Perfil do egresso do curso de Jornalismo da UFMS (2007-2010) | Gustavo Teixeira Zampieri

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE JORNALISMO

GUSTAVO TEIXEIRA ZAMPIERI

PERFIL DO EGRESSO DO CURSO DE JORNALISMO DA UFMS (2007-2017)

Campo Grande (MS) NOVEMBRO / 2018


PERFIL DO EGRESSO DO CURSO DE JORNALISMO DA UFMS (2007-2017)

GUSTAVO TEIXEIRA ZAMPIERI

Monografia apresentada como requisito parcial para aprovação na disciplina Projeto Experimental II do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. Mário Luiz Fernandes (orientador)

Profa. Dra. Daniela Ota

Profa. MSc. Juliana Feliz



AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus. Por permitir a minha vinda para Mato Grosso do Sul, sendo que poderia ter conseguido uma vaga em qualquer outro lugar, mas vim parar aqui. Creio que tudo tem um propósito e sou eternamente grato pela oportunidade. À minha família. Por todo apoio, incentivo e amor. Foram anos que sacrifiquei encontros, abraços, festas e sorrisos. Mesmo longe, sempre se fizeram presentes. Amo vocês! Aos meus amigos. Me aguentaram durante esses quatro anos, principalmente nessa reta final. Uns chegaram e foram embora, outros chegaram e permaneceram. Agradeço por cada momento juntos que ficarão eternizados em meu coração. Sem citar nome, mas cada um que ler, saberá que é de você a quem me refiro aqui. Amo vocês! Ao meu professor, orientador e “pai” Mário Luiz. O responsável pela minha vida acadêmica. Obrigado por me apresentar, ensinar e incentivar a entrar no universo acadêmico. Mas não somente ele, agradeço aos meus professores exemplos com quais tive mais contato: Daniela Ota, Katarini Miguel, Marcos Paulo da Silva e Rose Pinheiro. A minha Empresa Júnior de Comunicação, BRAVA. Com essa família foi onde passei grande parte da minha graduação. Obrigado por me possibilitar tantas coisas e permitir ter contato com tanta gente. Aos egressos participantes desta pesquisa. Se vocês não aceitassem a proposta, esse trabalho não seria concluído.


LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Sexo..........................................................................................................................25 Tabela 2. Idade.........................................................................................................................26 Tabela 3. Natural de Campo Grande?......................................................................................27 Tabela 4. Cidade atual..............................................................................................................28 Tabela 5. Pós-graduação..........................................................................................................29 Tabela 6. Filiação ao Sindicato................................................................................................30 Tabela 7. Atuação como jornalista..........................................................................................31 Tabela 8. Formas de contratação.............................................................................................32 Tabela 9. Áreas de atuação......................................................................................................33 Tabela 10. Estrutura da empresa jornalística...........................................................................34 Tabela 11. Setor da empresa....................................................................................................35 Tabela 12. Renda mensal.........................................................................................................36 Tabela 13. Satisfação salarial..................................................................................................37 Tabela 14. Carga horária.........................................................................................................38 Tabela 15. Número de empregos como jornalista...................................................................39 Tabela 16. Satisfação salarial com o atual emprego...............................................................40 Tabela 17. Mais de um emprego.............................................................................................41 Tabela 18. Avaliação do curso ...............................................................................................42 Tabela 19. Nuvem de palavras positivas.................................................................................43 Tabela 20. Nuvem de palavras negativas................................................................................45


RESUMO: A presente monografia traz o perfil do egresso do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). A pesquisa exploratória abrangeu o período de 10 anos (2007 – 2017), em que 328 acadêmicos concluíram o curso. O objetivo foi traçar o perfil desses egressos, identificando suas principais características, da formação acadêmica à sua atuação no mercado de trabalho. Neste perfil, constatou-se que a maioria dos concluintes é do sexo feminino, atua na área do jornalismo, principalmente como assessores de comunicação, trabalha com carteira assinada e está empregada em empresas de grande porte.

Palavras-chave: Comunicação; Egressos; Graduação; UFMS; Ensino de Jornalismo.


SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6 1 TRÊS CONCEPÇÕES DE JORNALISTA NA HISTÓRIA ............................................. 8 1.1 O jornalista como historiador do presente .................................................................. 8 1.2 O jornalista como publicista e crítico ....................................................................... 10 1.3 O jornalista com formação profissional e ética ......................................................... 12 1.4 As universidades no Brasil........................................................................................ 13 1.5 As escolas de comunicação no Brasil ....................................................................... 14 1.6 O currículo mínimo para o curso de jornalismo ....................................................... 18 1.7 O perfil do egresso .................................................................................................... 21 1.8 O curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da UFMS ................ 22 2 CONSTRUINDO UM PERFIL .......................................................................................... 24 2.1 O perfil do egresso .................................................................................................... 25 2.2 Aspectos positivos e negativos do curso do curso de Jornalismo ............................. 42 2.2.1 Pontos positivos................................................................................................. 43 2.2.2 Pontos negativos ................................................................................................ 45

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 48 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 49 APÊNDICES ........................................................................................................................... 51


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INTRODUÇÃO Pouco se sabe sobre os egressos dos cursos de graduação e quais são as características específicas que este grupo adquire ao término do curso. O projeto pedagógico da graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo (2013) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) afirma que não existe um acompanhamento dos egressos e a única informação que se têm é a quantidade de formados anualmente. Fica em evidência um ou outro concluinte, mas são poucos os estudos sobre a realidade geral. Perguntas como: Quem são? Onde estão trabalhando? Continuam na área do jornalismo? Qual a renda salarial? Em que proporção o curso de Jornalismo os preparou para o mercado de trabalho? Em qual mídia estão atuando? São questões, entre outras, recorrentes, pois há falta de dados consolidados e as suposições emergem sobre o perfil dos egressos dos cursos de Jornalismo, em particular da UFMS. Diante dessas questões, o presente estudo tem como objetivo diagnosticar o perfil dos egressos do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da UFMS de 2007 a 2017. Em 2017, foi formada a última turma com a matriz curricular do curso de Comunicação/Habilitação em Jornalismo. A partir de 2013, com a implantação das novas Diretrizes Curriculares, o curso passou a ter a denominação de Jornalismo. No decorrer deste trabalho, o termo graduação em Jornalismo será equivalente à Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo. Os dados obtidos nesta pesquisa se deram com base em questionário online composto por 24 perguntas. Por meio das respostas, foi possível traçar o perfil dos egressos. O primeiro passo foi coletar as informações básicas dos ex-acadêmicos com a Instituição para, posteriormente, entrar em contato e assim, enviar o questionário. A importância do trabalho está em elaborar o perfil dos graduados em Jornalismo. Para Moura, pesquisar o perfil de um profissional engrandece a sua profissão. “Valorizar uma profissão - no caso, a de jornalista - é valorizar, antes de tudo, o universo ao qual este profissional serve, valoriza e apresenta subsídios para o aperfeiçoamento da formação profissional” (MOURA, 2012, p. 9). Esta é uma pesquisa de natureza exploratória. Conforme Gil (2008), usa-se este tipo de metodologia quando é necessário “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias”, compartilhando com o objetivo da pesquisa de desmitificar e modificar os pensamentos sobre os egressos.


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Trata-se de um trabalho inédito e que pode contribuir para a criação de futuras políticas e estratégias para o desenvolvimento do curso. Ou seja, os dados poderão dar novos rumos às próximas reformas curriculares. Além disso, o curso poderá avaliar sua potencialidade e importância no contexto da profissionalização da imprensa de Mato Grosso do Sul. O estudo será oferecido também à Divisão de Egressos da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes) da UFMS, para futuras pesquisas mais detalhadas. O curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da UFMS teve início em 1989 e completou em 2018, 29 anos. A última turma de formados foi em 2017. A história de criação do curso é resultado de lutas e resistências de diversas pessoas que defenderam a iniciativa da graduação no estado. Este estudo está estruturado em dois capítulos. O primeiro traz uma breve revisão bibliográfica sobre três importantes concepções atribuídas ao jornalista ao longo de cinco séculos. Essa contextualização é uma forma de situar a importância do jornalista e apresentar suas atribuições nesta trajetória. No segundo, é desenvolvido o perfil dos egressos, com as 24 perguntas divididas em três eixos centrais: o primeiro, com informações básicas dos exacadêmicos como: nome, sexo, idade, cidade natal e atual. O segundo eixo é sobre a atuação ou não como jornalista, perguntas sobre filiação sindical, satisfação salarial, etc. O terceiro eixo apresenta aspectos positivos e negativos do curso, segundo os egressos.


