrar maravilhada: “É... incrível”. Fico feliz por sua reação. Ela está sendo tão doce e gentil, considerando que agi como um cafajeste. Eu não a mereço, mas farei de tudo para merecer. “Entre”, digo puxando-a para dentro. “Quero que você durma aqui hoje”. “Mas eu não trouxe roupas nem nada...”. “Você só vai precisar da sua escova de dente e da bolsa. Podemos passar na sua casa amanhã de manhã e pegar o resto. Prometo que você não vai se atrasar para o trabalho”. Eu a abraço e apoio o queixo no topo de sua cabeça. “Quero muito que você fique. Não culpo você por ter saído correndo daquele quarto, mas seu sumiço me deixou desesperado. Preciso de mais um tempinho na sua companhia”. “Preciso de um abraço”. Ela diz enfiando as mãos sob minha camiseta. “E um banho também me faria bem”. Inspiro profundamente, com o nariz bem próximo dos meus cabelos. Ela cheira a mim e a sexo. E apesar de eu gostar desse aroma, levo-a para minha suíte. Eva precisa relaxar, e quero proporcionar-lhe o máximo de conforto possível. Eu a levo para o banheiro e a entrego toalhas limpas.


91 “Obrigada”, diz emocionada. Sei que não está me agradecendo só pelas toalhas. Eva se sente bem por estar aqui, e feliz por eu estar compartilhando um pedaço de mim com ela. E nesse momento, tenho certeza que quero me conectar emocionalmente com essa mulher. “É muito bom ter você aqui”. Deixo-a tomar banho e separo uma camiseta minha para Eva usar. Em seguida ligo para o Petrossian e peço o caviar. Meia hora depois estamos juntos na sala jantando enquanto assistimos TV. Trata-se apenas de estar aqui, fazendo uma coisa tão normal, passando um tempo juntos, fazendo companhia um para outro. Sem pressão, sem estresse. Em seguida, vamos para o quarto terminar de assistir o programa. Não costumo dormir de pijama, então fico apenas de cueca boxer. Eva se enrola em mim e só de saber que ela não está usando nada por baixo da minha camisa, meu pau endurece. Mas, por mais que a tensão sexual entre nós seja palpável, não pretendo tomar a iniciativa para o sexo. Quero provar a ela, de todas as formas que eu puder que o que quero de nossa relação não se resume a isso. Quero que ela sinta que é mais para mim, muito mais do que nenhuma mulher foi. E assim, abraçados, derivamos para um sono tranquilo. _____//_____ Estou em meu quarto e tudo está escuro. Um silêncio sepulcral. Tento me levantar, mas sinto um peso em cima de mim, e uma risada abafada. Eu conheço essa risada. Não, não, não! De novo não! Ele desce minhas calças e começa a me acariciar. Um terror toma conta de mim e tento me mover, mas o seu corpo está sobre o meu. Sua mão sufoca meus gritos de socorro enquanto a outra continua enfiada no meio das minhas pernas. Tento fechá-las, mas é impossível. Esse pesadelo nunca vai acabar! Ninguém vai me socorrer? Está doendo, muito. Eu não consigo fazê-lo parar. Ele é grande, forte e está me apertando cada vez mais. De repente, escuto uma voz suave, doce e divina chamando por mim. Uma luz no fim do túnel. Meus olhos rodeiam o quarto, desesperados para encontrar meu anjo salvador. “Gideon. Você está sonhando. Acorde e fique comigo”. Não pode ser... “Eva...?” Luto para encontrá-la, para alcançá-la. “Estou aqui. Você está acordado?”


92 Sinto o calor de um corpo nu e macio ao meu lado e dedos que passeiam suavemente por meus bíceps. “Gideon?” Acordo num sobressalto. “Quê? O que foi?” Estou me sentindo desorientado, perdido e meu corpo está rígido. Passo a mão pelos cabelos como se esse gesto fosse me ajudar a entender o que está acontecendo. Quando olho para Eva, é que me dou conta de que tive um pesadelo. E ela viu tudo. Apoio-me nos cotovelos e pergunto se está tudo bem. Não posso afugentá-la, de novo. “Quero você”. Sussurra se deitando ao meu lado, pressionando seu rosto contra meu pescoço e lambendo minha pele úmida. Automaticamente meus braços a envolvem e minha mão percorre a curvatura de sua coluna. Suspiro de alívio. A dor, a solidão, a tristeza e o medo se foram. Ela está aqui e bastou apenas seu toque para mandar meus demônios para longe. Eva me deita de costas e vem pra cima de mim e seus lábios doces devoram os meus. Agarro seus cabelos para manter a sensação. Minha ereção faz contato direto com seus lábios vaginais, que se abrem como uma flor para me receber. Ela começa a se masturbar, esfregando seu clitóris por toda a extensão do meu membro. Puta merda! Esse sobe e desce está me deixando louco! Não podendo mais me conter, solto um gemido gutural e rolo para cima de seu corpo, inverto a posição. Eu quero estar dentro dela, eu preciso disso. E então me lembro de um detalhe que devo compartilhar. “Não tenho camisinha aqui em casa” murmuro antes de chupar seu mamilo rosado. “Sei que você falou em apresentar exames quando falamos sobre a pílula e que isso é o mais certo a fazer, mas...”. “Eu confio em você”. Estou prestes a fazer a maior concessão de todas na minha vida sexual. Nunca transei sem camisinha antes. Sempre fui muito cuidadoso no quesito proteção, mas agora eu não dou a mínima para isso. Ergui a cabeça para olhá-la. Eva está mais linda do que nunca, sua pele pálida está quase febril, seus seios intumescidos brilham sob a luz do luar e seu olhar me chama. Ela precisa desse contato tanto quanto eu. Então a penetro. “Eva”, suspiro enquanto a aperto contra meu corpo. “Eu nunca... Meu Deus, como você é gostosa. Estou muito feliz por você estar aqui”. “Eu também”, sussurra, me beijando.


93 Nossa, que sensação é essa? Seus tecidos úmidos mastigam meu pau como se estivessem famintos. E o aperto é ainda melhor sem a camisinha. Pude sentir cada centímetro de seu interior, cada músculo de contraindo. Fizemos amor lentamente, sem a menor pressa de nos desvencilhar um do outro. Apenas sentindo os contornos do corpo um do outro, o gosto um do outro. Foi uma delícia. Quando terminamos, ficamos nos olhando intensamente, por intermináveis minutos, nos acariciando, trocando beijos longos e lentos. Eu não queria que aquilo acabasse. Agora, ela está aqui, enredada em meus braços, mas continuo dentro dela. Suas feições estão leves, pacíficas. Acredito que finalmente alguém viu que eu estava completamente fodido, resolveu me dar uma chance e me enviou um anjo particular para me livrar das tristezas e dos demônios que atormentam minha alma. Acordo com a luz do amanhecer invadindo o quarto. Ainda estou dentro dela. Sinto a umidade de sua abertura envolver o meu pau. Não consigo resistir, então fico por cima novamente e o empurro mais fundo. A sensação é maravilhosa. Ela está apertada, macia, quentinha e lisinha. Deslizo com facilidade, apesar do aperto. Seus olhos se abrem, e a surpresa é logo substituída pelo desejo. “Espero que não se incomode”, murmuro com um sorriso malicioso enquanto entro e saio dela. “Você estava quentinha e molhada. Não pude evitar”. Ela abraça minha cabeça e arqueia as costas, pressionando seus seios contra meu peito e resmunga com um sorriso: “Humm... Eu adoraria acordar todos os dias deste jeito”. “Foi isso o que eu pensei às três da manhã. Pensei em retribuir o favor”. Mexo meus quadris e entro mais profundamente. Seu corpo responde imediatamente. “Por favor”. Respira E retribuo com prazer. Acabo de descobrir que adoro sexo pela manhã. _____//_____ Acordar com Eva é uma experiência muito gostosa. É tão bom estar com ela, fazendo coisas normais, cotidianas. Mesmo esses pequenos momentos compartilhados estão se tornando muito importantes. Uso o terno Prada grafite que ela escolheu. Seus olhos gulosos pousaram sobre mim enquanto me vestia. A ideia de tirar minha roupa com certeza passou pela sua cabecinha diabólica. Chegamos a seu apartamento. Cary não está. E, entre esses pensamentos sobre nosso tempo juntos, me mata lembrar que tenho um compromisso mais tarde, que me tirará de Eva por um tempo.


94 “Tenho um jantar de negócios hoje à noite. Queria que você fosse para tornar a coisa mais suportável”. “Não posso dar o cano em Cary. As amigas vêm em primeiro lugar, você sabe como é”. Diz se desculpando. Eu sorrio e a prendo contra o balcão. Acabei de levar um fora sutil, e não gostei. Mas isso não significa que me darei por vencido. Depois do que aconteceu ontem, não vou abrir mão de dormir ao seu lado. Além disso, Cary é seu amigo, e tenho que fazer concessões. Ela precisa de um tempo para ele, e não quero ter que disputar por atenção. Tenho que conquistar meu espaço a partir do momento que isso não signifique excluir Cary, o que é impossível. “Cary não é uma amiga sua. Mas entendi o que você quis dizer. Quero ficar com você hoje à noite. Posso vir depois do jantar e dormir aqui?” “Eu adoraria que você viesse”, responde alegremente deslizando suas mãos pelo meu colete. “Ótimo”. Porque com certeza eu não aceitaria outra resposta. “Vou fazer um café enquanto você se troca”. Eva me instrui sobre onde encontrar os grãos e de como gosta de seu café. Essa informação será espontaneamente absorvida por minha mente de forma que, da próxima vez que eu fizer seu café, será automático, como escovar os dentes. Não precisarei perguntar pelo fato de ter esquecido ou apenas para confirmar. Tudo sobre ela me interessa, me fascina. Encho duas canecas de café para viagem e Eva sai do quarto, já pronta para ir ao trabalho. Assim que Angus arranca com o Bentley, analiso minha bela namorada dos pés a cabeça e percebo que, com certeza ela, está tentando me matar. É difícil manter meu menino comportado, especialmente quando a visão que tenho a minha frente, está vestindo uma saia vermelha curta, saltos altos e meias 7/8. E, quando eu achava que não poderia estar mais fodido, ela deixa à mostra a cinta-liga que prende a parte superior da meia. Caralho, isso é golpe baixo! “Gostou?” pergunta com falsa inocência. “Estou de pau duro”. Minha voz sai rouca, e tenho que me ajustar dentro da calça. “Como é que vou conseguir trabalhar pensando em você vestida desse jeito?” “Temos sempre a hora do almoço”. Ela está me sugerindo uma rapidinha no meu escritório? Sério? E ainda por cima se aproveitando do meu estado? Que cara de pau! “Tenho um almoço de negócios hoje. Eu poderia remarcar se já não tivesse feito isso ontem”.


95 “Você remarcou um compromisso por minha causa? Que honra”. Ela parece surpresa com meu gesto. Meus dedos vão para sua bochecha, acariciando-a suavemente. Automaticamente, Eva se inclina para o meu toque. “Você consegue reservar quinze minutos do seu dia para mim?” Com certeza! “Vou dar um jeito”. O que não faço para estar perto dessa mulher enlouquecedora? Ela respira fundo e começa a revirar sua bolsa. Seu olhar terno de outrora é anuviado pelo nervosismo. “Eu trouxe uma coisa. Achei que...”. E para. Franzo o cenho. Porque ela ficou tão tensa de repente? Pergunto o que há de errado. “Nada. É que... Então, eu trouxe uma coisa pra você, mas acabei de me dar conta que é o tipo de presente que... Não é bem um presente. Agora estou pensando que talvez não tenha nada a ver e...”. Agora estou intrigado! Estendo a mão. “Dê aqui”. “Você não precisa ficar com ele se não quiser...”. “Pare de falar, Eva”. Já estou impaciente. “Dê aqui”. Ela retira da bolsa um porta-retratos moderno com recortes de imagens relacionadas a formaturas, que incluía um relógio digital marcando três da manhã. Na fotografia, Eva está posando na praia, de biquine e com um enorme chapéu de palha, feliz e soprando um beijo. Por um momento, não sei o que dizer. Um calor se espalha dentro de mim ao perceber o que ela está tentando fazer. É uma forma que encontrou de me mostrar que se importa comigo, que estaria por perto sempre que eu precisasse, como na noite anterior, após o pesadelo. É um presente simples, mas que contém um valor sentimental inestimável; com certeza, o melhor presente que recebi em toda a minha vida. Mas ainda não faço a menor ideia de como exteriorizar isso. Eva se remexe no assento, envergonhada. “Como eu disse antes, você não precisa ficar com ela se...”. “Eu...” pigarreio tentando empurrar o nó na garganta. “Obrigado Eva”. “Ah, tudo bem...”. O carro estaciona em frente ao Crossfire e Eva sai apressada. “Se quiser, posso ficar com ela e entregar para você outra hora”. Fecho a porta do carro e balanço a cabeça. “Nem pensar! Isso é meu e você não vai pegar de volta”.


96 Entro no prédio com as duas mãos ocupadas. Uma entrelaçada à mão de Eva e a outra segurando o porta-retratos com sua fotografia. Eu estou cercado pelo meu anjo. E estou imensamente feliz. Quando chego ao escritório, Ryan Evans, meu assessor de imprensa, está me aguardando na recepção, com seu laptop em mãos. Ele é alto, de porte atlético, pele clara, cabelos acobreados e a cor de seus olhos são um verde bem vivo, diferente do tom acinzentado dos de Eva. Sua expressão um tanto transtornada me deixa curioso. Mas acho que já sei do que se trata. “Bom dia, Ryan. Algum problema?” “Bom dia senhor Cross”, diz com um tom profissional, mas que denuncia um pouco seu desconforto. “Eu gostaria de falar com o senhor sobre uma questão urgente”. “Tudo bem, vamos até minha sala”. Nos sentamos à minha mesa. “Então? Do que se trata?” “Senhor Cross, ontem fomos bombardeados por jornalistas. Eles querem saber da mulher com a qual o senhor foi flagrado...”, ele hesita claramente tentando escolher as palavras “... aos beijos” e me mostra a página de um site de fofocas. Analiso a foto minuciosamente. Eva está linda em sua roupa de ginástica. E, do jeito que a agarrei, nós parecíamos apaixonados. Ninguém ousaria discordar disso. Quero uma cópia para mim. Minha namorada está deliciosa. Meu membro fica duro só de pensar nessa bunda redonda e empinadinha... Ryan pigarreia, tirando-me de meus devaneios. “Bom, senhor. Como posso contornar a situação?” Contornar o quê? Não há o que contornar. Eva é minha namorada, estávamos demonstrando nosso afeto em público e fim de papo. Qual o problema? Embora seu semblante permaneça impassível, tenho certeza que ele adoraria me passar um sermão com frases de efeito, como nessas palestras de autoajuda, do tipo “Se você não quer expor sua vida pessoal, não beije uma mulher em público”. Mas como não o pago para dar opiniões, não dou a mínima para o que ele acha ou deixa de achar, uma vez que isso não interfira em seu trabalho. “Mande uma nota à imprensa, sem citações diretas é claro, dizendo que a mulher da foto é Eva Tramell, filha de Monica e Richard Stanton, minha namorada e a pessoa mais importante da minha vida no momento”. Ryan arregala um pouco os olhos, mas consente sem retorquir e dispenso-o.


97 “Quero que tudo esteja resolvido antes do almoço”. “Claro, senhor Cross”. E sai. A parte de ‘nada a declarar’ é justamente uma forma de proteger nossa relação, uma vez que esta viria a público de qualquer forma. Os jornalistas, muito provavelmente, pensariam que sou aberto a dar declarações sobre nosso relacionamento e, consequentemente, iriam querer mais e mais declarações. O melhor a fazer é deixá-los ter acesso a essas informações a partir de fontes não oficiais. Afinal nossas demonstrações de afeto são mais que suficientes para comprovar a veracidade delas. E isso já basta. Chamo Scott para me passar os compromissos do dia. Verificação de relatórios, almoço de negócios com representantes de minha filial na Europa, uma reunião e um jantar com os responsáveis pelo empreendimento em Detroit. Digo ao meu secretário para arrumar quinze minutos em minha agenda para Eva. Não se passaram nem duas horas desde que a deixei na agência e já estou com saudades. Ela se tornou não apenas uma parte fundamental da minha vida, mas minha prioridade. Coloco o porta-retratos sobre a mesa e fico a admirá-lo por um tempo, pensando no quanto minha vida mudou desde que conheci essa diabinha encantadora. Nunca me senti tão em paz comigo mesmo e de bem com o mundo como agora. Sim, eu a amo. Já são 12h e estou no saguão do Crossfire com Frank Strauss, Marie Leclair e Pietra Lucchessi, os principais responsáveis pela supervisão da expansão das Indústrias Cross na Europa. Avisto Eva saindo em disparada do elevador. Ela parece distraída e um tanto angustiada. E passa direto por mim. Alguma coisa está errada, então paro bem à sua frente. “Eva”. Ela detém-se de supetão. Apresento-lhe para meus associados, peço-os licença e a puxo para um canto. “O que aconteceu? Você está chateada”. “Está em toda parte”, sussurra. “Uma foto de nós dois juntos”. Ah, é por isso? Que bobagem, é uma ótima foto. “Eu vi”. Digo tranquilamente. Ela me olha perplexa. “E você nem liga?” “Por que deveria? Pela primeira vez, estão dizendo a verdade”. “Você planejou tudo. Isso é coisa sua”, acusa. “Não exatamente”, rebato, sem me alterar. “O fotógrafo estava lá por acaso. Eu só proporcionei a ele uma imagem que valia a pena divulgar, e falei pra assessoria de imprensa deixar bem claro que você é minha”. “E porque você faria isso?”


98 Por quê? Ah, anjo. Apenas quero mostrar a todos que você está fora do mercado e que é minha. Simples assim. “Você tem sua maneira de lidar com o ciúme, e eu tenho a minha. Nós dois estamos comprometidos, e agora todo mundo sabe disso. Por que isso seria um problema?” Ela está aflita. “Eu estava preocupada com sua reação, mas não é só isso... Existem coisas que você não sabe, e eu... Nossa relação não pode ser assim, Gideon. Não pode vir a público. Eu não quero... Droga. Vou virar motivo de constrangimento pra você”. Constrangimento? Observo-a atentamente, tentando entender o que isso significa, e ao mesmo tempo, transparecer segurança. “Não vai, não. Isso é impossível”, tento acalmá-la afastando uma mecha de seu cabelo do rosto. “Podemos conversar sobre isso mais tarde? A não ser que você precise de mim...”. “Não, tudo bem. Pode ir”. Cary aparece. “Está tudo bem?” “Oi, Cary. Está tudo bem”. Cumprimento-o e aperto a mão de Eva carinhosamente. “Aproveite bem seu almoço e não se preocupe”. E saio para me juntar a meus companheiros de almoço. _____//_____ Minha próxima reunião é às 15h e Scott abre uma brecha quinze minutos antes para que Eva venha ao meu escritório. Mando-lhe uma mensagem para avisá-la e atendo um telefonema de Tory Marshall, uma das executivas responsáveis pela supervisão da construção de meu novo hotel resort no Arizona. Um projeto ousado, caro, mas que trará um retorno muito maior. No entanto, ela suspeita de superfaturamento nos planos orçamentários do projeto, fraudes e subornos, e está me pedindo conselhos de como lidar com a situação. Se há uma coisa que eu não suporto é ilegalidade e falcatruas. Isso me irrita até a merda e só de pensar na possibilidade de alguém estar agindo pelas minhas costas, a bile me sobe na garganta de ódio. E for verdade, vou destruir o responsável quem quer que seja. Marshall já tentou dar em cima de mim várias vezes, mas como eu jamais me envolvi com nenhuma funcionária, eu não vi motivo algum para começar. E agora mesmo, ela está se tornando um fardo com sua falta de pulso e incompetência. Como encarregada, sua obrigação é saber contornar esse tipo de situação e apenas me avisar caso fosse verdade ou não. Esse é o seu trabalho. É pra isso que pago seu salário.


99 Eva entra em meu escritório sem bater, com um olhar provocativo e mascando chiclete. Como ela faz esse gesto inocente ser tão sexy? É como se eu a estivesse vendo nua e prontinha pra dar. “Não me interessa! Você deveria ser capaz de fazer seu trabalho sem que fosse preciso supervisioná-la o tempo todo”. Vocifero para Tory, sem tirar os olhos do meu anjo. Ergo um dedo para Eva, sinalizando que ainda vou levar um minuto para terminar. Ela responde estourando uma bola bem grande de chiclete. Minhas sobrancelhas sobem de imediato. Ela está deliberadamente me provocando. Aciono os botões para trancar a porta e tornar as paredes de vidro opacas. Enquanto isso, Marshall continua a se lamuriar por não saber o que fazer. Eva vem alegremente saltitante até minha mesa e pula em cima dela, fazendo uma nova bola com o chiclete. Agilmente, estouro-a com apenas um golpe. Ela faz um beicinho charmoso. Que inferno! E essa louca no telefone me empatando! “Dê um jeito nisso”, ordeno à Tory, com o tom de voz autoritário que me fez temido entre meus funcionários. “Só vou poder ir até aí na semana que vem, e ficar me esperando sem fazer nada só vai atrapalhar. Agora pare de falar. Tenho um assunto urgente na minha mesa pra resolver e você está me atrapalhando. Pode ter certeza que estender essa conversa só vai servir pra me irritar. Faça o que precisa ser feito e amanhã conversamos de novo”. E bato o telefone no gancho com violência, por causa do tesão reprimido. “Eva...”. Ela ergue uma das mãos para manter-me à distância e embrulha o chiclete em uma folha do bloquinho de papel que havia em cima da mesa. “Antes que brigue comigo, senhor Cross, gostaria de dizer que, quando chegamos a um impasse nas discussões sobre a fusão ontem no hotel, eu não deveria ter ido embora. Isso não ajudou em nada. E eu não reagi muito bem à divulgação da foto pela assessoria de imprensa. Mas ainda assim... Mesmo não tendo sido uma boa secretária, acho que mereço outra chance de me destacar”. Estreito meus olhos, tentando entender aonde ela queria chegar. “Eu pedi sua opinião sobre que atitude tomar a esse respeito, senhorita Tramell?” Ela me olha de cima em baixo, desce da mesa, chega bem perto de mim e alisa minha gravata com as mãos. “O que posso fazer para corrigir isso? Tenho outras habilidades muito convenientes”. Eu a agarro pelos quadris. “Essa foi uma das razões por que você foi a única mulher que levei em consideração para o cargo”.


100 Impertinente como sempre, Eva acaricia meu pau por cima calça e este se animou na hora. “Que tal eu retomar meus afazeres? Posso fazer uma demonstração de que sou a pessoa mais qualificada para ser sua assistente”. “Bela iniciativa, senhorita Tramell. Mas minha próxima reunião é daqui dez minutos. Além disso, não estou acostumado a expandir os horizontes profissionais dos meus funcionários no meu escritório”. Ela abre o botão da minha calça e abaixa o zíper, com sua boca colada ao meu queixo, sussurra asperamente: “Se está pensando que existe algum lugar em que eu não vou fazer você gozar, é melhor refazer seu planejamento”. PUTA MERDA! Essa mulher decididamente quer me enlouquecer, não há outra explicação! Estou excitado e completamente preso ao seu feitiço. E não gostaria de estar em qualquer outro lugar. “Eva”, suspiro agarrando sua garganta, roçando seu queixo com os polegares. “Você está me deixando perturbado. Sabia disso? Está fazendo de propósito?” A danada enfia a mão dentro da minha cueca e me agarra por inteiro, oferecendo seus lábios carnudos e belos para serem beijados. Sem a menor vontade de reprimir meu desejo, ataco sua boca ferozmente. “Quero você agora”, gemo. Ela se abaixa abruptamente descendo minha calça e cueca, me assustando. “Eva o que você está...”. E perco a voz quando ela... ...cai de boca no meu pau! PORRA! Minhas mãos se agarram ao tampão da mesa, ficando pálidas pelo esforço. Ela o agarra na base e chupa a ponta, soltando um gemido que, se continuasse, poderia me fazer gozar, e solto um rosnado em resposta. Levanto seu queixo com os dedos e ordeno: “Lambe”. Ela passa sua língua suave e quente por toda a extensão do meu pau. Libero meu líquido pré-ejaculatório em um jorro quente e prazeroso. Eva começa a ordenhar com força, abocanhando-o sucessivamente. Agoniado pelas diversas sensações e excitado por ver sua cabeleira loira entre minhas pernas, imploro para que ela chupe mais fundo. Sua boca é tão gostosa e experiente. A diaba sabe exatamente o que está fazendo. Vê-la se contorcer de tesão enquanto me dá prazer é tão excitante. Não resisto e seguro suas madeixas, como ela faz com as minhas quando me beija. Está ficando mais selvagem e


101 bruto. Novamente, Eva está me fazendo perder o controle. Quanto mais ela suga, mais duro eu fico. Minha cabeça pende para trás e tento não perder o fôlego. “Eva, você chupa tão gostoso”. Então seguro sua cabeça, levanto-se e assumo controle mexendo os quadris. Estou dominado pela ideia de chegar ao orgasmo. Eu preciso disso. Ela aperta meus quadris, chupando e lambendo freneticamente, tão desesperada pelo resultado final quanto eu. Em seguida, acaricia minhas bolas suavemente, me fazendo ficar ainda mais ensandecido. Estou chegando lá. Puxo seus cabelos com mais força. “Ah, Eva”. Minha voz soa rouca e gutural. “Você vai me fazer gozar”. E explodo em um jorro grosso e espesso que ela engole com dificuldade. Meu corpo convulsiona e solto gemidos e murmúrios incompreensíveis. Ela me lambe até que me deixar limpo. Estou ofegante, mas nenhum pouco cansado; quero comê-la em meu sofá até não poder mais. Ainda mais depois de seu ataque delicioso. “Preciso ir”, murmura, levantando-se e beijando minha boca. “Espero que o restante do seu dia seja sensacional, e seu jantar de negócios também”. O quê? Não, isso não é certo. Ela me disse que não gosta de ser usada, não quero que se sinta assim. Seguro seu pulso, olhando as horas no visor de meu celular. Estou ansioso e frustrado por que não tenho tempo para retribuir, mas eu quero. “Eva... Droga. Espere um pouco”. Ela me olha de testa franzida enquanto me recomponho, vestindo a cueca e ajustando a camisa para vestir a calça. Em seguida a puxo para perto e beijo sua testa. Solto seu rabo de cavalo e aliso seus cabelos. “Eu não fiz nada pra você”. “Não precisa. Foi maravilhoso assim mesmo”. “Sei que você precisa empatar o placar, não posso deixar você ir embora se sentindo usada por mim”. Deve ter soado grosseiro, mas não sei me expressar ainda. Afinal faz tempo que não me importo com os sentimentos de alguém. Ela envolve meu rosto com suas mãos. “Você me usou, sim, mas com minha permissão, e foi uma delícia. Eu queria fazer isso pra você, Gideon. Lembra? Eu avisei. Queria que você tivesse algo para se lembrar de mim”. Arregalo meus olhos e um alarme soa em meus ouvidos. Porque precisaria lembrar-me dela? Primeiro a foto agora isso. O que está acontecendo?


102 “Por que preciso de lembranças se tenho você? Se está falando sobre a foto...”. Ela me interrompe. “Fique quietinho aí e aproveite o momento. Mesmo se tivéssemos uma hora, eu não ia querer que você me fizesse gozar. Não estou disputando quem faz o outro gozar mais vezes, campeão. E, sendo bem sincera, você é o primeiro cara para quem eu posso dizer isso tranquilamente. Agora preciso ir. E você também tem um compromisso”. Ela se afasta novamente para sair e eu a seguro novamente para fazê-la me explicar o que está acontecendo. Mas a voz de Scott ressoa no interfone para me avisar que o pessoal da reunião já havia chegado. “Está tudo bem, Gideon” tenta me tranquilizar. “Você vai passar lá em casa hoje à noite, certo?” “Isso eu posso garantir”. Ela se despede de mim com um beijo na bochecha e se vai. Tento me concentrar na reunião, mas é impossível. Eva não sai da minha cabeça. Suas palavras e gestos estão me deixando confusos. Não que eu não tenha gostado do boquete surpresa, Eva chupa um pau como ninguém. Sexo oral sempre foi uma constante na minha vida, mas nunca foi intenso e explosivo como foi com Eva. E o porta-retratos... Foi um presente incrível. Uma amostra de seus sentimentos e de seu cuidado comigo. Ninguém nunca fez algo que se compare a isso, nem sequer chegou perto. Ela não queria me bajular, mas me consolar, mostrar sua preocupação. Mas a palavra ‘lembrança’ ainda martela em minha cabeça? O que ela quis dizer? Será que ela estava arrependida e queria se despedir? Queria me deixar calmo para depois terminar comigo? Teria ligação com o que ela queria me contar? Eva disse que ela iria ser motivo de constrangimento pra mim. Mas como? Eu estou ficando louco com tantas suposições. Seja o que for que estiver acontecendo, vamos superar. Não vou desistir, não vou deixá-la, não posso. A reunião acaba antes das cinco. Ligo para Angus e lhe ordeno que leve Eva para casa. Agora que nosso relacionamento é de conhecimento público, os paparazzi estarão sempre à espreita e a quero protegida deles. Ligo para Raul, meu outro motorista e peço para ele vir me buscar no trabalho. Irei à Neiman Marcus fazer algumas compras. Quero que Eva se sinta confortável e em casa quando estiver em meu apartamento e garantir que ela não dê por falta de alguma coisa que precise. Compro lingeries, umas peças de roupa, dois robes e um vestido de noite. Além dos produtos de beleza que ela costuma usar. Sei quais são por causa do dossiê, que contém as faturas detalhadas das compras feitas com cartão de crédito. Assim, quando for para minha casa,


103 não precisará levar nada além de si mesma. Quando eu estava com Corinne, eu lhe dava presentes caríssimos e tudo o que ela desejasse em termos matérias, mas nunca lhe comprei roupas íntimas ou algo do tipo. Nunca pensei que faria isso um dia e cá estou eu, deixando claro para quem quisesse ver ou ouvir que havia uma mulher em minha vida, a mais importante devo acrescentar. Depois de um mísero golpe de 38 mil dólares em minha conta bancária, eu volto para casa, arrumo suas coisas em meu quarto e tomo um banho para meu próximo compromisso. _____//_____ A reunião está sendo bem agradável. Fiz questão de pedir um salão privativo, já que iríamos tratar de negócios entre seis pessoas. Estamos na fase final das obras em Detroit. O orçamento está dentro do esperado, bem como os prazos que foram cumpridos com exatidão. Mas o que está me deixando animado mesmo é saber que Eva está me esperando. A saudade me aperta o coração. A vontade de tê-la em meus braços, de sentir seu cheiro, de provar o seu gosto, de amá-la até perder as forças, é quase incontrolável. Estou tentando fazer de tudo para finalizar a reunião o mais cedo possível, afinal está tudo pronto. Encerramos a reunião e já estou pronto para ir embora quando a ouço me chamar. “Olá, Gideon”. “Magdalene”, respondo curto e grosso. “Pela forma como está me chamando, tenho certeza de que Eva lhe contou em detalhes nossa conversa no banheiro”. Diz nervosamente. “Você não tinha esse direito. A vida é minha e eu me envolvo com quem eu bem entender. Eva não merecia ter escutado aquelas barbaridades. Você foi longe demais”. “Eu sei Gideon, eu... sinto muito”. Admite. “Eu disse a você que estava arrependida. É a mais pura verdade”. Seus olhos transbordam tristeza e sinceridade. Talvez eu tenha sido ríspido demais. Maggie é minha amiga de infância e sempre tive um carinho enorme por ela. Todo mundo comete erros e sei que sua intenção era me proteger. “Eu valorizo sua amizade, Maggie. De verdade. Mas não faça isso novamente”. “Claro”, diz com um sorriso. “Porque não saímos para um drinque? Não quero que fique um clima ruim entre nós”. “Podemos, mas não hoje. Tenho outros planos”. Respondo apressado. “Pela forma como você parece ansioso, presumo que seus planos tenham apenas um nome: Eva”.


104 Apenas a menção de seu nome faz surgir um enorme sorriso em meus lábios. Nesse momento, alguns paparazzi se aproximam para tirar fotos, o que concedo. Ela põe sua mão em meu braço e posamos juntos. Nos afastamos e antes de entrar em seu carro, ela se despede. “Bem, diga que eu dei um ‘olá’. A propósito, você está radiante Gideon. Nunca te vi assim. É bom saber que ela o está fazendo feliz. Tenha uma boa noite”. “Obrigado Maggie”, digo sem graça. “Boa noite”. O apartamento de Eva está mergulhado na escuridão, a não ser a sala, parcialmente iluminada pelo pequeno foco de luz emitido pela vela em cima da mesa de centro. Pego o pires e vou me guiando pela luminosidade da chama até o quarto dela. Abro a porta e me deparo com a cena mais encantadora que já vi. Meu anjo dorme pacificamente. Seu corpo, que está de lado, é parcialmente coberto pelo edredom, suas mãos pousam suavemente ao lado de seu rosto e suas madeixas douradas estão revoltas. Meu coração para por alguns segundos e uma onda de excitação e emoção me percorre. Coloco o pires com a vela em cima do criado mudo ao lado de sua cama, pego meu celular e tiro uma foto. É uma imagem que quero guardar para sempre. Sem conseguir mais me conter, tiro minhas roupas em tempo recorde e vou direto para a cama, ficando por cima dela e a beijo lentamente e com luxúria. Eva desperta passando as mãos por minhas costas e abre suas pernas para que eu me encaixe confortavelmente entre elas. Mal posso esperar para retribuir o presente surpresa que ela me deu mais cedo. “Hum... Olá para você também”, murmura sem fôlego entre meus beijos. “Eu senti sua falta. Da próxima vez você vai comigo”. “Ah, eu vou é?” provoca. “Vai”. “Você não se acostumou comigo o suficiente para sentir minha falta”. “Par você ver como não sabe de nada”, desdenho enquanto sugo seu mamilo por cima do baby doll e enfio minhas mãos no meio de suas pernas. Passo para o outro seio, puxando com a mão a barra do seu baby-doll. Ela se inclina em minha direção, completamente entregue ao meu ataque. Minha língua entra no seu umbigo, e depois começa a descer ainda mais. Enfiando um dedo dentro dela, gemo de satisfação. “E você sentiu minha falta. Está toda aberta e molhada pra mim”. E pondo suas pernas por cima dos meus ombros, mergulho de boca naquela bocetinha linda e úmida. Minha língua rodopiando, entrando e saindo, e a deixando cada vez mais sensível. Ela enlouquecia sob a minha boca, gritando meu nome, implorando por mais. “Gideon, por favor”.


105 “Ainda não”. Eu a torturo, levando seu corpo até a beira do orgasmo e depois deixando a excitação baixar. Minha língua é desumana, atacando seu clitóris com movimentos precisos. “Por favor, Gideon... Me deixe gozar... Eu preciso gozar, por favor”. “Quietinha, meu anjo... Deixa que eu cuido de você”. E depois de algumas sucções, mordidas e invasões da minha língua dentro de sua entrada molhada, Eva goza deliciosamente, seu corpo sofre espasmos, mas continuo meu ataque implacável. Envolvo meus dedos com os dela a faço gozar mais uma vez, agora segurando seus braços. Sem cerimônia eu meto gostoso dentro dela, e sou correspondido com um gemido. Então começo a estocar a toda velocidade, minha respiração se torna mais áspera, meu rosto enterrado em seu pescoço, meu corpo tremendo à medida que eu entro e saio dela. “Você é tão quentinha e macia. E minha Eva. Você é minha”. Ela envolve meus quadris com as pernas e levanta a pélvis permitindo que eu entre mais fundo. Sem desconectar nossas mãos, ataco sua boca com a minha, e continuo entrando e saindo, num vai e vem lento e tranquilo. “Ah Eva, você é tão linda! Feita sob medida pra mim. Não posso parar, não consigo parar”. Sussurro em seu ouvido. Ela goza mais uma vez, com um grito agudo. Isso me estimula a acelerar o ritmo das estocadas até encontrar minha própria libertação. Sei que Eva está exausta, mas ainda não consegui o suficiente dela. “Ainda não terminei”, murmuro. Ajeito os joelhos para aumentar a força de minhas investidas. Continuo num ritmo cuidadosamente controlado. Eva é minha perdição, meu céu, meu inferno, meu tudo. E minha, só minha, toda minha. _____//_____ Nada como uma boa noite de sexo para afastar os pesadelos. Nunca dormi tão bem. E pretendo repetir a maratona de sexo noturna esta noite, na minha casa. Durante o banho, nós trocamos várias carícias, ensaboamos o corpo um do outro e, em outra manobra surpreendente, Eva se senta em um banquinho e me chupa com tanto vigor que tenho que me escorar nas paredes para não cair. A visão dela, nua e toda molhada com o meu pau dentro da sua boca não sai da minha cabeça. Mas ela saiu do banho antes que eu tivesse a chance de fodê-la todinha, como prometi antes de gozar violentamente em sua garganta. “Espero que você não esteja pensando que escapou”, digo lançando-lhe um olhar carregado de promessas sensuais.


106 Ela, já arrumada para o trabalho, me passa uma xícara de café fumegante, e me encara de uma maneira tão sexy que estou a ponto de comê-la aqui mesmo, no chão da cozinha. “Continue olhando assim pra mim”, ameaçou, inclinando-me sobre o balcão e bebendo café. “Veja o que acontece”. “Vou perder meu emprego por sua causa”. “Eu arrumo outro para você”. Ela solta uma risadinha. “De quê? Escrava sexual?” “Boa sugestão. Podemos conversar a respeito”. “Você é muito cruel. Está pronto? Para trabalhar?” pergunta frisando bem a última palavra. Termino meu café e vou até a pia para enxaguá-la, ignorando a mãos estendida de Eva. Onde já se viu? Eu sujo, eu lavo! “Quero levar você pra jantar hoje à noite, e depois pra minha casa, pra minha cama”. Digo encarando-a. “Não quero que você enjoe logo de mim, Gideon”. Fecho meu rosto em uma carranca. Como assim? Do que diabos ela está falando agora? Enjoar-me dela? Será que é tão difícil assim confiar em mim? Ela não pode me dar uma chance de tentar? Poxa, o que mais eu tenho que fazer? “Não arrume desculpas. Não é você quem vai dizer se sou ou não capaz de manter esta relação”. Reclamo; a mágoa escorrendo por cada palavra. Ela vê que fiquei ofendido e tenta se explicar. “Não foi isso que eu quis dizer. Eu só não quero sufocar você. Além disso, precisamos...”. Ah, chega! “Eva”, suspiro, exasperado. “Você precisa confiar em mim. Eu confiei em você. Se não tivesse feito isso, não estaríamos aqui agora”. Engolindo em seco, ela acena. “Então está combinado, jantar fora e depois vamos pra sua casa. Sinceramente, mal posso esperar”. Eu é que mal posso esperar para que Eva veja as compras que fiz para ela. Estou me esforçando ao máximo para que a gente dê certo. A determinação é um traço marcante da minha personalidade, e é isso que pretendo mostrar a ela: que posso ser tudo o que ela precisa e mais. Que posso ser seu porto seguro. Vou reconquistar sua confiança custe o que custar. Já no escritório, leio alguns emails, respondo e analiso alguns relatórios. Scott me interfona e diz que meu assessor de imprensa está na recepção. Autorizo sua entrada. O que será que ele quer?


107 “Com licença, senhor Cross”. “Ryan, sente-se. O que aconteceu?” “Bom senhor, nós fizemos tudo conforme ordenou, acredito que tenha visto. Mas agora surgiram alguns... contratempos”. “Do que está falando?” “Acho melhor o senhor ver”. Em seu notebook, ele abre a página de um site de fofocas. É um post contendo fotos de Eva e Cary se abraçando de um jeito carinhoso demais. A legenda é uma especulação sobre a natureza da relação dos dois. Ryan abre outra página, dessa vez contendo uma foto dos dois trocando olhares cheios de ternura e... Não, não pode ser, pode? Amor?! Correndo os olhos pelo post, um parágrafo me chama a atenção: Parece que a filha de Richard Stanton está enrolando nosso playboy bilionário favorito enquanto mantém um relacionamento paralelo com seu namorado de longa data, o modelo Cary Taylor. Afinal, o que ele tem que Cross não tem? Mas que porra é essa? Isso é insultante! Rolando a página para baixo, vejo uma foto minha e de Magdalene, que foi tirada ontem quando nos encontramos nos restaurante. A legenda da foto afirma que estou atacando novamente com minha bela coleção de socialites. E, em outro site, a mesma foto, cuja nota referente afirma que estou afogando as mágoas causadas pela infidelidade de Eva. Tenho que admitir: esse povo é muito criativo! Parece uma novela mexicana. E o pior: à custa da MINHA imagem! O desespero e a raiva se misturam dentro de mim. Como ela pôde fazer isso comigo? Eles são amigos, certo? Não deveria ser assim, ela é minha, minha, minha! Não sei mais o que pensar. Só quero esclarecer tudo isso de uma vez por todas (o que não significa, nem nessa ou em outra vida que vou ficar sem minha mulher nessa história!). Não é a toa que tenho um pé atrás com Taylor, ainda mais agora. “Senhor Cross, quer que tomemos alguma providência?” A pergunta de Ryan soa cautelosa. Posso não expressar o que estou sentindo, mas meus olhos devem estar nublados de fúria. “Nada a declarar. Pode ir, Ryan”. “Claro, senhor”. Assim que ele sai, peço Scott para chamar o rapaz da correspondência interna. Envio uma mensagem para meu anjo rebelde. Ela terá de se explicar.


108 HORA DE ALMOÇO. MEU ESCRITÓRIO. Não mando beijos nem faço questão de me mostrar carinhoso. Quero que ela veja e sinta minha frustração. Dez minutos depois recebo minha resposta: DESCULPE. OUTROS PLANOS. Como é que é? Ela acha que vai sair dessa assim? Ledo engano. Essa diaba não sabe com quem está se metendo. Hora de por tudo em pratos limpos. Ligo para a portaria e ordeno que Eva seja barrada e que eu seja comunicado imediatamente. Dito e feito, como se pudesse ser diferente. Desço imediatamente, mas, como sempre, o furacão Eva Tramell impõe sua vontade e sai do prédio. Ao lado de Garrity, ela está em frente ao Bentley, de costas para mim. Eu a chamo e seu corpo estremece, reconhecendo imediatamente o tom de autoridade da minha voz. Ela me encara com a raiva estampada no rosto. Minha expressão impassível a confronta. “Vou almoçar com meu chefe” diz amargamente. “Aonde vocês vão, Garrity?” pergunto sem tirar os olhos dela. “Ao Bryant Park Grill”. “Eu a levo até lá”. Dito isso, pego-a pelo braço e a conduzo firmemente até a porta traseira do Bentley, que Angus já tinha aberto. Entro logo depois, forçando-a a deslizar pelo assento. A porta se fecha e o carro começa a se movimentar. “O que você está fazendo? Além de me envergonhar na frente do meu chefe!” Ah está nervosinha, é? Você ainda não viu nada, meu anjo. “Cary está apaixonado por você?” sou curto e grosso. “Quê? Não!” “Você já trepou com ele?” “Você enlouqueceu?” Ela me encara chocada e arrisca um rápido olhar para Angus, que mantém sua postura profissional, como sempre. “Olha só quem fala. O playboy bilionário com uma coleção de belas socialites”. Ralha. “Então você viu as fotos”. Ela bufa de raiva e vira a cabeça para o outro lado. “Cary é como um irmão pra mim. Você sabe disso”.


109 “Sim, mas você pra ele é o quê? Aquelas fotos são bem claras, Eva. Sei reconhecer o amor quando o vejo”. Angus diminui a marcha para que os pedestres atravessarem a rua. Eva abre a porta e me olha por cima do ombro, permitindo-me encará-la. “Isso você claramente não sabe”. E suas palavras me cortam como uma lâmina afiada. Ela bate a porta com força e sai andando. Como assim não sei o que é amor? Claro que sei por que o que sinto por essa mulher maluca e exasperante é mais do que amor, eu passei dessa fase. Saio do carro e a mando parar. Em uma atuação dina de Oscar, ela faz um gesto ofensivo para mim por cima do ombro e sobe correndo os degraus do Bryant Park. Eu a sigo e agarro seu pulso. “Não corra”, sussurro em seu ouvido. “Você está dando uma de maluco”. “Deve ser porque você está me deixando louco. Você é minha. Diga que Cary sabe disso”. “Sabe. Da mesma forma como Magdalene sabe que você é meu. Você está dando vexame”. “Poderíamos ter feito isso no escritório se você não fosse tão teimosa”. “Eu já tinha compromisso. Que você está arruinando, aliás”. E sua voz sai embargada. “Você estragou tudo”. E as lágrimas correm livres pelo seu rosto. Cacete, eu sou um filho da puta mesmo! Mais uma vez estragando tudo, mais uma vez fazendo meu anjo chorar. “Minha nossa”. Puxo-a para perto de mim e roço meus lábios em seus cabelos. “Não chore. Desculpe”. Ela me dá um soco no peito, que não é nada eficiente, mas a ajuda a descarregar a raiva. “Qual é o seu problema? Você pode sair com uma piranha arrogante que me chama de vagabunda e acha que ainda vai ser sua mulher, mas não posso almoçar com um amigo que sempre fez tudo por mim?” “Eva”, suspiro agarrando sua nuca com uma das mãos e apertando seu rosto contra o meu. “Por acaso Maggie estava no mesmo restaurante em que estava ocorrendo o tal jantar de negócios”. “Não me interessa. E você ainda vem falar sobre o olhar no rosto dos outros. O jeito como você olha pra ela... Como você pode fazer isso depois de tudo o que ela disse pra mim?” Espalho beijos ardentes por toda a sua face. Quero que ela entenda de uma vez por todas.


110 “Meu anjo... Aquele olhar era pra você. Maggie foi conversar comigo lá fora e eu disse que estava indo pra sua casa. Não consigo evitar esse olhar no meu rosto quando penso em nós dois”. “E você quer que eu acredite que ela abriu um sorrisão ao ouvir isso?” ironiza. “Ela me pediu para mandar um oi, mas eu achei que isso não pegaria muito bem, e não queria de jeito nenhum estragar nossa noite por causa dela”. Eva abraça minha cintura por baixo do paletó e me olha preocupada. “Precisamos conversar. Hoje à noite, Gideon. Preciso contar algumas coisas pra você. Se um repórter souber onde procurar e der um pouco de sorte... Nossa relação tem de ficar restrita a nós dois, ou então terminar. Seja como for, vai ser melhor pra você”. De novo essa história. “Não vai ser uma coisa nem outra. Vamos dar um jeito de contornar isso, seja o que for”. Assim que ela fica na ponta dos pés e me beija, nossas línguas numa carícia apaixonada, ouvimos o murmúrios da multidão ao nosso redor. Com certeza estamos dando um show para o público, mas quando Eva está na proteção de meus braços, nada mais importa. O mundo que se exploda, desde que meu anjo esteja comigo. “Pronto”, sussurro acariciando seu rosto com os dedos. “Vamos deixar esta imagem se espalhar pela internet”. “Você não está levando a sério o que eu digo, seu teimoso. Preciso ir”. “Vamos pra casa juntos depois do trabalho”. E me afasto segurando sua mão até a distância enfim separar nossos dedos. De volta ao Bentley, fico repassando os últimos acontecimentos desde o meu comportamento na festa até hoje. Como pude ser tão estúpido? Estou fazendo merda atrás de merda com a única mulher que amei em minha vida. E a revelação que Eva me fará hoje, o que será? Fico apreensivo, nervoso, curioso, agitado, tudo ao mesmo tempo. Seja lá o que for não será o suficiente para me distanciar, mesmo se ela pedir por isso. Vou lutar com todas as minhas forças por Eva. Esta noite será um momento de revelações, mas será o momento em que poderei mostrar a ela que posso ser seu mais, seu amor, seu amigo. Agora, só me resta aguardar.


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Capítulo 10 Revelação, mentira e separação Quando voltei para o escritório, aproveitei para olhar com mais atenção as fotos minhas com Maggie e percebi que Eva poderia ter dado uma crise de ciúmes sim, e sem culpa! Realmente, demonstrávamos certa intimidade, nada muito explícito, mas mesmo para uma pessoa desatenta, nossa linguagem corporal sugeria algo. Como fui idiota! De novo! Eva, novamente, se mostrou compreensiva e calma em meio a mais um de meus foras. Eu só fazia cagada atrás de cagada. E não me espanta nada ela querer se afastar... Embora eu jamais fosse deixar isso acontecer. E o beijo. Nossa, que beijo. Apenas isso está me dando certeza de que ela não quer me dar um pé na bunda hoje. Afinal, não dizem por aí que depois da tempestade vem a abonança? Se bem que eu acho que esta última vem correndo de nós. Ela estava tão quieta na volta para casa. A tensão era grande e seu corpo estava rígido. Segurei sua mão e a beijei, passando calma e segurança. Resolvi ficar em silêncio também. Não havia nada para dizer naquele momento. Principalmente porque ainda estávamos abalados pelo que aconteceu no Bryant Park, pelo meu ataque ridículo de ciúmes. Mas o que posso fazer? Eu sou louco, obsecado e apaixonado por essa mulher, a simples ideia de outro homem ter acesso a ela da mesma forma que eu me deixa vermelho de ódio! Ela é minha! Eu precisava saber se Cary era realmente apenas um amigo ou um amigo com benefícios, ou um amante, eu não sei. Se ela realmente estivesse se envolvendo com ele, isso me mataria, mas eu só sairia dessa história de um único jeito: com Eva. Durante todo o trajeto, os olhares que trocávamos já diziam tudo. Quando chegamos em casa, a levei para meu quarto; em cima da minha cama havia um vestido azul claro e um robe preto de seda. “Tirei um tempinho pra fazer umas compras antes do jantar de ontem”. “Obrigada”. “Queria que você ficasse à vontade. Pode usar o robe ou alguma roupa minha. Vou abrir uma garrafa de vinho e já volto. Quando quiser, podemos conversar”. “Eu queria tomar um banho rápido antes”. “Como quiser, meu anjo. Sinta-se em casa”. Saí para lhe dar espaço para se preparar. Não queria que ela se sentisse pressionada.


112 Visto uma calça de pijama preta de seda, vou à cozinha pegar um vinho e duas taças. Dirijo-me à sala para esperá-la. Continuo a tentar descobrir o que ela tem de tão importante para dizer quando sou despertado por sua voz meiga e suave. “Com licença, estou procurando por Gideon Cross, o homem que não tem o romance no seu repertório”. Eu abro um sorriso encabulado por seu comentário. “Não vejo isso como romance. Estou só tentando agradar. Simplesmente penso em uma coisa e torço para dar certo”. Digo com sinceridade. “O que me agrada é você”. Rebate vindo em minha direção Ela está tão sexy e sedutora com o robe de seda preta, contrastando com sua pele alva, e os cabelos molhados. “É o que eu quero”, digo num tom bem sério. “Estou tentando”. Algo está diferente nela, e estou ficando preocupado. Eva desliza suas mãos pelo meu bíceps apertando-os suavemente antes de colocar seu rosto contra meu peito. Ela está chateada, preocupada. Não estou gostando nada disso. “Ei”, murmuro, envolvendo-a em seus braços. “Isso é porque fui um babaca na hora do almoço? Ou por causa daquilo que você quer me contar? Fale comigo, Eva, pra que eu possa dizer que vai ficar tudo bem”. Esfrega seu nariz arrebitado no meu peitoral “Acho melhor você sentar. Tenho umas coisas sobre mim pra contar. Coisas pesadas”. Não quero soltá-la. Eu queria tê-la em meus braços para sempre se fosse possível. Mas ela precisa compartilhar algo comigo, e tenho que transmitir-lhe calma e compreensão. Quando se desvencilha de mim, solto-a, ainda relutante, e me sento. Encho as duas taças de vinho, e em seguida, lhe entrego uma. Viro-me para ela, com olhos e ouvidos atentos. Chegou a hora da verdade. Eva está sentada sobre seus calcanhares e seu corpo está rígido. “Muito bem. Lá vai”. Respira fundo, como se fosse algo doloroso de se fazer e começa. “Minha mãe e meu pai não eram casados. Não sei muito bem como eles se conheceram, porque nenhum dos dois gosta de falar a respeito. Sei que a família da minha mãe tinha dinheiro. Não tanto quanto os maridos dela, mas com certeza mais que a maioria das pessoas. Ela era uma debutante. Passou por todo o ritual do vestido branco e da apresentação à sociedade. Ficar grávida era uma grande complicação para a vida dela, mas mesmo assim minha mãe não interrompeu a gravidez”.


