Livro-reportagem
O teatro pelo buraco da fechadura Cindhi Belafonte Laura LaĂs NatĂĄlia Faria Tatiana Lima
Arte e diagramação: Tatiana Oliveira Lima Revisão ortográfica: Gerson de Souza Site do Livro: http://oteatro.wix.com/buracodafechadura
Aos Meus, pelo apoio incondicional.
Cindhi Belafonte
Ao mestre Marsial Azevedo.
Laura LaĂs
A Renata, que me guiou nas artes e em especial para meus pais, que me guiam na vida.
NatĂĄlia Faria
Aos meus pais, meus maiores amores.
Tatiana Lima
"A arte existe porque a vida n達o basta". (Ferreira Gullar)
Agradecimentos Agradecemos em primeiro lugar a Deus. Sem ele nada seria possível. Com carinho, agradecemos a nossos pais pelo apoio incondicional. Agradecemos ao corpo docente do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia, em especial a nossos orientadores neste projeto, Gerson de Sousa e Mirna Tonus. Obrigada pelo companheirismo e pela confiança no nosso trabalho, nos fazendo acreditar que seria possível realizá-lo. Um sonoro obrigada a Adriana Omena, coordenadora e professora do curso, pela disposição e prontidão em nos orientar nas salas de aula, sobretudo na vida. Agradecimentos especiais a nossos entrevistados, que foram tão gentis e generosos nos abrindo as portas das suas histórias de
vida. Por fim, agradecemos a cada uma de nós, ao caminho que trilhamos juntas numa jornada que nos ensinou sobre convivência, paciência e trabalho em equipe. Pedimos desculpas à todos aqueles que não puderam ser aqui contemplados e deveriam ser, agradecer por quatro pessoas é complexo.
Sumário Prefácio...............................................................13 Apresentação......................................................17 Ato1: Primeira chamada.....................................21 Ato2: O corpo em cena......................................33 Ato3 O corpo sem espaço..................................49 Ato4 A arte que muda a vida.............................93 Extras................................................................113 Referências........................................................123
Foto: Natรกlia Faria
Prefácio A vida como narrativa da tensão da arte e a arte como problema existencial da vida. A proposta de analisar o cenário teatral de Uberlândia através do buraco de uma fechadura define a imagem do nosso olhar nas cenas que compõem este livro-reportagem. O mergulho na realidade é atraído pela construção literária em que as autoras nos instigam com os detalhes do cenário urbano e as minúcias dos gestos de artistas fora do palco, somados a crítica racional da representação artística no micro-espaço da cidade e a emoção de reviver, pela memória, a luta com outros sujeitos no imprevisível do cotidiano. Produzido como parte conclusiva do projeto Experimental no curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia, o livro 13
pode ser apreciado, primeiro, por uma ordenação socio-cultural. O momento em que o sujeito se surpreende e é surpreendido por uma potencialidade que o liga ao teatro. A identidade de pertencer a um grupo para materializar a proposta. A angústia para superar os obstáculos impostos por uma organização política que hierarquiza de forma reducionista a cultura na cidade. O grito de protesto diante de uma estrutura que reincide sistematicamente na redução de espaço para se expressar ao público. A individualidade então se instaura como organização coletiva. A vida, então, tornada luta pela edificação da arte, é entendida no presente como substância irremediavelmente vinculada ao ser. Essa ordem socio-cultural pode ser transgredida. A velhice, identificada com os sujeitos no cenário final do livro, rompe com o estigma de estar no passado e toma força revitalizada no presente. A emoção desses homens e mulheres é tão inusitada quanto o repensar a cidade pelos grupos teatrais. É com esta força que o livro instiga e provoca a inquietação do leitor. Afinal, esse espiar 14
a própria vida trata-se de um sentimento coletivo e, ao mesmo
tempo, necessĂĄrio. O problema se movimenta na circular da histĂłria dos sujeitos: como o simples ato de curiosidade no passado se tornou a essĂŞncia do que somos no presente? Prof. Dr. Gerson de Sousa
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Foto: Laura LaĂs
“Talvez atrás da história impressa haja uma outra, muito maior, e talvez as letras não nos revelem mais do que aquilo que vemos quando espiamos pelo buraco de uma fechadura. Talvez elas sejam somente a tampa de uma panela que contém muitas coisas além das que podemos ler.” Coração de Tinta – Cornélia Funke
Aproveitamos a nossa licença poética, artística e literária para contar uma história. Aqui se apresenta uma peça em cinco atos, uma grande reportagem contada em narrativa. Um olhar para o teatro em Uberlândia que nos foi trazido pelos personagens e que chega a você repleto de possibilidades de interpretação. Tudo depende de onde se espia e da forma que os acontecimentos tomam nesse cenário vazado por uma chave. Nossos personagens são profissionais e amantes das Artes Cênicas, pessoas que se dedicam à arte de transformar a vida numa metáfora que por vezes mexe com nossas emoções e por outras nos faz pensar. Aqui, como no palco, há espaço 17
para ambas as sensações. Os atos estão divididos em cenas que mostram diversos cenários: as estrelas na calçada do Fundinho, o caminhão que virou palco, o carnaval de rua da cidade, o grupo de jovens velhinhas... Juntas, essas cenas compõem o cenário teatral que encontramos na cidade de Uberlândia. Fique à vontade, espie pelo seu próprio olhar, a história é sua. São três as chamadas emitidas antes do início de um espetáculo. Os sinais sonoros saem da cabine da equipe técnica como vento cortante, atravessam a plateia e invadem os bastidores; levam aquele famoso frio na barriga a quem está nas cochias, ansioso para pisar no palco. É quase um convite pessoal do teatro: “Preparem-se, o espetáculo vai começar!”. Abrimos aqui as cortinas para apresentar os nossos personagens e mostrar como o teatro os convidou a viver de arte.
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Foto: Laura LaĂs
ATO 1: Primeira chamada C
ena 1: Sobre ruĂnas e estrelas.
O teatro pelo buraco de uma fecha-
dura. Foi esse o primeiro contato de
Lucas com o mundo teatral. Ele ainda era um menino quando espiou pela
porta que escondia as ruínas do Teatro São Pedro, o primeiro da cidade de Uberlândia. “Fui lá de curioso e botei o olhão... Lá dentro, só coisa despencada, teto no chão... E é essa a imagem que eu tenho na mente desde os sete anos”. O casarão ficava no Fundinho, bairro tradicional do centro da cidade. “Mas, interessante que um dia eu tava passando na porta dele, o chão dele aqui, aqui e lá é preto com estrelas brancas... Achei muito interessante. O chão é todo de estrelas, e ali foi o teatro São Pedro”. Nascido no Círculo Operário, Lucas se familiarizou com os palcos desde cedo. “O Círculo Operário tinha um espaço como um teatro que já era da minha conivência desde a infância; só que eu nunca tinha tido, assim, a curiosidade, fui uma vez só lá assistir: morri de medo, saí correndo, me deu piriri”. O piriri passou e não demorou para que o teatro deixasse de ser um medo e assumisse a forma de arte na vida do menino. “Em frente à minha casa morava a Dona Íris Póvoa, que era a diretora do Sesc na época”. Dona Íris convidou Lucas e alguns amigos para 22
participarem de um grupo coordenado por Maria Inês Galvão.
O grupo fazia pequenas montagens, como jograis de poesia, para atividades oferecidas pelo em ocasiões comemorativas, como o Dia das Mães. Já adulto, Lucas morou em São Paulo, “pra trabalhar teatro, viver teatro, comer teatro, morrer teatro, tudo teatro”. O ator retornou à cidade na década de 1980. Hoje, Lucas Nascimento é coordenador do Núcleo de Difusão e Circulação de Projetos do setor de Teatro e Artes Cênicas da Secretaria da Cultura. O artista trabalha mais nos bastidores, junto aos grupos da cidade. Mas ainda atua em peças ou performances pontuais, o que explica o bigodinho de Chaplin que exibe no rosto. Quanto ao chapéu à la Indiana Jones que o acompanha... para esse não há explicação aparente.
Cena 2: O sapato fugitivo. Era uma noite de verão quando a menina Irlei calçou os sapatos brancos de laço que havia ganhado no Natal. Eles eram uma de duas opções que ela tinha para vestir os pés, o outro par ela ganhava da escola. Saiu de casa escondida, junto das tias, que tinham a mesma idade que ela. 23
Os mais velhos não as deixavam sair à noite, mas o teatro ia à cidade só uma vez ao ano, elas não poderiam perder! Nessa ocasião, a pequena Caxias do Sul recebia uma tenda de circo que abrigava as apresentações teatrais. As meninas, fugidas, deixaram para trás um sono forjado e correram para a tenda. Passaram por debaixo da lona, sentaram em um poleiro e, de lá, Irlei se encantou com os telões pintados, as mudanças de cenários e se emocionou com a história de um personagem raptado. Na volta, uma chuva de verão tomou a cidade e encharcou o sapato branco da gauchinha. A casa era do avô. Chegando lá, colocou o sapato no forno do fogão à lenha para secar. No outro dia pela manhã, o avô acordou muito cedo e acendeu o fogão. O fogo que esquentou o café foi o mesmo que destruiu o sapato. “Como é que eu ia contar pra minha mãe por que é que tinha acontecido aquilo com o meu sapato? Porque era uma história de transgressão. Eu tinha saído à noite, furado uma tenda de teatro”. A travessura de criança já era indício dos rumos que Irlei seguiria pela arte. Na juventude atuou em diversas peças na escola e na faculdade se mudou para Porto Alegre, onde cursou Pedagogia e Psicologia. O diploma de Artes Cênicas viria somente uma década depois. “Naquela época uma moça de 18 anos fazer um curso 24
de teatro era uma coisa muito espantosa”. Haveriam mesmo de se espantar se soubessem que a menina do sapato enlaçado não só acabou se formando em Teatro, como é hoje a professora mais antiga do curso de Artes Cênicas da UFU. Irlei Margarete Cruz Machado, senhora dos fios curtos e brancos e dos vestidos esvoaçantes, também ocupa o cargo de diretora da DICULT, a Diretoria de Cultura da UFU.
Cena 3: Fada padrinho. Kátia costumava dar aquela mãozinha para a memória do padrinho. “Eu ajudava ele a decorar os textos (...). Já tinha lá o bichinho do teatro entrando pelas veias”. A influência do padrinho, ator e co-fundador da ATU, que é a Associação de Teatro de Uberlândia, levou a menina ao teatro amador da igreja que frequentava. Mais crescida, quando os palcos já não eram tão presentes em sua vida, foi trabalhar como secretária na FIT, antiga Unitri. Era mais um dia rotineiro no trabalho quando “um bofinho maluco chegou lá para pedir um espaço para ensaiar”. A figura era um representante de Humberto Tavares, diretor dessa peça que precisava de um lugar para ensaio. “Imediatamente, eu olhei pra ele, ele tava lendo um livro, eu perguntei o que era e ele falou: ‘teatro’, aí fez 25
assim né, ‘toooim’ ”. Kátia pediu para assistir ao ensaio e “Tooim”: a ficha caiu. As memórias da infância despertaram e nesse dia, ela fez uma inversão: deixou de vez o lugar de espectadora para ocupar o lugar de atriz. “Acho que juntou o desejo que já existia com a possibilidade... a oportunidade passou e eu peguei.” Kátia se juntou a este que era, até então, um grupo de amigos amantes do teatro. Em 1994, juntamente com eles, formou o grupo Pontapé de Teatro. A intenção dos artistas era retomar um movimento cultural que já tinha sido mais forte na década anterior. “Essa possibilidade também me encantou”. A influência do padrinho prevaleceu: hoje Kátia Bizinoto é atriz e diretora do grupo Pontapé de Teatro.
