Trabalho final indesign

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A revista que mostra o seu cotidiano.

Evolução do design no brasil.

“O neoconcreto, nascido de uma necessidade de exprimir a complexa realidade do homem moderno dentro da linguagem estrutural da nova plástica.”

O que pode ser feito pra mudar essa situação do meio ambiante em que vivemos.

Situação ruim nas Favelas “Vou botar a culpa em quem: na chuva ou no governo?” - Edna, desempregada.”


A exposição “Eletrodomésticos, Origens, História & Design no Brasil”, inaugurada no Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro, nos faz prestar atenção nessas máquinas servidoras que povoam a maioria dos lares brasileiros, A mostra é programa para toda a família. As bisavós ficarão encantadas com o fonógrafo de sua infância, as geladeiras que não gelavam – eram apenas armários bem vedados, nos quais se colocava gelo, trazidos por vendedor. Vão se lembrar das lides de cozinhar no fogão a carvão, nos difíceis anos da Segunda Guerra Mundial. Os avós vão lembrar das primeiras geladeiras elétricas, compradas em seríssima decisão de conselho familiar e aguardadas com festa e exibição aos vizinhos. Vão recordar dos programas da TV Tupi a que assistiam, sentados em poltronas com pés de palito e diante de telas com imagens em preto-e-branco, emolduradas por madeiras de alta qualidade. E também das novelas do rádio, a que suas mães ouviam, diariamente, enquanto bordavam ou cerziam roupas da família diante de enormes aparelhos de madeiras ou já menores, de baquelite. Quem tem mais de 40 anos vai reconhecer a enceradeira, presença obrigatória nas casas brasileiras de classe média para cima, nos anos 1950 e 1960. Seu ruído característico preenchia todos os cômodos, mesmo que fosse uti-


lizada apenas na sala, deixando o assoalho de tacos brilhando para receber as visitas. Mas a exposição permite leituras mais precisas, especialmente para quem estuda história do design. Nos países com forte tradição na área, as mostras históricas se sucedem, reconstruindo visões do passado, recuperando personagens esquecidos, em tentativas de criar linhagens do presente. Elas partem de acervos preexistentes, reorganizando objetos em novas narrativas. O esforço brasileiro é bem maior. Aqui, o garimpo é um verdadeiro suplício, pois não temos centros de memória industriais e os useus mal cumprem uma de suas prerrogativas básicas, a conservação de objetos. Não há instituições preocupadas com a memória recente, especialmente aquela da vida urbana, caracterizada pela industrialização. A pesquisa demonstra um rastreamento cuidadoso, que traz projetos de design brasileiro, como os fogões Dako e Wallig e os rádios da Invictus, assim como os primeiros objetos Arno e Walita. Sem qualquer ufanismo, a mostra revela as cópias de alguns produtos, como o ventilador Picolino, da Walita, “semelhante” ao modelo da Siemens alemã. No entanto, não há nessa constatação uma reprovação moral, mas o reconhecimento de esforços para acompanhar o patamar dos artigos importados. A televisão Philco Curvilínea, de 1969, em que o aparelho de TV é engastado a um painel curvo, que lhe serve de abrigo,

foi projetada e vendida apenas no Brasil – e não deixa de ser interessante essa dualidade formal reto/curvo, plástico/madeira como expressão singular de nossa arquitetura moderna. Nesse mesmo mote, vale a pena observar os objetos reunidos – batedeira le liquidificador Walita e a TV Widevision, com referências explícitas às colunas do Palácio do Alvorada. Os esforços historiográficos dos últimos anos refletem-se na mostra. O reconhecimento das matrizes racionalistas européias (Peter Behrens) tem o mesmo peso das fontes norte-americanas,

que incorporaram o streamlining e várias características do art déco em seus produtos. Ambas comparecem nos eletrodomésticos distribuídos e depois fabricados no Brasil, privilegiando o design como campo da história cultural. Destoando um pouco da expografia contemporânea, que não recomenda a profusão de textos, a mostra abusa de legendas explicativas, adotando postura didática e unívoca da narrativa apresentada. Parece medida acertada para expor objetos tão prosaicos como fogões, ferros de passar roupas e aspira-


