Do derbake ao tereré

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

DO DERBAKE AO TERERÉ: A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DE FAMÍLIAS LIBANESAS EM CAMPO GRANDE

BÁRBARA STASZYK CORSINI VERSOLATO ISABELA ILKA CELESTE PEREIRA LEAL DE SOUZA NOGUEIRA ROSÁLIA DE OLIVEIRA PRATA

Campo Grande NOVEMBRO /2013


DO DERBAKE AO TERERÉ: A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DE FAMÍLIAS LIBANESAS EM CAMPO GRANDE

BÁRBARA STASZYK CORSINI VERSOLATO, ISABELA ILKA CELESTE PEREIRA LEAL DE SOUZA NOGUEIRA, ROSÁLIA DE OLIVEIRA PRATA

Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social / Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. (para produtos)

Orientador (a): Profª. Dra.Daniela Ota

UFMS Campo Grande NOVEMBRO - 2013



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SUMÁRIO

Resumo .............................................................................................. 05 1 - Alterações no plano de trabalho ....................................................... 06 2 - Atividades desenvolvidas ................................................................ 07 . 3 - Suportes teóricos adotados ............................................................. 12 3.1 - POVO ÁRABE ...................................... ........................... 14 3.2 - MIGRAÇÃO LIBANESA NO BRASIL ........................... 17 4 - Objetivos alcançados ..................................................................... 25 5 - Dificuldades encontradas ............................................................... 26 6 - Despesas (orçamento) .................................................................... 27 7 - Conclusões .................................................................................. 28 8 - Apêndices ................................................................................... 30


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RESUMO: A cultura libanesa é expressiva em Campo Grande. Com representatividade em manifestações culturais, gastronômica e educacional importante em Campo Grande. O objetivo da pesquisa é mostrar as diferenças culturais e contribuições dos libaneses para os campo-grandenses. O trabalho aborda tópicos de formação educacional, familiar e alimentar no âmbito dos costumes. Na busca para preservar a veracidade do conteúdo e abranger todos os tipos de público, o rádiodocumentário foi o meio escolhido para manter a oralidade, transmitir as interpretações e adaptações dos árabes com relação a cultura local. Para o desenvolvimento do trabalho foram feitas pesquisas em revistas, em livros e em documentos do Arquivo Histórico de Campo Grande (Arca) além de seis entrevistas.

PALAVRAS-CHAVE: Rádio-Documentário – Libaneses – Manifestações culturais


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1- ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO A pesquisa sofreu alterações na escolha das fontes. Outrora, o foco abrangia a cultura do Paquistão, do Líbano e da Turquia. Contudo, optamos em limitar para, somente, o libanês. Consequentemente, modificou-se o questionário das entrevistas. Além de centralizar as sonoras dos migantes Libaneses e de tornar secundárias as sonoras dos descendentes.


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2- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Nos meses de julho e agosto de 2013 coletaram-se fontes secundárias no Arquivo Histórico de Campo Grande (Arca), da Biblioteca Isaías Pain, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos sites da Embaixada do Líbano e do Instituto da Cultura Árabe. Além disso foram feitas entrevistas com representantes do Grupo Litani, do Iracabe, do ArabeQ e do Restaurante Ariche e Manura. Sendo, também, um dos apoios científicos de estudo o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Dança do Ventre e Estudo Árabes desenvolvido pela professora de Dança do Ventre, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Mayra Procópio. Neste TCC foram extraídas algumas informações sobre costumes domésticos, identidade da mulher árabe e dança do ventre. Os Libaneses ao chegarem em Campo Grande, no início do século XX, começaram a trabalhar como ambulantes, vendiam objetos de uso doméstico. Por isso, eram chamados de Mascates. Só depois de anos de economia, os mascates compraram as primeiras lojas comerciais. As lojas árabes concentravam-se no centro da cidade por causa da antiga estação de trem. A Avenida Calógeras, uma das mais antigas ruas da capital, foi um dos grandes pontos de comércio árabe. Hoje, a avenida encontra-se “sem vida” e ocupada por construções velhas e abandonada. Mas, na primeira metade do século XX, a história da Calógeras abraçava um comércio intenso de barracas e lojas de sapatos de donos “turcos”. Foram nessas ruas antigas da Capital e de principal comercialização dos árabes que encontramos e entrevistamos as famílias libanesas. Vale ressaltar, também, a forte presença de imigrantes Paquistaneses, Sírios e Palestinos no local. O primeiro entrevistado foi Munir Saad, proprietário do Restaurante e churrascaria Manura localizada na Av. Mato Grosso. Aproveitamos a oportunidade do funcionamento do restaurante e coletamos imagens de comidas típicas libanesas, além da sonora com o responsável do Manura. O segundo entrevistado veio aos 13 anos para o Brasil. Com pouco sotaque Libanês, Ali Ahmad Omais, um exemplo de comerciante que iniciou o trabalho como Mascate, há mais de quarenta décadas é proprietário da Loja Fofinho Baby. A terceira entrevistada, dona de uma casa decorada com móveis e objetos libaneses, Marie Rose Jabbour Sleiman, vice-presidente do Clube Libanês, pode demonstrar um pouco dos costumes e tradições árabes presentes em sua história e residência.


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O quarto entrevistado, com menos tempo de Brasil entre os seis entrevistados, Ahmad Salem Ali Al Akra, proprietário da Loja Katatau, veio para o Brasil aos 27 anos. Formado na Arábia Saudita em Engenharia, Salem aprendeu com as novelas e comércio a falar o português. Eid Toucfic Anbar, presidente da Associação Monte Líbano e Samia foram os últimos entrevistados. 2.1 PERÍODO PREPARATÓRIO: Houve reuniões com a professora Daniela Ota entre final de julho, início de setembro e novembro. Nos encontros foram definidos uma melhor estrutura da abordagem em campo onde se desenvolveu um questionário contendo oito perguntas focadas nas manifestações culturais, questões históricas, sociais e suas diferenças com o local. As leituras dos livros Migração Árabe, Migração Árabe no Brasil (1972), Líbanos e Libaneses no Brasil (1960) do autor Tanus Jorge Bastani foram estudadas antes das pesquisas em campo. O grupo se reuniu para discutir artigos retirados do site da Embaixada do Líbano. Posteriormente, coletou-se informações da Revista Arca (1980) de Campo Grande nº 4 e 5 em que com grandes reportagens sobre os árabes em Campo Grande. Por optar pelo rádio-documentário como meio de divulgação do conteúdo, os autores, Robert McLeish e Heródoto Barbero (2001) foram importantes pilares para a construção do roteiro e aplicação das técnicas radiofônicas. Durante todo o processo de estudo foram lidos trechos de livros para melhor construção dos questionários e compreensão da cultura libanesa. O título do trabalho teve como escolha dois elementos, simbolos culturais, da cultura libanesa e da campo-grandense. O derbake , dança tradicional do Líbano, é dançada em todos eventos e comemorações onde homem e mulher fazem um circulo ao som do tambor, Dabke. E o Tereré , erva mate tomada com água, é a representação local da cultura do MS em que se toma sozinho ou em uma roda de amigos. 2.2 EXECUÇÃO: Depois do levantamento teórico foi fundamental elaborar o planejamento das entrevistas. Apesar da elaboração de uma pauta, com oito perguntas, foram realizados outros questionamentos de acordo com a abordagem e conteúdos dos discursos dos entrevistados. Com


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o intuito de extrair, ao máximo, as manifestações culturais contidas nas histórias orais. As sonoras foram realizadas no período vespertino, durante a semana e também aos domingos. As falas dos personagens foram captadas por um gravador MP3 digital. Utilizou-se de um segundo suporte, celulares, para registrar as sonoras, todavia, este meio não foi contemplado devido a qualidade do som. No estúdio de gravação gravaram-se os offs e realizaram-se o processo de edição e decupagem. As sonoras foram feitas nas casas dos entrevistados. Seguem nos anexos as seis sonoras em CD dos imigrantes libaneses abordadas em um rádio-documentário. Há, também, as pautas com informações do (a)s entrevistado (a)s e os questionários realizados. As entrevistas foram registradas por fotos também. Depois de coletar as sonoras, entre os meses junho e término de outubro, a edição foi realizada no inicio de novembro no estúdio da própria universidade (UFMS). Utilizamos os programas Sound Forge Pro 10.0 e Vegas Pro 12.00 para a decupagem e edição das entrevistas.