Cena 4: Paralelas que se cruzam. Samuel Giacomelli é mais conhecido como Samuca. E Samuca é bastante conhecido pelo cabelo. Deve ser a bicicleta, que ele sempre usa e deixa o cabelo ao vento, num black power livre, leve e solto. É um cara de fala mansa, lá de Sertãozinho, cidade do interior de São Paulo que despertou seu interesse por teatro. “Tem um grupo do Américo Rosário de Sousa, que é um diretor de lá. Ele abre todo ano para crianças, adolescentes e adultos da cidade começarem a fazer teatro. E todo 26
ano ele monta o espetáculo com 200 pessoas no palco. E aí, comecei lá com ele, fiquei trabalhando lá com ele até 2003”. Foi quando Samuca se mudou para Uberlândia para cursar Teatro na UFU. Foi desde cedo também, na escola, que Aline Romani se envolveu com cultura. “Por eu ser muito elétrica, eu não tinha uma concentração muito grande, mas então eu aprendia tudo através do teatro (...) Até pelo perfil da minha cidade, que é uma cidade antiga, que ela não tinha cinema, não tinha nada e a única coisa que ela conservou foi um teatro, esse era o caminho que a gente tinha na arte mesmo”. Ao longo de doze anos de vida escolar, Aline criou e manteve com seus colegas um grupo de teatro.“O grupo existe até hoje lá na minha cidade, que é Igarapava, São Paulo também”. Samuca investiu em cursos de produção, função que acabou desempenhando em eventos como o Festival Latino-Americano - Ruínas Circulares da UFU. Trabalhou em Campinas, com o grupo LUME Teatro, e atualmente é ator e produtor do Coletivo Teatro da Margem, em Uberlândia. Seus trabalhos mais recentes são voltados para o teatro de rua. Aline continuou na trilha da cultura e das artes. Na faculdade entrou em uma banda e tentou conciliar a música com o curso História na UFU. Hoje, ela não toca mais; trabalha na Câmara Municipal, onde é assessora parlamentar de um vereador e lida 27
com questões culturais da cidade. “Foi aí que eu comecei a me dedicar ao teatro e às outras artes fora do palco”. A motivação por melhorias nas condições de trabalho dos artistas locais engajou Aline no MUDI, Movimento Cultura Uberlândia, do qual Samuca também participa. E assim se cruzaram as paralelas. Cena 5: Proibido é mais gostoso. Um museu vivo: estátuas humanas ganham movimento uma a uma. Cada personagem que desperta compõe uma cena da vida de Olga Benário. Foi assim, contando a história de Olga na feira de ciências do colégio que Wagner teve seu contato com o teatro. A proximidade com as artes desde a escola alimentou em Wagner a vontade de cursar Artes Cênicas, mas ele acabou formado em Publicidade e Propaganda. “Quando você fala pra sua mãe e pro seu pai que você quer ser ator não é a melhor coisa do planeta pra eles. Eles viram pra você e falam: ‘ Como é que você vai viver disso? Isso não dá grana, você tem que ser médico, tem que ser advogado, você tem que ser engenheiro...’ ”. Wagner investiu nos estudos. Ganhou uma bolsa integral na ESAMC, onde iniciou a faculdade de Publicidade, mas seguiu sem abandonar o teatro. “Eu trabalhava de manhã, fazia teatro de tarde 28
e estudava de noite, ou fazia teatro de manhã e era aquela bagunça de horários pra conciliar tudo”. Wagner Filho, “artisticamente Wagner Bárbara” é publicitário, especialista em gestão de pessoas e trabalha há cinco anos como produtor geral do grupo ArtPalco. É uma figura interessante. Tão irônico quanto carismático, além de trabalhar com teatro, Wagner vive da dança.
Cena 6: Pé de coelho e pé na estrada. “Eu sou um cara que Deus me deu muita sorte na vida.” Foi no final dos anos 70 que Sebastião Eurípedes Cassimiro, o Tião, conheceu o teatro, em cerrado uberlandense mesmo, nos arredores do bairro Tibery. “Existia no bairro Tibery uma comunidade de jovens ligados à igreja, nesse local a moçada fazia de tudo, jogava bola, cantava, e com o passar do tempo a comunidade começou também a fazer teatro”. Quando Tião começou a se envolver com as artes cênicas, não tinha curso de Teatro na cidade. Quando o curso foi criado, “E depois quando surgiu a graduação era em horário integral, e eu sou o filho mais velho dos meus irmãos. Então, eu sempre tive que ajudar em casa.” Mas Tião não abandonou a vida teatral. Mesmo sem formação acadêmica, ele aprendeu tudo o que sabe com bons 29
contatos, pé na estrada e um punhado de talento. No grupo da igreja, Tião fez um curso de um ano e meio com Zé Ligeiro, com quem viajou pelo Brasil todo fazendo apresentações. “Tive uma sorte enorme de conhecer o José Lucas, que além de ser professor de teatro era iluminador.” Tião conheceu ainda o maior aderecista do Brasil no Rio de Janeiro. “Aprendi muito também, muitos truques para fazer esses materiais de cena. (...) Fiz também muitas oficinas com muitos professores em vários encontros e festivais. Eu tive o privilégio de conviver com essas pessoas.” “Eu sou um autodidata de repente! Mas eu acho ainda que academia é muito importante.” Com a bagagem adquirida pela experiência, Sebastião vive em Uberlândia e está à frente daquele grupo da igreja, que se mantém vivo e hoje leva o nome de Grupo Davi.O grupo funciona como uma ONG e faz apresentações em escolas das periferias de Uberlândia.
Cena 7: Um caso do acaso. Semana de recepção dos calouros. Sem nunca ter assistido uma peça de teatro na vida, Ronan estava lá, entre os ingressantes do curso de Artes Cênicas da UFU, participando pela primeira vez do público de um espetáculo teatral. “Mexeu bastante comigo. Naquele momento a escolha 30
do curso foi uma certeza. Me chamou bastante atenção pela própria dramaturgia do Nelson Rodrigues. Era uma peça com vários contos do Nelson, que eu já conhecia por meio de livros.” O que Ronan não poderia imaginar é que, por acaso ou não, o grupo que encenava a peça era justamente o grupo que viria a integrar anos depois: a Trupe de Truões. Para não dizer que o teatro não havia dado o ar da graça na vida de Ronan em algum momento até a faculdade, ele costumava se envolver com peripécias teatrais na escola. “Se pudesse ser apresentado algum trabalho que uma encenação pudesse ser feita, eu preferia em vez de só falar. Sempre tive uma atração pelo lado artístico”. De fato! Na adolescência, Ronan fazia parte de um projeto social que lidava com música. “Então eu já tinha assistido diversos espetáculos musicais, que não era simplesmente show, tinham uma pitada cênica. Minha primeira opção seria jornalismo, e como não tinha eu fui para o teatro”. Ronan acertou no pulo e hoje vive de teatro. Trabalha como ator, professor, produtor e iluminador em Uberlândia.
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Foto: Tatiana Lima
ATO 2: O corpo em cena C
ena 1: Mais humanos. Foi em
1994 que um grupo de jovens fundou o Grupontapé de Teatro. À época, o movimento teatral estava enfraquecido na cidade, os recursos eram escassos e
os espaços para apresentação, quase inexistentes. “Não tinha um outro grupo referência que a gente pudesse se inspirar, (...) estava nascendo naquele ano o curso de Teatro na UFU. Então eu penso que o grupo foi meio desbravador, meio bandeirante.” Com uma cidade que não contava com companhias teatrais de peso, onde o curso de Teatro ainda dava seus primeiros passos e as leis de incentivo eram uma realidade bem distante, os obstáculos naturalmente surgiram. O tempo para os ensaios era curto: uma pequena brecha na rotina de estudantes que trabalhavam o dia todo. Mas a paixão pela arte falou mais alto. A falta de recursos para montar os espetáculos fez o grupo se aventurar por soluções alternativas. Cada um aproveitou seu talento natural e passou a exercer uma função. Kátia se ocupou com a captação de recursos. Ela bateu nas portas de empresas uma a uma em busca de patrocínio. “Quando a gente quer mudar, a gente tem que fazer alguma coisa também, não é só esperar que o outro faça”. 34
A procura resultou em desafio: um dos patrocinadores pediu
que o grupo apresentasse uma peça ao seu corpo de funcionários. O objetivo era oferecer a eles um momento de reflexão. O grupo trabalhou na ideia e conseguiu um bom resultado. Naquele momento, nasceu no Grupontapé uma nova vertente: o teatro aplicado. A intenção era valorizar o ser humano dentro da empresa, desenvolver as capacidades dos trabalhadores, explorando temas como segurança, meio ambiente, trabalho e qualidade de vida por meio de espetáculos e oficinas. Esse trabalho não só tomou uma dimensão de sustento do grupo, como tornou possível a realização de trabalhos de teatro artístico, que era o estilo mais querido pelos integrantes. “Hoje a gente quer tanto um quanto o outro, e fazer bem feito os dois. O teatro artístico a gente sempre procurou trabalhar a cultura popular, a questão da reflexão com sensibilidade... e na questão do teatro aplicado, mais a questão do comportamento e da condição humana.” A história de luta fortaleceu o grupo. Hoje, o Grupontapé mantém um espaço, a Escola Livre, onde são realizados espetáculos e oficinas. O grupo também disponibiliza o espaço para apre-
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Foto: Divulgação
Grupontapé de Teatro no espetáculo Balaio Popular
sentações de outros artistas e se desloca pelos bairros da cidade para apresentar seus trabalhos. “A nossa identidade é de um grupo interessado no desenvolvimento humano por meio do teatro”.
Cena 2: Insanos. Quem visita Uberlândia pela primeira vez, nem de longe imagina que “capital” do Triângulo Mineiro esconde séculos de história em suas edificações. No bairro Fundinho, antigo centro da cidade, as ruas íngremes e espremidas sobrepõem o cotidiano da vida moderna a um ambiente com ares de província. Ali perto da conhecida Praça da Bicota, em meio ao cenário interiorano, o prédio do Espaço Corpore abriga, há quatro anos, a sede do grupo ArtPalco. Criado na virada do milênio, a formação do grupo é um tanto inusitada: a maioria dos artistas é graduada em Publicidade ou Comunicação; apenas um é da área das Artes Cênicas. O que parecia estranho, porém, foi convertido em um ponto forte da 38
identidade do grupo. As estratégias de marketing e os investi-
Foto: Divulgação
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mentos em publicidade são utilizados como isca para cativar o público. Outro pulo certo para o trabalho bem-sucedido foi a comédia. A repercussão de “Casos Insanos” fez do espetáculo um nome maior até que o do próprio grupo. O sucesso do trabalho, embora não seja suficiente para que o grupo viva do teatro, motivou os integrantes a permanecerem na empreitada. De tempos em tempos, o ArtPalco reapresenta a peça que o consagrou, mas busca investir também em roteiros de outros gêneros, como o melodrama.
Cena 3: Saltimbancos. Meados de 2002. Nos corredores de um curso ainda novo, que estava para gerar sua segunda turma de formandos, estudantes se uniram para compor um grupo de teatro. Um a um, os alunos do curso são atraídos pela proposta do professor Paulo Merísio. Era um jeito inovador de 40
fazer teatro, que misturava teoria e prática, trazendo lado a lado
pesquisa e a atuação. Quatro anos mais tarde, sem abandonar a linha de trabalho inicial, a turma de atores formados ganhou as ruas, os palcos e uma identidade: Trupe de Truões. O nome tem origem na Idade Média: “truões eram artistas medievais, andantes, contadores de histórias”. Não raro o período é chamado de Idade das Trevas, o que faz crer em mas a verdade é que foi um momento histórico de intensa produção intelectual e artística. Da formação original, a Trupe conserva três artistas. Atualmente, o grupo atua em peças infanto-juvenis e para adultos, além de desenvolver projetos sociais para popularizar o teatro. O galpão onde o grupo ensaia e faz apresentações é uma conquista recente e fica no bairro Santa Mônica pertinho da Universidade que deu origem à Trupe.
