Literatura brasileira dos anos 90 versão final

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A GERAÇÃO 90: A LITERATURA BRASILEIRA NA VIRADA DO SÉCULO “ A década perdida da literatura brasileira”

ANA GABRIELA DOS SANTOS NATIELLE LOPES TANIA GRIEBELER


LITERATURA BRASILEIRA DOS ANOS 90 A Literatura Brasileira Contemporânea engloba as produções do final do século XX e da primeira metade do século XXI sendo marcada por uma multiplicidade de tendências. Ela reúne um conjunto de caraterísticas de diversas escolas literárias anteriores, revelando assim, uma mistura de tendências que irão inovar a poesia e a prosa (contos, crônicas, romances, novelas, etc.) do período. O começo dos anos 1990, marcou a década de transição de um país assolado por crises institucionais, o presidente Fernando Collor, na iminência de sofrer um impeachment, renuncia ao cargo em 1992 e econômica (hiperinflação, confisco), para um país democrático, com uma economia estável,

Características As principais características da literatura contemporânea são:  Mistura de tendências estéticas (ecletismo)  União da arte erudita e da arte popular  Prosa histórica, social e urbana  Poesia intimista, visual e marginal  Temas cotidianos e regionalistas  Engajamento social e literatura marginal  Experimentalismo formal  Técnicas inovadoras (recursos gráficos, montagens, colagens, etc.).  Formas reduzidas (minicontos, minicrônicas, etc.)  Intertextualidade e metalinguagem

diversificada e dinâmica. O mercado editorial, em crise, lança o olhar para autores nacionais, que voltam a atrair, ainda que timidamente, a simpatia do público. O pesquisador Ruffato (2013) aponta que a publicação da antologia Geração 90 – Manuscritos de computador, organizada por Nelson de Oliveira, tornou-se um marco não só do lançamento de uma jovem geração de escritores, mas também, principalmente, de uma nova postura dos autores em relação ao mercado editorial. Com isso, acentua-se uma tendência que vinha da década de 1970, de ausência de movimentos, correntes ou filiações estéticas. Para Flora , “a última década poderá caracterizar-se por uma tripla condição:

crise de escala, tensão enunciativa, geminação entre económico e cultural”. Neste sentido, afirma-se que, ainda quanto às características da literatura brasileira desta época: Temos, portanto, na literatura dos anos 1990 e 2000, essas duas vertentes herdadas de décadas anteriores, que se fortaleceram e passaram a caracterizar a literatura brasileira contemporânea: a literatura urbana, fortemente ambientada, realista e, geralmente, a explorar o tema da violência, e a literatura do não-lugar de Noll e Carvalho, por exemplo, prestigiada também em outras partes do mundo, onde, segundo Ítalo Moriconi (2004), também se verifica o personagem deambulante, em busca da verdade, ou de si mesmo.

40)

(PUC RIO, p.


A violência foi um tema presente entre os autores dos anos 90, de forma que também se pode afirmar que “o grupo da dita “Geração 90” também recebe críticas por seu compromisso excessivo com a realidade. ” (PUC RIO, p. 42). Nisto, o gênero romance policial ganha força, pois aborda a vida urbana e a violência. No que se trata da corrente literária da geração 90, Beatriz Resende (2008, p. 23) assinala que Nesta palavra de retórica a que o termo “geração” se viu reduzido incluem-se também sobreviventes, aqueles que colocaram a literatura em sintonia com os tempos pós-modernos que se anunciavam, e apresentaram uma outra dicção com a emergência de novas subjetividades, da tensão entre local e global, da desterritorialização, da ruptura com os cânones ordenados vigentes, da absorção de eventuais recursos midiáticos na construção do texto, e, sobretudo da ausência de uma preocupação em garantir as barreiras que iam sendo rompidas entre a alta cultura e a cultura de massa.

Resende (2008, p.43) ainda acrescenta que “ por sua estrutura, seu realismo e seus temas, violência e sexo entre eles, essa produção literária urbana das últimas décadas, de um modo geral, serviu muito bem à aliança entre literatura e mídia eletrônica”.


PRINCIPAIS AUTORES Diferente dos escritores da década de 70, que escreviam seus contos em máquinas de escrever, os escritores da geração de 90 produziam literatura em computadores e estavam antenados na globalização. A importância dos autores da década de 90, foi crescendo pois ao invés de se preocuparem com a ambientação como dos anos, buscavam a desterriolização da narrativa e criaram cenários onde uma rua pode ser qualquer rua. Algumas tendências se tornaram visíveis como o humor, o esvaziamento psicológico das histórias, a indecidibilidade entre o vivido e o inventado e o impulso pela reinvenção da capacidade de encontrar novos jeitos de escrever uma narrativa.

Marçal Aquino: A prosa de Marçal Aquino é caracterizada pela intensa relação com a realidade, os traços imediatos transpõem para a literatura: por meio de linguagem bastante enxuta e realista, os modos de vida nas grandes cidades do país, sobretudo do "submundo".

Alguns autores: Fernando Bonassi: O surgimento de Fernando Bonassi em 1989, com o livro de contos “ O amor em chamas”, revelaria um autor com interesses bem variados, mas preocupado em retratar a vida dos moradores do subúrbio, os traumas decorrentes da ditadura e os excluídos da sociedade.

Nelson de Oliveira: A publicação da antologia “ Geração 90 – Manuscritos de computador’, se torna um marco da nova postura dos autores em relação ao mercado editorial.

