Belle Époque: A Influência Francesa No Mercado Editorial Brasileiro

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Belle Époque: A Influência Francesa No Mercado Editorial Brasileiro TATHIANA OLIVEIRA DE ANDRADE PABLO GUIMARÃES DE ARAÚJO


O Brasil (...) já possuía fortes laços culturais com a

França; livros franceses já eram importados em volume razoável e uma boa parte do comércio de livros existente estava nas mãos de franceses.

(Laurence Hallewell)

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Persistimos franceses, pelo espírito e, mais do que

nunca, a diminuir por esnobismo tudo que seja nosso. (...) Bom, só o que vem de fora. E ótimo, só o que vem da França.

(Luiz Edmundo) BELLE ÉPOQUE: A INFLUÊNCIA FRANCESA NO MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO

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Início das relações franco-brasileiras  1551 - Gravura que ilustra as festas organizadas para celebrar Henrique II e sua corte, composta de tupinambás e marinheiros, impressa na França;

 A França, insatisfeita com o Tratado de Tordesilhas, que dividiu o continente americano entre Portugal e Espanha, começou a disputar territórios brasileiros com Portugal.

 1555 - França Antártica (atual capital do Rio de Janeiro)  1612 - França Equinocial (atual cidade São Luís)  1624 - Guiana Francesa

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Início das relações franco-brasileiras Obras sobre a França Antártica

1557 - Les singularités de la France Antarctique

1578 - Histoire d’un voyage faict en la terre du Brésil

(André Thevet)

(Jean de Léry)

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Início das relações franco-brasileiras Obras sobre a França Equinocial

L'Histoire de la Mission des Pères Capucins en l'Isle de Maragnan et terres circonvoisines

Suite de l'Histoire des choses mémorables advenues en Maragnan, és années 1613 & 1614

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Cientistas franceses no Brasil  Pesquisas

de

cartografia,

geografia,

astronomia,

botânica e outras...  Charles-Henri de La Condamine deixou descrições de suas viagens e pesquisas, com isso, surgiram vários relatos impressos a respeito da natureza, da fauna, dos costumes

e da cultura, que ajudaram a construir o imaginário sobre o Brasil na França.

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Princípios revolucionários franceses  França:

centro

do

grande

movimento

cultural,

o

Iluminismo, do qual originou-se a Encyclopédie editada pelos grandes filósofos Denis Diderot e Jean le Rond

d'Alembert,

com

contribuições

do

citado

La

Condamine.

 Considerada (por Italo Calvino) um sumário das ideias iluministas e um “círculo”

que pretendia conter todo o

conhecimento humano.

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Brasil e as censuras da metrópole  Segundo a pesquisadora Márcia Abreu, em seu livro Os caminhos dos livros:

Entre 1769 e 1826 a entrada de livros na colônia era regulada pelas atividades de organismos censores, aos quais competia conceder licença para o envio de livros de Portugal para a colônia. Sob o

nome de “Catálogo para exame dos livros para saírem do reino com destino

ao Brasil”, guardavam-se, literalmente, milhares

de

pedidos de autorização para o envio de material impresso para o Brasil. (ABREU, 2003, p. 13-14)

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Brasil e as censuras da metrópole  A antropóloga Alessandra El Far, em seu livro O livro e a leitura no Brasil, corrobora afirmando que

“a metrópole portuguesa [...] proibiu expressamente qualquer tipo de reprodução impressa em todo o território nacional,

por

temer

uma

possível propagação de ideias políticas

progressistas e revolucionárias” (EL FAR, 2006, p. 11).

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Revolução Francesa  Napoleão Bonaparte invade Portugal;  Em 1807, a família real decide fugir para o Brasil;  Em 1808, na Bahia, Dom João VI, príncipe regente de Portugal,

abriu os principais portos do Brasil visando ao comércio com os demais continentes.  A cidade do Rio de

Janeiro foi a escolhida para sediar as

administrações tanto da metrópole quanto da colônia.  Mais de sessenta mil exemplares da biblioteca real vêm para a nação colonizada, compondo

o acervo da

que hoje é denominada

Biblioteca Nacional.