113 “Eu a admiro muito por isso” diz olhando para sua taça de vinho. “Houve muita pressão para que tirasse o bebê — no caso, eu —, mas ela foi até o fim. Obviamente”. Meus dedos passeiam pelos meus cabelos ainda molhados do banho. “Sorte minha”. E como. Nunca serei grato a Monica Stanton o suficiente. Ela pega minha mão e beija meus dedos e a segura junto a seu colo junto. “Mesmo sendo novinha, ela conseguiu fisgar um milionário. Era um viúvo com um filho só dois anos mais velho que eu, então acho que todos pensaram que o casamento seria muito conveniente para ambas as partes. Ele viajava muito e quase não parava em casa. Minha mãe poderia gastar o dinheiro dele à vontade e em troca assumiria a criação do garoto”. “Eu entendo essa necessidade de ter dinheiro, Eva”, murmuro. “É uma coisa que eu também tenho. O poder que ele traz. A segurança”. Foi o dinheiro que transformou minha vida, me tornou quem eu sou e me deu subsídios necessários para esquecer parte dos meus traumas (ou pelo menos enterrá-los em um lado escuro da minha mente) e seguir em frente. Nossos olhares se encontram e um elo de confiança se estabelece entre nós. Algo que nos entrelaça ainda mais. Uma força renovada proveniente desse entendimento mútuo a deu coragem para continuar. “Eu tinha dez anos quando o filho do meu padrasto me estuprou pela primeira vez...”. Eu não posso acreditar no que acabo de ouvir! Meu corpo automaticamente reage e a haste da taça se parte em minhas mãos e, por reflexo, pego o bojo antes de o vinho cair no carpete. A raiva se espalha em meu corpo como fogo se alastrando pela palha. Acho que nunca senti tanto ódio, dor, revolta e pensamentos assassinos. Não de uma só vez. Levanto-me e Eva segue meu exemplo. “Você está bem?” “Estou bem”, respondo entre os dentes. Ela não precisa saber o que se passa em minha cabeça. Vou até a cozinha com minha cabeça em parafuso, com um sentimento desgraçado que está me rasgando ao meio. Jogo a taça quebrada no lixo e vou até os armários pegar um copo e uma garrafa de tequila José Cuervo. Preciso de algo bem forte para encarar tudo isso. Não consigo acreditar! Um filho da puta dos infernos profanou minha Eva, tirando sua inocência, sua pureza, arrancando-lhe a oportunidade de ter sua primeira vez como deveria ser. Assim como aconteceu comigo! Eu consigo entender sua dor, seu sofrimento e a quantidade de coragem que ela teve de reunir para me fazer tal revelação. Tento recuperar o equilíbrio, mas a náusea que me sobe a bile está difícil de aguentar. A sensação de vulnerabilidade é intensa, bem como pensamento de não poder tê-la protegido, assim como nunca fui. Então deixo a raiva me


114 dominar. Essa é a melhor estratégia. Conseguindo manter minhas emoções sob controle, retorno para sala. As únicas coisas que quero saber é quem é esse monstro e se ainda está vivo. Se estiver, é bom sumir no mundo e nunca mais procurá-la. E rezar para não me encontrar. Eva está em pé, estática e com as feições congeladas. “Sente-se, Eva”. Suas pernas não saem do lugar, e me olha em silêncio. Está assustada com minha reação. Acaricio seu rosto. “Sente-se... Por favor”, peço suavemente. Seus joelhos sedem e ela cai sentada no sofá apertando o robe sobre o corpo; permaneço de pé e dou um gole daqueles na tequila, e a queimação é tão forte que nem sinto as paredes de minha garganta. “Você disse que essa foi a primeira vez. Houve mais quantas?” Tento manter a calma em minha voz. Ela toma uma respiração profunda. “Não sei. Perdi a conta”. Assim como eu. Meu Deus! “Você contou para alguém? Contou para sua mãe?” “Não. Pelo amor de Deus, se ela soubesse, teria me tirado de lá. Mas Nathan fez de tudo para me deixar apavorada, de modo que não tocasse no assunto. Ela tenta engolir, mas parece não conseguir. Seu corpo se encolhe no sifá e sua voz sai em um sussurro. “Teve uma época em que a coisa ficou tão feia que eu quase contei mesmo assim, mas ele percebeu. Notou que eu estava prestes a abrir a boca. Foi quando quebrou o pescoço da minha gata e deixou o cadáver na minha cama”. “Minha nossa”, ofeguei. “Ele não era só um tarado, era totalmente maluco. E estava molestando você... Eva”. Então a imagem de Eva como uma criança sozinha e indefesa paira em minha mente. Uma menina tão pequena de cabelos dourados sendo violada por um alguém maior, mais forte e... Desumano. “Os empregados da casa deviam saber”, prossegue de cabeça baixa, olhando para as mãos contorcidas. “Como não disseram nada, acho que também tinham motivos pra ter medo. Eles eram adultos e não abriram a boca. Eu era uma criança. O que eu poderia fazer se os adultos não faziam nada?” Um nó se forma em minha garganta e me vem uma vontade absurda de chorar. Mas me controlo. Eva precisa de segurança, precisa que eu seja sua rocha agora.


115 “Como você saiu dessa?” minha voz sai rouca pelas lágrimas não derramadas. “Quando isso terminou?” “Quando eu tinha catorze anos. Pensei que estava menstruando, mas era sangue demais. Minha mãe entrou em pânico e me levou ao pronto-socorro. Tinha sido um aborto espontâneo. Durante o exame encontraram sinais de... Outros traumas. Cicatrizes vaginais e anais...”. Bato o copo já vazio com força contra a madeira, como se esse movimento fosse aliviar o que estou sentindo. Estou mortificado. Passei toda a minha vida adulta tentando esquecer meu passado de merda e aqui está ela, como um espelho, como uma reprodução dos horrores que vivi. “Sinto muito”, sussurrou. “Eu não queria entrar em detalhes, mas você precisa saber o que as pessoas podem descobrir se pesquisarem. O hospital fez uma denúncia ao conselho tutelar. Os arquivos do processo são confidenciais, mas muita gente conhece a história. Quando minha mãe se casou com o Stanton, ele fez questão de reforçar essa confidencialidade, ofereceu dinheiro em troca de acordos de sigilo... coisas do tipo. Mas você tem o direito de saber que essa coisa toda pode vir à tona e fazer você passar vergonha”. Mas que... Como assim vergonha? Ela pensa tão pouco de mim? Não posso conter a raiva. “VERGONHA? O que estou sentindo agora não tem nada a ver com vergonha”. “Gideon...”. “Eu destruiria a carreira do repórter que escrevesse sobre isso, depois fecharia o veículo que publicasse”. Minha voz soa gélida. “Vou encontrar o monstro que fez isso com você, Eva, quem quer que seja ele, e fazer com que se arrependa de ter nascido”. Ela se levanta. “Não vale a pena gastar tempo e esforço com ele”. “Por você, vale. E muito. O que for preciso”. E minha decisão já está tomada. Vou caçar esse maldito até no inferno. Ela se aproxima da lareira. “E tem também o rastro deixado pelo dinheiro. Os policiais e os jornalistas sempre vão atrás do dinheiro. Alguém pode se perguntar por que minha mãe saiu do primeiro casamento com dois milhões de dólares e sua filha de outro relacionamento saiu com cinco”. Paraliso. Dessa eu já sabia. Ela continua, sem me encarar. “Essa quantia deve ser muito maior hoje em dia. Não sei nem quero saber o total, mas quem administra esse dinheiro é Stanton, e todo mundo sabe que


116 ele tem o toque de Midas. Portando, se alguma vez você desconfiou que eu pudesse estar atrás do seu dinheiro...”. Isso já foi longe demais. “Pode parar por aí”, corto. Onde já se viu? Eu jamais pensei isso dela! Nunca! Agora faz sentido a forma como ela me evitou no começo. Se fosse outra, já teria caído na tentação. E, mesmo com todo o desejo que sentia por mim, Eva resistiu bravamente, até. Seu olhar encontra o meu, com a tristeza estampada em seu rosto. Meu coração está em pedaços por ela, pelo seu sofrimento. E pelo meu. Ela aperta o laço do robe e murmura. “Vou me trocar e já estou indo.” As palavras invadem meus ouvidos e me despertam do torpor, reavivando todas as células do meu corpo. “Quê? Indo aonde?” “Para casa. Acho que você precisa de tempo pra digerir tudo isso”. Cruzo os braços defensivamente. “Podemos fazer isso juntos”. “Acho que não” rebate com a voz embargada. “Não enquanto você continuar me olhando como se tivesse pena de mim”. “Não tenho sangue de barata, Eva. Só não sendo humano para não se comover com essa história”. “Não quero que você sinta pena de mim” sibila. Passo as duas mãos pelos meus cabelos em exasperação. “Você quer o que então, porra?” “Você!” Grita. “Eu quero você”. “Isso você já tem!” grito de volta. “Quantas vezes eu preciso dizer?” “As palavras não significam merda nenhuma sem uma atitude pra comprovar o que elas dizem. Desde que nos conhecemos, você sente tesão por mim. Não conseguia nem me olhar sem mostrar claramente que queria acabar na cama comigo. E eu não estou vendo isso agora, Gideon. Esse olhar... Morreu”. Eu não posso acreditar nisso! Como pode uma pessoa ser tão absurda? “Você não pode estar falando sério”. “Acho que você não entende o que seu desejo faz comigo”, diz cruzando os braços em frente aos seios. “Faz com que eu me sinta linda, poderosa e cheia de energia. Eu... não consigo nem pensar em continuar com você se esse desejo não existir mais”. “Eva, eu...” e eu não sei o que dizer.


117 Meu desejo por ela não se aplaca. Nunca! Mas ela acabou de me contar coisas horríveis sobre sua infância. Seria muito insensível de minha parte querer transar com ela agora. Ela está sensível, não quero que pareça que estou me aproveitando dela ou coisa do tipo. De repente, ela se livra do robe, ficando completamente nua na minha frente. E meu membro reage na hora. “Olhe pra mim, Gideon. Pro meu corpo. É o mesmo corpo que você não queria largar ontem à noite. O mesmo corpo que você estava tão desesperado para possuir que me levou para aquele maldito quarto de hotel. Se não o quiser mais... se não conseguir mais se excitar olhando pra ele...”. “Isso é excitação suficiente para você?” Grito desamarrando o cordão da minha calça e mostro minha ereção enorme e pulsante. Avançamos um no outro ao mesmo tempo. Nossas bocas colidem em um beijo feroz, desesperado. Agarro sua bunda e automaticamente ela envolve meus quadris com suas pernas. O impacto de nossos corpos é tão forte que acabo perdendo o equilíbrio e caímos no sofá. Como estou por cima, tomo o cuidado de usar uma das mãos para absorver o peso combinado dos nossos corpos. Eva está soluçando; as lágrimas correndo livres pela face. Ela abre as pernas e me abaixo para lambê-la. Meu tesão alcança taxas altas de necessidade e, por isso, não me preocupo em ser educado. Quer mais é meter com força, para que Eva nunca mais duvide do meu desejo por ela. Não mais resistindo, me ergo e invado sua gruta molhada, com estocadas furiosas. “Isso, me fode, Gideon” gemeu. “Me fode com força”. “Eva” rosno. Cubro sua boca com a minha, fazendo-a provar a própria excitação. Agarro seu cabelo com força, mantendo-a imóvel enquanto invisto contra sua boceta mais e mais entrando cada vez mais fundo. Ela geme contra meus lábios, num misto de dor e prazer. Continuo perseguindo meu orgasmo obstinadamente. Nunca fiquei tão louco para gozar, nunca senti tanta necessidade de me liberar como agora. Eu preciso. Por mim. Por Eva. “Minha... minha... minha...” sussurro asperamente enquanto continuo a penetrá-la. Sinto seus músculos se apertarem, confinando meu pau dentro dela, devorando-o. Um grunhido longo e gutural brota da minha garganta e gozo desenfreadamente, inundando-a com meu sêmen. Meu corpo inteiro estremece. Cada parte de mim completamente entregue a essa sensação. Ela me pressiona contra seu corpo, distribuindo beijos pelo meu rosto e ombros. Mas eu ainda não terminei. Eu quero mais, muito mais dela. “Espere”, respiro asperamente.


118 Inverto a posição e a coloco por cima de mim, e deslizo facilmente por dentro dela. Afasto seus cabelos do rosto e enxugo suas lágrimas. “Estou sempre pronto para você, sempre com tesão” digo com firmeza. “Estou sempre morrendo de vontade. Se alguma coisa pudesse mudar isso, já teria sido feita antes de chegarmos a este ponto. Entendeu?” “Sim” responde agarrando meus pulsos. “Agora mostre que você ainda me quer. Preciso saber que perder o controle não significa perder você também”. Eva coloca minhas mãos em seus seios e começa a se movimentar em um vai e vem lento e delicioso. Instintivamente meus dedos começam a fazer movimentos circulares ao redor de seus mamilos, beliscando de levinho, apertando. Inclino-a sobre mim e abocanho um deles, fazendo-a gritar de puro prazer. Seus olhos se fecham, e ela se concentra nas sensações produzidas pela fricção de nossas partes íntimas. “Isso mesmo”, murmuro, lambendo seus seios até chegar ao outro mamilo, passando suavemente a língua pela pontinha dura e hipersensível. “Goza pra mim. Quero que você goze cavalgando meu pau”. Ofegante, ela remexe os quadris incansavelmente, enquanto esfrega a cabeça do meu pau em seu ponto mais sensível, cada vez mais fundo, cada vez mais forte. Parecia completamente fora de si. “Gideon” sussurra. “Ai, assim... que delícia...”. Agarrando sua nuca com uma das mãos e sua cintura com a outra, arqueio meus quadris para entrar ainda mais fundo. “Você é tão linda”, suspiro. "Tão sexy. Vou gozar pra você de novo. É isso que você faz comigo, Eva. Eu nunca me canso”. Eva leva a mão até o meio das pernas e massageia o clitóris com os dedos. Essa visão me deixa maluco. Respiro fundo e jogo a cabeça para trás no encosto do sofá. Meu corpo não me pertence mais, sou todo e irrevogavelmente dela. Preciso sentir seu mel escorrer pelo meu pau. “Você está prontinha pra gozar. Sua boceta está toda quentinha e apertadinha, toda gulosa”. Provoco. E com essas palavras, ela chega ao ápice, gritando alto. Seus tecidos inchados se apertando em torno da minha ereção. Assim que se acalma, peguei seus quadris e meto com força, reivindicando-a mais uma vez até sentir o orgasmo me dominar mais uma vez. Urro seu nome e lanço minha porra toda dentro dela.


119 Ficamos assim, por longos minutos, deitados, em um silêncio confortável. Sua cabeça está recostada em meu peito e minhas mãos acariciam a curvatura de suas costas. Dou um beijo em sua testa e a peço para ficar. Ela concorda. “Você é tão corajosa, Eva. Tão forte e sincera. Você é um milagre. Meu milagre”. Eu a abraço, aliviado. “Um milagre da terapia moderna, talvez”, replica irônica enquanto passeia com seus dedos por meus cabelos. “E, mesmo assim, fiquei perturbada demais durante um bom tempo, e ainda existem alguns gatilhos que não sei se consigo encarar”. Então me vem um lampejo do dia em que a abordei após a reunião da Kingsman. Eva rejeitou veementemente minha investida, apesar de sentir atração por mim. Enquanto as outras caíam aos meus pés, ela se negou. Agi como um bastardo arrogante, tratando-a o tempo todo como uma foda conveniente. Agora tudo faz sentido. O comportamento dela de sempre fugir de mim, de ser insegura consigo mesma e com nossa relação, seu medo de ser tratada como um objeto... Como fui idiota! “Minha nossa. A maneira como cheguei até você no começo... poderia ter arruinado tudo antes mesmo de começar. E aquilo lá no evento...”, eu mal posso terminar a frase. Meu corpo se encolhe e enterro meu rosto em seu pescoço. “Eva, não deixe que eu estrague tudo. Não permita que eu afaste você de mim”. Ela busca meu rosto. “Você não pode ficar repensando tudo o que já fez ou falou pra mim por causa de Nathan. Isso só vai nos afastar. Vai acabar com a gente”. “Não me diga uma coisa dessas. Nem pense nisso”. É doloroso demais. Com os polegares, ela acaricia minha testa franzida. “Eu não devia ter contado. Seria melhor se você não soubesse”. Pego minha mão e beijo seus dedos. “Preciso saber de tudo, conhecer você nos mínimos detalhes, por dentro e por fora”. “Uma mulher precisa ter seus segredos”, brinca. “Comigo você não vai ter nenhum”. Agarro seus cabelos e passo um de meus braços por sua cintura, apertando-a contra minha ereção, que está quente e pulsante dentro dela. “E eu vou possuir você, Eva. E vai ser justo, porque você já me possuiu”. “E o que vamos fazer a respeito de seus segredos, Gideon?” Minha face se fecha no mesmo instante. Ainda não posso fazer isso, não estou pronto. “Recomecei do zero quando conheci você. Tudo o que eu pensava que era, tudo o que eu achava que precisava... Estamos descobrindo juntos quem eu sou. Você é a única pessoa que me conhece”.


120 E mesmo não sabendo de meus segredos, ela é a pessoa que mais sabe sobre mim que qualquer outra. O que eu tenho dentro de mim pode afastá-la. Já não fiz isso tantas vezes em minhas tentativas estabanadas para mantê-la ao meu lado? Não posso fraquejar, não posso fracassar. Eu a amo. “Eva... Se você me disser exatamente o que quer...” Engulo em seco. “Posso melhorar se você me der uma chance. Só não... não desista de mim”. Ela acaricia meu rosto, meus cabelos e meus ombros, olhando-me com um pouco de receio. “Preciso que você faça uma coisa por mim, Gideon”. “Qualquer coisa. É só pedir”. Respondo sem pestanejar. “Preciso que você me conte alguma coisa sobre você todos os dias. Alguma coisa pessoal, por mais insignificante que pareça. Preciso que você me prometa isso”. “Pode ser o que eu quiser?” Eu a olho desconfiado. Ela concordou balançando a cabeça. “Certo”. Posso fazer isso. Ela me beija bem de levinho em sinal de agradecimento. Fico aliviado por ela não fazer mais perguntas. Roço meu nariz contra o seu e pergunto se ela quer jantar fora ou pedir algo para comer. “Tem certeza de que é uma boa sairmos juntos?” “Quero mostrar pra todo mundo que você é minha namorada”. Ela sorri. “Parece uma ideia bem romântica. E irresistível”. Cristo, como essa mulher me faz feliz! _____//_____ Tomamos banho juntos. Mal conseguíamos tirar as mãos um do outro. Adoro quando compartilhamos esses momentos de intimidade. Todos viam aquela mulher linda, desfilando pelas ruas de Nova Iorque com seus cabelos dourados, pele perfeita e vestida com peças que ressaltavam seus atributos, mas só eu tenho acesso irrestrito a esses atributos, principalmente quando não estão dentro da roupa... No quarto, ela olha para o espelho, com o vestido novo em frente ao seu corpo. “Foi você que escolheu, Gideon?” “Fui eu, sim. Gostou?” “É lindo”. Abre um sorriso. “Minha mãe falou que você tem muito bom gosto... a não ser pela preferência por morenas”. Ops... Má ideia. Não queremos ir por esse caminho.


121 Escondo-me dentro do closet. “Que morenas?” “Ah, é assim que se fala”. Vamos Gideon, sai dessa enrascada. Desvie do assunto... Ah! “Abra a gaveta da direita, a de cima” grito lá de dentro. Não saio daqui até esse assunto sumir. Fico em silêncio enquanto escolho minhas roupas. Ouvi a gaveta sendo aberta e aproveito para sair do meu esconderijo. “Então eu tenho uma gaveta?” “Três na cômoda e duas no banheiro”. “Gideon. Abrir espaço na gaveta da cômoda é uma coisa que só se faz depois de alguns meses”. “Como é que eu ia saber?” Estendo minhas roupas sobre a cama. “Você já morou com outro homem além de Cary?” “Ter uma gaveta não é a mesma coisa que morar com alguém”. Responde me fuzilando com o olhar. “Isso não responde à minha pergunta”. Ando na sua direção, tiro-a gentilmente do caminho e pego uma cueca. “Não, nunca morei com nenhum outro homem”. Claro que eu já sabia disso. Mas preciso que Eva acredite que é uma folha em branco para mim. Quero que ela acredite que estamos nos conhecendo. Bem, na verdade, nós estamos. Eu apenas tenho certa vantagem. Abaixando um pouco, pego-a de surpresa dando um beijo em sua testa antes de voltar a me vestir. “Quero que nosso relacionamento seja o mais marcante da sua vida”. E ó único. Sempre haverá homens que chegaram à vida de Eva antes de mim, mas nunca depois. Nunca. “Já é. De longe. Chega a ser estranho, até. Nosso relacionamento virou uma coisa importante muito rápido. Talvez rápido demais. Fico o tempo todo me perguntando se não é bom demais pra ser verdade”. Viro-me para encará-la. “Talvez seja. E se for, nós merecemos”. Às vezes sua insegurança é meio irritante. Parece que nada está bom, que meus esforços não são suficientes para mantê-la segura e satisfeita. Ela se joga em meus braços e do um beijo no topo de sua cabeça. “Não consigo suportar a ideia de que você queira que isto acabe. É o que você está fazendo, não? Pelo menos é o que parece”. “Desculpe”.


122 “Precisamos fazer com que você deixe de se sentir insegura” digo acariciando seus cabelos com os dedos. “Como podemos fazer isso?” Ela hesita um pouco, mas acaba falando. “Você faria terapia comigo?” Meus dedos param e respiro profundamente. É isso, eu não tenho mesmo credibilidade. Estou fazendo merda atrás de merda e, à luz de suas revelações recentes, tenho certeza de que sou o cara mais imbecil da face da terra. E deixa claro que, por mais que eu a queira e farei de tudo para mantê-la comigo, eu não a mereço. “Pelo menos pense a respeito”, sugere ao ver minha reação. “Ou procure se informar melhor, para saber como funciona”. Sinto um gosto amargo na boca. Isso tudo é tão decepcionante. “Estou me saindo tão mal assim? Na nossa relação? Só estou dando bola fora mesmo?” Ela me olha alarmada. “Não, Gideon. Você é perfeito. Pelo menos pra mim. Sou louca por você. Acho que você é...”. Eu a calo com um beijo. “Tudo bem. Eu vou”. Estou um pouco mais aliviado. Sua insegurança não tem nada a ver comigo, mas com tudo o que já viveu no passado e por não saber como lidar com nossa relação. Ela quer minha ajuda para superar seus traumas e seus medos. E estou aqui para apoiá-la no que for necessário. O jantar correu em uma paz absoluta. Eva estava linda e radiante. O vestido caiu como uma luva pelo seu corpo, realçando a cor de seus olhos verde-acinzentados. Mal posso acreditar na minha sorte. O destino não podia ter me presenteado com nada mais valioso. O Masa é um dos melhores restaurantes de Nova York e um dos mais caros que existem. Tem um clima intimista e a comida é deliciosa. Estava vazio, o que nos deu certa privacidade. Longe dos olhares curiosos, pudemos trocar carícias e conversar. Meu corpo reagia à sua presença o tempo todo! Eu a desejava tanto, mas naquele momento apenas no divertíamos. “Como você conheceu Cary?”, perguntei enquanto dava um gole no meu vinho. “Terapia de grupo”. Minha mão escalou suas pernas e estava quase alcançando suas coxas quando sua mão me impediu. Ela sorriu. “Meu pai é policial e ouviu falar de um terapeuta que fazia milagres com adolescentes rebeldes, e eu era uma. Cary se tratava com o doutor Travis também”. “Fazia milagres, é?” perguntei sorrindo. Então ela me contou sobre o tempo em que fazia terapia e de como era o tal Dr. Travis. Obviamente eu já tinha essas informações, mas queria fazer parecer que eu não tinha tudo. “Você decidiu estudar na SDSU porque seu pai mora no sul da Califórnia?” Deixei escapar.


123 “Você pesquisou muita coisa sobre mim?” perguntou em um tom irônico. “Tudo o que fui capaz de descobrir”. “E eu vou gostar de saber até que ponto você chegou?” Levei sua mão até minha boca e a beijei. “Provavelmente não”. Ela balançou a cabeça em sinal de exasperação. “Sim, foi por isso que fui estudar na SDSU. Eu não tive a chance de conviver com meu pai quando era menina. Além disso, minha mãe estava me sufocando”. Apesar de saber de tudo, os detalhes íntimos eram o que me interessava saber. O ponto de vista dela era bem mais interessante. Ela realmente não gosta de se sentir vigiada, uma vez que fugiu da própria mãe. Decidi mudar de assunto novamente antes que minha “pesquisa” fosse motivo para uma possível discussão. “E você nunca conversou com seu pai sobre o que aconteceu?” “Não. Ele sabia que eu era uma menina revoltada e insegura, com problemas de autoestima, mas nunca soube sobre Nathan”. “Por que não?” “Por que nada vai mudar o que aconteceu. Nathan foi punido nos termos da lei. O pai dele pagou uma indenização altíssima pra reparar os danos que ele causou. A justiça foi feita”. Se há uma coisa que não foi feita nessa história foi justiça. “Discordo”, falei num tom de voz gelado. “O que mais você queria?” Dei um grande gole no meu vinho antes de responder. “Algo inapropriado para falar durante o jantar”. “Oh”, respirou, um pouco surpresa e até mesmo temerosa. Então voltou sua atenção para comida. Eva fica tão adorável quando come. Ela sente prazer, ela come com gosto (em todos os sentidos em que essa palavra se aplica, mas, nesse caso é no âmbito alimentar mesmo). E assistila é tão bom. Nunca vou me cansar dessa mulher. Ficamos alguns minutos em silêncio até que não resisti. “Adoro ver você comer”. “O que você quer dizer com isso?” ela me olha. Rá! Pensando no duplo sentido como eu! “Você come com gosto. E seus gemidinhos me deixam com tesão”. Ela acerta meu ombro com o seu. “Pelo que você me falou antes, está sempre com tesão”. “Culpa sua”, sorri. Ela retribui.


124 Uma disposição me invadiu e passei a comer com vontade. A comida estava deliciosa. O restaurante é ‘omakase’, ou seja, nunca se sabe o prato que será servido, já que não tem menu. Estamos saindo do restaurante. A noite está um pouco fria e Eva não trouxe echarpe. Retiro meu paletó e coloca sobre seus ombros. “Vamos à sua academia amanhã”. Sugiro. “A sua é melhor”. “Claro que é. Mas posso ir aonde você quiser”. “De preferência um lugar que não tenha instrutores prestativos chamados Daniel?” pergunta com um ar de falsa inocência. Brincalhona, não? “Cuidado, meu anjo. Se continuar tirando sarro da minha possessividade vai ter retaliação”. Respondo com um sorriso sarcástico. Durante a volta para casa, Eva aninha-se junto a mim no banco de trás do Bentley. Suas pernas estão apoiadas em minhas coxas e sua cabeça recostada em meu ombro. Eu a envolvo em meu abraço e fico olhando para janela, as luzes da cidade passam como borrões coloridos à medida que o carro avança. Ficamos em um silêncio confortável, pensativos e um pouco introspectivos. As recentes revelações de Eva ficam martelando em minha mente. Quando, em algum momento da minha vida, eu pensei que poderia encontrar o amor da minha vida, a razão da minha existência e o ar que eu respiro em alguém que, assim como eu, foi abusado sexualmente na infância? Parecia ser inacreditável. Talvez fosse possível que um dia me sentisse mais a vontade para me abrir com ela sobre o que aconteceu. Não vou poder esconder isso para sempre, mas vou evitar o quanto puder. Preciso sentir que nossa relação estará sólida o suficiente para isso. Ambos estamos quebrados e magoados, mas por isso nos completamos. “Confio em você”, sussurra de repente. Aperto mais meus braços em torno dela. “Nós fazemos bem um pro outro, Eva”. Bom, eu queria fazer bem para ela como ela faz para mim. Eu só sei que já não posso viver sem essa mulher. Nunca me senti tão dependente de alguém. _____//_____ Escuto uma voz familiar me chamando. Oh, não! É ele! Vou para meu quarto. Apago a luz, fecho a porta e me encolho em minha cama, debaixo dos cobertores, como uma pequena bola. Talvez, se eu fingir que estou dormindo, ele me deixará em paz. A porta se abre de súbito e o escuto me chamar. “Eu sei que não está dormindo. Eu vi você”, diz com um tom provocativo.


125 Ele se aproxima da minha cama e para. Sinto sua presença, mas ele não fala mais nada. De repente, minha coberta é arrancada de cima de mim e meu corpo é jogado no chão. Ele monta em cima de mim e começa a me despir. Tento me desvencilhar, mas não consigo. “Não faça isso... Não. Não faça isso... Por favor”. Mas ele não para. Minha cueca é arrancada e suas mãos estão sobre meu membro. Ele começa apertá-lo com força, sua mão desliza de cima para baixo asperamente enquanto a outra segura meus braços acima da cabeça. Seus joelhos estão entre minhas pernas, me impedindo de fechá-las. Estou completamente à sua mercê. “Saia de perto de mim!” grito. Mas é em vão. Ele não vai parar. Meu corpo reage ao seu toque, não consigo controlá-lo. “Viu como você gosta quando eu te toco?” sussurra e abre um sorriso. “Viu como você está pronto para gozar para mim? Vamos lá Gideon, eu sei que você quer, vamos!” disse enquanto aperta ainda mais sua mão em minha ereção. Eu tento me mexer, me proteger, mas não consigo. “Saia... Saia...”. Grito e continuo tentando me mover. Eu não sei por que meu corpo fica desse jeito, mas está doendo tanto! Não! Não quero mais isso! Por mais que eu não consiga me soltar, continuo me debatendo, tentando mais uma vez me livrar desse monstro. “GIDEON, PELO AMOR DE DEUS! ACORDE!” Com esse grito volto à consciência, completamente atordoado, ofegante e exausto. “Quê? O que foi?” pergunto assustado. Meu olhar encontra o dela. Eva está atordoada. “Minha nossa” suspira passando as mãos pelos cabelos enquanto se levanta e veste o robe. “Você estava tendo um pesadelo, quase me matou de susto”. “Eva”, eu tento explicar, mas me interrompo quando olho para baixo, notando a ereção. Meu rosto já corado pela intensidade do pesadelo ficou mais vermelho. De vergonha. Eu não queria que ela tivesse visto isso. Ela, por seu lado, me observa à distância, de perto da janela, fechando o robe com um puxão. “Você estava sonhando com o quê?” Sacudo minha cabeça e a abaixo, humilhado. Ela está se afastando de novo. Está com medo de mim. Esse pesadelo não foi nada comparado ao outro. Com medo de contar-lhe a verdade e afastá-la ainda mais, resolvo mentir. “Não sei”. Mal consigo encará-la. “Mentira. Tem alguma coisa aí, corroendo você por dentro. O que é?” Sentindo que o sono já havia sumido, me recomponho e finjo indiferença. “Foi só um sonho, Eva. Todo mundo sonha”.


126 “Não me venha com essa”. Sibila. “Por que você está brava?” pergunto tapando minha cintura e pernas com o lençol. “Porque você está mentindo.” Meu anjo, a verdade não é tão linda ou, na melhor das hipóteses, digerível. Inspiro profundamente e solto o ar em uma bufada. Tenho que desviar dessa conversa. “Desculpe por ter acordado você”. “Vou perguntar de novo, Gideon: com o que você estava sonhando?” “Não lembro”. Passo as mãos pelos meus cabelos. É difícil ter que esconder isso dela, e pior é ter que mentir. “Estou com um negócio na cabeça que está atrapalhando meu sono. Vou trabalhar um pouco no escritório. Volte pra cama e durma mais um pouco”. Suas feições mudam de raiva para... Decepção. Meu coração aperta. “Essa pergunta tinha mais de uma resposta certa, Gideon”. “‘Vamos conversar sobre isso amanhã’ seria uma delas. ‘Vamos deixar pra falar disso no fim de semana’ seria outra. Até um ‘Não estou pronto para conversar sobre isso’ seria aceitável. Mas você tem a cara de pau de fingir que não sabe do que estou falando e de me tratar como uma imbecil”. Esbraveja. Não estou entendendo. Quero poupá-la do meu sofrimento, uma vez que ela teve de me revelar seus traumas e está vulnerável. “Meu anjo...” tento esclarecer as coisas, mas ela me corta. “Nem comece”. Pôs as mãos na cintura. “Você acha que foi fácil contar a você sobre meu passado? Acha que foi tranquilo me abrir daquele jeito e pôr tanta sujeira pra fora? Teria sido mais fácil abrir mão de você e namorar alguém menos famoso. Corri esse risco porque quero ficar com você. Um dia, quem sabe, você queira fazer o mesmo”. E sai do quarto como um foguete. Merda! Merda! Merda! Ela está fugindo de novo! “Eva! Que droga, Eva, volte aqui. Qual é a sua?” Estou tentando evitar uma crise entre nós, mas Eva não me deixa explicar. Mais uma vez, ela foge de mim. Mais uma vez eu falho. Porque diabos que sempre tenho que perdê-la? Mesmo quando tento fazer a coisa certa, ela corre. Chego à sala, completamente nu, mas as portas do elevador já estão quase se fechando quando a vejo. A dor que sinto é indescritível. Ela está apenas de robe, segurando sua bolsa. Mantenho minha face impassível para que ela não veja o quanto me mata vê-la partir. Quando percebo que novamente estou sozinho, uma sensação de angustiante se instala. Me encaminho para meu quarto cabisbaixo e derrotado, mas estanco. As chaves de sua casa estão aqui. Merda! Como Eva vai entrar em casa? Ela está sozinha, triste, desolada e vestindo apenas um robe!


127 Pego meu celular e procuro o número de Cary, rezando para ele estar em casa. O telefone toca três vezes e uma voz sonolenta atende. “Alô”. “Cary, aqui é Gideon. Estou ligando para avisar que Eva está indo para casa, mas deixou suas chaves comigo. Queria garantir que estivesse acordado para recebê-la”. “Aconteceu alguma coisa grave com ela?” pergunta com ansiedade na voz. “Não, ela está bem”, respiro resignado. “Apenas esteja acordado quando ela chegar”. “O que você fez com ela?” seu tom agora é acusatório. “Boa noite, Cary”. “Eu sabia que você a machucaria cedo ou tarde. Talvez seja melhor se afastar e deixá-la em paz”. E desliga. Apesar de não aceitar viver longe de Eva, no fundo sei que ele está certo. Eu só a faço sofrer, mesmo quando acho que estou fazendo tudo certo. Sou um desastre de homem, mesmo! Por isso não consigo manter ninguém. Se minha própria mãe não acreditou em mim, porque Eva acreditaria? Acendo as luzes e fito minha cama. Nenhuma mulher havia sequer deitado aqui. Somente Eva. Meus olhos analisam cada detalhe da decoração, a mobília, os objetos, a cor das paredes. É como se eu não reconhecesse mais onde estou. Eva mudou tudo por aqui. Sua presença, sua graça, seu jeito teimoso e intempestivo e sua sensualidade já fazem parte do meu mundo. Desabo na cama e choro descontroladamente, pondo para fora as frustrações causadas pela minha desgraça. A única pessoa que me ama me dá uma chance e sou incapaz de dar-lhe algo tão simples. Algo que nunca foi requerido de mim, embora. Mas agora, nada importa. Deixei de ter um lar no momento em que ela se foi.


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Capítulo 11 O inferno de Gideon Desperto da sensação de torpor com o toque do meu celular. Há uma mensagem de Eva: *Cheguei sã e salva. Espero que consiga voltar a dormir* Sinto um alívio enorme, mas ainda não é suficiente. Eu quero ligar para ela, ouvir sua voz, me desculpar, tentar esclarecer as coisas. Tento diversas vezes o celular, mas ela não atende, o telefone de casa está desligado. Droga! Não me admira, ela deve estar apavorada e enojada do que viu. Talvez nunca mais queira ficar comigo. Não é a toa que eu estou na merda e sozinho, quem iria querer a companhia de alguém que vive metendo os pés pelas mãos? Eu sou um grande imbecil. Mas não pretendo desistir. Talvez Eva precise apenas de um tempo para se recuperar, para tentar assimilar tudo. Quando a poeira abaixar, podemos conversar sobre o que houve e tentar resolver. Amanhã teremos de nos encontrar de qualquer forma por causa da reunião sobre a campanha publicitária da Kingsman. Vou aproveitar para convencê-la a ir embora comigo. Vou fazê-la me querer de novo. Fico me revirando na cama, mas o sono está bem longe. Meus olhos estão inchados e vermelhos. Minha garganta está queimando e meus lábios estão secos. Cada músculo do meu corpo está dolorido, como se eu tivesse acabado de levar a maior surra do século. Ainda consigo ver o olhar de medo e repulsa de Eva quando despertei, lembro a decepção estampada em seu rosto antes das portas do elevador se fecharem. E meu coração se comprime cada vez mais dentro do peito, fazendo-o doer tanto que mal consigo respirar. E em meio a essa agitação acabo à beira da inconsciência, que trava uma batalha feroz com a consciência. Enquanto a primeira está empenhada em me anestesiar do sofrimento, a outra me puxa de volta à realidade para deixar claro que Eva não está aqui. _____//_____ 1º dia – Quinta feira Entro no escritório sem dar uma palavra a ninguém. Minha máscara impassível está mais assustadora do que nunca. Scott nota isso e não dá um pio. “Agenda em 10 minutos”, digo. “Sim, senhor”. Tranco-me no escritório e vou direto para frente do monitor. Preciso ver como ela está, preciso saber o que se passa em sua mente. Às 8h50 Eva adentra o Crossfire. Sua linguagem


129 corporal me diz que está cansada: o rosto voltado para o chão e os ombros encurvados. Os passos parecem mecânicos, desempenhando apenas sua função óbvia, lentamente. Ela pega um dos elevadores e fica bem perto da câmera, permitindo-me ter um vislumbre melhor dela. Seus olhos parecem desfocados, seu rosto sem vida e, por mais que esteja um calor infernal do lado de fora, ela está usando um cardigã e um cachecol. O clima no prédio é frio mesmo, mas numa temperatura amena, então não há necessidade de tanto. Porque será? Talvez esteja doente? Sua pele com certeza está mais pálida que o normal apesar da maquiagem. Estou em pedaços por ela. Em um piscar de olhos, meu anjo some do meu campo de visão e me sinto vazio novamente. Isso é tão doloroso! E saber que eu não só tenho algo a ver com sua tristeza como sou a verdadeira causa dela, torna tudo ainda pior. Olho para a moldura com sua foto em minha mesa. Seu gesto puro e sincero tocou meu coração profundamente. Ninguém nunca se importou comigo assim e eu a magoei de diversas formas. Tenho que consertar isso. Chamo Scott para passar os compromissos de hoje. Tenho uma reunião daqui a meia hora com Ben (o que será extremamente conveniente), uma teleconferência após o almoço e, em seguida a reunião com Mark e Eva. Desse compromisso eu faço questão. “Remarque a teleconferência, Scott. E me ligue com o escritório de Richard Stanton”. “Sim, senhor”. Durante o trajeto para o trabalho, fiquei pensando sobre o que Eva me contou de seu passado. Agora as informações se encaixam e tudo faz sentido, principalmente sobre as informações incompletas no dossiê. Como eu havia suspeitado, Stanton é responsável por todo esse sigilo que cerca a vida dela. Agora a superproteção de Monica é perfeitamente compreensível. Ela deve se culpar até hoje pelo que aconteceu. Sinto-me aliviado por Eva ter tido o apoio de sua mãe, que não titubeou em acreditar nela e até saiu de um casamento sólido e tranquilo; ela lutou para que a filha se sentisse segura novamente e isso não tem preço. Mais uma vez, sou grato a Monica, especialmente porque sei como é não poder contar com o amor, carinho e apoio da pessoa de quem você obviamente espera por tudo isso, de quem você aparentemente pode confiar. “Senhor Cross”, chama Scott pelo interfone. “A secretária do senhor Stanton está na linha”. “Pode passar”. “Escritório de Richard Stanton, Beth Saucer falando”. Salda uma voz jovial e agradável. “Bom dia, aqui é Gideon Cross. Gostaria de falar diretamente com Richard Stanton, por favor”. Sou educado e direto. “Claro, um momento, senhor Cross. Vou verificar se o senhor Stanton está disponível”. Responde em um tom profissional.


130 Em menos de dois minutos a voz de Stanton ressoa no telefone, forte e imponente. “Gideon, que surpresa. Como vai?”. “Olá senhor Stanton. Estou bem obrigado. Presumo que compartilhe do mesmo ânimo que eu?” “Primeiro, chame-me de Richard”, diz descontraído. “Segundo, sim, compartilhamos do mesmo ânimo. A que devo a honra?” “Bem, eu gostaria de tratar de um assunto que interessa a nós dois: Eva”. “Aconteceu alguma coisa?” sua voz agora é pura preocupação. “Não, ela está muito bem. Apenas gostaria de falar com você um pouquinho sobre ela, se não se importa. É bem pessoal, tenho certa urgência e você é o único que pode me ajudar. Podemos almoçar juntos hoje?” “Tenho tempo para qualquer coisa que esteja relacionada à Eva. Que tal no meu escritório ao meio-dia?”. “Perfeito”. “Ótimo. Estarei esperando”. “Muito obrigado Richard, até breve”. “Até”. Minha intenção é conversar com ele sobre Nathan. Quero saber de tudo o que foi feito para evitar que a história vazasse para imprensa, acordos de sigilo e arquivos do processo. Preciso saber de cada detalhe dessa história, bem como tomar providências em relação à segurança dela, já que o bastardo ainda estava à solta. Mas tudo isso sem Eva saber, claro. O escritório dele é um lugar perfeito, pois assim não levantaríamos suspeitas ou correríamos o risco de esbarrar com ela a qualquer minuto no Crossfire. E o mais importante: o tema da conversa é sigiloso, totalmente inapropriado para lugares públicos. Pelo interfone, Scott anuncia Ben. “Scott, eu não estou para mais ninguém, apenas para Eva. Não importa o que tiver que interromper, eu estarei disponível apenas para ela. E esteja disponível para tudo o que ela precisar, seja o que for”. “Absolutamente, senhor Cross”. “Pode mandá-lo entrar”. Dou prioridade essa reunião não só porque, dessa vez, ela será bem conveniente, mas pelo fato de que, a cada quinze dias, ele me passa relatórios detalhados de vigilância e tráfegos de informação, além da verificação das fitas de segurança entre outros pormenores. Eu sou muito


131 atencioso no quesito segurança. Não. Sou paranoico. Muito mesmo. Mas não dou à mínima. O prédio é meu. “Bom dia senhor Cross”, cumprimenta Ben com sua voz grave. “Bom dia, Ben. Sente-se, vamos começar”. Após analisar tudo minuciosamente e ver que tudo está saindo conforme o planejado começo a tratar do assunto mais importante no momento: cuidar da segurança de Eva. “Ben, gostaria que você fizesse uma pesquisa completa sobre o passado de Nathan Baker. Quero todos os detalhes da vida desse homem, e que o rastreie. Preciso acompanhar cada passo dele”. “Sim, senhor. Temos um motivo em especial para isso?” “A proteção de Eva Tramell”. A frase foi curta e incisiva, mas Ben não se surpreende. Ele é o único que sabe que eu monitoro Eva, além de conhecer meu lado controlador neurótico. Ele não faz nenhum questionamento e me olha com atenção. “Ele representa um perigo para ela”, continuo. “Preciso mantê-lo sob controle. Até termos certeza de que iremos encontrá-lo, quero uma equipe de segurança a postos para acompanhar Eva a todo o lugar”. “A equipe atual cometeu algum erro?”, perguntou com o maxilar um pouco trincado. Ele odeia incompetência tanto quanto eu. Por isso ele trabalha para mim. “Não, mas preciso de homens altamente treinados e experientes. Como Chad é o melhor da equipe atual, pode mantê-lo”. “Claro. Qual o protocolo, senhor?” “Preciso de mais dois seguranças. Você deve instruí-los, mas, o mais importante é que eles sejam discretos e silenciosos. Eva sequer pode imaginar que está sendo seguida. Quero atualizações a cada hora via mensagem de texto e, se caso alguém que não seja Richard e Monica Stanton, Victor Reyes, Cary Taylor, Mark Garrity ou qualquer outro colega de trabalho se aproximar dela, devo ser contatado imediatamente”. Passo-lhe fichas com as fotos de cada um. “Entendido”. “Preciso que a equipe esteja preparada a partir de hoje. E me mantenha informado sobre Nathan. Qualquer informação é extremamente valiosa. Envie-me tudo o que achar sobre ele via email”. “Perfeitamente. Começarei a investigá-lo ainda hoje. Quanto à equipe, fique tranquilo, senhor”.


132 “Confio em você, Ben. Não estou preocupado. Pode me mandar um dossiê de Nathan Barker ainda hoje?”. “No que depender de mim, já está feito. Algo mais, senhor?” “Não no momento. Avise quando estiver tudo pronto”. “Sim, senhor. Com licença”. Assim que Ben sai, Scott interfona. “Senhor Cross, a senhorita Magdalene Perez o aguarda na recepção”. Que merda! O que diabos ela faz aqui? E porque foi anunciada? Eu dei uma ordem, não dei? Irritação irradia de mim. “Scott, eu não estou para ninguém a não ser para Eva”. Lembro-o. “Eu sei senhor, mas foi a própria senhorita Tramell quem pediu para trazer a senhorita Perez”. Replica em sua calma habitual. Eva? Ela entrou em contato? Meu Deus! Espere um minuto... Como assim ela pediu...? “Scott, essa é uma boa hora para você fazer sentido”. “A senhorita Tramell estava se sentindo incomodada com a presença da senhorita Perez, portanto, me pediu para trazê-la até aqui”. Que saco! De novo! Suspiro alto. “Porque não me chamou? Eu pensei que havia sido claro quando disse que, mesmo em reunião, eu falaria com ela”, atiro. “Desculpe senhor Cross, eu até disse isso, mas ela não pediu para falar com o senhor”. Ouvir isso foi como ganhar um belo soco no estômago, que só está aliviando em parte pela raiva de ter Maggie se intrometendo em minha vida novamente. “Mande-a entrar”. “Agora mesmo, senhor”. Uma Magdalene pálida, assustada e extremamente envergonhada adentra meu escritório. Meu rosto impassível é tomado por uma súbita raiva que tenho que me esforçar enormemente para não ser um ogro. “O que diabos você pensa que está fazendo?” pergunto, muito calmamente. “Gideon, eu... eu só queria... conversar com ela. Pedir desculpas pessoalmente. Ainda me sinto péssima pelo que aconteceu”. Respiro fundo tentando me controlar. “Maggie, se você realmente quiser que tudo fique bem, mantenha distância de Eva, por favor. Ela já deixou bem claro que não quer te ver. Você não tem o direito de vir importuná-la no trabalho! Esse assunto não é da sua conta”.


133 “Eu sei e respeito isso. Eu só não quero que ela tenha uma impressão errada de mim. E também, só estou tentando me aproximar porque sou sua amiga e gostaria que nossa relação voltasse a ser o que era. Principalmente agora que você está” sua voz sai fraca “... comprometido”. A palavra reverbera em meus ouvidos e meu coração aperta mais um pouco. Estou comprometido com Eva, mas já não sei se ela pensa o mesmo sobre mim. Sei como deve estar sendo difícil para Maggie. Apesar da nossa amizade de longa data, ela nunca escondeu o que sente por mim. “Bom, dê-lhe um tempo e me deixe falar com ela, sim? Não force uma aproximação. Sua atitude foi muito inconveniente”. “Eu entendo. Sinto muito”. Murmura e abaixa a cabeça. “Maggie, estou ficando cansado de ter que de desculpar a todo o momento. Já disse e repito: Eva não é assunto seu”. “Sim, eu vou deixá-los em paz. Não quero causar desconforto a ninguém, ou tampouco estragar a relação de vocês”. “Isso é impossível”, digo com firmeza. “Mas agradeceria se você cooperasse”. “Claro. Bom, eu já vou. Não se preocupe, vou manter distância”. “Bom”. “Continuamos amigos?” pergunta esperançosa. “Nós nunca deixamos de ser e você sabe que pode sempre dizer o que quiser, sempre tivemos essa liberdade um com o outro. Mas que fique claro: você é minha amiga, não minha mãe. Você é jovem demais para criar cabelos brancos e já faz tempo que saí da puberdade!”. Ela ri sem humor. “Tem razão”. “Claro que tenho. Sou Gideon Cross e sempre tenho razão”. Brinco em tom presunçoso, para quebrar o clima pesado. Ela revira os olhos. “Ok, Sr. ‘Bom-demais-pro-seu-próprio-bem’, é melhor eu ir embora antes de ser engolida pelo seu ego”. Solto uma risada e ela me acompanha. Ficamos assim por um longo tempo. “Ei”, interrompe, como se lembrasse de algo. “Christopher disse que viria na hora do almoço para entregar-lhe os convites da festa de domingo. Parece que sua mãe está curiosíssima para conhecer Eva”. Ah que ótimo, meu dia está uma porcaria e esse merdinha vem para tornar tudo pior. Se bem que não faz diferença já que não estarei aqui. E porque Elizabeth Vidal está insistindo nessa farsa de família patética? Não vou estragar a melhor coisa da minha vida juntando-a com a pior.