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Foto: Tatiana Lima
Trupe de Truões no espetáculo Simbá
Cena 4: Discípulos do palco. Era um dos idos anos da década de 1970. Tempos diferentes, dura realidade na política nacional; na economia nem tanto. O auge dos anos de chumbo, do anunciado desenvolvimento econômico. Um paradoxo na realidade local. No interior de Minas Gerais, um grupo de jovens improvisa um palco na carroceria de um caminhão e faz dos problemas sociais, uma peça de teatro. O pano de fundo era Uberlândia, bairro Tibery. “Naquele momento o bairro era pobre, não tinha posto de saúde, tinha uma única escola, tinham muitas deficiências. A comunidade estava nascendo.” Enquanto a igreja era erguida, Tião e seus amigos faziam esquetes de teatro amador para divertir o público. Uma arte espontânea, toda semana uma novidade “que nascia do improviso”. No início da década seguinte apareceu na cidade o professor Zeca Ligiero, com ideias de popularizar o teatro. Ensinou o teatro dos livros, das técnicas, da prática. Incentivou o grupo a fazer da peça uma crítica social. Quando foi embora, pediu que 44
os amigos não abandonassem a arte; que continuassem repre-
sentando histórias de sua própria realidade. O grupo de jovens da Divindade de Amor e Vida aos poucos se desfez. Mas Tião se profissionalizou no teatro e, anos mais tarde, fundou o Grupo Davi, que ocupa hoje o espaço do Círculo Operário. O espaço não é de todo fixo: o grupo faz teatro itinerante; visita escolas na periferia da cidade, levando arte a quem a vida ainda não desencantou.
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Foto: Divulgação
Grupo Davi
Foto: Natรกlia Faria
ATO 3: O corpo sem espaço C
ena 1: NĂŁo tinha teto, nĂŁo ti-
nha nada. A noite vestia calmamente
os mais diversos tons de azul para dar
boas-vindas a uma Uberlândia colorida: era carnaval. Havia algum tempo que o sol tinha dado passagem à lua quando os tradicionais blocos de rua da cidade subiam pelas ruas tortuosas do Fundinho cantando suas marchinhas em direção à praça Clarimundo Carneiro. Ali, centenas de foliões pulavam carnaval. Adultos, jovens, crianças, senhores e senhoras se divertiam na praça quando uma cantoria invadiu a multidão aglomerada junto ao Coreto:
O bloco dos Sem Palco vem aí Não precisa de edital Pra fazer Uberlândia sacudir Basta a alegria do nosso carnaval O bloco dos Sem Palco vem aí Não precisa insistir Nessa cidade teatro não tem não Mas tem artista de montão 50
Todo ano a Prefeitura da cidade costuma organizar um desfile dos blocos de rua e uma premiação para a marchinha mais querida pelos foliões. Mas o bloco dos Sem Palco era clandestino; não havia se inscrito no edital do evento. Uma pequena subversão. Afinal, era carnaval. O interesse dos mascarados não era só a folia, muito menos o prêmio: eles queriam era fazer barulho! Ah, sim! Estavam mascarados. Os integrantes do bloco usavam máscaras com o rosto do Grande Otelo, confeccionadas e decoradas a mão. O estandarte, feito de chita, também trazia a figura sorridente do mineiro. E o porquê disso tudo? Bom, senta que lá vem história. Grande Otelo era na verdade o nome artístico de Sebastião Bernardes de Souza Prata. Ele nasceu no fim da década de 1910, numa Uberlândia que ainda levava o nome de São Pedro de Uberabinha. E de grande, Otelo não tinha muito não; era um homem pequenino, tanto que nos tempos de menino em Minas Gerais o apelido era Pequeno Tião. Mas havia sim algo de imenso no mineiro de pela negra e sorriso largo: seu talento.
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O Terminal Central de ônibus e a Praça Sérgio Pacheco são cenários urbanos comuns aos cidadãos de Uberlândia. Mal sabem eles que ali naquela região ficava a Estrada de Ferro Mogiana, onde um negrinho trabalhava vendendo jornais. De vendedor de jornal nos trilhos na Mogiana a ator, compositor, intérprete e comediante, o negrinho Grande Otelo cresceu na carreira artística e ganhou palcos e telas do Brasil e do mundo, e chegou a trabalhar em filmes de Orson Welles e Werner Herzog. Mesmo com as das experiências no cinema internacional, um dos personagens mais marcantes da carreira de Otelo é de um filme nacional: Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. Macunaíma é o anti-herói mais famoso da literatura brasileira, do romance, de Mário de Andrade. O filme teve sua versão cinematográfica exibida em 1969. Pouco antes disso, na década de 1960, mesmo enquanto Otelo atuava no cinema e na televisão fazendo sucesso em produções de comédia, muitas delas em parceria com Oscarito, Uberlân52
dia ganhava uma nova casa de espetáculos, o Cine Vera Cruz.
Carnaval de Rua de Uberlândia 2012
Foto: NatĂĄlia Faria
Carnaval de Rua de Uberlândia 2012
Foto: NatĂĄlia Faria
A construção do Cine foi parte de um processo de urbanização da antiga Vila Operária, onde hoje fica o bairro Aparecida. Como o nome sugere, a Vila Operária era um bairro humilde. À época, grande parte das casas de espetáculo estava situada no centro de Uberlândia. Por isso, a chegada do Vera Cruz à região democratizou, de certa forma, o acesso da população às atrações culturais e cinematográficas. Como historiadora interessada pelo assunto, Aline lembra que, além do motivo da urbanização, o Cine foi construído a partir de uma demanda do pessoal do bairro, de pessoas que até então não tinham acesso a livros e a nenhum tipo de arte e que, pela primeira vez, tinham acesso ao cinema. “Não só o cinema, mas a literatura em forma de cinema. Então pela primeira vez eles tiveram contato com isso. Então, tem uma história de cultura que brota do lugar ali, que eu acho que é muito bonita”. Mas a alegria da Vila não durou muito tempo. Em 1977, passados exatos dez anos da sua inauguração, o cinema foi desativado, situação que permaneceu até 1984.
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O carnaval. O estandarte. Os mascarados. É aqui que tudo faz sentido. Em 1984, a Prefeitura desapropriou o prédio, que foi reformado e transformado no Teatro Vera Cruz. “Só que assim, existe uma acusação que no próprio governo Zaire, que acho que foi quando foi feita essa reforma, algumas coisas da estrutura dele já foram mal feitas. O que acontece é que esse Teatro funcionou de 84 até metade de 2001 ele ainda funcionava, e aí ele começou a ter muitos problemas. Problemas de infiltração, não sei ao certo. Tudo ali é obscuro”, conta Aline.
Quem passa pela Avenida João Pinheiro na altura do
bairro Aparecida esperando encontrar o Teatro Vera Cruz encontra, na realidade, o Teatro Grande Otelo. É que em 1993 o Teatro foi rebatizado de Grande Otelo em homenagem ao artista. Na verdade, por ali o cidadão não encontra o que parece ser exatamente um teatro. O cenário revela uma edificação simples, abandonada, danificada, cercada por um muro de tablados de madeira, como aqueles que sinalizam um prédio interditado. 56
É assim que o Teatro se encontra desde 2002. E é por isso que
o Bloco dos Sem Palco desfilou sua marchinha clandestina no carnaval. Conta-se que Grande Otelo tinha o desejo de voltar a morar em Uberlândia e que gostaria de ser enterrado em sua terra natal. Ao ver de Aline, Uberlândia “sempre foi uma cidade que renegou o Grande Otelo não só por ele ser artista, mas por ele ser negro. Nunca aceitaram, nunca acolheram ele aqui. E até quando foram inaugurar o Teatro -nem sei qual administração que foi-, e dá o nome dele de Grande Otelo, ele tava na Europa e a Secretaria de Cultura esqueceu de enviar as passagens pra ele. Então foi uma história desde o início, de não aceitação da figura do Grande Otelo. Foi o momento em que davam o nome dele pro Teatro porque ele estava no auge, lançava Uberlândia para o mundo inteiro, dava visibilidade pra Uberlândia, e depois ele foi esquecido como foi esquecido no início. Então, não é assim, colocar a culpa em uma administração X nem Y. Foi um Teatro que historicamente é esquecido e que tem uma história muito bonita.” O negrinho da Mogiana faleceu em solo francês, em Paris, no ano de 1994, vítima de um problema no coração, fruto da vida boêmia.
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Já o último sopro do Teatro, sua última tentativa de permanecer aberto, aconteceu em 2001. A ATU, Associação de Teatro de Uberlândia, conseguiu uma aprovação de Incentivo Fiscal de R$ 155 mil para iniciar reparos. E seguiram projetos de reforma por meio de obras. Mas, em 2002, veio o inevitável com o último espetáculo. O Teatro fechou as portas e mergulhou numa solidão que dura dez anos. Uma década sem artistas, sem público e sem aplausos. A classe artística reage em 2009. Nesse ano, surge o movimento “Vamos ao Teatro Grande Otelo?” A intenção era lutar pelo Teatro, buscar a preservação dele como patrimônio público e histórico da cidade e reivindicar junto à prefeitura a reabertura e o funcionamento do espaço. Num trabalho de formiguinha, o movimento distribuía panfletos e realizava performances nos ônibus, no Terminal Central e no pátio do Teatro. A frase “Vamos ao teatro Grande Otelo?” era utilizada nessas manifestações e inserida durante espetáculos dos artistas de Uberlândia como 58
forma de criar o questionamento do público - Como vamos à
um teatro que não existe? No ano seguinte, em agosto de 2010, houve um vendaval na cidade que arrancou o teto do Grande Otelo. Levados pelo vento forte, os pedaços de telha atingiram os carros guardados no estacionamento que funciona ao lado do Teatro. Samuca conta que “pra abafar o caso, a prefeitura tirou toda a cobertura e declarou que aquele espaço estava condenado, segundo laudos, que foram pedidos pela prefeitura, e declararam que ia ser demolido o espaço. Nisso, o Movimento Cultura Uberlândia, já tava surgindo e quando essa notícia brotou, a gente foi pra rua, colocou a cara lá, pixou tudo...”. O movimento teve início na internet, com uma postagem no facebook. Na ocasião, foi criada a página do MUDI, Movimento Cultura Uberlândia, que iniciou um grupo de discussões, com o objetivo de debater “a cultura na cidade de Uberlândia, unir os interesses e desejos da comunidade artística e abrir novas brechas. Agregar, aglutinar, compartilhar, sustentar os movimentos e demandas dos artistas locais”. Assim que a página surgiu na rede, Samuca reagiu: “eu cheguei, escrevi um monte de coisa embaixo falando que não era
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através de facebook que a gente ia conseguir nada, que a gente tinha q eu se reunir, tentar levantar um conselho. Escrevi uma porrada de coisa lá, aí depois a Aline veio falar comigo.” A partir do grupo, os artistas interessados pelo Movimento começaram a fazer algumas reuniões periódicas, de onde as questões mais urgentes da classe foram surgindo. “De repente, não sei talvez foi a própria Aline mesmo q trouxe ‘Ó! Vão derrubar o Teatro Grande Otelo, acabaram de colocar os tapume lá em volta, o telhado desabou, a gente precisa fazer alguma coisa’. Então aí nesse momento o Teatro acabou sendo uma questão muito necessária da gente pegar com força, fazer manifestação (...). Fomos na Câmara, discutimos, até que foi reberverando dessa maneira.” As manifestações do MUDI ecoaram no poder público e na mídia. Depois da ação dos artistas e de protestos na Câmara Municipal, as manchetes do principal jornal da cidade passaram de “Teatro Grande Otelo será demolido” a “Grande Otelo será reconstruído”, “ Teatro Grande Otelo não pode ser demolido”, “Juiz determina 60
reforma no Teatro”. Apesar do aspecto animador das notícias, o
Manifestação MUDI no teatro Grande Otelo
Foto: Página Cultural
futuro do espaço continua incerto. A última notícia sobre a atual situação do Teatro foi divulgada no blog do MUDI, numa postagem da Aline, no mês de março deste ano. O último laudo sobre as condições do prédio foi elaborado pela Faculdade de Engenharia Civil da UFU. O relatório diz que o vendaval que destelhou Teatro não afetou a estrutura do prédio, apenas suas telhas. Em fevereiro deste ano, “a Justiça determinou a cobertura do Teatro Grande Otelo no prazo de 10 dias, com pena de multa diária no valor de 50 mil reais, em caso de desobediência.” A prefeitura não cumpriu a promessa de início e recorreu da liminar. Mas, após três meses, o Teatro finalmente tinha um telhado provisório. A burocracia danada foi apenas para resolver um problema de manutenção do espaço: a cobertura do teto do Teatro, então destruído pelo vendaval. Já o destino do Grande Otelo permanece uma incógnita: se o espaço vai ser demolido, se vai ser reconstruído ou construído em outro lugar ninguém sabe di62
zer. Por enquanto, o prédio está interditado. Ainda sem artistas,
sem público e sem aplausos. No entanto, um espaço para muitos sem-teto. O prédio, abandonado, tem servido de abrigo para os moradores de rua da região, inclusive por usuários de drogas. Há relatos de dois andarilhos que passaram por ali, arrancaram os tapumes que envolvem o prédio e foram pegos fumando crack. E então... Vamos ao Teatro Grande Otelo? O que esperar para o futuro desse espaço? Wagner, do grupo ArtPalco, tem uma opinião pragmática sobre a situação: “Bom, a minha consideração é a seguinte: o que é velho tem que ser restaurado. O que não existe tem que ser construído. O que é velho tem que ser restaurado e o que não existe tem que ser construído. Mas a partir do momento que existe uma verba para se construir algo novo em cima do que era velho e o que é velho não pode mais ser restaurado, destrói-se o velho e constrói-se um novo para se ter algo. Essa é a minha opinião. Se não pode mais, se existem avaliações que não pode mais ser restaurado porque ser for restaurado vai cair, destrói e constrói algo novo! Entendeu? (...). Eu acho que o Teatro Grande Otelo deveria
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ter sido restaurado. Ele deveria. Só que isso deveria ter sido feito há quase 20 anos atrás, antes de ele fechar. Isso deveria ter sido feito em tempo hábil. Agora, depois que arrancaram todas as cadeiras? Depois que arrancaram o teto? Depois que destruíram o palco? Depois que arrancaram lâmpada, vaso sanitário? Arrancaram tudo! Vai fazer o quê? Restaurar o quê? Você só restaura aquilo que existe, o que não existe você não restaura.” A preocupação de Kátia, do grupo Pontapé, é outra. Ela não questiona a situação em si, mas a postura da prefeitura, que reflete um descaso com a cultura na cidade. “Quem diz se a gente é necessário ou não é o público. A dificuldade que eu sinto hoje é essa. Por exemplo: é interesse do presidente da República o Grande Otelo ficar de pé?! Ele tá vendo?! Não! Quem tá vendo é o prefeito, caramba. Por que que deixa cair? O problema pra mim não é se vai ou não vai levantar, é por que que deixou cair. Esse é que é o problema. Isso é um espaço. Aqui, com o nosso espaço, a gente faz um pouco o serviço da Secretaria que devia estar oferecendo espaço gratuitamente para os gru64
pos locais. No entanto, nós pagamos R$500,00 para apresentar uma
peça lá no Rondon Pacheco. Então assim, vai tirar de onde não tem?! (...) Acho que a política pode interferir para o bem e para o mal, ela pode melhorar, como ela pode ajudar a piorar; ela pode ajudar a fechar todos os espaços culturais que tem na cidade. É esse o interesse? Qual é o interesse? Sejam claros, não é?!” O MUDI continua ativo. Mas... por quantos carnavais? Quantas marchinhas serão necessárias até que os artistas sejam ouvidos? Samuca lembra: “ é aquela eterna roda da fortuna né: uma hora a gente ta forte, uma hora a gente ta fraco, uma hora a gente ta forte, outra ta fraco, mas as coisas vão acontecendo.”