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1 TRÊS CONCEPÇÕES DE JORNALISTA NA HISTÓRIA O jornalista passou por diferentes concepções ao longo dos cinco séculos do jornalismo. Em cada época, lhe são dadas diferentes percepções, atribuições e características que têm relação com os respectivos contextos históricos, políticos e ou sociais. Aqui, desenvolveremos suscintamente três dessas concepções, possivelmente as mais reconhecidas e emblemáticas, como forma de registrar a importância desse profissional ao longo da história. A primeira concepção é a do jornalista como historiador do presente, apontada por Tobias Peucer, em 1690. A segunda é a do jornalista como Publicista e Crítico, defendida por Honoré Balzac em meados do século XIX. A terceira, contemporânea, é marcada pela formação profissional e ética. Essa breve trajetória corresponde à importância atribuída por Lopes de entender o papel do jornalista e como ele é visto. “É preciso entender os porquês de certas configurações, representações, imagens, comportamentos, valores e outros aspetos da identidade desses profissionais, porquanto a própria concepção de jornalista como um profissional não é um dado absoluto, mas algo historicamente construído e em constante transformação” (LOPES, 2014, p. 49).

1.1 O jornalista como historiador do presente A primeira tese de doutorado defendida sobre o jornalismo foi do alemão Tobias Peucer, intitulada De relationibus novelli. Ela foi apresentada em 1690, na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Nela, Peucer define o jornalismo como um tipo de história – “história confusa” – e o jornalista como um historiador do presente. Ao longo de sua tese, Peucer argumenta sobre o perfil do jornalista. Segundo ele, a história se divide em três modalidades: história universal, particular, singular; história das coisas esparsas e história confusa. Esta última é na qual se enquadra o jornalismo. A tese foi escrita durante o período no qual a Europa passava por transformações e a população precisava se adaptar aos novos modos de viver e se comportar. Pouco mais de um século antes, a Reforma Protestante havia dividido a Igreja Católica, instituição


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que guiava toda a sociedade. Diante disso, o povo precisou se reformular com as mudanças que chegavam, juntamente com a Pré-Revolução Industrial e o crescimento da burguesia. O autor mostra a importância e a preocupação que os profissionais precisam ter ao construir suas notícias. É necessário usar a estrutura correta de modo que o leitor consiga entender a mensagem, através disso, ele [autor] mostra o exemplo das diversas formas de história e como cada uma se qualifica. Define os “relatos periodísticos” (relatos jornalísticos) e como ele se caracteriza. Contêm a notificação de coisas diversas acontecidas recentemente em qualquer lugar que seja. Estes relatos, com efeito, têm mais em conta a sucessão exata dos fatos que estão interrelacionados e suas causas, limitandose somente a uma simples exposição, unicamente a bem do reconhecimento dos fatos históricos mais importantes, ou até mesmo misturam coisas de temas diferentes, como acontece na vida diária ou como são propagadas pela voz pública, para que o leitor curioso se sinta atraído pela variedade de caráter ameno e preste atenção. (PEUCER, 2004, p. 16)

Na tese, são mostradas as qualidades para ser um “bom historiador”, que pode se traduzir como um bom jornalista, e os defeitos encontrados nessas pessoas. Argumenta que é necessário ter sempre o conhecimento das coisas e dos acontecimentos, sobretudo, a importância de se presenciar a situação. “É merecedor de mais credibilidade o testemunho “presencial” (autóptes) que o receptor de uma transmissão de outro” (PEUCER, 2004, p. 18). Outra característica para um bom historiador é o juízo, que se define como a seleção do que é ou não é notícia, e também o que era necessário ou não ser publicado. No decorrer da obra, o autor explica que existia uma “falta de instrução ou critério e por ignorância” (PEUCER, 2004, p. 18) desses historiadores em não realizar uma triagem do que deveria ou não ser publicado. Peucer faz uma crítica sobre essa falta de separação dos acontecimentos e descreve que essa situação era algo recorrente, porém, episódios parecidos, já aconteciam antes da tese ser redigida.

Por meio dele [juízo], as coisas dignas de crédito sejam separadas dos rumores infundados que se fazem correr; as leves suspeitas e as coisas e ações diárias sejam separadas das coisas públicas e daquelas que merecem ser contadas. Este juízo faltou em outros tempos sobretudo aos monges, assim como a muitos escritores, ou seja, aos autores das crônicas, e também falta frequentemente aos redatores de periódicos quando procuram falar de banalidades (micrología) e minúcias (tá lepta) e omitem o que seria útil e fácil de ler, envernizam com documentos o que ouviram dizer por outros e, por fim,


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quando não têm coisas exatas, fazem passar por história as suspeitas e conjecturas dos outros. (PEUCER, 2004, p. 18)

Peucer diz que o escritor de periódicos, ou jornalista, possui duas qualidades: a credibilidade e o amor à verdade. O profissional deve usar diariamente essas características para escrever as notícias/relatos. É feita uma comparação com a primeira lei da história e o jornalismo: “não se ouse dizer nada de falso; depois, que não lhe falte coragem para dizer o que seja verdade, que não tenha nenhuma suspeita de parcialidade nem aversão alguma em escrever” (PEUCER, 2004, p. 19).

1.2 O jornalista como publicista e crítico Honoré de Balzac foi um escritor com obras marcadas por críticas e questionamentos à sociedade. Nascido em maio de 1799, na França, em seu livro Os jornalistas: monografia da imprensa parisiense, o autor traça o perfil do jornalista francês da metade do século XIX, classificando-os em dois grandes gêneros: Publicista e Crítico, e esses divididos em categorias, subgêneros e variedades. Os Publicistas foram caracterizados como “escrevinhadores que fazem política” (BALZAC, 2015, p. 22). Este jornalista era visto como um profeta, que se preocupava com as questões passageiras da atualidade e fazia do seu texto superficial, um jogo político. As classificações feitas pelo autor para definir o Publicista foi: Jornalista; Jornalista – Homem de Estado; Panfletário; Nadólogo; Publicista de Carteira; Escritor Monobíblia; Tradutor e Autor com Convicções. Em linhas gerais, cada variedade era um tipo de personalidade que utilizava do seu papel como jornalista para conseguir outras coisas. Para entender essas categorizações, pode-se dar como exemplo o jornalista como Homem de Estado. Em sentido amplo, era ele quem possuía influência política e até que conseguia interferir diretamente no lucro do jornal. Eram profissionais que poderiam não ser fixos nas empresas, mas defendiam fielmente os ideais propostos. Já o Publicista Panfletário era aquele que fazia as denúncias e dava voz aos excluídos e ainda, estava totalmente ligado à oposição. O Publicista “vulgarizador” (Nadólogo), se escondia atrás de uma imagem de um homem intelectual, usando palavras e expressões bonitas em seus textos, para que ele parecesse algo que não é. As suas notícias poderiam ser longas e disfarçadas, como uma reportagem, contudo, na hora da leitura, percebe-se que o texto é superficial e vazio.


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Para Balzac, o Monobíblia, só existiram cinco ou seis homens com uma certa característica que eles possuíam, a inteligência. O Publicista Tradutor era o responsável pelas matérias estrangeiras e pelas traduções, porém, a crítica feita pelo autor é que antes, cada jornal tinha o seu jornalista tradutor focado nas matérias estrangeiras e pelas suas traduções. Contudo, o número destes profissionais diminuiu, prejudicando diretamente os leitores, pois as mesmas notícias traduzidas eram enviadas para todos os veículos impressos. “Desde então, os jornais de Paris tiveram todos o mesmo tradutor, não têm mais agentes nem correspondentes ... que lhes remete a todos as mesmas notícias estrangeiras” (BALZAC, 2015, p. 56). Com exceção daquele jornal que pagasse mais, ele teria uma matéria diferenciada dos outros. E para finalizar o gênero dos Publicistas, é tipificado o Autor com Convicções, subdividido em três variedades. Em resumo, são os jornalistas conhecidos como os solucionadores de problemas ou como o deus para o jornal. E existe também o seu oposto, definido como o jovem da equipe, cheio de energia e disposição. O segundo grande gênero identificado por Balzac é o Crítico, subdividido em cinco subgêneros: Crítico da Nobreza Antiga, Jovem Crítico Louro, Grande Crítico, Folhinista e os Pequenos Jornalistas. O Crítico pode ser definido como aquele profissional, que frustrado com o seu trabalho, começou a fazer e lançar críticas. O autor diz que antes, os críticos possuíam formação e eram instruídos para isso. Posteriormente, qualquer profissional poderia fazer essa função, e logo, as matérias passaram a ser superficiais e rasas. “Antigamente, a instrução, a experiência, extensos estudos eram necessários para empreender a profissão de crítico; ela só era exercida bem tarde; mas, hoje, como diz Molière, nós mudamos tudo isso” (BALZAC, 2015, p. 61). O primeiro descrito é o Crítico da Nobreza Antiga, ele só é encontrado no Journal des Savants, ou seja, nos jornais dos sábios. Esse profissional só escrevia se a sua fala fosse a favor, contra ou sobre um determinado tema, fazendo assim, uma oportunidade para não se contradizer. Outro exemplo é o Grande Crítico, onde ele foi subdivido em duas variedades: o Executor de Grandes Obras e o Eufurísta. O primeiro era o crítico, que poderia ser descrito em uma palavra: tédio. E o segundo é conhecido por ser frio, nebuloso e plácido, que supervaloriza os autores que já morreram, os vangloriando. O Folhinista era o que causava inveja nos companheiros de trabalho e, segundo o autor, esses profissionais “levam uma vida alegre, reinam nos teatros; são mimados,


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acariciados” (BALZAC, 2015, p. 76). Eles eram dirigidos e conseguiam muitas coisas pelo seu suposto status. Balzac (2015) analisou todos os tipos de jornalistas que existiam na França no século XIX, categorizando-os e separando de acordo com suas particularidades. O autor conseguiu transcrever a realidade da imprensa, mostrando todas as suas características e possibilitando ser utilizado, com adaptações, nos dias de hoje.