134 E pisar naquela casa amaldiçoada é algo que eu nunca mais faria novamente. Só de pensar nisso, sinto arrepios. Aquele lugar foi meu inferno eu esperei por anos até poder finalmente sumir de lá. “Você sabe eu não vou, certo?” “Sei, mas não custa nada avisar que ele vai aparecer. Sei como você fica quando ele está por perto...”. “Eu nem vou recebê-lo”, corto bruscamente. Não gosto de entrar nesse assunto. “Vou estar em um almoço de negócios”. “Ótimo! E o mundo está a salvo de uma hecatombe nuclear!”. Diz bem humorada. “Obrigado por me avisar”. Eu sorrio. “Sem problemas”, ela encaminhando-se para a porta. “Até mais”. “Até”. Assim que ela sai, verifico as horas. Faltam vinte minutos para o meio dia. Recolho minhas chaves, carteira e celular e me encaminho para os elevadores. O prédio onde Stanton trabalha, e do qual é proprietário, não é longe daqui. Graças à chave mestra chego rapidamente ao saguão e me dirijo ao Bentley. _____//_____ A conversa com Richard Stanton foi regada a desconforto e tensão, apesar de a comida estar divina. Ele ficou assustadíssimo quando contei que Eva havia me confessado o abuso que sofreu e se surpreendeu, já que era um assunto no qual ela nunca tocava. Quando comecei a pedir mais informações, como cópias de todos os acordos, dos depoimentos e da denúncia do conselho tutelar, ele não gostou nada, afinal, tratava-se de remexer em uma história horrível e traumática tanto para Eva quanto para Monica. Seu desconforto é até compreensível dado seu esforço em esconder tudo dos cães farejadores dos tabloides e blogs de fofoca, mas tenho um argumento mais que válido para isso. “Como namorado de Eva, tenho direito de saber o que a aflige e a obrigação de protegêla”, argumentei. Não sei se Eva ainda quer que eu ocupe esse lugar em sua vida, mas claro que isso não precisa vira tona no momento, exatamente porque nada mudaria: mesmo distante, eu tomaria conta dela. Após certa relutância, Stanton acabou me fornecendo tudo. Contei-lhe sobre o esquema de segurança que montei para Eva, e pedi sigilo, no que concordou. Mas não abriu mão de Clancy, seu segurança pessoal. Ele foi taxativo.


135 “Ele levará Eva onde quiser e continuará indo buscá-la na academia. Entendo que quer protegê-la, mas ela é como uma filha para mim e afastar Clancy não é nem de longe uma possibilidade”. Concordei desde que ele e Angus mantivessem contato sempre, bem como prometi que o manteria informado sobre o paradeiro de Nathan. Combinamos alguns outros detalhes, apesar de Stanton continuar na defensiva e nada feliz com o fato de eu estar tomando o controle de tudo. Homens poderosos nunca dão o braço a torcer, jamais se inclinam. No entanto isso não me preocupou: estamos falando da minha mulher, do meu anjo e irei protegê-la com a minha vida se preciso for. Saio do escritório de Stanton me sentindo mais leve. Ao entrar no carro, olho para o visor do meu celular na esperança de haver uma mensagem de Eva. Pelo contrário, a mensagem é da equipe de segurança, enviada na hora do almoço. *A Srta. Tramell acabou de sair na companhia do Sr. Christopher Vidal* O QUÊ? Esse merdinha quer morrer por acaso? Eu avisei a ele que não o queria perto de Eva e ele a leva para almoçar? Filho da puta, desgraçado! “Angus, acelere”. Ordeno “Sim, senhor”. Mal chego ao escritório e recebo outra mensagem. *Srta. Tramell acaba de chegar do almoço juntamente com o senhor Christopher Vidal. Estão na porta do Crossfire nesse instante* Ligo o monitor e a câmera capta os dois conversando animadamente na calçada. Pego o telefone e ligo para o ramal da portaria. “Portaria, Josh Lien falando”. “Josh, aqui é Cross. Meu irmão, Christopher Vidal está na porta do prédio. Assim que a mulher loira sair de perto dele, diga que suba ao meu escritório imediatamente. Seja discreto e não deixe que ela veja”. “Sim, senhor”. Assisto a tudo no monitor. Eva entra e Christopher faz seu caminho de volta, porém é abordado por Josh. Olhando as câmeras dos elevadores e, para meu alívio, Eva já está subindo para a agência. Minutos depois estou frente a frente com aquele cara de pau. Ele está assustado, como deve ser. “O que você pensou que estava fazendo?” esbravejei. “Eu estava apenas fazendo um favor! Minha mãe pediu para convidar você, Eva e Cary para a festa de domingo...”.


136 “E o que a faz pensar que eu cogitaria essa possibilidade?” “Bem, Eva aceitou, então...”. “Pois ela não vai!” “Ah, claro! Ela é como uma propriedade sua. Não tem vontade própria”. Debocha. “Cala a boca seu merdinha! Escuta bem: eu quero você LONGE da minha namorada, entendeu?” “O que faz você pensar que eu me afastaria?” diz dando seu risinho cínico. Essa atitude me irrita até a merda e antes que eu perceba meu punho cerrado acerta em cheio a parede a centímetros do rosto de Christopher. Ele se assusta para valer. “Caralho!” Ele grita. “Ficou louco?” “Louco?” pergunto sarcasticamente. “Isso não chegou nem perto do que quero fazer com você! E considere-se sortudo por eu não ter acertado sua fuça. Agora suma da minha frente, seu imbecil, e mantenha distância de Eva!” grito. Ele sai atordoado e pálido. Fico satisfeito com o resultado. Agora faltam quinze minutos para as três. Volto a me ajeitar em frente ao monitor apenas aguardando Eva e Mark embarcarem no elevador. Ela ainda não havia tentado entrar em contato comigo e isso me deixou muito chateado. Meu Deus que falta essa mulher me faz! Os minutos passam lentamente até que as portas de alumínio se abrem revelando a figura de Garrity... Sozinho? Não! Onde está o meu anjo? Porque ela não virá? Merda, eu não esperava por isso! A pontada em meu peito é tão forte que sou obrigado a massageá-lo. Eva não vem, não quer me ver, está com nojo de mim. E como não estaria? Bom, talvez ela precise de um tempo maior, e é isso que lhe darei. Mesmo relutante, decido deixá-la tomar a iniciativa para que retorne quando estiver preparada. Não vou forçar nada dessa vez. Não quero assustá-la ainda mais. “Senhor Cross”, Scott chama pelo interfone. “O senhor Garrity está lhe aguardando na sala de reuniões”. “Estarei lá em dois minutos”. Respondo rapidamente. Pego o molho de chaves de Eva e acrescento as chaves do meu apartamento. Ponho dentro de um envelope com uma nota: OBRIGADO POR TUDO, EVA. G. Tento me controlar para não descer ao 20º andar, me ajoelhar diante dela e implorar para me aceitar de volta. Não me importaria de me sujeitar a isso. Ela é a única pela qual eu me


137 rastejaria sem medo de parecer patético. Eu a amo mais do que qualquer pessoa, mais do que a mim mesmo. E as chaves passarão a mensagem de que a quero de volta, que ela poderá me procurar a hora que quiser. Encaminho-me para a sala de reuniões onde Garrity e as executivas da Kingsman me aguardam. Cumprimento a todos com um rápido “bom dia” e damos inicio à reunião. Tenho que admitir que eu não podia ter escolhido ninguém melhor para essa campanha. A apresentação está impecável e Mark está correspondendo a todas as minhas exigentes expectativas. Ele está se mostrando preparado e seguro. Suas palavras conseguem me prender do começo ao fim, talvez porque ouvi-lo falar daquilo que me aproximou dc Eva. É impossível dissociar sua imagem da de seu chefe. Todas as vezes que eu beber essa vodca, que eu vê-la estampada em outdoors, revistas ou aparecendo em comerciais de TV, me lembrarei do meu anjo. Tento não me tornar uma presença ausente, afinal o trabalho é uma de minhas prioridades, um império não caminha para frente se seu líder não tiver foco, mas o sofrimento pela distância de Eva está me corroendo. Após vinte longos minutos Garrity finaliza sua apresentação deixando a mim e às duas mulheres extremamente satisfeitos. “Senhor Garrity, tudo está excelente. Não há nada para não gostar. Meus parabéns”, elogia Ellen. “Fiquei muito surpresa e impressionada. Sua campanha está enxuta, bonita e atraente”. Concorda Abgail. Então todos os olhos se voltam para mim. Claro que meu alvará é o mais importante e é o que irá definir se essa campanha será aceita e ou se irá para o lixo. “O seu trabalho me deixou muito satisfeito, Garrity”, começo em um tom de voz grave, porém educado. “Você foi coerente com sua proposta e não se desviou ou pareceu reticente. Você transpira confiança e acredita no potencial de seu trabalho. E foi exatamente isso que me prendeu. Eu poderia fingir prestar a atenção, ficar mexendo no celular, olhar para o relógio, bocejar de tédio ou apenas sair da sala, mas nada disso aconteceu. Considere-se sortudo, mas acima de tudo, talentoso. A conta é sua”. Seu sorriso cheio de dentes brancos e brilhantes contrasta consideravelmente com seu tom de pele escuro. “Muito obrigado pela oportunidade, senhor Cross”, respondeu após alguns segundos. “Prometo que não irá se arrepender”. “Eu tenho certeza que não”. Digo sorrindo discretamente. “Bom, acho que terminamos”. E me levanto da cadeira ajeitando o terno.


138 Após cumprimentarmos uns aos outros, peço a Mark alguns minutos a sós e as duas mulheres deixam a sala. Ele me olha surpreso, mas logo se recompõe. “Bom, sem querer parecer intrometido ou indiscreto, mas creio que o que tenha para falar comigo tenha a ver com Eva”. “Sim”. Respondo sem pestanejar. “Gostaria de lhe pedir para entregar isso a ela”. E coloco o envelope em suas mãos. “Claro, senhor Cross. Sem problemas”. “Excelente. Muito obrigado”. “Não tem de quê”. Após acompanhar Mark até o elevador, volto para meu escritório. A essa hora, Garrity deve estar entregando as chaves a Eva. Será que ela irá reparar que deixei copias das minhas? O que será que ela está pensando? Ela irá entrar em contato? Será que... O apito do meu email interrompe meus devaneios. Stanton acaba de me enviar as cópias digitais de toda a documentação: a denúncia feita ao conselho tutelar e os contratos de confidencialidade. Analiso-os com cuidado e faço uma lista dos nomes que constam nos acordos. Irei levantar dados de cada um deles mais tarde. Então abro outro arquivo, que por alguma razão, está criptografado. Após algumas tentativas de conversão consigo abri-lo e então entendo o porquê da proteção. É o laudo médico dos exames feitos em Eva. Leio as palavras aborto, cicatrizes vaginais, anais, exatamente como ela havia dito. Um nó se forma em minha garganta. Meu anjo sofreu tanto em uma idade em que ela deveria apenas se preocupar em sair com suas amigas, fazer compras e se divertir. Era uma menina, uma criança que durante quatro anos foi torturada por um maníaco desgraçado e doente, que merecia queimar eternamente no inferno. Ela perdeu o bebê e, mesmo sabendo de seu sofrimento e que meu pensamento soa rude e insensível, não posso deixar de agradecer aos céus por essa criança ter morrido, assim foi poupada do desgosto de ter que ser fruto de uma violência grotesca e também de ter um monstro como pai. Olho o visor do meu celular e nem sinal de Eva. Acho que não deve ter percebido, ou, se percebeu, preferiu ignorar. Quero acreditar na primeira opção. O monitor apita avisando que o computador de Eva acaba de ser desligado. Minutos depois ela entra no elevador, ainda mais cabisbaixa e abatida do que quando chegou. Sei que está sofrendo tanto quanto eu, mas também sei que o asco que sente por ter me visto naquela situação humilhante deve ser ainda maior que tudo isso. Tomara que isso acabe logo. Preciso tê-la ao meu lado novamente. Não poder fala com ela, tocá-la, senti-la está me matando.


139 Assim que a vejo sair do prédio, pego minhas coisas, desligo o monitor e me encaminho para os elevadores. Tudo o que eu preciso agora é de uma sessão pesada de MMA com meu treinador. _____//_____ Tomo uma chuveirada para tirar o suor do corpo. O treino me ajudou a descarregar um pouco a minha frustração. Assim que fecho a torneira, o barulho da água cessa e ouço claramente um barulho vindo de meu celular. É uma nova mensagem. Meu coração acelera e antes que eu possa parar para pensar vou correndo para quarto nu e ensopado do banho, deixando a toalha cair no meio do trajeto. Alcanço o celular e vejo que é da equipe de segurança. *O motorista de Stanton está aguardando por Eva do lado de fora da academia. Ela sairá a qualquer momento* Hoje Eva e Monica farão uma consulta conjunta com o Dr. Petersen. Pego a toalha do chão, me seco rapidamente, visto jeans e camisa e ligo para Angus. “Retire o carro da garagem. Sairemos agora”. “Sim, senhor Cross”. Em menos de cinco minutos estamos na rua. Rastreio o telefone de Eva e descubro que estão saindo nesse exato momento da academia. Dou a Angus as coordenas e alcançamos o carro, e o seguimos discretamente. Quando paramos na rua, do lado oposto, Eva e sua mãe já tinham entrado. E nem sequer desconfiaram de que estavam sendo seguidas, nem mesmo Clancy suspeitou. Angus pode ser bem silencioso quando quer. O tempo passa lentamente. Os ponteiros do meu relógio de pulso parecem não se mover e me sinto exausto. Deus! Como sou azarado! Estou sempre decepcionando a única pessoa que realmente me enxergou além da aparência, além do status quo, além do dinheiro. Não quero errar com ela novamente, tenho que provar que posso lhe fazer bem, que somos perfeitos juntos e que separar-me dela está fora de cogitação. Para começar essa nova fase, nada mais justo que atender seu pedido: fazer a bendita terapia. Eu nunca fiz isso antes, vai ser interessante ser analisado, embora desconfortável, mas por Eva eu faço qualquer coisa. Desde que ela esteja comigo, nada mais importa. Mãe e filha saem do consultório parecendo abatidas e entram no carro. Mesmo sendo impedido de vê-la pelos vidros escuros sei de alguma forma, que os olhos do meu anjo estão sobre mim. Eu sou capaz de sentir todas as reações de Eva sem necessariamente olhar para ela. Meu corpo inteiro reage a sua presença, ao seu olhar.


140 Assim que o carro se afasta saio do Bentley em direção ao consultório. A baía da recepção está vazia. A porta ao lado se abre revelando a figura de um senhor alto de cabelos brancos. Ele me fita momentaneamente surpreso enquanto fecha a porta. “Desculpe, mas o expediente terminou”. Diz com uma voz suave e educada. “Dr. Petersen, preciso muito falar com o senhor. É um assunto rápido e urgente. Muito prazer, Gideon Cross”. Apresento-me lhe estendo a mão. Seus olhos se arregalam ao ouvir meu nome e suas sobrancelhas se arqueiam. “O prazer é todo meu senhor Cross”, ele retribui meu comprimento, ainda incrédulo. “Bom, eu vim porque estou interessado em fazer terapia, e o senhor foi muito bem recomendado”. Esse assunto me deixa muito desconfortável. Suas sobrancelhas se arqueiam ainda mais. “Bom, acredito que seja possível, claro. Posso saber de quem partiu a recomendação?”. “Eva Tramell”, respondo e meu corpo treme pela simples menção de seu nome. “Minha namorada”. “Sim, claro! Eu vi fotos de vocês dois... bom meus parabéns, é uma jovem adorável”. “Eu sei, muito obrigado”. “Não sabia que tinha vindo com ela”. “Na verdade, ela não sabe que estou aqui”. Seu olhar percorre meu semblante, analítico e perspicaz. “Entendo”, murmura. “Bom, para quando quer marcar a primeira consulta?” “Amanhã a tarde, se possível”. “Claro, que tal às quatro?”. “Combinado. Até amanhã, doutor. Tenha uma boa noite”. “Você também”. Ao chegar em casa, vou direto para o escritório verificar minha caixa de email. Ben me enviou os documentos sobre Nathan. Faço o download e guardo tudo em uma pasta com senha. Começo a abrir os arquivos um por um: são copias da carteira de identidade, do cartão de crédito, juntamente com os extratos bancários, currículo, histórico escolar, endereços residenciais e números de telefone, laudos psiquiátricos e outras coisas. Realmente Ben se superou. Está tudo completo. Olho para a foto do indivíduo. Olhos e cabelos castanhos, pele branca e rosto comum. Nem de longe parece ser o monstro que atacou minha Eva. Ele poderia facilmente se infiltrar em meio à multidão e passar despercebido. Conforme Ben especificou no email, tanto os endereços quanto os telefones estão desatualizados. O bastardo sumiu do mapa.


141 “Eu vou te achar Nathan Barker, e você vai ter o mesmo fim daquele desgraçado, eu juro”. _____//_____ Chego ao trabalho atrasado, o que é extraordinário. Ignoro os olhares de espanto de todos e vou direto para meu escritório. Há uma montanha de papeis em minha mesa, apenas esperando serem analisados e assinados por mim. Pelo menos poderei manter minha mente ocupada. “Senhor Cross”, Scott chama pelo interfone. “A Srta. Tramell está aqui para vê-lo”. Quase caio da cadeira! Ela... Ela veio! Ela quer falar comigo. Meu Deus, eu não podia estar mais feliz. “Deixe-a entrar”. Respondo. E pela primeira vez desde que nos separamos, abro um sorriso verdadeiro. Eva adentra meu escritório com a expressão séria. Em seus olhos, o brilho de uma resolução inflexível. Meu coração bate descontroladamente, e meu peito se enche de calor. Ela está usando um vestido branco que acentua discretamente suas curvas e bate até os joelhos. Seus cabelos longos e dourados estão soltos e adornam seu belíssimo rosto de traços delicados. Ela parece o paraíso. Me levanto imediatamente. Estou morrendo de saudades. “Como vai, Gideon?” pergunta sem emoção. “Sem você? Estou uma droga. Precisamos conversar sobre...”. “Eu não vim para isso”, corta secamente. “O que aconteceu naquela noite me fez refletir sobre nossa relação e me ajudou a tomar uma decisão importante. Nós nunca vamos funcionar juntos. Eu não quero mais isso”. Meu corpo chacoalha como uma mola de aço, não pode ser! Não pode ser! Pelo amor de Deus, ela quer me matar? “Eva”, minha voz sai trêmula. “Você não quer isso, eu sei. Vamos conversar e esclarecer as coisas. Nós somos perfeitos juntos e sabe disso”. “Eu sei?”, pergunta sarcástica. “Depois daquela cena grotesca... não vejo nenhuma razão para dar continuidade a essa relação problemática, se é que podemos chamar isso de relação”. Fala com desdém. Sinto meu rosto queimar de vergonha. Ouvi-la falar daquilo com descaso é humilhante. “Por favor...”. Ela está me destruindo. “Não! Minha decisão já está tomada, eu não te quero na minha vida! E sabe o que mais?” Agora ela está gritando. “Eu era muito mais feliz antes de te conhecer! Você estragou minha vida, acabou com minha autoestima e me expôs a situações humilhantes. Eu mereço mais, muito mais!” Suas palavras são como facas cravadas no meu peito. Uma dor dilacerante queima todas as partes do meu corpo. Não posso acreditar que isso esteja acontecendo.


142 “Eva, por favor, eu posso melhorar, apenas me dê uma chance de fazer diferente, por favor, não desista de nós...”. “Eu já desisti”. Ela sentencia asperamente e sai. “Não, Eva! Espere!” e vou atrás dela. “Me deixe em paz, Gideon”. Ela corre em direção aos elevadores e eu a sigo, desesperado. “Não! Eva, eu quero você! Vamos nos dar outra chance. Eu sei que você também me quer!” Então a cena muda e estamos naquela casa horrível, e Eva está no jardim, feliz abraçada a... Christopher. Ele me dá seu sorriso irônico e lasca o maior beijo nela, bem na minha frente! De repente, minha mãe, o desgraçado que me molestou, meu pai e Corinne estão a minha volta, gargalhando, debochando de mim. Sinto que estou diminuindo e me vejo com cinco anos novamente. Todos estão mais altos que eu, mais fortes e cruéis. Estou sozinho e suas risadas macabras ecoam em minha mente. Tapo os meus ouvidos e fecho meus olhos. Parem! Parem, por favor! Não! Não! “NÃO!” Estou ofegante! PUTA QUE PARIU! Que porra de pesadelo foi esse? Todos os meus medos se uniram para me atormentar em um único sonho. Meu corpo está dolorido e suado, tenho que me esforçar para sentar. Deus, quando esse tormento vai acabar? Eu não aguento mais. Meus olhos ardem e as lágrimas correm pelo meu rosto sem permissão. Uma dor excruciante, quase física, me domina e cedo ao sofrimento. Não sei quanto tempo fiquei chorando, mas por fim eu já nem tinha mais lágrimas. Olho no visor do celular. São quatro e meia da manhã. Tomo um banho demorado, deixando a água cair pelos meus músculos tensionados. Esse sonho me deixou ainda mais apavorado e temeroso. Será que Eva desistirá de mim? De nós? A simples ideia de outro homem tê-la me deixa doente. Eu não poderia suportar isso. E pra completar ainda tinha o merdinha pondo suas mãos imundas nela, tomando seus lábios... A imagem dos dois se beijando em meu sonho se aviva em minha mente. Sinto uma náusea tão forte que saio em disparada para o sanitário e começo a vomitar água, já que não comi nada o dia todo. E assim fico até não ter mais nada para sair. Meus joelhos cedem. Escoro minha cabeça nos braços e fecho os olhos, tentando recuperar o fôlego. Sinto que tudo está girando ao meu redor. Quando me sinto firme o bastante, me apoio na pia para me levantar. _____//_____ 2º dia – Sexta feira Estou mais desanimado do que nunca. A cama me parece grande de mais sem o corpo minúsculo de Eva ocupando o lado esquerdo. Estou fazendo um esforço hercúleo para não procurá-la. Passei o resto da madrugada tentando trabalhar. Se por um lado minha vida pessoal


143 virou um purgatório, por outro minha vida profissional anda de vento em poupa. Ainda assim, nada parece certo se Eva e eu não estamos bem. Às seis da manhã voltei para a cama e fiquei apenas olhando para meu celular como um cachorro olha para o frango assado girando dentro da máquina, achando que ela poderia me ligar a qualquer momento, ou mandar uma mensagem, mas nada aconteceu. Era como se eu não existisse. Eva está caminhando, respirando, sorrindo, vivendo... Sem mim. Só de pensar que ela poderia estar mais feliz sem mim sinto uma tontura nauseante; meu corpo sempre saudável fica um caco quando Eva se afasta de mim. É como se o funcionamento do meu organismo dependesse única e exclusivamente dela. Eu sou um escravo de seus desejos, estou completamente prostrado aos pés dessa mulher. Seu feitiço é forte, poderoso e não tem como lutar contra ele. Eva não faz ideia do poder que tem sobre mim. Eu praticamente como na sua mão! Esse sentimento de perda está me rasgando em mil pedaços e mal estou me aguentando sobre as pernas. Além disso, o pesadelo de ontem me deixou muito abalado, reforçando minhas inseguranças. Não estou em condição de ir trabalhar hoje, e isso nunca me aconteceu. Ligo para o escritório. “Escritório de Gideon Cross, Scott Harris falando”. “Scott, esvazie minha agenda”, procuro manter minha voz dura e impassível. “Eu não irei à empresa hoje”. Seguem-se alguns segundos de silêncio do outro lado da linha. Aposto que está se perguntando o porquê, pois nunca ausentei do trabalho, salvo quando tinha que viajar. “Claro senhor”, responde com um resquício de surpresa na voz, embora não comente nada. “Algo mais?”. “Envie-me por email tudo o que precisa de minha aprovação e se precisar me contatar por algum imprevisto, ligue-me”. “Perfeitamente”. Desligo o telefone e me obrigo a levantar para, ao menos, tomar um banho. Escoro minhas mãos nos azulejos, abaixo minha cabeça e deixo a água quente cai livre em meu corpo. Fico assim por vários minutos, tentando relaxar, mas não adianta muito. Vou ter que tomar medidas drásticas. Tomo um banho rápido, me seco, visto uma calça de moletom cinza e vou até a cozinha pegar uma garrafa de uísque e um copo. Dou o primeiro gole e sinto a bem vinda queimação em minha garganta, mas que em nada alivia a dor em meu peito. Vou para o escritório para tentar me ocupar com o trabalho novamente. Fazer o que eu faço exige alto grau


144 de atenção, afinal tudo pode mudar de uma hora para outra. Clico em um relatório que me foi enviado recentemente, mas o que se abre na tela é outra coisa: a foto de nós dois nos beijando na saída da CrossTrainer. Meu corpo estremece. Ver o meu anjo ali, aninhada em meus braços fazme lembrar do quanto eu estava feliz naquele momento e de como estou na merda agora. “Porque Eva, por quê?” indago em desespero, olhando para foto. “Não faz isso comigo, volta para mim. Me dê uma chance pelo amor de Deus! Eu juro que vai ser diferente. Eu posso te fazer feliz, eu quero isso!” Mas, por outro lado, penso que talvez eu seja nocivo para ela. Desde o começo ela fugiu de mim exatamente porque já sabia que poderia se machucar e queria evitar se sentir mais fragilizada do que já é. Talvez ela fosse mais feliz se eu não tivesse cruzado seu caminho. Estaria mais segura longe de mim. Fecho a porta desse pensamento de imediato, me recusando a pensar assim. É doloroso demais. Cansado demais para aturar qualquer coisa, volto para o quarto e me afogo no mar de travesseiros. A tristeza me abate sem dó. A indiferença de Eva está me matando aos poucos. _____//_____ O consultório do Dr. Petersen é simples, porém sofisticado. As paredes claras e as janelas ornamentadas dão um ar quase bucólico para o ambiente amplo e arejado, transmitindo paz. “Senhor Cross” chama a recepcionista. “O Dr. Petersen vai atendê-lo agora”. “Obrigado”, digo me levantando. Abro a porta e lá está ele, mexendo em seu tablet. Ele se levanta assim que me vê e me dá um sorriso tranquilizador. “Olá senhor Cross”, cumprimenta-me com um aperto de mão. “Como vai?” “Já tive dias melhores. E, por favor, me chame de Gideon”. “Como quiser. Sente-se”, diz apontando para a poltrona em frente a sua. “Em que posso ajudá-lo?” “Bem, eu... nunca fiz isso antes, sabe? Terapia. Isso é muito novo para mim e estou um pouco nervoso”. Tento não parecer fragilizado, mas os últimos acontecimentos atingiram os níveis mais sensíveis da minha alma, de forma a cutucar algumas feridas que, até então, eu julgava estarem curadas. Ou simplesmente fingia que estavam. “Entendo, perfeitamente. Mas não se preocupe. Estou aqui para ouvir o que você quiser falar. Ainda estamos no começo, então vamos devagar. Que tal começarmos falando sobre o que o trouxe aqui hoje?”


145 Dr. Petersen fez uma série de perguntas sobre minha infância e juventude. Em alguns momentos ele parava para anotar algumas coisas em seu tablet. Quando mencionei que nunca tive uma relação boa com minha família, e ele me perguntou o que havia levado a essa ruptura, me senti incomodado. Eu não queria falar sobre aquilo. Eu ainda não conseguia. Notando meu desconforto, ele me disse: “Gideon, entendo que não esteja pronto. Como eu disse, estou aqui para ouvir o que você quiser falar, não vou forçá-lo. No momento, estou apenas colhendo algumas informações para poder te ajudar. Fique descansado”. Combinamos de fixar as sessões as terças após o expediente. Saio do consultório ainda meio desanimado. Nada está ao meu favor no momento e parece que nada pode me fazer chacoalhar para a vida a não ser o trabalho. Uma vez em casa, tomo um banho rápido, visto uma calça de moletom e me esparramo na cama. Fico tentando analisar detalhe por detalhe nossa curta história. Ao saber do que ela passou, as coisas ficaram mais claras para mim e meu sentimento de proteção para com ela dobrou de intensidade, principalmente depois de saber que esse bastardo maldito está a solta por aí e pode tentar se reaproximar de Eva. Claro que isso não irá acontecer, não no que depender de mim. Penso em todas as coisas horríveis que a fiz passar. O resultado foi sempre o mesmo: a fuga. Ela correr de mim por ter medo, medo de ser magoada, de ser machucada por um homem com um histórico de “relacionamentos” nada honroso e com traumas profundos de infância que nunca foram de todo superados. E então descubro o nosso grande problema! Como pude ser tão burro! Ela sente medo de confiar em mim. E dei motivos de sobra para tal. Toda a vez que eu tentava acertar, eu a quebrava ainda mais por causa da minha falta de experiência em lidar com as emoções alheias. O que ela precisa é de alguém que tome conta dela, que supra suas necessidades. Desde a reunião da Kingsman, notei a forte inclinação que Eva tem de se submeter à minha autoridade. No sexo, ela se entrega sem reservas quando estou no controle, como se cada célula de seu corpo estivesse ali para me servir. Para Eva é essencial se sentir amada, acolhida. O que ela me disse no clube, sobre odiar ser tratada como objeto, foi um dos vários sinais que me foi dado. Eu quero deter o controle da nossa relação, e quero que ela se submeta, não para mandar e desmandar nela como uma cadela adestrada, mas porque ela precisa de proteção, de alguém quem seja forte por ela e tome as decisões que não seria capaz de tomar sozinha. Se eu parecer muito arrogante poderíamos combinar uma palavra de segurança e eu pisaria no freio. Algumas ideias começam a tomar forma em minha mente...


146 _____//_____ 3º dia – Sábado O dia começou corrido para mim. Os móveis, os materiais de construção e as fotos que encomendei foram entregues pela manhã. O anel chegará até o final do dia. É incrível o que se pode fazer quando se tem dinheiro. Ele não traz felicidade e eu sou a prova viva disso, mas faz pequenos milagres se concretizarem e acelera os passos no caminho para a felicidade. Estou supervisionando o trabalho dos dois pedreiros quando recebo um SMS: *A Srta. Tramell e o Sr. Taylor estão fazendo compras no Upper East Side* Fico tentado a segui-la, mas me contenho. Ainda há muito que fazer por aqui. E depois, essa separação não durará para sempre. Eva estará em meus braços o mais breve possível. Meu plano foi traçado na lógica dos fatos que me ocorreram na noite anterior. Primeiro, cuidei do anel, de design único. Ele será o símbolo do nosso compromisso, de nossas vidas entrelaçadas para sempre. Meu joalheiro ficou extasiado com o desafio, mas no fundo, grande parte dessa animação se refere à pequena fortuna que lhe dei pelo serviço. Depois liguei para a empresa de construção e encomendei três latas de tinta, pisos especiais com textura e aparência de pisos de madeira, e desenterrei minha máquina de pintura. Basta colocar a tinta dentro do recipiente específico e pressionar a alavanca que libera o conteúdo em jato. Dessa forma, a cor fica uniforme e não há risco de sujeira. Contratei dos pedreiros para fazer a troca dos pisos e eles vieram bem cedo. Comprei as roupas de cama e em seguida fui diretamente à fábrica da loja onde Eva comprou seus móveis, e escolhi peças idênticas as de seu quarto. Tudo isso por um único motivo: evitar que Eva fuja indefinidamente. Entendi que ela precisa de seus próprios momentos para pensar e botar as ideias em ordem. Estou usando o quarto em frente ao meu para criar, ou melhor, recriar seu espaço particular. Baseado na foto que tirei dela dormindo, na primeira noite que passei em seu apartamento, estou fazendo uma réplica de seu quarto. Assim, todas as vezes que Eva quiser fugir, poderá se refugiar nele e ficarei mais tranquilo por ela estar perto de mim. Aproveitei essa mesma foto para mandar fazer duas montagens, uma em tamanho normal e outra ampliada, no mesmo estilo da que Eva tinha feito para mim, incluindo o flagra do beijo na frente da academia, um retrato feito pela assessoria de imprensa do evento beneficente no qual fomos juntos e uma fotografia furtiva de nossa reconciliação depois da briga no Bryant Park. O anel foi entregue no fim do dia. O joalheiro fez um trabalho impecável em tão pouco tempo e do jeito que eu pedi. Ele tinha várias camadas em forma de cordas cobertas por cruzes cravejadas de diamantes. As cordas representam as várias facetas de Eva (enfezada, irreverente,


147 provocativa, tímida, indefesa, dependente... a lista é enorme) e as cruzes são interseções entre mim e ela, nossos dedos entrelaçados, nossas vidas juntas, atreladas uma a outra para sempre. As fotos chegaram e eu pendurei a imagem ampliada em meu escritório; a de tamanho normal eu darei a Eva, para que ela tenha uma lembrança de nós dois e entenda o quanto significa para mim. E a reprodução do quarto de Eva é uma copia fidedigna, como se eu tivesse o trazido para cá. Tudo está pronto. Só falta ela. Durante todos esses anos eu mantive uma fachada de homem controlado e distante, e isso sempre foi muito positivo para mim. Eu nunca incentivei a proximidade das pessoas, para me proteger delas, me tornar inacessível, e isso as faz me temer. Minha riqueza me permitiu construir um muro intransponível entre mim e o mundo, e eu o uso como arma tanto na vida profissional quanto na vida pessoal. Minha vida era simples e descomplicada. E aí veio... Eva. E virou meu mundo de cabeça para baixo. No começo eu queria apenas trepar com ela, mas depois um sentimento novo e desconhecido começou a crescer dentro de mim e antes de perceber, eu já estava completamente apaixonado. A noite na limusine foi o estopim para a avalanche de emoções que habitam minha alma. E agora eu me recuso a viver sem ela. Por isso darei até segunda para que entre em contato comigo, ou eu tomarei a iniciativa. _____//_____ 4º dia – Domingo Eva ainda não entrou em contato. Essa espera está acabando comigo. Os dias parecem uma tortura! Passei mais uma noite em claro, relembrando aquela noite, sua expressão de nojo, seu medo. Claro que eu a assustei, claro que ela quer distância de mim. Estou me segurando o máximo que posso para não ir atrás dela, mas está ficando difícil. Eu a quero em minha vida, em minha cama. Tê-la do meu lado todos os dias, para sempre. Será que ela não entende? Como posso fazê-la perceber isso? As chaves não surtiram o efeito desejado, então pensei em outras maneiras, incluindo um casamento, mas logo descartei. Seria um passo grande demais e Eva não está pronta. Provavelmente ela recusaria. Então me veio a ideia do anel. De repente meu celular apita. Uma tímida luz de esperança se acende dentro de mim. Porém, ao abrir a mensagem, meu coração afunda. É apenas Arnoldo. *Ciao, stronzo! Che cosa sta succedendo?* Pelo seu apelido carinhoso, prevejo-o bravo e um sorriso sem dentes escapa de meus lábios. Arnoldo conseguia ser espirituoso até num simples SMS. Eu prometi a ele que levaria Eva


148 ao Tableau One ontem para conhecê-lo. Ele deve estar uma fera comigo e com razão, tenho que ligar para me desculpar. “Gideon, suo imbecille!” “Oi Arnoldo”. Cumprimento-o. “Mamma mia! Sua voz está terrível!” Ele se assusta. “Parlare con me”. Mais que coisa! Com ele minha indiferença não funciona nem por telefone! “Ela me deixou. De novo”. Resolvo confessar “Perché?” “Ela presenciou um pesadelo meu e ficou assustada”. “Ma io non capisco! Ela já não tinha te visto ter um pesadelo?” Eu lhe contei sobre a primeira noite que Eva passou comigo e do presente que ela me deu e seu significado. Arnoldo ficou sem palavras pela terceira vez. “Sim, mas foi diferente. Eu... fiz uma coisa – inconscientemente, claro – ela ficou espantada e fugiu”. Então conto em detalhes daquela noite, exceto sobre o estupro de Eva e a parte... Vergonhosa de tudo aquilo. Arnoldo suspira. “Você tentou falar com ela depois disso?” “Não, eu achei melhor dar-lhe um pouco de espaço. Eva já passou por muita coisa, não quero pressioná-la demais”. “É o que você acha? Que ela está com medo do que viu e está tentando se afastar?” “Talvez”. Ponderei. “Acho que você é mais retardado do que eu pensava!” bradou. “Porra, Gideon. Você está na miséria sem essa ragazza, eu nem preciso olhar para sua cara para saber que você está um lixo”. “Ah, muito obrigado” ironizo. “Eu realmente estava precisando que você jogasse isso na minha cara”. “Ovviamente sì! É isso que os amigos fazem, eles jogam a verdade na cara uns dos outros e não ficam passando a mão na cabeça. Eu tenho cara de ser marica, por acaso?” pergunta e sinto o traço peculiar de diversão em sua voz. Rio sem humor. “Você é o cara mais marica que eu conheço”. “Você é quem está bancando a marica aqui. Ao invés de ir até ela e conversar sobre o assunto, você está aí sentado como uma donzela esperando o príncipe encantado chegar montado em um cavalo branco!” esbraveja. “Ela não quer me ver ag...”.


149 “E como você sabe?” me corta. “Você é algum tipo de vidente? Porque se for, com certeza é um dos piores que já vi! Talvez ela esteja esperando uma atitude da SUA parte, como da outra vez. Está esperando seu aval para se aproximar, pois não sabe lidar com você”. Essas palavras me dão um choque de realidade, e começo a pensar em algo que havia me ocorrido, mas estava distraído demais para prestar atenção. “Arnoldo, eu tenho que ir”. Levanto bruscamente. “O quê? Vai desmunhecar de vez?” perguntou divertido. “Vai se foder, Arnoldo. E obrigado, de novo”. “Vai você! Agora cala a boca, desliga logo essa porcaria e vê se vira homem”. E a linha fica muda e eu começo a rir. Meu amigo é fora de série! Sempre que lhe agradeço por algo, Arnoldo me manda calar a boca porque acredita que amigos não trocam favores, mas cumprem um papel que não pode ser mensurado e a gratidão está implícita. Em sua teoria, agradecimento reduz as ações de um amigo para com o outro a um favor qualquer. Quando me explicou da primeira vez eu não entendi nada, mas depois sua lógica ilógica começou a fazer sentido. E, de certa, forma, ele até tem razão. Sigo seu conselho e resolvo que não vou esperar até amanhã. Isso já durou tempo demais. Pego as chaves do Bentley e saio correndo para o elevador. Decido dirigir sozinho, e a equipe de segurança se mobiliza em outro carro. Eu não os espero e saio cantando pneus. Eu preciso vê-la, preciso explicar o que aconteceu e convencê-la a voltar para mim, eu implorarei de joelhos se precisar. Se o porteiro não me deixar entrar, vou lhe mostrar quem é que paga o seu salário. Não fiz isso da primeira vez porque seria indelicado, além do que Eva descobriria que sou dono do prédio, mas agora não dou a mínima. “Senhor Cross”, o porteiro cumprimenta. “Avise a Eva Tramell que estou aqui”. “Ela e o Sr. Taylor saíram há mais ou menos duas horas”. Merda! Pego meu celular e ligo a equipe de segurança. “Onde está a Srta. Tramell?” Disparo. “Na festa na casa de seus pais, senhor?” O QUÊ? Eva está naquele inferno! Não pode ser! “E porque você não me ligou?”, brado. “Nós pensamos que o senhor estivesse aqui também”. “Você não é pago para fazer suposições, seu incompetente!” E desligo. Maldição! Eu preciso ir até lá, eu tenho que tirá-la daquele lugar. Corro de volta para o carro e saio em disparada pelas ruas de Nova York, a caminho do inferno. Minha fúria é tão


150 grande que sinto que posso cometer um assassinato a sangue frio! Porque, porque ela tem que me desafiar? Eu lhe disse para manter distância de Christopher e na primeira oportunidade ela me contraria! Meu celular toca incessantemente, minha equipe de segurança deve estar louca atrás de mim, mas eu não me importo. Eles que me sigam pelo GPS! Aumento a velocidade, quebrando todas as regras de trânsito possíveis e inimagináveis. Enfim a mansão dos Vidal surge no horizonte e um bolo se forma em meu estômago. Todas as lembranças desagradáveis surgem em enxurradas pela minha mente. Eu odeio aquele lugar, não quero que meu anjo se contamine com a aquela sujeira. Estaciono o carro em uma vaga e respiro fundo antes de sair. Assim que ponho os pés no gramado, minha raiva incandescente se transforma em uma camada grossa de gelo afiado. O cheiro característico da casa alcança minhas narinas e reaviva as memórias obscuras de minha infância. Essa é a primeira vez que venho aqui depois de dez anos. Ao olhar para a porta da frente, ornamentada no melhor estilo ‘antiga França’, consigo me ver com 18 anos, saindo com apenas uma mala, enquanto minha mãe chorava, implorando para que eu ficasse. Logo atrás dela estava Christopher, com 11 anos, sorrindo. Finalmente ele teria a atenção que tanto queria. E uma pequena Ireland, com apenas sete anos, que estava sentada no gramado brincando com sua casinha de bonecas, me olhava de olhos arregalados. Ela não estava entendendo nada. Meu padrasto ainda tentava me convencer, mas em vão. Eu não tinha motivo algum para permanecer ali. Era como viver dependurado de um abismo. Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos e me concentro em encontrar Eva em meio à multidão. Há funcionários, artistas contratados e parceiros da Vidal Records aqui, entre outros convidados. Alguns estão cientes da minha presença, mas não ousam se aproximar. Estou exalando hostilidade. Sigo em frente observando todos os cantos. Vejo minha mãe, bela e bem vestida como sempre, dando uma atenção exagerada a um convidado, e meu padrasto escorado no bar, cercado de belíssimas mulheres e, para a sorte dele, nenhum delas é Eva. Christopher está perto do labirinto de plantas, provavelmente jogando seu charme barato na pobre moça que é apenas sorrisos para ele. Andando mais um pouco, me atento para a marquise, onde a banda começa a tocar o prelúdio de “Come Fly With Me”. A cantora entoa os primeiros versos e, de repente, Eva e Cary saem deslizando pela pista, numa sincronia perfeita. Meu Deus como ela é linda! Fico paralisado, apenas observando, admirado. Todos se afastam e forma um semicírculo ao redor deles. O refletor foca apenas os dois, e a luz forma uma áurea em torno de Eva, seus longos cabelos dourados brilham, e ela se transforma em um ser celestial, em um... Anjo. O meu anjo. O desejo se alastra pelo meu corpo ativando todas as minhas terminações nervosas que estalam


151 como fios desencapados. Eu a desejo como nunca, eu preciso tê-la agora. Mas não aqui, não nesse inferno. A música acaba e todos aplaudem. Eles se inclinam para fazem uma reverência ao público. Me aproximo mais da pista de dança, e fico no campo de visão de Eva. Quando ela se vira, seu olhar encontra o meu. Assustada, ela dá um passo trôpego para trás. A raiva e a frustração se misturam dentro de mim e ressoam por todo o meu corpo. Seu olhar vai da surpresa para o desejo e, por fim, a incerteza. Ela sabe que está encrencada.


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Capítulo 12 A Outra (Bônus) PDV Corinne Quando ele me contou que havia conhecido outra pessoa, meu mundo caiu. Eu ainda o queria para mim, eu ainda almejava um futuro ao seu lado. Estou completamente ciente de que ele teve muitos casos, seria estranho se não tivesse, mas com ela é diferente. O nome Eva não me sai da cabeça. Maldita! Pensei que me casando com Giroux e indo embora, Gideon iria se tocar do quanto nossa relação precisava evoluir e iria vir atrás de mim. Passei anos esperando ansiosamente por esse reencontro, mas nada aconteceu. Uma depressão profunda me tomou quando me dei conta de que ele nunca mais me procuraria, e que pressioná-lo não foi uma estratégia muito inteligente. Eu não era suficiente para segurá-lo, mas faria de tudo para tê-lo, da forma que fosse. Sempre muito esquivo e reservado, Gideon me encantou à primeira vista. A beleza dele é sobrenatural e não havia uma mulher (e até mesmo um e outro homem) que poderia ser capaz de resistir. Ele exala elegância, virilidade e força. Nos braços dele, era impossível não ser feliz. Ainda me lembro de quando nos conhecemos na faculdade. Claro que a atração foi mútua e suficiente para que eu mesma tomasse a iniciativa. Nossa conversa fluía com naturalidade em alguns aspectos, mas sempre que chegávamos ao assunto que envolvia sua família ou sua infância, ele mudava completamente. Percebendo isso, achei melhor evitar, não queria espantá-lo, não podia. Após algumas saídas e conversas, Gideon e eu tivemos nossa primeira relação sexual, a melhor experiência da minha vida, diga-se de passagem. Ele era um dominador nato e tinha uma habilidade inerente. Um homem com uma missão: satisfazer uma mulher até que ela perdesse os sentidos. Aquele pau enorme era enfiado fundo dentro de mim com maestria, tocando nos pontos certos. Eu não sou tão apertada, então ele coube inteirinho, sem me machucar. E estocava de um jeito que, em alguns momentos, cheguei a pensar que poderíamos acabar atravessando uma parede. E naquele momento, eu me vi completa e perdidamente apaixonada por ele. Uma das coisas que eu mais adorava nele era a possessividade. O ciúme latente. Sem dúvida, ele queria matar todos os homens que ousavam olhar para mim. Sentia-me amada e desejada. Não havia nada que eu gostaria mais do que dormir e acordar todos os dias ao lado daquele homem, de ser a senhora Cross. Ficamos assim, num namoro oscilante por dois anos.


153 Por mais que estivesse tudo bem, tinha algo que me incomodava: ele era extremamente fechado. Eu pensei que, com o tempo, ele se abriria comigo, mas cada vez que chegávamos a um assunto particular de sua vida, ele se esquivava. Quando me levava para o quarto que reservou para nós em um de seus hotéis – o que achei muito romântico – nós apenas transávamos. Sempre quando chegava a hora de dormir, ele inventava uma desculpa para sair fora. Eu não conseguia entender essa dicotomia na nossa relação: como Gideon podia ser tão quente na cama e tão frio fora dela? Será que tinha alguma coisa errada comigo? Todas as vezes que eu dizia que o amava, ele nunca respondia. Um “eu te adoro” ou “você é tão linda” eram suas formas de expressar que sentia o mesmo. Nem em sua casa ele me levava, nem sei como ela é. Não o pressionei. Se ele não estivesse pronto, eu esperaria o tempo que fosse. Em um estalo, percebi o que estava acontecendo: Gideon precisava de alguma segurança, de que eu pertencia apenas a ele e que nossa relação poderia entrar numa nova fase. Talvez lhe faltasse uma prova de que era único em minha vida, então, uma vez essa segurança garantida, ele poderia se sentir mais a vontade para se abrir. Então tive a ideia de lhe pedir em casamento. No dia seguinte nos veríamos no hotel. Transávamos em média duas vezes por semana. Embora eu achasse pouco perto do fogo que sentia por ele, entendia que era bastante ocupado. Ele estava se iniciando no mundo dos negócios e estudava ao mesmo tempo. Nunca reclamei disso, eu sabia que estava lidando com um homem poderoso e que seu tempo era escasso. Naquele dia, eu havia planejado tudo nos mínimos detalhes. Enfeitei o quarto com pétalas de rosas vermelhas e comprei seu vinho favorito. Queria que ele se lembrasse desse momento para sempre. Coloquei um lingerie branco e cinta-liga (peça que ele acha incrivelmente sensual), e um vestido da mesma cor. Fiquei sentada na cama, apenas esperando. Quando a maçaneta se abriu, meu coração já estava aos pulos. Ele saiu do trabalho direto para cá. Estava usando um terno Tom Ford azul marinho, camisa e gravata brancas, o que realçava a belíssima cor de seus olhos, agora arregalados, que percorreram o lugar. Parecia que tinha entrado no quarto errado. “Corinne, o que significa isso?” perguntou-me perplexo. “Significa que hoje será um dia muito especial para nós”. Respondi docemente. Ele me olhou desconfiado. “Não é nosso aniversário de namoro. Nem meu aniversário. O que está acontecendo?” Levantei-me e fui até a porta. Gideon estava parado no limiar, ainda intrigado. Abracei sua cintura e senti seus músculos tensionados. Acariciei seu peito sob a camisa com meu nariz. Ele continuou estático.


154 “Humm... você cheira tão bem”. Tentei relaxá-lo. “Ainda estou sem entender...”. “Shh... eu sei. Vamos tomar um vinho e então conversamos”. Sussurrei tapando sua boca com uma das mãos. “Hoje a noite é toda nossa”. Olhei para ele com todo o amor e carinho do mundo. Eu era louca por esse homem. Ele suspirou e tentou sondar mais o terreno. “Para quê tudo isso?” “Eu não posso preparar uma noite romântica surpresa para o meu namorado?” perguntei bancando a ofendida. “Não, não é isso é que...”. Ele parecia desconsertado, apesar de seu rosto permanecer impassível. Sem dizer mais uma palavra, o puxei pela mão e o coloquei sentado na cama. Depois fui até o frigobar e de lá tirei o vinho. “Lembra-se desse?” perguntei travessa. “Tomamos ele em nosso primeiro encontro”. “Sim, claro”. Respondeu automaticamente. Entreguei-lhe uma taça já cheia e coloquei vinho na minha. “Vamos brindar”, falei sorrindo. “A nós”. “A nós”, repetiu sem muita convicção. Batemos nossas taças. Dei um gole enquanto o observava bebendo seu vinho. Sua garganta fazia um movimento muito sexy enquanto engolia o líquido e o imaginei fazendo o mesmo com meu gozo. Minha calcinha ficou empapada. Terminou sua taça e me olhou com uma expressão indecifrável. A tensão crepitava no ar. Numa tentativa de dissipá-la, sentei em seu colo, de frente para ele, uma perna de cada lado, o que fez meu vestido subir e revelar minhas coxas adornadas pela cinta liga. Gideon olhou para elas e sua postura mudou. Ele estava faminto, sedento. Retirei seu paletó, que já estava aberto, desatei o nó de sua gravata a tirei de forma sensual, desabotoei sua camisa lentamente, me livrei das abotoaduras e, enfim, o despi da cintura para cima. Seu peitoral definido e coberto por uma camada fina de pelos era uma coisa deliciosa de se ver. Eu poderia olhá-lo para sempre. Passei a ponta de meus dedos sobre aquela obra de arte. Ele estava ofegante, quase como um animal feroz pronto para atacar sua presa distraída. Seu olhar me perfurou de uma forma arrebatadora. Comecei, a rebolar em seu colo, esfregando minha abertura sedenta em sua ereção pulsante, separadas por três camadas de panos, ou melhor, duas: sua cueca boxer e a calça, já que minha calcinha havia dado perda total.


155 Ele a rasgou com tamanha violência que quase gozei ao ouvir o barulho do pano se partindo. Eu já estava mais do que pronta. Fiquei toda meladinha. Gideon me beijou com uma ferocidade que me deixou ainda mais excitada, era como se estivesse se contendo ao máximo para não me machucar. Suas mãos agarraram firme em meus cabelos, me mantendo imóvel e a mercê de sua língua lasciva. Eu gemi alto contra sua boca e continuei a rebolar incansavelmente. Em resposta, emitiu um grunhido gutural que me fez tremer. Seu corpo inteiro estava reagindo da forma como eu esperava. Com um movimento rápido ele abriu o zíper lateral do meu vestido e o descartou magicamente, e expirou fundo ao ver que eu estava usando corpete. “Corpete, e cinta-liga, querida?” Disse em tom de repreensão, me olhando fundo nos olhos. “Que combinação perigosa”. “Você não gostou?” perguntei fazendo charminho. “Eu espero que você não tenha apego a essa lingerie, pois ela vai acabar em pedaços”. Sussurrou em meu ouvido com a voz rouca de desejo. Eu gemi. Meu corpo inteiro se arrepiou. Ele voltou sua atenção para meus seios, que ficaram bem sustentados pelo bojo do corpete. Seus polegares abaixaram as duas copas. Sua boca se ocupou do mamilo direito, enquanto uma das mãos beliscava o esquerdo e a outra mão apoiava minhas costas. Minha cabeça pendeu para trás e comecei a choramingar de prazer. Ninguém podia ser tão bom de cama assim. E isso porque estávamos apenas nas preliminares. “Gideon...” “Shh... você me provocou, agora aguenta”. Ele continuou seu ataque implacável até que a mão que estava no seio esquerdo desceu para o meio das minhas coxas e um dedo firme abriu caminho entre os tecidos sensíveis. “Ah, minha nossa...” eu iria gozar a qualquer momento. Ele parou todos os movimentos abruptamente, me puxou de seu colo e me jogou na cama. Antes que eu pudesse assimilar meu estado de surpresa, já em mim, me penetrando fundo. Gritamos juntos. Ele me estocava com força, nossas carnes se chocando violentamente. Nem vi o momento em que se despiu, ou quando colocou a camisinha, foi tão rápido. Nossos corpos estavam em sincronia perfeita. Ele me comia selvagenmente, como se buscasse sua liberação como o ar que respirava. Eu estava no céu... Eu não poderia amá-lo mais. Fomos feitos um por outro. Então eu gozei. Gozei como nunca. Vi estrelas! Gideon continuou estocando com força até que sua voz grossa e rouca emitisse um grito animal, me lambuzando ainda mais com seu sêmen.