2.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: 2.3.1 LIVROS BARBERO, Heródoto. LIMA, Paulo Rodolfo. Manual de Radiojornalismo -produção, ética e internet. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2001. BARBOSA FILHO, André. Gêneros Radiofônicos. São Paulo: Paulinas, 2003. BALSEBRE, A. A linguagem radiofônica. In: MEDITSCH, E. (Org.). Teorias do Rádio: Textos e Contextos. Florianópolis: Insular, 2005. BASTANI, Tanus Jorge. Líbano e os libaneses no Brasil: história e fatos da vida do povo libanês. Rio de Janeiro, RJ: Ed. C. Mendes Junior, 1945. _____________. A cultura árabe no Brasil: Líbano e Síria. São Paulo, SP: Comercial _____________. A imigração árabe no Brasil(1880-1971). Tese. São Paulo, SP: 1972.Anhembi, 1960. EL-MOOR, Patrícia Dario. O reconhecimento da presença árabe no Brasil na busca de uma identidade nacional. Universidade Federal da Bahia, 2011. FARAH, Paulo Daniel. Da alface ao cafezinho: A língua árabe marcou a Península Ibérica...RHBN: São Paulo, 2009 FERRARETO, Luiz Arthur. Rádio - o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001. FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: Formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. São Paulo: Global, 2006


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GARAUDY, R. Dançar a vida. 6. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. HAJJAR, Claude Fahd. Imigração árabe: cem anos de reflexão. São Paulo, SP: Ed. Ícone,1985. HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. JENKINS, Henry, Cultura da Convergência. São Paulo :Aleph, 2008 LA REGINA, G. Dança do ventre: uma arte milenar. 1. ed. São Paulo: Moderna, 1998. LAPUENTE. Roberto. Árabes no Brasil. São Paulo, 2012. MACEDO, José Rivair. Mouros e Cristãos: A ritualização da conquista no velho e no novo mundo. Rio Grande: Editora da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), 2000 McLEISH, Robert. Produção de rádio - um guia abrangente de produção radiofônica. São Paulo: Summus Editorial, 2001. MEDITSCH, Eduardo. A Nova Era Do Rádio: O Discurso Do Radiojornalismo Enquanto Produto Intelectual Eletrônico. XX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Santos, 1997. MOHAMED, S. La danza mágica del vientre. 1.ed. Madrid: Mandala, 1995. PASSADOS E TEMPOS. Guerra da Reconquista e a Formação de Portugal Disponível em:<http://passadosetempos.blogspot.com.br/2012/04/guerra-da-reconquista-e-formacaode.html> Acesso em 30 Out 2012. PENNA, L. Dance e recrie o mundo. 2. ed. São Paulo: Summus, 1993. RIBEIRO, Darcy. O povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. RONDINELLI, P. Entre a deusa e a bailarina: a polifonia cultural da dança do ventre. 2002. 94 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2002. SAFADY, Jamil. A cultura árabe no Brasil: Líbano e Síria. São Paulo, SP: Comercial. Safady, 1971 _____________. Panorama da imigração árabe. São Paulo, SP: Comercial Safady, s/data. SAFADY, Jorge S. A imigração árabe no Brasil(1880-1971). Tese. São Paulo, SP: 1972 _____________.. Líbano no Brasil. São Paulo: Comercial Safady, 1956. SHARKEY, S. S. Resgatando a feminilidade: expressão e consciência corporal pela dança do ventre. 2. ed. São Paulo: Scortecci, 2002. SILVA, Rosália de Fátima e. Educação e cidadania: a visão do mundo liberal na construção da cidadania. 1992. 434 f. Dissertação (Mestrado em Educação) –Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,1992. TAHA, Hussein. A primavera árabe. Editora: São Paulo, 2010 Thompson, Paulo (2002).A voz do passado: história oral. 3 ed.Tradução por Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro:Paz e Terra TRUZZI, Oswaldo. Sentindo-se em casa: Os árabes se adaptaram muito bem ao Brasil:E o Brasil a eles. RHBN: São Paulo, 2009. WALTARI, M. O egípcio. 1. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002.

2.3.2 REDES, SITES, E OUTROS: http://www.dancealmha.com/danca-do-ventre.htm/> Acesso 23 agosto 2013.


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http://www.libano.org.br/olibano_arteecultura_gast.html/> Acesso em 20 setembro 2013. https://www.google.com.br/search?q=oud,+o+derbake&bav=on.2,or.r_cp.r_qf.&bvm=bv.475346 61,d.dmg&biw=1241&bih=584&um=1&ie=UTF8&hl=ptBR&tbm=isch&source=og&sa=N&tab =wi&authuser=0&ei=Fvm0UcGGK6Tb0QGC6oCABA#um=1&hl=ptBR&authuser=0&tbm=isc h&sa=1&q=tabule&oq=tabule&gs_l=img.12..0l10.190262.190262.0.192398.1.1.0.0.0.0.221.221. 2- /> Acesso em 1 setembro 2013.

https://www.google.com.br/search?q=oud,+o+derbake&bav=on.2,or.r_cp.r_qf.&bvm=bv.475346 61,d.dmg&biw=1241&bih=584&um=1&ie=UTF8&hl=ptBR&tbm=isch&source=og&sa=N&tab =wi&authuser=0&ei=Fvm0UcGGK6Tb0QGC6oCABA#um=1&hl=ptBR&authuser=0&tbm=isc h&sa=1&q=tabule&oq=tabule&gs_l=img.12..0l10.190262.190262.0.192398.1.1.0.0.0.0.221.221. 21.1.0...0.0.0..1c.1.16.img.HKM3j6T7vaE&bav=on.2,or.r_cp.r_qf.&fp=303a284a8b920b38&biw =1241&bih=584&facrc=_&imgrc=ddrrUo1k82HhjM%3A%3BeNgoUbur77wFnM%3Bhttp%25 3A%252F%252Fwww.laboratorioculinario.com.br%252Fwpcontent%252Fuploads%252Ftabule. jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.laboratorioculinario.com.br%252F%253Fp%253D156% 3B358%3B347 /> Acesso em 11 julho 2013

http://www.consuladogeraldolibanorj.com.br/site/index.php?page=musica//> Acesso em 22 julho 2013.

2.3.3 OUTRAS CONSIDERAÇÕES: Foram extraídos dos relatos, das narrativas orais, os costumes e as modificações sociais culturais que os livros ou/e sites pouco abordam e os quais são a essência da investigação.


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3- SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS

A pesquisa tem como alicerce dois autores. O primeiro foi Tanus Jorge Bastani que norteou pelas suas obras Migração Árabe (1945), Migração Árabe no Brasil(1945), Líbanos e Libaneses no Brasil (1960) a história de migração dos primeiros Libaneses no Brasil, como eram os trabalhos desempenhados por eles e as influências arquitetônicas no Brasil . O escritor Roberto Lapuente na obra Árabes no Brasil (2012) trouxe a temática de adaptação dos Libaneses, a alimentação e alguns costumes orientais. No contexto de miscigenação da cultura brasileira com a árabe, assim como, o processo de formação dos primeiros migrantes o autor Jamil Safady nos livros A cultura árabe no Brasil: Líbano e Síria. (1971), Panorama da imigração árabe. (s/data), A imigração árabe no Brasil (1880-1971) (1972) e Líbano no Brasil (1956) podem traçar os vários perfis de ambiente social e trocas culturais ocasionadas pela migração. A pesquisa obedeceu à abordagem etnográfica, de natureza qualitativa, utilizando-se os aportes teóricos da História Oral e a técnica da entrevista compreensiva. Para a pesquisadora, Rosália de Fátima e Silva (2003, p.7), na metodologia da entrevista compreensiva “o processo de desvelamento do objeto de estudo se constrói, pouco a pouco, por meio de uma elaboração teórica que aumenta, dia após dia, a partir de hipóteses forjadas no campo da pesquisa.” E, possibilita um melhor processo de desenvolvimento do trabalho a partir da relação entre o pesquisador, os sujeitos/ autores/ atores com suas falas sobre o conceito. Na história oral, Thompson (2002, p. 44) enfatiza que “é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação”. Admitimos que a história oral orientou os procedimentos metodológicos da pesquisa, em razão do contato que mantivemos com determinados informantes, sujeitos alvos dos propósitos no presente estudo. Quando se trabalha com história oral, logo vem a questão da fidelidade e validação científicas, considerando-se a natureza subjetiva das fontes orais tanto quanto ao caráter efêmero da memória. Ora, o processo de reconstituição da memória os migrantes por meio radiofôexigia do pesquisador posturas que se inscreviam na ordem da comparação, cruzamento de informações, análise de conteúdo das falas, para que as evidências orais sugerissem a realidade com a qual


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estávamos trabalhando. A esse respeito, Thompson (2002) já assinalara os relatos orais são verdadeiros documentos cheios de valores e significados que a escrita não consegue transcrever. Quando bem executados, a rádio é o espaço midiático que preserva a veracidade do conteúdo, evita distorções de discursos e aflora o imaginário popular (GÁLIA. 1997 p.26). Está na oralidade, transmitida pelo rádio-documentário e possibilita o envio de mensagens para todos os tipos de públicos observa Heródoto Barbeiro (2007, p. 23). Relembra SCHIFFER (1991, p.32), o rádio foi o primeiro artefato eletrônico a penetrar no espaço doméstico. E encontra-se no dialeto, no sotaque e nas entonações dos locutores a sedução, a curiosidade e a transformação de conteúdo para histórias “vivas” (GÁLIA, 1997, p. 25).

No radiojornalismo, a voz do locutor informa não apenas o conteúdo das notícias, mas funciona igualmente como signo indexical que informa o programa e a emissora em que o ouvinte está sintonizado. (...)A identificação da voz pelo ouvinte estabelece também o contexto comunicativo, sinalizando os diferentes momentos da programação: distingue o que deve ser acreditado enquanto informação jornalística do que deve ser percebido como propaganda ou assumido como pura brincadeira para fins de entretenimento.(...) (MEDITSCH, Eduardo. A Nova Era Do Rádio: o discurso do radiojornalismo enquanto produto intelectual eletrônico. 1997 . p. 20.)