Cena 2: Em construção... Para muitos é uma grande caixa d’água no meio de um terreno abandonado da Avenida Rondon Pacheco. Não fosse pela placa que o identifica, seria difícil imaginar que se trata do futuro Teatro Municipal da cidade. Mas as aparências enganam. O projeto, elaborado em 1989, é do arquiteto Oscar Niemeyer. O espaço terá capacidade para
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acomodar mil pessoas sentadas. Isso para os espetáculos internos, pois estrutura do palco é reversível, o que tornará possível a realização de espetáculos ao ar livre. Para esses, a capacidade de público é de até 20 mil pessoas. A obra começou a ser erguida em 1993. Projeto de 1989. Início das obras em 1993. Futuro Teatro Municipal... futuro? Como assim? Estamos em 2012 e o Teatro não está pronto, é isso? Sim, é isso. São quase vinte anos de espera pela finalização do projeto de Niemeyer. “A prefeitura, os órgãos públicos e os privados eles deveriam ter vergonha. A gente é motivo de piada. A gente tem um Teatro que está sendo construído há vinte anos. Ficam prontos viadutos, ficam prontas ruas, passarelas, ficam prontos shoppings em meses. E o nosso teatro não fica pronto”. O tom indignado é de Wagner. A promessa da prefeitura é que o Teatro Municipal seja entregue no segundo semestre deste ano, lá para o mês de novembro. Mas, mesmo com a entrega da obra, as dúvidas sobre a política de funcionamento do Teatro preocupam 66
os artistas locais.
“Uberlândia adora ser mega né... O maior, o melhor... tudo em Uberlândia tem que ser o maior né- . Então assim, ‘o maior parque a céu aberto do planeta’. É o Parque do Sabiá. ‘Um dos maiores estádios do interior de Minas’. É o João Havelange. ‘A mais moderna arena fechada do estado de Minas’. É o Sabiazinho, não é? Vamos ver outra coisa que a gente é melhor também... ‘um dos maiores shoppings do estado’. O UberShopping. ‘Uma das maiores avenidas gastronômicas do país’. A Rondon Pacheco. Olha que beleza, não é? Então quando o Teatro Municipal ficar pronto a gente vai realmente poder se orgulhar, porque gente, o palco dele é elevado. Tem um elevador no palco. Tem salas de ensaio por baixo. Vai ser o teatro mais moderno do país. Quando ele ficar pronto. Quando ele ficar. E se ele ficar. Aí a gente vai poder questionar outra coisa também, que é quem vai utilizar o teatro. Quem vai apresentar lá? Porque como você pode ter um teatro pra 1000 pessoas se os grupos não conseguem lotar um teatro com 300 lugares? Se não tem dinheiro pra divulgar pra 300 como é que vai ser pra divulgar pra 1000? E outra, se a gente paga 500 reais de aluguel do Teatro Rondon Pacheco, que é o que tem que pagar por dia de apresentação, quanto
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que vai custar pra apresentar nesse Teatro? 1500 reais? Eu não tenho dinheiro pra pagar.” No site da prefeitura o que consta é que “O Teatro será mais uma ferramenta de inserção social, além de ser uma maneira de valorizar as manifestações artísticas de nossa região, fazendo com que Uberlândia se destaque ainda mais no circuito nacional e internacional de cultura.” No entanto, Aline acredita que por o Teatro ter sido planejado e construído sem consulta à classe artística, não se trata de um espaço feito para os artistas locais, mas de um Teatro pensado para receber grandes shows, de artistas de visibilidade nacional, vindos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Tião compartilha do posicionamento de Aline. Ele estava lá quando o projeto foi apresentado. Relembrando da ocasião, ele confirma que a opinião da classe artística sobre o Teatro não foi levada em consideração.“Eu sempre fui contra o grande Teatro Municipal, a maneira como ele começou a ser feito. (...) Nós pensamos assim, com a verba de 18 milhões que foi destinada a ele (30% gastos só 68
na fundação), porque não fazer quatro teatros do tamanho do Grande
Otelo ou do Rondon Pacheco em pontos estratégicos da cidade para que a própria comunidade pudesse vir fazer arte? (...) Eu acho que com o que foi gasto até agora dava pra ter feito no mínimo três outros teatros” O palco do Teatro será móvel, giratório. Aline explica que esse tipo de palco é obsoleto, ao menos para apresentações teatrais. Além da preocupação com a estrutura física, ela levanta outras questões, como a composição de um corpo de baile para o Teatro. O receio é que haja contratação de profissionais de fora da cidade para a coordenação artística do Teatro, o que vai custar caro à cidade, tanto para os fundos da prefeitura quanto para os artistas locais, que nesse caso seriam desprivilegiados. “O prefeito Odelmo Leão disse, na mídia mesmo, que até o final do mandato dele esse teatro vai estar pronto e isso vai ser muito bom pra ele, porque depois ele vai poder usar como propaganda”. A opinião é de Samuca. Ele acredita que a estrutura concreta será finalizada, mas tem dúvidas quanto ao equipamento necessário para funcionamento do espaço. Mesmo com a obra entregue à população, resta saber por quanto
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tempo a razão de ser do Teatro estará em construção. A dúvida ainda permanece: qual será o seu sentido para a cidade? Ajudar no desenvolvimento da cultura local ou reforçar o sucesso já consolidado da arte convencional?
