Capítulo 1 Acabaram-se as férias de verão. Não vejo a hora de chegar segunda-feira e começar a pensar no show de talentos da escola. Meu entusiasmo é tão grande que acho que nem vou conseguir dormir esta noite. Imagino quando chegar amanhã na escola e vir a lista de inscrição do Show de Talentos. O que me faz lembrar que preciso arrumar alguém pra tocar violão pra mim, preciso entrevistar algumas pessoas. Algumas horas depois... – Filha você não vai vir Jantar? – Já vou mamãe, estou terminando de arrumar minhas coisas pra amanhã – respondi logo. – Venha rápido, precisamos conversar – disse ela em seguida. Depois que terminei desci as escadas – que não eram muitas – e me deparei com meu pai. Ele estava sorrindo com uma carta na mão. – Oi Julia, como foi seu dia? – perguntou ele. – Foi muito bom papai, e o seu? – falei. – Foi bem, mas não quero te encher com o que aconteceu em meu trabalho – respondeu – Amor pode vir até aqui? – Disse meu pai chamando minha mãe. – Claro! Já estou indo – respondeu ela. – Ta bom, podem abrir o jogo. O que vocês têm pra me falar? – Perguntei ansiosa. Perguntando-me qual seria a surpresa que havia naquela carta.
– Bom Julia, eu e sua mãe a algum tempo mandamos um pedido de matrícula pra faculdade de Medicina aqui da cidade, e eles já nos mandaram a resposta. – Eu agradeço, mas pai eu já disse que não quero fazer faculdade e que meu sonho é viver de música. – Mas Julia você ainda é nova, tem muito tempo pra pensar em música, pense agora no seu futuro – disse minha mãe. – Não adianta, meu futuro é cantando, queiram vocês ou não! – Respondi com um pouco mais de raiva. – VOCÊ AINDA É MENOR DE IDADE E ENQUANTO VIVER DE BAIXO DO MEU TETO TEM QUE ME OBEDECER – Gritou meu pai com uma raiva que nunca havia visto antes. – Calma Lucio, não é bem assim também – disse minha mãe com um olhar de repreensão. – Deixa mamãe, daqui a três meses eu completo a maioridade, vou deixar de ser um problema na vida do meu pai e vou poder fazer o que quiser - respondi com muita raiva olhando direto nos olhos dele, que parecia arrependido do que disse. – Julia me desculpa, não foi isso que eu quis dizer - disse em resposta. – Não pai? E o que foi então? É sempre assim, você quer que tudo seja do seu jeito e o que a gente quer é sempre inútil pro senhor – respondi com lágrimas nos olhos, com dor em pensar que nunca teria o apoio de meu pai. – Mas Julia eu só quero o seu bem - Respondeu vindo em minha direção pra me abraçar, mas recuei. – Quer mesmo papai? Então me apóie no que eu gosto pelo menos uma vez – Disse dessa vez aos prantos correndo pro meu quarto.
Meu pai tentou vir atrás de mim, mas minha mãe o impediu e mandou que me deixasse sozinha.
No dia seguinte acordei cedo, me arrumei e desci pra tomar café. Chegando a cozinha vi meu pai e minha mãe em um silêncio perturbador e resolvi quebrar o gelo. – Bom dia! Pai, mãe – disse. – Bom dia! - responderam perfeitamente juntos. Logo em seguida meu pai falou. – Me desculpa por ontem filha, eu entendo que você tenha um sonho e queira realizar. Mas e se não der certo, qual será o seu futuro? - disse e fez uma pequena pausa pra ver se teria minha resposta. Mas não respondi, fiquei quieta, pois não queria mais confusão e ele continuou. – Nossa família tem uma geração de médicos, que vem desde nossos bisavôs. E mais, toma como exemplo sua prima Laura, que agora é uma grande cirurgiã. Isso me dava ódio, toda vez ele tinha de me mandar tomar como exemplo essa minha prima. Mesmo assim fiquei sem responder, terminei meu café, peguei minha mochila e o celular, coloquei os fones de ouvido, me despedi deles e fui para a escola. No caminho até a escola, comecei a pensar e ver que meu pai em parte tinha razão. Mas isso era meu cérebro, pois meu coração queria que eu continuasse com a música.