156 Estávamos cansados, suados, ofegantes e felizes. Sua cabeça repousa no vão entre meus seios e seus cabelos roçavam meus mamilos sensíveis. Seus braços adornavam minha cintura como vigas de aço; e seu pau enorme ainda estava dentro de mim. “Isso foi...” eu mal consegui terminar. “Muito bom”, disse com os lábios colados em minha pele. Sua voz grossa fez meus pelos se arrepiarem. “Nós somos perfeitos juntos”. Comentei, começando a jogar verde. Ele ficou em silêncio. Aproveitei a deixa. “Gideon, quer se casar comigo?” Seu corpo inteiro endureceu. Ele se levantou rapidamente. Minha sorte que nossas genitálias estavam escorregadias, ou teria me machucado. Seus olhos me encaravam num misto de surpresa e perplexidade. “Casamento?” perguntou. “Sim. Estamos juntos há dois anos. Nós apreciamos a companhia um do outro e nosso sexo é incrível”. Argumentei. “Não há porque esperar mais”. “Corinne, eu...” ele hesitou. Então dei o golpe final. “Gideon, eu quero ser sua para sempre, só sua”. “Só minha?” “E de mais ninguém. Você é o homem da minha vida. O dono do meu coração. Não há ninguém mais para mim”. Confessei com os olhos rasos d’água. Ele me olhou por alguns segundos e, em seguida, sorriu docemente. “Sim”. Levantei-me, enrolei meus braços em seu pescoço e minhas pernas em sua cintura e o beijei apaixonadamente. Aquele foi o dia mais feliz da minha vida. No dia seguinte, ele me deu uma aliança de ouro branco e um solitário de diamantes. Eu a adorei. “Quero que todos saibam que você é minha”, dizia. No entanto, com o passar do tempo, Gideon foi ficando cada vez mais possessivo em relação a mim, de tal forma, que nenhum homem mal podia chegar a menos de 15 centímetros de mim, nem mesmo meus amigos. Os conflitos começaram. Ao mesmo tempo em que era doentiamente controlador, ele se mostrava frio e distante. O sexo continuava inigualável, mas ainda assim, fora da cama, sua aura gélida estava aparecendo com mais frequência. O estopim para a crise em nossa relação foi o jantar... Minha família fez questão de uma festa de noivado, embora Gideon fosse relutante. Falei que meus pais fariam questão de sua presença e que seria muita falta de consideração ele não


157 aparecer. Meu argumento o convenceu, porém ele foi taxativo quando disse que não queria levar sua família. Quando perguntei o porquê, ele apenas deu de ombros. Mas sua negativa em ter seus pais e irmãos por perto foi simplesmente ignorada pela minha mãe, que ligou para Elizabeth e a convidou sem que ele soubesse. Quando Gideon deu de cara com sua família, ele mudou de uma forma assustadora, agindo friamente, como se não tivesse alma. O clima de constrangimento perdurou até a hora do jantar. Todos estavam animados, mas meu noivo permanecia distante e não pronunciou nenhuma palavra. Minha sogra foi um amor comigo, bem como seu filho e seu marido. Ireland, a irmã mais nova de Gideon, me encarava de forma estranha. Estava claro que não ia com a minha cara. Resolvi ignorar isso e procurei tratá-la da melhor forma possível. Quando o jantar acabou, Gideon se levantou e simplesmente foi embora, me deixando com a maior cara de tacho na frente de todos. Minha mãe ficou horrorizada, e Elizabeth não sabia onde enfiar a cara de tanta vergonha. Pediu desculpas e bateu em retirada com a família. No dia seguinte, brigamos feio. Nunca havíamos tido uma discussão como aquela. Eu gritei de um lado, dizendo tudo o que estava entalado em minha garganta, e do, outro, ele me acusava de ser uma traidora por ter escondido que sua família estaria presente no jantar. Ele não estava errado, mas se eu soubesse o que se passava entre eles, eu faria de tudo para evitar. Na verdade, eu estava curiosa para ver como Gideon interagia com a família (ou como não interagia de forma alguma) para tentar entender o porquê de tanto ódio. Cansada de ficar no escuro e de ser a única a segurar a relação, desmanchei o noivado. Não que eu quisesse realmente fazer isso, apenas queria que ele lutasse por mim. Queria sentir sua garra, sua força, sua vontade de me querer em sua vida. Após a discussão, um velho amigo de escola, Giroux, me ligou. Conversamos por um tempo e ele disse que eu poderia ir à Paris passar um tempo. Essa viagem era o que eu precisava. Embarquei no dia seguinte. Passei algumas semanas na casa de Giroux. Ele estava determinado a me conquistar. Ele ainda me amava. Dele eu recebi o que sempre esperei de meu ex-noivo. Do nada ele me pediu em casamento, com a promessa de que me faria esquecer Gideon. Eu estava confusa, triste e carente. Acabei aceitando, mas meu motivo era outro: mostrar a Gideon que eu seguiria em frente se ele não se apressasse. Casei-me com Giroux para mostrar a ele que não estava brincando, mas nada do que eu esperava aconteceu. Gideon me ligou para desejar-me felicidades, que esperava que continuássemos amigos e só. Fiquei a ver navios. Passei anos remoendo nossa história, tentando ver onde foi que eu errei. Como pude ser tão estúpida? Me coloquei em um casamento sem amor da minha parte, estou dormindo, acordando e transando com um homem com o qual não


158 me identifico. Estava tão infeliz que comecei ia implorar a atenção de Gideon, mendigar um pouco de afeição através de nossa “amizade”. Agora a tal Eva está ocupando meu lugar. Quem é essa desgraçada? De onde ela surgiu? Como se conheceram? Ele mudou tanto ultimamente, não me atende mais, está sempre ocupado... Com ela, tenho certeza. Eu nunca recebi essa atenção quando estávamos juntos. Mas isso não vai ficar assim. Estou decidida a acabar com a festa dessa aproveitadora, seja ela quem for. Gideon é meu, sempre foi. E não desistirei. Não nadei tanto para morrer na praia. Ele quer que eu a conheça, ótimo. Vamos conhecer a vadia, e tirá-la da jogada. Estou pronta para tê-lo de volta. Custe o que custar.


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Capítulo 13 Reconciliação (Parte I) Oh, sim. Eva está muito encrencada. “O que você está fazendo aqui?” vocifero. Ela se encolhe toda. “Como é?” “Você não deveria estar aqui”. Agarro-a pelo cotovelo e a reboco para dentro da casa. “Eu não quero você aqui”. Eva arranca seu braço de minha mão e marcha a passos largos na direção da casa, sem ao menos olhar para trás. Está fugindo de mim, de novo. Mas dessa vez, não vou ficar apático. “Gideon!” Ouço Magdalene me chamar. Seu tom parece ser de surpresa. Ignoro-a e continuo andando firmemente em busca do meu anjo fujão. “Eva. Espere”. Exijo. O tom da minha voz faz seus ombros se curvarem, mas seus olhos não se voltam para me encarar. “Suma daqui. Já conheço o caminho da porta”. Esbraveja. Como é? “Eu ainda não terminei...”. “Eu já”, ela se vira bruscamente. Suas palavras absurdas me atingem como dardos inflamados. Cada sílaba pronunciada carrega acusações implícitas. Seus olhos perderam o brilho, parecem opacos, sem vida. Como espelhos, refletem a mágoa e o ressentimento profundo que ela guarda de mim. “... Que eu estivesse atrás de uma rapidinha num canto escuro pra tentar ganhar você de volta?” Que merda! Será que ela não pode apenas se calar e escutar? “Fique quieta, Eva”, digo entre dentes. “Escute o que tenho a dizer...”. E ela me interrompe de novo. “Só estou aqui porque me disseram que você não viria. Vim por causa de Cary, pra ajudar a carreira dele. Então você pode voltar pra festa e esquecer de novo que eu existo. Fique tranquilo, quando eu sair por aquela porta, vou estar fora da sua vida de uma vez por todas”. Fora da minha vida?! Suas últimas palavras são ditas com uma aspereza que nunca havia visto. E o desespero de só imaginar essa possibilidade, associado ao fato de estar naquela casa e à minha abstinência forçada da presença de Eva acabam de tirar o pouco de sanidade que me restava.


160 “Cale essa maldita boca”. Explodi agarrando-lhe pelos cotovelos e a sacudindo com força. “Cale essa boca e me deixe falar”. Ela acerta um baita tapa no meu rosto com força suficiente para balançar minha cabeça. Caralho! Essa porra arde muito! “Não encoste a mão em mim”. Grita. Um rosnado escapa dos meus lábios, tanto pela raiva quanto pelo desejo reprimido. Eu a puxo de volta e começo a devorar sua boca, desesperado para saciar minha fome dela. Seguro os dois lados de sua cabeça impedindo que ela se esquive do beijo. Sinto seus dentes morderem forte meu lábio inferior até sangrar, mas a dor não é suficiente para me fazer parar. Eu a quero, eu preciso do seu corpo, eu dependo dela para viver. Esses dias foram um purgatório sem fim. Meu corpo, até então fraco e desestabilizado, está sendo movido por uma força inabalável. O desejo cresce a cada segundo. Finalmente, eu tenho meu anjo em meus braços. Tudo o que preciso é de uma chance para fazê-la me querer novamente. Seu corpo reage ao meu, seus mamilos endurecem contra meu peito e ela começa a dar sinais de que sua resistência está desmoronando. Nada mudou. Ela me deseja tanto quanto a desejo. Eis a minha chance. Eu a pego no colo, segurando-a firmemente e a levo para a biblioteca. Fecho a porta atrás de nós com o pé e a prenso contra a pesada porta de vidro que fica do outro lado do cômodo. Minha mão desce pela sua cintura até chegar à barra de seu vestido e a acaricia por dentro da saia até chegar à parte exposta de suas nádegas. Levando sua cintura e roço sua pélvis roça em minha ereção. Nesse meio tempo, nossos lábios não se desgrudaram. Puta merda, eu precisava tanto disso! Estava ficando maluco só de imaginar que nunca mais poderia tocá-la, sentir sua pele sedosa e macia sob meus dedos... Não, eu não iria suportar. Como sua tendência é sempre se entregar quando tomo o controle, Eva amolece em meus braços e desiste de lutar. Meus músculos, antes tensos, relaxam. Diminuo a pressão de meus lábios e a beijo com carinho. Minha língua explorando cada cantinho de sua boca, provando seu gosto. “Eva”, digo ofegante. “Não tente resistir. Eu não aguento”. “Me deixe ir embora, Gideon”. Sussurra de olhos fechados. Esfrego meu rosto contra o seu, com a respiração cada vez mais rápida e profunda perto de sua orelha. “Não consigo. Sei que você deve estar horrorizada com o que viu naquela noite... com o que eu estava fazendo com meu corpo...”. “Gideon, não! Não foi por isso que...” eu a interrompo.


161 “Estou enlouquecendo sem você”. Passeio pelo seu pescoço com minha boca, minha língua acariciando suas veias pulsantes. Chupo sua pele e a sinto estremecer. “Não consigo pensar. Não consigo trabalhar nem dormir. Meu corpo quer você. Posso fazer você me querer de novo. Só me deixe tentar”. Imploro-lhe, cada palavra movida por um desespero agudo. “Nunca deixei de te querer”, sussurra. “Não consigo. Mas você me magoou, Gideon. Você tem esse poder, mais do que qualquer outra pessoa”. Ahn? Olho para ela um tanto confuso. Com certeza devo tê-la feito ficar enojada, mas magoada? Não faz sentido. “Eu magoei você? Por quê?” “Você mentiu. Se fechou pra mim”. Ela pegou meu rosto com as mãos e me olhou bem fundo nos olhos. “Seu passado não tem o poder de me afastar. Mas você tem, e foi isso o que fez”. “Eu não sabia o que fazer”. Tento explicar. “Não queria que você me visse daquele jeito...”. “É exatamente esse o problema, Gideon. Quero conhecer você por inteiro, o lado bom e o lado ruim, e você se esconde de mim. Se não aprender a se abrir, vamos acabar nos afastando e nunca mais vamos nos aproximar. Você não sabe como estou me sentindo. Passei os últimos quatro dias me arrastando. Mais uma semana, mais um mês... abrir mão de você acabaria comigo”. Ela também sofreu longe de mim! Mas se eu tivesse dito a verdade, teria sido diferente? Ainda não sei. Do jeito que venho fazendo uma burrada atrás da outra, poderia terminar do mesmo jeito. Decido falar. “Não consigo me abrir pra você, Eva. Estou tentando. Mas sua primeira reação quando piso na bola é fugir. Você faz isso o tempo todo, e não aguento mais sentir que estou pisando em ovos, com medo de fazer ou dizer alguma coisa que afaste você de mim”. Beijo seus lábios novamente. Deus, como é bom sentir seu gosto! Nunca terei o suficiente dessa mulher. “Queria que você voltasse por iniciativa própria”, murmuro. “Mas não aguento mais essa distância entre nós. Vou tirar você daqui carregada se for preciso. Vou fazer o que for necessário para ficar sozinho com você e tirar tudo a limpo”. Ela me olha espantada. “Você estava esperando que eu voltasse? Pensei... Você devolveu as minhas chaves. Pensei que tivesse desistido de mim”.


162 O quê? Esse tempo inteiro ela pensou eu desistiria? E só não voltou por medo de ser rejeitada? Minha expressão endurece. “Nunca vou desistir de você, Eva”. E isso é um fato consumado. Imaginar cada minuto da minha vida sem Eva já não é algo que meu cérebro consegue processar. Eva fica na ponta dos pés e me dá um beijo suave na marca vermelha que sua mão pequena (mas bem pesada) deixou quando me bateu. E essa mesma mão junto com a outra foram automaticamente para meus cabelos. Dobro os joelhos para ficarmos da mesma altura. A biblioteca está silenciosa e os ruídos da festa estão bem distantes. O vazio sonoro é preenchido apenas por nossas respirações ásperas e fora de controle. Minhas mãos continuam apalpando cada pedaço de Eva por baixo do vestido. “Faço o que você quiser, faço o que for preciso. Qualquer coisa. Só me aceite de volta”. Se eu precisar ajoelhar e implorar como um demente, eu faço sem pensar duas vezes. Ela acaricia meu peito por cima da blusa, tentando me acalmar. Meu coração está a mil. “Ao que parece, não conseguimos deixar de fazer mal um ao outro. Não consigo evitar que você sofra, e não posso mais continuar vivendo entre tantos altos e baixos. Precisamos de ajuda, Gideon. Somos extremamente disfuncionais”. Explico que fui ver o Dr. Petersen na sexta, que ele passaria a ser meu terapeuta e de sua sugestão de nos atender como um casal. Eva fica surpresa ao constatar que eu a segui. Respiro fundo, sei que ela não gosta de ser perseguida, mas não tive escolha. Não nego, mas também não me arrependo. “Vai dar um bocado de trabalho, Gideon, avisei”. “Trabalho é algo que não me assusta”. Digo acariciando suas coxas e suas nádegas de forma brusca e possessiva. “Meu único medo é perder você”. Ela me dá um beijo no rosto e ficamos nos encarando por alguns instantes. Eu já estou ficando alucinado com seu cheiro familiar, com o calor que emana de seu corpo, não consigo mais me segurar. “Preciso de você”. Respiro deslizando minha boca por seu rosto e pescoço. “Preciso ter a sensação de estar dentro de você...”. “Não. Pelo amor de Deus. Aqui, não”. Sussurra, mas sem convicção alguma. “Precisa ser aqui” murmuro ficando de joelhos. “Precisa ser agora”. Rasgo sua calcinha de renda, levanto a saia do vestido e dou uma lambida em seus lábios vaginais para afastá-los e chegar a seu clitóris pulsante. Eva tenta se afastar, mas a impeço, segurando-a firmemente no lugar com uma mão e segurando sua perna esquerda por cima do


163 meu ombro, facilitando a invasão da minha língua. Seu corpo todo treme e suas mãos vão direto para meus cabelos, me imobilizando enquanto se esfrega de encontro à minha boca faminta. Nossa, estou no céu! Depois de dias no inferno, finalmente eu a tenho aqui, em meus braços, à minha mercê, como deve ser. Estar com Eva é a coisa a certa, é como se meu mundo frio e abandonado estivesse por anos fora de órbita e finalmente havia encontrado sua estrela, seu sol. Como seu eu estivesse trancado em uma masmorra escura por todo esse tempo e, finalmente, alguém havia me mostrado a luz. Sim, ela é meu sol, minha luz, meu anjo, só meu. “Gideon... Você me faz gozar tão gostoso”. Sussurra. Essa simples frase me deixa ainda mais excitado. Agarro sua bunda e trago sua pélvis para mais perto. Sua entrada se abre mais e enfio minha língua entre os tecidos inchados, entrando fundo. De minha garganta saem urros guturais de puro prazer e deleite. A necessidade de fazê-la gozar em minha boca, de provar do seu doce mel me deixa cada vez mais ávido, e me faz perceber o quanto estou faminto, faminto por ela, pelo seu corpo, pela sua alma. Sou completamente dependente dela tanto quanto do ar que respiro e do sangue que correm em minhas veias. “Assim, estou quase lá”. Diz num fio de voz. De repente, seu corpo enrijece, provavelmente pela proximidade do orgasmo. Como golpe de misericórdia eu a chupo com vontade, sugando seu clitóris bem forte até minhas bochechas ficarem côncavas. A ponta da minha língua alcança seu pontinho sensível e o acaricia, estimulando-o mais e mais, até que Eva não resiste e explode, liberando-se em uma torrente intensa e furiosa. O orgasmo a atinge tão violentamente que seus quadris rebolam incessantemente contra minha boca. Continuo a lambê-la, e bebo tudo até o último tremor cessar. Agora tudo o que quero é estar dentro dela. Levanto-me rapidamente, a pego no colo e a deito no sofá com o quadril sobre o descanso de braço, de costas para o estofamento, fazendo a parte frontal de seu tronco ficar arqueada em minha direção. Abri minha braguilha e meu pênis dolorido de tesão pulou livre para fora a calça. Sem cerimônia alguma o afundei dentro dela com uma única estocada. Seguro seus quadris e os empurro em um vai e vem desesperado, metendo nela com força, sem parar. Cada vez que entro fundo, deixo escapar rugidos ferozes e em troca recebo seus ganidos trêmulos de prazer e necessidade. Começo a remexer os quadris freneticamente e minha cabeça pende para trás. Quero sentir seu toque, quero sentir sua mão sobre a parte mais sensível do meu corpo. “Aperte, Eva. Aperte o meu pau”. Sussurro. E ela o faz, com maestria. Como só ela sabe fazer.


164 “Isso, meus anjo... assim”. Eva aumenta ainda mais um aperto e um ‘porra’ escapa de meus lábios. Meus olhos encontram os dela. O momento é de pura euforia. Estou perto de meu primeiro orgasmo após dias de privação forçada. Um tremor sacode meu corpo e solto um gemido agoniado, estou tão perto. Continuo a estocá-la incessantemente até que gozo em jorros longos e quentes dentro da minha Eva. Minha, minha, minha. Só ela é capaz de fazer isso comigo, de me fazer sentir assim. Agora estou completo. Inclino-me sobre ela tentando recuperar a compostura e controlar a respiração. Estou suado e meu corpo ainda está sob efeito dos espasmos do recente orgasmo. Deito minha cabeça em seu peito e inalo seu cheiro. “Meu Deus, não posso passar mais de um dia sem isso. Até as horas no trabalho pareceram uma eternidade”. Seus dedos acariciam a raiz úmida dos meus cabelos. “Também senti sua falta”. Esfrego meu nariz pelo vão entre seus seios. “Quando estou longe de você, fico...”. Mal consigo terminar a frase. “Não fuja mais de mim, Eva. Não consigo ficar sem você”. Não ter Eva comigo é algo inimaginável. Ela faz parte da minha vida, está presa a mim para sempre. Ela se tornou a razão de tudo o que sou. O homem que eu era morreu no dia em que nossos olhos se cruzaram. Eu a amo, acima de tudo, acima de mim mesmo. Eu a puxo para que fique de pé. Meu pau ainda está dentro dela. “Vamos lá pra casa agora”. “Não posso ir embora sem Cary”. “Então vamos levá-lo junto”. Ela começa a argumentar, mas a interrompo. “Shh... Antes que você diga qualquer coisa, seja o que for que ele pretende conseguir nesta festa, eu posso providenciar. Ficar aqui não ajuda ninguém”. “Ele pode estar se divertindo”. Tenta argumentar. “Não quero você aqui”. Sentencio num tom frio e controlado. Eva é a pessoa mais importante da minha vida e de modo algum vou permitir que esse inferno e essas pessoas destruam o meu maior tesouro. “Você tem ideia do quanto me deixa chateada falando uma coisa dessas?” Choraminga. “O que tem de errado comigo? Por que não posso chegar perto da sua família?”. Seus olhos estão rasos d’água. Oh meu Deus! Ela acha que o problema é ela.


165 “Meu anjo, não”. Eu a abraço, acariciando suas costas para acalmá-la. “Não tem nada de errado com você. É esta casa. Eu não... eu é que não posso ficar aqui. Você quer saber com que eu sonho? É com esta casa”. “Ah, desculpe. Eu não sabia”. Diz em um tom tímido. Sua expressão contida e tristonha me fez perceber o quão errado fui ao tratá-la daquele jeito quando a vi aqui. Beijo sua testa apologeticamente. “Fui grosseiro demais com você hoje. Desculpe. Fico agressivo e irritado quando estou aqui, mas isso não é motivo”. Ela segura meu rosto com as duas mãos e mais uma vez me perfura com seu olhar. “Nunca se desculpe por ser você mesmo quando está comigo. É isso que eu quero. Quero ser seu porto seguro, Gideon”. Como sempre, Eva consegue me ver além. Estou me sentindo exposto e vulnerável, e por mais que eu tente esconder meus sentimentos atribulados, ela simplesmente os capta no ar e os lê sem dificuldades. Meu escudo de indiferença não funciona com ela. Eu não preciso dele quando estamos juntos. Meu anjo sabe da importância que passou a ter em minha vida. Mas não faz ideia do tamanho dela. “Isso você já é. Você nem imagina quanto, mas vou arrumar um jeito de explicar”. Grudo minha testa contra a sua. “Vamos pra casa. Comprei umas coisinhas pra você”. “Ah, é? Adoro presentes”. Diz animada. Lentamente começo a sair de dentro dela, e só agora temos a noção do quanto havíamos gozado. E foi muito, muito mesmo. Tanto que, meus últimos centímetros escorregam com força para fora, respingando sêmen na parte interna de suas coxas. Em seguida duas gotinhas caem sobre o piso de madeira por entre suas pernas abertas. E meu pau começa a apontar firme para sua gruta molhada, pedindo bis. “Merda”, rosno. “Isso é bom demais. Já estou ficando duro de novo”. Ela olha bem para minha ereção e comenta. “Você não vai aguentar depois de tudo aquilo”. “Claro que vou”. Falo pegando seu sexo com a mão em concha, apertando os grandes lábios e massageando a parte interna com os dedos. Ela fica toda meladinha. Seus olhos brilham de euforia e contentamento. Sim, Eva sabe que adoro desfrutar dela, que sinto um prazer inenarrável quando compartilhamos momentos de intimidade como esses. “Viro um animal quando estou com você”. Murmuro. “Quero te deixar marcada. Quero possuir você de tal forma que não exista mais nenhuma distância entre nós”.


166 Seus quadris se movimentam suavemente em movimento circular. Ela toma meu pulso com seus dedos e o guia pela cintura até à... Sua bunda. Não, não pode ser. Sinto seus dentes morderem meu queixo de leve. “Me toque aqui. Me marque bem aqui”. Sussurra. Meu corpo inteiro paralisa, minha respiração fica ofegante e meu peito sobe e desce em uma velocidade anormal. Não é possível que ela esteja me pedindo isso. É... é demais para mim. “Eu não...”. Digo com a voz falha, mas depois recupero e continuo com firmeza. “Eu não faço anal, Eva”. Seus olhos encontram os meus e parecem entender exatamente o que se passa em meu interior. Medo, pânico, dor, sofrimento. “Eu também não. Pelo menos voluntariamente”. Como? Quer dizer, eu me lembro de nossa conversa sobre Nathan. Ela falou sobre cicatrizes vaginais e anais. As lembranças são dolorosas, mas não entendo. “Então... Por quê?” pergunto perplexo. Ela me envolve em seus braços e pressiona seu rosto contra o meu. “Porque acredito que seu toque pode me fazer esquecer o de Nathan”. Meu coração falha uma batida. “Ah, Eva”. Suspiro e deito o rosto sobre a parte de cima de sua cabeça. Seus braços me apertam ainda mais. “Com você eu me sinto segura”. E assim ficamos abraçados por um bom tempo. Cada vez mais as resoluções que tomei enquanto estivemos longe um do outro me parecem exatas. Eu realmente descobri o nosso problema. Eva está confiando em mim plenamente para fazer algo doloroso ser transformado em algo prazeroso. Ela está se entregando para mim sem reservas, sem limites. Quer que eu a possua em todos os sentidos. E eu não poderia amá-la mais. Se for isso o que ela quer de mim, é o que terá. Desde que nos conhecemos, tenho sentido uma forte inclinação em protegê-la, em mantê-la segura. E após as revelações sobre o abuso que sofreu na infância, esse instinto protetor se intensificou. Ninguém irá mais machucá-la, fazê-la sofrer. Eu não vou deixar. Eu farei o que for preciso. Nós não temos apenas um passado em comum, mas o mesmo trauma. Um trauma que ela quer superar comigo. Mas primeiro preciso obter uma visão do melhor de suas pretensões, afinal ela poderia estar mais empolgada com o momento, não sei. Eu posso esperar qualquer coisa de Eva. Não quero correr o risco de vê-la fugir de mim novamente. Deslizo a ponta do meu dedo médio suavemente até as pregas do seu ânus. Eva se afasta e me olha confusa. “Gideon?”


167 “Por que eu?” pergunto baixinho, a dúvida martelando em minha cabeça. “Você sabe que tenho traumas, Eva. Você viu o que... naquela noite em que me acordou. Você viu, porra. Como pode entregar seu corpo pra mim desse jeito?” “Confio no meu coração e no que ele está me dizendo”. Diz esfregando com o polegar a ruga entre minhas sobrancelhas. “E você é capaz de devolver meu corpo pra mim, Gideon. Acho que ninguém mais além de você pode fazer isso”. Essas palavras me tocam fundo. Fecho os olhos e encosto minha testa suada na sua. “Você tem uma palavra de segurança, Eva?” Isso é necessário para nós. Fazendo um paralelo com as relações BDSM, quando o dominante detém controle total e absoluto sobre seu parceiro submisso, e ambos estão fazendo o que se chama de “cena”, a palavra de segurança funciona como uma placa gritante de Pare. Em nosso caso se eu estiver indo longe demais, no sexo ou em qualquer momento na nossa relação, se Eva disser a palavra de segurança, será um sinal de que eu devo pisar no freio. “Você tem?” perguntou. “Não preciso disso”. Diminuí a intensidade do movimento de meu dedo. “Você tem uma palavra de segurança?” “Não, nunca precisei. Fazer papai-e-mamãe, ficar de quatro, brincar com o vibrador... meu repertório se resume a isso, basicamente”. Típico de Eva. Adoro seus comentários espirituosos, mesmo em momentos tensos, ela sempre solta alguma pérola. “Graças a Deus. Caso contrário eu poderia ficar maluco”. Continuo massageando a entrada de seu orifício apertado. Seus quadris se inclinam para frente, de forma a me dar um acesso melhor. Nunca pensei que sentiria prazer em fazer isso com alguém. Mas com Eva isso não existe. O relógio de pêndulo soa indicando que uma hora se passou. Eva fica preocupada porque sumimos da festa por muito tempo e que alguém poderia vir nos procurar. Eu nem estava me lembrando da festa, na verdade. Tiro a pressão do dedo e a toco mais de leve. “Está preocupada com isso?” “Não me preocupo com mais nada quando você está me tocando”. Seguro seu cabelo pela raiz com minha mão livre a mantendo imóvel. Eu preciso saber de uma coisa. “Você já gostou de fazer anal? Mesmo sem querer?” “Nunca”. Sim, ela realmente quer isso.


168 “E ainda assim confia em mim a ponto de me pedir isso”. Beijo sua testa em sinal de agradecimento por tamanha entrega enquanto lubrifico seu traseiro com meu sêmen. Ela se agarra a minha cintura. “Se não quiser, não precisa...”. “Quero, sim”. Interrompo bruscamente. “Se você está a fim de alguma coisa, sou eu quem tem que fazer. Sou eu o responsável por satisfazer todas as suas necessidades, Eva. Custe o que custar”. “Obrigada, Gideon. Eu também quero ser o que você precisa”. Essa é uma boa hora para dizer o que preciso. “Eu já disse do que preciso, Eva... controle”. Falo roçando meus lábios contra os seus. “Você está me pedindo para fazê-la revisitar lugares dolorosos, e eu vou, se é isso que você quer. Mas precisamos tomar muito cuidado”. “Eu sei”. “A confiança é uma coisa difícil de conquistar, tanto pra você como pra mim. Se acabar correremos o risco de perder tudo. Pense em uma palavra que você associe ao poder. Sua palavra de segurança, meu anjo. Escolha uma”. Ela tem que ter a consciência de que nossa relação é sustentada por um fio frágil, que ao menor sinal de turbulência, pode se romper a qualquer momento. Seus quadris se remexem no ritmo do meu dedo. Eu o pressiono um pouco mais e ela geme: “Crossfire”. “Humm... Gostei. Bem apropriado”. Percorro sua boca com a ponto de minha língua. Meu dedo circula seu ânus de novo e de novo, empurrando o sêmen para aquele orifício apertado, que se abre pedindo mais. Solto um gemido. Quando pressiono de novo, ela faz força para fora e meu dedo escorrega para dentro dela. A sensação de ter meu dedo ali sendo apertado, por sua pele quente e molhada em um lugar tão perverso, faz minha excitação alcançar taxas alarmantes. O corpo de Eva cede e ela quase cai em cima de mim. Meu Deus, será que a machuquei? “Está tudo bem? Quer que eu pare?” pergunto assustado. “Não... Não pare”. Meu dedo entra mais um pouquinho, e seus tecidos sensíveis o apertam. Ela é lisa, quentinha e macia. Pergunto se está doendo e ela, além de negar, pede por mais. Retiro a ponta do dedo e entro novamente. Seu corpo estremece. “Está gostando?”, pergunto com a voz rouca. “Estou. Com você tudo fica gostoso”. Suspira.


169 Tiro o dedo de novo, e volto ainda mais fundo. Ela se curva para frente, empurrando o quadril para trás a fim de facilitar meu acesso, e seus seios durinhos e fartos são pressionados contra o meu peito. Em um rompante, agarro seus cabelos com força, puxo sua cabeça para trás e lhe dou um beijo molhado, regado de desejo e fome. A cada segundo nossas bocas se esfregam mais agressivamente e a pressão do meu dedo em seu orifício só faz aumentar. Eva se move cada vez mais, querendo que eu entre mais fundo. Toda essa sensação intensa e confusa me deixa cada vez mais excitado. Eu nunca experimentei algo parecido. Simplesmente adoro seu corpo, adoro proporcionar-lhe prazer, adoro satisfazê-la. A forma como orgasmo toma conta de seu corpo quando a toco me faz sentir poderoso. Somente eu posso fazê-la se sentir dessa forma. Suas mãos trêmulas alcançam meu pau tão duro quanto uma pedra de mármore. Ela levanta o forro da saia para enfiá-lo em sua bocetinha encharcada. Apenas a cabeça entra dada a posição em que nos encontramos que impede uma penetração mais profunda. Suas pernas fraquejam novamente e seus braços envolvem meu pescoço. Imediatamente largo seus cabelos e apoio a mão com a palma aberta sobre suas costas, para sustentar o peso de seu corpo e segurá-la mais perto. A lubrificação facilita os movimentos do meu dedo, que começa a entrar e sai mais rapidamente. “Eva. Sabe o que você está fazendo comigo? Você está ordenhando a cabeça do meu pau com essa boceta apertadinha. Vai me fazer esporrar em você. Quando você gozar, vou gozar também”. Nunca pensei que eu poderia gozar ao fazer anal em alguém. Afinal, assim como Eva, eu jamais havia feito aquela modalidade de sexo com ninguém voluntariamente. De todas as formas que aquele monstro me tocou, essa era a mais dolorosa. Ele era bruto. Quando acabava, além da dor, dos machucados e do sangue, eu me sentia humilhado e invadido. No entanto, aqui estou eu, dando um prazer inigualável à minha namorada enfiando meu dedo em seu ânus. E, além disso, sentindo prazer em fazer isso com ela. Só Eva é capaz de fazer minha alma negra conhecer a luz. Sé ela é capaz de me fazer feliz, como nunca fui. De repente, um barulho do lado de fora desperta minha atenção e para a movimentação de meus dedos. Eva solta um ruído de protesto. “Psiu”, sussurro. “Está vindo alguém”. “Ai, Deus! Magdalene apareceu aqui antes e viu a gente. E se ela contou...”. “Não se mexa”. Continuo parado, preenchendo-a pela frente e por trás, com a mão acariciando sua coluna e esticando a saia de seu vestido. “Isso aqui esconde tudo”. Eva está de costas para a porta da biblioteca, e esconde seu rosto no vão do meu pescoço. A porta se abre revelando a cara de pau de Christopher que, ao olhar a cena, tem a


170 nítida compreensão do que está acontecendo. Um sorrisinho de canto sacana surge nos seus lábios. “Está tudo bem?” pergunta. Sua intenção de me provocar é óbvia. “Claro que está”, respondo tranquilamente. “O que você quer?” Retomo o movimento de enfiar e tirar o dedo, apenas um movimento leve que não aparece por baixo da saia. Ela crava a unha e minhas costas, está chegando lá. Se esse pestinha queria me fazer ficar constrangido, perdeu seu tempo. “Eva?” chamou. Claro que ele iria mexer com ela. “Oi”, respondeu engolindo em seco. “Você está bem?” Cara de pau do caralho. Corrijo minha postura, deixando minha coluna ereta, o que fez com que meu pau a penetrasse mais fundo. Ela perde o fôlego. “S-sim. Estamos só... conversando. Sobre. Jantar”. Ele a está constrangendo de propósito. Seus olhos estão brilhando. “Se você sair daqui, podemos terminar logo a conversa, então diga logo o que quer”. Digo tentando expulsá-lo. “Mamãe está procurando você”. É mentira. Com certeza Maggie comentou o que viu e o bastardo veio conferir com seus próprios olhos. Ele está se divertindo com a situação, então resolvo lhe dar um show à altura. “Por quê?” Me mexo um pouco mais, de forma a comprimir seus clitóris com minha pélvis e enfiar meu dedo mais fundo por trás. Eva goza intensamente, encharcando meu pau com seu líquido quente. Para não gritar, ela enterra seus dentes em meu peito, me fazendo gemer discretamente. A dor e a tensão do momento são suficientes para me fazer gozar ferozmente dentro dela. “Magdalene comentou que você está aqui com Eva e ela quer conhecê-la”. Ele começa a se tocar de que não está me atrapalhando como queria. “Eu apenas vim buscá-la. Nós vamos embora daqui a pouco. Agora deixa a gente em paz”. Lancei-lhe um olhar tranquilo e debochado que o desarmou. Sua tática de me irritar não teve êxito. Contrariado, ele sai. Eu a sento de pernas abertas no braço do sofá e começo a meter com força, usando seu corpo para extrair o restante do meu orgasmo, gemendo com a boca colada à sua. Após terminarmos, eu a levo pela mão até o banheiro, ensaboo uma toalha de mão e a limpo no meio das pernas. Posso ser um ogro no sexo, mas também sei ser um cavalheiro


171 depois. Seria muita falta de respeito e de modos não ajudá-la a se recompor, principalmente porque estamos no meio de uma festa lotada de gente famosa. E também tem o fato de ela ser preciosa para mim. Não que eu já tenha feito isso com todas as mulheres, na verdade, desenvolvi esse hábito apenas com Eva. É minha obrigação como seu namorado cuidar de seu bem-estar. “Não quero mais que a gente brigue”, diz. Essa frase me preocupa, mas afasto a negatividade, deixando para pensar nisso outra hora. Após me limpar, escondo a toalha usada em um cesto de roupa suja e fecho a braguilha. Lavo minhas mãos e volto a ficar entre suas pernas. “Nós não brigamos, meu anjo. Só precisamos aprender a parar de matar um ao outro de susto”. Argumento acariciando seu rosto. “Do jeito como você fala parece tão fácil”, resmunga. “Não importa se vai ser fácil ou não. Vamos superar tudo. Precisamos disso”. Digo arrumando seus cabelos despenteados. “Vamos conversar sobre isso quando estivermos em casa. Acho que descobri o ponto central do nosso problema”. Depois do que fizemos aqui, tenho certeza disso. Entramos em uma pequena discussão sobre o fato de minha mãe e a dela terem se impressionado por eu ter me envolvido com uma loira. Bom, até Arnoldo ficou. Mas o que ninguém pode compreender é que foi exatamente nos braços de Eva, que é completamente diferente daquilo que sempre considerei como um padrão para minhas parceiras sexuais, que encontrei a minha casa, o meu porto seguro, o meu lar. “Sorte minha que sou seu tipo”. Comento. “Gideon, não existe um tipo no seu caso. Você pertence a uma categoria única e exclusiva”. Adoro quando ela fala desse jeito. Os elogios que ela dirige a mim soam diferentes dos das outras mulheres, embora fossem os mesmos. É que está implícito nessas palavras que me fazem sentir verdadeiramente lisonjeado quando Eva diz. Eu me sinto bem, me sinto perfeito para ela. “Então você gosta do que vê?” pergunto genuinamente contente. “Você sabe que sim, e é por isso que precisamos sair daqui agora, para não começar a trepar de novo como animais no cio”. E mais uma vez Eva solta uma de suas pérolas em situações inusitadas. Nossa, eu vou rezar uma novena para agradecer aos céus por mandar essa mulher maluca e linda para iluminar minha vida. E olha que eu nunca fui religioso.


172 Aperto seu rosto junto ao meu. “Só você para me deixar louco de tesão em um lugar que me dá calafrios. Obrigado por ser exatamente o que eu quero e preciso”. “Ah, Gideon.Você veio aqui por minha causa, não foi? Pra me tirar deste lugar que você detesta”. Diz me abraçando com seus braços e pernas. “Eu iria até o inferno por você, Eva, e isto aqui é quase isso”. Suspiro profundamente, eu realmente odeio estar aqui. “Eu estava quase indo até seu apartamento quando fiquei sabendo que você estava aqui. Você precisa manter distância de Christopher”, reforço. “Por que você fica falando isso o tempo todo? Ele parece ser tão legal”. Afasto meu rosto e olho bem em seus olhos. Ela precisa confiar em mim e me escutar. Se ela soubesse como aquele moleque estava nos olhando, com um ar de chacota, se soubesse das intenções dele naquele momento, Eva provavelmente se sentiria envergonhada e triste. E é apenas por isso que não vou dizer nada a ela. “Ele leva a rivalidade entre irmãos ao extremo, e é instável a ponto de se tornar perigoso. Está sendo bonzinho porque sabe que pode usar você para me magoar. Precisa confiar em mim a esse respeito”. Ela me olha sabendo que há uma razão oculta em meu pedido, mas não comenta nada. “Confio em você. Claro que sim. Vou manter distância dele”. “Obrigado”. Eu a pego pela cintura e a ponho no chão. “Vamos buscar Cary e dar o fora daqui”. Dou-lhe a mão e entrelaço nossos dedos, e saímos para o jardim como se nada tivesse acontecido. Assim que chegamos perto da tenda lembro que não havia elogiado o visual dela. “Eu deveria ter dito antes. Você está lindíssima, Eva. Esse vestido ficou maravilhoso em você, e esses saltos vermelhos vão me matar de tesão”. “Bom, que eles funcionam ficou bem claro”. Diz empurrando meu ombro com o seu. “Obrigada”. Resolvo aproveitar o gancho para gracejar. “Está agradecendo pelo elogio? Ou pela foda?” “Ei”, me repreende. Seu rosto atingiu fortes tonalidades de vermelho. Não resisto e acabo gargalhando. Eva é uma contradição ambulante. Ousada e frágil, safada e tímida. Adoro isso nela. Minha risada deve ter saído alta porque muitos olham em nossa direção, mas não dou a mínima. Coloco nossas mãos dadas na parte inferior das costas dela, e a puxo para perto para beijar seus lábios. Meu momento de felicidade dura apenas um segundo.


173 “Gideon, estou tão feliz por você estar aqui”. A voz da minha mãe faz meu corpo inteiro enrijecer. Ela faz menção de vir me abraçar e imediatamente mudo minha postura, deixando claro que eu não permitirei sua aproximação. Ela percebe e interrompe bruscamente o gesto. “Mãe”, digo friamente. “Agradeça a Eva por eu estar aqui. Vim para levá-la embora”. “Mas ela está se divertindo, não é mesmo, Eva? Você deveria ficar por ela”. Que ridículo usar Eva para me pressionar. Além disso, eu a quero fora desse inferno. Como ela poderia se divertir aqui? Sinto sua pequena mão apertar a minha em sinal de desconforto. “Não queira deixar Eva constrangida”. Massageio com as juntas dos dedos costas dela. “Você já teve o que queria, conseguiu conhecê-la”. “Vocês poderiam aparecer para jantar algum dia da semana”. A cara de pau é uma característica genética nessa família. Elizabeth Vidal acaba de assinar seu atestado de loucura! Depois de tudo o que me fez passar ela vem com esse papo de ‘vamos fingir que somos uma família unida e feliz’? Eu amava minha mãe, eu a respeitava e a admirava. Mas quando ela se negou a acreditar em mim, meu mundo desmoronou de vez. Ela preferiu acreditar que meu trauma pela morte do meu pai estava afetando minha saúde mental de tal forma que acabei inventando tudo. Até hoje me pergunto como ela pôde. Respondi a seu convite infame com um leve erguer de sobrancelhas e um olhar repleto de sarcasmo. Assim que avisto Cary faço um gesto para que ele se aproxime. “Ah, não, Cary também!” protesta Elizabeth. “Ele é a sensação da festa”. “Imaginei que você fosse gostar dele”. Ironizo. “Só não esqueça que ele é amigo da Eva, mãe. Ele também é meu”. Cary se junta a nós, com seu jeito tranquilo e desencanado. Ele parece feliz por receber a ligação do namorado e tem a desculpa perfeita para ir embora. Passamos um tempo circulando pela festa para que os dois se despedissem. Permaneço ao lado de Eva, como uma sombra possessiva e com a cara fechada, não fazendo a menor questão de ser amigável com quem quer que seja. Apenas quero pegar minha garota e sumir daqui. Estamos próximos a casa quando Eva para e se vira para mim. “Vá chamar sua irmã pra gente se despedir”. “Quê?” Eu não estou entendendo nada. “Ela está à sua esquerda”. Diz olhando para a direita. Avisto-a e faço um aceno brusco para que se aproxime. Ela anda lentamente com sua famosa expressão de tédio. Ah, como eu amo essa fase adolescente (sim, estou sendo irônico).


174 Eva segura minha mão. “Escute. Diga que sente muito porque vocês não conseguiram conversar, mas que ela pode ligar pra você quando quiser”. Por essa eu não esperava. “E que conversa nós temos pra pôr em dia?” “Ela vai ter muito que falar se tiver uma chance”. Diz acariciando meu braço. “Ela é uma adolescente. Por que eu perderia tempo com seu papo furado?” Desdenho. Eva não pode estar falando sério. Ela fica na ponta dos pés e sussurra em meu ouvido. “Porque eu vou ficar te devendo uma”. Encaro-a, desconfiado. “Você está tramando alguma”. Em seguida dou um beijo apertado em sua boca. “Então vamos deixar a coisa em aberto e dizer que você fica me devendo mais do que uma. A quantidade nós vemos depois”. Ela assente com um movimento de cabeça. Depois de interpretar o ‘irmão distante, porém atencioso’ a pedido de Eva, finalmente nós saímos daquele inferno. Apesar de parecer desinteressada, Ireland ficou levemente entusiasmada por eu estar falando com ela. Nós nunca fomos próximos, então não faço ideia de como ela é. Para mim, sempre ficou o estereótipo de patricinha rica e mimada. Também nunca me interessei em conviver com ela. E agora tem minha namorada que está tentando nos aproximar não sei o porquê disso. As duas parecem gostar uma da outra. E por um motivo desconhecido, aquilo me deixou um pouco... Feliz. Não, essa não é palavra. Satisfeito... Sim, satisfeito. Mas não há razão especial. Droga, porque estou pensando nisso? Eu nem conheço essa fedelha! Pego a chave das mãos do manobrista e Eva se surpreende. “Você veio dirigindo? E Angus?” “Está de folga”. Esfrego o nariz na sua têmpora. “Eu estava com saudade de você, Eva”. Assim que acomodo Eva no carro vou até a equipe de seguranças. “Tudo certo, senhor?” “Sim, estamos indo para casa agora”. “Sim, senhor”. Volto para o Bentley e dou partida. Assim que chegamos à minha casa fomos direto para o banho. Eu não conseguia tirar minhas mãos dela. Eu a lavei da cabeça aos pés, a enxuguei e a vesti apenas com um robe e, em seguida, vesti uma calça de seda estampada. Tê-la aqui mudou completamente o clima. Essa casa tinha se tornado um mausoléu durante esses quatro dias. E agora meu anjo está aqui, trazendo sua alegria, seu brilho e sua graça.


175 Aproveitei que Eva foi pedir o nosso jantar e me dirigi à cozinha pegar uma garrafa de Armagnac e dois copos depois ao meu escritório. Agora, aqui sentado na penumbra, bebericando meu conhaque, observo atentamente o enorme porta-retratos com as colagens que fiz com nossas fotos, iluminado por apenas uma lâmpada. Preciso escolher as palavras com meu anjo. Falar sobre isso irá nos ajudar a entender melhor o funcionamento da nossa relação. Eu quero cuidar dela, fazê-la se sentir segura, ser seu porto seguro e o responsável por satisfazer todos os seus desejos e necessidades. Mas para isso, ela terá de ceder, me deixar tomar o controle. O difícil será convencê-la disso. De repente, uma corrente elétrica percorre todos os meus nervos, fazendo meus pelos se arrepiarem. Isso é o meu corpo me dizendo que meu anjo está por perto. Ela aparece no limiar e me observa. Sei que um de seus maiores prazeres é me admirar. Tenho total ciência de minha beleza e da atenção que recebo das mulheres sem sequer abrir a boca; basta apenas que eu esteja respirando. Mas com Eva é diferente, sempre é. Seus olhos intempestivos me cortam como lâminas de aço, e ao mesmo tempo em que me envaideço me sinto exposto, vulnerável. Com um simples olhar ela cura as feridas do antigo Gideon, e transforma o Gideon que me tornei em um Gideon que eu jamais pensei que conheceria um dia. Ela entra ainda me observando e, em seguida volta seus olhos para onde estou olhando. Posso sentir sua surpresa em ver a colagem. Quero provar a ela meu amor de todas as formas que eu puder. Aponto-lhe o cálice já cheio e peço-lhe para se sentar. Ao lado dele, coloquei o porta-retratos em tamanho menor com as fotos de nós dois. Ela me olha curiosa e um pouco confusa, mas ao ver a colagem, a tensão se dissipa. “Quero que você leve isso para o trabalho” digo baixinho. Ela agradece e põe o porta-retratos perto do coração, enquanto pega o cálice com a outra mão. Meus olhos brilham ao ver a alegria estampada em seu rosto. “Vejo você me mandando beijos o dia todo na minha mesa. Acho justo que tenha algo para se lembrar de mim. De nós”. Ela suspira pesadamente. “Eu nunca me esqueço de você, nem de nós dois”. “E eu não deixaria, mesmo que você quisesse”. Dou um grande gole em minha bebida, está na hora. “Acho que entendi qual foi nosso primeiro erro, o que causou toda a turbulência que estamos enfrentando desde então”. “Ah, é?” “Beba seu Armagnac, meu anjo. Acho que você vai precisar dele”. Aconselho. Ela dá um primeiro gole cauteloso, como se para experimentar, então dá outro, agora maior. Bebo mais um pouco e inicio nossa conversa, cuidadosamente.


176 “Diga o que foi mais gostoso, Eva: sexo na limusine, quando você estava no comando, ou no hotel, quando quem comandou fui eu?” Ela se remexe desconfortável em seu assento. “Acho que você gostou do que aconteceu na limusine. Enquanto estava acontecendo. Depois não, obviamente”. Esse assunto ainda a magoa. “Eu adorei” afirmo com convicção. “Sua imagem naquele vestido vermelho, gemendo e me dizendo que adorava meu pau dentro de você não vai sair da minha cabeça enquanto eu viver. Se quiser voltar a ficar por cima alguma vez no futuro, sou totalmente a favor”. Seu corpo retesa. “Gideon, estou começando a ficar assustada. Todo esse papo de palavra de segurança e ficar por cima. Não estou gostando do rumo desta conversa”. “Você está pensando em violência e dor. Eu estou falando de cessão consensual de controle”. Explico e a olho atentamente. “Quer mais um conhaque? Você está pálida”. “Você acha?” Ela deixa o cálice vazio em cima da mesa. “Pois parece que você está me dizendo que é um dominador”. “Meu anjo, isso você já sabia”. Digo sorrindo, lembrando-me de sua tendência natural em me obedecer. “O que estou dizendo é que você é submissa”. Ela se levanta em um pulo. Eu imaginei que não seria fácil. “Nada disso”, advirto com um tom de voz sombrio. “Nada de fugir. Ainda não terminamos”. “Você não sabe do que está falando. Você sabe pelo que eu passei. Preciso estar no controle, tanto quanto você”. “Sente-se Eva”. Ela permanece de pé, como se para provar o que disse. Meu anjo é teimoso e orgulhoso. Como não amar? Abro um largo sorriso. “Você tem alguma ideia de como sou maluco por você?” murmuro. “Você realmente é maluco se está achando que vou aceitar obedecer a ordens o tempo todo, principalmente na hora do sexo”. Tento explicar meu ponto de vista dizendo que meu objetivo não é humilhá-la ou tratála como um animal adestrado, e que estamos conversando sobre isso porque ela é o meu maior tesouro e quero protegê-la. E mesmo assim ela contesta. “Eu não preciso ser dominada”. “Você precisa é de alguém em quem confiar...” E tenta me interromper mais uma vez. “Não. Quieta, Eva. Espere até eu terminar”. Ela se cala! Aleluia!