1.3 O jornalista com formação profissional e ética A terceira concepção do jornalista é aquele com formação profissional e ética. Um dos pioneiros neste processo foi o jornalista e editor húngaro, Joseph Pulitzer. Autor do livro A Escola de Jornalismo, escrito em 1904 e traduzido em 2009, foi um dos responsáveis pela implementação das escolas de Jornalismo nos Estados Unidos. Na sua visão, “com a especialização e a formação universitária iriam melhorar a integridade e o desempenho dos jornalistas, e dessa forma promover o bem-estar do país” (PULIZTER, 2009, p. 9). Ele doou US$ 1 milhão para a criação da escola de Jornalismo na Universidade de Colúmbia. Posteriormente, a profissão ganhou outra dimensão. Para Pulitzer, o jornalismo deveria ser ensinado. Em seu livro, são rebatidos todos os argumentos dos críticos em relação à criação do curso/especialização para os jornalistas. É necessário que o profissional passe por um período de aprendizagem onde ele possa ser instruído e conduzido para fazer melhor o seu trabalho. Pulitzer sentiu a necessidade de quebrar o estereótipo de que “os jornalistas nascem feitos”. Há casos em que o profissional nasce com o “dom” ou o “faro jornalístico”, mas eles precisam passar por uma Instituição para se desenvolver mais.

Toda a inteligência precisa de aperfeiçoamento. A mais alta se beneficia com ele, a inferior não tem chance alguma sem ele. A melhor peça de Shakespeare, Hamlet, foi sua décima-nona obra, não a primeira, e foi escrita depois de muito trabalho e do amadurecimento, da experiência no exercício de suas aptidões e no acumulo de conhecimentos adquiridos ao criar as dezoito peças anteriores. (PULITZER, 2009, p. 11)

Cada vez que os críticos argumentavam sobre a impossibilidade do ensino, eles acabavam se contradizendo e provando a verdadeira necessidade. Segundo o autor, não é possível que a aprendizagem seja feita na redação ou no mesmo momento que esteja


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trabalhando, no máximo, o que acontece é um ensinamento acidental. “Ninguém numa redação tem tempo ou vocação para ensinar a um repórter cru as coisas que deveria saber antes de realizar o mais simples trabalho jornalístico” (PULITZER, 2009, p. 16). Os críticos acreditavam que não havia necessidade de se criar uma faculdade de jornalismo, pois o que se aprenderia nessa graduação, qualquer outro curso seria suficiente para ensinar o aluno. Porém, o autor argumenta e defende que esses ensinamentos seriam supérfluos e muitas vezes desnecessários para a formação do jornalista. O ideal era um curso com aquilo que o profissional realmente precisava saber para a sua formação. Mas, não tirando o mérito e a importância do jornalista procurar e estudar outras matérias, para assim, escrever melhor e ter conhecimentos em diversas áreas. Isso serve para trazer uma distinção entre os que passaram, ou não, pela academia. O autor argumenta sobre a importância dos professores nas faculdades, que além de apresentarem o amor e o dom do ensino, necessitam de uma grande experiência profissional. “Mas precisamos de algo além de ainda mais raro que isto. Professores de Jornalismo deveriam ser editores com experiência” (PULIZTER, 2009, p. 22). A maior crítica é sobre a função e obrigação do jornalista. O profissional deveria se envolver apenas com questões jornalísticas e nunca com questões empresariais ou burocráticas. Diz que o trabalhador “não fica pensando em seu salário ou nos lucros dos proprietários. Está ali para zelar pela segurança e pelo bem-estar das pessoas que nele confiam” (PULIZTER, 2009, p. 27). Distingue-se a atuação do jornalista dos demais trabalhadores do jornal, e essa divisão de atividades eleva a qualidade da profissão e do conteúdo, fazendo com que eles sejam respeitados pela comunidade. O autor era contra o envolvimento do jornalista na administração do jornal, essa intriga o levou a desistir de investir em uma universidade. As matérias que Pulizter propunha no curso superior de jornalismo eram: estilo, direito, ética, literatura, verdade e precisão, história, sociologia, economia, arbitragem, estatística, línguas modernas, ciências físicas e os princípios do jornalismo. Isso revela o que o perfil desejado para o jornalista estava voltado para ser mais humanista, ético e menos técnico.

1.4 As universidades no Brasil No Brasil, as universidades chegaram junto à Família Real Portuguesa e só depois de muito tempo, em comparação com a Europa, Estados Unidos e outros países da América, ela se instalou no país. “Enquanto o Brasil, foi um dos mais retardatários a implantar a


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universidade, seja pela falta de interesse da Coroa portuguesa e/ou pelo desinteresse dos detentores do poder no país nesse período” (BORTALANZA, 2017, p. 02). A sua trajetória é marcada pelas tentativas de outras classes, sem ser à alta burguesia, de adentrar no sistema de ensino. A estrutura educacional superior era restrita. Martins apud Teixeira expõe que “até o final do século XIX existiam apenas 24 estabelecimentos de ensino superior no Brasil com cerca de 10.000 estudantes”. Por esse motivo, foram criadas outras instituições de iniciativa privada. Contudo, esse período é marcado pela industrialização e com ela, a classe média ganhava uma maior visibilidade e um de seus desejos era de participar da educação superior. Em 1961, foi realizada a Conferência de Punta del Este, onde foi redigida uma Carta com recomendações para o melhoramento do ensino. Maraschin (1979) argumenta que o mercado visou a alienação para que a população dependesse dele para viver. “O mercado sofisticou-se com o desenvolvimento da sociedade. Exigiu, para a sua manutenção, pessoal especializado. Gerou a classe dos profissionais”. Assim, “a escola adquiriu nessa estrutura social alienante, o papel de formadora do profissional. Formadora de um profissional destinado à manutenção do mercado que é a fonte da atual alienação” (MARASCHIN, 1979, p. 133). Nas décadas de 50 e 60, “a Universidade passa de uma instituição que define um campo de soberania sobre valores para uma organização de tipo industrial. Deixa de ser uma instituição que legitima, transfere os valores, para ser uma organização que produz valor econômico” (SILVA apud ALBUQUERQUE, 1979, p. 23).

1.5 As escolas de comunicação no Brasil A profissionalização do jornalista, a partir dos Estados Unidos, também chegou ao Brasil. A primeira tentativa de criação da escola de comunicação no país, foi no Rio de Janeiro, na década de 30, na Universidade do Distrito Federal. O responsável pela iniciativa foi o professor e educador Anísio Teixeira. Porém, a proposta foi barrada porque a intenção do curso era focada na reflexão sobre o Jornalismo na sociedade criando assim, conhecimentos e descobertas sobre este movimento, algo não pragmático. O objetivo principal dessa universidade, segundo Melo, foi formar homens que seriam capazes de pensar a realidade para nela poder intervir.


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Na década de 70, as Escolas de Comunicação no Brasil estavam na moda. Melo conta que houve um crescimento exponencial de 200% em comparação com a década passada. Na época em que o pesquisador escreveu, o país possuía 60 escolas de comunicação. Hoje, segundo o dado do Ranking Universitário Folha, o Brasil conta com 314 cursos, espalhadas por todas as regiões do país. A próxima tentativa, na década seguinte, foi realizada e finalizada por Cáspero Líbero, em São Paulo. A proposta foi acatada porque o objetivo central foi criar um curso onde os acadêmicos pudessem sair sabendo manusear as ferramentas do Jornalismo, ou seja, um curso voltado para a prática, diferente da ideia de Teixeira. Cáspero Líbero era empresário e, como proprietário de jornal e sabendo de suas “obrigações”, fez essa reivindicação para que o governo criasse uma escola de comunicação para formar novos comunicadores. Antes, quem teria essa missão eram as empresas jornalísticas, mas elas “precisavam dedicar-se a outras atividades mais importantes como o aumento e a diversificação da produção, para as quais se, duvida seriam necessários mais profissionais, melhor capacitados” (MELO, 1975, p. 32). Melo critica Líbero sobre à criação dessa Escola de comunicação, que não visa, como missão, a base do aprendizado ou preparo acadêmico, e sim, uma ideia política e de uma “construção do seu próprio monumento histórico” (MELO, 1979, p. 32). A partir da ideia de graduação de Líbero, os alunos sairiam já sabendo os manejos das ferramentas essenciais para a profissão. Diante disso, o mercado se remodelou e passou a contratar apenas os profissionais diplomados, ou seja, aqueles oriundos de Escolas Superiores tradicionais, excluindo assim, os que se formavam nas escolas que foram recém-criadas.