Cena 3: Filho único e agregados. “O que falta, efetivamente, são espaços. Nós não temos Teatro. Não existe, é uma coisa absolutamente preocupante, porque uma cidade com 700, 800 mil habitantes que não tem um teatro decente, né... Porque a gente usa o Teatro da Escola Bueno Brandão, que é o Teatro Rondon Pacheco, mas dizer que esse Teatro tem todas as condições necessárias pra que se faça um bom espetáculo, ele fica devendo.” O que Irlei conta tem uma história que começa em 1983, quando parte dos grupos culturais de Uberlândia reivindicou melhorias na administração do Teatro, que até então estava sob responsabilidade apenas da Escola Bueno Brandão. Nesse mesmo ano, a gestão passou 70
para a antiga Secretaria Municipal de Cultura, que à época era
a Secretaria Municipal de Educação e Cultura. O convênio estabeleceu que a prefeitura seria responsável pela reforma geral do prédio, pela instalação de equipamentos e pela contratação de técnicos. Ao que parece, dever cumprido: em 2002 foram concluídas as obras que garantem acessibilidade aos portadores de necessidades especiais, além da saída de emergência. Em 2007, o Teatro foi pintado, recebeu equipamentos digitais de som e iluminação e renovou a estrutura administrativa. O Teatro passou a adotar o sistema de acesso com cadeiras numeradas em 2011. Hoje, a bilheteria conta com um sistema informatizado, com um monitor na entrada, onde constam informações sobre os espetáculos e um mapa com os ingressos disponíveis para venda. Sem desconsiderar os avanços, o que acontece é que funcionamento do Teatro ainda não atende as necessidades dos grupos locais. É o que conta Tião: “Nós só temos o Teatro Rondon Pacheco hoje, com 300 e poucos lugares, eu to falando isso porque eu vivi deste a pri-
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meira Mostra (de Teatro). Eu fui presidente da ATU, aliás eu sou um dos fundadores. Público tem, a última Mostra de Teatro que eu participei da coordenação alguns espetáculos nós tivemos que fazer apresentações mais de uma vez no mesmo dia para atender ao público. E ainda assim na nossa contagem, por alto, ficaram mais de três mil pessoas sem assistir à peça porque não tinha ingresso. O Grande Otelo está lá como que está, todo mundo sabe a história. Então oficial em Uberlândia nós só temos o Rondon Pacheco que tem a questão do edital. ‘Porque que vocês não estão apresentando no Rondon?’ Porque nem todo ano a gente consegue uma vaga no edital. Porque é um único teatro para atender a música, a dança, não é só teatro, tem também outros artistas que utilizam o espaço.” A demanda inchada pelo Teatro Rondon faz os grupos buscarem soluções alternativas. Wagner lembra que “a própria ATU é um espaço pra apresentação, mas é um espaço muito pequeno. Tem o Teatro de Bolso do Mercado Municipal, que é uma fofura. (...) É um teatrinho de bolso para 100 pessoas, o palco é pequeno, mas é um pal72
quinho que deixa as pessoas, o público perto da gente (...). Tem o espaço
do Art Palco também. Tem o espaço da Susilene do Grupo Diferente. A gente se apresentou lá no FestCom, Festival de Comédia. Então tem espaços alternativos. Próprios, arrumados, requintados? Não. Nem o nosso Teatro Rondon Pacheco não é.” A Trupe de Truões encontrou uma solução própria: “desde sempre a gente identificou a necessidade de ter uma sede. Não só pra gente ensaiar, mas pra ser mais um espaço cultural dentro da cidade.” Ronan conta que tanto os integrantes que já passaram pelo grupo quanto aqueles que estão na Trupe desde o início sempre se organizaram pra ter um caixa. “Porque mesmo tendo os mecanismos de incentivo, a gente nunca tem uma garantia de que o nosso projeto vai ser aprovado. Então, mais um motivo também pra não sermos remunerados. Porque o dinheiro que entra, a gente guarda também pra uma possível emergência, pra uma necessidade. E quando a gente teve a oportunidade de ter esse espaço, a gente teve que lançar mão desse dinheiro, desse caixa pra estruturar o espaço. E ele ainda não está pronto.” O espaço da Trupe foi conseguido, em parte com as economias do grupo e em parte com uma verba “Pontos de Cultura”,
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que é uma política de incentivo à cultura do Governo Federal. Além de servir para aulas, ensaios e apresentações, o galpão da Trupe é aberto a outros grupos “que não têm uma sede própria e não estão vinculados à Universidade formam parcerias com a gente pra poderem desenvolver seu trabalho”. O Teatro da Escola Livre, do Grupontapé, é outra alternativa criada para suprir a falta de espaços na cidade. “Bom, esse espaço chega pra gente em 2001, aproximadamente, e aí a gente começa a desenvolver atividades, a partir daí, não só do grupo, como também abrir pra outros grupos, seja por meio de editais, ou de convites, ou então a gente abre pra grupos locais. Então, é um espaço na cidade que a gente busca que ele funcione direto, só que a gente depende de recursos, então tem épocas que a gente consegue isso, tem épocas que a gente já não consegue, porque a bilheteria do teatro não paga ele tá aberto, nem o espetáculo nosso, nem o de outro, nem o de ninguém. Bilheteria hoje pra um teatro alternativo, ela não mantém o teatro senão por meio de projetos e de patrocínios. Então assim, a gente vai tentando equilibrar. 74
(...) É um espaço com arquibancadas, não em cadeiras, ele comporta
80 ¬pessoas, dependendo do espetáculo, porque ele é multiuso, então dependendo do espetáculo, até 160 pessoas já couberam aqui em festival. O equipamento é razoavelmente bom; a gente conseguiu complementar esse equipamento, porque conseguimos um prêmio do Estado, que chama Cena Minas (...). Como lá em 94 a gente quis ser útil para comunidade local fazendo espetáculos, a gente continuou com esse ‘gem’. É isso que faz a gente fazer teatro. A motivação, nosso motivo para a ação é isso, de servir, de ser útil.” A Universidade também é um espaço teatral na cidade. “O curso de Teatro tem excelentes salas de trabalho, de ensaio, salas de iluminação, salas de interpretação, salas de expressão corporal...” Irlei conta que muitas vezes os estudantes se veem obrigados a apresentar espetáculos na sala de encenação. “E a grande e boa novidade é que o teatro da UFU está sendo finalizado nesse momento. A gente acredita que até novembro vai estar pronto. Vai ficar no bloco R, lá embaixo. Já está bastante adiantado, já foi feito um excelente projeto de iluminação, sonorização, já tá bem adiantado.” “Depois que a gente assumiu aqui a DICULT houve esse movimento
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bastante positivo de criar espaços culturais dentro da própria universidade e de levar isso pra fora.” Os arquitetos responsáveis pela construção do teatro se reuniram várias vezes com a DICULT para que o projeto contemplasse as necessidades dos artistas. “O projeto já tinha sido elaborado na outra gestão, mas não tinha sido colocado em ação, então nós revisamos o projeto, modificamos algumas coisas e aí ele começou a ser feito. São arquitetos da própria UFU, que trabalham na Prefeitura de Obras.” Samuca aponta outras dificuldades de trabalhar quando se não tem um espaço próprio para isso. “Há pouco tempo teve uma oficina do Jorginho de Carvalho que é um grande iluminador de teatro e de música também, já fez coisas pra Débora Couto, pra Maria Bethânia, pra grandes nomes, Adriana Calcanhoto... a luz é dele. Ele veio para dar o curso de iluminação e foi lá para o teatro Rondon Pacheco, que era o único da cidade. E ele fica questionando a gente, como que uma cidade deste tamanho com um tanto de grupo, um tanto de gente querendo trabalhar com iluminação especificamente e só tem um tea76
tro? E é um teatro que você não tem a possibilidade de entrar nele e ir
experimentar uma luz por exemplo porque de segunda a segunda tem coisa acontecendo, porque só tem aquele espaço que o pessoal quer utilizar. Então começa por aí essa coisa do espaço é realmente algo que tá explodindo, porque a gente tem um Teatro Municipal que tá há mais de vinte anos sendo construído.” Um salário mínimo é valor pago por um dia pela utilização do Teatro. Não raro, esse valor é maior que o caixa grupos. Atualmente, a Oficina Cultural e Casa da Cultura também oferecem espaços para cursos e oficinas teatrais por meio de ações promovidas pela Secretaria da Cultura. No entanto, não se tratam de teatros, espaços devidamente equipados para a produção e realização de espetáculos, mas locais próprios para exercícios teatrais que, apesar de públicos, não tornam o teatro uma atividade artística plena em Uberlândia. Na França de 1600 as pessoas lotavam o teatro. Naquela época, os espaços eram construídos pra 2000 pessoas. “Aqui a gente tem um espaço pra 300 pessoas que a gente não consegue lotar”. Irlei lembra que em terras gaúchas é diferente. Porto Alegre, por exem-
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plo, é uma cidade que tem 17 espaços públicos de tetaro. “Lá você entra num edital e se você ganha um edital pra apresentação de espetáculo você fica 40 dias em cartaz. Aqui você entra no edital, você ganha dois dias. Só que um espetáculo, ele demanda uma produção muito grande... É figurino, é cenário, é iluminação, é trabalho de voz, é trabalho de corpo dos atores... Você ensaia quatro meses pra fazer duas apresentações? Você gasta uma fortuna pra fazer duas apresentações? Não, o espetáculo não amadurece.. Então isso é um dos fatores que prejudica muito o desenvolvimento do teatro em Uberlândia... A não existência de espaços públicos.”
Cena 4: Nem só de arte vive o homem. O homem também vive de pão. No Brasil, a realidade é que viver de arte é um desafio dos grandes. No Grupo Davi, cada integrante além de fazer teatro tem um emprego fixo ou se ocupa com trabalhos paralelos. Tião esteve envolvido com um projeto do curso de 78
Geografia da UFU até pouco tempo, montando peças sobre
meio ambiente. Forisvaldo, que também é do grupo, hoje está aposentado, mas ainda trabalha na sua agência de propagandas, que ajuda a manter o grupo. Gilson, outro integrante, está se formando este ano em Administração, mas além do teatro ele trabalha há muitos anos numa empresa de grande porte. “Enfim, o fazer teatro você tem que fazer também uma outra coisa pra você poder pelo menos comer decentemente. Se a gente fizer e vender uma peça de teatro e apresentar um mês inteiro você não consegue tirar nem um salário mínimo. É uma coisa que fazemos mesmo por prazer.” Quando o assunto é capital, Wagner é categórico: “eu falo de cadeira... o grupo Art Palco hoje é o grupo que mais arrecada dinheiro. Só que é o grupo que mais gasta com comunicação. A gente era pra ter um grupo riquíssimo hoje. A gente não nega. A gente arrecadou muito dinheiro sim. Mas vai tudo em comunicação. Pra vocês terem uma noção nosso ingresso no Center Convention custou 20 reais a inteira e 10 a meia. Na época do Teatro custava 10 e 5. O que aconteceu? A gente levou 3000 pessoas, então nós arrecadamos 30.000 reais. Nossa produção ficou 29.990,32 reais. Pode registrar: 29.990,32 reais. Foi o
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que a gente gastou com produção: 45 pessoas envolvidas, aluguel de luz, aluguel de microfone, panfleto, cartaz, outdoor, revista, ingresso, imposto, cadeira, figurino, maquiagem, pessoal, técnico, estrutura, tudo. R$29.990,32. Nós ganhamos R$500 de cachê.” Wagner defende que a classe artística deve utilizar a ferramenta do marketing a favor da arte. “Nós vivemos no capitalismo. Isso é um fato. Não dá pra negar. Não dá pra gente negar que o mundo é capitalista, que a lógica do mercado é essa. (...) Existe divulgação. Qual que é a divulgação? Mídia de massa, facebook? Vamos usar. Outdoor? Vamos usar. Panfletagem? Vamos usar. Marketing de guerrilha? Vamos usar. O Art Palco utiliza tudo isso, por isso a gente tem público. E por quê? Porque a gente pesquisa o público. Só que esse pensamento só pode ser construir a partir do momento que tiver lá dentro da academia, que é de onde saiu a grande parte dos grupos. Só pode ser construído a partir do momento que tiver uma disciplina, uma coisa, um pensamento mercadológico, que também é um pensamento.” Outro grupo que se insere nessa lógica mercadológica é o Gru80
pontapé de Teatro. “A gente divulga pela mídia impressa, por meio