“Ou bem a vertical e a horizontal são mesmos os ritmos fundamentais do universo e a obra de Mondrian é a aplicação desse princípio universal ou o princípio é falho e sua obra se revela fundada sobre uma ilusão.” “O neoconcreto, nascido de uma necessidade de exprimir a complexa realidade do homem moderno dentro da linguagem estrutural da nova plástica.” A expressão neoconcreto indica uma tomada de posição em face da arte não-figurativa “geométrica” (neoplasticismo, construtivismo, suprematismo, escola de Ulm) e particularmente em face da arte concreta levada a uma perigosa exacerbação racionalista. Trabalhando no campo da pintura, escultura, gravura e literatura, os artistas que participam dessa I Exposição Neoconcreta encontraram-se, por força de suas experiências, na contingência de rever as posições teóricas adotadas até aqui em face da arte concreta, uma vez que nenhuma delas “compreende” satisfatoriamente as possibilidades expressivas abertas por estas experiências. Nascida com o cubismo, de uma reação à dissolvência impressionista da linguagem pictórica, era natural que a arte dita geométrica se colocasse numa posição diametralmente oposta às facilidades técnicas e alusivas da pintura corrente. As novas conquistas da física e da mecânica, abrindo uma perspectiva ampla para o pensamento objetivo, incentivaram, nos continuadores dessa revolução, a tendência à racionalização cada vez maior dos processos e dos propósitos da pintura. Uma noção mecanicista de construção invadiria a linguagem dos pintores e dos escultores, gerando, por sua vez, reações igualmente extremistas de caráter retrógrado como o realismo mágico ou irracionalista como Dada e o surrealismo. Não resta dúvida, entretanto, que, por trás de suas teorias que consagravam a objetividade da ciência e a precisão de mecânica, os verdadeiros artistas – como é o caso, por exemplo, de Mondrian ou Pevsner – construíram sua obra e, no corpo-a-corpo com a expressão superaram, muitas vezes, os limites impostos pela teoria. Mas a obra desses artistas tem sido até hoje interpretado na base dos princípios teóricos, que essa obra mesma negou. Propomos uma reinterpretação do neoplasticismo, do construtivismo e dos demais movimentos