177 “Você me pediu para reavivar seu corpo fazendo coisas que antes eram dolorosas e assustadoras. Não sei nem dizer o que significa essa confiança pra mim, e como eu me sentiria caso fizesse algo e acabasse perdendo isso. Não posso arriscar. Precisamos fazer do jeito certo”. Ela cruza os braços. “Acho que sou muito burra mesmo. Pensei que nossa vida sexual fosse o máximo”. Ponho o cálice já vazio sobre a mesa. Prefiro ignorar essa declaração insana e sem fundamento. “Você me pediu pra satisfazer uma necessidade sua, e eu concordei. Agora precisamos...”. “Se não sou o que você quer, pode dizer de uma vez!” Me interrompe de novo (santa paciência...) colocando o cálice na mesa de forma um tanto agressiva. “Não precisa ficar dando voltas...”. Então penso rápido no plano B: uma pequena demonstração para fazê-la enxergar a verdade – e para calar essa boquinha linda. Contorno a mesa e antes que ela possa dar dois passos para trás eu a aprisiono em meus braços e tomo sua boca com a minha. Prenso-a na parede e agarro seus punhos, erguendo-os sobre sua cabeça. Dobro os joelhos e começo a friccionar meu melhor amigo em suas pélvis, fazendo a seda criar atrito com seu clitóris. Meus dentes se fecham em seu mamilo coberto pelo robe. Seu corpo amolece. “Viu como você se submete em um instante quando assumo o controle?” Beijo suas sobrancelhas. Eva me olha surpresa. “E é gostoso, não é? É a coisa mais certa a fazer”. “Isso não é justo”. Teimosa. “Claro que é. E é verdade”. Ela analisa atentamente as feições do meu rosto. O desejo estampado em seu olhar. Mas há relutância. “Não consigo evitar, quando você me deixa com tesão”, murmura. “Meu corpo é programado fisiologicamente pra amolecer e relaxar, pra você poder enfiar seu pau enorme em mim”. Tento explicar de uma forma clara e objetiva que ela quer que eu esteja no controle, porque é importante poder confiar em mim e saber que cuidarei dela. E que o mesmo vale pra mim, uma vez que preciso que ela confie em mim a ponto de abrir mão do controle. Ela insiste em dizer que não é submissa. “Comigo você é. Se pensar bem, você vai ver que está tentando me dizer isso desde o começo”.


178 Eva admite que sou mais experiente e que é por isso que me deixa fazer o que quiser com ela. Mas insiste no absurdo de que não é interessante. Odeio quando ela diz essas bobagens. Eu nunca senti tanto prazer carnal por alguém em toda a minha vida. Antes eu trepava duas vezes na semana, com Eva preciso transar no mínimo várias vezes ao dia, incluindo rapidinhas. “Não é nada disso, Eva. Você sabe que adoro transar com você. Se pudesse, não faria mais nada da vida. Não estamos falando de brincadeirinhas que me excitam”. “Então estamos falando do que me excita? É isso?” “É. Foi o que eu pensei”. Franzo a testa ao encará-la, merda! “Você está chateada. Eu não queria... droga. Pensei que falar a respeito fosse ajudar”. “Gideon. Você está cortando meu coração”. E os olhos delas se enchem de lágrimas. CACETE! Eu e minha boca de caçapa! Não era essa minha intenção, não me fiz claro e ela entendeu tudo errado. Está na hora de levá-la ao quarto. Solto seus pulsos, dou um passo para trás e a pego no colo. Quando chegamos em frente à porta, peço que ela gire a maçaneta. O quarto está iluminado pelas chamas das velas, minha intenção é reproduzir o clima daquele dia em que tirei sua foto dormindo. Adoro ver como essa luz natural reflete em seus cabelos dourados. Um anjo envolto em sua áurea de graça e beleza. “Não estou entendendo. Você... mudou meu quarto pra cá?” Ela parece perplexa. Explico que apenas recriei o quarto dela baseado na foto. Coloco-a no chão, mas mantenho um braço ao redor de sua cintura. “Por quê?” “Quando você sentir vontade de fugir”, digo com um tom de voz suave, acariciando seus cabelos molhado “pode vir até aqui e fechar a porta. Prometo que não vou incomodar até você sair. Assim você pode ter um porto seguro, e eu posso saber que não me deixou”. “A gente vai continuar dormindo na mesma cama?” pergunta temerosa. “Todas as noites”. Beijo sua testa a fim de acalmá-la. “De onde você tirou essa ideia? Fale comigo, Eva. O que está passando por essa sua cabecinha linda?” “O que está passando pela minha cabeça?” explode. “Que porra está acontecendo com a sua? O que você andou fazendo durante os quatro dias que ficamos separados?” “Nós nunca nos separamos, Eva”. Sibilo entre dentes. Odeio quando ela usa essa palavra. Nós nos distanciamos, mas nossas almas estão irremediavelmente ligadas para sempre. Será que ela não vê isso? O telefone toca. É o jantar.


179 Vou até a porta receber. Quando volto, encontro Eva deitada em seu quarto. Está agarrada a um travesseiro, com os olhos fechados. Paro ao lado da cama. Ela está de costas para mim. “Por favor, não me faça comer sozinho”. “Por que não ordena que eu coma com você logo de uma vez?” Ironiza. Respiro fundo e deito a seu lado. Odeio vê-la chateada, e a sensação só piora quando a causa sou eu. Não era minha intenção magoá-la, eu só quero que ela entenda que não posso abrir mão do controle. Ele é essencial em minha vida, foi assim que me libertei do inferno no qual vivi por tantos anos. Foi isso o que me protegeu. Agora, eu tenho Eva, não sou mais uma pessoa solitária. Ela abriu um mundo de possibilidades para mim, me fez enxergar coisas que até então estavam ocultas. E o fato de ela ter sofrido da mesma forma que eu me fez perceber que nossa ligação não é apenas de corpo ou um simples sentimento de posse, mas algo profundo, muito além do que a mente humana é capaz de compreender. O fato de eu querer tomar o controle não significa fazê-la de capacho, mas sim que estarei aqui para cuidar dela, para consolá-la, para amá-la acima de tudo e cuidar para que nada lhe falte. Esse quarto não é uma forma de nos afastar, mas uma garantia de que, apesar de sua reclusão, ela ainda está aqui, comigo. Eu preciso dessa segurança, de saber como ela está, com quem e aonde. Não posso sequer a imaginar como seria perdê-la de forma irreversível. Isso me mataria. O silêncio reina entre nós. Não sei quanto tempo se passa, mas Eva não se vira e permanece em seu mundo particular. Sinto que estamos cada vez mais distantes e isso me aflige. Ficamos longe um do outro por tanto tempo, não quero que isso se repita. “Eva”. Acaricio seu braço por cima do robe de seda com meus dedos. “Não aguento ver você triste. Fale comigo”. “Não sei o que dizer. Pensei que estávamos finalmente começando a nos entender”. Choraminga. “Não precisa ficar tensa, Eva. Dói muito quando você se afasta de mim”. De repente ela rola na cama para cima de mim, me deitando de costas. Suas mãos acariciam meu peito e suas unhas deixam marcas por onde passa. Seus quadris começam a sem mover incessantemente, seu sexo desnudo sendo esfregado no meu pau. Porra, essa mulher quer me matar! Meus olhos ficam fora de foco e começo a ofegar de boca aberta. “Isto é tão ruim assim pra você?”, pergunta, sem interromper o movimento. “Ou você está deitado aí pensando que não está me satisfazendo só porque eu estou no comando?” Ruim? Uma mulher fogosa esfregando sua bocetinha molhada e inchada em cima do pau ereto e pronto para o combate de um homem parece ser algo ruim? Tá de brincadeira?


180 Coloco as mãos possessivamente em suas coxas. Óbvio que a posição é indiferente. Eu posso muito bem comandar o ritmo por baixo, sem o menor problema. “Já falei. Quero você do jeito que for”. Minha voz sai rouca de desejo. “Que seja. Não pense que não sei que você está comandando tudo mesmo por baixo”. Sorrio convencido. O que posso dizer em minha defesa? Sou um dominante nato. Não dá pra fazer nada quanto a isso. Deslizando para baixo, ela provoca meu mamilo com a ponta da língua. Estica-se sobre meus quadris e pernas e agarra minha bunda, mantendo-me perto. Puta que pariu... Minha ereção bate continência junto à sua barriga. “Você vai me castigar me dando prazer?” pergunto baixinho. “Porque você é capaz de fazer isso. Você tem o poder de me deixar de joelhos, Eva”. Ela solta uma lufada de ar em meu peito. “Quem me dera”. “Por favor, não fique tão preocupada. Vamos superar isso, assim como todo o resto”. “Você diz as coisas com tanta certeza”. Me encara estreitando os olhos. “Só está querendo provar seu ponto de vista”. “E você, o seu”. Passo a língua por meus lábios ressecados. A emoção de tê-la de volta me invade. Ao olhar em seus olhos, percebo que finalmente ela compreendeu o propósito desse quarto. Seus sentimentos por mim estão estampados em seu rosto. E com certeza ela sabe que eles são correspondidos com igual ou maior intensidade. Sim, nós nos apaixonamos perdidamente um pelo outro. Meu pescoço se curva ao primeiro toque dos lábios de Eva em meu peito. “Oh, Eva”. Gemo. “Prepare-se pra perder a cabeça, senhor Cross”. Sussurra sensualmente. E... Porra! Não consigo formular nenhuma frase coerente. Meu anjo vem pra cima de mim com tudo.


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Capítulo 14 Reconciliação (Parte II) Comprovado: ninguém faz um boquete melhor que Eva. Sua intenção de me enlouquecer foi cumprida com méritos. Vê-la cavalgar com força em cima de mim, comandando o ritmo, foi realmente sensacional. Após sua deliciosa tentativa de provar seu ponto de vista, tivemos um jantar muito agradável regado a brincadeiras que incluíram um comentário espirituoso de Eva acerca de minha fortuna: “Seu dinheiro só me interessa se você puder parar de trabalhar e virar meu escravo sexual”. Sim eu concordo, não poderia ter encontrado alguém melhor para mim. Ela só quer o meu corpo nu e isso lhe basta. Pois estarei sempre pronto para fodê-la incansavelmente, basta dizer o dia, a hora e o lugar. No entanto um ponto da nossa conversa me deixou incomodado: sua mania de sabotar a própria autoestima. Quer dizer, eu tenho uma namorada linda, gostosa, divertida, encantadora, super boa de cama e que acima de tudo, gosta de mim apesar de eu ser um baita de um merda com ela na maior parte do tempo. Enfim, que papo foi aquele de vida sexual insatisfatória? Tem muitas coisas que são insatisfatórias em minha vida, mas o sexo com Eva com certeza, em hipótese alguma, é uma delas. Fala sério! Essa mulher me mata de tesão só estando viva. E sua insegurança momentânea nada mais foi do que a prova do meu ponto de vista: por mais que tenha ficado satisfeita por ter me feito gozar duas vezes, ela ainda estava a fim de se entregar para mim e me deixar tomar a responsabilidade pelo nosso prazer. A cara de peixinho dourado que ela fez quando eu disse que não iria comê-la foi impagável. Aquela foi minha deixa para darlhe o segundo presente da noite... FLASHBACK ON “Espere aqui”, eu disse saindo da mesa. Fui até o quarto e tirei de uma de minhas gavetas do closet a caixinha com o anel. Voltei para a sala de jantar e a depositei ao lado de seu prato e retornei ao meu assento. O olhar de Eva, a princípio era de puro medo e depois mudou para ansiedade. Seu corpo inteiro tremia e, desnorteada, olhou para mim, como se eu fosse resolver o problema da fome no mundo. Acariciei seu rosto com meus dedos e expliquei que não era um anel de noivado, pois ela não estava pronta para dar um passo tão grande. Aquilo pareceu acalmá-la um pouco e acabou concordando com um aceno de cabeça. “Abra”, falei.


182 Ela abriu a tampa devagar e então suspirou alto. Ficou olhando para a joia por um tempo e em seguida murmurou “amarras”, referindo-se as cruzes incrustadas entre as camadas do anel. “Não exatamente”, intervi. “Vejo a corda como uma representação de suas múltiplas camadas, não como uma amarra. E, sim, as cruzes são as intersecções entre mim e você. Nossos dedos entrelaçados”. Terminei de tomar meu vinho e reabasteci nossas taças. Eva parecia estar em uma batalha interna consigo mesma sobre minha atitude. Vários sentimentos lhe perpassaram: confusão, inquietação, angústia e surpresa. Fiquei calado, esperando pacientemente que ela se manifestasse. “Você devolveu minhas chaves”, sussurrou. Ah, sim. Era isso que a estava confundindo. Estendi minha mão e a pus sobre a dela. “Fiz isso por várias razões. Você saiu daqui vestindo apenas um robe, Eva, e sem as chaves de casa. Não gosto nem de imaginar o que teria acontecido se Cary não estivesse em casa pra abrir a porta pra você assim que chegou lá”. Finalizei com certa aflição na voz. Ela levou minha mão à sua boca e a beijou, depois a largou e fechou a caixinha, sem tirar o anel de lá. “Obrigada, Gideon. É lindo”. “Mas você não vai usar”, comentei. E aquilo me deixou bem decepcionado. “Depois do que falamos hoje, fica parecendo uma coleira”. Tive que concordar. De repente, seus olhos são tomados por uma tristeza profunda e sua respiração rasa indica que uma nova onda de baixa autoestima vem por aí. “Sinto que estou decepcionando você, Gideon. Depois de tudo o que conversamos hoje... Acho que é o início do fim”. Imediatamente levantei da cadeira, me inclinei em sua direção e acariciei seu rosto. “Não é”. Nunca seria. “Quando vamos falar com o doutor Petersen?” “Eu vou sozinho às terças. Quando você conversar com ele e topar fazer a terapia de casal, podemos ir juntos as quintas”. “Duas horas por semana, toda semana. Sem contar o trajeto de ida e volta. É um compromisso e tanto. Obrigada”. Disse ela se inclinando e tirando o cabelo de meu rosto. “Não é sacrifício nenhum, Eva”. Beijei a palma de sua mão Eu faria tudo por essa relação, faria tudo por Eva. Em seguida voltei para meu escritório para trabalhar um pouco antes de ir dormir. Todos esses quatro dolorosos dias de reclusão deixaram suas consequências na quantidade de trabalho que tinha para adiantar.


183 FLASHBACK OFF Não tenho noção das horas. Ainda está escuro. Estou confuso por acordar assim, do nada, mas assim que olho para o lado vejo o que me despertou: a atração fatal e intensa pelo meu anjo que, nesse momento está sentada de costas para mim, admirando a caixinha com o anel. Simplesmente linda. Seu corpo nu e translúcido iluminado apenas pela luz cálida da lua. Meu pau se movimenta pronto para a ação. Mas me permito parar por um tempo e admirá-la. Eva sempre faz isso e quase nunca tenho a chance de retribuir o favor. A caixinha é aberta e ouço seu suspiro trêmulo. Para minha total alegria, ela o coloca no anelar da mão direita. “Você gostou, Eva?” Seu corpo treme ao som da minha voz. “Eu amei” sussurra. Sua voz carregada de desejo. Ela põe a caixinha de volta em cima do criado mudo e se volta para mim. Seus olhos acinzentados têm um brilho intenso, incandescente. Ah, essa mulher está morrendo de tesão e está louquinha para gozar nas minhas mãos. E eu estou prontinho para lhe dar isso. Levantei sua mão e beijei o anel. Sua atitude em colocá-lo prova que está cedendo. Ela se joga em cima de mim, envolvendo seus braços em meus ombros. “Me use como quiser. Carta branca”. Geme. Sinto-me deliciado em vê-la finalmente se submetendo a mim. Agarro sua bunda e a aperto bem forte. “Como você se sente dizendo isso?” “É quase tão bom quanto a sensação que vou sentir quando você me fizer gozar”. “Ah, um desafio”. Começo a roçar de leve a língua nos seus lábios, deliberadamente negando-lhe o beijo. “Gideon!” “Deite-se de costas, meu anjo, e agarre o travesseiro com as duas mãos”. Comando abrindo um sorriso perverso. “Não solte por motivo nenhum. Entendeu?” Ela obedece. Ah, como é bom vê-la assim, rendida. Fico num tesão disgramado. Chuto as cobertas para o pé da cama e a mando abrir as pernas e segurar os joelhos. O corpo inteiro de Eva responde as minhas ordens. Seus mamilos rosados endurecem, seus pelos se eriçam, sua boca resseca. Ela está ofegante. Abaixo-me para ter uma visão de dar água na boca: sua bocetinha está brilhante de tão melada, seus lábios vaginais estão inchados e seu clitóris pisca por atenção. Enfio um dedo firme em sua entrada.


184 “Oh, Eva, olhe só como você está faminta por mim. Manter essa bocetinha linda satisfeita é um trabalho de tempo integral”. Seus tecidos mastigam meu dedo e, vendo que ela quase goza, o retiro. Chupo-o para sentir o gosto de excitação: doce, quente, delicioso. Sues quadris se remexem de maneira insana. “É culpa sua se estou com tanto tesão”, diz quase sem fôlego. “Você deixou de cumprir sua obrigação durante vários dias”. “Então é melhor compensar o tempo perdido”. Deito de bruços, posicionando meus ombros sob suas coxas. Contorno a entrada de sua vagina com a ponta da língua uma, duas, três vezes, sem dar atenção a seu clitóris pulsante. “Gideon, por favor”. Implora num fio de voz. “Shh. Primeiro preciso deixar você pronta”. “Estou pronta. Desde antes de você acordar”. “Então deveria ter me acordado mais cedo. Vou estar sempre à disposição pra você, Eva. Eu vivo pra agradar você”. Der acordado no meio da noite por Eva, implorando para ser comida vorazmente? Não soa como um incômodo para mim. Não mesmo. Eva geme e rebola como uma louca contra minha língua. Vendo que ela está pronta, avanço para cima de seu corpo, apoiando meus antebraços na cama, alinhando meu enorme talento em frente à sua bocetinha ensopada. “Agora”. Diz sem fôlego. E então em uma estocada profunda, a penetro, fazendo-a afundar na cama. “Ai, nossa”, solta quase gritando. “Não goze agora”, sussurro em sua orelha, agarrando seus seios e torcendo de leve seus mamilos com os polegares e os indicadores. “O quê?” pergunta assustada. “E não largue o travesseiro”, ordeno ignorando sua indagação. Para provocá-la, começo a investir contra sua boceta vagarosamente. “Você vai gostar”, digo acariciando a parte de trás de sua orelha com o nariz. “Você adora agarrar meu cabelo e cravar as unhas nas minhas costas. E, quando está prestes a gozar, gosta de apertar minha bunda e me puxar ainda mais pra dentro. Fico com muito tesão quando te vejo enlouquecer desse jeito, mostrando como gosta de me ter dentro de você”. “Não é justo. É tortura”.


185 “Ninguém nunca perde por esperar”. Murmuro sorrindo. Contorno com a língua a parte de fora de sua orelha, depois a mergulho lá para dentro ao mesmo tempo em que belisco seus mamilos. Seu corpo afunda na cama quando invisto contra ela novamente, dessa vez com mais força, explorando suas zonas erógenas, a ponta do meu pênis acariciando seu ponto G. Começo a remexer os quadris de forma a explorar outras partes, alargando sua abertura apertada. Ela está entregue, vulnerável, completamente sem fôlego e fazendo uma força enorme para não gozar. O prazer estampado em seu rosto. “Não goze”. Repito. “Faça este momento durar”. “Eu n-não consigo. É bom demais. Minha nossa, Gideon... Estou... Atordoada por você”. As lágrimas escorrem do canto de seus olhos. Seu estado de excitação e suas palavras são tudo o que eu preciso. Estamos mais ligados do que nunca. Nossas almas completando uma a outra. Nossos corações batendo no mesmo ritmo. “Oh, Eva. Devo ter desejado você com tanta força e com tanta frequência que tudo acabou virando realidade”. Digo acariciando meu rosto com o dela. “Por favor, mais devagar”. Implora baixinho. Olho para ela e belisco seu mamilo com mais força, de forma a lhe causar uma leve pontada de dor. Continuo a estocar forte dentro dela. “Por favor”, pede mais uma vez, tremendo por causa do esforço para adiar o clímax. “Se você não for mais devagar vou gozar”. Continuo a olhá-la intensamente e provoco mais. “Você não quer gozar, Eva? Não é por isso que você está esperando a noite toda?” Quero ouvi-la dizer, quero ouvi-la admitir. Eu preciso disso. Percorro sua garganta com os lábios e sua cabeça pende para trás. “Só quando você deixar”, responde sem fôlego. “Só... Quando você mandar.” “Meu anjo”, suspiro. Removo alguns fios de cabelo grudados em sua testa e a beijo profundamente. Ela finalmente se rende de corpo e alma, admite sua dependência e me dá o controle da relação. Isso significa muito para mim. “Goze pra mim”, murmuro acelerando o ritmo. “Goze, Eva”. No momento seguinte ela explode. Seu corpo sacudindo violentamente enquanto o orgasmo toma conta de seu corpo como fogo se alastrando pela palha. Sua boceta aperta meu pau com força e seu ventre enrijece. Ela solta um grito agonizante alternando entre soltar


186 grunhidos sem sentido e falar o meu nome. Quanto mais eu estoco dentro dela, prolongando o clímax, mais ela me chama. Mais algumas investidas e ela tem outro orgasmo. “Me pegue, me aperte”. Ordeno. Eva se agarra ao meu corpo suado com os braços e as pernas. Assim, começo a meter com força, perseguindo meu orgasmo vorazmente. Solto um rugido alto ao gozar, jogando a cabeça para trás. Libero um jorro grosso e quente dentro dela e essa sensação dura um bom tempo. Meu pau fica abrigado em sua entrada, enquanto nos recuperamos. Assim que nossos corpos esfriam e nossa respiração volta ao normal, saio de cima dela e me coloco de lado, trazendo-a de costas de encontro ao meu peito. “Agora durma”. Sussurro. E a inconsciência a toma de imediato, nem lhe dando a chance de responder. _____//_____ Senti tanta falta de acordar com Eva do meu lado, que a partir de agora, esse hábito será frequente. Essa é uma das coisas das quais eu nunca abrirei mão. É como se meus dias, antes vazios, ganhassem significado, pois agora eu encontrei o meu lugar, encontrei a razão da minha existência, que até então, eu achava inútil. Quando abriu uma das gavetas que lhe reservei e viu todos os produtos de beleza e higiene pessoal que costuma usar, ela nada disse. Mas com certeza pensou em como eu teria descoberto. Não preciso contar que tenho extratos de todas as suas compras com os cartões de crédito. Minha intenção não é espionar, mas sim garantir que se nada lhe falte, mesmo que para isso eu tenha que invadir sua privacidade. Não vejo problema nisso, só quero agradar minha mulher. Eva me ajudou a vestir um terno cinza claro da Salvatore Ferragamo e, pela sua cara, foi uma experiência muito interessante. Parecia uma criança que viu o Papai Noel em pessoa, não parava de sorrir. Uma coisa linda de se ver. E me deixou com um tesão violento também. Ela vestiu uma das roupas que lhe comprei: um vestido preto justo com risca de giz, que acentuava suas belas curvas, um cinto azul que, segundo ela lembra a cor dos meus olhos (e com isso me derreti como geleia por dentro, adoro quando ela pensa em mim mesmo nas pequenas coisas) e sapatos de salto. E para o bem da minha sanidade mental, não teve meia-calça e cinta-liga, ou nós não sairíamos para trabalhar. Já dentro do Bentley, com Angus dirigindo bravamente pelo trânsito caótico de Nova York, nós estamos abraçados e com nossas mãos entrelaçadas. Ver o anel em seu dedo me trás


187 uma paz enorme, que nunca havia sentido antes, e a certeza de que essa linda mulher é minha, só minha. Estou brincando com o anel em seu dedo quando o carro sacode levemente ao passar por um buraco. Instintivamente a aperto mais em meu abraço. “Quais são seus planos para depois do trabalho?” pergunto. “Hoje começam minhas aulas de krav maga”. Ela soa bem animada com isso. “Ah, é verdade. Você sabe que vou querer ver você aprendendo os golpes. Só de pensar já fico com tesão”. Provoco roçando os lábios em seus cabelos. “Já não ficou bem claro que qualquer coisa deixa você com tesão?” brinca me cutucando com o cotovelo. “Qualquer coisa relacionada a você, o que é bom para nós dois, já que você é insaciável. Me mande uma mensagem quando terminar a aula e eu passo na sua casa”. Ela assente e começa a revirar sua bolsa. De lá tira o celular para verificar se ainda está carregado. Eva está compenetradíssima olhando para o visor e isso me deixa curioso. Olho por cima de seu ombro e a vejo assistindo um vídeo. “O que é isso?” pergunto com os lábios ainda colados em seus cabelos. Observando mais atentamente, vejo... Magdalene e Christopher? O que eles estão fazendo escondidos no labirinto de plantas daquela casa? Ela está chorando desoladamente e ele tenta consolá-la com beijos e carícias. O vídeo foi gravado no dia da festa. Estavam falando sobre mim e Eva, dizendo que ela estava usando seu corpo para faturar alguns milhões às minhas custas. “Não se preocupe, você sabe que o interesse de Gideon nunca dura muito”. Diz o bastardinho com uma voz mansa. “Com ela é diferente. Acho... Acho que ele está apaixonado”. Responde Maggie aos soluços. Ele dá um beijo na testa dela. “Ela não faz o tipo dele”. Eva aperta meus dedos entre os seus como se agora tivesse entendido o motivo de eu a querer longe dele. O comportamento de Magdalene vai mudando até se render completamente à sedução barata de meu irmão e, ao ver que ela está absorta e vulnerável, ele levanta seu vestido e... Transa com ela ali mesmo. Sinto um golpe na costela por ver minha amiga ser usada daquela forma. É nítido que aquele ser desprezível está se aproveitando de seu momento de fraqueza. Me sinto impotente e triste. Que ele não presta não é novidade, mas nunca pensei que ele seria capaz de fazer algo tão baixo com alguém tão próximo de nós como Magdalene. Sua intenção, é


188 claro, é magoar todas as pessoas ao meu redor, tentar me afetar de todas as formas possíveis. Felizmente, a bateria do celular acaba e a tela se apaga. “Credo, que horror. Sinto até pena dela”. Eva sussurra completamente chocada. “Esse é o Christopher”. Bufo, tentando conter a minha raiva. “Que filho da puta. Aquele olhar pretensioso na cara dele... Eca”. Estremece, largando o celular no banco. “Pensei que com Maggie ele não faria nada”, murmuro beijando seus cabelos. “Nossas mães são amigas há anos. Acho que esqueci como ele me odeia”. “Por quê?” Por um momento, penso em contar a verdade, mas não toda. “Ele acha que não recebeu atenção suficiente quando éramos crianças, porque estava todo mundo preocupado em saber como eu me sentia depois do suicídio de meu pai. Então ele quer tirar o que tenho. Tudo o que puder”. Explico um tanto irritado. A ideia de que aquele pentelho possa aprontar para cima de Eva me deixa em vias de fúria assassina. Senti seus pequenos braços me envolverem por baixo do paletó, uma mania que ela tem. O calor que emana de seu corpo me acalma. “Gideon?” “Hã?” Ela se afasta e me encara. Em seus olhos um brilho de admiração e carinho. Estende a mão e acaricia minhas sobrancelhas com o dedo. “Eu te amo”. Meu corpo inteiro chacoalha com essa revelação. Meu Deus, foi isso mesmo que eu escutei? “Eu não queria assustar você”, diz rapidamente virando o rosto para o lado. “Você não precisa fazer nada a respeito. Só não aguentava mais esconder como me sinto. Agora você já sabe”. Ela me... Ela me ama? Céus, ela me ama? De verdade? Como as pessoas amam as pessoas amadas? Essas três pequenas palavras saídas de sua boca me afetam de tal forma que nem consigo formular uma frase que realmente faça sentido. Automaticamente agarro sua nuca com uma mão e com a outra pego firmemente sua cintura, deixando-a imobilizada e colada ao meu corpo. O amor de Eva é tudo o que eu mais queria; aquilo que eu mais almejei desde que nosso envolvimento se tornou mais sério. Talvez, no fundo, desde quando a vi pela primeira vez, eu já necessitava de seu amor. Agora, mais do que nunca, não posso perdê-la, nunca, não posso respirar sem ela, não posso falhar novamente.


189 Lutarei com todas as minhas forças para fazer nossa relação dar certo. Cuidarei dela de todas as formas que eu puder. Abrirei mão do que for por Eva. Meu anjo, meu ar, meu tudo... Chego ao meu escritório me sentindo leve e feliz, tanto que acabo cumprimentando Emma, a recepcionista, que responde abismada. Assim que me vê Scott se levanta. “Bom dia, senhor Cross”. “Bom dia, Scott, como vai?” Ele arregala os olhos, como se tivesse visto o Jack Estripador e balbucia. “Muito bem, senhor. Obrigado”. “Excelente. Agenda em 10 minutos. Ligue para o Ben e lhe de diga para vir à minha sala dentro de meia hora e providencie um almoço para dois no Peter Luger”. “Claro, senhor”. Assim que entro em meu escritório, coloco o celular de Eva para carregar. Eu o peguei enquanto saíamos do carro. Ela estava meio surpresa e enojada pela atitude de Christopher de tal forma que nem se lembrou do aparelho. Foi uma boa oportunidade. Pretendo carregá-lo, transferir o vídeo para meu computador e mostrá-lo a Magdalene. Como amigo, é meu dever dizer-lhe a verdade sobre aquele desgraçado. Ligo para ela e marco um almoço em meu escritório, alegando urgência. A princípio, sua voz soa triste, mas ao me recusar a falar sobre o teor da conversa por telefone, ela fica intrigada e confirma sua presença. Meu dia hoje está mais cheio do que nunca. Não vou parar nenhum segundo sequer. Reuniões, análise de relatórios e orçamentos dos atuais empreendimentos, teleconferências, videoconferências, tudo está um caos. Tudo o que eu havia marcado na última sexta teve que ser praticamente espremido entre meus afazeres de hoje. Eu poderia estar estressado e muito puto com tudo isso, mas me sinto leve e bem disposto. Depois de todo o sofrimento desses últimos dias, finalmente as coisas estão se encaixando. Quando estou bem com Eva, tudo no meu mundo fica bem. Algum tempo depois de Scott sair, Ben entra. “Com licença, senhor Cross. Bom dia”. “Bom dia, Ben. Sente-se. Vamos começar”. Realmente meu humor está melhor do que o normal. Avaliamos as fitas de segurança, os relatórios e discutimos a possibilidade de instalar câmeras nas saídas de emergência. “E como está indo o caso de Nathan Barker?” pergunto. Ben respira fundo. “Nada ainda, senhor. Ele é muito esperto e escorregadio. Sabe muito bem se esconder. Não há movimentação em sua conta bancária, os endereços não batem e não


190 há registro dele em nenhum de nossos hotéis. Procurei saber algumas informações com um contato meu que trabalhou para a família Barker”. “E o que descobriu?” “Bom, senhor”, ele se remexe desconfortável em seu assento. “Ele me contou sobre o... O ocorrido entre Nathan e a Srta. Tramell. E me disse que o Sr. Barker ficou furioso, brigou seriamente com o filho, chegando à agressão física, e o expulsou de casa. Desde esse dia, o meliante nunca mais deu notícias”. “Tem como me garantir que esse seu contato jamais contará o que aconteceu?” essa é minha maior preocupação. “Senhor Cross, eu o conheci durante o treinamento antiterrorismo. Ponho minha credibilidade profissional no fogo por sua integridade. Tanto que ele apenas me contou, pois sabia de seu envolvimento amoroso com ela. Esse assunto é altamente confidencial e ninguém nunca saberá, nem por ele nem por mim”. “Ótimo”, digo satisfeito. “Qualquer avanço, me avise imediatamente”. “Como quiser senhor Cross. Algo mais?” “Não, pode voltar a seus afazeres”. “Com licença. E, senhor Cross?” “Sim?” “Com todo o respeito, me empenharei ao máximo na busca por esse bastardo. Um homem como ele não merece estar por aí, respirando. Farei o que for necessário para ajudá-lo a manter a Srta. Tramell a salvo”. Sua atitude me comove. “Obrigado, Ben”. Ele se assusta por eu tê-lo agradecido, fazendo a mesa expressão chocada de Scott mais cedo, mas assente com a cabeça e se retira. Meu dinheiro me permitiu contratar os melhores profissionais para trabalhar ao meu lado, mas devo admitir minha sorte em poder contar com uma equipe tão leal e empenhada. São 10 da manhã e finalizo minha segunda chamada de vídeo do dia, dessa vez com o grupo responsável pelas obras no Arizona. Precisarei viajar para lá essa semana. As coisas não estão saindo conforme o planejado. Odeio quando isso acontece. Tenho que reorganizar minha agenda por conta dessa viagem, que durará todo o fim de semana. Chamo Scott para reagendar um compromisso marcado para um dos dias em que precisarei viajar. É uma reunião muito importante sobre uma nova aquisição, e por ser muito extensa, teve ser marcada para um


191 sábado. Estou lendo alguns relatórios quando meu secretário adentra a sala com... Um buquê de rosas vermelhas? “Scott, o que significa isso?” pergunto franzindo o cenho. “São para o senhor. Eu ia lhe interfonar quando me chamou. Acabaram de chegar”. Diz com um sorriso sutil nos lábios. Estranho. De quem será? Scott se aproxima com um olhar de ‘eu sei quem é o remetente’ e me entrega as rosas. Entre elas um cartão. Uma celebração aos vestidos vermelhos e aos passeios de limusine. Reconheço a caligrafia no mesmo instante. “Eva”. Murmuro. Um sorriso ridiculamente enorme surge em meus lábios. Fico absorto nessa sensação gostosa, olhando para o cartão como um doente mental. Ouço uma tosse seca e me volto para Scott, que me observa com uma olhar meio divertido, mas mantendo a discrição. “Bom... Vou escrever uma nota de agradecimento e peça para entregá-la à senhorita Tramell. Peça a Emma para providenciar um vaso para colocar as rosas”. “Sim, senhor”. Escrevo: VAMOS FAZER ISSO DE NOVO. EM BREVE. Dobro o cartão, coloco-o dentro do envelope e entrego a Scott. “Assim que fizer isso, retorne para que possamos reorganizar minha agenda”. “Perfeitamente”. Assim que retorna, repassamos todos os compromissos dessa semana e da que vem, incluindo a reunião sobre a fusão, e verificamos o melhor dia para tal. Está sendo difícil porque há muitos compromissos já agendados e muitos deles são irremediáveis. Ficamos nisso por quase uma hora até que o interfone toca. “Senhor Cross”, a voz de Emma ressoa o ambiente. “Acabou de chegar uma encomenda para o senhor”. Franzo o cenho. “Emma, assine e traga até minha sala”. “Sim, senhor”. Minutos depois uma Emma um tanto carrancuda entra segurando um preto e branco de lírios e copos-de-leite. A sobrancelha de Scott se levanta em surpresa e um sorriso discreto surge em meus lábios. Meu anjo está aprontando alguma. E estou adorando. Ela me entrega o buquê e o cartão:


192 Em homenagem aos vestidos em preto e branco e às fugidinhas pra biblioteca... Eu jamais esquecerei nossa reconciliação. Foi muito intenso e forte. Estávamos completamente abalados por ficar tanto tempo distantes um do outro. Poder tocá-la novamente, seu calor, seus beijos, o sabor do seu gozo... “Senhor Cross?” Scott me puxa de meus devaneios. “Sim?” “Que tal outro vaso para esse arranjo?” pergunta cautelosamente, com certeza se segurando para não rir da minha cara de idiota. “Sim. Emma, providencie-o”. “Agora mesmo, senhor Cross”, responde impassível e sai da sala. Assim que o buquê está devidamente instalado em um lindo e moderno vaso quadricular de vidro fosco, pego outro cartão e escrevo a resposta: QUERIA DAR UMA FUGIDINHA COM VOCÊ AGORA MESMO... “Já sabe o que fazer Scott”. “Sim senhor”. Ele sai e retorna minutos depois. Continuamos a discutir o reagendamento da reunião, que foi marcada para a próxima semana. Aproveito a pausa antes do almoço para passar o vídeo para meu computador e o almoço chega nesse momento. Ao meio-dia Scott interfona avisando que Magdalene me aguarda na recepção. “Mande-a entrar”. Minha amiga aparece no limiar com um rosto um tanto abatido, mas sem perder sua beleza latina característica. Está elegantemente vestida com um vestido verde água de mangas cumpridas e gola alta, que bate nos joelhos, sandálias brancas e seu cabelo liso e volumoso batendo quase na cintura. Seu visual lembra muito o de Corinne, principalmente o corte de cabelo. “Olá, Gideon. Como vai?” pergunta dando um sorriso fraco. “Muito bem Maggie”, digo me levantando para cumprimentá-la. “Seu pedido me surpreendeu e me deixou bem intrigada. O que você tem de tão importante para me dizer?” “Você saberá em breve, vamos comer primeiro”. Ela observa atentamente o cômodo ao redor. “Desde quando você é adepto de flores no escritório?” caçoa sorrindo. “Presente de Eva”, falei. Seu sorriso desmancha um pouco. “Sei”.


193 Eu a guio até o minibar onde nossa comida já está posta. Escolhi risoto de frango. “O assunto deve ser mesmo grave para querer me mimar escolhendo meu prato favorito” ironiza, mas com um sorriso doce nos lábios. “O que posso dizer? Sei como agradar uma mulher”. Gracejo. “Sim, sim, claro. O grande conquistador Gideon Cross. Podemos comer antes que sua modéstia me faça perder o apetite?” diz dando risada, e eu a acompanho. Conversamos sobre diversos assuntos. Ela é um das poucas pessoas quem têm acesso a minha vida e sabe da minha história, exceto os pesadelos. Nunca conversamos sobre tudo, claro. Prezo muito minha individualidade. “Então... Corinne me ligou recentemente para perguntar o que anda acontecendo com você, já que não responde às ligações dela e tudo mais”. Comenta cautelosamente. Isso me irrita um pouco. Ela está tentando me encurralar e detesto isso. “Maggie, você sabe que eu e Corinne terminamos há muito tempo. Não faz sentido ficar ligando para ela o tempo inteiro. Estou comprometido e tenho uma vida muito ocupada”. “Eu sei, ela fez muitas perguntas sobre Eva e inclusive comentou que você queria apresentar a duas”. Estranho. “Que tipo de perguntas?” “Nada demais, apenas o básico: quando e como vocês conheceram, se é um compromisso sério, se você está apaixonado, etc.”. “E o que você respondeu?” pergunto um tanto preocupado. “Ei, não precisa me olhar com esse ar de desconfiança. Agora eu entendo que você e Eva estão juntos e estão bem. Isso ficou muito claro durante a festa”, diz na defensiva, mas finalizou com uma pontada sarcástica. “Sim, estamos muito bem. Apesar de eu odiar aquela casa mais do que qualquer coisa, Eva me fez viver ótimos momentos lá dentro. Só ela poderia ter feito isso por mim”, atiro sem titubear. Magdalene se encolhe ante meu tom de voz. E eu lá vou me sentir constrangido por transar com a minha namorada? A gente não fez nada na frente de ninguém. Quem mandou assistir nosso showzinho particular? “Me desculpe, eu só fiquei chocada de ver como você mudou por ela. E quero que saiba que estou feliz por você, apesar de tudo”. Diz olhando para baixo. “Tudo bem, Maggie”, digo apaziguando. “Eu entendo e muito obrigado”. “Claro”, diz sorrindo fracamente.


194 Terminamos de comer e nos encaminhamos para a minha mesa. Estamos chegando à parte mais difícil. “Então, Cross? Dá para dizer que assunto é esse, pelo amor de Deus?” “Sim”, respiro fundo e começo. “Maggie, somos amigos há muitos anos. Sabe que me importo muito com você, não é?” Ela assente. “Pois bem, como seu amigo, é minha obrigação lhe dizer a verdade. Nesse caso irei mostrá-la, e não será nada fácil, acredite”. Ela me olha num misto de confusão e curiosidade. Abro o player e viro a tela do monitor para sua frente. O vídeo começa a rodar e Maggie o vê com atenção, quando assimila seu conteúdo, seus olhos se arregalam como pratos e seu rosto começa a corar de vergonha. Quando chega a parte em que os dois começam a transar, as lágrimas descem como cascata pelas suas bochechas num choro silencioso, mas sofrido. “Chega”. Ela implora num fio de voz. Eu pauso o vídeo e volto o monitor para sua posição de costume. Com a cabeça baixa, ela se entrega a um choro desesperador. Meu coração se aperta em vê-la nesse estado. Saio do meu assento, contorno a mesa e me agacho perto dela, com um lenço nas mãos. “Maggie, eu sinto muito, mas você precisava saber”. Ela se levanta com o rosto molhado de lágrimas e uma expressão de dor, de decepção, de mágoa. “Como Christopher foi capaz de uma atrocidade dessas? Logo comigo? Por quê? O que eu fiz para aquele garoto? Sempre fui uma boa amiga”. E desaba novamente. “Maggie, acalme-se”, me levanto para pegar uma garrafa de água no frigobar, despejo o conteúdo em um copo e entrego para ela. “Christopher é um moleque degenerado e sem limites. Ele abusou de sua vulnerabilidade em um ato de total ausência de caráter e amor ao próximo. Não se culpe”. Ela pega o copo de água que ofereço e dá um gole. “Mas eu cedi, Gideon! Eu me sinto tão suja. Tão usada! Eu... Eu... não sei o que dizer. Estou envergonhada”. Magdalene se debulha em lágrimas por mais um tempo e aos poucos começa a se acalmar. Fico o tempo todo ao seu lado, ajoelhado, acariciando seus cabelos. Quando vejo que o choro cessa, explico para ela os reais motivos que levaram Christopher a agir daquela forma. “Ele faz tudo isso apenas pelo prazer de me atingir”. “Minha nossa! Eu sempre soube que ele tinha inveja de você, mas não sabia que poderia chegar a esse ponto”.


195 “Esse é o Christopher”, repito as palavras que disse a Eva no carro mais cedo. “Isso explica o interesse exacerbado dele sobre a Eva. Imaginei que ele estivesse apenas tendo reações normais para sua idade, mas vejo que me enganei. Você precisa tomar cuidado com ele e proteger Eva desse pilantra”. “Já estou fazendo isso. Se ele ousar se aproximar dela novamente, eu vou acabar com ele. Ninguém toca no que é meu”, digo em um ataque de possessividade. Noto que ela olha atentamente o porta-retratos que Eva me deu. “Eva tem muita sorte de ter você”, diz de repente. “Você é um companheiro e tanto”. Seu elogio me constrange. “Obrigado”. Ela respira fundo e se levanta. “Bom, acho que está na minha hora, e você deve estar bem ocupado. Posso apenas usar o seu banheiro?” “Fique a vontade”. Em nenhum momento Maggie olhou para mim. Deve estar morrendo de vergonha por eu ter visto o vídeo. Minutos depois ela sai do banheiro, já recomposta, com a maquiagem retocada, mas seus olhos ainda estão um pouco vermelhos. “O estrago não foi tão grande. Viva à maquiagem a prova d’água”. Tenta brincar, mas não me encara. “Foi realmente um trabalho de mestre. Nem sinal de choro”. Sorri. “Obrigada por tudo, Gideon”. “Não precisa me agradecer, fiz isso porque sou seu amigo. Não foi nenhum favor”. “Isso soa como algo que Arnoldo diria. Sem o ‘cala a boca’, claro”. Diz num tom divertido, olhando para as mãos. “Realmente”, e começo a rir. “Arnoldo e suas manias pegajosas. Estou andando demais com ele”. “Está mesmo. Bom, agora eu vou. Tenha uma boa tarde”. Acena rapidamente com a cabeça e se vira para a porta. “Você também”. E ela sai sem olhar para trás. Se desejar a morte do próprio irmão morto for pecado, mereço um desconto: meu irmão é um monstro. Como ele pôde? Justo com a Maggie? Balançando a cabeça para desanuviar os pensamentos, volto a me concentrar no trabalho. Às duas da tarde, Scott me interfona avisando que uma nova encomenda acaba de chegar. Ele entra com um arranjo de lírios e um envelope lacrado. Mas o que é isso? Essa atitude


196 de Eva está me confundindo, não que eu esteja reclamando. E aquele sorriso idiota volta a estampar meu rosto. “Já providenciei outro vaso, senhor”, diz Scott com um rosto iluminado de humor, mas não a ponto de ser indiscreto. “Obrigado Scott”. Assim que ele começa a ajeitar o arranjo, leio o cartão. Em agradecimento ao sexo selvagem. Rapidamente escrevo minha resposta. ESQUEÇA O KRAV MAGA. FAÇA SUA MALHAÇÃO COMIGO. Lacro a mensagem em um envelope e entrego a Scott. Volto a me concentrar na papelada que lota minha mesa. Ou melhor, tento, mas é impossível. Eva não sai da minha cabeça. Tento ler um relatório, mas não consigo sequer sair da primeira linha. Pela primeira vez em minha vida eu me sinto querido e realmente importante para alguém. Cada vez mais meu sentimento por Eva cresce a ponto de se tornar doloroso. Ela disse que me ama mesmo depois de tudo o que eu fiz, de como eu a magoei. Ela me ama. Mesmo que eu não mereça, Eva me ama. Meu anjo preenche todos os espaços da minha mente, não deixando sobras para pensar em qualquer outra coisa. Quando estou no trabalho, minha atenção se volta exclusivamente para ele. Nunca fiquei assim por nenhuma mulher. Na época em que eu e Corinne nos envolvemos eu, inclusive, diversas vezes usei a faculdade como desculpa para não dormir com ela. Quando comecei a enriquecer, usei o trabalho. Após várias tentativas frustradas, finalmente consigo prestar atenção no bendito relatório, mas então os pelos do meu corpo se arrepiam, e só uma pessoa me deixa assim. Desvio meus olhos para a porta e dou de cara com um par de olhos verde-acinzentados e brilhosos. Me levanto imediatamente . “Eva, aconteceu alguma coisa?” “Não. É que...”. Ela hesita, respira fundo e caminha na minha direção. “Trouxe uma coisa pra você.” “Mais coisas? É alguma data especial e eu não estou sabendo?” Ah, merda! Será que ela comemora essas coisas de ‘dia do’ nosso primeiro beijo, da nossa primeira trepada ou algo do tipo?! Ela simplesmente põe uma caixinha de veludo preta em cima da mesa e vira seu rosto para o lado em total desconforto. Estou ficando confuso, o que será que ela está aprontando? Pego o objeto e, ao abrir a tampa, suspiro ao me deparar com um anel de platina cravejado de diamantes negros. Uma joia moderna que representa poder e virilidade. Através desse anel meu


197 anjo está mostrando como me vê e reconhecendo o lugar que ocupo em nossa relação. Isso me deixa com um tesão do coralho. “Eva”, sussurro com a voz grossa e rouca de desejo. Lentamente ela se vira para mim, mas meus olhos estão fixos no objeto em minhas mãos. Simplesmente... Demais. “Exagerei?” sua voz também sai rouca. “Sim”. Devolvo a caixinha à mesa. “Exagerou. Não consigo ficar sossegado, não consigo me concentrar. Não consigo tirar você da minha cabeça. Estou com a cabeça longe daqui, e nunca fico assim durante o trabalho. Estou ocupado demais. E você me cerca de todos os lados”. Seu rosto é um misto de culpa e decepção. “Desculpe, Gideon. Nem parei para pensar no que estava fazendo”. Ah, meu anjo, você não tem ideia de como adoro suas distrações. Me aproximo dela lentamente, como um predador rodeando sua presa. Ela olha fixamente para o meu pau que se mantém desavergonhadamente ereto sob minhas calças. “Não precisa se desculpar. Hoje está sendo o melhor dia da minha vida”. “Sério?” Coloco o anel no anelar direito. “Eu queria fazer um agrado pra você. Serviu? Tive que chutar o tamanho...”. “Ficou perfeito”, eu a interrompo. “Você é perfeita”. Pego sua mão e beijo seu anel, depois assisto meu anjo enquanto fazer o mesmo. Eu nunca terei o suficiente dela, eu nunca me cansarei de tê-la ao meu lado. “O que sinto por você, Eva... Chega até a doer”. Confesso. “E isso é ruim?” “É maravilhoso”. Envolvo seu rosto com as mãos e a beijo apaixonadamente. Minha língua explorando cada canto de sua boca. Eu tenho fome dela, fome que nunca será completamente saciada. Então sinto a necessidade de ouvi-la dizer aquelas três palavrinhas com enorme significado. Diminuo a intensidade do beijo até roçar meus lábios nos dela. “Diga de novo o que disse lá no carro”, sussurro. Ela passa as mãos pelo meu colete. “Humm... Não sei. Você é lindo demais, sabia? Eu sempre me surpreendo com isso, toda vez que nos encontramos. Enfim... Não quero correr o risco de assustar você”. Aquilo me atinge como uma facada no peito. E um início de desespero cresce dentro de mim. Será que ela disse aquilo apenas por impulso, e na verdade suas palavras não passaram de palavras?


198 “Você se arrependeu do que disse, não foi? As flores, o anel...”. “Você gostou mesmo?” ela se afasta e me encara com um olhar ansioso. “Não quero que você use só por minha causa se não tiver gostado”. Ah, é com isso que ela está preocupada? “É perfeito. É como você me vê. Vou usar com o maior orgulho”. Seu sorriso de alívio é deslumbrante. Mas ainda estou um pouco preocupado. Sua preocupação com o fato de eu ter gostado ou não do presente não tem nada a ver com a possibilidade de ela estar arrependida do que disse. “Se você está tentando me agradar só pra depois poder retirar o que disse antes...”. Falo hesitante. “Eu estava sendo absolutamente sincera, Gideon”. E sou tomado por um alívio imediato. Nem me dei conta de que estava segurando a respiração. “Você ainda vai me dizer isso de novo”, ameaço num tom de voz sedutor. “Vai gritar para o mundo inteiro ouvir quando eu fizer o que estou pensando agora”. Ela sorri e dá um passo para trás. “Volte ao trabalho, seu tarado”. “As cinco eu levo você pra casa”. Eu a observo ir até a porta com olhos famintos. “Quero sua bocetinha peladinha e molhadinha quando entrar no carro. Pode se tocar um pouco pra ficar no ponto, mas sem gozar, ou haverá consequências”. Seu corpo estremece levemente ante minhas palavras. “E você vai estar pronto pra mim?” Tá de brincadeira? Eu desejo essa mulher até dormindo. Abro um sorriso sarcástico. “E quando é que eu não estou pronto pra você? Obrigado pelo dia de hoje, Eva. Adorei cada minuto”. Ela me sopra um beijo e meus olhos brilham: de emoção, de felicidade, de amor, tudo junto. O resto do meu dia foi assim, participei de duas reuniões numa felicidade só. No intervalo entre uma e outra, liguei para Angus e o mandei buscar a limusine. Eu comeria Eva loucamente, como na primeira vez. E assim foi. No fim do expediente, eu já estava aguardando pacientemente dentro do veículo. Assim que ela fechou a porta atrás de si, eu quase a ataquei. A bocetinha do meu anjo estava molhadinha, em ponto de bala. Ela jorrou seu mel na minha boca umas três vezes. Depois disso, sua entrada estava tão escorregadia que não deixei pedra sobre pedra e meti com força, e a fiz gozar várias vezes até cansar. Só não fiz mais porque ela tinha aula de krav maga. Mas eu iria até a casa dela, então era só questão de fazer tudo de novo, só que em outro lugar e em outro horário.