As empresas jornalísticas que se estruturaram ou remodelaram segundo os padrões capitalistas da eficiência operacional e da redutibilidade de custos passaram a adotar critérios de qualificação profissional para compor os seus quadros técnicos, uma vez que dispõem de instrumentos eficazes para o controle ideológico das mensagens a serem produzidas. Contudo, algumas outras, principalmente nas áreas menos desenvolvidas, continuam a selecionar pessoal pelos critérios da projeção social dos candidatos ou das influencias político-familiares que os escudam (MELO, 1979, p. 33)

Outra crítica feita por Melo é sobre a grande influência que os outros países, principalmente os Estados Unidos, exerciam sobre o Brasil. O jornalista diz que as faculdades brasileiras “limitar-se-iam a uma transmissão dogmática de conhecimentos oriundos do


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exterior, sem a menor preocupação de avaliar a sua adequação à realidade nacional” (MELO, 1979, p. 34). Nessa linha cronológica, nas décadas de 50 e 60, iniciou um embate entre o setor empresarial e as escolas de comunicação, onde o primeiro exigia um pessoal adestrado para o trabalho, com especialidades em diversas áreas, e o segundo não conseguia entregar essa demanda. Frente a este problema, as escolas de Jornalismo migraram para escolas de Comunicação, “abrindo um leque mais extenso de alternativas para as novas funções criadas pelo desenvolvimento urbano-industrial” (MELO, 1979, p. 36). Outra mudança nessa mesma época foi a criação de escolas de Comunicação particulares, que visavam “capitalizar a comunicomania, abrigando as novas profissões no seu elenco de curso regulares” (MELO, 1979, p. 37). O problema é que a mudança foi superficial e não alterou a estrutura interna. Os padrões e modo de ensino foram mantidos nesse novo curso, Melo diz que as novas escolas acabaram “tornando-se estabelecimentos dedicados à transmissão dogmática e verbalista de conhecimentos adquiridos na bibliografia estrangeira, informando os alunos, quando muito, sobre técnicas profissionais que eles não conseguem praticar e avaliar dentro do âmbito acadêmico” (MELO, 1979, p. 37). O ensino de comunicação passou por três grandes fases, categorizados como: Clássico-humanística, Científico-técnica e Crítico-reflexiva. A primeira fase aconteceu da criação dos cursos até a segunda metade da década de 60, onde a predominância de ensino era oriunda da Europa clássica, totalmente focado no estudo, “com aspectos literários, éticojurídico e histórico” (ABEPEC, 1979, p. 76), não utilizavam equipamentos e nem laboratórios. A segunda fase se fixa na década de 60, onde o modelo europeu perdeu lugar para o norteamericano, dando então, o foco no “científico-empírico e técnico de comunicação” (ABEPEC, 1979, p. 76) e seguindo o modelo de comunicação de Lasswell. Foi criado e houve o aumento de disciplinas técnicas e laboratórios, trazendo o pragmatismo para o curso. Já a última fase foi caracterizada pelo aprendizado que conseguiram fazer durante todo esse percurso, “avaliar o seu correto significado e importância dentro da sociedade” (ABEPEC, 1979, p. 76). O jornalista Gaudêncio Torquato (1979, p.159) traça uma categorização paralela a desenvolvida por Melo, onde Torquato diz que existiram três grandes ciclos: Bacharelesco, Tecnicista-Pragmático e o Misto. Em suma, as descrições são parecidas com a categorização passada, onde o Bacharelesco foi o período de improvisação e de falta de especialização dos docentes e o estudo era voltado para Letras e Filosofia. O Tecnicista-Pragmático, modelo norte-


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americano e superficial, foi voltado para a prática, com uma formação rápida e focada no mercado de trabalho, ele encerrou-se em 1969. Por fim, o ciclo misto tentou equilibrar a teoria e prática e o seu contexto foi o período de transformações socioeconômicas. No final da década de 60, o curso de Jornalismo foi substituído pelo de Comunicação Social e suas habilitações. A Unesco, ao realizar essa mudança, justifica a sua atitude classificando a importância de se construir um profissional polivalente que pudesse ser um “agente de transformação”. Na época, o Brasil passava por um período de Ditadura Militar e era considerado país de terceiro mundo em desenvolvimento econômico e industrial. Nos países menos industrializados a principal tarefa está em aumentar a participação da população nos assuntos econômicos e nacionais, melhoras seus conhecimentos teóricos e práticos, fundi-los num sentimento nacional e permitir-lhe encontrar sua identidade cultural e pessoal no esforço dirigido para o desenvolvimento nacional. Sem a comunicação, sem o pleno emprego dos modernos meios de comunicação ao lado de formas mais tradicionais de comunicação social, há poucas esperanças de alcançar objetivos urgentes em curto tempo, especialmente quando nesse esforço participam milhões de pessoas. Na atualidade, os encarregados da política e os cidadãos desses países hão de prestar a mais alta atenção à função que a comunicação desempenha hoje na sociedade e estudar em que ela pode contribuir melhor em todos os aspectos do desenvolvimento nacional. (ABEPEC, 1979, p. 79)

Para esse novo profissional, foi lhe atribuído algumas funções como: possibilitar o acesso à informação à toda a população, transmitindo valores e conhecimentos; realizar reflexões sobre as manifestações culturais (nacional e regional); mostrar e espalhar as diversas tradições culturais e outros modos de expressões culturais, além de formas de entretenimento; ajudar no aumento de padrões de bem-estar econômico e social; lutar para a participação da população marginalizada; contribuir com a divulgação do patrimônio artístico. A faculdade ficou definida como sendo “o processo ou a ação de pôr em comum informações, conhecimentos, atitudes e valores através da produção e uso coletivos de sistemas semióticos e do desenvolvimento de tecnologias, que levam à cooperação ou conflito, dominação ou dialogo” (ABEPEC, 1979, p. 80). O curso de Comunicação foi classificado em quatro segmentos: PROCESSO (“na medida em que estuda diacrônica e sincronicamente os fenômenos de comunicação em termos das variáveis e operações que o integram”); SISTEMA (“na medida em que os processos de comunicação não são independentes das estruturas em que ocorrem e são por elas parametrados”); ARTES (na medida em que nos processos de elaboração e transmissão de mensagens estão envolvidos os complexos mecanismos da intuição e da criação, além de outros


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já melhor conhecidos e sistematizados”) e CIÊNCIA (“ na medida em que constitui uma reflexão sobre princípios, métodos e dados que permitem refinamento conceptual e explicações progressivamente mais abrangentes dos fenômenos da comunicação”) (ABEPEC, 1979, p. 81). A partir deste momento, o curso de Comunicação passou a ter 2.400 horas, e neste montante, 45% a 55% deveriam ser destinados para matérias de cunho Crítico-Científico. Ao todo, eram ministradas 20 disciplinas, uma quantidade excessiva para o curso, o que impossibilitava a criação de novas matérias com foco regional e local, sem dar a prioridade para o que o mercado ou a cultura pediam. Nota-se também que o curso de Jornalismo, no seu início, foi alocado na Faculdade de Filosofia. De acordo com o Decreto-Lei nº 5.480, de 13 de maio de 1943, “O curso de jornalismo será ministrado pela Faculdade Nacional de Filosofia com a cooperação da Associação Brasileira de Imprensa e dos sindicatos representativos das categorias de empregados e de empregadores das empresas jornalísticas” (LEI Nº 5.480, 1943, ART. 3).

1.6 O currículo mínimo para o curso de Jornalismo Moura faz um estudo sobre as origens dos currículos mínimos e utiliza-se de diversos autores para comprovarem a sua pesquisa. Entre suas referências bibliográficas, a autora seleciona Antônio Flavio Barbosa Moreira (1995) para embasar e discorrer sobre o tema. Moreira separa em três períodos que o país passou em relação aos currículos. O primeiro é dos anos 20 e 30 quando surgiu a questão curricular no Brasil. O segundo período é do final dos anos 60 ao 70 onde foi feita à formatação deste campo e o último de 1979 a 1987 onde foram realizados os debates e reconceituação. O autor separa também três tendências curriculares: Técnico-Linear, onde o currículo é centrado em disciplinas tecnocráticas, possuindo um modelo curricular focado nas atividades específicas da área profissional. O Circular-Consensual, quando a teoria curricular é feita a partir das experiências ou necessidades do grupo/individual para a socialização, com um currículo centrado nas relações humanistas. O último é o Dinâmico-Dialógica, cujo o currículo é voltado para a possibilidade dos alunos se libertarem através do conhecimento, onde é realizado o resgate de conteúdo com uma visão crítica e o currículo é feito a partir de conteúdos provocadores de uma transformação social. Em 1968, durante a estruturação das Universidade e a partir da Lei 5.540, foi exigido que os cursos deveriam possuir o currículo mínimo, que se define como o conjunto de


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matérias que os estudantes devem ter para validar a sua formação acadêmica. Na época, isso gerou debates entre os pesquisadores e professores.