A escolha pelo documentário radiofônico deve-se pela concepção de que o mais importante é as pessoas ligadas aos fatos contarem elas mesmas o que aconteceu; a temática é totalmente factual. (BARBERO, 2001). O produto radiofônico explora melhor o conteúdo com a sua realidade. No caso estudado, manifestações culturais dos imigrantes. Em um documentário, o apresentador tem um papel secundário. Como define melhor SCHIFFER (1991, p.35),:

No noticiário, o apresentador CONTA o que aconteceu na sociedade. No documentário, nós MOSTRAMOS o que acontece na sociedade. Falamos com os envolvidos. Eles mostram o fato em vez de nós o relatarmos. Mas nós compomos a forma como o fato é apresentado. O documentário tem um elemento humano que dá ao ouvinte a chance deinterpretar a realidade sozinho em vez de ser informado sobre ela. Um bom documentário muda nossa percepção da realidade

McLeish (2001, p. 192) ao comentar sobre a construção do documentário em rádio, posiciona que a principal vantagem do documentário sobre a fala direta é tornar o tema mais interessante e mais vivo ao envolver um maior número de pessoas, de vozes e um tratamento de maior amplitude. “É preciso entreter e ao mesmo tempo informar, esclarecer e também estimular


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novas ideias e interesses”. Na opinião de André Barbosa Filho (2003, p. 102), o docuntário jornalístico:

Mescla pesquisa documental, medição dos fatos in loco, comentários de especialistas e de envolvidos no acontecimento, e desenvolve uma investigação sobre um fato ou conjunto de fatos reais, oportunos e de interesse atual, de conotação não-artística. É realizado por meio de montagem –edição final do material produzido em áudio –com matérias gravadas anteriormente ou, ainda, juntando-se esse material às „cabeças‟ – introdução aos temas enfocados –e a algumas matérias temporais ao vivo‟ (grifo do autor).

3.1- POVO ÁRABE

Os árabes são os integrantes de um povo heterogêneo que habita principalmente o Oriente Médio e a África setentrional, originário da península Arábica constituída por regiões desérticas e clima subtropical mediterrâneo no litoral. As dificuldades de plantio e criação de animais fizeram com que parte de seus habitantes se tornassem nômades, vagando pelo deserto em caravanas, em busca de água e de melhores condições de vida. A essas tribos do deserto dá-se o nome de beduínos. Paises árabes: Arábia Saudita; Argélia; Bahrein; Comores; Djibouti; Egito; Emirados Árabes Unidos; Iémen/Iêmen; Iraque;


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Jordânia; Kuwait; Líbano; Líbia; Marrocos; Mauritânia; Omã; Palestina; Catar; Saara Ocidental; Síria; Somália; Sudão; e Tunísia

Mapa dos países que falam o árabe1 1

Disponível em <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-foi-o-imperio-otomano>. Acesso em: 18 agos. 2013


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A pesquisa parte da premissa de definir quem são os "turcos" e o que trouxeram, culturalmente, para a sociedade Campo-Grandense. Conforme explica o historiador Paulo Hilu da Rocha Pinto definir o povo árabe como “turco”, em parte, justifica-se porque os passaportes utilizados pelos Libaneses, até a Primeira Guerra, eram expedidos pelo Império Otomano. (SAFADY, Jamil.1971, p.59). Durante o domínio otomano, especialmente após o massacre de 1860, ocorreu uma imigração em massa para a América do Sul. Os libaneses portavam um passaporte fornecido pelas autoridades turcas, que concediam a permissão oficial para a viagem; por isso, os libaneses eram (e ainda são, em algumas regiões) chamados de "turcos"2. De fato, qualquer cidadão oriundo daquela região, fosse ele palestino, sírio ou persa, era conhecido no Brasil como "turco". Os primeiros imigrantes deixaram seu país de origem pressionados pelo governo turco. Até o início do século XX, toda aquela região estava sob domínio do Império Otomano, e na promulgação da constituição turca em 1908, estendeu a obrigação do serviço militar, que antes só estendia aos muçulmanos, aos cristãos. O massacre de 1860, dos drusos contra cristãos, também foi um fator importante para explicar o fenômeno do processo imigratório e o contingente maior de cristãos. (TRUZZI,2009,p.22).

A construção da história dos otomanos perpassa grandes conflitos, desde a Guerra das Criméias a I Guerra Mundial (1914-1918). E, foi durante a Primeira Guerra Mundial, onde o governo dos Jovens Turcos assinou um tratado secreto com a Alemanha contra a Tríplice Aliança, que os incidentes bélicos evidenciaram, ainda mais, a fraqueza administrativa e imperial dos Otomanos. (SANTIAGO, Emerson. 2011) As perdas humanas e financeiras na Batalha de Galipolle e no cerco de Kut assim como na desastrosa campanha do Cáucaso contra a Rússia impulsionaram, em 1916, a Revolta Árabe. A Revolta Árabe, que começou em 1916, virou a maré contra os otomanos na frente do Oriente Médio, onde inicialmente parecia ter a vantagem durante os primeiros dois anos da guerra. Quando o Armistício de Mudros foi assinado em 30 de outubro de 1918, as únicas partes da península Arábica que ainda estavam sob o controle otomano eram o Iêmen, Asir, a cidade de Medina, porções do norte da Síria e partes do norte do Iraque. Esses territórios foram entregues às forças britânicas em 23 de janeiro de 1919. Os 2

Os primeiros imigrantes eram rapazes solteiros, de classes inferiores, que queriam ficar ricos e voltar para seus países de origem. Depois, vieram camponeses arruinados após a Primeira Guerra Mundial e árabes em busca de paz, lar e segurança, fugindo dos constantes conflitos da região. Disponível em http://www.imigrantesbrasil.com/2008/05/influncia-da-imigrao-rabe-no-brasil.html#ixzz2W6lpuH9F/>. Acesso em 30 agosto 2013.


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otomanos também foram obrigados a evacuar as partes do antigo Império Russo no Cáucaso (hoje Geórgia, Arménia e Azerbaijão), que tinham ganhado no fim da Primeira Guerra Mundial, após a retirada da Rússia da guerra com a Revolução Russa em 1917 .(SANTIAGO, Emerson. Oque foi o Império.2011)3

As pressões nacionalistas e imperialistas ameaçaram a estabilidade do Império. Os Turcos dominavam territórios em que há diversas etnias diferentes, e estas, reivindicavam pela autonomia. Sem condições de reestruturar o Governo Otomano diante dos interesses capitalistas, o império não resistiu às batalhas na I Guerra Mundial e reduziu o antigo território para a atual Turquia.

3.2 – MIGRAÇÃO LIBANESA NO BRASIL

Um dos povos que contribuiu para a criação de uma identidade nacional, não só para o Brasil, como também para Portugal, foram os mouros. Os mouros são árabes que dominaram o sul de Portugal e contribuíram para a tecnologia nos engenhos, “sendo de extrema importância para o desenvolvimento da economia açucareira no Brasil Colonial”. (LAPUENTE. 2012, p. 02 apud Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre 2006, p. 289):

O hábito de tomar café foi popularizado no mundo inteiro por intermédio do árabe. O café planta originária da Etiópia, passou a ser cultivada, entre os séculos XIII e XIV, em áreas férteis na península Arábica. Daí, seu cultivo foi espalhando-se para outras regiões do mundo. A civilização árabe-islâmica contribuiu de forma relevante para a arte universal. Fruto do processo de fusão e reelaboração do legado de diferentes culturas, uma personalidade própria unindo beleza e praticidade, padrões abstratos e estilizações fluxo mais importante da imigração árabe para o Brasil começou por volta de 1880. A maioria são sírios e libaneses, e antes de 1943, sírio-libaneses, pois até está data Síria e Líbano era um só país.

No Brasil, as influências árabes tiveram início com a colonização lusa. Salienta Gilberto Freyre que “para o Brasil é provável que tenham vindo, entre os primeiros povoadores, numerosos indivíduos de origem moura e moçárabes” (LAPUENTE. 2012, p. 02 apud GILBERTO 2006, p. 296).