199 Após deixá-la em casa, mandei Angus dirigir até uma farmácia, onde comprei alguns itens de higiene pessoal e, em seguida fui para casa, treinar com meu instrutor particular. _____//_____ Chego ao apartamento de Eva e vou direto para seu quarto. Ela está totalmente largada na banheira, com uma cara dolorida de dar pena. Meu anjo apanhou demais, e as marcas roxas sob sua pele estão despontando. Mesmo já tendo tomado banho depois do treino, tiro minha roupa e entro na banheira, atrás dela, envolvendo seu pequeno corpo com os braços e as pernas e o apertando de leve. Ela geme. “Está tão bom assim?” ironizo mordendo sua orelha. “Quem poderia imaginar que ficar rolando no chão uma hora com um cara bonito poderia ser tão cansativo?” Ah, Eva. Sempre disposta a me provocar. “Eu poderia até ficar com ciúmes”, digo apertando seus seios, “se não soubesse que Smith é casado e tem filhos”. Ela dá uma risadinha debochada. “E o número que ele calça você sabe?” “Ainda não”. Ela solta um grunhido exasperado e começo a rir. Poucas pessoas são capazes de me fazer rir com frequência e Eva passou a fazer parte desse seleto grupo. Brincando com o anel em meu dedo, Eva comenta a conversa que teve com o pai no sábado. Seus colegas policiais estavam pegando no pé dele por ela estar me namorando. Isso me deixa preocupado. Eu quero que Victor Reyes goste de mim, ele é importante para Eva e sua aprovação é fundamental. Peço desculpas pelo constrangimento que, mesmo que indiretamente, causei ao pai dela. Ela tenta amenizar dizendo que a culpa não é minha, que é assim mesmo quando se é tão lindo. Comento que um dia irei descobrir se meu rosto é uma vantagem ou uma desgraça. As pessoas nunca se aproximam de mim com interesses além do dinheiro, do poder e da aparência, mas omito essa informação. Com Eva foi o oposto. “Bom, caso a minha opinião valha alguma coisa, adoro seu rosto”. Meu coração se enche de calor com o seu carinho. Sorrio e acaricio sua bochecha. “Sua opinião é a única que importa. E a do seu pai. Quero que ele goste de mim, Eva, e não que fique pensando que estou expondo a filha dele a invasão de privacidade”. “Você vai conseguir conquistar meu pai. Tudo o que ele quer é me ver segura e feliz”. Argumenta e isso me relaxa. “Eu faço você feliz?” pergunto puxando-lhe para mais perto. “Sim”. Responde apoiando o queixo em meu peito. “Adoro ficar com você. Quando não estamos juntos, sinto muito a sua falta”.


200 Isso me faz lembrar o que ela me disse na festa da Vidal Records, de que não queria mais que a gente brigasse. Admito para ela que isso me incomodou e pergunto se ela está cansada de me ver estragar tudo o tempo todo. “Você não estraga tudo o tempo todo. Eu também fiz um monte de cagadas. Relacionamentos são coisas complicadas, Gideon. E na maior parte das vezes não incluem um sexo maravilhoso como o nosso. Temos muita sorte, na verdade”. Absorvo essa informação em silêncio enquanto pego um pouco de água com a mão e despejo na pele macia de suas costas. Meus pensamentos divagam e se voltam para o meu pai. Raramente eu penso nele, e quando penso, não consigo me lembrar de muitas coisas. Acabo externalizando isso sem nem me dar conta. Eva sussurra um “ah, é?”, mas não diz mais nada. Solto um suspiro profundo. Lembrar-me dele é meio frustrante justamente por não ter memórias claras e completas do pouco tempo que passamos juntos. Sei que Eva já está com os ouvidos a postos e interessada. Claro que tenta disfarçar, mas vejo que está se segurando para não me bombardear de perguntas. Ela se vira e pergunta se quero falar do que consigo lembrar. Bom, isso eu posso fazer. Não é nada traumático ou doloroso demais, já que não fiquei com ele tempo suficiente para que me fizesse sofrer diretamente. Eu passei bons momentos com ele, mesmo que poucos. Seu suicídio foi repentino, mas hoje o encaro mais como uma atitude covarde de um homem frio, calculista e corrupto para escapar das consequências de seus atos sem se importar com quem ou o que estava deixando para trás. Como eu prometi a Eva que contaria algo sobre mim todos os dias, talvez essa seja uma boa oportunidade para começar a por isso em prática. “São só... Impressões vagas. Ele não ficava muito em casa. Trabalhava muito. Acho que minha determinação vem daí”. Eva diz que dele herdei apenas o gosto pelo trabalho, nada mais. Pergunto como ela pode ter tanta confiança nisso e ela fala que meu pai era um picareta que escolheu o caminho mais fácil e que não sou como ele. Explico que não sou parecido com ele nesse sentido, eu tenho verdadeiro pavor de corrupção. Meu pai não aprendeu a desenvolver um relacionamento de verdade com as pessoas e estava sempre preocupado em suprir suas necessidades imediatas. “É assim que você se vê?” pergunta Eva, me encarando. “Eu não sei”, respondo baixinho. “Bom, eu sei, e não é nada disso”. Ela dá um beijo na ponta do meu nariz. “Você sabe cuidar muito bem das pessoas”.


201 “Espero que sim”, eu a aperto em meus braços. “Não consigo nem imaginar você com outra pessoa, Eva. Só a ideia de que outro homem possa ver você assim... Possa tocar você... Não gosto de me sentir desse jeito”. “Isso não vai acontecer, Gideon”. Suas palavras soam seguras. “Você mudou tudo na minha vida. Não suportaria te perder”. Confesso. Ela me abraça. “E eu digo o mesmo”. Preciso dela, preciso provar do seu gosto. Puxo sua cabeça para trás e tomo seus lábios num beijo apaixonado, que expressa todos os meus sentimentos. Nossas línguas sem enrolam num tango lento e sensual que aos poucos vai aumentado o ritmo, até que Eva recua. “Preciso comer se for fazer isso de novo, seu tarado”. “Falou a mulher que está esfregando o corpo nu no meu”. Digo recostando na banheira e dando um sorriso perverso. Saímos da banheira. Pego uma toalha e enxugo o corpo de Eva, em seguida o meu. Nos vestimos e vou ao telefone para pedir comida chinesa. _____//_____ Cary chegou do trabalho e se juntou a nós no jantar. Rimos, conversamos, brincamos e assistimos TV. Foi um momento agradável, e tenho que admitir, Cary é um cara muito bacana. Tem um ótimo senso de humor e é uma boa companhia para Eva. Aquele ciúme inicial não existe mais, foi totalmente eliminado ao ver a forma como interagem um com o outro. Meus receios não foram totalmente eliminados, afinal, ele é um cara promíscuo, o que é inerente ao seu comportamento. E isso ficou ainda mais claro quando o interfone tocou. Uma loira alta, com um corpo escultural e com pinta de modelo internacional adentrou o apartamento já atacando o que sobrou do jantar. Assim que me viu levantar, ela deu um sorrisinho para Eva e veio com toda a pompa e circunstância me estender a mão. Apresentou-se como Tatiana Cherlin. “Sou o namorado de Eva”. Retribuí o cumprimento. Já disse isso para cortar o barato dela (eu tenho um anjo muito ciumento) e evitar transtornos, afinal a expressão “chave de cadeia” pisca como um letreiro luminoso na testa dessa Tatiana. Não quero problemas com imprensa nem nada disso. Ela é do tipo que adora aparecer à custa de alguém. Cary, que foi até a adega pegar um vinho, reapareceu e a chamou para o quarto, no que ela foi prontamente. Eva chamou a atenção dele e mexeu os lábios como se perguntasse ‘o que você está fazendo?’, ele respondeu também mexendo os lábios, mas eu não entendi bem. Agora, já no quarto, enquanto nos trocamos, ela me faz uma pergunta inesperada.


202 “Você tinha um matadouro na época da faculdade também?” Tiro a camisa antes de responder. “Como é?” Ela está querendo saber sobre minha vida sexual antes da faculdade. Mas a verdade é que, em grande parte desse tempo, me relacionei apenas com Corinne. Ela é uma mulher linda, estonteante e muito boa de cama (e Eva não pode nem sonhar com esse pensamento meu), mas era só sexo e nada mais. Quando terminava, eu não sentia nada além da satisfação de minhas necessidades físicas. E eu não fazia questão de tê-la todos os dias, para mim, duas vezes na semana era o suficiente e, quando ela propunha uma terceira vez, eu inventava uma desculpa qualquer. Por isso, eu trabalho e malho como um condenado, justamente para ficar cansado na maior parte do tempo. Quando terminamos, eu tinha uma ou outra oferta que decidia não recusar. O sexo era uma constante em minha vida, mas ficava em segundo plano, meu foco era o trabalho e nada mais. Explico isso para Eva (omitindo a Corinne, claro), mas ela não acredita. Eu simplesmente odeio quando minha honestidade é colocada à prova. “Continue duvidando de mim. Pague para ver”. Advirto fuzilando-lhe com o olhar enquanto me encaminho para o banheiro com meu nécessaire em mãos. “O quê? Você vai provar que o sexo é uma coisa secundária pra você transando comigo de novo?” pergunta incrédula. “Quando um não quer...” Abro a nécessaire e pego uma escova de dente nova, que tirei da embalagem e deixo no banheiro. “Você toma a iniciativa tanto quanto eu. Precisa sentir essa ligação que temos tanto quanto eu”. “É verdade. Eu só queria...”. “Só queria o quê?” pergunto abrindo uma das gavetas. Abro uma e outra e todas estão cheias? Como assim, não tenho gavetas reservadas para mim? Eu fiz isso por ela na minha casa, não fiz? “Pia errada”, diz com um sorriso malvado nos lábios. “A outra é toda sua”. Dirijo-me calmamente até a outra pia e guardo minhas coisas. Eu nunca havia feito isso antes. Esse passo, para mim, é muito importante, pois representa nosso estabelecimento permanente na vida um do outro. Na minha visão de homem das cavernas, é uma forma de demarcar território, e mostrar para quem quiser ver que Eva tem um homem na vida dela, que não pretende sair tão cedo. “Só queria o quê?” repito, guardando o xampu e o sabonete líquido no Box. Estou curioso para saber o que a motivou a perguntar aquilo.


203 Ela diz que a curiosidade de saber como eu era na faculdade veio durante o jantar. Que ela estava imaginando como seria se me encontrasse no campus. “Eu teria ficado obcecada por você. Faria de tudo para entrar no seu caminho, só pra ficar admirando. Ia tentar cursar as mesmas matérias que você, só pra ficar fantasiando sobre como seria te levar pra cama”. Minha Eva é romântica até quando fala sacanagem. Essa mulher definitivamente é perfeita para mim. “Sua safada”. Dou-lhe um beijo na ponta do nariz ao passar por ela para escovar os dentes. “Nós dois sabemos muito bem o que aconteceria assim que eu pusesse os olhos em você”. Ah, Eva... Você não faz ideia... Ao meu lado, ela penteia os cabelos, escova os dentes e lava o rosto. É muito interessante fazer essas pequenas coisas ao lado dela. Compartilhar uma vida cheia de intimidades e atividade corriqueiras é algo novo para mim. Me passa uma sensação de acolhimento, de ser querido, de ser amado. É como se finalmente eu estivesse em casa, no meu lar, no meu lugar, com alguém que queira estar comigo independente do que eu passei e me aceita do jeito que sou. “E então... você tinha um lugar especial pra quando alguma vaca sortuda conseguia te arrastar pra cama?” Curiosa... “Sempre usei aquele hotel”. “Foi o único lugar onde você fez sexo? Antes de mim?” “Foi o único lugar onde fiz sexo consensual, antes de você”. Respondo com a voz baixa, em claro sinal de constrangimento. “Ah”. E essa é sua resposta. Meu coração aperta novamente. Falar sobre isso é doloroso, mas Eva terá de saber de tudo de qualquer forma. Então, é melhor ir liberando as informações aos poucos, para não assustá-la. Ela vem em minha direção e me abraça por trás, esfregando seu rosto em minhas costas. Seu carinho e compreensão enchem meu coração de calor. Voltamos para o quarto e nos deitamos bem juntos, tanto que se fosse possível, nos fundiríamos. Seu corpo cálido, macio e sedoso junto ao meu acende a centelha do desejo, que apenas tirava um breve cochilo. O mínimo pensamento voltado para Eva, ou um simples toque inocente em sua pele, e o desejo desperta de forma avassaladora.


204 Ela passa a perna por meus quadris ficando por cima de mim, com as mãos espalmadas pelo meu abdômen. Mesmo na escuridão, sinto o olhar do meu anjo que ativa uma corrente elétrica que perpassa todo o meu corpo, colocando meus nervos em estado de calamidade. “Gideon, não precisa dizer mais nada”. Sussurra em sinal de compreensão e apoio. E é o suficiente para eu me sentar, envolvê-la em meus braços e beijá-la profundamente e, ao mesmo tempo, agradecendo aos céus pela milésima vez por me enviar exatamente aquilo que eu precisei e procurei (ainda que inconscientemente) durante grande parte da minha vida. Rolo para cima dela, mas não para fodê-la de forma selvagem. Apenas fazer amor de forma carinhosa, doce, explorando seu corpo sem pressa, estocando em sua entrada lentamente, sentindo seu corpo me abrigar de bom grado, provar do seu mel e me deleitar na sensação de têla só para mim.


205

Capítulo 15 Pesadelo Eu estava deitado em minha cama, dormindo um sono tranquilo, como não fazia há semanas. A psicóloga não viria hoje, então eu estava livre. De repente, eu não conseguia mais respirar direito, meus pulmões estavam comprimidos e o ar ficou escasso. Numa tentativa de recuperá-lo, aspirei forte pelo nariz, e foi nesse momento que senti aquele cheiro enjoativo, que vazia meus joelhos tremerem. Ele estava aqui, em cima de mim. Eu não queria abrir os meus olhos, então continuei firme em minha tentativa frustrada. Ele pegou meus braços e os amarrou à grade da cabeceira, eu mal conseguia ter uma única maldita reação, meu corpo me traía. “Vamos lá, Gideon. Eu sei que você também quer. Você sempre mostra para mim o quanto gosta do meu toque”. Sussurrou com sua voz macabra em meu ouvido. Ele começou a deslizar a mão pelo meu pênis a fim de me fazer ficar ereto. Aquilo me despertou de tal forma que comecei a me debater. Sim, eu queria lutar com todas as minhas forças contra esse sentimento confuso. Eu não gosto do seu toque, mas gosto das sensações que eles me causam. Mas mesmo assim, eu não queria mais me render. “Socorro, alguém me ajude, por favor!” A porta do meu quarto estava entreaberta! Não é possível que ninguém esteja me escutando. A claridade do corredor me permitiu ver a sombra de alguém no chão acarpetado, então eu vi o pequeno Christopher, com oito anos de idade. Ele olhava a cena atentamente. O estagiário continuava a me tocar sem se importar com o expectador do lado de fora. “Chris! Chris! Por favor, me ajuda! Chama alguém, por favor, irmão!” Ele simplesmente me virou as costas, entrou em seu quarto e fechou a porta como se não tivesse visto nada. “Não! Chris, por favor, não me deixa sozinho. Não...”. E minha voz foi morrendo até sumir completamente Mas de nada adiantava. Eu estava impotente nas mãos de um homem mais velho. E meu irmão nada fez para me ajudar. Eu não era amado por ninguém, nenhuma pessoa nesse mundo queria me ver bem, nem a minha própria família. Isso me enfurece de tal forma que, do nada, comecei a me sentir mais forte, mais alto. Finalmente eu poderia lutar contra ele. Minhas mãos já não estavam amarradas então eu virei o jogo e me coloquei em cima dele. Agora o caçador havia se transformado na caça, eu estava pronto para revidar. Uma das minhas mãos foi para sua boca, abafando seus pedidos de ajuda. Eu queria machucá-lo da mesma forma que ele me machucava. Investi contra ele com força, meu peito arfava pelo esforço.


206 “Agora você vai ver o que é bom”, rosnei. Meu pênis estava ereto. Eu não tinha controle sobre as reações do meu corpo. Não era questão de prazer, era sede de vingança, por tudo o que eu passei em suas mãos. Senti que ele tentava me empurrar, mas continuei estocando com força. Ele soltou um berro. De puro medo e pânico. “Não é tão bom quando é você que está sendo comido, é?” grunhi. Então alguém sussurrou a palavra ‘Crossfire’. O quê? Como ele... E senti duas mãos me puxando de cima de minha vítima, me empurrando com toda a força contra a parede e me prensando. “Eva, você está bem?” ouço a voz de... Cary? Espere... O que... O que está acontecendo? Tento endireitar o corpo e Cary avança sobre mim. “Se sair mais um centímetro daí antes da polícia chegar, acabo com sua raça!” grita. Eva olha nos meus olhos, seu rosto banhado de lágrimas... Não! Não! Não! Meu Deus, o que foi que eu fiz? Isso não pode estar acontecendo, não pode! Não com o meu anjo... Não! Meu corpo desaba no chão e fico encolhido no canto do quarto. Como isso foi acontecer? Justo com ela? Eu não quero machucá-la, isso acabaria comigo. “É um sonho”, diz Eva, resfolegada, agarrando o braço de Cary, que se dirige ao telefone. — “E-ele está sonhando”. “Minha nossa. E eu achando que o pirado era eu”. Responde incrédulo. No momento seguinte, Eva e Cary já não estão mais no quarto. Eu mal os vi saindo, estou tão assustado e atordoado. Eu quase... Eu quase a estuprei! Ela reviveu os momentos de terror que passou com Nathan pelas minhas mãos! Eu sou um monstro! É por isso que vivo sozinho, por isso que sempre fui rejeitado pela minha família. Quem iria querer ficar perto de alguém como eu? Aquele monstro tinha razão, eu sou tão degenerado como ele... Meu pênis estava ereto quando acordei. Eu senti prazer naquilo inconscientemente! Mas senti! Eu quase destruí a vida de Eva novamente. Agora, mais do que nunca percebo que não podemos ficar juntos, sou um risco para ela. Nossa relação nunca mais será a mesma. Tomo minha decisão: tenho que deixá-la. Só assim ela ficará segura. Ainda com as pernas trêmulas, me levanto, me visto e recolho minhas coisas. Está na hora de ir. Assim que fecho o zíper da mala, Eva adentra o quarto. O medo e a dor estampados em seu rosto. E o mais desolador é saber que, mais uma vez, eu falhei com meu anjo, eu a magoei. A única pessoa que amei nessa vida e eu a dilacerei completamente. Meu peito está a ponto de


207 explodir e um nó se instala em minha garganta. Meus ombros estão curvados pelo peso da minha desgraça. Eu nasci para sofrer, essa é minha sina. E para evitar mais danos, talvez o melhor seja mesmo seguir sozinho. Embora o vazio já não seja tão aconchegante como antes. Depois de Eva, nada na minha vida será bom o bastante, nada superará nossa história e ninguém irá ocupar seu lugar em meu coração. “O que está fazendo?” sussurra. Eu me afasto dela, dando alguns passos para trás, a fim de mantê-la a uma distância segura. “Não posso ficar”. “Nós combinamos... Chega de fugir”. Como ela pode pensar nisso agora? “Isso foi antes de eu atacar você!” grito indignado. “Você estava inconsciente”. Tenta justificar. “Você não pode virar vítima de novo, Eva. Minha nossa... o que eu ia fazer com você...”. Viro de costas, incapaz de encará-la. “Se você for embora, quer dizer que nosso passado levou a melhor sobre nosso futuro. Se sair daqui agora será melhor você manter distância e eu esquecer você. Vai ser o fim, Gideon”. Suas palavras me atingem como um soco no estômago. Eu não quero ir, mas eu preciso, para mantê-la a salvo... De mim. Será que ela não entende a gravidade do que aconteceu? “Como posso ficar? Por que você ia me querer aqui?” Digo me virando e encarando seu rosto pálido e molhado de lágrimas. “Prefiro me matar a machucar você”. “Você jamais me machucaria”. “Você está com medo de mim” digo quase sem voz. “Dá pra ver no seu rosto. Até eu estou com medo de mim. Com medo de cair no sono e fazer uma coisa que destruiria minha vida e a sua”. Só de pensar no que poderia ter acontecido a minha vontade é de tirar minha própria vida. Quem sabe assim eu não paro de atrapalhar as pessoas? Não é isso que eu sempre faço? Parece que simplesmente me afastar não está se funcionado. Passo a mão pelos cabelos, aflito. “Eva...”. “Eu te amo Gideon”. O QUÊ? Encaro seus olhos, morrendo de nojo de mim mesmo por ter me permitido ouvir essas palavras dela. “Meu Deus, como você pode dizer uma coisa dessas?” “É a verdade”.


208 “Você só está vendo isto aqui” digo apontando para meu corpo. “Não está vendo tudo o que existe de perturbado e traumatizado aqui dentro”. Ela dá um longo suspiro. “Como você tem coragem de me dizer uma coisa dessas? Sabendo que eu também sou perturbada e traumatizada...”. E ainda assim ela me quer? De certa forma, essa sua insistência em se automutilar com essa relação absurda que temos me irrita profundamente. “Talvez você esteja mesmo atrás de alguém que te faça mal”, respondo num tom amargurado. “Pode parar com isso. Sei que você está chateado, mas descarregar tudo em cima de mim só vai piorar as coisas”. Ela olha para o relógio marcando quatro da manhã e começa a caminhar em minha direção. Não posso lidar com sua proximidade. Mesmo sabendo que seria inapropriado tocá-la agora, eu a desejo demais. Levanto uma das mãos no intuito de mantê-la afastada. “Estou indo pra casa, Eva”. “Durma aqui, no sofá. Faça o que estou dizendo desta vez, Gideon. Por favor. Vou morrer de preocupação se você for embora”. Implora. “E vai ficar mais preocupada ainda se eu ficar”, rebato. Ela chega mais perto e pega minha mão. Sinto seu corpo tenso pelo contato. Está tentando lutar contra o medo. “N-nós vamos superar isso” gagueja. “Você vai conversar com o doutor Petersen e depois vemos o que podemos fazer”. Levanto uma das mãos, querendo tocar seu rosto, mas receoso quanto a sua reação. “Se Cary não estivesse em casa...”. Eu nem consigo pensar nisso. “Ele estava, e eu vou ficar bem. Eu te amo. Vamos superar isso”. Diz se encaminhando até mim e me abraçando com sua mania de enfiar as mãos sob minhas roupas. “Não vamos deixar o passado destruir o que temos”. Não quero ter que deixá-la, não posso. Sei que esse seria o certo dada a nossa situação, mas não consigo imaginar minha vida sem ela. Porque simplesmente não há vida sem ela. “Eva”. Eu a envolvo em meus braços e a aperto, sentindo cada milímetro de seu corpo aconchegante. “Desculpe. Isso está me matando. Por favor. Me perdoe... Não posso te perder”. “E não vai”. Suspira. “Sinto muito”. Peço, acariciando a curvatura das suas costas. Minhas mãos tremem. “Faço qualquer coisa...”. “Shh. Eu te amo. Vai ficar tudo bem”.


209 Eu quero acreditar nisso. Eu tenho que acreditar. Aqueles quatro dias em que nos distanciamos acabaram comigo. Perdê-la para sempre me mataria. Viro a cabeça e lhe dou um breve beijo nos lábios. “Desculpe Eva. Eu preciso de você. Tenho medo do que pode acontecer se eu te perder...”. “Não vou deixar isso acontecer. Estou bem aqui. Não vou mais fugir”. Paro com o carinho nas costas. Nossas bocas estão muito próximas. Preciso sentir que ainda estamos conectados, que ainda podemos nos amar. Beijo sua boca e automaticamente seu corpo responde, curvando-se em minha direção, para me trazer para perto de si. Minhas mãos vão diretamente para seus seios macios, acariciando-os e estimulando seus mamilos com os polegares até ficarem duros e sensíveis. Um gemido escada de seus lábios, um misto de desejo com... Medo. Meu corpo estremece com esse som. Eu não esperava por isso. “Eva...?” “Eu... Não consigo”. Ouvir isso dói. Mas eu entendo, ela está se sentindo ferida, vulnerável e exposta. Não posso forçá-la a nada. Não nego que gostaria de uma prova de que nosso desejo um pelo outro ainda está ali, vivo e pulsante em meio às turbulências pela qual estamos passando, mas também sei que o melhor no momento é esperá-la se sentir confortável. Ela cedeu o controle para mim e, mesmo inconscientemente, acabei jogando isso pela janela. É irônico até. Fiz isso para protegê-la e agora eu sou uma ameaça à sua vida. “Me abrace, Gideon. Por favor”. E faço o que pediu. Ela precisa sentir que estou aqui e que vou continuar a cuidar dela apesar de tudo. Ela me faz deitar no chão e se aninha ao meu lado, jogando sua perna sobre a minha e apoiando seu braço sobre minha barriga. Eu a aperto de levinho, dando um beijo na sua testa e sussurrando várias vezes que sento muito. Tudo o que posso fazer é lamentar meu descontrole, meus erros, minha vida emocional instável e miserável. “Não vá embora”, murmura. “Fique”. Resolvo me calar, não há o que dizer. Apenas a abraço. Não sei por quanto tempo estou apagado, a única coisa da qual tenho certeza é que estou tendo uma puta ereção por baixo das calças. As pequenas e experientes mãos do meu anjo estão me masturbando, subindo e descendo. “Eva...”. “Vamos esquecer”, com a boca colada à minha. “Nos faça esquecer”. “Eva”.


210 Rolo para cima dela tirando sua camiseta cuidadosamente. Ela também me despe com cautela. Ainda estamos fragilizados pelo incidente dessa madrugada e qualquer movimento brusco pode comprometer tudo o que construímos até aqui. Ao mesmo tempo em que somos o melhor um do outro, acabamos nos tornando nocivos um para o outro no que tange nosso passado. Reabrir essas feridas pode ser fatal para nosso psicológico já abalado e para nossa relação. Reduzo a intensidade de meus movimentos, de minhas carícias. Por hora, ela não pode lidar com nossa habitual violência quando fazemos amor. Quero que esse momento lembre o menos possível minhas tentativas descontroladas de violá-la na noite passada. Tenho que recuperar sua confiança. Abocanho seu mamilo e o sugo lentamente enquanto acaricio seu tronco, do seio até o quadril repetidamente. Passo a boca pelo seu peito até passar para o outro seio, sem cessar os movimentos de minhas mãos. “Eu sinto muito... Por favor, me perdoe”. Sussurro entre os beijos. Meu peito carregado de tristeza. “Eu não posso viver sem você, meu anjo, eu preciso de você. Não me deixe”. Sei que pode soar egoísta eu lhe pedir isso, mas o medo de perdê-la fala mais alto. Eu necessito dela, de seu corpo, de sua presença para me manter são. Eu perderia tudo se ela se afastasse de mim novamente. Chego ao seu mamilo e o lambo antes de lhe dar uma chupada. “Gideon”. E ela está à minha mercê. Mas sua voz está tensa. “Não tenha medo de mim”, tranquilizei-a. “Pode ficar tranquila”. Faço uma trilha de beijos de seu pescoço até sua abertura molhada. Mantenho suas pernas abertas com minhas mãos trêmulas e a lambo, meus lábios massageando seu clitóris, minha língua vez ou outra entrando em seu canal apertado. Suas costas se arqueiam. “Gideon, que delícia. Me faz gozar gostoso, como você sempre faz, por favor”. Suplica com a voz rouca. Continuo meus movimentos com a língua até que ela explode, gemendo alto, em um jorro intenso, e eu bebo cada gota como um homem sedento pelo oásis no meio do deserto. A tensão do momento e a confusão de sentimentos de mim vêm à tona e começo a chorar. Não consigo manter minhas barreiras com Eva. “Não posso perder você, Eva”. Digo me colocando por cima dela novamente. “Não posso”. “Você não me perderia nem se quisesse”. Afirma, limpando as lágrimas que rolam incessantemente pelo meu rosto.


211 Eu a penetro lentamente, percorrendo cada centímetro de seu interior com muita calma. Assim que a preencho por completo, começo a investir contra sua vagina trêmula e inchada, que me aperta a cada estocada. Meus movimentos são cuidadosamente calculados. Nada pode dar errado nesse momento. Ela fecha os olhos, como se para concentrar nas sensações de nosso contato. Eu paro imediatamente, me sentindo bloqueado. Quero ver nos seus olhos esse desejo, quero que se mostre para mim. Deito sobre ela, nossas barrigas encostadas. Ela entra em pânico. “Olhe para mim, Eva”. Minha voz sai estrangulada pela angústia e pela dor. Seus olhos se abrem. “Faça amor comigo”, imploro num sussurro quase sem fôlego. “Faça amor comigo. Toque em mim, meu anjo. Ponha suas mãos sobre mim”. “Sim”. Diz espalmando suas mãos em minhas costas. Elas descem ao meu traseiro e o apertam forte, acelerando meus movimentos, me fazendo entrar cada vez mais fundo nela. Suas pernas envolvem meus quadris e sua respiração acelera. Nossos olhares grudados um no outro. “Eu te amo, Gideon”, diz com a voz embargada e com as lágrimas correndo livres por suas têmporas. “Por favor...” imploro fechando meus olhos. Eu não posso suportar ouvi-la dizer isso. É como cravar uma faca em meu peito. “Eu te amo”, murmura mais uma vez. Continuo mexendo os quadris, meu pau se movimentado cada vez mais fundo dentro dela. Seus tecidos inchados me apertam ainda mais. “Goze Eva”, comando com a boca colada à sua garganta. Então acontece algo que nunca pensei ser possível: ela não consegue se liberar. Mesmo seus esforços são inúteis. Eva ainda sente a tensão da noite passada, seu corpo ainda não confia em mim plenamente a ponto de se entregar ao prazer. Solto um gemido carregado de frustração e arrependimento. Eu tenho que fazê-la gozar, tenho que sentir seu mel escorrer por toda extensão do meu pau. Preciso saber que está tudo bem, que nada mudou entre nós. “Preciso fazer você gozar, Eva... Preciso dessa sensação... Por favor...”. Agarro sua bunda para ajeitar a posição de seus quadris e invisto com força, atacando seu ponto G, uma, duas, três, várias vezes. Continuo metendo desenfreadamente, incansavelmente até fazê-la perder o controle. Eva geme como uma louca, sua respiração descompassada, a pele febril, seu corpo inteiro sacode a cada estocada até que ela goza violentamente, mordendo meu


212 ombro para abafar seus gritos. Um ruído gutural reverbera pelo meu peito, uma mistura de prazer e sofrimento. “Mais” ordeno. Dessa vez quero que ela goze sem empecilhos, como uma prova de que realmente estamos bem. Ela gozou ferozmente, encharcando meu pau com seu jorro espesso, fazendo-o reagir. Meu corpo todo tenciona antecipando o orgasmo que vem a seguir. Mas eu não o mereço. Não depois da monstruosidade que fiz. Eva aperta meus quadris e o orgasmo vai crescendo rapidamente, então me afasto dela caindo de costas no chão. “Não”, grito e cubro meus olhos com um dos braços. Meu peito sobe e desce numa velocidade absurda e meus pulmões estão a ponto de explodir. Meu pau está caído sobre a minha barriga, totalmente sensível e com a cabeça arroxeada pela privação do orgasmo. Eva avança por cima de mim pronta para atacar. “Que caralho, Eva! Não faz isso, porra! Eu não quero...” protesto furioso, mas em vão. Ela prende meu tronco ao chão com o antebraço e começa a me masturbar com a outra mão e a me chupar forte. “Porra, Eva. Caralho”. Enrijeço e expiro com força, finalmente me rendendo. “Caralho. Chupa com força... Minha nossa...” imploro segurando sua cabeça e remexendo meus quadris. Ela continua a me chupar incessantemente, a lamber toda a extensão, massageando minhas bolas. Eu nunca tive tanta necessidade de gozar quanto agora. É uma sensação... Indescritível. Não demora muito e eu e explodo em um jorro poderoso e acabo ejaculando. Simplesmente o melhor orgasmo que já tive pelo sexo oral. Eva bebe cada gota de uma forma possessiva, faminta e continua a me ordenhar até extrair todo meu prazer. “Chega, Eva. Por favor. Eu não aguento mais. Chega”. Peço com a voz embargada e oscilante pela gama de emoções que me invadem. Ela se endireita e me levanto para abraçá-la e puxá-la para deitar-se comigo novamente no chão. Não consigo mais manter essa energia dentro de mim e novamente abro as comportas. Enfio meu rosto na curva de seu pescoço e choro. Um choro de gratidão, de dor, de alívio, de decepção e de tristeza. _____//_____ Não consegui pregar o olho pelo resto da madrugada. Eva dormia pacifica em meu peito, ressonando graciosamente. O dia já começava a amanhecer quando finalmente minhas lágrimas cessaram. Ela ficou acordada, mas fiz uma massagem em suas têmporas e a fiz adormecer. Era bom que ela descansasse pelo menos um pouco. Fiquei o tempo inteiro em um


213 conflito interno sobre o que fazer a partir daqui. Ela não desistiu de nós dessa vez, justamente quando o certo seria que nos afastarmos para evitar que mais cicatrizes mal curadas fossem abertas e novas feridas surgissem. Não posso negar que minha falta de sono também se deveu a meu medo de atacá-la sem querer. Antes, os fantasmas da minha infância faziam parte da minha rotina, me incomodavam muito, mas não afetavam minha rotina ou outras pessoas, por isso, nunca senti a necessidade de enfrentá-los. Mas agora eu tenho Eva e tudo mudou. Eu preciso enfrentá-los. Por ela, pela nossa relação, pelo nosso amor. E eu farei o que for. Acariciei levemente suas madeixas douradas e sedosas e vi se mexer um pouco. “Gideon...” resmungou em seu sono. “Por favor... Não... Não vá embora... Nós vamos resolver. Eu te amo tanto, não... Não me deixe, eu preciso de você”. Ela começou a se agitar. “Shh... Calma, meu anjo”, sussurrei. “Eu estou aqui e não vou a lugar algum”. Eva se mexeu mais um pouco, resmungou algumas palavras incompreensíveis e se acalmou. Apoiou sua mão direita em meu tronco e posicionou seu rosto na curva do meu pescoço. Sentir sua respiração contra minha pele fez meus pelos se arrepiarem, mas a sensação de tê-la por perto é deliciosa. Aspirei fundo o aroma de seus cabelos, envolvi seu pequeno corpo de forma protetora em meus braços e permaneci imóvel. Quando o relógio marcou 7h da manhã, eu a acordei. Tomamos banho, mas separados. As coisas ainda estavam abaladas entre nós e eu não queria forçar um contato mais íntimo no momento. Era tudo muito recente. Diferente dos outros dias, Eva vestiu uma calça e uma blusa de mangas compridas para trabalhar, além de deixar soltos seus cabelos cumpridos quase até a cintura. Uma forma de se proteger do mundo e eu respeitei isso. Porém ela não deixava de estar linda. Embora o cansaço estivesse estampando sua face, a maquiagem leve devolveu um pouco de cor para suas bochechas e esconderam as olheiras um pouco escurecidas. Eu já estava na cozinha, vestido para trabalhar, preparando nosso café. Eu já sabia como ela gostava de tomar o dela então tomei a liberdade de fazê-lo. Eva veio até mim. Peguei seu rosto entre minhas mãos e lhe dei um beijo que transmitisse todo o meu carinho e o meu amor, assim como meu arrependimento. Ela me convidou para almoçar, mas eu já tinha um almoço de negócios marcado para falar sobre um novo empreendimento em Saint Croix. “Você quer ir? Angus pode levar você de volta a tempo”. Perguntei. “Eu adoraria”. Respondeu docemente. “E amanhã à noite temos um jantar beneficente no Waldorf-Astoria?” Minhas feições suavizaram. Ela se lembrou da agenda de compromissos que lhe enviei após nossa reconciliação.


214 “Você não vai mesmo desistir de mim, não é?” minha voz saiu baixa. Ela levantou a mão direita exibindo o anel. “Você está amarrado a mim. Cross. Pode ir se acostumando”. Seu tom imperativo e brincalhão aliviou um pouco o clima, e me deixou morrendo de tesão. Durante o trajeto para o trabalho eu a sentei no meu colo, assim como na hora do almoço, enquanto nos deslocávamos até o Jean Georges. Eva não falou muito durante a refeição e apreciou com gosto o prato que escolhi. Sua mão repousava em minha perna sob a toalha da mesa e a minha a segurava firmemente. Mesmo quando nosso pedido chegou não nos desvencilhamos. Comemos apenas com uma mão. Eu não queria abrir mão daquele toque, assim como ela. Nós precisávamos dessa afirmação de nosso compromisso, precisávamos saber que estava tudo bem. Voltamos para o Crossfire e usei a chave mestra para termos mais privacidade. Fiz isso também quando chegamos para trabalhar, a última coisa que eu queria era os olhares curiosos sobre nós. Dado nosso estado de ânimo, seria muito incômodo e eu não queria que Eva se sentisse oprimida ou constrangida. Passei o resto da tarde cuidando de novas aquisições, projetos em andamento e análise dos orçamentos do novo empreendimento no Arizona. A viagem já está acertada para esse fim de semana. Terminei todo o trabalho às 17h30. Mandei Angus levar Eva para casa. Agora, dentro de um táxi a caminho do consultório do Dr. Petersen, fico pensando se devo ou não devo contar sobre meus pesadelos. Ainda não me sinto preparado para compartilhá-los. É algo que me deixa muito envergonhado, fora que significa contar sobre o abuso que sofri, e esse é outro assunto completamente sigiloso. Eu mal tive coragem de contá-lo a Eva, que dirá para um estranho. Assim que chego à recepção, a secretária me cumprimenta e interfona o Dr. Petersen. “Ele já está lhe aguardando, senhor Cross”. “Obrigado”. Abro a porta e encontro o Dr. Petersen sentado. Me encaminho para perto. “Olá, Gideon. Como vai?” pergunta se levantando e me estendendo a mão. “Bem, na medida do possível, doutor”, respondo retribuindo o cumprimento. “Por favor, sente-se”. “Obrigado”. “Então, sobre o que gostaria de falar hoje? Você me parece um pouco tenso”.


215 É incrível como esse homem consegue me ler. As pessoas hoje mal notaram que eu não estava muito bem. Sempre consigo disfarçar. “Aconteceu uma coisa ontem à noite... Uma coisa muito ruim”. Começo um pouco receoso. “Entendo. Quer compartilhar?”. Respiro fundo e resolvo desabafar. “Ontem eu tive um pesadelo de cunho sexual e quase...” é difícil terminar, mas engulo o nó em minha garganta e prossigo. “Quase estuprei Eva”. Suas sobrancelhas se erguem. “Ela está bem?” “Sim, eu não cheguei a praticar o ato em si. O colega de apartamento dela, por sorte, estava, e me tirou de cima dela antes que o pior acontecesse”. “Hum-hum”. Ele digita algumas coisas em seu tablet e se volta para mim. “Isso já aconteceu alguma outra vez?” “Se sim, eu não me lembro. Mas é a primeira vez que acontece com uma pessoa ao meu lado. Nunca dormi com nenhuma parceira sexual, apenas com Eva”. “E você já tinha procurado ajuda antes?” “Não, nunca encarei como um problema, até agora”, digo abaixando a cabeça, morrendo de vergonha. “Não precisa ficar constrangido, Gideon. Eu entendo como se sente, mas quero que saiba que nada disso é culpa sua. Você estava inconsciente. Trata-se de um distúrbio sobre o qual você não tem controle”. “Entendo, mas isso é normal?” “Normal, não, muito menos comum. Mas há muitos casos parecidos com o seu. Conheço pessoas que enfrentam o mesmo problema, mas que tiveram muita dificuldade em pedir ajuda. Só fizeram isso quando seus casamentos já estavam arruinados ou por um fio, ou quando foram acusados de estupro. E fico contente em ver que você está procurando ajuda logo no início”. “Dr., a última coisa que eu quero é machucar Eva. Ela não pode passar por isso de novo. Eu não quero que ela reviva o sofrimento de sua infância pelas minhas mãos. Eu... Eu me mataria se isso acontecesse”. Declaro angustiado.


216 “Tenha calma, Gideon”, tenta apaziguar. “Eu sei que você jamais machucaria Eva e sei que quer fazer o melhor para protegê-la. Não se preocupe, vou ajudá-lo nisso, afinal o primeiro passo é admitir o problema”. “Ok... então, o que eu tenho?” “Vamos chegar lá. Primeiro gostaria de fazer algumas perguntas. Com o que você sonha quando isso acontece?” Remexo na poltrona, desconfortável. “Ainda não estou pronto para falar disso”. “Ok, eu entendo e respeito. Mas são de cunho sexual, sempre?” “Na maioria das vezes”. “E esses sonhos são o motivo pelo qual você não dormia com suas parceiras sexuais?” “Sim, mas algumas vezes foram por motivos diferentes”. “Já chegou falar com alguém sobre os sonhos?” “Não”. “Nem com Eva?” “Principalmente com Eva”. “Por quê?” “Ainda não estou pronto. Sinto que assim que contar a ela pelo que passei, eu a perderei”. “Como tem tanta certeza disso?” “Eu apenas sei, oras”, digo me levantando e andando em direção à janela. “Ela já tem seu próprio mundo de dor para lidar, não precisa de mais um motivo para se sentir insegura”. “Então porque procurou ajuda?” “Para mantê-la a salvo de meus ataques noturnos”. “E só resolveu procurar ajuda agora por quê?” “Porque isso pode destruir nossa relação e... Pode destruir tanto a minha quanto a de Eva”. “E você acha que esconder o teor de seus pesadelos é a melhor estratégia?” “Por enquanto, sim”. “Ok, vamos voltar nessa questão de como você se sente com relação aos pesadelos. Imagine que Eva sonhe com o ataque que sofreu de Nathan. Você e ela estão dormindo juntos enquanto isso acontece. Se ela acordasse e não quisesse falar sobre o assunto, o que você faria?” “Ela teria que me contar. Se não como eu poderia ajudá-la?” digo exasperado.


217 “E não seria esse o mesmo pensamento dela? Quero dizer, como você pode proteger uma pessoa de algo que você nem sabe o que é? Uma relação à base de confiança é tudo. Se você não pode confiar nela, não poderá confiar nem mesmo em mim, independente de eu ser um especialista ou não. Eu ainda sou um estranho”. Ainda estou de pé diante da janela do consultório, absorvendo suas palavras. “Gideon, o ponto ao qual estou querendo chegar é: você não está mais sozinho. Agora Eva está com você. Não pode esconder dela algo tão sério, pois isso a afetará também, como afetou ontem à noite. Como se sentiria em ter que lidar com uma situação que você desconhece? Assim está tirando o direito de Eva participar de sua vida, de ganhar sua confiança e, consequentemente, expondo-a a um perigo que pode destruir tudo o que construíram até aqui”. Volto para o sofá meio atordoado. Ele tem toda a razão. “Como posso falar de algo que nem eu mesmo sei?” “Você já ouviu falar em Parassonia Sexual Atípica?” “Não. Isso é ruim?” “O quê? Não saber o que é?” Aceno a cabeça em afirmação. “Na verdade, não, pois não é algo recorrente. Trata-se de um comportamento sexual que ocorre durante o sono. As pessoas que sofrem desse distúrbio costumam apresentar movimentos bruscos e violentos, agarrando o parceiro sem ter consciência do que estão fazendo. A parassonia sexual foi descrito pela primeira vez em 1996, pelo pesquisador Colin Shapiro. De lá para cá, novos casos foram relatados”. Ouço tudo com atenção, apenas acenando com a cabeça. “Em alguns deles”, continua, “o episódio de sexo durante o sono ocorre enquanto o paciente está tendo um sonho erótico. Em outros casos, ele não tem nenhuma relação com sonhos. Na maioria das vezes, porém, ele começa quando a pessoa encosta no corpo do parceiro e fica excitada. A pessoa não tem consciência da realidade nem está mergulhada no sono profundo. Fica no meio do caminho. Não sabe o que está fazendo, mas a atividade motora continua a todo vapor. O ato sexual pode acontecer nas mais variadas formas: masturbação, penetração, sexo oral etc. Mas o sexo é conturbado, rústico e doloroso”. “Minha nossa”, sussurro, ainda desacreditado do tamanho do meu azar. “Há um caso documentado de um homem que transou com a mulher enquanto dormia por doze anos”. “Sério?” “Sim. Aparentemente a esposa não viu problema algum nisso. Alguns casais realmente gostam disso e encaram essa disfunção do sono com senso de humor. Mas é preciso ter cuidado”. “Isso acontece só com homens?”


218 “Geralmente sim. Os casos já são poucos, mas os que envolvem mulheres são ainda mais raros”. “E o tratamento?” “O medicamento mais receitado nesses casos é o clonazepam, um tranquilizante também utilizado para tratar o sonambulismo. O remédio torna o sono mais contínuo e produz relaxamento muscular. Mas tem efeitos colaterais fortes como sonolência, enxaqueca e até depressão”. “Não importam os efeitos colaterais, desde que possa me garantir que isso funcionará”. “Veja bem, não há garantia de cem por cento de sucesso, mas a medicação associada à terapia pode são bastante eficazes”. “Ok, vou fazer o tratamento”. “Ótimo, farei uma receita para que você possa adquiri-lo”. Após o término da sessão, passo em casa, embalo um terno para usar amanhã, e coloco meu laptop na maleta. Mas antes, preciso checar se Eva realmente quer que eu durma lá, não ficaria surpreso se ela se recusasse. “Alô?” “Sou eu. Acabei de chegar da consulta”. “Ah, tudo bem. Você... vem para cá?” pergunta hesitante. “Bom, passei em casa para pegar umas coisas e estou a caminho”. Ela solta um inesperado suspiro de alívio. “Ok, estou fazendo o jantar. Até daqui a pouco”. “Até”. Antes de ir para lá, passo na farmácia para comprar o tal remédio. Já no trajeto para o apartamento dela, fico pensando se Nathan já entrou em contato com Eva. Ela nunca comentou isso, talvez para não me preocupar, mas preciso saber. As palavras do Dr. Petersen martelam em minha cabeça: ‘Como se pode lidar com algo desconhecido?’ E ele tem razão. Eu não conseguiria proteger Eva se não tivesse mandado pesquisar sobre sua vida e se ela não tivesse me contado sobre Nathan. Há muitas coisas entre nós, muitas palavras não ditas, muitos segredos escondidos, passados obscuros. Mas tem coisas que não precisam vir à tona agora. Eva precisa de alguém forte por ela e demonstrar minhas fraquezas só me desabilitaria a desempenhas esse papel. Ainda assim, nada seria capaz de me manter longe dela, nem mesmo esse cretino. Ao chegar à casa de Eva, sinto um cheiro delicioso de comida. Ela abre a porta para mim. Parece cansada e um pouco tensa. “Oi”, digo baixinho enquanto entro. “O cheiro aqui está uma delícia”.


219 “Espero que esteja com fome. Fiz um monte de comida, e acho que Cary não vai aparecer para ajudar a comer”. Diz já na cozinha. Deixo minhas coisas perto do balcão e vou até ela. “Trouxe algumas coisas para passar a noite aqui, mas posso ir embora se você quiser. A qualquer hora. É só dizer”. Ela bufa indignada. “Quero que você fique”. “E eu quero ficar”. Paro ao seu lado. “Posso te abraçar?” Ela se vira para mim e me aperta bem forte. “Por favor”. Eu a abraço com cuidado, morrendo de medo de fazer algum movimento brusco que possa assusta-la ou machucá-la. “Como você está?” Murmuro. “Melhor agora que você chegou”. “Mas ainda está nervosa”. Beijo sua testa. “Eu também. Não sei como vamos conseguir dormir juntos de novo”. Ela se afasta um pouco e me olha com atenção. “Nós damos um jeito”. Mas conhecendoa como conheço, é perceptível que seu pensamento não coincidia com suas palavras. Fico um tempo em silencio remoendo o que pensei durante o trajeto até aqui e resolvo tirar a dúvida cruel. “Nathan já tentou entrar em contato com você?” “Não, por quê?” perguntou tentando parecer desinteressada. “Fiquei pensando sobre isso hoje”. Digo um pouco chateado. Ela dá um passo para trás. “Por quê?” “Porque existe um bocado de coisa entre nós”. Admito. “Você está achando que é coisa demais?” Sacudo a cabeça imediatamente a cabeça em negação. “Não consigo pensar assim”. Eva fica parada uns instantes me olhando. Com certeza está pondo em dúvida minha afirmação, preocupada se eu estaria reconsiderando nossa relação por causa de seu passado. “E você o que está pensando?” sondo. “Na comida no forno. Estou morrendo de fome. Você pode perguntar a Cary se ele quer comer? Depois podemos jantar”. Diz tentando me despistar “Claro”. Respondo entrando em seu jogo. Não quero forçá-la a nada. Bato na porta de Cary algumas vezes e o chamo, mas ele não responde. Deve estar dormindo. Após avisá-la, tomo um banho e visto uma camisa velha e uma calça de pijama. Ajudo Eva a colocar a mesa. Nosso jantar será à luz de velas. “Almocei com Magdalene no escritório ontem”, digo depois de começamos a comer.


220 “Ah, é? Então quer dizer que, enquanto eu saía atrás de um anel, Magdalene Perez estava a sós com meu namorado?” pergunta num tom acusatório. “Não precisa ficar assim”, censuro. “Ela almoçou em um escritório dominado por suas flores, com você me mandando beijinhos da minha mesa. Você estava tão presente ali quanto ela”. “Desculpe. O primeiro impulso é esse mesmo”. Pego sua mão e a beijo com força. “Fico aliviado por você ainda sentir ciúmes de mim”. Ela suspira. “Você falou com ela sobre Christopher?” “Foi por isso que a chamei para almoçar. Mostrei o vídeo pra ela”. “Quê?” Ela franze o cenho. “Como você fez isso?” “Levei seu celular para o escritório e passei o vídeo para o computador. Você não reparou que eu o trouxe de volta pra cá ontem à noite, com a bateria carregada?” “Não”. Diz com um toque de irritação e largando os talheres. “Você não pode simplesmente hackear meu celular, Gideon”. “Não precisei hackear nada. Não tem senha”. “Não importa! Isso é invasão de privacidade, porra. Minha nossa... Por que ninguém conseguia entender que eu tinha direito a meu espaço? Você gostaria que eu ficasse fuçando nas suas coisas?” O que foi que eu fiz de errado agora? “Não tenho nada a esconder”. Tiro meu celular do bolso da calça de moletom e entregou para ela. “E você também não deve ter”. “Não interessa se tenho ou não alguma coisa a esconder. Tenho direito ao meu espaço e à minha privacidade, e você precisa pedir antes de ir atrás de informações a meu respeito e antes de mexer nas minhas coisas. Você precisa parar com essa mania de fazer de tudo sem minha permissão”. “E o que aquele vídeo tinha a ver com privacidade?” pergunto franzindo a testa. “Foi você mesma que me mostrou”. “Você está parecendo minha mãe, Gideon” Grita. “Uma maluca pra mim já basta”. Recuo diante da aspereza de suas palavras, completamente surpreso por Eva estar criando caso por causa disso. “Está certo. Desculpe”. Peço tentando amenizar o clima. Ela dá um gole no vinho antes de perguntar. “Está se desculpando por ter me irritado? Ou por ter feito o que fez?”