afins, na base de suas conquistas de expressão e dando prevalência à obra sobre a teoria. Se pretendemos entender a pintura de Mondrian pelas suas teorias, seremos obrigados a escolher entre as duas. Ou bem a profecia de uma total integração de arte na vida cotidiana parece-nos possível – e vemos na obra de Mondrian os primeiros passos nesse sentido – ou essa integração nos parece cada vez mais remota e a sua obra se nos mostra frustrada. Ou bem a vertical e a horizontal são mesmos os ritmos fundamentais do universo e a obra de Mondrian é a aplicação desse princípio universal ou o princípio é falho e sua obra se revela fundada sobre uma ilusão Mas a verdade é que a obra de Mondrian aí está, viva e fecunda, acima dessas contradições teóricas. De nada nos servirá ver em Mondrian e desfrutar da superfície, do plano e da linha, se não atentamos para o novo espaço que essa destruição construiu. O mesmo se pode dizer de Vantangerloo ou de Pevsner. Não importa que equações matemáticas estejam na raiz de uma escultura ou de um quadro de Vantangerloo, desde que só à experiência direta da percepção a obra entrega a “significação” de seus ritmos e de suas cores. Se Pevsner partiu ou não de figuras de geometria descritiva é uma questão sem interesse em face do novo espaço que as suas esculturas fazem nascer e da expressão cósmico-orgânica que, através dele, suas formas revelam. Terá interesse cultural específico determinar as aproximações entre os objetos artísticos e os instrumentos científicos, entre a intuição do artista e o pensamento objetivo do físico e do engenheiro. Mas, do ponto-de-vista estético, a obra começa a interessar precisamente pelo que nela há que transcende essas aproximações exteriores: pelo universo de significações existenciais que ela a um tempo funda e revela. Malevitch, por ter reconhecido o primado da pura sensibilidade na arte, salvou as suas definições teóricas das limitações do racionalismo e do mecanismo, dando à sua pintura uma dimensão transcendente que lhe garante hoje uma notável O neoconcreto, nascido de uma necessidade de exprimir a complexa realidade do homem moderno dentro da linguagem estrutural da nova plástica, nega a validez das atitudes cientificistas e positivistas em arte e repõe o problema da expressão, incorporando as novas dimensões “verbais” criadas pela arte não-figurativa construtiva. O racionalismo rouba à arte toda a autonomia e substitui as qualidades intransferíveis da obra de arte por noções da objetividade científica: assim os conceitos de forma, espaço, tempo, estrutura - que na linguagem das artes estão ligados a uma significação existencial, emotiva, afetiva - são confundidos com a aplicação teórica que deles faz a ciência. Na verdade, em nome de preconceitos que hoje a filosofia denuncia (M. Merleau-Ponty, E. Cassirer, S. Langer) - e que ruem em todos os campos a começar pela biologia moderna, que supero o mecanicismo pavloviano - os concretos-racionalistas ainda vêem o homem como uma máquina entre máquinas e procuram limitar a arte à expressão dessa realidade teórica. Não concebemos a obra de arte nem como “máquina” nem como “objeto”,


mas como um quasi-corpus, isto é, um ser cuja realidade não se esgota nas relações exteriores de seus elementos; um ser que, decomponível em parte pela análise, só se dá plenamente à abordagem direta, fenomenológica. Acreditamos que a obra de arte supera o mecanicismo material sobre o qual repousa, não por alguma virtude extraterrena: supera-o por transcender essas relações mecânicas (que a Gestalt objetiva) e por criar para si uma significação tácita (M. Ponty) que emerge nela pela primeira vez. Se tivéssemos que buscar um símile para a obra de arte não o poderíamos encontrar, portanto, nem na máquina nem no objeto tomados objetivamente, mas, como S. Langer e W.Wleidlé nos organismos vivos. Essa comparação, entretanto, ainda não bastaria pra expressar a realidade específica do organismo estético. Por sua vez, a prosa neoconcreta, abrindo um novo campo para as experiências expressivas, recupera a linguagem como fluxo, superando suas contingências, sintáticas e dando um sentido novo, mais amplo, a certas soluções tidas até aqui equivocadamente como poesia. É assim que, na pintura como na poesia, na prosa como na escultura e na gravura, a arte neoconcreta reafirma a independência da criação artística em face do conhecimento prático (moral, política, indústria, etc.) Os participantes desta I Exposição Neoconcreta não constituem um “grupo”. Não os ligam princípios dogmáticos. A afinidade evidente as pesquisas que realizam em vários campos os aproximou e os reuniu aqui. O compromisso que os prende, prende-os primeiramente cada um à sua experiência, e eles estarão juntos enquanto dure a afinidade profunda que os aproximou.


Favela Sitiada Moradores sofrem com danos causados pela chuva Pessoas convivem em meio aos buracos e ao descaso.

“Vou botar a culpa em quem: na chuva ou no governo?” - Edna, desempregada.” “Se soubesse que essa terra seria só problema, eu não teria colocado o primeiro tijolo” diz Lara, que veio do Maranhão.