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Disponível em <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-foi-o-imperio-otomano>. Acesso em: 18 abril. 2013


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A primeira leva significativa de imigrantes árabes começou oficialmente no Brasil por volta de 1880, com uma leva de libaneses. Calcula-se que, até o ano de 1900, chegaram ao Brasil 5.400 árabe. Os problemas socioeconômicos agravados no Oriente Médio no início do século XX fizeram crescer a emigração em direção ao Brasil: no ano de 1920 viviam no País pouco mais de 50 mil árabes. Diferentemente de outras correntes migratórias, os sírio-libaneses, não vieram para trabalhar em lavouras, começaram a vida, em sua maioria, como mascates e com o tempo se tornavam grandes varejistas e industriais. Espalhados por todo país, se concentram em maior parte na região Sudeste, onde estão ligados ao desenvolvimento econômico de todo o país. (TRUZZI, 2009, p.32)

A população do Líbano é composta por diversos grupos étnicos e religiosos: muçulmanos (xiitas e sunitas), cristãos (maronitas, ortodoxos gregos, melquitas grecocatólicos, cristãos armênios, cristãos assírios, coptas) e outras, incluindo as seitas alauíta e drusa, e uma pequena comunidade judaica. No total o estado reconhece a existência de dezoito comunidades religiosas. 59.7% dos libaneses são muçulmanos e 39% cristãos (divididos por entre os grupos enunciados). O Brasil tem mais libaneses do que o Líbano! São 7 milhões . A população libanesa é de cerca de 4 milhões. (Disponível em http://www.undp.org.lb/inf%C4%B1rmation/briefingreport.html. Acesso 01 nov 2013)

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Os árabes trouxeram uma série de inovações oriundas do Oriente para a Península Ibérica (TRUZZI, 2009, p.19). A aridez dos solos desérticos capacitou-os como mestres nas técnicas agrícolas e de irrigação, importando para a Europa o moinho d’água, avô do engenho colonial, e lá semeando o algodão, a laranjeira, a criação do bicho-da-seda, o cultivo do arroz e da tão ‘brasileira’ cana-de-açúcar.

Primeiros árabes no Brasil – SP.4

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Disponível em <http://www.infoescola.com/historia/reconquista-da-peninsula-iberica/>. Acesso em 30 agost 2013


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Em 1808, quando a família real portuguesa chegou ao Brasil e um libanês ofereceu a casa para D. João VI

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como residência imperial. Era o imigrante, Antun Elias Lubbos, que

transformou a residência na Casa Imperial Brasileira (onde nasceu D. Pedro II) e, posteriormente, o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. Essa história consta dos arquivos da Biblioteca Nacional de Portugal, e no museu Histórico e Geográfico Nacional podem ser vistos documentos relacionados a essa ocasião. Devido à dificuldade de pronúncia dos nomes árabes e do estranhamento (e, eventualmente, perseguição) que provocavam, alguns emigrantes alteraram o nome de origem, adaptando-o ou traduzindo-o para a língua nativa da nova terra. No Brasil, Tanus al Bustani passou a se chamar Antônio Jardim ou Jardineiro, tradução aproximada do original árabe. Durante muito tempo, esse costume perdurou, mas nos últimos anos a prática caiu em desuso e os erros de grafia na transliteração se tornaram bem menos frequentes.(TRUZZI,2009,p.20). A migração de libaneses para o Brasil, como se observa, é antiga e se intensificou na segunda metade do século XIX.

Família de imigrantes libaneses no Brasil em 1920 6 .

5

O Imperador D. Pedro II, após uma viagem diplomática ao Oriente Médio, mostrou-se fascinado pela cultura local e pela cordialidade do povo árabe. Consta que, por meio do Imperador, as primeiras levas de imigrantes árabes foram atraídas para o Brasil. O Brasil era um país quase desconhecido no mundo árabe. Os imigrantes apenas sabiam que estavam indo para a América e, por muitas vezes, imaginavam estarem indo para os Estados Unidos. Ao chegar ao Brasil, muitos árabes se chocaram ao descobrir que estavam, de fato, aportando na América do Sul. ( Disponível em http://www.imigrantesbrasil.com/2008/05/influncia-da-imigrao-rabe-no-brasil.html#ixzz2W6lpuH9F/>. Acesso em 30 agost 2013) 6

Disponível em <http://www.infoescola.com/historia/brasil-libano/>. Acesso em 28 agost 2013


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Ao desembarcarem no Brasil, os libaneses, tiveram como uma das primeiras formas de trabalho a venda de objetos e de utensílios de casa em casa. O mascateamento 7 era a base da atividade do imigrante e o ponto de partida para a dispersão em todos os recantos do país. Os mascates, como eram conhecidos, só depois de anos de economia passaram de ambulantes para comerciantes. Em Campo Grande, na primeira metade do século XX, o comércio árabe concentrava-se na Avenida Calógeras, nas ruas 14 de julho e Maracaju. A Estação ferroviária de Campo Grande8 era o centro de maior circulação de pessoas e mercadorias, do século passado, em Mato Grosso do Sul. Deve-se à este fluxo de pessoas e ao fator econômico a escolha dos locais pelos Libaneses, salienta o entrevistado, Ali Ahmad Omais. E, ainda se recorda o comerciante de que as pessoas ao desembargarem da ferroviária “encontravam ‘de cara’ com as lojas libanesas.” Foi nessa região que a família do Omais abriu a loja de roupas infantis há quatro décadas.

Estação de Campo Grande em 1957. Imagem retirada do jornal Folha da Manhã, 3/9/19579

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Os árabes vieram para o Brasil e trabalharam no comércio. Vendiam de porta em porta objetos e quinquilharias, por isso, chamados de mascates. Posteriormente, com os lucros começaram a construir fábricas e vender nas próprias lojas tecidos, roupas, artefatos dentre outros. A fixação do imigrante-comerciante num cruzamento de estrada, numa clareira ou próximo a uma fazenda, trazia prosperidade à região e não raro transformava, mais tarde, este local em um centro urbano de importância econômica e social, tais como os núcleos urbanos da Alta Paulista e Estrada de Ferro Goiás. (LAPUENTE. 2012, p. 12 apud GILBERTO 2006, p. 297). 8

A estação de Campo Grande foi inaugurada em 1914. Segundo consta na revista Brasil-Oeste, de março de 1958, a primeira locomotiva a chegar no pátio de Campo Grande foi a de número 44 da E. F. Itapura-Corumbá, no dia 20/5/1914 (portanto, antes da data oficial de inauguração da estação), parando ao longo de uma plataforma improvisada como uma pilha de dormentes, ao lado de um vagão estacionário, que servia de estação. O primeiro trem de cargas percorreu os trilhos no perímetro urbano de Campo Grande no dia 30 de maio, quando a então vila contava com apenas 1.900 habitantes, alguns meses antes da inauguração oficial da estação. O prédio atual da estação não é o original; ele foi construído em 1935 pelo engenheiro Aurélio Ibiapina, paulista de Pirassununga e também autor dos estudos para a eletrificação do trecho Bauru-Araçatuba nos anos 1950, e que jamais foi realizado ( texto extraído do site http://www.estacoesferroviarias.com.br/ms_nob/campogrande.htm) 9

Disponível em : http://www.estacoesferroviarias.com.br/ms_nob/campogrande.htm acesso em 01 nov 2013


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Pode-se notar que não foi só o comércio que possuía influência árabe, mas, a arquitetura local campo-grandense como o chafariz localizado na Praça Ary Coelhor. A presença de azulejos no chafariz e água corrente são claros traços orientais. TRUZZI (2009, p.67) avalia que “as próprias técnicas construtivas, como a telha de barro do tipo capa e canal, ou ainda a taipa de pilão, tão dominante nos primeiros séculos do Brasil, são de influência nitidamente árabe”. Dib Jorge Abussafi foi um dos imigrantes Libaneses que ajudaram ativamente no desenvolvimento da Capital Sul Mato-Grossense. Junto com Bernardo Franco Baís e outros, fundaram a Santa Casa, a Maternidade e a Associação de Proprietários de Imóveis. Quando se fala na cultura árabe, normalmente, se remete aos sabores da pimenta, cravo, canela os quais ressaltam o aroma dos pratos brasileiros. O uso do azeite no lugar da banha de porco e o famoso cafezinho são marcas orientais influenciadas desde a dominação lusa no Brasil. Há duas formas diferentes de preparo do café pelos orientais, à moda moderna e a antiga. O “preparo moderno” é feio pelos Libaneses ou Turcos. É servida a bebida com o grão de café torrado e moído, sem coar e com sementes de cardamomo10. A cor é escura parecida com o café brasileiro. Já à moda antiga, feita pelos árabes, é levemente torrado e triturado o grão. Além de ser acrescentado o gengibre e o cardamomo, a bebida tem a coloração bege. A culinária libanesa reúne tradições mediterrâneas, europeias e orientais, e está fortemente ligada à culinária síria. Além das carnes, frutas, verduras e legumes, a cozinha libanesa tradicional utiliza muitas especiarias como: açafrão, canela, gergelim, pimenta, cravo, noz moscada, cominho, páprica, coentro, cebolinha, salsa e hortelã, muitas das quais antigamente valiam quase que seu peso em ouro e deram origem às grandes navegações nos séculos XV e XVI11. No prato típico brasileiro a presença do arroz e do feijão são indispensáveis. Segundo pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa):

10

O cardamomo são as sementes de uma planta da família do gengibre, que nascem dentro de uma cápusula de cor verde.É nativo do sul da Índia e é conhecido como a rainha das especiarias. Disponivel em:http://www.aromasesabores.com/2009/03/especiaria-do-mes-de-marco cardamomo.html#ixzz2jMGBfoTd acesso 01 nov 2013. 11