O ensino superior é visto como ensino profissionalizante, as decisões são tomadas pelo poder central que as unifica para todo o País, sem levar em consideração as experiências dos professores e alunos de cada região, os conteúdos dos currículos prescritos garantem a tecnificação das humanidades e a castração ideológica com que se aprazem os donos do poder (SILVA, 1979, p. 24)

Cunha e Montello foram os responsáveis por criarem o primeiro currículo mínimo para a habilitação em Jornalismo, em 1962, e argumentaram o desafio que tiveram para realizar essa criação, visto que para esta graduação era necessária uma vasta variedade de disciplinas. “Já ao Jornalismo, em certo sentido, tudo interessa. Sua originalidade, sua especificidade, está na própria generalidade” (SILVA, 1979, p.26). O curso de Jornalismo, durante toda sua história, passou e passa por momentos de tensão e debate. Por ter em sua base a necessidade do conhecimento em várias áreas e, ter o conhecimento técnico, científico e humanístico, a graduação viu/vê a necessidade de estar mudando o seu percurso e direção, sempre que preciso. O Brasil teve cinco currículos mínimos para os cursos de Jornalismo e Comunicação Social e suas habilitações: Resoluções n°11/69; n°03/78; n°02/84 e os Pareceres n°323/62; n°984/65, e assim ficaram responsáveis por nortearem as normas no país. Uma das características é que as escolas não poderiam alterar as normas já estabelecidas, contudo, apenas em 2011, os cursos tiveram a oportunidade de criarem seu próprio currículo mínimo, de acordo com o que o projeto pedagógico defendia. Os Pareceres de nº323/62 e nº984/65 foram destinados ao curso de Jornalismo, sendo o primeiro com a duração mínima de três anos letivos e com disciplinas gerais, especificas e técnicas. O segundo possuía quatro anos, com 2.700 horas aulas, e as disciplinas eram gerais mais as especiais/instrumentais e de especialização/técnica. As Resoluções de nº11/69, 03/78, 02/84 são especificas para o curso de Comunicação Social e suas habilitações. A primeira tem como habilitação Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, Editoração e polivalentes, com duração de três a seis anos e 2.200 horas aulas e disciplinas básicas de formação Social e Profissional. A segunda era com habilitação em Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, Rádio e Televisão, Cinematografia, sendo de três a seis anos, com 2.200 horas aulas e com disciplinas de Fundamentação Geral Humanística, Específicas e Profissionais. E a terceira possuía as habilitações de Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, Produção Editorial,


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Radialismo e Cinema, com a duração de quatro a sete anos letivos, possuindo 2.700 horas aulas e as matérias eram das áreas da Ciência Social, Ciência da Comunicação, Filosofia e Artes com disciplinas Específicas. Muitas críticas foram feitas com a criação do currículo mínimo e com a extensa carga horária destinada aos alunos, além de ser algo padrão, sem respeitar as peculiaridades, diferenças e realidade de cada região do país.

O ensino superior é visto como ensino profissionalizante, as decisões são tomadas pelo poder central que as unifica para todo o País, sem levar em consideração as experiências dos professores e alunos de cada região, os conteúdos dos currículos prescritos garantem a tecnificação das humanidades e a castração ideológica com que se aprazem os donos do poder (SILVA, 1979, p. 24)

Vieira critica também a questão do curso de Comunicação Social ter suas habilitações e os alunos terem a mesma formação.

Uma mesma sala de aula preparava, e prepara, um jornalista, um publicitário, um relações públicas, sendo dada a todos a mesma formação teórica, isto é, uma informação alienante; a todos se transferiam e transferem, em bloco, técnicas europeias e norte-americanas, notadamente norte-americanas, sem nenhum comprometimento com a realidade brasileira, e sem que ao aluno, futuro comunicador social, fossem dadas condições de procedes, ele mesmo, a essa redução (VIEIRA, 1978, p. 277)

Koshiyama argumenta sobre o constante questionamento e discussão sobre o currículo mínimo. Ela diz que “quaisquer discussões, mesmo quando não possibilitem uma reformulação do currículo mínimo no presente ou no futuro, apresentam uma utilidade educacional: conscientizar docentes e discentes para as limitações existentes nas atividades escolares” (KOSHIYAMA, 1978, p. 143). Em 1996, foi implantada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a partir daquele momento, os cursos passariam a seguir as diretrizes curriculares e não mais o currículo mínimo. Contudo, apenas em 2011 as diretrizes foram validadas para o curso de Comunicação Social e suas habilitações.


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1.7 O perfil do egresso Maraschin faz uma reflexão sobre o sentido da palavra formação utilizada no âmbito escolar. Mas, quando é aplicada no atual mercado de trabalho, a mesma perde a importância e é banalizada. Ao submetermo-nos às regras do mercado alienador, pura e simplesmente, abandonando a riqueza e o poder da “formação”, criamos servos da situação vigente. Recortamos sobre o cenário do servilismo profissionais que se encerram em especializações e exercem suas funções do que o desenvolvimento equilibrado da vida comunitária. Formar-se, nessa perspectiva, passa a significar informar-se: adquirir os conhecimentos necessários para dominar situações, manipular dados, decifrar códigos, para também dominar pessoas, manipular grupos e impor-se como aquele que sabe. Neste ponto, a profissão acaba sendo um fardo; uma atividade entediante. Cumprimos o dever como se fosse o ritual de um culto sem vida. Fossilizamos o que deveria permanecer vivo e gerador de vida. Sentimo-nos escravos quando deveríamos agir livremente (MARASCHIN, 1979, p. 136)

O MEC define que as diretrizes curriculares são uma forma de trazer a flexibilização dos currículos mínimos, possibilitando que as Instituições possam ter liberdade e inovação para melhorarem a sua realidade. “Irão permitir às IES definir diferentes perfis de seus egressos e adaptar, estes perfis, às rápidas mudanças do mundo moderno. Ou seja, estas instituições terão liberdade para definir parte considerável de seus currículos plenos” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO). De acordo com o Parecer do CNE 429/2001, o perfil do egresso desejado para a área de Comunicação Social é aquele que tenha a capacidade de criar, produzir, distribuir, receber e analisar criticamente às mídias e as práticas de trabalho referentes a elas; refletir a variedade e mutualidade das demandas sociais e profissionais; ter uma visão integradora e horizontalizada e por fim, utilizar o instrumental teórico/prático oferecido durante a graduação. E para o Jornalismo é aquele que consiga produzir informações, ter objetividade na apuração, interpretação e divulgação dos fatos, seja capaz de traduzir e distribuir as informações para todos os públicos e que consiga também, ter um relacionamento com as outras áreas com as quais o Jornalismo tem afinidade. Para a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul a definição que se têm dos egressos são “acadêmicos que concluíram todas as disciplinas do currículo de um curso e já colaram grau, sendo, portanto, portadores de diplomas oficializados pela UFMS”. Essa é a única


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constatação oficial onde a Universidade define um egresso, permitindo diversas interpretações sobre ele.

1.8 O curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da UFMS A criação do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo foi uma reivindicação do recém-criado Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Campo Grande/MS. A iniciativa ocorreu em 1981, quando os sindicalistas organizaram um pedido formal para a UFMS. Em 24 de outubro de 1985, quatro anos após a iniciativa, o curso foi fundado. O processo foi apoiado por empresários, jornalistas profissionais e pelo Governo do Estado. Mas, o curso só teve início em 1989, após o primeiro vestibular. Desde o início ele foi “coerente com suas origens e seus objetivos, o curso conseguiu desde o início imprimir à sua trajetória pedagógica um compromisso ostensivo e crescente com as particularidades das demandas regionais” (Site do curso de Jornalismo UFMS). De acordo com a Resolução nº 9 de janeiro de 2010, do Conselho de Ensino e Graduação da UFMS, o profissional desejado pelo curso “será o homem tecnicamente competente, deverá ser capaz de incomodar-se/indignar-se, de solidarizar-se com as dores universais, para, com sua atuação, compreender os fenômenos e levar essa compreensão ao público” (BOLETIM DE SERVIÇO, 2010, p. 13). Outra característica desejada pelo curso é que o acadêmico saiba sobre a sua liberdade individual e coletiva, e que seja capaz de fazer reflexões sobre todos os contextos. Se comprometido com a sociedade - e não somente com o mercado que o emprega -, pela sua postura ética-reflexiva, terá como permanente a busca pela elevação de sua consciência - o alargamento de sua visão de mundo - que lhe permitirá ser mais que um produtor/reprodutor de informações, mas serprofissional comprometido e humanizado que contribui com a construção do mundo, ao mesmo tempo em que se constrói por influência do mundo. (BOLETIM DE SERVIÇO, 2010, p. 13)

Tem como habilidades e competências: registrar fatos jornalísticos, apurando, interpretando, editando e transformando-os em notícias e reportagens; interpretar, explicar e contextualizar informações; investigar informações, produzir textos e mensagens jornalísticas com clareza e correção e editá-los em espaço e período de tempo limitados; formular pautas e planejar coberturas jornalísticas; formular questões e conduzir entrevistas; relacionar-se com