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Família real no Brasil  Para Alessandra El Far:

A pacata população carioca, concentrada nos arredores do

morro do Castelo e em mais quatro freguesias vizinhas, ganhava de uma hora para outra o status de corte imperial. Com o propósito de criar um ambiente aristocrático nos trópicos, o governo

sobrados

português,

num

movimento

contínuo,

transformou

em moradias reais, construiu praças, celebrou festas,

abriu o comércio nos portos, criou bancos e financiou projetos artísticos. (EL FAR, 2006, p. 15)

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Livrarias no Brasil  Segundo Laurence Hallewell, em O livro no Brasil:  Havia poucas livrarias no Brasil, sendo as principais: a de Paul Martin (filho do francês homônimo) e a de Manuel Jorge

da Silva.  Após oito anos, porém, o país contava com doze livrarias brasileiras.  A livraria de Paul Martin comercializou o jornal Gazeta do Rio de Janeiro e era abastecida com romances impressos na Imprensa Régia.

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Cultura impressa  Por volta de1814, houve um desenvolvimento de uma grande indústria editorial em Língua Portuguesa em Paris, de lá vinham

a

maioria das obras que ocupavam as prateleiras das livrarias brasileiras (até 1930, essa indústria serviu como gráfica para o Brasil).  A cultura impressa brasileira começa a se desenvolver e a atrair a atenção de livreiros e tipógrafos estrangeiros.  Em 1821, um ano antes da

independência

do Brasil,

surgiram

tipografias particulares, tais como a Nova Officina Typographica e a Typographia de Moreira e Garcez.

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Missão Artística Francesa  Lliderada pelo professor Joachim Lebreton, com contribuições:

 Historiográficas, de Ferdinand Denis,  Botânicas, de Auguste Saint-Hilaire e  Imagéticas, de Hercule Florence.

Viajante, historiador, bibliotecário e escritor; influência expoente na Literatura Brasileira, escreveu o Resumo da História Literária no Brasil, publicado em 1825, em Paris, principalmente, para apresentar aspectos literários do Brasil aos franceses.

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Edição  Em 1824, o experiente editor Pierre René Constant Plancher de

la

Noé

encontrou

no

Brasil

um

grande

mercado

consumidor. “A Plancher cabe o critério de haver publicado, em 1826, a primeira novela brasileira, Statira e Zoroastes, de Lucas José de Alvarenga” (HALLEWELL, 2012, p. 152).

 O Jornal do Commercio era mantido por ele.  Plancher utilizava uma série de estratégias publicitárias e isso o tornou um editor influente.

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Os irmãos Garnier  Desde

1828,

mantinham

os

uma

irmãos

Auguste

e

livraria lucrativa em Paris

Hippolyte

Garnier

chamada Garnier

Frères.  Em 1844, o irmão mais novo,

Baptiste-Louis, graças ao que

aprendeu com seus irmãos, veio ao Brasil para dar continuidade aos

negócios

de

sua

família,

trazendo

consigo

algumas

novidades, como o formato do livro francês (que perdurou por muitos

anos),

os

preços

de

capa

e, principalmente,

a

exibição dos livros em vitrines.  Os três irmãos permaneceram em sociedade. BELLE ÉPOQUE: A INFLUÊNCIA FRANCESA NO MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO

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Os irmãos Garnier  Baptiste-Louis

foi

editor

de

grandes

escritores

brasileiros,

tornando-se, então, a principal casa editorial brasileira.  Publicou diversos textos para a instrução pública;  Incentivou autores iniciantes e adquiriu os direitos de edição de seus romances;

 Além disso, publicou

poesias, livros científicos e escolares,

desenvolveu o trabalho de traduções e foi fortalecendo o mercado editorial no Brasil.

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Os irmãos Garnier  Um “passeio” pelos catálogos da Editora Garnier, segundo a pesquisadora Eliana de Freitas Dutra, permite

traçar

alguns

pontos culturais brasileiros da segunda metade do século XIX.

 A partir de 1852, Baptiste-Louis tornou-se o proprietário da B. L. Garnier, sendo o primeiro a distinguir as atividades de impressão e edição.

 Sua livraria/editora fez-se tão notável que sua porta foi denominada “sublime” pelo jornalista João Luso (pseudônimo de Armando Erse de Figueiredo), em 1908.

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Os irmãos Garnier  Baptiste-Louis mantinha, também no Brasil, uma tipografia chamada Franco-americana, na qual os equipamentos e os tipógrafos eram franceses.