Disponível em:</ http://www.caracalladance.com//> Acesso em 23 setembro 2013


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(...) o arroz branco foi incluído na alimentação devido à forte influência portuguesa. Já o feijão, segundo publicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRIO), incorporou-se à culinária primeiro com os indígenas - que comiam a leguminosa com farinha, e depois com os negros escravos, que tinham o hábito de ingerir feijão em todas as refeições. Mas foi Dom João VI quem primeiro apreciou no Brasil a mistura que até hoje sustenta milhares de pessoas. Só no ano de 2012, a população do país consumiu 3,5 milhões de toneladas de feijão e 8,7 milhões de toneladas de arroz..(Disponivel emhttp://www.einstein.br/einsteinsaude/nutricao/Paginas/arroz-e-feijao-uma-duplanutritiva-e-saborosa.aspx acesso 01 nov 2013)

Já na mesa do árabe, devido a variedade de pratos, não se tem uma preferência nacional. Todavia, há comidas que sempre compõe o cardápio como o trigo em grãos, tabule, coalhada, quibe assado e cru. O café da manhã é a refeição principal das famílias libanesas. Diferente dos brasileiros em que, geralmente, o almoço é a alimentação mais farta do dia. “Na mesa é servido um tipo de carne, os acompanhamentos e o pão. Não é que nem o brasileiro que tem a opção de duas carnes.” acrescenta o proprietário do restaurante Manura, Munir Saad. A feijoada, prato brasileiro que mais atrai os curiosos paladares estrangeiros, não é o alimento que mais chama a atenção dos árabes. Mas, o churrasco. As famílias árabes ao se reunirem preferem fazer churrasco do que feijoada. Na bebida, o tereré, costume sul-matogrossense, é servido com erva mate e água gelada. No Líbano, há o costume de se tomar o chimarão, símile aos gaúchos, logo pela manhã ou com os amigos. As diferenças culturais não só começam no preparo do alimento, mas ao servir. Segundo a vice-presidente do Clube Monte Líbano, Marie Rose Jabbour Sleiman, não se deve perguntar ao hóspede, ao convidado o que deseja tomar. É visto como falta de educação este tipo de pergunta. “O anfitreão deve imediatamente oferecer os alimentos e as bebidas ao convidado. O hóspede só tem o trabalho de escolher.” Nas reuniões familiares são servidos verdadeiros banquetes. São poucas as familias, nas confraternizações, utilizam-se da dança para animar o ambiente. Jabbour explica que é uma informação distorcida acreditar que nos eventos árabes a dança do ventre é sempre tida. “O derbake é a verdadeira dança tradicional libanesas. Ela é dançada em casamentos, grandes festas. A dança do ventre é tradição egípcia”. É comum e, em algumas famílias brasileira, tradicional reunirem-se finais de semana para um churrasco ou uma macarronada. Contudo, este costume não há entre os Libaneses. Assim como, a diferença do período de descanso. Para os cristãos o domingo é o dia de descanso. Mas, para os islâmicos é a sexta-feira.


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Entre os imigrantes libaneses ainda se preservam e, alguns, priorizam a comunicação em árabe. Por isso, há a dificuldade de aprender o português entre os estrangeiros. O comerciante Ahmad Salem Ali Al Akra confessa que as novelas ajudaram-no a estudar o português. Salém veio para o Brasil com 27 anos e, em aproximadamente quatro meses, com auxílio do jornal e da televisão, compreendia melhor o idioma local. O proprietário da Loja Katatau explicou que apesar de ter contato com os nativos, o que realmente esclareceu as expressões de linguagem e o “jeitinho brasileiro”12 foram as novelas. Um consenso cultural comum, obtidos dos entrevistados, foi a importância da família e dos estudos. Para os libaneses família engloba o pai, a mãe, os filhos, o(a)s tios/tias, os avós, as cunhadas e os genros. Oposto ao brasileiro que delimita pais e filhos. A educação dos filhos é responsabilidade da mulher a qual pode trabalhar ½ período e o restante do tempo deve destinar a formação da prole. Seja na religião cristã ou islâmica, a figura maternal é aquela que busca desenvolver e estimular o intelecto, a educação e a cultura nos filhos. O ensino fundamental e médio no Líbano é feito em período integral. As crianças aprendem o árabe, o francês ou/e o inglês. O jovem durante toda a fase escolar tem o contacto com dois idiomas. Em algumas escolas, os estudantes que obtiveram notas inferiores a média reprovam de ano direto. Diferente das universidades libanesas em que refaz a matéria reprovada. Durante a investigação descobriu-se alguns erros midiáticos. Mesmo com a Globalização das informações e a formação da Aldeia Global (McLuhan, 2002) o jornalismo ainda falha no aprofundamento da notícia e na veracidade das fontes. Foram coletadas falhas de conteúdo divulgadas pela imprensa. Tais como o Ramadã13 acontecer somente no mês de setembro e o islamismo possuir 6 mandamentos14. São estas falácias de informação que constroem vácuos a tolerância cultural e solidificam tabus e pré-conceitos.

12

Esta expressão refere-se a forma de comunicação, dos costumes , dos gestos e das invenção linguísticas dos brasileiros. 13

O Ramadã segue o ciclo Lunar, pode cair em outras datas do ano. Na matéria do G1 colocaram o Ramadã como “ao nono mês do calendário ocidental e é dedicado à meditação, à purificação e à caridade” (Disponível em :http://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2013/07/muculmanos-da-triplice-fronteira-iniciam-periodo-de-jejumdo-ramada.html. acesso 01 nov 2013) 14

Os 5 pilares são : Testemunho de fé; Orações diárias ( 5 orações); Pagar o tributo social anual de 2,5 % e que será distribuídos aos necessitados; Jejuar no Ramadan ( da madrugada até o nascer do por-do-sol);e Perigrinação a Makkah ( uma vez na vida). A guerra Santa, Jihad, não faz parte dos mandamentos


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Como definiria Jenkis (2008), os meios de comunicação estão aderindo o uso das diversas tecnologias para distribuir os seus produtos. E, infelizmente, na tentativa de transformar uo jornalismo em um produto mais eficiente e global algumas distorções invadem e espalham-se em dimensões imensuráveis. Consolidam-se velhos jargões/ tabus que sustentam a crença de que os contrastes culturais são ruins (LA REGINA, G 1998. p. 4). E estas informações midiáticas, que podem circular de feitio intenso por diferentes canais midiáticos, criam um fluxo de participação mais ativa dos interlocutores, a se envolverem com o conteúdo; intitulado por Jenkins (2008) de inteligência coletiva. As redes sociais são espaços cibernéticos que espalharam as revoluções com maior dinamismo e voracidade. O território espacial deixou de ser o único ambiente de conflitos sociais, políticos e ideológicos. As mídias passaram a ser o propagadores; facebook, Twiitter e Youtube eram/são acessadas de vários lugares de ponto de acesso a internet como em uma “Aldeia Global cibernética conectada 24h sem intervalo de tempo.” diz Taha (2010) .


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4- OBJETIVOS ALCANÇADOS

Geral Produção de um produto radiofônico sobre as manifestações culturais libanesas por meio das histórias orais. Foram trabalhadas, pelas narrativas, o processo de adaptação dos imigrantes e os costumes trazidos pelos libaneses.

Específico

A pesquisa descreve as narrativas orais dos imigrantes libaneses em Campo Grande. Onde os protagonistas relatam as contribuições e a identidade cultural que constuiram a história da cidade. As manifestações culturais presenciadas na educação, alimentação e adaptações são os temas centrais que conduzem o rádio-documentário. Pode-se identificar, contar e traçar através dos relatos - quem são os libaneses e sua colaboração na construção sociocultural de Campo Grande. O trabalho foi produzido em Campo Grande, MS. Sendo o meio midiático contemplado o radiofônico que fornece, através da oralidade, as multifacetadas histórias orais vivenciadas pelos imigrantes. Com o intuito de explicar, fornecer e levantar dados que possam desmistificar velhos tabus e preconceitos sobre os Libanêses.


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5- DIFICULDADES ENCONTRADAS:

A dificuldade encontrada foi abordar os comerciantes das lojas de roupa na Av. Calógeras. Alguns dos abordados demonstraram desinteresse e outros medos da figura do jornalista. Supõe-se que seja pela vergonha em ser entrevistado ou pré-conceito. Ao decorrer das investigações foram descobertas e constatados alguns erros midiáticos, de notícias e de informações, que contribuíram para o surgimento deste estigma nos jornalista.


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6- DESPESAS (ORÇAMENTO) A pesquisa foi feita por três pesquisadoras as quais se utilizaram do meio público para se locomoverem ao local. Houve gasto com impressão de artigos, de livros e revistas. Além das despesas com alimentação, visto que as entrevistas foram realizadas no período vespertino. O período da produção até a finalização do trabalho é de julho até novembro de 2013.