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fontes de informação de qualquer natureza; trabalhar em equipe com profissionais da área; compreender e saber sistematizar e organizar os processos de produção jornalística; desenvolver, planejar, propor, executar e avaliar projetos na área de comunicação jornalística; avaliar criticamente produtos, práticas e empreendimentos jornalísticos; compreender os processos envolvidos na recepção de mensagens jornalísticas e seus impactos sobre os diversos setores da sociedade; buscar a verdade jornalística, com postura ética e compromisso com a cidadania; dominar a língua nacional e as estruturas narrativas e expositivas aplicáveis às mensagens jornalísticas, abrangendo-se leitura, compreensão, interpretação e redação; dominar a linguagem jornalística apropriada aos diferentes meios e modalidades tecnológicas de comunicação (BOLETIM DE SERVIÇO, 2010, p. 14). Esse perfil desejado esteve vigente até o ano de 2014, última turma a entrar na Universidade pela graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo. Posteriormente, houve a mudança para a graduação em Jornalismo, onde os acadêmicos serão formados como bacharéis em Jornalismo. O MEC define na Resolução nº1 de 27 de setembro de 2013, as diretrizes curriculares para o curso de Jornalismo. No artigo 6º ele afirma que “as instituições de educação superior têm ampla liberdade para, consoante seus projetos pedagógicos, selecionar, propor, denominar e ordenar as disciplinas do currículo a partir dos conteúdos, do perfil do egresso e das competências apontados anteriormente” (RESOLUÇÃO Nº1, 2013, p. 7). Uma das recomendações do MEC é que as diretrizes curriculares sejam feitas a partir do perfil do egresso. Contudo, segundo o próprio plano pedagógico do curso de Comunicação Social da UFMS diz que “não existe um acompanhamento sistematizado de egressos no curso, mas nos 19 anos de existência do curso em Campo Grande, atingiu-se uma média anual de 35 formandos” (PLANO PEDAGÓGICO, 2013, p. 8). Ou seja, não existe pesquisas ou acompanhamentos com este grupo específico, os egressos.


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2 CONSTRUINDO UM PERFIL De acordo com relatório da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), entre 2007 e 2017 o curso de Jornalismo da UFMS titulou 328 jornalistas. Destes, 263 foram identificados os seus endereços eletrônicos e foi enviado o questionário com 22 perguntas fechadas e duas abertas. Foi obtida a resposta de 157 ex-acadêmicos (47,8%). Com base nos que responderam, foi desenvolvido o perfil a seguir, que visa diagnosticar as principais características dos egressos do curso nos últimos dez anos. Trata-se de pesquisa por amostragem aleatória, na qual os respondentes correspondem a 47,8% do total de formados no período objeto da pesquisa. O questionário tem como eixos centrais traçar o perfil pessoal dos egressos, sua atuação no mercado de trabalho, diagnosticar a visão desses egressos quanto à contribuição do curso de Jornalismo na sua formação profissional. A proposta do formulário foi ser o mais objetivo possível. Ele ficou disponível para respostas durantes os dias 04 a 21 de outubro de 2018. O segundo passo foi localizar os egressos. A estratégia foi procurar acadêmico por acadêmico, através do Facebook. Após o aluno ser encontrado, era enviado para ele o questionário. Não bastando, foram enviadas mensagens via WhatsApp e Instagram. Neste percurso de busca pelos ex-alunos, os próprios egressos se interessavam e ajudavam na procura pelos demais. O trabalho desenvolve-se através da Pesquisa Exploratória. Para Gil, é usado este tipo de pesquisa quando é necessário “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias”. E é exatamente a ideia central do trabalho, quebrar com os pré-conceitos estabelecidos em relação aos egressos e pelo assunto não ser abordado no curso de graduação. Com a utilização deste método é possível estabelecer uma relação de familiaridade com o tema e traze-lo à tona com seus resultados. A Pesquisa Exploratória possibilita diagnosticar problemas e buscar novas oportunidades para a sua resolução.

Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis (GIL, 2008, p. 27)

Este trabalho pode servir como base para as próximas pesquisas sobre o tema. Em razão da falta de informações e dados sobre o assunto, é difícil criar hipóteses sobre o tema.


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Segundo Köche, é necessário “desencadear um processo de investigação que identifique a natureza do fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se quer estudar” (KÖCHE, 1997, p. 126). Serão mostradas a seguir as tabelas, juntamente com as explicações e constatações que foram desenvolvidas durante a pesquisa. Ao todo, serão 18 quadros gráficos que possibilitam ao leitor montar o perfil do egresso do curso de jornalismo da UFMS.

2.1 O perfil do egresso

Tabela 1 - Sexo 120

69%

100 80 60 40

31%

20 0 Sexo

Feminino

Masculino

Dentre os entrevistados, 109 se declararam do sexo feminino (69%) e 48 (31%) do sexo masculino. A primeira constatação é que a proporção dos egressos, quanto ao sexo, é próxima à proporção de jornalistas atuantes no país, conforme pesquisa realizada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e os professores Jacques Mick e Samuel Lima, da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), onde as mulheres apareceram também como sendo a maioria (64%). SantAnna, jornalista e documentária, afirma que é crescente o número de mulheres nas redações.

A profissão de jornalista foi, como dizem os técnicos, feminizada. Em bom português, significa dizer que há mais mulheres do que homens trabalhando na coleta, tratamento e disseminação de informações – seja nas redações


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tradicionais, seja nas estruturas de comunicação institucional, o que eu denomino jornalistas das fontes. (SANTANNA, 2013)

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (SindJor MS) desenvolveu em 2017 o “Censo Jornalistas 2017”, respondido por 308 profissionais do estado. De acordo com o resultado, o percentual de mulheres jornalistas é de 52,8%. No Jornalismo, assim como em outras profissões, antigamente eram apenas os homens que trabalhavam. Contudo, no século 21, esse perfil mudou completamente e as mulheres assumiram novas posições e o mesmo acontece dentro do mundo acadêmico. O ingresso de mulheres nas universidades e nos cursos de Jornalismo é visível. Se for dividido em 3 etapas o período da pesquisa, conforme o relatório da Prograd, em 2007, 24 mulheres concluíram o curso (67%). Em 2012, novamente as mulheres foram a maioria com 63% (12) e em 2017, 26 mulheres (79%) finalizaram a graduação. Porém, de acordo com a pesquisa da Fenaj, as mulheres são a maioria no mercado de trabalho, mas isso não significa que elas possuam a melhor remuneração. Apesar dos homens serem a minoria, na pesquisa nacional, o maior índice dos que recebem até 5 salários mínimos são mulheres e que possuem renda superior a 5 salários são homens. E disparidade continua, quando 52% dos homens recebem entre 10 e 20 salários mínimos e 64% mais de 20 mínimos.

Tabela 2 - Idade

De 20 a 25 anos

31% 28%

De 25 a 30 anos De 31 a 35 anos De 36 a 40 anos De 41 a 45 anos

36%

Acima de 45 anos


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Como a pesquisa foi realizada com egressos dos últimos dez anos, é natural que as faixas etárias predominantes apresentem um perfil jovem: 36% (56) entre 25 a 30 anos, 31% (48) têm entre 20 a 25 anos e 28% com 31 a 35 anos (44). Em um cenário um pouco mais amplo (Mato Grosso do Sul), 67% (104) têm entre 20 a 30 anos e em nível nacional, segundo a Fenaj, o número é de 59%. Isso quer dizer que os jornalistas estão entrando cada vez mais cedo nas universidades, logo, no mercado de trabalho, criando um ambiente de inovação e diversidade no setor comunicacional, deixando assim, o Jornalismo mais novo e moderno. Acima de 45 anos, apenas duas pessoas (1%) se formaram no período.

Tabela 3 - Natural de Campo Grande? 100 90

58%

80 70 60

42%

50 40 30 20 10 0 Naturalidade Sim

Não

O curso de Jornalismo formou mais estudantes naturais de outras cidades – 58% (91) – do que de Campo Grande – 42% (66). São 31 do interior de São Paulo, 30 egressos do interior de Mato Grosso do Sul e 8 de São Paulo (capital). Além disso, vieram também egressos de: Belém, Manaus, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Uberlândia, Brasília; Rio Grande do Sul, Paraná e Paraíba. Na pesquisa, não foi encontrado nenhum egresso estrangeiro. A capital sul-mato-grossense torna-se um polo de atração educacional, formando um leque extenso de pessoas que vieram de outros lugares para fazer sua graduação. Pode-se dizer que o curso de Jornalismo da UFMS não atinge somente os campo-grandenses. Como a maioria dos egressos é natural de cidades interioranas, eles visualizaram na capital, a possibilidade de estudo gratuito, com qualidade e que oportunizasse a chance de ingresso no mercado de trabalho.