Há 20 dias, a desempregada Edna Cândida de Queiroz perdeu a principal fonte de renda. As chuvas das últimas semanas caíram com mais força e junto vieram os problemas. Buracos surgiram na rua sem asfalto em frente à casa dela. Uma das crateras foi aumentando de tamanho até fazer a carroça de Edna virar e quebrar. Desde então, ela perdeu a chance de fazer os bicos que sustentam a família de seis pessoas. “Vou botar a culpa em quem: na chuva ou no governo?”, questiona. Como consolo, ela viu a prefeitura colocar cascalho no buraco. Junto com ela, outras duas mil famílias enfrentam as mesmas dificuldades na favela Super Quadra (SQ) 19, na Cidade Ocidental, município de Goiás, no Entorno de Brasília, localizada a 47 quilômetros da Praça dos Três Poderes. No auge da chuvas, os buracos impedem a entrada de caminhões e ambulâncias na favela. Os moradores são obrigados então a colocar lixo na avenida lateral ao bairro. Muitas vezes, os caminhões não passam a tempo e a chuva arrasta o lixo e o espalha em frente às casas. Assim, ratos, baratas e outros insetos invadem os lares. No quarto do filho, Edna Cândida encontrou uma aranha, daquelas peludas, típicas dos filmes de terror. Na SQ 19, também não há esgoto e, por vezes, o cheiro de fezes das fossas domina o local. Mas a chuva não pode ser considerada a principal causa para tantos males. A Super Quadra 19 – considerada bairro em razão do alto índice demográfico – é o espelho das políticas públicas feitas no Entorno nas últimas décadas. A região tem a pior distribuição de renda do País, segundo levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), feito no ano passado. A maior parte da população da SQ 19 é desempregada e depende de bicos e cestas básicas da prefeitura. E o motivo dos problemas na Cidade Ocidental, com 50 mil habitantes, é o mesmo de toda a região de pobreza que cerca Brasília: distribuição eleitoreira de lotes e crescimento desenfreado.


Antes, a favela era um brejo e ponto de diversão de crianças. No fim da década de 1990, começaram a se espalhar promessas de que a prefeitura iria doar lotes. Foi o suficiente para mais de duas mil famílias ocuparem o local em poucos anos. E os problemas fundiários estão longe de serem resolvidos. O terreno sequer é da prefeitura, até hoje enrolada na promessa da regularização da terra por parte do governo do Distrito Federal. Em novembro do ano passado, o município iniciou o processo de cadastramento dos moradores do bairro. “Não é porque o lote ainda não é nosso que a gente vai ficar aqui largado”, conclui o ajudante de pedreiro Messias Santos da Silva. Os moradores da favela correm o risco de serem desapropriados. O bairro está localizado em uma área de proteção ambiental, em cima de um lençol freático. Além dos problemas típicos das chuvas, em algumas ruas, literalmente, brota água de nascentes. A dona-de-casa Iara Martins é uma das muitas moradoras acostumadas às infiltrações. Anualmente, ela é obrigada a reparar as paredes e refazer a pintura. “Se soubesse que essa terra seria só problema, eu não teria colocado o primeiro tijolo”, diz Iara, que veio do Maranhão. A dona-de-casa conta ter visto até um trator atolar em frente de casa. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê investimentos de 13 milhões de reais na Cidade Ocidental, até 2010. A prioridade será a construção de habitações para moradores de áreas de risco permanente. As obras estão em fase de contratação. No total, serão 1,4 bilhão de reais investidos no Entorno no mesmo período. Não é a primeira vez que o governo federal investe na região. Em 2004, o Ministério das Cidades começou um projeto de urbanização das favelas da Cidade Ocidental, em especial a SQ 19. As ruas serão asfaltadas e um sistema de saneamento básico e drenagem será construído, além de escola e posto policial. As obras, porém, estão paradas há seis meses, segundo os moradores. No local, não há qualquer vestígio de obras em andamento. No Ministério das Cidades, o projeto consta como “em execução” e com 33% concluído. O último acompanhamento feito pelo ministério é de outubro do ano passado, quando foram repassados 300 mil reais à

construtora Coensa pelos serviços prestados. Segundo a assessoria do Ministério das Cidades, a responsabilidade de execução das obras é do município. O prefeito Plínio Araújo, do PSDB, está hospitalizado desde o início do mês, quando sofreu graves complicações em um pós-operatório. A vice-prefeita Sônia de Melo Augusto está no comando de Cidade Ocidental desde a terça-feira 11, mas não retornou os contatos de Carta Capital.