DESCRIÇÃO

Quantidade

Valor Unitário

Cópias de revistas

50

R$ 0,10

Material de consumo

X

R$ 100,00

Passagem de ônibus

32

R$2,75

Gravação dos CD’s

12

R$100,00

X

R$ 110,00

Encadernação aspiral e capa dura

em

Valor Total investido R$405,00


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7- CONCLUSÕES É em Mato Grosso do Sul - estado tradicionalista, criador de gado e cultivo de soja que os libaneses estabeleceram o comércio e, posteriormente, trouxeram as famílias. Em Campo Grande, a presença árabe é tão forte que pode ser notada desde restaurantes (como Ariche e Manura), grupos de dança (Litani) e construções locais (Santa Casa). As tradições libanesas passam de meros dados, acervos ou arquivos para histórias “vivas” quando contados por narrativas orais. A oralidade dá forma ao conteúdo, transfere a emoção, aguça o imaginário e mantém o elo realidade - veracidade do conteúdo. Quando um personagem relembra o passado, ele traz da memória fatos esquecidos e que podem desmistificar alguns preconceitos. O rádio-documentário, meio de exposição de nossa pesquisa, expõe a cultura, as adaptações e as contribuições Libanesas na cultural da Capital. Todo esse conjunto de história, culinária e educação árabe enriquecem e fazem parte da formação sociocultural dos campograndenses. Seja por meio de música como derbake ou memórias de vida dos árabes na cidade. Esse trabalho propõe divulgar e informar o ouvinte sobre a cultura árabe, integrar as culturas locais, proporcionar conhecimento e desmistificar velhos chavões e preconceitos com o Libano. E se possível, incentivar a adesão e aceitação de outras culturas opostas a nossas. A população Libanesa é tão importante formador cultural quanto foi para os Fenícios. O berço da civilização foi o Líbano o qual a terra abrigou os negociantes da Antiguidade. A cultura marítima fenícia floresceu na região libanesa durante mais de 2.000 anos e onde surgiu o primeiro alfabeto. No Brasil, a popularidade das receitas libanesas – que aqui chegaram com os primeiros imigrantes do Oriente Médio, ainda no final do século XIX – é tamanha que muitas dessas comidas, como o quibe e a esfiha (pastel aberto ou fechado, que comporta vários tipos de recheio), já estão devidamente incorporadas nos hábitos culinários da população. A fartura e a variedade de comida em uma mesa libanesa, além de fazer parte de seu cotidiano, servem também para homenagear e mostrar o afeto do anfitrião ao seu convidado. Geralmente nestas ocasiões o anfitrião prepara um banquete que espera ser inesquecível e faz de conta que nada preparou de especial. Por sua vez, os convidados devem comer além do seu habitual para demonstrar sua satisfação com a generosidade e hospitalidade do anfitrião. Como


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contribuição dos árabes no tocante à gastronomia, temos plantas e especiarias que estão definitivamente incorporadas em toda a culinária do Ocidente. Alguns imigrantes desejavam retornar à terra natal (vinham ao país por questões econômicas e sonhavam com um retorno mais próspero; com o fim da Primeira Guerra e a derrota do Império Otomano, parte dos imigrantes retornou à região); outros decidiram permanecer e educar os filhos no Brasil. O mascateamento era a base da atividade do imigrante e o ponto de partida para a dispersão em todos os recantos do país. A escolha pelo rádio consiste em poder abranger todos os níveis de público e, se possível, quebrar tabus e barreiras. O estudo, a priori, aprofundou-se em materiais disponibilizados pelas instituições oficiais, livros e revistas. Nas investigações de casos, objeto de pesquisa de campo, ratificou-se algumas colaborações e acrescentou alguns costumes Libaneses que outrora foram esquecidos ou não se sabiam. Dos seis entrevistados, três são islâmicos e três cristãos. O trabalho não aprofundou em temas de religião e tão quanto de política governamental. Os personagens apresentados vieram para o Brasil em fases da vida diferentes, uns na infância e outros na juventude. E é nesta diferença de idade, de visão que proporciona ao ouvinte uma variedade de visão, percepção do ser diante das mudanças. Os imigrantes Libaneses modificaram os costumes para melhor adaptaream-se, de forma passiva sem perder os valores e crenças. A escolha do tema teve como base dois símbolos culturais. Do lado brasileiro , sulmato-grossense o Tereré, típica bebida regional tomada com erva mate e água gelada. E, no lado árabe, Libanês a típica dança regional Derbake que é dançada por homens e mulheres ao som do tambor Dabke. Os dois símbolos culturais marcam a cultura de cada povo e seus costumes


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8 - APÊNDICES 8.1 FOTOS COM ENTREVISTADOS

Ahmad Salem Ali Al Akra - comerciante da 14 de julho- Loja Katatau foto de Rosália Prata

Munir Saad – proprietário do Manura Churrascaria e Cozinha Árabe foto de Rosália Prata


Ali Ahmad Omais – Comerciante na Rua 14 de julho – Loja Fofinho Baby – foto de Rosália Prata

Marie Rose Jabbour Sleiman - Vice presidenta da Associação Monte Líbano foto de Rosália Prata


8.2 FOTOS DOS ALIMENTOS E PERTENCES LIBANESES

Esfiha recheada de carne – foto de Isabela Nogueira

Kibe cru – foto de Isabela Nogueira

Tabule – foto de Isabela Nogueira


Rakwa ou Rakwi – fotos de Isabela Nogueira

Sala de estar libanesa da entrevista Marie Rose Jabbour- foto de Isabela Nogueira


8.3 PAUTAS - ENTREVISTAS PAUTA 01 – ENTREVISTA RETRANCA: Libaneses / histórias familiares CONTEXTO: Famílias imigrantes de Libaneses ajudaram a construir a história da Capital. Como o restaurante Manura, que há mais de duas décadas serve em seus pratos um pouco da tradição árabe miscigenada com o típico hábito brasileiro de comer carne. O Dono do restaurante, Sr. Munir, natural do Líbano veio desde pequeno, aos 9 anos , para o Brasil . E foi em MS que se fixou e criou a família. Casado com Dona Neusa e pai de três rapazes tem muito para contar de sua vinda para o Brasil e das diferenças culturais. QUESTIONÁRIOS: 1. Quanto tempo vive/mora no Brasil: 2. Religião: 3. O que lembra quando chegou no Brasil? Ou que cultura local contrasta com a descendência? (dar exemplos nesses gêneros: roupa, fala, contato, amizade, comunicação, comida, dança) 4. Que contraste cultural é bem visível? ( ex. no Brasil nas praias as mulheres andam de biquine e nas ruas com minissaias. Ou nas quartas-feiras come-se feijoada e nos domingos reunião de família) 5. Por que escolheu esse local para trabalhar? ( o que incentivou a estabelecer o mercado ou comércio ou estabelecimento nesse local . Ponto bom de venda, de localização ou próximo de casa/família?) 6. Frequência de contato com a família , parentes? E Geralmente, reúnem-se o na casa de quem? É costume ou tradição? 7. Como é o Líbano ? 8. Qual a tradição trazida do país de origem ( reunião – como se reúnem, festas – que datas são comemoradas, aniversários – o que comem e como festejam, almoço de família – o que cada membro participa) 9. Qual prato Libanês é mais comido? ( EX. No Brasil: Arroz , feijão e carne) 10. Acredita que os restaurantes preservam ou mantém a originalidade na produção das comidas, ( o sabor é semelhante do pais?) 11. O que não pode faltar na mesa? 12. O que a mídia divulga é conivente com a cultura e crença? ( ex. o radicalismo, mulher se vestir coberta ou não ter contato com grupo masculino, assim como, a educação brasileira é mais duradoura – tempo de escola- que a de fora) 13. Já sofreu preconceito por ser Libanês?

ENTREVISTADO: Munir Saad- 67 99811911


PAUTA 02 – ENTREVISTA RETRANCA: Libaneses / histórias familiares CONTEXTO: Famílias imigrantes de Libaneses ajudaram a construir a história da Capital. Os comerciantes da Rua 14 de julho, Ali Omais e Ahmad Salem vieram para o Brasil buscando melhores condições de vida. Donos respectivamente das lojas Fofinho Baby e Katatau trabalham no comércio de Campo Grande a mais de 20 anos. São naturais do Líbano e foi em MS que se fixaram com a família. Com muitas histórias para contar por trabalhar no comércio de Campo Grande e perceber na comunicação e dia a dia os contrastes culturais. QUESTIONÁRIOS: 1. Quanto tempo vive/mora no Brasil: 2. Religião: 3. O que lembra quando chegou no Brasil? Ou que cultura local contrasta com a descendência? (dar exemplos nesses gêneros: roupa, fala, contato, amizade, comunicação, comida, dança) 4. Que contraste cultural é bem visível? ( ex. no Brasil nas praias as mulheres andam de biquine e nas ruas com minissaias. Ou nas quartas-feiras come-se feijoada e nos domingos reunião de família) 5. Por que escolheu esse local para trabalhar? ( o que incentivou a estabelecer o mercado ou comércio ou estabelecimento nesse local . Ponto bom de venda, de localização ou próximo de casa/família?) 6. A família mora no Brasil? Onde? E a comunidade , em Campo Grande, está estabelecida onde? 7. Frequência de contato com a família , parentes? E Geralmente, reúnem-se o na casa de quem? É costume ou tradição? 8. Como é o Líbano: 9. Qual a tradição trazida do país de origem ( reunião – como se reúnem, festas – que datas são comemoradas, aniversários – o que comem e como festejam, almoço de família – o que cada membro participa) 10. Quais comidas que não tinha hábito de comer e inseriu ( comidas brasileiras)? 11. Qual prato brasileiro mais agradou? 12. Qual prato Libanês é mais comido? ( EX. No Brasil: Arroz , feijão e carne) 13. Acredita que os restaurantes preservam ou mantém a originalidade na produção das comidas, ( o sabor é semelhante do pais?) 14. O que não pode faltar na mesa? 15. O que a mídia divulga é conivente com a cultura e crença? ( ex. o radicalismo, mulher se vestir coberta ou não ter contato com grupo masculino, assim como, a educação brasileira é mais duradoura – tempo de escola- que a de fora) 16. Já sofreu preconceito por ser Libanês?