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Tabela 4 - Cidade atual

37% 63%

Sim

Não

Mais da metade dos egressos permaneceu em Campo Grande: 63% (99). Esse índice permite concluir que a capital possui mercado para esses profissionais. Em contrapartida, 37% (58) se mudaram da cidade. Os egressos estão em diferentes cidades, estados e países: 10 na capital paulista, 8 no Paraná, 6 no interior de MS, 5 no interior de São Paulo e 4 em Brasília. Eles estão presentes também em: Belém, Cuiabá, Maceió, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, João Pessoa, Manaus, Joinville, Pernambuco, Maranhão, Belo Horizonte, Santiago do Chile (Chile), Buenos Aires (Argentina), Bruxelas, Chicago (Estados Unidos), Lisboa e Porto (Portugal). Apesar de alguns egressos virem de outras cidades, eles substituíram sua cidade natal e permanecem em Campo Grande, por uma proposta de emprego ou até mesmo um relacionamento e/ou casamento. E os que ficaram em Campo Grande colaboram deixando o mercado jornalístico mais diverso e multicultural.


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Tabela 5 - Pós-graduação 50 45 40

26%

35 30

19%

25 20 15 10

7%

5

5%

0 Tipo de pós-graduação Especialização

Mestrado

Doutorado

Outros

A busca pela capacitação e aperfeiçoamento profissional é significativa entre os egressos. Mais da metade fez ou está fazendo alguma pós-graduação: 26% (45) fez ou está fazendo especialização, 19% (32) concluíram ou estão concluindo o mestrado, 7% (11) fizeram ou estão fazendo doutorado. Nove declararam que realizaram ou estão realizando: Técnico em Produção de Audiovisual, curso de Repórter para Televisão, técnico em Serviços Jurídicos, preparatório para pós-graduação, curso profissionalizante voltado para o digital, MBA, cursos técnicos e trainee do Grpcom. E 43% (73) não fizeram nenhum tipo de especialização até o momento. Enquanto isso, o Senso dos Jornalistas do MS (2017) revela que o número de profissionais que possuem alguma pós-graduação é de 36,9% Com a criação do mestrado em Comunicação na própria UFMS, em 2013, os egressos tiveram uma facilidade para conseguirem esse tipo de formação universitária. Em âmbito nacional, segundo a pesquisa de Mick e Lima, 40% dos jornalistas possuem alguma pós-graduação. Enquanto os egressos da UFMS que estão fazendo ou concluíram o doutorado correspondem a 7%, em nível nacional, essa porcentagem cai 5 pontos (2%). Com 57% de jornalistas com algum título de pós-graduação é possível que a qualidade de conteúdos produzidos por estes profissionais tenha aumentado, melhorando assim, o Jornalismo e Comunicação onde estão inseridos.


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Tabela 6 - Filiação ao Sindicato

14%

86%

Sim

Não

A filiação sindical não é uma preocupação entre os jornalistas pesquisados. Mais de 86% (135) não estão filiados ao Sindicato dos Jornalistas. Apenas 14% (22) participam da entidade que representa e luta pelos diretos dos profissionais. A pesquisa não objetivou identificar o real motivo desse índice negativo, mas o dado sinaliza o enfraquecimento do movimento sindical na área. Em nível nacional, o dado permanece semelhante, visto que 75% dos jornalistas não são filiados a nenhum sindicato. E no nível estadual, a porcentagem é de 70,3% jornalistas sem filiação. O Sindicato é uma ferramenta política e importante para qualquer profissão. Através dessa instituição, os trabalhadores lutam por seus objetivos e direitos. De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul, existem três motivos para se filiar ao sindicato: Representatividade nas negociações junto aos empregadores; Luta por melhoria das condições de trabalho e salário nas empresas; Negociação de Acordos Coletivos de Trabalho. A baixa adesão ao Sindicato pode se dar por dois motivos básicos: o primeiro, onde revela que a classe é desunida, não se importando com as relações políticas do emprego; ou, o Sindicato possui uma representatividade pequena por não contribuir realmente com os jornalistas.


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Tabela 7 - Atuação como jornalista

43%

57%

Sim

Não

Mais da metade dos egressos dos últimos 10 anos está atuando como jornalista, correspondendo a 57% (89). Vale lembrar, que os resultados foram baseados na autodeclaração do egresso, ou seja, ele é quem definiu se a sua atual profissão é ou não jornalista. A pesquisa ainda não possibilitou investigar o motivo do egresso não estar atuando no mercado jornalístico, mas uma possível explicação é a baixa renda salarial disposta para estes profissionais. Outra hipótese é pelo motivo do egresso desejar a graduação somente como um título para si ou para conseguir uma renda maior enquanto trabalhar no serviço público. A não atuação como jornalista pode estar relacionada com a alta rotatividade, impossibilitando o profissional de criar um plano de carreira dentro da empresa e criar uma estabilidade financeira, visto que 18% atuam como freelancer e 28% com carteira assinada, no setor privado em empresas de grande porte. O estilo de vida estressante pode contribuir para a não atuação do profissional, permitindo escolher outro serviço que o dê melhores condições.


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Tabela 8 - Formas de contratação 50 45

28%

40 35 30

18%

25 20

12%

15 10 5 0

Contratação Carteira Assinada

Outra forma de contrato de longa duração

Freelancer

Não respondeu

Nessa pergunta, o número de respostas foi de 166, porque alguns assinalaram mais de uma opção. Os que estão trabalhando com carteira assinada são 28% (47). Aqueles que afirmaram possuir “outra forma de contrato de longa duração”, representa 18% (30) e provavelmente estão atuando no serviço público. Já como freelancer, 12% (20) possui esse tipo de contrato e apenas um egresso não respondeu. Do número total, 41% (68) declararam não atuar como jornalista. Apesar da carteira assinada trazer benefícios, ela pode causar uma ilusão de segurança, pois a mesma não assegura o emprego. E os freelancers, não possuem uma estabilidade financeira e um ritmo regular de trabalho, dependendo assim, de possíveis serviços que possam realizar. De acordo com a Fenaj, 59,8% dos jornalistas trabalham com carteira assinada e 11,9% como freelancer, cenário parecido com o dos egressos pesquisados.


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Tabela 9 - Áreas de atuação 45 40

23%

35 30

16%

25 20

12%

15

10 5 0

Locais de Atuação Tv

Impresso

Rádio

Internet/online

Assessoria de Comunicação

Docência em Comunicação

Marketing Digital

Outros

“Em qual área da comunicação você está atuando?”. Essa pergunta trouxe informações importantes para entender o mercado profissional e as principais áreas de atuação dos jornalistas. Ao todo, esta questão resultou em 185 respostas, esse alto índice se dá porque alguns egressos atuam em mais de uma mídia. A maior porcentagem é de 23% (42) e encontram-se na área de Assessoria de Comunicação. A partir da leitura desse dado, a primeira observação é que durante a graduação, os egressos só tiveram contato uma vez com a disciplina (seis meses) que sustenta e dá base para a atuação nessa área. O dado se entrelaça com o número do Senso do Sindicato dos Jornalistas do MS, onde revelou que Assessoria de Comunicação emprega 38,6%. Outro dado é que 16% (29) dos profissionais estão atuando no meio online, onde os jornalistas tiveram no máximo duas disciplinas estudadas sobre o tema durante os quatro anos de curso. Já em relação em nível regional, o online está em segundo lugar com mais contratados, representado 24,8%. E em terceiro está a atuação em Marketing Digital com 12% (23). Essa informação revela a atuação dos egressos em meios onde a graduação não possuiu disciplinas específicas para ensina-los. Concluindo que o curso não possui uma atualização em relação ao mercado, sendo que uma das principais críticas apontadas, ao final da pesquisa, é sobre a desatualização da matriz curricular em relação ao mercado. Sete responderam como “outros” e estão atuando com: Produção de Conteúdo, Redator e revisador de agência, Fotógrafo e Produção de vídeo. E apenas um egresso se


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identificou atuando como jornalista na Docência. Os que não atuam como jornalista são 37% (68). Diante disso, podemos concluir que o curso de Jornalismo é focado e voltado para o ensino de mídias tradicionais, principalmente o impresso e rádio. A grade curricular do curso é baseada em conteúdos que o egresso possa aprender esses tipos de mídias, excluindo assim, as novas possibilidades de atuação previstas nessa pesquisa.

Tabela 10 - Estrutura da empresa jornalística 4%

17%

21% 15%

Micro porte

Pequeno porte

Médio porte

Grande porte

A maior parte dos egressos estão atuando em empresas de grande porte, totalizando 21% (33). Em seguida, as empresas de pequeno porte empregam 17% (26), a de médio porte 15% (23) e as de micro porte correspondem a 4% (7). Aqueles que não atuam como jornalistas pertencem a 43%. De acordo com o Portal de Mídia da UFMS, Mato Grosso do Sul comporta 638 veículos de Comunicação, sendo 76 jornais impressos, 110 rádios, 84 rádios comunitárias, 357 sites jornalísticos e 11 TVs. Na contagem do Portal, foram excluídos os grandes meios de comunicação do estado. Com isso, uma possível explicação sobre as empresas de pequeno porte mais empregarem profissionais, é porque o estado possui um grande número de empresas com essa estrutura. E a hipótese das empresas de grande porte estarem contratando mais jornalistas é o fato deles estarem morando fora da capital.