221 Demoro um pouco para responder, ponderando sua pergunta. “Por ter irritado você”. E estou sendo muito sincero. “Você não consegue ver como isso é bizarro?” “Eva”, suspiro e gesticulo para liberar minha exasperação. “Passo um tempão do meu dia dentro de você. Quando você estabelece esses limites, só consigo ver como uma coisa arbitrária”. “Pois não tem nada de arbitrário. É importante pra mim. Se você quiser saber alguma coisa a meu respeito, precisa me perguntar”. “Certo”. Digo para evitar que isso vire uma briga. “Não faça mais isso. Não estou brincando, Gideon”. Cerro os dentes contendo a irritação. “Está bem. Já entendi”. Eu realmente não vejo nada de errado no que fiz. E agora, mais do que nunca, manterei minhas medidas de segurança e as informações que tenho sobre ela em segredo. Ela leva a individualidade muito a sério, mas como estou no controle das coisas, preciso de informações, e vou obtê-las não me importando com os meios que utilizo. Eva me conheceu assim e terá de me aturar dessa forma. “O que ela falou quando viu o vídeo?” pergunta retomando o assunto anterior. Meu corpo relaxa. Não quero outra briga. “Foi difícil, é claro. Principalmente por saber que eu já tinha visto”. “Ela viu a gente na biblioteca”. “Não tocamos nesse assunto diretamente, mas o que eu poderia dizer? Não vou me desculpar por transar com minha namorada entre quatro paredes”. Me recosto na cadeira e bufo. “Ver a cara de Christopher no vídeo... Ver exatamente o que ele pensa dela... Foi isso que a magoou. É difícil descobrir que está sendo usado dessa forma. Principalmente por alguém que você acha que conhece, alguém que diz gostar de você”. Essa última parte digo mais para mim mesmo, lembrando-me do que passei nas mãos daquele... Bastardo desgraçado. Eva reabastece nossas taças e, após dar um rápido gole no vinho, pergunta. “E como você está lidando com isso?” “O que posso fazer? Durante anos, tentei conversar com Christopher de todas as maneiras. Já tentei dar dinheiro pra ele. Já tentei ameaçar meu irmão. Ele nunca mostrou o menor sinal de mudança. Percebi há muito tempo que o máximo que posso fazer é amenizar as consequências dos atos dele. E manter você à maior distância possível”. “Agora que sei disso, vou fazer de tudo pra ficar longe”.


222 “Ótimo”. Dou um gole em meu vinho e a olho por cima da taça. “Você não me perguntou como foi à consulta com o doutor Petersen”. “Não é da minha conta. A não ser que você queira contar”. E sua cara não denuncia nenhum pouco a sua curiosidade em saber (sim, foi uma ironia, eu conheço bem meu anjo). “Estou aqui pra ouvir o que você quiser falar, mas não vou ficar insistindo. Quando estiver pronto pra se abrir comigo, fique à vontade. Mas adoraria saber se você gostou dele”. “Por enquanto”, respondo sorrindo. “Ele me faz falar várias vezes a mesma coisa. Poucas pessoas são capazes de me convencer disso”. “Verdade. Ele faz a gente repensar e ver as coisas por outro ângulo, fazendo a gente refletir sobre por que não pensou naquilo antes”. Meus dedos sobem e descem pela haste da taça. “Ele me receitou um remédio para tomar antes de ir pra cama. Comprei no caminho pra cá”. “Como você se sente a respeito de tomar remédios?” “Acho que é algo necessário. Preciso de você e quero mantê-la segura, custe o que custar. O doutor Petersen disse que esse medicamento, combinado a terapia, tem ótimo resultado no tratamento de casos de parassonia sexual atípica. Não tenho por que duvidar disso”. Digo sério. Ela toca minha mão e agradece. Retribuo apertando sua mão. Falo do caso documentado que o doutor Petersen contou e ela fica horrorizada. Até tento ironizar a situação, dizendo que eles demoraram tanto para tomar uma atitude porque o cara transava melhor dormindo que acordado e que se isso não é motivo para destruir o ego de alguém, não sei o que é. No entanto Eva não acha graça nenhuma. Mudo o curso do comentário imediatamente “Mas não quero forçar você a dormir comigo, Eva. Não existe remédio milagroso. Posso dormir no sofá ou ir pra casa, apesar de preferir o sofá. Meu dia fica melhor quando vamos juntos para o trabalho”. “O meu também”. Pego sua mão e a levo aos lábios. “Nunca imaginei que teria isso na minha vida... Alguém que sabe tanto sobre mim como você. Alguém que consegue conversar sobre meus traumas durante o jantar porque me aceita como sou... Muito obrigado por você existir, Eva”. “Sinto a mesma coisa por você, figurão”. Um calor se espalha pelo meu peito. Nós temos uma chance. E Deus sabe como eu quero ser o melhor para essa mulher, e do quanto preciso dela. Eva é metade da minha vida, metade da minha alma e dona do meu coração. Eu não a deixarei ir, nunca.


223 Após ajudá-la com a louça do jantar, escovo os dentes e pego meu laptop para trabalhar um pouco antes de dormir. Sento na poltrona da sala e coloco meus pés em cima da mesinha de centro enquanto Eva está esparramada no sofá assistindo TV, ou melhor, fingindo, já que não para de olhar para mim. A conversa franca que tivemos durante a refeição me deixou mais relaxado, mais confiante de que conseguiremos fazer nossa relação dar certo. “O que você está olhando?” murmuro sem tirar os olhos da tela do laptop. Ela mostra língua para mim. “Está se insinuando sexualmente pra mim, senhorita Tramell?” brinco. “Como você consegue me ver enquanto está vidrado aí no computador?” Desvio minha atenção da tela, olhando fundo em seus olhos, morrendo de tesão. “Vejo você o tempo todo, meu anjo. Desde que nos encontramos pela primeira vez. Não tenho olhos pra mais nada além de você”. São dez e meia quando nos recolhemos. Tomo o remédio torcendo para que faça efeito. Morro de medo assustá-la de novo. Se isso acontecer, será nosso fim. _____//_____ Abro meus olhos nessa quarta-feira me sentindo aliviado. Dormi a noite inteira. Um sono sem sonhos, pesado e o mais importante: sem acidentes. Eva está tão linda, inocente, toda nua, mergulhada em um sono tranquilo. Toco sua bocetinha a sinto toda molhadinha. Não resisto e resolvo penetrá-la por trás. Sei que ela adora ser acordada assim, então, porque não. Meus braços envolvem seu corpo puxando-o para mais perto. “Ora, ora”, diz com a voz rouca, esfregando os olhos para espantar o sono. “Você está animadinho essa manhã”. “E você está linda e gostosa todas as manhãs”, murmuro mordendo seu ombro. “Adoro acordar ao seu lado”. E nada melhor que comemorar a primeira vitória sobre os pesadelos fazendo meu anjo gozar, pelo menos umas três vezes. O dia passou voando. O trabalho ocupou todo meu tempo, não deixando espaços nem para o almoço, que fiz enquanto lia alguns relatórios. Eu estava disposto e bem humorado, o que mais uma vez surpreendeu minha equipe. Eles com certeza devem achar que sofro de algum tipo de distúrbio de personalidades. Depois do trabalho, Eva e eu fomos à minha academia. Estava lotado, como geralmente fica às quartas. Guardei minhas coisas no vestiário, troquei de roupa e fui esperar por ela no corredor. Quando fomos em direção às esteiras, Eva acenou para Daniel, o instrutor que praticamente deu em cima dela no primeiro dia em que viemos juntos. Morrendo de raiva da


224 sua atitude, dei um tapa forte em sua bunda. Ela devolveu o tapa na mão que a “agrediu” e reclamou. Em um ataque de possessividade, puxei seu rabo de cavalo e lhe dei um beijo inapropriado para locais públicos. “Se essa é sua ideia de reprimenda”, sussurrou com os lábios bem próximos dos meus, “fique sabendo que parece mais um incentivo”. “Estou disposto a pegar mais pesado, se necessário”. Mordi seu lábio inferior. “Mas sugiro que você não teste meus limites dessa maneira, Eva”. “Não se preocupe. Tenho outras maneiras de fazer isso”. E suas palavras atiçaram meu desejo. A cada troca de aparelho que eu fazia estava plenamente consciente dos olhares femininos sobre mim, mas somente um me interessava. Toda vez que eu flagrava Eva me encarando com seus olhos famintos, ela me provocava com aquele gesto sexy de passar língua pelos lábios. Eu correspondia erguendo as sobrancelhas e dando um meio-sorriso perverso. A hora e meia que ficamos por lá passaram num piscar de olhos. Já no Bentley, a caminho de meu apartamento, Eva estava inquieta, me lançando mais e mais olhares sugestivos. Segurei sua mão e disse que ela teria de esperar. Eu tinha uma ideia para lá de depravada para aquela noite após o baile. Ela arfou de susto com minha afirmação. “Você ouviu muito bem”. Eu beijei seus dedos e abri um sorriso pervertido. “Vamos prolongar o estado de excitação, meu anjo”. “E por que faríamos isso?” “Imagine o quanto vamos estar malucos um pelo outro depois do jantar”. Apesar de suas tentativas de me convencer, permaneci irredutível. Numa sessão deliberada de tortura, despimos um ao outro e entramos no chuveiro, acariciando e lavando nossos corpos. Vesti um terno todo preto e camisa branca aberta apenas no colarinho, dispensando a gravata. Eva colocou o vestido que escolhi para essa noite: um Vera Wang na cor champagne com bustiê sem alça, costas abertas e uma saia pregada que ia até um pouco acima dos joelhos. Mas quando a vi vestida com ele, me arrependi amargamente. PUTA MERDA! Ela estava linda, sexy e tudo mais. Estava tudo combinando, os cabelos sedosos estavam soltos, os acessórios em acordo com a roupa e a bolsa-carteira. Mas o tamanho do vestido estava completamente desproporcional ao corpo de Eva. Suas curvas poderosas e deliciosas preenchiam todos os espaços da roupa. Decotado demais, curto demais. Argh! Ver minha mulher exposta


225 dessa forma é muito bom, tanto que meu pau ficou ereto só de olhá-la, mas pensar que outros homens a veriam daquele jeito... Não, aquilo não me agradou nada. Ajeitei minhas calças. “Minha nossa, Eva. Mudei de ideia sobre o vestido. Você não deveria usar isso em público”. “Agora é tarde demais pra mudar de ideia”. “Pensei que ele tivesse mais pano que isso”. E aquela incompetente da vendedora nem para me avisar que a roupa era inapropriada para as proporções do tipo de corpo de Eva. Ela encolheu os ombros, sorrindo. “Não posso fazer nada. Foi você quem comprou”. “Mas eu me arrependi. Quanto tempo você demora pra tirar?” “Não sei. Por que você não tenta descobrir?” provocou passando a língua pelos lábios. Fiquei sério. “Nós nem sairíamos de casa se eu fizesse isso”. “Eu não ia reclamar”. Tentei convencê-la a por um casaco, uma parca ou até mesmo um sobretudo, mas nada adiantou. Ela ria da minha cara. Não tinha graça. Ela estava provocando de propósito um homem seriamente excitado. Eva argumentou que ninguém vai olhar para ela porque todos estariam muito ocupados olhando para mim. Pegou sua bolsa de mão e me arrastou para fora do quarto. Olhei feio para ela. “Estou falando sério. Seus peitos cresceram? Eles estão quase pulando pra fora da roupa”. “Tenho vinte e quatro anos, Gideon, já parei de me desenvolver faz tempo. Você está me vendo como sou”. Ironizou. “Sim, mas eu deveria ser o único a ver, já que sou o único que tem acesso liberado a você”. Rebati. Assim que entramos no elevador, eu a encarei, pensando no que eu poderia fazer para amenizar seu estado de quase nudez. Tentei puxar seu vestido para cima. “Se você puxar muito, logo mais o que vai aparecer vai ser minha calcinha”. Avisou. “Droga”. “Isso pode ser divertido” disse sorrindo. “Posso fazer o papel da loirinha piranha que só quer saber do seu pau e do seu dinheiro, e você pode fazer seu próprio papel — do playboy bilionário exibindo o brinquedinho novo. É só parecer entediado e tolerante enquanto eu me esfrego em você e fico tagarelando sobre suas imensas qualidades”. Às vezes me perguntava se Eva fumava alguma substância ilícita. É a única explicação para seus comentários ridículos.


226 “Isso não tem graça”. Pensei mais um pouco e meus olhos brilharam pela minha súbita ideia. “Que tal uma echarpe?” Mas nada adiantou. O jeito era ficar de olho nela e em qualquer babaca que tentasse se aproximar. Eu marcaria meu território ferozmente. Acabamos de chegar ao jantar em benefício da construção de um abrigo de emergência para mulheres e crianças vítimas de abuso. Assim que pisamos no tapete vermelho, enxergamos apenas os flashes dos fotógrafos. Minha máscara impassível cobre meu rosto com naturalidade, criando um escudo protetor em volta de mim e de Eva. Todos sabem que só podem se aproximar se eu permitir. Adentramos o salão e atraímos todos os olhares, mas me mantenho tão impassível quanto antes. No momento em que paramos de andar, fomos cercados de pessoas querendo minha atenção. Cumprimento a todos com educação, troco ameninadas, tudo de acordo com a boa e velha civilidade. Viro-me para Eva, na intenção de apresentá-la e... Ela some! Mas que inferno, onde ela se enfiou? Ao mesmo tempo em que meus olhos percorrem o lugar em busca de meu anjo fujão, dou atenção ao grupo. Mais alguma palavras, e peço licença. Saio em busca de Eva e me deparo com ela na pista... Dançando com outro homem? QUE PORRA É ESSA? Ela é minha mulher, caralho! Faz caso por causa da minha conversa com Maggie no escritório, mas fica cheia de sorrisos e intimidades com um cara que nem conheço? Me encaminho até a pista de dança e paro atrás dela bem a tempo do fim da música. Eva dá um passo para trás e seguro sua cintura para evitar uma possível queda. Ela se vira e me reconhece. “Olá”, cumprimento num tom cortante, lançando um olhar gélido para o panaca. “Nos apresente’. “Gideon, esse é Martin Stanton. Nós nos conhecemos há um bom tempo. Ele é sobrinho do meu padrasto”. Ela respira fundo. “Martin, esse é o homem da minha vida no momento, Gideon Cross”. Suas palavras fazem meu coração disparar, mas mantenho a pose. “Cross”. O panaca sorri e me estende a mão, que aperto firmemente. “Sei quem você, é claro. Prazer em conhecer. Pelo jeito, em breve vou começar a encontrar vocês nas reuniões de família”. Apoio meu braço nos ombros de Eva. “Pode contar com isso”. Alguém chama o nome do panaca (que, para mim, continuará sendo panaca) e ele se inclina para beijar a bochecha dela – e nisso eu tenho que me controlar herculeamente para não derrubá-lo com um belo murro – diz que vai ligar para ela para marcar um almoço na próxima


227 semana. Sujeitinho abusado. E ela ainda responde: “Claro”. Isso me dá um ódio inimaginável, mas não deixo transparecer nada. Assim que o panaca se afasta, tiro Eva para dançar ao som de “What a Wonderful World”, na voz de Louis Armstrong. ‘”Não sei se gostei dele”, murmuro. “Martin é um cara legal” tenta me tranquilizar. “Desde que ele saiba que você é minha...”. Dou-lhe um beijo na testa e posiciono minha mão no decote das costas de seu vestido, deixando claro que ela me pertence, só a mim. O contato de nossa pele faz um choque percorrer meu corpo. Eva se deixa levar pela minha condução, e pela sua expressão, ela está mais do que apreciando nossa proximidade. “Adoro isso”, diz. “E é pra gostar mesmo”. Murmuro acariciando seu rosto com o meu. A música acaba e saímos da pista de dança. Avisto uma mulher de vestido preto que se parece muito com Magdalene, mas é difícil saber, pois seu cabelo é curto. Hesito um pouco no passo para observar melhor. Sim, é Maggie. Mas o que me chama mesmo atenção são os cabelos pretos, lisos e cumpridos da mulher que está conversando com ela. Não pode ser... Pode? Depois de tantos anos? Volto-me para Eva e sussurro. “Preciso apresentar você a alguém”. A mulher com vestido azul claro, contrastando com a pele morena, se vira para mim. Seus olhos de água marinha me perfuram, me devoram, carregados de amor e desejo. Eu os reconheceria em qualquer lugar. “Corinne”, digo surpreso. Solto o braço de Eva e pego as mãos de minha ex-noiva. “Você não me disse que já estava de volta. Eu teria ido te buscar”.


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Capítulo 16 Escanteio (Bônus) PDV Magdalene Eu nunca havia visto Gideon tão feliz. Não depois de tudo o que passou; da dor de ver sua família lhe virando as costas no momento em que ele mais precisava de apoio. Nós nunca conversamos diretamente sobre isso, até porque o que eu sei se resume ao que minha mãe me contou. Nunca tive coragem de perguntá-lo sobre o que realmente aconteceu, afinal, Gideon sempre foi fechado e inacessível. Quando saiu de casa, sua mãe ficou desesperada e, desde então, tenta reestabelecer o vínculo com o filho. Ela não conseguiu até o momento, e, vendo a forma como ele a trata (nas raras vezes em que acabam se encontrando) posso afirmar que será uma tarefa impossível. Ele ainda teve de colher os frutos podres do péssimo legado de seu pai, que destruiu a vida de tantas pessoas e preferiu matar a si próprio e deixar que Elizabeth e o filho (que era uma criança de cinco anos) arcassem com tudo. Geoffrey Cross era um bastardo covarde e eu desejava do fundo da minha alma que a dele estivesse queimando no inferno. Nossa amizade sempre foi muito calma. Por trás da persona pública e da fachada carrancuda, há um Gideon engraçado, inteligente, espirituoso, bom ouvinte, ombro amigo, educado e simples. E foram essas qualidades, associada ao ar de mistério, que me fizeram ficar perdidamente apaixonada por ele. Durante a adolescência, vi minha primeira oportunidade de tê-lo. Estávamos em seu quarto estudando. Ele estava tão perto, me ensinando Matemática – a pior matéria inventada pelo homem – com uma facilidade impressionante. Nessa época, Gideon começou a usar os cabelos um pouco mais cumpridos, emoldurando seu belíssimo rosto. Os primeiros fiapos de barba começavam a despontar. Seu corpo já era bem desenvolvido, não havia nenhuma garota que não o quisesse. Sua voz levemente rouca pelas mudanças no timbre, efeitos da puberdade, era pausada e tranquila. Ele sabia ensinar como ninguém. A professora parecia uma burra perto dele. Até que não resisti e o beijei. Quer dizer, foi só um selinho, mas foi o suficiente para ele me afastar. “Maggie, não! Por favor! Nossa amizade é a única coisa boa que eu tenho agora, não vamos estragar isso, por favor!” disse com os olhos suplicantes enquanto segurava meus pulsos sem apertá-los. Depois disso eu não tentei mais nada, simplesmente deixei para lá. Mas eu sabia que cedo ou tarde teria minha chance. Eu lhe provaria que somos bons juntos e que eu poderia fazêlo feliz. Pelo menos era o que eu achava.


229 Fiz questão de ir para a Universidade de Columbia, mesma para a qual Gideon entrou. Após um ano viajando pela Itália, ele voltou mais lindo do que nunca. As garotas quase quebravam o pescoço para olhar em sua direção, se ofereciam para ajudá-lo em algo ou até mesmo a fazer seu dever de casa. Algumas se atiravam logo de cara, coisa que o assustava muito. Mas nada, nem ninguém poderia ser um obstáculo maior do que Corinne Adams. Ela era linda, morena, olhos azuis claríssimos e atraiu a atenção de Gideon à primeira vista. Ela vinha de uma família tradicional. Educada, inteligente, doce e calma. Quando ele me contou que estavam saindo foi como se eu tivesse recebido um sonoro tapa na cara. Fiquei arrasada. E o pior é que, por causa dele, acabei iniciando uma amizade forçada com ela. Eu mesma não tinha a menor intenção de me aproximar. Tentei sair com outros caras da faculdade (que nem de longe chegavam aos pés de Cross), me divertir e me afastar um pouco dos dois. Para isso, acabei entrando para uma fraternidade, a ‘Delta Nu’. Lá fiz fui super bem aceita e tive irmãs de verdade, que me ajudaram muito nos momentos em que mais precisei. Mas nada foi suficiente para distanciar meus pensamentos de Gideon. E assim foi durante dois longos anos. Vê-los juntos pelo campus era uma tortura. No fundo, eu tinha a impressão de que Corinne sabia dos sentimentos que eu nutria por ele porque, sempre que eu me aproximava e os via, ela fazia questão de beijá-lo, acariciá-lo ou algo do tipo. Teve uma vez que fiquei numa fossa tão grande que acabei bebendo demais em uma festa das festas promovidas pela ‘Sigma Alpha’, a fraternidade mais barra pesada da universidade, e tive uma noite nada romântica com um dos moradores. Nem me lembro do nome dele. Eu já não era mais virgem, claro, mas como não fazia sexo com frequência, parecia que haviam rompido meu hímen de novo, só que a dor era pior. Saí de lá me sentindo um lixo, mas não deixei isso transparecer. Jamais daria esse gostinho à Corinne. E quando eu achava que nada poderia piorar eu tive que escutar da boca dela que eles estavam noivos. Isso foi o meu fim. Perdi totalmente as esperanças de conquistar Gideon. Eu ainda esperava um término, eu torcia por cada discussão, cada desentendimento, mas tudo em vão. No fim, eles iriam se casar, e não havia nada que eu pudesse fazer. Meu amigo de infância tentou me contatar diversas vezes, e por mais que a tentação de ignorá-lo fosse grande, meus instintos apaixonados dominavam meu corpo traidor e lá estava eu, servindo de poste para ele e de degrau para ela. Não poderia ser mais humilhante, mas eu estava amando loucamente aquele homem e eu seria capaz de deitar em cima de uma poça d’água para que ele passasse por ela sem molhar seus sapatos. Sim, eu era patética, para dizer o mínimo. Gideon estava começando a enriquecer e a ficar ainda mais independente de sua família. Eu conhecia bem seu lado determinado. Ele venceria, e eu estava na torcida para que isso acontecesse. Ninguém desejava mais o bem dele do que eu. Corinne estava cada vez mais


230 apaixonada e a possessividade de seu namorado a deixava ainda mais encantada. Ele a protegia e a mimava de todas as formas possíveis e, quanto a mim, restava fechar os olhos e fingir estar no lugar dela. A dor da rejeição é excruciante, como se cortassem seu peito com uma foice, sem anestesia alguma. Eu sabia que haveria um momento em minha vida em que eu me machucaria tanto em decorrência desse amor platônico que não sobraria mais nada do meu coração já em pedaços. Venerar um homem que não te enxerga e não ter controle sobre tais sentimentos é desgastante, suga toda sua energia, toda a sua alma. Coisas essas que talvez eu já tivesse perdido. Horas antes do jantar de noivado – do qual eu tinha certeza que Gideon não fazia questão – recebi a ligação dela implorando para que eu fosse; provavelmente para tentar arrancar alguma informação sobre a família dele ou algo do tipo. Nem um pouco disposta a participar daquele circo, dei uma desculpa de um compromisso qualquer. Mas a verdade é que meu lado masoquista necessitava de alguns momentos no canto escuro do quarto para lamber as feridas de um amor não correspondido. No dia seguinte, durante o almoço, minha mãe contou os acontecimentos do jantar. Foi a primeira boa notícia que recebi em tempos. Enfim Corinne tinha dado um deslize fenomenal que poderia custar seu noivado, e a mãe dela foi fundamental para isso. Por outro lado, me senti triste por Gideon ter sido colocado sob tamanha pressão. Eu sei que ele odeia não ter controle sobre as coisas e ser pego de surpresa de uma forma tão desagradável quanto aquela, o deixou furioso. Dias depois, Corinne embarcou para a França, colocando um ponto final na relação. E, finalmente, vi minha chance de conquistá-lo. Deixei meu cabelo crescer um pouco mais e fiz um corte idêntico ao dela, comecei a comprar roupas no mesmo estilo que o dela. Tudo na esperança de chamar a atenção de Gideon, mas foi em vão. Ele começou a sair com várias mulheres, iniciando sua fase de Don Juan. Todas do mesmo tipo de Corinne: morenas, altas, longilíneas e lindas. Decidi não pressioná-lo, aquilo iria passar. No fim, quando finalmente quisesse sossegar eu estaria ali, totalmente disponível para ele. Sempre. Passaram-se anos nessa situação e, novamente, de camarote, eu o assisti se encantar pela segunda vez, por outra. Uma mulher loira, baixinha e curvilínea, completamente diferente dos tipos que Gideon costumava sair. Completamente diferente de Corinne. Vi nos olhos dele um brilho que nunca havia visto antes. Na noite do jantar de gala notei a proximidade dos dois, uma intimidade que ele não tinha nem com sua ex-noiva. Após o discurso, conversamos um pouco, quer dizer, foi uma troca muito ríspida de palavras. Fiz um comentário malicioso acerca de sua nova acompanhante e ele quase surtou de raiva. Não entendi seu comportamento, mas não gostei de ser tratada daquele jeito e, numa atitude bem infantil, me permiti implantar a semente


231 da desconfiança na sujeita. No encontramos no banheiro e nossa conversa passou longe de ser amigável. “Nos dejen solas, por favor”. Pedi à funcionária do banheiro, de traços hispânicos. “Por favor, gracias”, reforçou Eva, numa pronúncia perfeita. Tenho que admitir, fiquei impressionada. Trocamos olhares gélidos. “Ah, não”, murmurei assim que a funcionária se afastou. “Tsc, tsc, tsc. Você já deu pra ele”. “E você não”. Retrucou num tom cortante. Me surpreendi por um momento, mas logo me recompus. “É verdade, eu não. Sabe por quê?” “Porque ele não quer”. Disse tirando uma nota de cinco da bolsa e depositando na bandeja de gorjetas. “E eu também não quero, porque ele não consegue assumir um compromisso. Ele é jovem, bonito, rico e está aproveitando a vida”. “Ah, sim. Com toda a certeza”. Estreitei os olhos, sua calma me irritou de tal forma que decidi jogar sujo. “Ele não respeita as mulheres que come. Depois que enfia o pau em você, acabou a conversa. É assim com todas. Mas eu ainda estou aqui, porque é a mim que ele quer no futuro”. “Isso é patético”. Disse tentando manter-se indiferente, mas eu sabia que a tinha atingido. Saiu pisando duro e por dentro, cantei vitória. Essa já foi mais fácil do que imaginei. Após esse episódio, me dei conta de que tinha feito a maior burrada: tratando Eva daquela forma, arrumei mais um empecilho para me aproximar de Gideon. Se ele já tinha ficado nervoso por minhas alfinetadas, o que diria quando ela fosse correndo lhe contar de nosso encontro? Eu tinha que consertar as coisas, preparar terreno e sondar a situação. Manter o inimigo por perto é essencial para descobrir seus pontos fracos. E, pelo que descobri naquele dia, um dos pontos fracos dela é a autoestima. Mas eu teria que ser sutil. No dia seguinte, liguei para o escritório de Gideon para me desculpar pelo meu comportamento, principalmente com Eva. Para minha surpresa, ele não sabia o que tinha se passado conosco e, até então, eu não havia percebido que ele não tocara no assunto quando liguei. Caso soubesse, teria me confrontado. Ele, obviamente, ficou furioso, mas tentei apaziguar os ânimos ao máximo. Decidi lhe dar um tempo para se acalmar. Não podia pressioná-lo. Dois dias depois, no encontramos em um restaurante. Eu estava jantando com algumas irmãs da ‘Delta Nu’. Com seu jeito bronco, me mostrou claramente estar puto pelo que fiz com Eva. Mais uma vez me desmanchei em desculpas, e fui o mais sincera possível. Eu não queria importuná-lo. Eu só... Queria ter uma chance. Mas foi só ver a forma como sorriu quando citei


232 o nome dela que notei que mais uma vez eu havia ficado para escanteio. Nem por Corinne ele sorria daquele jeito. Por outro lado, fiquei satisfeita de vê-lo tão bem. Essa mulher de certo tinha algo diferente para causar nele essa mudança. E lhe fui grata. Tudo o que eu queria era que Gideon fosse feliz, mesmo sendo nos braços de outra... Voltei para casa naquela noite e chorei. Lágrimas grossas e sentidas. Assim permaneci até dormir, sonhando com seu lindo sorriso direcionado a mim. Na quarta feira daquela semana, tomei uma decisão: iria falar com Eva no dia seguinte. Estava disposta a ter uma conversa franca com ela. Saber de suas reais intenções para com meu... Amigo. Eu não suportaria vê-lo sofrer novamente. E foi pensando nisso que atendi a porta revelando a figura elegante e esbelta de Elizabeth Vidal. Gideon se parece muito com ela. Os traços bem delineados, os cabelos, os olhos impressionantemente azuis e límpidos. Uma beleza raríssima. Trocamos algumas amenidades e ele mencionou sua curiosidade em conhecer Eva. Eu disse que a conhecia apenas de vista. Ela disse ficou chocada quando viu as fotos: seu filho, conhecido como por desfilar com belíssimas morenas a tiracolo, estava saindo com uma mulher loira. Christopher, seu filho mais novo, também fez comentários sobre Eva após o jantar beneficente. Teceu elogios a ela e a sua beleza. Ele falava de um jeito estranho, mas decidi guardar isso para mim. Comentou que iria passar no Crossfire para entregar ao seu irmão os convites para festa de sábado. Eu sabia que ninguém poderia contar com sua presença, uma vez que Gideon não pisava na casa dos Vidal há mais ou menos 10 anos e não fazia a menor questão de aparecer por lá. E duvidava seriamente que ele iria começar agora apenas por Eva. Talvez até a proibisse de ir. Fiz uma nota mental para me lembrar ligar para Gideon e avisá-lo da visita do irmão, uma vez que, por motivos que não compreendo, eles se odeiam. O Chris eu até entendia, inveja. Agora o vice-versa é que era muito estranho. Então Elizabeth começou a falar sobre Corinne, que havia lhe ligado há poucos dias perguntando por Gideon. A mãe dele fazia gosto do namoro/noivado dos dois e sempre torceu muito por uma reconciliação, e até se ofereceu para tentar ajudar. E pensar que ela me queria como nora há muitos anos atrás. Como viu que nossa relação nunca passou da amizade, deixou essa ideia de lado. Claro que ouvi-la enumerar as qualidades da agora Sra. Giroux me nauseava a tal ponto que quase não consegui segurar o café da minha. Sorte que minha mãe chegou a tempo para que colocassem as fofocas e escândalos da high society de Nova York em dia e eu pude me retirar sem parecer rude. Na quarta de manhã fui ao trabalho de Eva trabalho. A recepcionista de traços orientais me anunciou. Tive que esperar por uns minutos e então algo inesperado aconteceu: um dos seguranças de Cross veio me buscar me levaram para seu escritório. Fiquei retida na recepção


233 até que ele permitiu minha entrada em sua sala. E ao abrir a porta, dei de cara com um homem muito, muito bravo. No entanto, ele controlou-se por estar no trabalho, mas no fundo, sua vontade era de arrancar minha cabeça. Ele disse que estava cansado de minha intromissão em sua vida. Aquilo me doeu. Muito. Eu realmente estava estragando tudo. E cada vez menos eu via chances de tê-lo, mas algo dentro de mim não queria desistir. Apenas dei aquela batalha como perdida, mas a guerra estava longe de acabar. No dia da festa dos Vidal me surpreendi em ver Eva por lá, sem Gideon. Mas um tempo depois o próprio chegou. Ele estava indo atrás dela quando o chamei, mas fui ignorada. Fiquei um tempo observando os dois, que sumiram pela casa. Curiosa demais, saí à procura deles, cômodo por cômodo, até abrir a porta da biblioteca e me deparar com uma cena que me deixou estática: Gideon estava abaixando entre as pernas de Eva lhe dando um baita boquete. Os olhos dela encontraram os meus, parecendo um pouco assustada, mas logo se fecharam após ser atingida por um orgasmo que, pelos seus gritos, parecia ser intenso. Não fiquei para ver o resto. Apenas saí desorientada e triste. Foi nesse momento que a ficha caiu. Ele está completamente apaixonado por ela. E eu jamais seria objeto desse sentimento partindo dele. Eu o perdi. E as lágrimas desceram automaticamente. Fui encontrada por Christopher, que me perguntou o que acontecera. Acabei lhe contando o que vi. Ele me levou ao labirinto de plantas para termos mais privacidade. Eu estava devastada, me sentindo carente e, conforme íamos conversando, Christopher ia me tocando de um jeito diferente, me dando a atenção que eu queria de Gideon. Então, em um momento de pura loucura, acabei me entregando à suas carícias, imaginando estar agarrada ao corpo de seu irmão. Não importava o quão doentio parecia ser. Eu apenas precisava me sentir amada, desejada. Após isso, Chris foi muito carinhoso e me deixou em um dos quartos da casa para tentar me recompor. Eu e minha mãe acabamos dormindo por lá. Aliás, se teve uma coisa que eu não fiz naquela noite foi dormir. A cena que vi na biblioteca não saiu da minha cabeça, assim como minha conversa com Christopher. Eu realmente fiquei arrependida de ter cedido, mas era algo que eu precisava no momento. No dia seguinte eu conversei com ele, que não se abalou e até pediu desculpas por tamanha indelicadeza. Tratei logo de tirar esse pensamento de sua cabeça e esclarecer que não foi apenas culpa dele. Eu também me deixei levar. Mal sabia eu que suas palavras não condiziam com seus pensamentos... _____//_____ A última segunda-feira foi o dia mais humilhante de minha vida. Gideon me chamou para almoçar. Disse que tinha algo muito importante para falar comigo. Fiquei com a pulga atrás da orelha, claro. Ele se recusou a dar detalhes por telefone. Achei que poderia ser sobre o que vi


234 na biblioteca, mas descartei a possibilidade. Pelo seu tom de voz, parecia ser algo mais sério. Passei todo o trajeto até o Crossfire remoendo as mais diversas possibilidades. Uma delas, talvez a mais remota, era a de que ele finalmente me daria uma chance. Por isso, me vesti no mesmo estilo que Corinne. Até o jeito como ela põe o cabelo de lado imitei, na esperança de que ele visse em mim a mulher que ele sempre quis. Eu era mesmo uma masoquista. Mal sabia eu o que me esperava. Cheguei à recepção com o coração aos pulos. Scott me anunciou e fui autorizada a entrar no escritório. Gideon estava de pé, recostado à sua mesa de trabalho, com sua beleza de Adônis, em um Tom de três peças cinza claro e gravata azul escuro. Perto dele, qualquer homem se sentiria, no mínimo, tentado a se matar pela falta de autoestima. Nós nos cumprimentamos polidamente e eu, cansada de tanto mistério, queria ir direto ao ponto. Mas ele insistiu que comêssemos primeiro, então me guiou para o minibar, onde nossa refeição nos esperava. Achei curioso o fato de ele ter escolhido estrogonofe de frango, meu prato favorito. Sua intenção de me adular era clara e minha mente estava cada vez mais inclinada a pensar que o resultado daquilo seria favorável para mim. Ou talvez fosse apenas uma forma sua de me mostrar que nossa amizade, apesar dos pesares, continuava a mesma, pelo menos da parte dele. Durante o almoço, percebi um tomo cauteloso em nossa conversa, mesmo quando falávamos de pontos aparentemente triviais. Chegamos a ser um pouco ríspidos um com o outro quando entramos no assunto de nome Eva. Fiz uma alusão coberta de sarcasmo ao que vi na biblioteca, no que ele nem pareceu se abalar, pelo contrário, admitiu sem a menor vergonha, o que me deixou profundamente desconcertada. Ele a defendeu com unhas e dentes. Nem com sua ex-noiva seu ar superprotetor era tão acentuado. É como se proteger Eva fosse a grande meta de sua vida. Eu o conheço bem demais para fazer esse tipo de inferência. Naquele momento, seu amor por ela era mais nítido do que nunca. Estava no brilho de seus olhos, nos seus gestos e no modo como seu tom de voz mudava quando tocava no nome dela. Sem contar que ela estava presente em todas as flores que adornavam seu escritório, o que, até então, era inexistente em seu estilo de decoração austero. Além disso, tinha uma foto dela em cima de sua mesa. Eu não me lembro de ele ter fotos de Corinne. Se ele tinha, eu nunca vi. Aquilo era uma forma de explicitar que Gideon tinha uma mulher em sua vida. Ver aquilo fez meu estômago dar voltas. Quando terminamos, voltamos para a área de trabalho de seu escritório. A postura Gideon mudou completamente. Ele ficou sério, rígido, como se fosse um portador de uma má notícia. Aquilo não soava bem para mim, e soou ainda pior quando começou a dizer que eu era uma grande amiga, que ele se importava comigo e que era sua obrigação me contar a verdade.


235 Me remexi inquieta na cadeira. O clima estava mais pesado. Então ele virou o monitor do computador em minha direção e começou a me mostrar um vídeo. No começo fiquei um pouco confusa. O pano de fundo era um lugar repleto de plantas, como um jardim, e duas pessoas estava abraçadas. Demorou algum tempo até que minha mente pudesse assimilar que se tratava de mim e do Christopher. Alguém nos filmou na festa de seus pais. Falávamos de Gideon e Eva. Meus olhos se arregalaram, meu corpo tremeu violentamente como um saco cheio de ossos. Quando chegou a parte em que começamos a transar, meu coração acelerou. Mas seu eu achava que estava sendo humilhante me ver naquela situação, pior eu me senti quando vi o escárnio e a indiferença estampados no rosto de Christopher. Aquilo foi demais para mim. Meus olhos transbordaram pelas lágrimas que até então estavam presas. Desabei num choro incontrolável. Implorei para que Gideon parasse o vídeo, no que prontamente atendeu. Abaixei minha cabeça, morrendo de vergonha, absorta em minha própria dor. Ele assistiu tudo. Provavelmente estava pensando o pior de mim, até eu estava, afinal eu tentei encontrar nos braços de seu irmão, que ele tanto odiava, o carinho que esperava dele. E agora descubro que fui usada como uma vadia. Uma dor física me invadia. Eu não conseguia parar de chorar. As lágrimas desciam como cascata pelo meu rosto. Mal havia percebido que Gideon estava agachado ao meu lado, com um lenço estendido; nem reparei o momento em que o aceitei. Seus dedos longos acariciavam levemente meus cabelos, em uma tentativa inútil de me consolar. E, depois daquilo, ficou ainda maior o abismo que nos separava. Eu nunca seria dele, nós nunca ficaríamos juntos. Meu coração já não existia, tinha virado pó. Apenas uma batida surda de um órgão quase sem vida ressonava pelos poros do meu corpo, desempenhando a única e exclusiva tarefa de me manter viva. Eu me perguntava o porquê de Christopher me tratar daquela forma. Eu sempre fui amiga dele também, nos dávamos muito bem, sempre quis o melhor para ele. E ser exposta àquela verdade, de que eu não passava de um instrumento de vingança dele contra o próprio irmão, sendo usada da pior forma possível, me sentia destruída. Com o tempo fui me acalmando e percebi que o mais velho dos Vidal era uma cobra disfarçada de bom moço. E seu interesse repentino por Eva fazia sentido agora. Não era simples afobação, não era paixonite, era um plano frio e calculista de vingança por puro ciúme. Não sei por que, me vi dizendo a Gideon que tomasse providências para proteger Eva. Mas a verdade, é que eu estava preocupada que meu amigo acabasse fazendo algo do qual sofreria consequências depois. Ele não hesitaria em fazer uma grande besteira por ela, disso eu tinha certeza. “Eva tem muita sorte de ter você”, digo com sinceridade. “Você é um companheiro e tanto”. “Obrigado”. Agradeceu ele, um tanto constrangido.


236 Respirei fundo e me levantei, pedindo para usar seu banheiro. Lavei o rosto, refiz a maquiagem e saí de lá da mesma forma como entrei em seu escritório. Mas a dor ainda estava ali, presente e pulsante. Depois que Gideon me mostrou o vídeo, eu não o encarei uma única vez. Não tinha coragem. E ele também não forçou nada. Na despedida, eu o agradeci, mas, assim como Arnoldo, ele recusou minha gratidão, e disse que sua atitude nada mais foi do que algo típico de amigos. Demos uma descontraída, mas minha vontade de sumir dali era grande. Saí de seu escritório sem olhar para trás, e no percurso até o carro, coloquei meus óculos de sol Gucci e me mantive de cabeça baixa. Pelo menos aquela cabeleira me serviu de alguma coisa afinal: esconder minha vergonha. Assim que entrei em casa, o telefone tocou. “Alô?” “Como vai Magdalene?” perguntou a voz doce e calma do outro lado da linha. “Corinne?” indaguei assuntada. “Sim, sim, querida”. Disse entusiasmada demais “Oh... Oi... Ah, sim estou bem e você?” Não que ela não tivesse me ligado antes, mas fazia algum tempo. Contei a Gideon sobre seu último telefonema, em que me interrogou até a exaustão sobre Eva. Mas, fragilizada como eu estava naquele momento, fui tomada de surpresa. E algo me dizia que não ela não trazia boas notícias. “Estou bem na medida do possível. Terminei meu casamento com Giroux”. Jogou na lata. “Sério?” meu coração disparou. “Sim, eu não consegui esquecer Gideon. Meu amor por ele nunca esteve tão vivo, por isso estou retornando a Nova York. Estou disposta a tê-lo de volta”. Revelou. Meus joelhos cederam. Aquilo era demais para mim. Eu não estava preparada para uma notícia assim. “Magdalene?” perguntou quando fiquei um tempo em silêncio. “S-sim”, respondi acordando do choque. “Ahn... então, você tem certeza de que quer mesmo isso?” “Claro que sim”, rebateu energicamente. “Acho que sempre pertencemos um ao outro e sua atitude durante todos esses anos só me fez comprovar isso”.


237 Eu sabia do que Corinne estava falando. Todas as mulheres com quem Gideon saiu após o rompimento, eram parecidíssimas com ela. Foi por isso, inclusive, que tentei imitar seu visual, para ter uma chance, que nunca veio. Ela falou mais algumas coisas que não assimilei, apenas peguei a parte em que pediu minha companhia para o jantar de gala de quarta-feira. Trocamos mais algumas palavras, nos despedimos e encerrei a chamada. Caí na cama e chorei como nunca. Minhas esperanças estavam completamente perdidas. Eu sempre seria a amiga, a muleta, o degrau, aquele cômodo velho onde as pessoas escoravam. Foi assim para Gideon, foi assim para Corinne, foi assim para Christopher. E seria assim para o resto de minha vida.


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Capítulo 17 Aos trancos e barrancos “Deixei algumas mensagens no seu telefone”, Corinne responde com sua voz calma. “Ah, eu quase não parei em casa ultimamente”, justifico sem entrar em detalhes. Agora é o momento de lhe mostrar que segui em frente e que o ‘nós’ não existe mais. Solto as mãos dela e puxo Eva para meu lado. “Corinne, esta é Eva Tramell. Eva, Corinne Giroux. Uma velha amiga”. Elas se cumprimentam apertando as mãos. “Qualquer amiga de Gideon é amiga minha também”, diz com um sorriso ameno. Conhecendo minha ex-noiva como conheço, sinto que a referência de Eva como minha amiga foi uma provocação velada. “Espero que isso se aplique a namoradas também”, diz Eva educadamente. Corinne lhe lança um olhar confiante. “Principalmente as namoradas. Se você me permitir, gostaria de apresentar Gideon a uma pessoa”. “Claro”. Concede, mas sei que meu anjo está borbulhando de raiva. Dou-lhe um beijo rápido na testa, e ofereço o braço a Corinne. Sei que foi uma manobra de sua parte para nos deixar a sós e embaraçar Eva. Vou aproveitar essa situação e deixar tudo em pratos limpos. Nos dirigimos a um canto mais isolado da festa. “Então, ela é a famosa Eva”, comenta. “Sim, e é a pessoa mais especial que já conheci”. “Nossa, ouvir isso magoa”. Diz com um tom de voz um pouco triste. “Desculpe, mas é como me sinto. Nunca consegui me abrir tanto para uma pessoa como consigo com ela”. “Eu vejo o quanto você mudou. Mas confesso que fiquei um pouco surpresa”. Franzo o cenho. “Como assim?” “Bom, ela não é bem o que eu esperava. Quer dizer, loira, baixinha, cheia de curvas, enfim... você passou anos saindo com morenas altas, esguias e agora...”. “É diferente”, pontuo. Sei bem aonde ela quer chegar. “Eva é simplesmente tudo o que quero e preciso”. “Então o que tivemos não significou nada para você?” pergunta amarga. “Significou no passado. Não dá para comparar. O que sinto por ela não se parece em nada com o que senti por você”. Explico.


239 “Você a ama?” “Sim”. Seus olhos se fecham e sua expressão se converte em dor. Não queria lhe causar isso. Eu a estimo muito, como amiga. Pego seu rosto com as mãos e a faço olhar para mim. Seus olhos claríssimos estão rasos d’água. “Escute Corinne. Não estou menosprezando o que tivemos. Apenas não é certo pensar nisso mais. Estamos em momentos diferentes agora. Talvez você devesse dar uma chance de verdade ao Giroux e a si mesma. Não se prenda a mim, não se separe por minha causa. Não posso ter responsabilidade nisso, pois estou deixando claro que nós não podemos ficar juntos. Mas não quer dizer que não desejo sua amizade. Estarei aqui sempre que precisar de mim, eu a ajudarei no que for necessário, eu prometo”. “Deixá-lo foi o maior erro da minha vida. Não desistirei de você, Gideon. Eu te amo e lutarei por nós, não importa o que diga. Eu deveria ter feito isso antes, mas tenho minha chance agora. Mas, por ora, eu aceito sua amizade, é melhor do que nada”. Sua voz está coberta de certeza. Retiro minhas mãos de seu rosto e a encaro duramente. “Corinne, você é minha amiga, mas não atrapalhe minha relação com Eva. Ela é ciumenta e insegura, e não quero dar motivos que possam nos separar. Eu não viveria sem ela, nunca. Eu disse isso para Magdalene e agora digo para você: não se meta com Eva”. “Acalme-se, Gideon!” diz assustada. “Assim você me ofende e muito. Não sou esse tipo de mulher, achei que me conhecesse melhor”. Ela parece ultrajada. “Desculpe-me, é só... Quando se trata de Eva, eu sou muito protetor e cuidadoso”. Justifico nervoso. “Tudo bem, eu entendo. Você já foi assim comigo um dia”. Suspira. Meu celular vibra dentro da calça. Tiro do bolso e olho o visor. É do escritório que cuida das obras no Arizona. Franzo o cenho. “Corinne, vou deixá-la fazendo companhia a Eva e Maggie. Preciso atende essa ligação. Por favor, seja agradável. Quero muito que se tornem amigas. É importante para mim”. Peço. “Claro, Gideon. Não se preocupe”. Garante com um sorriso doce nos lábios. Entrelaço nossos braços novamente e nos encaminhamos para onde deixamos Eva e Maggie. Mas não as encontramos. “Onde será que estão?” pergunta Corinne, olhando para todos os lados.


240 Assustado e morrendo de medo de ela ter fugido, sondo o lugar cuidadosamente até que avisto seus inconfundíveis cabelos dourados. As duas estão sentadas em uma das mesas. Meu pulmão se esvazia do ar que até pouco tempo estava segurando. “Ali”, indico com a cabeça. Noto que elas conversam civilizadamente, mas suas feições indicam certo desconforto. A essa altura, Eva já deve saber sobre mim e Corinne, embora eu mesmo quisesse ser o primeiro a lhe contar. Merda! Ela deve estar com raiva! “Aí está você”. Digo a Eva. Seu olhar vai de mim para Corinne. Sua expressão se torna, pela primeira vez, impossível de se ler. Solto o braço de Corinne e acaricio seu rosto com os dedos. “Preciso ir falar com uma pessoa. Quer que eu traga alguma coisa pra você na volta?” pergunto docemente. “Stoli com suco de cranberry. Dose dupla”. Responde automaticamente. “Certo”. Franzo o cenho. Ela não está com raiva. Ela está puta. Vou para um canto mais afastado da festa e saco o celular. “Boa noite, senhor Cross.”. Diz Amber, uma das diretoras. “Qual a emergência?” vou direto ao ponto. “Precisamos que o senhor venha o mais rápido possível. As coisas se complicaram”. Respiro fundo. “Explique”. “Estamos tendo muitos problemas com o orçamento. Os valores não batem e o pessoal da contabilidade não sabe o que fazer. Os funcionários da construtora estão insatisfeitos e acham que há superfaturamento”. “O quê?” Explodo. “Minha política de trabalho é limpa e não admito furos. Com quem eles acham que estão lidando?” “Senhor...”. “Escute”, corto. “Estou no meio de um evento e não posso lidar com isso agora. Amanhã providenciarei tudo o que preciso para a viagem. Avise que estou chegando”, e desligo. Respiro fundo algumas vezes, conto até dez e me encaminho para o bar. Faço meu pedido ao barman, que em menos de cinco minutos tem nossas bebidas prontas. “Obrigado”. O barman retribui com um aceno de cabeça. “Gideon”. Ouço a voz dela, como sinos celestiais, chamando por mim. Ela se aproxima, toma sua bebida na minha mão e a vira num gole só. Seus olhos brilham de fúria. Uma bomba vem por aí. Mas não podemos resolver nada aqui. “Eva...”, advirto


241 “Estou indo embora”, diz sem rodeios, passando ao meu lado para deixar o copo vazio no balcão. “Não considero isso uma fuga, porque estou avisando com antecedência, e você pode ir comigo se quiser”. Bufo de frustração. Maldita hora em que fui deixá-la a sós com Corinne. “Não posso ir embora agora”. Ela vira as costas sem falar nada. Seguro seu braço. “Não vou conseguir ficar se você for embora. Você não tem por que ficar chateada, Eva”. “Ah, não?” Ela olha para minha mão agarrada a seu braço. “Eu avisei que era ciumenta. E, desta vez, você me deu uma boa razão pra isso”. Eu não posso acreditar que estou enfrentando um ataque desses agora. “Só porque me avisou você acha que pode dar uma de ridícula?” Mantenho o autocontrole na voz e nos gestos. Não há como perceber o clima pesado entre nós. “Ridícula, é? E o que você fez com Daniel, o instrutor da academia? Ou com Martin, um membro da minha família?”. Ela chega mais perto e sussurra. “Eu nunca trepei com nenhum dos dois, muito menos concordei em me casar com eles! E pode ter certeza de que não converso todo santo dia com nenhum deles!”. E então o motivo verdadeiro de sua raiva se torna óbvio. Levanto-me abruptamente e enlaço sua cintura com os braços e a puxo para mim. “Você precisa ser comida agora mesmo”, cochicho no seu ouvido, mordendo a ponta da sua orelha. “Não devia ter feito você esperar”. “Vai ver você fez tudo de caso pensado”, rebate. Estava se poupando pro caso de uma velha chama se acender e você preferir trepar com outra pessoa”. Suas palavras fazem meu sangue fervilhar de irritação, de desejo, de luxúria. Viro o restante da bebida em um gole e ponho o copo no balcão. Seguro sua cintura com força e, enquanto nos encaminhamos para entrada, pego o celular e chamo a limusine, que já está a postos assim que chegamos à rua. Abro a porta, empurro Eva para dentro e ordeno a Angus que dê voltas no quarteirão até mandá-lo parar. Entro em seguida e fecho a porta. Ela pula para o outro lado do acento para nos manter afastados. “Pare com isso”, grito. Ela cai de joelhos no assoalho acarpetado, ofegante. Enrolo minhas mãos em seus cabelos e envolvo minhas pernas abertas nas suas, puxando-lhe com tanta força a ponto de encostar sua cabeça em meu ombro.