ENTREVISTADOS: Ali Ahmad Omais-67 3029-6754 Ahmad Salem Ali Al Akra -67 3027-4189 Marie Rose Sleiman -67 98002456


8.4 ROTEIRO Sobe Som de abertura (BG)

Na última década do século XIX, aportaram na cidade de Corumbá cerca de 200 famílias do Líbano. Os primeiros libaneses que vieram para o

Intro OFF 01

estado, ainda na última década do século XIX, eram, em sua maioria, jovens e solteiros, normalmente atendendo ao convite de um parente aqui instalado. Todos vinham como mascates e daqui, percorriam a região, apresentando e vendendo suas mercadorias que eram sempre novidades para população. A colônia libanesa que se estabeleceu na região sul do ainda Mato Grosso, no início do século vinte, foi mais expressiva em Campo Grande e nos municípios de Corumbá e Dourados. Esses imigrantes deixaram o Líbano, pressionados pela Primeira Guerra Mundial, que acirrou a dominação turcootomana no seu país. Os libaneses não buscavam as propriedades agrícolas, como ocorreu com os imigrantes europeus, mas dedicaram-se ao comércio e às pequenas indústrias. Corumbá e Três Lagoas foram para muitos deles a porta de entrada para futura capital Campo Grande, pois somente com o advento do trem, em 1914 começaram a chegar no estado.

SOBE SOM

OFF 02

O libanês Munir Saad, proprietário do restaurante e churrascaria Manura, veio para o Brasil com 9 Anos de Idade, de navio.

SONORA Munir Saad 1- Porque nós viemos de navio, nós viemos em SONORA 1

um navio italiano. Não é pouco tempo não, são 25 dias você atravessando, inclusive eu fiz até primeira comunhão no navio, eles fazem uma festa na passagem do Equador. Então eu sai de Beirute fomos até Alexandria, Alexandria é no Egito, isso em um navio Grego, de Alexandria contornou a Grécia , ilha de Creta tal pá! Foi até Veneza, em Veneza nós descemos desse navio grego e atravessamos a Itália toda de trem. Passa de Veneza a Genova, aí em Genova que nós pegamos o navio Julio César na época era o maior transatlântico da época de 1952, então esse


nós viemos direto pro Brasil esse que foi demorado teve passagem em Gibraltar, me lembro que o mar estava balançando muito , teve que por e atravessar com dois rebocadores, o estreito de Gibraltar você a África de um lado e a Europa do outro, é bem na junção ali do mediterrâneo com oceano a atlântico e nós chegamos aí. Com nove anos de idade pouca coisa que tinha pouca experiência né! Veio com toda família, meu pai trouxe a mãe dele a esposa o filhos todos, nós chegamos de madrugada no Rio de Janeiro, o cristo redentor com os braços abertos, uma imagem daquela época daquela época já era bonita. Desceu no Rio de Janeiro e voltou com um abacaxi, eu não conhecia o abacaxi. Ele falou ananás, a gente conhecia como ananás, e mostrou uma fruta abacaxi, nós saboreamos o abacaxi e até gostamos.

OFF 03

Para vice-presidente da Associação Monte Líbano, Marie Rose Jabbour, chegar em Campo Grande foi um choque

SONORA 2

SONORA Marie Rose 2- Estranhei muito porque a cidade de Campo Grande há quarenta anos atrás, era uma cidade bem menor, não tinha essa população que tem hoje. Bem planejada ela sempre foi, mas agora tem as ruas todas asfaltadas, tem os barzinhos, tem os restaurantes. Naquela época eu contava no dedo, era esse ou esse, o galeto ou o churrasco, se quer comer fora. Então, não tinha, e eu nasci e fui criada em Beirute, que é capital do Líbano, que era considerada a Suíça do Oriente Médio. Há 40 anos atrás, já no Líbano tinha barzinho, tinha cinema igual Cinemark de hoje, que tem com poltronas de veludo. Os melhores filmes que lançavam já passavam lá. No fim de semana não vencia de ver filme, de tanto filme bom que tinha. Queria ir ao cinema, meu marido ficava enrolando... porque não tinha filme bom, mas um dia ele me levou e a minha decepção foi tão grande porque era um dia de frio e eu fui comida pelos... mosquito não, pior, aquele... pulga! Tinha pulga no cinema! E aí ele me falou: Tá vendo porque eu não quero te levar no cinema?! Então isso tudo a gente estranhou. Chegava à noite e assim, “Vamos passear? Não tem lugar pra ir, pra sentar?” e ele falava que não tem. Falava “Vamos no


barzinho” e ele “Que barzinho? Aqui não tem barzinho, aqui é bar pra tomar pinga... não tem barzinho”. E naquela época, lá no Líbano tinha igual aqui, esses barzinhos da Afonso Pena. Então eu sentia muita falta disso, a noite aqui, a vida, era muito morta. Assim, seis e pouco já não tinha ninguém na rua... ou você vai pra restaurante, pra comer, ou você fica em casa, né. Então isso que estranhei assim, de modo geral, no começo. Tudo que usa na Europa já logo lança no Líbano. Tanto que a roupa que eu vim, era uma roupa de cigana, de saia curta. Quando desci do avião, todo mundo ficou assim de boca aberta, “Que roupa é essa?” Tava na última moda roupa de cigana! E aqui, acho que depois de uns cinco anos que começaram a falar que está na moda roupa cigana.

SONORA Munir Saad 3- E conforto que minha mãe procurava pelo que os irmãos diziam na América. Né Oh vou pra América! Mas foi uma decepção violenta né! Ela chegou em Lupionópolis o fogão que ela cozinhava era a lenha. Bom a gente sempre vinha pra passear em Campo Grande que já tinha os parentes SONORA 3

que moravam. Aé veio o convite de montar o Manura , foi em 86 que eu montei o restaurante aqui, aí quando começou a funcionar o restaurante, é pouco publico para a comida árabe, o por quê isso? porque que quem prestigia o restaurante não é a colônia árabe não. Porque que ele vai sair de casa pra comer comida árabe se a mãe dele faz melhor do que a nossa. A comida árabe é artesanal, o charuto se tem que enrolar o charuto, primeiro se tem que separar as folhas etc., pra você fazer a esfiha você tem que fazer a massa depois fechar, o quibe você tem furar e fazer, tudo artesanal não é nada fácil você fazer. Tudo bem, aí foi que minha irmã falou pra mim assim, se você quer continuar com o restaurante você tem que por churrascaria. Se não, não vai. E acabamos aceitando e como é que podia servir mandioca e quibe cru.

SONORA Marie Rose 4 Comida árabe é muito diversificada, muito rica, variada. Não senti muita dificuldade pra me adaptar com a comida daqui. Porque SONORA 4

no Líbano, naquela época, já tinha comida internacional. Claro, não tinha feijão e


arroz né!, mas assim tinha uma diversidade de comidas que a gente já estava acostumado com comida de fora a comida árabe, né. Então não era estranho, tipo, uma lasanha, um strognoff... lá tinha, entendeu, fazia... Então era o que... a feijoada, o feijão, que era diferente... a banana frita, a farofa... a gente foi experimentando, gostando. Naquela época que eu vim, não tinha quase padaria, tinha uma padaria, a padaria espanhola. O pão era quase que é novidade assim.

SONORA Munir Saad 5- O café da manha do libanês é um alimento SONORA 5

mesmo é considerado uma como uma das refeições, ela incluir leite geralmente é de cordeiro né, come coalhada, pão esse pão principalmente esse pão jornal, come azeitona, azeite usa muito azeite. É um alimento é uma refeição e ela é de todo mundo de todas as classes sociais. Das três refeições era a menor possível a do jantar.

OFF 04

Alguns costumes alimentares ainda são preservados pelos libaneses, como o comerciante Ali Ahmad Omais SONORA Ali Omais 6- Quando você vem da sua origem prefere a comida

SONORA 6

da sua pátria. Lá o café da manhã, principalmente as pessoas que trabalham no campo, tem que ser um café reforçado. Agora o que é que come, antigamente era o básico trigo, lentilha, grão de bico carne é pouco mais é carneiro, esses são assim o básico o forte no almoço. Eu sou de origem humilde e não tinha esse negócio de colher garfo não, era o pão. Um árabe comendo pão, ele faz uma espécie de uma concha. Eu estava comendo e falei assim oh! O prato brasileiro arroz, feijão e um pedaço de carne, completo. O prato Libanês é tabule e quibe ela praticamente supre a alimentação. SONORA Munir Saad 7-Porque que chamam os libaneses de turcos,

SONORA 7

porque antes da primeira guerra mundial que teve em 1914 era dominava pelos turcos,então os primeiros libaneses imigrantes que vieram pra cá, vinham com o passaporte com a chancela turca, então por esse motivo que a turma chamava turco turco e eu ficava bravo eu não gostava de ser chamado de turco. Já era alfabetizado


em árabe e em Frances, eu estudava de manha cedo o árabe e a tarde se estudava o Frances seria o caso de bilíngues aqui né, tem os cursos bilíngues.