 Garnier faleceu em 1893 e seus negócios voltaram para as mãos de seu irmão François-Hippolyte, marcando o declínio de seu comércio.

Laemmert

assumiu,

então, seu lugar de editora

proeminente.

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Belle Époque  Ao final do século XIX e início do século XX, tanto o continente europeu quanto o Brasil viveram uma eclosão cultural.  Nesse período, os brasileiros mais que nunca usufruíram das

novidades francesas para reestruturar a cultura brasileira, na então denominada Belle Époque Tropical.  Paris consagra-se como um centro cultural mundial, inspirando

vários outros países por meio de seus balés, boulevards, cafésconcertos, livrarias, operetas e teatros.  Em 1897, foi criada a Academia Brasileira de Letras (ABL), sob os moldes franceses. BELLE ÉPOQUE: A INFLUÊNCIA FRANCESA NO MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO

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Belle Époque

Revolução Industrial

Imperialismo (neocolonialismo)

I Guerra Mundial

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Belle Époque  Enfim, a Belle Époque editorial brasileira teve como protagonista Baptiste-Louis Garnier, editor francês essencial para as edições no Brasil.

 Ao

pesquisar

de

forma

mais

aprofundada

todos

esses

influxos supracitados, a conclusão a que se chega é que o Brasil tem muito da França em sua formação, embora tenha sido

colonizado por Portugal.  Esse campo de pesquisa é muito fértil e há muito o que se pontuar ainda!

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Referências  ABREU, Márcia. O caminho dos livros. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2003.  ANDREA DAHER. França Equinocial. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/francebr/equinocial.htm>. Acesso em 08 de julho de 2014.  CALVINO, Italo. Il libro, i libri. In: _____. Mondo scritto e mondo non scritto. Milano: Mondadori, 2002. p. 126-141. Tradução de Eclair Antônio Almeida Filho  DUTRA, Eliana de Freitas. Leitores de além-mar: a Editora Garnier e sua aventura editorial no Brasil. In: _____. BRAGANÇA, Aníbal; ABREU, Márcia (orgs.). Impresso no Brasil: dois séculos de livros brasileiros. São Paulo: Editora Unesp, 2010, p. 67-87.  EL FAR, Alessandra. O livro e a leitura no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

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Referências  HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: Sua História. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.  ILDA MENDES DOS SANTOS. França Antártica. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/francebr/antartica.htm>. Acesso em 08 de julho de 2014.  ISMÊNIA MARTINS. A invasão napoleônica. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/francebr/napoleao.htm>. Acesso em 08 de julho de 2014.  LORELAI KURY. Os relatos de viagem. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/francebr/relatos_viagem.htm>. Acesso em 08 de julho de 2014. LUSO, João. A Sublime Porta. In: _____. Livro: Revista do Núcleo de Estudos do Livro e

da Edição. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011. Anual. ISSN: 2179-801X. BELLE ÉPOQUE: A INFLUÊNCIA FRANCESA NO MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO

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Referências  MICHEL RIAUDEL. A Missão Artística. Jean-Baptiste Debret. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/francebr/missao_artistica.htm>. Acesso em 08 de julho de 2014.  MICHEL RIAUDEL. Ferdinand Denis. Disponível em:

<http://bndigital.bn.br/francebr/ferdinand_denis_port.htm>. Acesso em 08 de julho de 2014.  MUNIZ SODRÉ. Apresentação. Disponível em:

<http://bndigital.bn.br/francebr/apresentacao.htm>. Acesso em 08 de julho de 2014.  PAULO MIGUEL FONSECA. As ideias de revolução. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/francebr/ideias.htm>. Acesso em 08 de julho de 2014.

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Referências RODRIGUES, J. P. C. S. In: _____. BRAGANÇA, Aníbal; ABREU, Márcia (orgs.). Impresso no Brasil: dois séculos de livros brasileiros. São Paulo: Editora Unesp, 2010, p. 535-551. TÂNIA BESSONE. Livros e edições: Garnier. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/francebr/garnier.htm>. Acesso em 08 de julho de 201

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OBRIGADA! TATHIANA OLIVEIRA DE ANDRADE: TATHI.OLIVEIRA92@GMAIL.COM


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