da Assessoria de Imprensa, também temos uma parceria com o Correio de Uberlândia... A gente já busca, quando pensa no projeto, deixar sempre uma verba pra esse tipo de divulgação e também algumas vezes a gente faz parceria com a TV. A gente sabe que os retornos são diferentes. E a mídia eletrônica que eu acho que na verdade é a que mais tem funcionado. Quando o público vem até o nosso espaço, a gente procura também pegar o contato, para mandar e-mail e manter um relacionamento, não só pra aquele evento, mas pra ele acompanhar todos os eventos que a gente faz.” Além da atenção às estratégias de comunicação e marketing que insiram a arte na realidade social em que vivemos, os grupos também identificam uma necessidade emergente de aprender a lidar com as políticas públicas de incentivo à cultura. Ronan lembra que no curso de Teatro da UFU, quando ainda estava em vigor o currículo antigo, os alunos não tinham essa formação em gestão cultural. A formação deles era basicamente dividida entre interpretação, além da parte de pedagogia teatral. Já formados, alguns deles seriam professores de teatro e outros
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buscariam um trabalho como ator. “Mas pra esse trabalho como ator, e enquanto grupo, que era como a gente se configurava naquele momento, a gente via a maioria das alternativas associadas aos mecanismos de incentivo. E pra eu escrever um projeto, eu tenho que entender o mínimo de gestão cultural. Porque aí eu tenho que prever quais são os objetivos do meu projeto, quais as metas que eu quero alcançar, qual é meu público alvo, qual é o retorno que esse projeto vai dar pra sociedade, não só pra mim enquanto artista... Porque existe até aquele preconceito, assim... aquela ideia de que artista vive em mundo subjetivo né...E a questão da gestão cultural, ela ta ligada como essa ideia da administração, porque tem uma parte contábil, administrativa, de marketing, de prestação de contas, e é uma bagagem que nós não tínhamos na universidade. Essa nossa formação não foi autodidata, em parte... ela se deu sim em função dos nossos estudos e das experiências que nós estávamos vivenciando, mas por exemplo.. A própria Secretaria Municipal de Cultura, quando ela abre um edital pra você concorrer à lei ou ao fundo municipal de cultural, ela oferece uma formação pra que 82
os artistas tenham um entendimento mínimo do que é escrever um pro-
jeto.” Ronan explica que há inclusive artistas que não prestam conta dos seus projetos corretamente e que por isso chegam a ficar impedidos de participar outras vezes desses editais. “Então essa formação é muito importante, mas atualmente a academia não oferece, pelo menos aqui em Uberlândia. Em BH a gente já encontra Pós-Graduação na área de gestão cultural, mas ainda assim é muito escasso.” O galpão que abriga a Trupe de Truões foi uma conquista vinda, em parte, justamente de um mecanismo de incentivo à cultura, o Ponto de Cultura. “Mas na verdade esse espaço aqui, o valor que a gente investe nele é muito maior que o financiamento que a gente recebe. Então a gente tem que desenvolver várias atividades, inclusive com essa perspectiva de recolher verba, inclusive pra gente se manter enquanto grupo. Tanto que nós somos em 9 pessoas e nenhum de nós é remunerado pelas atividades que a gente faz; nós ainda não chegamos nesse nível de sustentabilidade.” As leis de incentivo “O Ponto de Cultura financia algumas atividades inclusas no Projeto que a gente inscreveu. Os professores que
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ministram as aulas nas oficinas têm uma remuneração, mas é um projeto que tem duração de 3 anos. (...) Além disso, a gente busca outros meios de incentivo. A própria lei Municipal de incentivo à Cultura de Uberlândia é um mecanismo que a gente sempre inscreve projetos na expectativa de que eles sejam aprovados, (...) já tivemos projetos aprovados pela FUNARTE, projetos aprovados na Lei Estadual de Incentivo à Cultura e até mesmo na Lei Rouanet, que é uma lei federal.” Ronan conta que hoje nenhum dos integrantes da Trupe vive exclusivamente do teatro produzido pelo grupo. Além de atores, todos são professores de teatro em escolas ou na Universidade e é com esse trabalho que cada um consegue seu sustento, além de algum recurso que contribui para manter o espaço, juntamente com o dinheiro que gerado pelo grupo. “O maior desafio é justamente pensar a sustentabilidade dentro da cultura. Porque na verdade esse termo ‘sustentabilidade’ não é específico da área cultural. Ele é um termo que está aí presente na sociedade contemporânea e que faz parte do vocabulário do mundo empresarial, inclusive. Só que a gente busca 84
hoje, em Uberlândia, saber como a gente pode se sustentar sem sair da-
qui. Porque o que ocorre com a maioria dos artistas? Eles migram. Ou pra São Paulo, ou pro Rio de Janeiro, que é o eixo onde a cultura... ou pras capitais né? Atualmente a gente pode falar de BH, Goiânia, Brasília, Curitiba, que também é possível viver de arte .(...) . É claro que a gente busca também visibilidade, digamos assim, em nível nacional. A gente já fez temporadas no Rio de Janeiro, turnês pelas cidades de São Paulo, a gente sempre participa de festivais de teatro, participamos muito de festivais do Sul... Florianópolis, Ponta Grossa...A gente tem essa convicção, esse objetivo de atuar em vários lugares, mas sem deixar o lugar onde a gente nasceu, onde a gente percebe essa carência...” A carência não passa somente pela produção de espetáculos, mas por uma necessidade de formação de público. Como um sujeito desinteressado por livros por nunca ter tido contato com o mundo da leitura, a pessoa que desconhece a linguagem do teatro acaba não se sentido atraída por ele. Por isso, a Trupe de Truões realiza um trabalho para formar espectadores. “A partir do momento que eu apresento pro meu público o espetáculo que eu faço, mas eu me coloco à disposição pra debater, pra discutir, pra falar sobre
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os processos de criação, sobre todo o trabalho que tem antes de uma peça estrear, por exemplo, esse espectador começa a entender os códigos, os signos, a própria linguagem e começa a se interessar mais, a entender que por meio do teatro ele pode acessar um monte de coisa. Eu posso fazer um paralelo, por exemplo , com as campanhas de leitura. Se eu não tenho o hábito de ir ao teatro... Se a gente for parar pra pensar, o teatro é algo que nasce junto com o homem... A partir do momento que ele existe, as várias formas de representação estão acompanhando. É uma linguagem, e portanto uma forma de comunicar, de se entender. Então o nosso engajamento vai de encontro com isso também...” E quando tem público, nem sempre ele está disposto a prestigiar a produção local. “Olha, eu sou muito enfático nesse ponto. Se é da Globo, lota. Se é nosso, não vai ninguém.” Lucas dá o exemplo dos trabalhos apresentados no projeto Boca de Cena: “São grupos maravilhosos, peças maravilhosas, e um interesse muito pouco da comunidade, por ser daqui. A história do santo de casa não faz milagre. Mas faz, muito milagre. É só a comunidade acreditar. Sabe uma coisa 86
também? A falta da grana. Tem gente que pensa, ‘ai eu vou sair daqui,
pagar duas passagens pra ir lá assistir o espetáculo? O que é isso, que é teatro?’” Além do problema do transporte, Irlei lembra de outra questão de raízes mais antigas, que fazem parte da identidade do país. “Você vai no buteco, você toma 3 cervejas mas você não paga 10 reais pra ir ao teatro. É uma questão cultural. Cultural mesmo.” Naturalmente, diante de todas as dificuldades que a classe teatral encontra para viver de arte na cidade, os grupos buscam se unir. Atualmente, essa união se dá pela Associação de Teatro de Uberlândia. Kátia já esteve à frente da ATU. “É um trabalho muito pesado e forte e não tem exatamente um retorno financeiro. O retorno é mais idealista, você vai voluntariamente por aquilo que acredita e tenta desenvolver.” No entanto, a existência de uma associação parece não ser suficiente para dar consistência aos movimentos da classe. É a opinião de Tião: “Existem muito poucos grupos que são associados hoje, eu acho que falta força. Hoje nós temos a UFU formando profissionais e a maioria deles não procura a ATU e às vezes acha que ela nem é importante. Hoje os grupos são muito cada um na sua. Embora eu
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ache que a ATU ainda é o que representa o teatro em Uberlândia.” Para Lucas falta união: “Eu vou ser muito sincero. Eu acredito que Uberlândia conseguiu muito nesse período todo para o crescimento do Teatro. Tem uma Associação de Teatro, que poderia ser muito mais atuante se os grupos se unissem e fossem até ela. Ela tá lá pra isso”. No ponto de vista de Ronan é preciso relativizar essa desunião. Ele entende que mesmo com os núcleos de debates de políticas públicas promovidos inclusive pela Secretaria Municipal de Cultura, os artistas da cidade ainda enfrentam um dilema: “Diante da necessidade do sustento individual e do sustento do espaço não nos sobra tempo pra participar das discussões, dos debates. A gente reconhece a importância, a gente sente a necessidade, nós inclusive somos um grupo que gera esses momentos dentro das nossas atividades, de debate, de integração com outros grupos, de espaço de discussão... Só que por ter que sustentar o trabalho que a gente produz, o tempo fica restrito pra participar desses grupos de discussão, de tudo isso”. O apreço pela arte, como gostar de ir ao teatro, pode não ser 88
nato a todos. Mas é um hábito cultural, e como tal, pode ser
adquirido, lapidado, incentivado por meio de mecanismos que encorajem seu consumo e financiem sua produção com qualidade. “Tendo lugar para os grupos de teatro apresentarem, tem temporada. Tem temporada, tem salário. Tem salários, esses grupos de teatro têm emprego. Elas não precisam mais trabalhar em paralelo. O que aumenta a qualidade e a quantidade daquilo que é produzido. Se aumentou a qualidade e aumentou a quantidade, vai rolar mais dinheiro. A divulgação aumenta. Novos projetos podem surgir. E as pessoas vão começar a procurar o teatro”. Nem só de arte vive o homem, mas a arte é um alimento diferente, daqueles que nutrem a alma. É forma de expressar-se, comunicar-se, de refletir, questionar e realizar transformações. A arte é, em sua essência, uma forma democrática de tocar a todos; cada um se sensibiliza a seu modo, mas ela sempre encontra um jeito de sensibilizar a todos. “A arte tem a questão que ela é um hospício né... a gente não tá muito naquela expectativa de enriquecer fazendo teatro. A gente acredita nessa arte que a gente faz e a gente sabe que por meio dela é possível fazer muitas transformações. Na nossa
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vida, na vida das pessoas, trazer um retorno pra comunidade que recebe nossas apresentações, que acredita no teatro que a gente faz.. Isso tudo é muito importante pra gente.”
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ATO 4: A arte que muda a vida C ena 1: Saçaricando. Na Índia
existiu um homem rico, com anos de estudo e plena convicção do que
queria. Ele dizia a seus pais que não faria nada da vida enquanto desconhecesse o interior do país, onde as pessoas viviam na miséria. Eles ficaram amedrontados com a ideia de seu único filho viajar por aquelas terras, e temeram o que pudesse acontecer com ele. O rapaz, maior de idade, resolveu fazer um tour. Por vários dias percorreu as terras indianas que revelaram uma realidade nunca vista por ele. Ao retornar para casa, avisou aos pais que trabalharia no interior da Índia, deixando-os mais aterrorizados. O homem havia percebido potencial em uma cidadezinha indiana, aonde sequer chegava energia elétrica... O povo dessa região era dotado de uma riqueza que não se media em dinheiro, mas em sabedoria de vida. Em 1972, ele fundou ali um centro de ensino, a Universidade dos Pés Descalços. A Universidade tinha uma regra: os professores teriam de ser leigos, sem educação formal. Eram anciãos, repletos da sabedoria popular. E assim foi feito! A Universidade dos Pés Descalços trouxe de94
senvolvimento para a região. Enganam-se aqueles que reduzem
o desenvolvimento àquela adotada pelos países e grandes conglomerados econômicos que hoje dominam o cenário mundial. Há outras formas de alcançar o desenvolvimentos. Na cidade dessa história, tudo foi trazido de forma natural: as construções, a rede de água... Toda a estrutura da cidade era feita de maneira diferente, para valorizar o que o local tinha a oferecer. A mudança drástica, e positiva, da cidade inspirou outras regiões da Índia a fazer o mesmo. Muitos procuraram o homem que fundou a Universidade dos Pés Descalços para aprender a “fórmula”. Ele negou a todos. Argumentava que quem poderia ensinar a eles o que queriam saber seria o povo daquela cidade, não ele próprio. Ele começou então uma busca pela pessoa para poder repassar o conhecimento. Veio então a descoberta: as pessoas com mais capacidade para transmitir tudo aquilo eram as mulheres, em especial as avós. Mais pacientes e sábias, as mulheres não guardavam o conhecimento para si, mas queriam que ele durasse por várias gerações.