Chegando a escola podia ver minha melhor amiga, a Camila, me esperando no portão, sempre com um sorriso no rosto, cheguei até ela que já foi me perguntando. – Como Foram as férias? – Boas, na medida do possível. – Xiii, o que aconteceu? Me conta. Contei a ela sobre minha briga com meu pai e ela me respondeu. – Você tem que seguir seu coração. Você é uma belíssima cantora e saiba que sua música pode salvar muito mais gente do que se você fosse médica. Aquilo me confortou, a Camila sabia sempre como levantar o meu astral, sem dúvidas ela tinha esse dom. Entramos pelo corredor e mesmo de longe eu pude ver que já estavam abertas as inscrições para o show de talentos. Corri até o pôster e peguei um formulário pra fazer a inscrição. Foi quando lembrei que precisava de alguém que tocasse violão pra mim. Na hora a Camila disse. – Toda quarta e quinta-feira nós temos uma hora livre, que tal anunciar pela escola sobre a audição pra você arrumar alguém pra tocar violão pra você?! – Ótima idéia Camila, I love you - falei e dei um super beijo em seu rosto.
Camila me ajudou a anunciar o teste, e na quarta-feira já comecei a ouvir os primeiros candidatos na sala de música, cedida gentilmente pelo professor Marcio.
Na quarta não apareceu ninguém que me agradasse, depositei minha esperança na quinta-feira. Na quinta ouvi muitos candidatos, mas nenhum me agradava. Quando já estava desistindo, entrou na sala um garoto alto, branco, um tanto forte, de olhos verdes e cabelos escuros. Fiquei em choque, pois ele era lindo, do tipo que não se importa muito com música, fiquei tão sem jeito que até me esqueci que era uma audição e a Camila vendo que eu estava sem condições, disse: – Qual seu nome? – Rodrigo. – Você vai só tocar ou vai cantar também? – Vou fazer os dois. Posso? – Pode sim. Cutuquei a Camila, a agradeci por falar com ele, e ela sorriu. Ele cantou e tocou uma versão Country da Música Home do Michael Bublé e logo percebi que ele era o cara. Quando ele terminou eu falei: – Parabéns, você toca e canta muito bem. Quase não conseguia falar de tão maravilhoso que era o olhar dele. – Obrigado – ele respondeu. – Então, você aceita cantar comigo no Show de Talentos? – Claro que sim – respondeu.
Capítulo 2 Com tudo certo e ensaiando bastante para o Show de Talentos, comecei a pensar em como seria a vida do Rodrigo. Eu sempre o via na escola, – sempre sozinho – e confesso que não achava nada de interessante nele, confesso também que me passava pela cabeça o porquê de tanto mistério, já que tentei de várias formas saber um pouco mais sobre sua vida durante aquela primeira semana de ensaios. Mas aquilo foi frustrante, não consegui nada. Antes de ir pra escola na manhã seguinte, minha mãe me chamou e disse: – Filha, lembre-se que hoje depois da escola tem uns exames de rotina pra você fazer. Eu odiava aqueles exames, ficava o dia inteiro em uma clínica fazendo uma bateria de exames, que para mim parecia inútil, pois me sentia muito bem, mas respondi. – Tá bem mamãe. Então isso queria dizer que hoje não teria ensaio, e indo pra escola pensava pra que dia iria remarcar o ensaio. – JULIA. Ouvi uma voz me chamando, olhei para trás e era a Mariah, vestida parecendo que iria pra uma festa mega importante. – Oi ... Mariah – falei. – Fiquei sabendo que você vai participar do Show de Talentos – comentou em um tom irônico. – Vou sim – respondi secamente.