242 “Vou fazer agora uma coisa de que nós dois precisamos, Eva. Vamos trepar até essa tensão se dissipar o suficiente para podermos voltar para o jantar. E não se preocupe com Corinne, porque, enquanto ela fica lá dentro, vou estar aqui, dentro de você”. “Está bem”, sussurra passando a língua por seus lábios. “Você esqueceu quem é que manda aqui, Eva”, falo asperamente. “Abri mão do controle por sua causa. Cedi e ajustei meu comportamento pra você. Faço qualquer coisa pra deixar você feliz. Mas não aceito cabresto nem chicote. Não confunda minha boa vontade com fraqueza”. Ela engole em seco. “Gideon...”. Está rendida. “Estique as mãos e se segure na barra debaixo da janela. Não solte até eu mandar, entendeu?” Ela me obedece, segurando a barra com revestimento de couro. Seu corpo se inclina à ordem silenciosa que emana do meu. Eva precisa se sentir segura quanto a nós, precisa se sentir importante e protegida. Enfiando as mãos sob a parte de cima do seu vestido, agarro seus seios fartos. Quando aperto e giro seus mamilos, ela joga a cabeça para trás em minha direção. “Minha nossa”. Esfrego a boca contra sua têmpora. “É tão perfeito quando você se entrega assim pra mim... Quando se abre todinha, como se dependesse disso pra viver”. “Me fode” implora, a voz coberta de necessidade. “Por favor”. Solto seu cabelo, enfio a mão por baixo de seu vestido e arranco sua calcinha. Tiro meu paletó e o jogo no assento. Minha mão segue de volta ao caminho entre suas pernas. Meus dedos tocam seu músculo encharcado e pulsante e solto um grunhido de puro contentamento. “Você foi feita pra mim, Eva. Não consegue ficar muito tempo sem me sentir dentro de você”. Continuo a provocá-la, espalhando sua umidade por toda a extensão de sua abertura até o seu clitóris. Em seguida, enfio dois dedos nela e os abro como uma tesoura, separando os tecidos sensíveis. Meu pau está explodindo dentro da calça. O desejo consumindo todo o meu corpo, elevando a temperatura da minha pele, tencionando todos os meus músculos e despertando cada uma de minhas células. “Você me quer, Gideon?” pergunta ofegante. “Mais do que o ar que eu respiro”. Passo meus lábios por seu pescoço, por cima de seu ombro, lambendo cada centímetro de sua pele aveludada. “Também não consigo ficar sem você, Eva. Você é meu vício... minha obsessão...”. O desejo é tão forte, tão brutal que meus dentes se encravam levemente em seu ombro. Solto um ruído primitivo de prazer. Enquanto isso, minhas mãos a estimulam simultaneamente.


243 Os dedos de uma a penetram e o polegar da outra massageia seu clitóris, o que a faz gozar mais de uma vez, gritando meu nome, já sem fôlego. Suas mãos suadas estão escorregando da barra revestida de couro. Hora do show. Abro o zíper da minha calça e a mando soltar a barra e deitar de pernas abertas. Seu pequeno corpo treme, mas não sei ao certo se é de medo ou ansiedade. Eva tem seus limites e não posso de forma alguma, ultrapassá-los. Eu jamais me aproveitaria do controle que ela me cedeu para forçá-la a fazer algo para o qual não estivesse pronta. “Não tenha medo”, digo deitando por cima dela e soltando meu peso com muito cuidado. “Estou com tesão demais pra sentir medo”. Rebate me agarrando e lançando seu corpo para cima para encostá-lo ao meu. “Quero você”. A cabeça do meu pau se esfregava nos lábios de seu sexo. Flexionando os quadris, eu a penetro, e expiramos o ar juntos numa sincronia perfeita. Ela fica toda mole, seus dedos em minha cintura. “Eu te amo”, sussurra olhando para mim. “E preciso de você, Gideon”. “Eu sou seu”, murmuro enquanto meu pau entra e sai. “Não poderia ser mais seu”. E minhas palavras são sinceras. Eu a amo tanto, eu a desejo ardentemente, eu a quero mais que tudo, é impossível dar nome ao que sinto por ela. Não há como expressar. Seu corpo estremece e tenciona. Seus quadris se remexem cegamente contra minhas estocadas furiosas. Ela chega ao clímax soltando um grito abafado, sua boceta gulosa mastigando meu pau me fazendo enlouquecer e buscar desesperadamente minha liberação, investindo cada vez mais forte. “Eva”. Rosno. Ela continua rebolando, me incitando a continuar. Eu a agarro com força e me movo cada vez mais rápido. Eva sacode a cabeça de um lado para o outro, gemendo como uma vadia, seu rosto corado, suas feições denunciando o prazer latente de ser possuída por mim, de pertencer a mim. Eu sempre fui meio bruto no sexo, mas não chega perto do que sou quando estou com Eva. Viro um animal selvagem, um leão faminto quando se trata dela. E sei que a intensidade de seu desejo por mim é igual. Estou completamente louco por essa mulher. As paredes de seu canal estreito começam a me apertar cada vez mais, anunciando a vinda de mais um orgasmo. “Você é tão bom nisso, Gideon. Tão bom...”, choraminga. Agarro sua bunda e a puxou para trás contra minhas estocadas brutais, chegando ao ponto mais fundo de seu corpo, expulsando um gemido esganiçado, num misto de dor e prazer, da sua garganta. Ela goza mais uma vez, grudando seu corpo ao meu com todas as forças.


244 “Meu Deus, Eva”. Solto um rugido áspero, ele meu líquido quente e espesso é liberado, inundando seu interior. Pressiono seus quadris para deixá-la imóvel e me esvazio dentro dela, a cabeça do meu pau quase tocando seu útero. Ficamos algum tempo parados esperando nossos corpos se acalmarem. Penso em tudo o que aconteceu conosco até hoje. Simplesmente não consigo encontrar uma palavra para descrever meus sentimentos por Eva. São fortes, intensos, incontroláveis, primitivos. Eu tenho vontade de amá-la, protegê-la, possuí-la, confortá-la, consolá-la, suprir suas necessidades, ser tudo o que ela precisa. E, ao mesmo tempo, sinto que minha vida, minha alma, meu corpo e meu coração pertencem a ela. Se eu a perdesse, eu não seria nada, eu não teria nada, eu não teria motivo algum para continuar vivo. Respiro fundo e ajeito os cabelos de Eva com as mãos, beijando seu pescoço suado. “Queria que você soubesse o que me faz. Queria saber explicar”. Digo um pouco frustrado. Ela me abraça com toda a força. “Não consigo deixar de fazer coisas idiotas por sua causa. É mais do que consigo suportar, Gideon. É...”. “... Incontrolável”. Completo já sentindo meu corpo reagir. Meu membro ainda dentro dela então começo tudo de novo, com estocadas ritmadas, inchando e crescendo a cada investida. Atinjo seu ponto mais sensível. “E você precisa estar no controle”. Afirma sem fôlego “Preciso de você, Eva”. Meus olhos permanecem grudados nos seus enquanto me mexo dentro de mim. “Preciso de você”. Não importa o tempo, as pessoas, os obstáculos, as brigas, as inseguranças... Nada. Somos apenas nós dois, como um só, em nosso próprio mundo. _____//_____ Após retornarmos a festa, não saí do lado de Eva nem permiti que ela se afastasse pelo resto da noite. Minha mão ficou grudada na sua até mesmo na hora do jantar. Novamente, preferi comer com uma mão só que abrir mão de seu toque. Corinne, que sentou à minha esquerda, estranhou o fato. “Não lembrava que você era canhoto”, comentou. “Não sou”, respondi erguendo a mão de Eva e a beijando. Uma forma de reafirmar que eu a amava e não havia mais ninguém em minha mente. Meu anjo ficou constrangido com o gesto, mas não me importei. Com o tempo, acabei percebendo o jogo de Corinne. Ela começou a falar dos vários lugares que fomos juntos enquanto estávamos juntos, dos momentos que tivemos e a ainda teve


245 o disparate de sugerir que eu levasse Eva a todos eles. Para evitar o desconforto, eu restringia a conversa apenas a nós dois. Cometi um erro enorme ao falar sobre o ciúme de Eva, e Corinne está usando essa informação ao seu favor. Ela é mais sagaz do que imaginei, mas não ia me fazer de bobo. Maggie assistiu a tudo com uma expressão impassível e sem a menor vontade de participar. Sempre soube que ela se sentia ofuscada perto de minha ex-noiva, desconfortável mesmo, principalmente por causa dos sentimentos que nutre por mim. Me senti mal em vê-la daquela forma. A conversa dura tempo demais. Corinne está jogando pesado. Sinto um leve puxão na outra mão, como se Eva estivesse tentando se livrar do meu aperto. Instintivamente eu a seguro mais forte. “O que está fazendo?”, murmuro me virando para ela. Meus olhos vão de Eva para o homem elegantemente vestido sentado ao seu lado. Meu corpo todo enrijece, minha expressão se fecha e meu olhar se torna gélido. O maldito Terrence Lucas, um dos homens que desgraçou minha vida, me encara de volta com um olhar debochado. “Ela vai aliviar o tédio de ser ignorada, Cross”, diz o bastardo, apoiando as mãos sobre o encosto da cadeira de meu anjo, “vai doar um pouco de seu tempo a alguém que ficaria feliz em dedicar sua atenção a uma linda mulher”. Filho da puta! Eva tenta se desvencilhar de mim, mas continuo a segurando. “Suma daqui, Terry”, aviso. “Você estava tão entretido com a senhora Giroux que nem reparou que eu estou sentado nesta mesa”. Ele abre um sorriso tenso. “Vamos, Eva?” “Paradinha aí, Eva”. Ela estremece ao som da minha voz, mas seu olhar brilha de mágoa. “Não é culpa dele. Ele está certo”. Aperto mais sua mão. “Não vamos discutir isso agora”. O olhar de Terry, que estava cravado em mim, se volta para Eva. “Você não é obrigada a aturar esse tipo de tratamento. Nem todo o dinheiro do mundo dá a ele o direito de tratar alguém assim”. Suas palavras estão carregadas de rancor. Eva me olha furiosa, com as bochechas coradas e diz num sussurro áspero. “Crossfire”. Automaticamente meus dedos afrouxam o aperto e a soltam. Passei dos limites. Ela está totalmente envergonhada. Eva se levanta, pede licença a mim e a Terry e sai da mesa com a bolsa em mãos. O desgraçado a acompanha com o olhar e se volta para mim com um sorriso sarcástico.


246 “Deixe a pobre em paz, Cross. Não a transforme em um brinquedo seu como fez com as outras. Ela me parece ser uma boa moça e não merece ser magoada por você”. Meus dentes trincam de ódio. Falta pouco para eu acertar um murro na cara desse otário. “Eu não vou repetir: suma da minha frente. E fique longe, bem longe de Eva. Não vou deixar você estragar minha vida de novo. Você sabe muito bem do que sou capaz”. Ele ri sem humor. “Eu sei muito bem disso, Cross. Sei bem do que é capaz. Esse sentimento ilusório que você planta nas mulheres cresce como um câncer e no fim, quando já está farto, você as descarta e a elas só cabe juntar os pedaços e tentar se tratar. Muitas, não conseguem se recuperar, como a Sra. Giroux, a Srta. Perez... e ela”. Completa, amargo. Sei exatamente do que ele está falando. E até hoje me um pouco culpado, não por ele, mas pelo que fiz... Com ela. Ele se levanta, mas não se afasta antes de concluir. “Não faça o mesmo com Eva. Deixea ser feliz com alguém que de fato a mereça”. Suas frases envolvem meu coração como cordas e o apertam até a asfixia. Começo a tremer levemente e a ficar ansioso. Ele me atingiu na minha maior insegurança. Apesar de minha intenção de jamais me afastar de Eva, morro de medo de ela não aguentar mais e... Se afastar de mim. “Gideon, o que foi isso?” pergunta Corinne, atônita. “Nada que precise se preocupar”, respondo vagamente. Mantenho a expressão impassível, mas por dentro estou sangrando. “Onde está Eva?” “Foi em direção aos toaletes”, informa Maggie. “Mas não se preocupe, ela deve estar se recompondo. Nós mulheres somos famosas por demorar, você sabe, arrumar os cabelos, retocar a maquiagem, ajeitar o vestido, coisas do tipo”, dá de ombros. “Você tem razão”. Respondo ainda tenso. “Não custa na da esperar, não é?” “Ela está se arrumando para você, Cross. Apenas relaxe e aproveite”, dá uma piscadela. “E depois, Eva tem mesmo que se arrumar para estar à sua altura”. Emenda Corinne em tom de deboche. “Sorte sua que estou aqui para lhe fazer companhia enquanto ela não está por perto”. Aperto meus olhos e resolvo ignorar seu comentário. Se eu abrir a boca para retrucar, ela sairá daqui chorando, e a última coisa de que preciso no momento é mais uma cena para a coleção da noite. Já basta Eva me dando trabalho.


247 Passam-se cinco minutos e nada dela aparecer. Corinne tagarela sobre algum assunto que não dou a menor importância. Maggie me observa com atenção, mas não diz mais nada. Olho para todos os lados e nenhum sinal do meu anjo. Olho no visor do celular e há três ligações da equipe de segurança e uma mensagem de Eva... Oh, não: *Não estou fugindo. Só indo embora* Meu coração para por alguns instantes. Ela foi embora... De novo. Merda! Merda! Merda! Começo a suar frio. Eu não posso perdê-la, apenas... Não posso. “Gideon, está me ouvindo?” Corinne me olha curiosa. “Aconteceu alguma coisa?” “Ah... Eu... Tenho que ir, há um assunto pendente que precisa ser resolvido com urgência”. Digo me levantando. “Depois nos falamos, pode ser?” “É... Tudo bem... que tal marcarmos...”. E antes de ela terminar, já estou me dirigindo à saída. Saco o celular e chamo a limusine. Ao ver minha expressão agoniada, Angus abre a porta traseira e volta rapidamente para trás do volante. “Apartamento da senhorita Tramell?” pergunta. “O mais rápido que puder”. Ele literalmente pisa fundo no acelerador e se move com propriedade pelas ruas, cortando vários caminhos até o Upper West Side. Ligo para a equipe de segurança que e me informam que Eva pegou um táxi. Eles, obviamente a seguiram. “Acabamos de chegar, senhor Cross”. “Excelente, mantenham a vigilância”, e desligo. Em questão de minutos a limusine para em frente ao prédio. Salto do veículo e entro correndo, indo direto para os elevadores, ignorando completamente o novo porteiro. Ele tenta me impedir. “O senhor não pode subir sem ser autorizado”. Diz em tom de reprimenda. Encaro-o com os olhos transbordando fúria. “Eu sou Gideon Cross, dono desse prédio. Entro e saio daqui quando eu bem entender. A menos que queira perder seu emprego, é melhor voltar para o seu lugar”. Minha voz soa gélida. Ele paralisa no mesmo instante. “S-senhor C-Cross, eu... Eu...”. Tenta gaguejar um pedido de desculpas. As portas de alumínio se abrem e entro, esquecendo-me imediatamente do porteiro. Tiro a chave mestra do bolso e colo no painel. Segundos depois estou no andar de Eva. Estranhamente a porta de seu apartamento está aberta. Paro no limiar e mal registro o que está


248 havendo. Meus olhos estão fincados na direção de Eva. Um filho da puta drogado está a centímetros dela e no momento seguinte meu punho já está acertando a cara do infeliz, que solta um berro, caindo no sofá. Imediatamente coloco-me entre Eva e aqueles depravados. Meu corpo treme pela raiva contida. “Vá terminar isso no quarto, Cary”, ordeno. “Ou então em outro lugar”. O babaca que tentou se aproximar de Eva ainda se contorce no sofá, com as suas mãos no rosto, numa tentativa falha de estancar o sangue que jorra de seu nariz. Eva e Cary começam a discutir sobre a atitude dele. A loira desnuda que estava por cima da ruiva, ainda deitada no chão, se intromete na conversa e, assim que me vê, se abre toda para mostrar seu corpo bem delineado. Nada que eu já não tenha visto. E sua atitude me dá nojo, meu estômago se revira e lanço um olhar de puro desprezo e asco por sua atitude. Ela tem ao menos a decência de se cobrir com um vestido dourado que apanhou do chão, ruborizando de vergonha. Eva a encara e diz cheia de sarcasmo. “Não leve a mal, não. Ele prefere as morenas”. Seu comentário me atinge como um tapa e a olho com raiva, muita, muita raiva. Depois de tudo o que eu fiz para deixá-la confortável ante a presença de Corinne, de tê-la livrado de constrangimento de ouvir os tópicos de conversa inapropriados de minha ex-noiva, dos momentos em que transamos vorazmente na limusine, Eva faz isso? Eu me esforcei tanto para ganhar sua ingratidão e desprezo? Devo ter feito uma cara muito ruim, pois Eva me olha assustada e dá um passo para trás. A lembrança de todos os acontecimentos dos últimos dias, o estresse no trabalho, a volta inesperada de Corinne, a reação negativa de Eva, o encontro desagradável com o desgraçado do Lucas, vêm como uma vingança ao mesmo tempo, me deixando a um passo da violência. “Porra! Caralho! Merda!” esbravejo passando a mão pelos cabelos. Eva vira de costas. “Não quero essa putaria dentro da minha casa, Cary”. E vai em direção ao seu quarto. Fuzilo Cary com o olhar. “Eu sabia que você era uma péssima companhia para Eva. Vou levá-la para minha casa e é melhor que essa corja tenha sumido quando estivermos saindo. E vá para seu quarto. Seria horrível para ela ter que te ver mais uma vez nesse estado lastimável”. E me dirijo a passos largos para o quarto dela. Tiro o terno e coloco a camisa para fora da calça. Desfaço as mangas, retirando as abotoaduras e as colocando em uma de minhas gavetas na cômoda.


249 Chego à porta do banheiro e vejo Eva sentada no cão do Box, abraçando as pernas, com a testa encostada nos joelhos. A água quente caía abundante pelo seu belo corpo desnudo. Ela parece exausta. “Eva”. Ela se encolhe ao ouvir o som autoritário da minha voz e agarra as pernas com mais força. Está se fechando, me evitando. Mas que porra! “Puta que pariu”, explodo. ”Não existe ninguém no mundo que me deixe mais puto que você”. Ando de um lado para o outro, quase arrancando os cabelos. Ela me olha entre os cabelos molhados. “Vá para casa, Gideon”. O quê? Paro de andar a encaro, incapaz de crer em seu pedido. “Não vou deixar você aqui sozinha nem fodendo. Cary pirou de vez! Aquele drogado filho da puta estava quase atacando você quando cheguei”. “Cary não deixaria isso acontecer. Além disso, não estou com cabeça pra aturar você e ele ao mesmo tempo”. “Então vai se concentrar só em mim”. Eu não quero que ela se preocupe com aquele irresponsável. Eva está frágil demais, abalada demais, precisa de carinho e conforto e é o que lhe darei. Ela tira os cabelos do rosto com um gesto impaciente. “Ah, é? Então quer dizer que a prioridade da minha vida é você?” Encolho-me diante do seu tom. Isso doeu, doeu demais. “Pensei que a prioridade da nossa vida fosse fazer esta relação funcionar”. Rebato magoado. “É, eu também pensava. Até esta noite”. “Meu Deus. Dá pra esquecer essa história da Corinne?” Abro os braços em sinal de exasperação. “Estou aqui com você, não estou? Mal tive tempo de me despedir dela, porque tive que sair correndo atrás de você. De novo”. “Que se foda! Não fui eu que pedi pra você vir atrás de mim!” Ela nem precisaria fazer isso. Eu mesmo o faria sem pensar, a qualquer hora, a qualquer momento. Movido pela tensão e pelo desejo, entro no chuveiro, de roupa e tudo, levanto Eva do chão, prenso seu corpo com o peso do meu contra a parede azulejada do Box e a beijo com renovado desespero, devorando seus lábios doces e convidativos. Minha língua ataca sua boca, explorando cada centímetro, mas ela não corresponde minhas carícias. “Por quê?”, murmuro com a boca colada ao seu pescoço. “Por que você quer me deixar maluco?”


250 “Não sei qual é seu problema com o doutor Lucas, e sinceramente não estou nem aí. Mas ele tinha razão. Você só conseguia prestar atenção em Corinne. Praticamente me ignorou durante o jantar inteiro”. “É impossível, pra mim, ignorar você, Eva”, fecho a cara pelo seu comentário absurdo e por ter colocado aquele maldito no meio. “Quando você está por perto, não tenho olhos pra mais ninguém”. “Que engraçado. Porque, pelo que eu vi, você ficou o tempo todo de olho nela”. Reclama. “Que bobagem”, eu a solto me soltou e tiro os cabelos molhados do seu rosto. “Você sabe o que sinto por você”. “Ah, eu sei?” pergunta parecendo incrédula. “Sei que você me quer. E que precisa de mim. Mas você é apaixonado por Corinne?” Meu sangue ferve. Nada do que eu faço será suficiente para ela? Tudo isso só para ouvir uma frase que chega a ser medíocre de tão mal empregada? “Porra! É inacreditável!” rosno. Desligo o chuveiro e apoio as duas mãos no Box em torno dela, aprisionando-a. “Você quer que eu diga que te amo, Eva? Essa cena toda é por isso?”. Ela se retrai, como seu eu tivesse socado seu estômago. Seus olhos se enchem de lágrimas. Ela se curva para frente para passar por debaixo do meu braço. “Vá para casa, Gideon”, diz com a voz embargada. Não! Merda, eu e minha mania de não medir as palavras. Claro que ela ficaria magoada pela forma como coloquei as coisas. “Eu estou em casa”. Eu a agarro por trás e enfio o rosto nos seus cabelos ensopados. “Estou com você”. Ela luta para se libertar, mas seu corpo está tomado pelo cansaço. As comportas se abrem e Eva desaba num choro de cortar o coração, tanto que eu mesmo começo a chorar também. “Vá embora. Por favor”. Soluça. “Eu te amo, Eva. É claro que sim”. Como ela poderia duvidar? “Ai, meu Deus”. Ela grita horrorizada e me dá um inesperado chute na perna esquerda. Me desequilibro e ela consegue se soltar. “Não estou pedindo pra você ter pena de mim. Estou pedindo pra ir embora”. “Não posso. Você sabe que não posso. Pare de brigar comigo, Eva. Me escute”. Imploro, me agarrando a ela como a um bote salva-vidas. “Você só está me magoando com essa conversa, Gideon”.


251 “Não é a palavra certa, Eva”, continuo, com os lábios grudados em sua orelha. “É por isso que eu não disse antes. Não é a palavra certa pra você nem pro que eu sinto por você”. “Chega. Se você gostar de mim um pouquinho que seja, vai calar essa boca e sumir daqui”. Esbraveja, entre soluços. Chegou a hora de abrir o coração e dizer o porquê de nunca ter lhe dito que a amava. Eu preciso fazê-la entender a profundidade dos meus sentimentos por ela. “Já fui amado antes — por Corinne, por outras mulheres... Mas o que elas sabem sobre mim? Como é que elas podem estar apaixonadas se não sabem nem quem sou? Se o amor é isso, não é nada em comparação ao que sinto por você”. Ela fica paralisada, seu corpo pequeno tremendo, sem dizer uma palavra. Meus braços são como vigas de aço em torno dela, não querendo soltá-la, não querendo deixá-la ir. Sou tomado pela emoção de finalmente poder externalizar tudo o que venho sentindo em silêncio. Eva se tornou o centro do meu mundo em pouco tempo. Minha necessidade dela transcende qualquer sentimento humanamente possível. Eu não era nada, apenas um ser obscuro, egoísta, traumatizado e sem alma. À minha volta, mulheres que dizem me amar quando na verdade amam apenas a imagem que têm de mim. Pessoas que conhecem apenas a parte na qual lhes permito chegar. No fim, eu sou uma fraude. Uma projeção do homem que eu queria ser, mas não sou. Mostro uma força que na verdade não tenho. Nenhuma das feridas que me fizeram ao longo da vida cicatrizou completamente. Eu era uma sombra. Mas quando Eva apareceu, voltei à vida. Eu me tornei o que ela precisa. Finalmente descobri o meu lugar, o meu propósito. Eva me vê apenas como Gideon, ela deseja que eu a ame. E agora que finalmente a tenho... Não vou deixar ninguém tirá-la de mim. Ninguém. “Gideon...”. Suspira. Beijo sua testa. “Acho que me apaixonei no momento em que vi você. E quando transamos na limusine virou outra coisa. Uma coisa maior”. “Que seja. Você me deu um chega pra lá naquela noite e foi cuidar de Corinne. Como é que você pôde fazer uma coisa dessas comigo, Gideon?” pergunta indignada. Eu a solto apenas para me ajeitar para pegá-la no colo e levá-la até onde está seu robe, pendurado em um gancho atrás da porta. Eu a visto e a sento na borda da banheira. Vou até a pia pegar lenços umedecidos para tirar maquiagem da gaveta. Agacho e, frente a ela e começo a limpar seu rosto. “Quando Corinne me ligou no meio daquele evento, era o momento perfeito pra eu fazer uma idiotice”. Começo. “Você e eu tínhamos acabado de transar, e eu não estava conseguindo pensar direito. Disse pra ela que estava ocupado, e que estava acompanhado, mas


252 quando percebi que ela estava magoada, achei que precisava acertar os ponteiros com ela pra poder seguir em frente com você”. “Não entendi nada. Você me deixou de lado por causa dela. É isso que você chama de seguir em frente comigo?” “Eu pisei na bola com Corinne, Eva”. Levanto seu queixo para limpar seus olhos borrados. “Nós nos conhecemos no meu primeiro ano de universidade. Ela chamou minha atenção, é claro, toda linda e meiga, incapaz de dizer uma palavra desagradável sobre quem quer que seja. Quando veio atrás de mim, eu me deixei levar e tive minha primeira experiência sexual de comum acordo com ela”. “Eu a odeio”. Diz num tom de voz cortante. Abro um sorrisinho ao ouvir isso. Adoro Eva ciumenta. “Não estou brincando, Gideon. Esta conversa está me matando de ciúme”. Adverte irradiando irritação. “Com ela era só sexo, meu anjo. Com você, por mais violento e selvagem que seja eu sempre faço amor. Desde a primeira vez. Você é a única pessoa capaz de fazer com que eu me sinta assim.” Ela suspira. “Está bem. Estou um pouquinho melhor”. Eu a beijo. “Acho que dá para dizer que nós namoramos. Só fazíamos sexo um com o outro e íamos a vários lugares juntos. Ainda assim, quando ela disse que me amava, foi uma surpresa. Uma surpresa agradável. Eu gostava dela. Da companhia dela”. “E pelo jeito ainda gosta”, resmunga. Eu já disse que detesto quando ela me interrompe? “Me deixe falar”. Repreendo batendo com o dedo na ponta do seu nariz. “Pensei que eu poderia estar apaixonado também, da minha maneira... Da única maneira que eu conhecia. Não queria ver Corinne com outra pessoa. Então aceitei quando ela propôs o casamento”. Eva se afasta para olhar melhor para mim. “Ela propôs o casamento?” “Não precisava ficar tão surpresa” ironizo. “Você está acabando com meu ego”. Do nada ela se atira sobre mim e me abraça com força. O que será que aconteceu? “Ei”. Retribuo o abraço com a mesma avidez. “Está tudo bem?” “Melhorando”. Ela me solta e toma meu rosto entre as mãos. “Continue falando”. “Aceitei pelos motivos errados. Estávamos saindo fazia dois anos, e nunca tínhamos nem dormido juntos. Nunca falamos sobre as coisas que eu converso com você. Ela não me conhece, pelo menos não de verdade, mas ainda assim acabei me convencendo de que ser amado bastava. E quem seria capaz de fazer isso melhor que ela?”


253 Passo a me concentrar em seu olho esquerdo, removendo as manchas pretas. Conto sobre o noivado e a intenção de Corinne em fazer com que eu me abrisse mais, de com que ficássemos mais próximos. E que, vendo que o noivado não surtiu efeito, ela decidiu terminar tudo o ir embora para me fazer correr atrás dela, mas que no fim tinha sido bom para mim. “Você nunca pensou em contar pra ela?” pergunta. “Não”. Encolho os ombros. “Até conhecer você, não encarava meu passado como um problema. Até achava que ele tinha influência na maneira como eu conduzia as coisas, mas tudo tinha seu lugar e eu não me considerava infeliz. Na verdade, achava que levava uma vida confortável e descomplicada”. “Ops”. Franze o nariz. “Olá, senhor Confortável. Eu sou a senhorita Complicada”. “Com você, nada é previsível ou tedioso”. Sorrio. Jogo os lenços sujos na lixeira. Em seguida pego uma toalha para limpar a poça d’água que se formou abaixo dos pés de Eva. Assim que termino coloco a toalha no cesto de roupas sujas e tiro minhas roupas molhadas. Mesmo de costas, sinto o olhar do meu anjo me devorando. “Você se sente culpado por que ela é apaixonada por você”. Comenta. Olho para ela. “Pois é. Conheço o marido dela. É um cara legal, e era louco por ela, pelo menos até descobrir que Corinne não sentia o mesmo por ele e tudo ir por água abaixo”. Olho para ela enquanto tiro a camisa. Eu não entendia o porquê de Giroux ficar tão abalado por causa disso. Ele a tinha, certo? Levavam uma vida luxuosa na Europa, apesar da crise econômica. Mesmo que ela não o amasse, se houvesse um pouco mais de esforço da parte dele, poderiam estar juntos, tentando fazer o casamento dar certo. Corinne aceitou se casar, já era alguma coisa. Mas agora, ao ver que ela escapou ao primeiro sinal de desistência dele, e usou isso como desculpa para retornar e tentar me ganhar de volta, eu o compreendo. Mas não faria o que ele fez. Eu não desistiria de Eva, nunca. “Se você fosse apaixonada por outro homem, Eva, isso me mataria. Mesmo que você estivesse comigo e não com ele. Mas, ao contrário de Giroux, eu não abriria mão de você. Mesmo que não fosse toda minha, seria pelo menos um pouco, e eu já me daria por satisfeito com isso”. Declaro.

“É isso que me assusta, Gideon. Você não sabe dar valor a si mesmo”. “Na verdade, sei, sim. Doze bilhões de...”. “Pare com isso”. Ela me interrompe, apertando os olhos com os dedos em sinal de impaciência. “Não é nenhuma surpresa que as mulheres se apaixonem por você. Sabia que Magdalene deixou o cabelo crescer só pra ficar parecida com Corinne?”


254 Isso é uma novidade. Tiro a calça e franzo o cenho. “Por quê?” Ela suspira. “Porque ela acha que você é apaixonado por Corinne”.

“Então está achando errado”. Nossa! O que há de errado com essas mulheres? “Está mesmo? Corinne me disse que vocês conversam quase todos os dias”. Diz desconfiada. “Não exatamente”. Respondo imediatamente. “Na maioria das vezes não posso atender”. E imagens de nós dois transando em vários momentos enchem minha mente. Sexo com Eva é vida! “Isso é loucura, Gideon. Ela ligar todo dia. É assédio”. Argumenta indignada. “Onde você está querendo chegar com isso?” pergunto divertido. Sua careta de irritação é adorável. “Você não entende? As mulheres ficam malucas por sua causa porque você é o máximo. É a sorte grande. Se uma mulher não puder ter você, sabe que vai ter que se contentar sempre com menos. Por isso não aceitam essa ideia. E ficam imaginando maneiras malucas de chamar sua atenção”. Penso nisso por um segundo. Faz sentido, e explica muita coisa. Mas também evidencia o óbvio... “A não ser a única que eu realmente quero”, ironizo. “Essa está sempre imaginando um jeito de fugir de mim”. Ela tenta manter-se impassível diante de minha nudez, mas o brilho guloso em seus olhos a denuncia. Tenho uma namorada muito pervertida. E quem disse que estou reclamando? “Me responda uma coisa, Gideon. Por que você me quer, se pode escolher alguém perfeito pra você? E não estou atrás de elogios, nem garantias ou algo do tipo. Só quero uma resposta sincera”. Eu posso pensar em vários motivos e citar todos eles: ela é linda, gostosa, fogosa, boa de cama, tem um corpo delicioso. Mas, mais do que isso, ela me escuta, me ouve e não tem nojo de mim mesmo sabendo que sou um fodido filho da puta. Só que a leve irritação de vê-la acabando com sua autoestima novamente vence e resolvo dar outra resposta. Eu a pego no colo e volto para o quarto. “Eva, se você não parar de pensar em nós dois como uma coisa temporária, vou dar uns tapas na sua bunda, e de um jeito que você vai adorar”. Eu a sento na poltrona e começo a vasculhar suas gavetas. Pego sua calça de ioga, um conjunto de lingerie e um top. Eva não entende a minha atitude já que sempre dorme nua quando está comigo. Explico que vamos ficar na minha casa, pois não me sinto seguro com relação à Cary.


255 Ele está totalmente alterado pelo efeito das drogas e poderia trazer mais viciados para cá. E como vou estar praticamente em estado de hibernação por causa do remédio, não poderei protegê-la. Ela tenta defender o amigo, dizendo que já passou por isso antes com ele. Afirma que não pode simplesmente se esconder e esperar que ele saia sozinho dessa situação. “Ele precisa de mim, e eu não tenho ficado por perto ultimamente”. Diz tristonha. E agora eu fico com mais raiva de Cary por fazê-la se sentir culpada pelas cagadas dele. Porra, ele é adulto! Nem a minha vida ou a de Eva foi fácil também, e mesmo assim estamos de pé, aos trancos e barrancos, mais ainda assim, de pé. E ela precisa ser cuidada e não ser babá de um babaca inconsequente.

“Eva”. Entrego-lhe as roupas e me agacho diante dela. “Sei que você precisa ajudar Cary. Vamos pensar nisso amanhã”. Porém devo admitir que minha decisão de levá-la para meu apartamento não foi tomada apenas por causa disso. Eu também quero Eva do meu lado. Eu preciso estar dentro dela, sentir o seu gosto, aspirar o cheiro cítrico de seus cabelos, sentir o doce toque dos seus lábios nos meus...

Ela pega meu rosto entre as mãos e me agradece. “Mas eu também preciso de você”, confesso baixinho. “Nós precisamos um do outro”. Sorri fracamente. Fico de pé, vou até a cômoda e abro uma das gavetas reservadas para mim para pegar algumas peças de roupas. Enquanto nos vestimos, Eva expõe seus sentimentos em relação à conversa que tivemos no banheiro. Diz que se sente bem melhor, mas reitera que Corinne é um problema para ela, que eu devo superar meu sentimento de culpa e mantê-la à distância. Argumento que Corinne é minha amiga, que está passando por um momento difícil e que seria muito cruel se eu me afastasse agora. “Pense bem, Gideon. Você não é o único que teve relacionamentos no passado, e está estabelecendo um precedente de como lidar com eventuais reaparições. Estou moldando meu pensamento a partir de suas atitudes”. Fecho a cara na hora. Não gosto de ser posto em dúvida e muito menos de ser pressionado. Qual o problema com a confiança hoje em dia? “Você está me ameaçando”. “Prefiro ver como um pedido de concessão. Relacionamentos são vias de mão dupla. Ela tem outros amigos. Pode encontrar um ombro muito mais apropriado para suas crises”. Acho um grande exagero esse ciúme por causa de Corinne. Não vou evitá-la completamente. Ela é minha amiga e é só questão de tempo de convivência para que perceba


256 que não há mais nada entre nós. Farei o possível e o impossível para manter Eva ao meu lado. Com o tempo as coisas podem melhorar e, quem sabe, as duas podem acabar se dando bem. Após recolher tudo o que precisamos, voltamos para a sala. Eva está irada por causa dos rastros de bagunça que a orgia de Cary deixou. Até mesmo respingos de sangue no sofá claro. Ela esbraveja algumas injúrias e tento acalmá-la acariciando suas costas com as pontas dos dedos. Digo que é melhor eles conversarem quando ele estiver sóbrio, costuma dar mais certo assim. Saímos do apartamento e pegamos o elevador. Estamos perto do carro quando lembro que esqueci o celular em cima da cama de Eva. “Merda!” “Que foi?” pergunta ela. “Esqueci uma coisa”. “Eu te dou as chaves e você sobe pra pegar”. Ela começa a remexer a mochila em meus ombros, procurando por sua bolsa. “Não precisa, tenho uma cópia”. Sua cara de surpresa é tão impagável que me abro um sorriso. “Fiz um jogo de chaves pra mim antes de devolver as suas”. “Está falando sério?” pergunta chocada. “Se você tivesse prestado atenção”, beijo seus cabelos, “teria visto que agora você também tem uma cópia das chaves da minha casa”. Volto correndo pelo hall do prédio, saco a chave mestra no bolso e entro em um dos elevadores. Penso em tudo o que vivemos até aqui. Não foi fácil. Nossos sentimentos são fortes demais, profundos demais e nem sempre é possível lidar com isso de forma positiva, como no caso de nosso ciúme um do outro. O meu é motivado pela possessividade, o dela, pela insegurança. Quando passávamos por situações complicadas, recorríamos às técnicas primitivas. Eu me fechava e ela fugia. Sofremos abuso sexual quando éramos menores e tivemos que aprender a lidar com isso. Mas cada um foi marcado e reagiu de formas distintas diante dos traumas do passado. Eu me blindei contra o mundo, criando um campo de força em torno de mim. Eva se rebelou, mas ficou completamente destruída emocionalmente. E aqui estamos nós. Juntos. Sei que teremos muitas barreiras para quebrar e muitos assuntos para resolver. Mas eu lutarei com todas as minhas forças por nós. Agora que finalmente encontrei o amor da minha vida, não estou disposto a perdê-lo. O elevador para no andar de Eva. Entro em seu apartamento e corro para seu quarto. Meu celular está em cima da cama. Olho o visor e vejo que recebi uma mensagem de texto. É de Corinne:


257 *Oi, Gideon. Estou preocupada com você. Você saiu meio transtornado da festa e me deixou sem ao menos se despedir direito. Aconteceu alguma coisa? Por favor, me ligue. Beijos* Suspiro. Vejo que será trabalhoso convencê-la de que somos apenas amigos. Terei muito tempo para isso, mas depois. Nesse momento eu só quero ter meu anjo em meus braços e fazer amor loucamente. Saio do prédio juntamente com uma senhora (arrumada demais para seu próprio bem) e dois poodles enormes muito bem escovados. Eva ainda está de pé, do lado de fora. Parece ter acordado de um transe. “Vamos?”, pergunto abrindo a porta traseira da limusine. Ela abre um sorriso deslumbrante. “Vamos”. Assim que o carro arranca, eu a ponho em meu colo e a abraço forte. “Tivemos uma noite difícil, mas conseguimos superar”. Comento. “Verdade, conseguimos”, diz jogando a cabeça para trás. Ela me oferece seus belos lábios e eu os tomos com os meus avidamente. Dou-lhe um beijo carregado de carinho e desejo. Agarrando minha nuca, ela acaricia meus cabelos com os dedos. “Mal posso esperar a hora de ir pra cama”. Solto um rugido de puro tesão e ataco seu pescoço com beijos e mordidas, trazendo de volta o clima de paz. Não sei até quando irá durar, mas aproveitarei cada segundo...


258

Epílogo Voyeur Do outro lado da rua, escondido na penumbra do pequeno beco entre dois prédios luxuosos, ele vê o casal se encaminhar para a limusine. De repente o homem gesticula, como se lembrasse de algo e volta pela porta de onde saíram, deixando a mulher sozinha na calçada, totalmente entorpecida e alheia ao fato de que está sendo observada. Sua boca começa a salivar só de se lembrar das vezes em que a teve em seus braços, nua, pequena e indefesa. Da forma como se debatia quando ele a imobilizava. E de como se rendia quando gozava em seu membro faminto. Sua vontade é de chegar mais perto, e chega, inclusive, a dar um passo à frente, mas se detém. Não é momento certo. Ele precisa de dinheiro em primeiro lugar. Seu pai cumprira a promessa de esquecê-lo como filho e bloqueou sua herança. Os poucos dólares que lhe restam mal são o bastante para manter-se de forma minimamente decente. Ele tem de conseguir uma quantia que lhe permita sumir no mundo e levar uma vida confortável. E assim que a conseguir, e se estabelecer, irá retornar para buscar sua ninfetinha. Maldita! Por causa dela e de sua mãe sua vida se tornou um inferno. Lembra-se da primeira vez em que a vira. Uma menininha linda, de cabelos loiros cumpridos até a cintura e olhos de uma cor diferente. Seu sorriso matreiro, seu jeitinho meigo, tudo o atraiu. Seu corpo reagiu de tal forma que a vontade de fazer com ela o que os homens fazia com as mulheres nos filmes pornôs que assistia escondido do pai foi maior do que tudo. Não conseguiu resistir. E não poderia, nem queria. Aquela noite, em que os dois estiveram juntos pela primeira vez, nunca sairá de sua memória. FLASHBACK ON Há poucos meses ela mudara com sua mãe para a casa dele. Ele ficou eufórico! Não que fizesse questão de ter uma madrasta. Seu interesse era totalmente voltado para sua agora meia-irmã. O desejo por seu corpo pequenino ardia a ponto de lhe gerar uma dor física. Já não queria mais esperar. Precisava sentila. Mas faria isso sem ninguém por perto. Eles não entenderiam. Seu pai e sua madrasta saíram para um jantar, do qual voltariam tarde da noite. Era a grande chance pela qual ansiava. Esperou pacientemente até o carro sumir de vista e foi para a cozinha. A empregada, como sempre, estava vidrada em algum joguinho idiota de seu celular e os seguranças só ficavam na guarita. Nada poderia ser melhor. Subiu as escadas, verificou todos os cômodos à procura de outros funcionários, mas não encontrou ninguém. Então, se dirigiu ao quarto dela. A porta estava entreaberta. Ela


259 estava distraída fazendo a lição de casa. Ele passou com facilidade pela fresta da porta e fechou à chave, sem fazer nenhum ruído. Andou a passos lentos até ficar bem atrás dela. “Oi Eva”, sussurrou em seu ouvido. A menina deu um pulo da cadeira e deixou o lápis cair no chão. “Ai, Nathan. Que susto você me deu!” disse pondo a mão no peito. “Qual o seu problema?” perguntou brava. “Desculpe, mas eu não pude resistir”, disse com a voz rouca. Eva notou algo de errado com o meio-irmão. Ele era mais alto, magro, porém parecia bem forte. Ela sempre foi baixinha e delicada. Um arrepio passou por sua espinha quando olhou nos olhos dele: parecia que iria devorá-la a qualquer instante. Rapidamente olhou para a porta e viu que estava fechada. Ele se aproximou mais. Eva engoliu em seco. “N-Nathan, o que você quer?” disse num sussurro apavorado. “Ah, irmãzinha, o que eu quero? Uma coisa que eu queria fazer desde que você veio pra cá”. Levou sua mão esquerda ao rosto da menina e acariciou com as costas dos dedos. “Eu não paro de pensar nisso”. Num reflexo ela se afastou abruptamente e se levantou, recuando alguns passos para trás. “Você está me assustando”. Disse num fio de voz. “Não quero assustá-la”, disse ele calmamente. “Apenas quero te mostrar uma coisa que aprendi nuns filmes. Vai ser legal”. E deu um sorriso diabólico. “Eu não quero brincar agora, Nathan. Tenho que terminar a lição de casa e daqui a pouco é hora de dormir. Temos aula amanhã”, por mais que ela tentasse soar normal, o pânico tomava conta de sua voz. Nathan fechou a cara, uma expressão de puro ódio. “Eu não estou te perguntando se você quer brincar! Eu quero fazer essas coisas com você e vou fazer!” Esbravejou. “Pare com isso ou vou falar para a mamãe”. Eva gritou e saiu correndo até a porta. Girou a maçaneta, mas estava trancada. Ele deu dois passos e avançou sobre ela, prensando seu corpo na porta e segurando seus pulsos com violência. “Você não vai a lugar nenhum, Eva. Não tem como escapar. Eu guardei a chave”. “Nathan, por favor...” seus olhos verde-acinzentados se encheram de lágrimas. “Cala a boca!” rugiu. “Você me deixa maluco. Eva. Estou doido para te foder e vou fazer isso hoje. Se contar a alguém eu mato você. Acabo com a sua vida, entendeu?” A menina soluçava. Não estava entendendo nada e a atitude de seu meio-irmão a estava assustando. Os olhos castanhos dele brilhavam de raiva e de uma coisa que ela não sabia o que era. Seu rosto estava tão desfigurado pela carranca monstruosa. Não sabia quem era aquele menino, não o conhecia. Mal sabia Eva que seu inferno estava apenas começando.


260 E o demônio estava bem ali, em pessoa, para lhe mostrar o caminho até lá. FLASHBACK OFF Ele sabe que a culpa de tudo o que estava vivendo era de Eva. E a odeia por isso, ao mesmo tempo em que sentia um tesão absurdo por ela. Quantas foram as noites em que acordou duro e molhado ao sonhar com seu rosto, sua pele, sua bocetinha pequena e apertada... Ele tem que senti-la novamente! Precisa estar dentro dela, sentir seus lábios tocarem a pele aveludada. Sua mão acaricia o membro grosso e grande por baixo da calça, masturbando-se ali mesmo, na rua, concentrando-se nas imagens de Eva nua, em sua cama, indefesa, linda... Gostosa. Nathan está prestes a gozar quando vê o homem se aproximar dela novamente. Seu sangue se aquece. Gideon Cross. Ele tinha sua Eva, o amor dela, os beijos dela, o corpo dela... Seus dentes trincam de raiva. É melhor sair de perto. A raiva poderia fazê-lo por tudo a perder. Andou pelas ruas pensando em sua sorte. Ele esperou por anos uma única chance de alcançá-la. Observava-a de longe, bem como seu colega de apartamento pervertido. Não foi difícil, já que Cary levou boa parte de San Diego para a cama. Sim, ele a perseguiu até mesmo em San Diego, o que foi a razão para suas economias diminuírem drasticamente. Mas Eva vive numa redoma dourada, praticamente inalcançável. Está sempre acompanhada de alguém, exceto no dia em que saiu para caminhar até o Crossfire usando aquela roupa apertada de ginástica, mas ainda era dia, ele não podia se expor (e esse foi o único motivo que o impediu de se aproximar). Ele desce para o túnel do metrô e encosta-se à parede, fechando os olhos. Esteve tão perto! Quase gozou ao vê-la. Agora Eva é uma mulher linda, atraente e comprometida. Sente uma pontada na cabeça ao se lembrar do dia em que viu a foto de Eva e Gideon em um site de fofocas. Seu mundo caiu. Ele não queria os dois juntos. Ela é sua, só sua. Ele foi o seu primeiro, ele a marcou para sempre. Sua menina jamais iria esquecê-lo. Cross pode ser rico, poderoso e influente, mas não será suficiente para afastá-lo. O plano que traçou era simplesmente perfeito: chantagear Stanton e Cross por dinheiro. E não tinha dúvidas de que conseguiria. São dois homens que tem uma reputação impecável junto ao público. Não arriscariam suas carreiras se um escândalo desses explodisse. Principalmente Cross. Teve sorte ao registrar todas as vezes em que fodeu Eva. Finalmente aqueles vídeos e fotos seriam realmente úteis, e não apenas uma forma de fazê-lo se aliviar. Uma vez que conseguir o dinheiro, irá dar um tempo para, então, sequestrar Eva para si e sumir com ela no mundo. O barulho que anuncia a chegada do metrô o desperta de seus pensamentos. Assim que o veículo para, ele entra e se senta em um lugar no fundo. O vagão estava quase vazio. Apenas


261 duas moças com maquiagem muito carregada, usando vestidos minúsculos, provavelmente são prostitutas. E um homem na casa de seus quarenta anos, seu rosto cansado, sua mochila velha e roupas surradas revelam sua origem humilde, um trabalhador digno. Estava quase dormindo. Voltando-se para seus pensamentos, Nathan não pode deixar de pensar em sua menina. Sim, sua menina. Um sorriso maligno surge em seus lábios. “Eva, Eva, Eva... Você não perde por esperar”. FIM DO PRIMEIRO LIVRO


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Agradecimentos Meninas, muito obrigada por tudo! Vocês foram simplesmente incríveis comigo e embarcaram de cabeça na minha ideia maluca. Foi um prazer escrever essa fic, e mesmo havendo as outras continuações, nada se compara à primeira história. 'TM' é minha primogênita, meu xodó. E eu agradeço a todas vocês por me ajudarem a fazer dessa fic o que ela é hoje. Agradeço especialmente à Nathalie Graf Guide, mãe do nosso pequeno rei Arthur e amiga querida. Flor, sem você, essa fic não teria crescido tanto! Suas palavras, seu afinco em defender essa história e amá-la como se fosse sua... Não há palavras para descrever. Às meninas do grupo Desejo & Sedução que me acolheram como uma grande família. Todas lindas, singulares e especiais. Vocês são demais. A vocês que participam do grupo Tammy Kesher Fanfics e às demais leitoras do NYAH. Cada palavra, cada ameaça caso eu não escrevesse a continuação (kkkk, sério, falaram até em sequestro e tortura), cada elogio, foi muito importante. Obrigada pela motivação! Minha gratidão nunca será suficiente. A princípio, Gideon e Eva me pareciam genéricos demais, uma cópia descarada de Ana e Christian, mas não são. Após ler o primeiro livro, e depois o segundo, percebi que não deveria julgar uma história simplesmente por ela se parecer com outra. É preciso ler de mente e coração abertos. É isso o que um leitor apaixonado de verdade faz. Deixar os preconceitos é muito importante no meio literário. A verdade é que o Moreno Perigoso e seu Anjo me ensinaram muito, amadureceram minhas ideias e me deram a oportunidade de sair da minha zona de conforto e me permitiram mostrar minha capacidade. Foi desafiador, mas foi uma experiência maravilhosa. Agora, eu tenho certeza que quero continuar escrevendo. Eu amo isso, eu nasci para isso. Gosto de cantar e compor também, mas nada me impede de fazer as três coisas no futuro, rs. Portanto, tenho que agradecer aos dois personagens também, por me encantarem e me fazerem acreditar ainda mais no meu talento. Eles são complexos, inseguros, problemáticos e traumatizados. Mas sua persistência e coragem vencem tudo isso no fim, provando a todos que duvidavam deles, que o amor tudo vence, tudo pode. E em dias em que estamos cada vez mais desacreditados nesse sentimento, os livros e as grandes histórias nos trazem um pouco de conforto. Não a nada melhor que fugir para um mundo particular quando a vida real está complicada. E eu sei bem disso, porque enfrentei muitos desafios durante a escrita da fic e mesmo agora, nesse minuto. Mas as esperanças sempre se renovam, então temos que nos agarrar à esperança e esperar pelo melhor. Ele chega, ainda que demore.


263 A Série Crossfire é de cunho erótico? Sim, mas não quero me prender a isso. Mostrar o sentimento das pessoas é fundamental, por isso tive a ideia de colocar os pontos de vista de Corinne e Magdalene. Elas também amavam Gideon, cada uma à sua maneira. E Nathan, ainda que um baita monstro doente e pervertido, também tinha que aparecer, afinal ele é o grande responsável pelos traumas na vida de Eva. Poxa! Estupro, gravidez e aborto? É uma barra muito pesada para se carregar. E senti falta de uma explicação mais apurada no livro original, e achei que vocês iriam querer também. Enfim, já falei demais, rs. Espero que TODAS leiam ATÉ O FINAL, porque pus meu coração em cada palavra. Agora é hora de eu e Gideon descansarmos. A gente trabalhou demais nesses últimos três meses kkkk. Mais uma vez, muito obrigada e até setembro com 'Profundamente Minha'! Beijos a todas vocês!


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