Aquecimento global mata 300 mil pessoas por ano Qual o impacto, medido em números, do aquecimento global sobre os seres humanos? Até aqui, houve muita especulação e chute. Onde havia sombra agora no entanto, há luzes: foi publicado nesta sexta-feira (29) o estudo mais completo e mais claro sobre o tema. A autoria não poderia ser mais qualificada: o Fórum Humanitário Global, uma organização internacional destinada a identificar os principais desafios da humanidade e presidida por Kofi Annan, antigo secretário-geral da ONU. Os números são alarmantes: segundo o relatório, 300 mil pessoas morrem anualmente em decorrência da mudança de clima, vitimadas por uma longa lista de catástrofes que vão de inundações à destruição de colheitas. Em 2030, mantidos os padrões atuais, as mortes chegarão a meio milhão por ano. As perdas econômicas batem em US$ 125 bilhões anualmente. Calcula-se que 325 milhões de pessoas sejam “seriamente afetadas” pelo aquecimento global. Quatro bilhões de pessoas estão “vulneráveis”, afirma ainda o relatório, e 500 milhões enfrentam “extremo risco”. Estes dados podem ser “conservadores”, diz o estudo. Apenas desastres ligados ao clima causaram prejuízos de US$ 230 bilhões nos últimos cinco anos. Pouco? Mesmo que a comunidade internacional seja eficiente e tenaz agora nas ações climáticas, “pelas próximas décadas a sociedade deve estar preparada para mudanças de clima mais fortes e para impactos mais perigosos sobre as pessoas”, de acordo com o relatório. “O aquecimento global já produz intensos danos para os seres humanos, mas é uma crise silenciosa: é uma área de pesquisa negligenciada, uma vez que o debate está focado nos efeitos físicos da mudança de clima a longo prazo.” O estudo, feito com a estimativa corrente de que a temperatura vem-se elevando anualmente 0,74 graus, vem a público poucos meses antes de uma conferência da ONU em Copenhague destinada a discutir medidas em regime de urgência para enfrentar o problema em escala global. “O tempo para agir é agora”, afirma o relatório. “Uma conclusão-chave dos estudos é que a sociedade global deve agir conjuntamente para enfrentar este drama compartilhado. Em Copenhague espera-se que os países ajam de acordo com seu interesse comum, e com uma só voz.” Um grupo de 20 cientistas, economistas e escritores já premiados com o Nobel uniu-se ao apelo do Fórum Humanitário Global em prol de ações


imediatas. “As discussões em Copenhagen podem ser a última chance de evitar uma catástrofe global”, diz o grupo. O relatório não é, todavia, unanimidade entre os estudiosos. O cientista político Roger Pielke Junior, da Universidade do Colorado, especialista em tendências de desastres, classificou o método utilizado no estudo como “um embaraço”, numa reportagem publicada no site do jornal The New York Times. “A mudança climática é um assunto importante que requer uma atenção profunda nossa”, disse Pielke. “Mas o relatório vai prejudicar a causa do combate ao aquecimento por ter tantos furos.” Choque de vaidades na busca da proeminência no combate ao aquecimento? Talvez. O que é indiscutível na essência do estudo – a despeito de discussões de metodologia -- é que não há desafio maior para a humanidade do que a mudança de clima.