– E seus pais deixaram? Porque pelo que sei, eles não gostam que você cante – disse com um olhar de soberania, que eu achava muito brega. – Claro, eles não gostam, mas eu amo e é isso que importa – disse com determinação. Ela virou as costas e foi embora. Mariah é do tipo de garota mimada que queria sempre ganhar de tudo e de todos, não importa se era no xadrez, na música, ou qualquer outra coisa, o que ela pudesse fazer pra se beneficiar ela fazia. Chegando ao corredor da escola vi a Camila do mesmo jeito de sempre, sorrindo como se estivesse sempre ouvindo uma boa piada. – Oi Julinha, como está? – Estou bem Cáh... E você? – Estou ótima. – disse sorrindo. E continuou. – Hoje tem ensaio e temos que continuar a mil por hora. – Então Cáh, tem um problema. – Ai meu DEUS, seus pais te proibiram de cantar – disse quase gritando. – Nãoooo, vira essa boca pra lá. – Ufa, o que foi então? – perguntou aliviada. – Hoje tenho exames pra fazer, e vou ter que cancelar o ensaio. – Que bom, menos mal. – Vê se você consegue... Fui interrompida por um grito da Camila. – O QUE VOCÊ TEM JULHINHA? Está muito doente? E me abraçou tão forte que estava sufocando. – Calma Cáh... – E me soltei dela –... Não é nada é só uns exames de rotina. – Ah tá que bom amiga, já estava ficando preocupada.
– Então, como eu ia dizendo, vê se o Rodrigo pode ir lá em casa com você sábado pra gente ensaiar. – Tá bom! Eu faço isso... – Me abraçou e saiu pelo corredor do meio. Voltei pra casa mais tarde e logo fomos à clínica do meu tio, o Dr. Adriano, que é pai da minha prima a Drª. Laura. Aquilo era exaustivo. Por fim, depois de umas 4 horas de cansativos exames, nós voltamos pra casa, teríamos a resposta em 2 semanas.
Já era sexta feira, e me dei conta de que faltava apenas uma semana pro Show de Talentos. Cheguei mais cedo na escola, na esperança de encontrar a Camila e o Rodrigo para combinarmos de ensaiar umas outras músicas que eu queria cantar. E deu certo, pois assim que cheguei vi de longe a Camila sempre do mesmo jeito sorridente. Que já chegou me questionando. – O que aconteceu Julia, pra você chegar tão cedo na escola? – Bom dia pra você também Cáh – respondi sorrindo. – Me desculpa amiga, porque isso não é normal acontecer – respondeu. – Relaxa, é que eu queria combinar com você e o Rodrigo algumas outras músicas pra ensaiar. – Hum, entendi, que músicas você tá querendo ensaiar? – Pode ser umas que sejam em duetos sei lá, vamos ver se o Rodrigo tem de ideias.
– Tá certo então Julinha, agora vamos entrar que tenho uns babado pra te contar – terminou a Camila. Mais tarde depois da aula, liguei pra Camila queria conversa com ela sobre o Rodrigo. – Alô sonhadora – disse ela ao reconhecer meu número na tela do celular. – Oi Sorriso – respondi. – No que posso te ajudar? – disse ela rindo. – Ai Amiga, estou com um monte de coisas na cabeça. Preciso dos seus conselhos – respondi. – Manda bala Julinha, tô aqui pra isso – disse em seguida. – Eu queria falar sobre um cara aí da escola. – O Rodrigo – disse me interrompendo. – Como você sabe? – perguntei com um ar de espanto. – Desculpa Julinha, mais todo mundo já percebeu o jeito que você olha pra ele, e quando alguém fala o nome dele seus olhos chega brilham. – Ai meu DEUS, eu já to assim? – Sim, mas é assim mesmo. Não se preocupe – disse tentando me acalmar. – Você sabe Cáh que nunca em minha vida eu gostei de alguém de verdade, estou confusa. – Sabe o que você faz amiga? – perguntou e em seguida ela mesma respondeu – Conversa com ele, até eu já percebi o jeito que ele olha pra você também. – Você acha? Mas ele não se abre, ele só canta e fala de música comigo. – Olha amiga faça isso, aí você vai saber se é pra ser ou não. – Quer saber Cáh?! Você tem toda razão, é o que vou fazer amanhã depois do ensaio. – É isso ai Julinha, bom vou ter que desligar meus pais querem conversar comigo.
– Tá bom Cáh, até amanhã... Beijo. – Até Julinha... Beijo.