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Um desafio que pode parecer novo, mas é uma das formas mais antigas de passar conhecimento. São as chamadas tradições, em que a sabedoria é passada de boca-a-boca, de um para o outro. Essa não é uma particularidade da Índia; houve um tempo que, no Brasil mesmo, o mais comum era que o filho, desde pequeno, aprendesse o ofício do pai, enquanto as meninas aprendiam as tarefas do lar com as mulheres. Lendas, mitos, folclore, e outras formas de manifestações culturais foram sendo repassadas durante séculos. Respeitar os mais velhos então, era essencial. Ouvir o que eles tinham a dizer, aprender com eles, e o mais importante: não romper a tradição. Sempre que se aprendesse algo, se passava adiante. Só que a ânsia pelo poder dinheiro fez o mundo mudar. Pessoas foram se especializando, estudando, e fazendo de tudo para atribuir valor ao conhecimento, tanto financeiro quanto de relevância social. Até o conhecimento virou mercadoria. A sabedoria popular foi sendo marginalizada, “guardada” num armário 96
empoeirado, como as vitrolas e fitas cassetes que um dia já foram
moda... Até que esse tipo de sabedoria passou a ser considerado quase obsoleto. O lugar do ancião passou a ser em casa, na cadeira de balanço, cuidando dos netinhos ou jogando baralho. Um velho não poderia se misturar com um jovem, como água e óleo! É como se fosse crime um idoso ter a mente jovem, ter vontades, desejos, amar, sonhar... Impossível sonhar quando velho! Não há tempo de poder realizar os sonhos, não é? Na verdade, nessa cidadezinha provinciana com ambição de capital chamada Uberlândia - que é o cenário da história desse livro - há um grupo de idosas que vive um sonho: O teatro. À beira da morte, como muitos poderiam pensar, essas mulheres carregam vida no olhar, inclusive no nome do grupo Os Mais Vividos. Aposentadas, avós, mães, elas se reúnem em um lugar chamado Sesc. É lá que mulheres como a Pipoca, Militina, entre outras, se tornaram atrizes. Apresentam peças teatrais por toda a região e estão em turnê, este ano, pelo Brasil. A fundadora do grupo
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foi Léia Araújo Barbosa, mulher escolada, formada e professora de artes cênicas aposentada da UFU. Léia gosta de mesclar arte com educação. Ela formava grupos que incentivavam a participação de todos. Já aposentada, Léia trabalhou com uma ONG para ajudar adolescentes por meio do teatro. “Aí eu recebi um convite. Pimba! Saí da adolescência e caí na terceira idade.” Léia começou a contrariar o senso comum. “Velho (pros outros) tem que usar tons claros, por que ele já é considerado na sociedade um morto aos 50 anos. As coisas estão mudando agora né, mas ele (o velho) era (considerado) morto, e porque que um morto ele precisa ter cor? Então assim, pra combinar com o velho é um cinza clarinho, é um bege clarinho, então quando a gente vem e coloca muita cor, a gente quando vê a vida dessas pessoas, a gente também quebra esse paradigma que chega numa determinada idade a gente já está pronto pra morrer. Pelo contrário, a gente só morre quando perde o sonho, isso é pra qualquer idade.” Apesar de ter suas dificuldades, Os Mais Vividos tem uma van98
tagem em cima dos outros grupos teatrais de Uberlândia. São
um projeto do Sesc. “O Sesc é um parceiro e tanto , parceiro e dono, porque ele que é o realizador do projeto. Eu diria assim, o SESC também tem as dificuldades, porque os projetos são todos de Belo Horizonte, mas dentro das possibilidades locais eles são os responsáveis e ficam firmes atuando junto conosco, nos protegendo, nos conduzindo, e muitas vezes falta dinheiro. Falta patrocínio, mas aí a gente corre atrás de outros amigos, como UFU, a PROEX que nos patrocina demais, que nos ajuda demais. Nós temos outros também, outros patrocinadores, esses são os amigos, são os que amam e (os) que quer(em) ver a coisa ir pra frente.” Predominantemente feminino, com a exceção de um homem, Os mais Vividos já fizeram um espetáculo especial sobre o mundo feminino. “Mulheres, Essas Mulheres”, foi um trabalho que a gente resgatou, porque a gente só tem mulher, a maioria é mulher, só tem esse homem. Eles não embarcam na nossa história. Trabalhar com a terceira idade trouxe à Léia e aos integrantes uma visão diferente. “A gente começou a achar que envelhecer é uma coisa normal, mas a gente pode assim envelhecer com qualidade. E aí
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nós começamos a escrever sobre isso.” Elas fazem os textos do espetáculo, e, quando lhes faltam palavras, buscam em algum autor ou autora que já disseram o que elas desejam. Das atrizes, as mais antigas são Maria Bendetira, carinhosamente apelidada de Pipoca, e Militina, amigas de Sesc há anos. As artistas estão no grupo de teatro desde a sua fundação. Para Militina o Sesc teve sua época de ouro, a da dona Íris - aquela mesmo que fez parte da história de Lucas, o menino curioso que espiou pela fechadura... - “A dona Íris era uma diretora especial, ela arrumava muitas atividades boas pra gente”. Militina é uma professora aposentada, que leva o teatro desde sempre. “Eu sempre gostei de teatro, porque quando eu lecionava eu fazia muito teatro com os meus alunos, daí eu mesma gravava né. Eu fazia diariamente teatro lá na minha sala.” Aos 89 anos, ela ainda não deixou as artes cênicas de lado. Representa com dedicação e leva o troféu de mais velha do grupo. Agora, a Pipoca é uma mulher de 88 anos com fôlego de criança. Carrega esse apelido por parecer que alguém a esqueceu 100
ligada na tomada, e saltita. Saltita incessantemente ao narrar sua paixão pelo teatro, construída desde pequena. O avô dela abrigava a avó de um menino em sua fazenda, menino este que hoje é conhecido como Grande Otelo. Como se não bastasse, ela ainda mora ao lado do teatro que leva o nome dele! Desde moça se emociona com as peças teatrais. Ela não é só espectadora do mundo do espetáculo: participou de vários carnavais, e agora está no teatro, pulando sem parar. “Agora eu gosto do Teatro. Ixii, muito melhor!” O seu jeito serelepe contradiz o que muitos achariam sobre a idade dela: ela fala, pula, dança e representa... Tudo ao mesmo tempo. O grupo ainda tem muito chão pela frente. Léia gosta de primeiro apresentar em casa, no Sesc de Uberlândia, para aprovação da maturidade da peça. Essa segurança é a garantia para iniciar a turnê pelos Sesc’s de outras cidades. “Nós apresentamos aqui, fazemos uma temporada e com todos os aparatos do espetáculo: iluminação, (aqui) tem os data-shows, tem tudo isso. (...) Aí depois a gente vai passeando. Como nós estamos já na segunda temporada então 101
nós estamos nos arredores.” Esse grupo de mulheres, e um homem, viajou por algumas cidades para apresentar o espetáculo. “(Já fomos para) Campina Verde, Ituiutaba, Araguari, Tupaciguara, fomos pra Belo Horizonte, agora vamos pro Rio de Janeiro. Só onde tem as unidades do SESC, talvez vamos a Belo Horizonte de novo, Araxá, Uberaba e Paracatu. (...) Agora nós estamos fazendo uma coisa que vai ficar muito bom pro nosso coração, nós vamos apresentar nos distritos(de Uberlândia). (...) Vamos pra Cruzeiro dos Peixotos, pra uma escola de lá, vamos pra Martinézia, vamos pra Miraporanga e vamos pras escolas rurais da prefeitura.” Por onde passam deixam o seu legado. Assim como a Universidade dos Pés Descalços, passam sua sabedoria adiante e levam sua fórmula de vida onde for necessário. “Nós já ajudamos a criar muitos grupos de terceira idade aqui na região. A gente vai lá, mostra o nosso trabalho, e daí pra frente eles começam também a trabalhar.”
Cena 2 Tempo da emoção. No princípio dos tempos sur102
giu um Deus que se formou sozinho: Chronos. Ele era um ser bem estranho que possuía calda de serpente e três cabeças: uma de homem, uma de touro e outra de leão. Conheceu uma moça chamada Ananke e se uniu a ela, a deusa da inevitabilidade. O romance dos dois deu início ao universo, a Terra, ao céu e ao mar. Choros possui vários nomes, dependendo da cultura que o apresenta. É conhecido como Khronos, Eón ou Aión. Mas todos significam a mesma coisa: o tempo. Esse tempo do relógio, das estações, o impossível de parar. O tempo do atraso, da lógica, da pressa... E o mundo foi assim, criado pelo cruzamento entre o tempo corrido e a inevitabilidade. Se a mitologia imita a realidade ou a realidade a mitologia, isso não importa. A questão é que é essa mistura resultante no inevitável tempo da correria é um retrato perfeito da sociedade contemporânea. As pessoas parecem estar sempre sem tempo, correm atrás do dinheiro como se ele fosse de algum modo criar pernas, fugir e nunca mais voltar! Apressados, começaram a des103
perdiçar o tempo, e muitos passaram a trabalhar a vida inteira até poder usar o tempo da forma planejada. O tempo do Kairós foi esquecido na correria da vida. Kairós, filho de Chronos, que em nada puxou o pai. O menino era paciente, esperava o momento certo das coisas, a oportunidade perfeita! Kairós ficou conhecido pelos gregos como o tempo da emoção, do sentimento, de aproveitar. E sempre se travou uma batalha constante entre os dois tempos. Hoje é indiscutível a vitória de Chronos. Mesmo a cultura que tem que tem um tempo próprio de acontecer não tem seu tempo respeitado. Aline acha que Uberlândia é uma cidade que costuma dar prioridade muitas vezes à viadutos que a espaços culturais. É costume na cidade querer que a cultura também se apresse, em prol do “progresso”. “A cultura pára pra pensar, a arte faz você parar e pensar um pouco, então isso não é interessante.” As pessoas chegam a esquecer a existência de Kairós, deixam de refletir, esperar, sentir. Só começam a usufruir a vida quando se aproximam da morte. Léia já pode hoje perceber a vida de um 104
jeito diferente, tem tempo para aproveita-lá do jeito que quiser. Para se falar que vive, é preciso “o tempo da leveza, do sentimento, do coração.” Ela acabou deixando de lado o tempo que adoece, de quem só sobrevive e não vive mais. Não foi só ela que conseguiu perceber isso. Viver no tempo do Kairós tem suas vantagens. Léa conta que Os outros membros do grupo usufruem de benefícios suficiente para não deixarem mais o teatro. “Aqui nós temos (...) (mulheres) que estão desde o primeiro espetáculo, elas estão ainda aqui, isso aqui é tudo na vida delas. (...) é porque elas estão projetando na alegria, no prazer, e no bem sucedido. (O Teatro) Tá dando certo na vida delas. Aí não tem doença, aí não tem que tomar tanto remédio assim, elas tem disponibilidade pra levantar, pra viajar (...)”. Até o público conquistado no tempo mudou de opinião. “No começo eles achavam que era um trabalhinho, um teatrinho, que é uma coisa pejorativa também, sem o cuidado do espetáculo, achavam que aqui teriam que ter os olhos do vovozinho de enxergar já com o coração, por que eles iriam errar, às vezes escorregar em cena e eles teriam que 105
desculpar. Ouvi isso muito.” Só quando percebem a grandiosidade e a seriedade do espetáculo que entendem: “‘Nossa é uma lição de vida’, por que quantos jovens estão morrendo na droga, ou dentro do quarto deitados e tudo mais, tem essas pessoas aqui que estão produzindo, retardando o envelhecimento e se sentindo vivas nesse planeta.’” Eles ensinam como se deve viver. As peças desse gruo de “jovens velhos” possibilitam um olhar diferente sobre a vida e sobre o envelhecimento, e exigem dos espectadores momentos de reflexão para pensar a respeito do tema. “Esse é o nosso trabalho, esse é o nosso objetivo, através da arte proporcionar um envelhecimento diferente.” Cativam o público por onde quer que passem. “Eles recebem muito bem, abraçam, com carinho, com afeto, com ternura, e sempre trazem pra nós essa aceitação que ‘Vocês estão dando exemplo pra nós.’” Exemplos. Bons exemplos devem ser seguidos. Pessoas com mais vivência costumam ter o que contar. Sendo por exemplos ou contra-exemplos, mostram através da sua experiência o modo certo de se viver a vida. Lembrar de Kairós é essencial. É sempre 106
bom perceber isso antes que Chronos tenha te consumido e não haja mais tempo de viver de verdade. É essa temática que o mais recente espetáculo do grupo que mostrar. A arte ensina, educa e as peças teatrais do grupo Os Mais Vividos ensina que viver não tem idade.