No Líbano o inglês, o francês e o árabe são os três idiomas mais falados no OFF 05

país. Sabe-se que o inglês é a língua do comércio. Já o francês está ligado culturalmente a ocupação colonial do país.

SONORA Marie Rose 8 -Pra você ter uma idéia, qualquer colégio lá exige 3 idiomas do aluno. O árabe, o inglês e o francês. Quer dizer, um aluno sai falando SONORA 8

três línguas. É muito bem preparado para o mundo, estuda o dia inteiro, não estuda meio-período. Lá se entra sete horas no colégio, sai meio-dia, depois entra uma e meia e sai cinco horas, o dia inteiro tem aula. O ensino é forte, no período integral você pode ensinar muito mais a um aluno do que no meio-período, né.

OFF 06

Munir Saad explica que os libaneses que falam francês tem maior facilidade em aprender o português porque as duas línguas são latinas.

SONORA Munir Saad 9- Eu tive uma facilidade muito grande por SONORA 9

que

eu

dominava o francês, como maioria daqueles que estudaram, o libanês em si prioriza muito a educação, eu estudava em um colégio de freiras francesas, estudava dois períodos, em um período eu dominava o árabe no outro era o francês. Eu estudei em escolas francesas, a França que dominava o Líbano não tinha ainda alcançado a independência dele o Líbano, onde era proibido falar outra língua a não ser que seja o árabe.

OFF 07

Aprender outra língua requer utilizar de vários artifícios, como foi o caso do comerciante Ahmad Salem


SONORA 10

SONORA Ahmad Salem 10 Ficou mais fácil pra mim porque comecei a pegar o livro, aprender sozinho, sabe. A televisão ensina muito, novela ish!.. Porque eu via assim: a reação da pessoa e o jeito de falar um com o outro. Daí você já aprende os dois juntos. Assim Televisão ensina muito bem, além do estudo. Eu pegava, por exemplo, livros das funcionárias. Elas traziam pra mim, livros delas de Gramática, tal, tal, tal, desde o começo. Jornal todo o dia eu lia jornal. Comecei a ter a prática. A única coisa que me arrependo é que não fui numa escola pra melhorar meu sotaque assim, sabe, e algumas palavras, algumas letras. A gente erra a letra “P”. A maioria das pessoas erra a letra “P”, porque não acostumam assim. O cara não fala “Eu quero um Pão”. “Eu quero um “Bão”“.

OFF 08

Ali Omais lembra que é mais fácil aprender quando se tem orientação familiar

SONORA 11

SONORA Ali Omais

11- Você sabe que o fato de a mulher estar

trabalhando hoje e muito, não, não é questão de mercado de trabalho, a família está ficando falida os filhos que estão na rua isso é resultado da falta de orientação dos pais que não adianta jogar em cima da escola que fala que é a escola, o que vale é a família dentro de casa,a função sagrada da mulher eu acho que é assim, é extremamente benéfica. O homem ele vai trazer as coisas para casa.

SONORA 12

SONORA Ahmad Salem 12 - A mulher pode trabalha, só eu acho que ela tem que trabalhar meio período, não inteiro. Tem direito das crianças sobre ela. Trabalho está liberado qualquer um pode trabalhar, só a favor de a mulher trabalhar ter sua independência. A educação que você passa pro seu filho, vai acumulando dia a dia, sua presença com ele é maior e se diminuir essa presença com ele outros vão afetar ele.


O Líbano para os libaneses é um, para o mundo o estereótipo reforçado pela OFF 09

mídia é outro.

SONORA 13

SONORA Marie Rose 13- Você sabe que notícia pra ser notícia, muitas vezes, é só coisa ruim, né! Coisas muito boas que tem nos países aparecem em algum documentário, que você vê um lado bom, né. Mas não é sempre que mostram as coisas boas né? Notícias sobre guerras, falam que são atrasados, tudo. Eles vão lá e filmam as coisas que chamam mais a atenção. Aí vai nos bairros pobres, sujos. Vai mostrar o lado feio, e têm os dois lados. Jornalismo tem muito isso, depende muito de quem fez as reportagens. Mostra que a mulher tem que andar coberta da cabeça aos pés, com tudo preto, fechado. Mas a vida das mulheres, tipo, na casa delas, elas vivem muito bem. Se você ver ela, você não conhece. Elas só usam o véu pra sair. Então eles não mostram estas pessoas como moram dentro das casas e o luxo que elas tem, o conforto. Por que? Porque também o jornalista não tem acesso, é proibido. Nenhum marido, ninguém jamais vai deixar alguém filmar onde tem as mulheres deles lá, como vivem. Igual a novela “Clone”, você viu aquela Jade, como era linda na casa dela, vestia tudo do bom e do melhor, maquiada... e quando saía tinha que tampar o rosto. Então, na casa dela, era maravilhosa, tudo de luxo, viajava, vinha e voltava... Tem um luxo, “vive bem”, mas assim, entre aspas, claro. Quem faz uma matéria sobre o país, mostra as mulheres nas ruas todas cobertas, todas escondidas... Claro, tem umas coisas que são negativas, tipo: Mostra as coitadas “Como é que vai comer?” Tem que comer embaixo da burca, né! Isso realmente é triste, porque não é nada confortável. Mas elas desde crianças acostumaram e é usado no país inteiro, todo mundo igual. Quando ela está na casa dela, come do jeito que quer, mas se está comendo em publico não pode descobrir o rosto. Então vai um jornalista, te mostra uma que está lá, ainda mais na frente de um


jornalista que está de longe, escondido, né... e ela está comendo assim.... é porque não pode mostrar o rosto mesmo. Então, para o mundo inteiro aparece uma coisa do tipo: “Nossa, parece bicho!” Quer dizer, não é assim... Saiu de preto, tá toda coberta “Parece bicho” né?! Tem coisas boas e ruins, como todo país. SONORA 14

SONORA Ahmad Salem 14-

Vocês estão me entrevistando, tem que

entrevistar mais, mais, mais para você saber se é fato ou não é fato, para diferenciar para gente saber a verdade. Não adianta eu pego um cara que fala sobre libanês mas ele não é libanês e ele nunca foi pro Líbano, escutou de alguém e aí ele passou essa informação. Esse que é um dos erros, o cara fala assim: os pilares do islã são seis. E ele fala primeiro testemunho de fé, oração, fazer caridade, jejum, peregrinação e guerra santa, mas não temos esse aqui, os pilares do islã são cinco como é que falou seis. Um erro que até agora o cara escreve em livro, que o Ramadã vem sempre no em dez de setembro ele fala. Nunca acontece isso, não tem data para o Ramadã, sempre anda da no mês lugar, sempre no nono mês lunar. O meses lunar modificam as estações, ano que vem entre ano solar e ano lunar tem 11 dias de diferença. Ano que vem ele vai começar ou 19 de junho ou 20 de junho, então o cara como que escreve uma coisa, essa é uma informação errada demais. Essa dança do ventre na realidade ela não é libanesa, és de folclore egípcio 100%. Agora Dabki não, pode colocar ai Dabki é folclore libanês.

OFF 10

Os protagonistas destes relatos presenciaram a evolução da nossa capital, participando ativamente na formação da nossa identidade cultural, e, hoje, podemos tomar tereré e ouvir um Derbak.


SONORA Ahmad Salem 15- Eu nunca assim realmente entrei em uma casa e me SONORA 15

senti assim estranho aqui no Brasil, pelo contrário, como se fosse casa minha.

SONORA Ali Omais 16- Para os brasileiros que vão lá fora, porque puxa nossa! SONORA 16

esse pais é tão maravilhoso tem maneira tem tanta maneira de ganhar dinheiro, tanta chance. Se você não se der em Campo Grande você vai em Terenos, você vai em Porto Alegre, vai em São Paulo vai ... Você tem toda, todo o tipo de clima, tem todo o tipo de comida, tem todo o tipo de trabalho, tem mil maneiras de você ganhar a vida.

SONORA Marie Rose 17 - Era pra gente voltar, não voltei mais porque começou SONORA 17

também guerra civil no Líbano, durou vinte anos e mudou o rumo da nossa vida não é e acabamos ficando aqui. O povo brasileiro é um povo muito alegre, hospitaleiro também, ele não tem preconceito. Todo mundo que vem pra cá, consegue conviver razoavelmente bem com os brasileiros porque o brasileiro acostumou com o estrangeiro também, ele não tem esse preconceito, ele gosta de conviver, ele gosta de aprender, comer a comida dos outros, experimentar, ele não é um povo assim, fechado, e aqui é um país muito rico, muito abençoado, que mesmo quem chegou, que não tinha dinheiro, conseguiu se virar, aqui é muita riqueza, muita fruta, a natureza é muito generosa, produz o ano inteiro. O oriente sempre sofreu guerras, guerra civil, não tem aquele sossego, né. E aqui é um país abençoado, só basta não ter violência que seria o melhor país do mundo, como falam: Deus é brasileiro, não é? (risos)

SOBE SOM FORTE DE FECHAMENTO


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