Ideias para salvar o planeta: Diante do estrago, surge todo tipo de loucura para remendar o clima da Terra. Simular erupções vulcânicas é só uma delas “É como estar em um carro sem freios, dirigindo no meio da neblina e indo em direção a um precipício.” Foi com essa frase que John Holdren, consultor de ciência de Barack Obama, se referiu à atual situação climática da Terra. A declaração de Holdren foi feita em seu primeiro pronunciamento oficial. Ele disse que a única medida para evitar um colapso climático seria a adoção de medidas tecnológicas de grande impacto, como refletores em órbita para bloquear o sol e diminuir a temperatura do planeta. Nos últimos dois anos, o rápido aumento da temperatura global e suas consequências levaram muitos cientistas, antes contrários à manipulação do clima, a se interessar pelas megaobras – chamadas de geoengenharia – como uma saída rápida o suficiente para evitar desastres ecológicos como o derretimento de parte significativa das calotas polares, enchentes, furacões e secas. Uma pesquisa recente feita pelo jornal britânico The Independent perguntou a 80 cientistas especializados em clima o que eles pensavam sobre geoengenharia. Dois terços afirmaram que apoiam a realização de mais pesquisas na área. A Academia Nacional de Ciência, uma associação americana que reúne alguns dos mais importantes nomes da ciência, vai sediar um debate sobre geoengenharia em junho. Na Inglaterra, o governo cogita a possibilidade de financiar novos estudos. Essa tentativa de reverter danos causados pelo homem ao planeta pode funcionar? Os arquitetos da geoengenharia têm duas estratégias para salvar o mundo. A primeira é tentar bloquear parte dos raios solares. Um dos projetos mais ambiciosos é do cientista Paul Crutzen. Ele ganhou o Nobel de Química em 1995, por estudar como a camada de ozônio é destruída. Agora se inspirou nos vulcões. Em 1991, o Vulcão Monte Pinatubo, nas Filipinas, lançou 10 milhões de toneladas de enxofre na atmosfera terrestre. Os sedimentos criaram uma camada de poeira, que filtrou os raios solares durante dois anos reduzindo em 0,6 grau célsius a temperatura média da Terra. Inspirado por esse efeito, Crutzen defende lançar 1 milhão de toneladas de enxofre na atmosfera, para criar a primeira tela de proteção à radiação solar feita pelo homem. A tática poderia até


resfriar o planeta, mas causaria outros danos, como problemas respiratórios nas pessoas, chuva ácida e, ironicamente, destruição da camada de ozônio. Outro efeito colateral peculiar seria afetar o crescimento das plantas e diminuir a produtividade da energia solar, uma das melhores alternativas de energia renovável e não poluente. Outras possibilidades para bloquear o Sol parecem saídas de um filme de ficção científica. A mais controversa é colocar milhares de espelhos na atmosfera. “Alguns dos projetos que pretendem refletir o Sol são eficazes. O risco é que, se a iniciativa for abandonada, a temperatura pode subir bruscamente”, afirma Nem Vaughan, pesquisadora inglesa que conduziu um dos primeiros estudos comparativos sobre as diferentes técnicas de geoengenharia, ao lado do cientista Tim Lenton, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido. Nem Vaughan acredita mais em outra estratégia de geoengenharia que vise tirar da atmosfera parte do gás carbônico responsável pelo aquecimento global. Uma das opções mais seguras é investir em grandes projetos de reflorestamento. Quando crescem, as árvores retiram carbono do ar. Mas não há área suficiente para limpar a atmosfera só com florestas plantadas. Uma opção para isso foi sugerida pela empresa californiana Planktos, em 2007. Ela iria despejar ferro no mar das Ilhas Galápagos. A ideia, chamada de fertilização do mar, era incentivar a proliferação de algas, que absorveriam uma grande quantidade de gás carbônico. Depois de mortas, elas afundariam, enterrando o carbono no leito marinho. A iniciativa gerou protestos de ambientalistas, que temiam a destruição de ecossistemas inteiros com a proliferação das algas. Neste ano, estudos comprovaram que a fertilização dos mares não combateria o aquecimento global, pois a quantidade de carbono retirada pelas algas seria insuficiente. Se tivesse sido executada em grande escala, teria danificado a fauna e a flora marinhas em vão.


Diagramação: Tamires de Souza


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