Cena 3 O Patinho Preto. “Eu vi um cara, um catador, que uma vez viu a peça da Alice no país das maravilhas. E o chapeleiro maluco ele é um mendigo, então o cara se identificou tanto com o mendigo que ele chorou, e a hora que o coelho correu atrás dele falando que ia bater nele, ou algo assim, o cara voou na cena e abraçou o mendigo e falou: ‘Não, você não vai fazer isso com ele...’, e chorava... ‘Por favor!...’.” Era como se Samuca estivesse revivendo o momento e assistindo a cena. São inúmeras as emoções trazidas por uma peça. O teatro é no Brasil uma forma de mostrar a realidade. É como aquela frase: A arte que imita a vida. E assim, pessoas se projetam e se iden107
tificam em peças, com o mocinho, com o bandido, com o vilão ou o sentimento retratado ali. O público do teatro não precisa ter formação. O teatro começou na Grécia, apresentado nas ágoras para toda a população. Qualquer um podia assistir teatro, crianças, velhos, jovens, adultos. Não importava. Originalmente o teatro era uma espécie de ritual religioso em que se contava as histórias dos deuses. Sendo para os Deuses ou para o homem, o teatro é a forma de expressar sentimentos, sensações, de criticar a vida e refletir sobre ela. É como na história do “Patinho Preto”, que Lucas Nascimento participou dela. “Era um espetáculo que trabalhava em cima do problema racial.” A peça contava a história de uma família de brancos, uma de amarelos e outra de negros, cada um com uma função na sociedade. “Então tinha ali um contexto em que se trabalhava de forma lúdica o racismo, a diferença entre as raças, a indiferença dos brancos para com os negros.” Um tipo de peça de retratava mesmo os problemas sociais, e fazia o público refletir. “Era um trabalho muito lindo.” 108
O teatro ensina, educa, e, como toda forma de comunicação, transmite mensagens. Com essa função em mente, Léia trabalhou com várias ONGs de adolescentes e até mesmo de aidéticos. “A gente tava sempre mantendo essa questão de levar alguma mensagem ou sobre AIDS, ou sobre problemas na adolescência. (...) Tentando organizar a vida pra que eles fossem melhores nesse planeta, nesse Uberlândia. (...) Sempre ou instruindo ou levando o teatro como elemento mais transformador daquilo que está existindo .” Mesmo com o teatro sendo capaz de educar enquanto entretêm, espaços como o Teatro Rondon não atingem sua lotação em várias peças teatrais. Irlei acredita que o problema está na educação de base, que não foi ensinado a essas pessoas a importância do teatro. “Acho que a solução seria começar com as crianças. Pra mim a solução começa com as crianças. Começa lá na pré-escola, levando a teatro, levando a museus, levando a cinema, mostrando coisas boas, ensinando a ler, ensinando a descobrir o prazer da leitura através da poesia infantil, do conto infantil... pra mim a única saída é essa. É começar com a criança. Tanto que a Dicult, a gente tem aqui um pro109
grama que chama ‘Ciranda Cultural’ que nós vamos a quatro bairros todo sábado levar teatro, música, cinema e contação de histórias pra despertar nessa população dos bairros esse interesse...” Assim, as pessoas podem começar a se interessar pelo teatro. Um tipo de arte que não distingue cor, gênero ou idade, nem no público, nem nos atores. Cada um escolhe a forma como quer se expressar. Os Mais Vividos escolheram o teatro. “Temos pessoas de todos os níveis Tem uma senhorinha que é analfabeta, então como que ela reproduz o texto dela? Ela repete. Por repetição a gente memoriza. Tem pessoas que tem início de esquecimento, outras a atenção é um pouco a desejar. Outras é por saúde mesmo. Mas, como é um trabalho giratório humanizador, ele não pôde discriminar ninguém.” É uma forma de manifestação cultura, que entretém, educa, critica, expressa, inclui socialmente e não discrimina. Falta pensar em outro tipo de desenvolvimento, como fizeram na história da Índia da primeira cena deste Ato. Aline torce para que essa forma de pensar e agir dos políticos uberlandenses mude. Para ela Uberlândia é uma cidade “que prioriza o crescimento, que prioriza o 110
progresso. E quem prioriza o progresso infelizmente não dá importância à cultura.”
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Extras Teatro São Pedro
Inaugurado em 1909 o São Pedro foi o primeiro theatro
(na época escrito assim, com th) de Uberlândia. Contudo, o espaço tinha o cinema, e não o teatro como atividade principal. A iniciativa da construção foi do Capitão Custódio da Costa Pereira, um rico comerciante de implementos agrícolas da época. Era localizado na Rua Felisberto Carrijo e ficou em funcionamento até o fim da década de 20. 113
DICULT
A Diretoria de Cultura da UFU, idealizada pela professo-
ra Lucimar Belo, foi institucionalizada em 2009 com o objetivo de fazer uma ponte de ligação entre a cultura acadêmica e a cultura da comunidade. Além disso, a Dicult nasceu para mostrar para o público externo as ações culturais produzidas dentro da universidade, viabilizando e incentivando a criação dos projetos que estão voltados para a área cultural, pensando na arte, na educação e no lazer como meio de inclusão. Irley Margarete Cruz Machado é a atual diretora. Tel. 3239-4332
ATU
A Associação de Teatro de Uberlândia foi criada em 1981
com o objetivo de representar a classe teatral da cidade.Para promover as discussões sobre o fazer teatral a ATU promove diversos eventos na cidade a fim de aproximar os artistas e a comunidade. É uma entidade cultural, sem fins lucrativos, mantida com subvenção da prefeitura e de projetos do governo. A asso114
ciação fica localizada no Mercado Municipal, na Rua Olegário Maciel, nª 255, Box 48. A atual presidente é Ana Flávia Felice Nunes. Tel. 3222-7271
Eventos de teatro em Uberlândia Uberlândia é um prato cheio em se tratando de eventos artísticos. Alguns eventos com periodicidade regular transformam a cidade em um verdadeiro palco a céu aberto, ocupando praças e ruas com suas atividades. Confira alguns dos principais: Mostra nacional de teatro – organizado pela ATU FATU (festival da ATU) - 3ª edição em 2011 Ruínas Circulares – Organizado pela professora do curso de artes cênicas da UFU, Yaska Antunes, com o apoio da ATU. 4ª edição em 2012 Férias na ATU - circuito de espetáculos oficinas e performances durante uma semana Quinta na ATU – projeto que trazia eventos em uma quinta – feira do mês
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Mostra Infanto Juvenil – O diretor geral é Wellington Menegaz De Paula , apoio da ATU AnimaUDI – Festival de teatro de bonecos organizado pela Irley Machado.
Grupos de teatro em Uberlândia
Não há como saber ao certo quantos grupos de teatro
existem na cidade. Alguns deles são anônimos e não possuem nenhuma ligação com a associação de teatro. Outros começam e terminam tão rápido que não chegam a ficar conhecidos. O cenário teatral de Uberlândia é inconstante e o corpo artístico também. Segue um levantamento dos grupos que conseguimos encontrar:
Atos; Confraria tambor; Trupe de truões; Grupontapé
de Teatro; Trupe Tamboril; Faz de Conta; Grupo Di-ferente; Grupo autônomos de teatro; Grupo Davi; Anjos e companhia (antigo anjos da alegria); Os mais vividos; Coletivo teatro da margem. 116
Praça Clarimundo Carneiro
Foto: http://www.correiodeuberlandia.com.br
Acredite se quiser: a Praça Clarimundo Carneiro foi o 2º
cemitério de Uberlândia, funcionou de 1881 até 1915. Os moradores da região ficaram preocupados com as doenças transmitidas pelos bichos e resolveram demolir o cemitério para construir um jardim que posteriormente seria a Praça da Liberdade, depois Praça Antônio Carlos até o nome atual, Praça Clarimundo carneiro. Em 1917 foi construído no local o Paço Municipal, que alocou a Câmara e a Prefeitura de Uberlândia. O projeto e 117
a obra foram assinados por Ciprano Del Fávero, foi a primeira construção de dois pavimentos da cidade. O prédio recebeu o nome de Palácio dos Leões. Desde agosto de 2000 o edifício abriga o Museu Municipal.O Coreto da praça foi construído pela população, sem a ajuda da prefeitura. O conjunto Praça, Palácio e Coreto foi tombado como Patrimônio Histórico do Município em 1985. O local é um dos pontos turísticos da cidade e até hoje recebe diversas atividades culturais. Fonte: http://www.museudapessoa.net
Cine Vera Cruz O Cine Vera Cruz foi inaugurado em 8 de outubro de 1966. A construção do prédio, projetado pelo engenheiro Nelson Gonçalves Prado, teve início em janeiro do mesmo ano, durante o processo de urbanização da Vila Operária, atual bairro Aparecida. O primeiro filme visto na tela do Vera foi “Duelo na Cidade Fantasma”, estrelado por Robert Tayor e Richard Widmark.O cinema possuía capacidade para 374 pessoas e ficou em funcio118
namento até o ano de 1977. Em 1985 o prédio foi vendido para a prefeitura de Uberlândia e em 30 de junho do mesmo ano foi inaugurado no local o Teatro Vera Cruz. Em 1993 o teatro teve uma mudança de denominação em homenagem a um grande ator nascido em Uberlândia: nascia o Teatro Grande Otelo. Fonte:http://vamosaoteatrograndeotelo.blogspot.com.br/
Programa Nacional de apoio à Cultura (Pronac) Em 23 de dezembro de 1991, com a lei nº 8.313 (conhecida como lei Rouanet), o governo federal cria o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). Este institui políticas públicas que visam a promover e valorizar as expressões culturais nacionais. A grande crítica em relação ao programa é que ele não propõe um investimento direto do governo para a cultura. Com uma política de incentivos fiscais o Pronac apenas incentiva empresas e pessoas a investirem nos projetos artísticos e culturais. Desta forma os patrocinadores que escolhem qual forma de cultura merece incentivo e não há uma distribuição imparcial dos recursos.
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Casa da cultura
O prédio da casa da Cultura foi construído entre 1922
e 1924 para ser um palacete da família do Coronel Eduardo Marquez. Em 1936 foi comprada pelo Dr. Laerte Vieira Gonçalves, que a transformou em um hospital – a Casa de Saúde e Maternidade, que funcionou no local até os anos 60, quando foi adquirida pelo Governo do Estado. Na época foi instalada no local a Delegacia de Polícia Civil. Somente em 1985 o prédio foi transformado na Casa da Cultura. Após diversas reformas o local abriga hoje diversas atividades artísticas e culturais. Entre os principais projetos estão o In Cantus e o Presépio de Natal. O local é tombado como Patrimônio Histórico Municipal. Fonte: http://www.uberlandia.mg.gov.br/
Programa Municipal de Incentivo à Cultura Criado pela lei de nº8.332 em 11 de junho de 2003, o programa vinculado à Secretaria municipal de Cultura têm a finalidade de disponibilizar recursos para os projetos artísticos e culturais 120
da cidade. Utilizando o Fundo Municipal de Cultura (criado também pela mesma lei) e a Concessão de Incentivos Fiscais a Projetos Culturais o plano de incentivo viabilizou diversas atividades desde a sua criação. Para conseguir o apoio do programa os artistas são submetidos à avaliação de uma comissão específica e precisam prestar contas de como a verba foi empregada.
Os Mais Vividos do Sesc O grupo Mais Vividos do Sesc foi fundado em 1978 para proporcionar à terceira idade diversas atividades que promovem a saúde física, mental e social. Atualmente são 400 inscritos que participam do grupo de teatro, praticam vôlei, cantam no coral. O Sesc oferece ao grupo palestras, dinâmicas, feiras de saúde e várias outras ações. Para participar é necessário ter mais de 55 anos. O clube cobra duas taxas, uma de R$25 anual e outra de R$25 semestral. A matrícula é feita na sede do Sesc na Rua Benjamim Constant, nº 844 no Bairro Aparecida. O atendimento é de 2ª a 6ª das 10 às 18:30h. Tel. 3212-9099.
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Referências Teatro Grande Otelo será demolido http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/ teatro-grande-otelo-sera-demolido/
Comissão definirá futuro do Teatro Grande Otelo http://www.correiodeuberlandia.com.br/cultura/comissaodefinira-futuro-do-teatro-grande-otelo/
Grande Otelo não corre risco de desabamento http://www.correiodeuberlandia.com.br/cultura/grande-otelonao-corre-risco-de-desabamento/
Grande Otelo será reconstruído http://www.correiodeuberlandia.com.br/cultura/grande-otelosera-reconstruido/ 123
Classe artística faz manifestação na Câmara http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/classe-artistica-faz-manifestacao-na-camara/
Teatro Grande Otelo não pode ser demolido http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/ teatro-grande-otelo-nao-pode-ser-demolido/
Procurador do Município pedirá inspeção judicial no Grande Otelo http://www.correiodeuberlandia.com.br/cultura/procuradordo-municipio-pedira-inspecao-judicial-no-grante-otelo/
Juiz determina reforma no Teatro http://www.correiodeuberlandia.com.br/cultura/juiz-determina-reforma-no-teatro/
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Obras de construção civil do Teatro Municipal devem ser concluídas neste ano http://www.correiodeuberlandia.com.br/cultura/obras-doteatro-municipal-de-uberlandia-devem-ser-concluidas-neste-ano/
PMU recebe incentivo financeiro para o Teatro Municipal http://www.correiodeuberlandia.com.br/cultura/pmu-recebeincentivo-financeiro-para-o-teatro-municipal/
Obra do teatro recebe mais verba http://www.correiodeuberlandia.com.br/cultura/obra-do-teatro-recebe-mais-verba/
Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura (Edvaldo Pereira Lima) 125
Grande Otelo: uma biografia (Sérgio Cabral)
Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC) http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L8313cons. htm#art31a
Chronos e Kairós Wikipedia, a enciclopédia livre.
Secretaria Municipal da Cultura sobre Teatro Grande Otelo http://www.uberlandia.mg.gov.br/?pagina=secretariasOrgaos& s=23&pg=446
Fotos da manifestação do MUDI http://paginacultural.com.br/?s=teatro+grande+otelo 126