Rubens Figueiredo: Escreve desde 1986 e consolidou sua carreira primeiro


como tradutor, principalmente dos autores russos clássicos. Foi somente em 2011 que chegou ao grande público. Seu oitavo livro, Passageiro do Fim do Dia (Cia das Letras), foi o romance brasileiro mais premiado do ano, levando prêmios como o São Paulo de Literatura e Portugal Telecom.

Luiz Ruffato iniciou sua carreira literária apenas um ano antes da antologia de Oliveira. Foi com o romance Eles Eram Muitos Cavalos (2001) , fazendo barulho no meio literário e cavando seu espaço entre os grandes. A obra foi contemplada pela APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte e levou o prêmio Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional. Ruffato gosta de falar da experiência das grandes cidades.

Marcelino Freire: encontra seu território de experimentações no conto. Escreve Angu de Sangue (2000), BaléRalé (2003) e, em 2005, lançou Os Contos Negreiros, vencedor do Prêmio Jabuti 2006. É considerado como escritor e agitador cultural.

Marcelo Mirisola: com a escrita ácida, o autor vem ‘tirando sarro’ das panelinhas do mundo literário. É conhecido pelo estilo inovador e ousado, é autor, entre outros, de Proibidão (Editora Demônio Negro), O Herói Devolvido, Bangalô, etc.


Apesar da fama, ele ainda mantém a aura de independente, preferindo trabalhar com pequenas editoras. Seu último livro foi Silas (Jovens Escribas) de 2011, reunindo contos.

Cadão Volpato: É ex-integrante da banda Fellini, ícone dos anos 80, tem cinco livros publicados e lançou um disco independente. Atuou durante anos como jornalista especializado em cultura, escrevendo para grandes veículos. Hoje, é apresentador do programa “Metrópolis”, na TV Cultura. Em 2011, estreou na literatura infantil com o livro de poesias Meu Filho, Meu Besouro.

Sérgio Fantini: começa na vida literária vendendo livros de poesias mimeografadas nas ruas e bares de Belo Horizonte. O escritor de 50 anos continua a viver na cidade, onde publicou sete livros.

Daniel Galera: é um autor gaúcho jovem que possui cinco livros em sua biografia, sendo 4 romances e um livro de contos. Em 1990, participou de um coletivo de escritores que produzia um fanzine na internet chamado Cardoso Online. Mas foi com seu último romance, Barba ensopada de sangue, que o escritor foi alçado à condição de grande promessa da literatura brasileira.

Diferentemente dos escritores da década de 70 que escreviam em máquinas de escrever, os escritores da geração 90


produziam literatura em computadores antenados na globalização.

psicológico, indecibilidade e a reinvenção de novos jeitos de escrever narrativa. Segundo Goulart (2013, p.01) “essa característica mais realista dos escritores brasileiros atuais, deve-se, talvez, a certo esgotamento da linguagem. As vanguardas acabaram e o tempo de experimentação talvez tenha ficado no século XX. ”

Algumas tendências se tornaram visíveis: o humor, esvaziamento

Uma pesquisa coordenada por Regina Dalcastagnè, da Universidade de Brasília (UnB), traçou o perfil dos escritores e dos personagens da literatura brasileira contemporânea. Os primeiros resultados foram divulgados em publicações acadêmicas, em 2005, com repercussão na imprensa. O debate foi renovado com o lançamento, em 2012, do livro Literatura Brasileira Contemporânea — Um Território Contestado (Editora Horizonte/Editora UERJ, 208 páginas, R$ 45), que disponibiliza os números da pesquisa. Foram lidos 258 romances, publicados de 1990 a 2004, pelas editoras Companhia das Letras, Record e Rocco. A pesquisa revelou que os autores, na maioria, são brancos (93,9%), homens (72,7%), moram no Rio de Janeiro e em São Paulo (47,3% e 21,2%, respectivamente). O perfil médio dos escritores se assemelha à representação dos personagens nos romances brasileiros contemporâneos. Eles são,

em sua maioria, homens (62,1%) e heterossexuais (81%). As principais ocupações dos personagens masculinos são escritor (8,5%), bandido ou contraventor (7%) e artista (6,3%). As personagens femininas são donas de casa (25,1%), artistas (10,2%) ou não têm ocupação (9,6%). A assimetria prossegue no que diz respeito à cor. Os personagens negros são 7,9% e têm pouca voz: são apenas 5,8% dos protagonistas e 2,7% dos narradores. Os brancos são, em geral, donas de casa (9,8%), artistas (8,5%) ou escritores (6,9%). Os negros são bandidos ou contraventores (20,4%), empregados (as) domésticos (as) (12,2%) ou escravos (9,2%). Enquanto a maioria dos brancos morre, na ficção, por acidente ou doença (60,7%), os negros morrem mais por assassinato (61,1%). Para finalizar, Dalcastagne (2013, p.02), acrescenta que “ essa literatura atual talvez seja mais careta nesse sentido,


pois é uma prosa com linguagem mais certinha, com começo, meio e fim. Inclusive os livros estão cada vez mais finos, os romances estão muito próximos de novelas”.


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“Inconscientemente, parecia querer buscar em autores, filmes e músicas, algum tipo de consolo. Como se alguém precisasse chegar bem perto do sofá, onde estava, colocar um das mãos em seu ombro e dizer que aquilo era normal. Que acontecia também com outras pessoas. E que iria passar.” Caio Fernando Abreu


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