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1% 10% 29%

Público Privado Terceiro setor Outro

60%

O setor privado é o que mais emprega os egressos. Ao todo, 37% (53) atuam neste segmento. No setor público, o número caí para 16% (26), e os possíveis campos de atuação são as Instituições de Ensino Superior ou nas sedes do Governo, e ainda, em sua maioria, a atuação é como Assessores de Comunicação. O terceiro setor (Organizações Não Governamentais, associações comunitárias, fundações e entidades que não visam lucro financeiro) foi citado por 6% (9), e um egresso afirmou possuir sua própria empresa. Assim como na tabela anterior, segundo o Portal de Mídia da UFMS, o estado tem 554 veículos de comunicação privados (impresso, rádio, sites jornalísticos e TV). Diante disso, a possível explicação da alta taxa de contratação no privado é que Mato Grosso do Sul possui um grande número de veículos desse setor. Nesta tabela, não foi levado em conta o tamanho estrutural físico ou de pessoal pertencente à empresa. Quem decidiu analisar e escolher a estrutura foram os próprios egressos, onde os mesmos, puderam avaliar a sua realidade sob o seu olhar.


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Tabela 12 - Renda mensal 40 35

22%

30 25 20

14%

15

10%

10

8%

5 0 Média salarial Até 2 s.m

De 2,1 a 4 s.m

De 4,1 a 6 s.m

De 6,1 a 8 s.m

De 8,1 a 10 s.m

Acima de 10 s.m

A faixa salarial de 2,1 a 4 salários mínimos (s.m) concentra 22% (34) dos entrevistados. Seguem as faixas de até 2 s.m, com 14% (23), de 4,1 a 6 s.m. com 10% (16), 6,1 a 8 s.m. com 8% (12). Três (2%) egressos recebem acima de 10 salários mínimos e apenas um ganha de 8,1 a 10 s.m. De acordo com a pesquisa do Sindicato dos Jornalistas de MS, 24,8% dos profissionais recebem até 2 salários mínimos e a maior faixa salarial está entre 2 a 4 s.m. O Sindicato afirma que no estado não existe convenção coletiva de trabalho, nem sindicato patronal. “Os pisos mínimos são estabelecidos em acordos coletivos firmados por intermédio do SindJor-MS com as empresas, a partir de solicitação formal dos seus funcionários” (SINDJOR MS). Diante disso, não há como estabelecer um piso comum entre os profissionais, criando disparidades entre os empregados.


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Tabela 13 - Satisfação salarial

4% 8%

17% 17%

Satisfação salarial

6% 5% 0

5

10 5

4

15 3

2

1

20

25

30

0

Para avaliar o grau de satisfação do egresso com sua faixa salarial, foi atribuída uma escala com variação de zero (insatisfatório) a 5 (satisfatório). A maioria, 34%, apresentou grau de satisfação que varia de médio a insatisfatório, com nota 2 e 3. Apenas 12% atribuíram grau de satisfação entre 4 e 5, ou seja, satisfeitos; e 11% estão insatisfeitos atribuindo nota zero e 1. Na pesquisa nacional feita pela Fenaj, o maior índice entre os jornalistas se situa entre “Insatisfeito” e “Nem satisfeito, nem insatisfeito”. A baixa satisfação salarial leva a inferir que os jornalistas precisam buscar o segundo emprego para se sustentar, principalmente se for chefe de família, onde mais de uma pessoa dependa de sua renda mensal. Contudo, esta pesquisa constatou que o número de egressos que possuem mais de um emprego é de apenas 20%. Porém, é preciso levar em conta a faixa etária dos respondentes que são jovens possivelmente, sem filhos.


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Tabela 14 - Carga horária 60

36%

50 40 30 20

12% 10

5%

1%

1%

2%

0 Carga horária Até 5 horas

De 6 a 8 horas

De 9 a 10 horas

De 10 a 12 horas

Acima de 12 horas

Sem carga horária

Os entrevistados nesta pesquisa trabalham de 6 a 8 horas diárias, correspondendo a 36% (56). Aqueles que trabalham até 5 horas, o ideal segundo a legislação, ficam em segundo lugar, com 12% (19). Apenas 5% (8) foram os egressos que trabalham de 9 a 10 horas diárias. Na faixa de 10 a 12 horas e acima de 12 horas, houve um empate com um (1) egresso em cada faixa (1% cada). Quatro jornalistas (2%) declararam não possuir uma carga horária diária, ou seja, eles estipulam os seus horários. Uma diferença visível em relação aos jornalistas em nível nacional é que 40,3% trabalham entre 8 e 12 horas diárias, enquanto entre os egressos da UFMS cai para 6%. Na faixa entre 5 e 8 horas ocorre uma pequena diferença entre os egressos (48%) e o cenário nacional (43,3%). Existe a possibilidade de que esses 12% que atuam até 5 horas sejam os assessores de comunicação, pois esse é o tempo legal permitido para os jornalistas que atuam nessa área.


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TABELA 15 - Número de empregos como jornalista 0

1

2

3

9%

4

5

Acima de 5

13%

6%

11%

24%

18% 19%

O maior índice aqui se dá aos jornalistas que tiveram/têm apenas um emprego até hoje, representando 24% (37). Os egressos que responderam que já possuíram dois ou três empregos é de 19% e 19%, respectivamente. Os que tiveram quatro empregos ficaram com 12%, cinco empregos com 6% e acima de 5 empregos, 9%. Do total da pesquisa, 13% (21) dos egressos afirmaram não ter tido nenhum emprego como jornalista. Novamente, a explicação plausível para a baixa rotatividade dos jornalistas é que eles ingressaram a pouco tempo no mercado de trabalho. Como o período da pesquisa é de apenas 10 anos, não é possível medir e obter uma alta porcentagem com jornalistas que tiveram mais de 3 empregos na área.


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Tabela 16 - Satisfação salarial com o atual emprego 11% 5% 11% Satisfação salarial

20% 27% 26%

0

5

10

15 0

1

20 2

3

25 4

30

35

40

45

5

Dois terços dos egressos estão satisfeitos com o seu emprego atual, isso considerando o nível de 3, 4 e 5, onde pode-se dizer que é mediano para satisfatório, correspondendo a 73% (115) dos pesquisados. Zero e dois empataram com 11%, revelando o nível baixo de insatisfação com o emprego atual, juntamente com os 5% (8) que elegeram como 1 o seu nível de satisfação. Nessa pergunta a intenção foi descobrir a satisfação com o atual emprego, sendo ou não na área do Jornalismo. Em oposição a tabela 13, aqui temos 73% dos egressos satisfeitos com o seu salário, mostrando que o emprego fora da área de Jornalismo é possivelmente melhor pago, aumentando então, o nível de satisfação.


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Tabela 17 - Mais de um emprego 90 80

80%

70 60

61%

50 40

39%

30 20 10

20%

0 Possui mais de um emprego

O segundo emprego está na área do Jornalismo Sim

Não

Dos egressos pesquisados, 80% (125) afirmaram não possuir outro emprego, enquanto 20% (32) declararam ter um segundo emprego. Dos que responderam ter mais de um emprego, 61% (17) disseram estar na área do jornalismo e 39% (11) declaram não estar atuando nessa área. Com relação a possuírem uma única fonte de renda ou emprego, os jornalistas em nível nacional estão abaixo dos egressos da UFMS, que possuem 23% a mais. O mesmo se dá em nível estadual, onde segundo o SindJor-MS, os jornalistas que não possuem um segundo emprego se encontram com 65,6%. Ou seja, nos três âmbitos (local, estadual e nacional), a maioria dos jornalistas tem apenas um emprego. Os que não exercem a função de jornalista, atuam como: funcionário público, empresário, user experience, fotografia, design de moda, costura artesanal, produtor de conteúdo, comércio e vendas, revisor de texto, gastronomia, nutrição, recursos humanos, design de tecnologia da informação, artesanato, publicidade, tradutor, música, secretaria, polícia civil e militar, marketing multinível e turismo. Além disso, a maioria atua como Marketing e Marketing Digital. Um alto número apareceu em relação aos egressos que estão recebendo algum tipo de auxílio no estudo, como bolsa de mestrado e doutorado. Apenas um egresso está aposentado e uma está se dedicando à maternidade.


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Tabela 18 - Avaliação do curso

2%

3% 14% Avaliação do curso

31% 31% 19%

0

10

20 0

1

30 2

3

4

40

50

60

5

A grande maioria dos egressos de Jornalismo avaliaram o curso da UFMS como positivo e satisfatório, correspondendo a 81% (126) que elegeram as notas 3, 4 e 5. Aqueles que votaram como sendo mediano e insatisfatório, representam 19% (31) da avaliação. Novamente, foi considerado 0 como insatisfatório e 5 como satisfatório.

2.2 Aspectos positivos e negativos do curso do curso de Jornalismo As duas últimas perguntas do questionário foram abertas e discursivas, permitindo que os egressos pudessem expor sua opinião sem interferência, criando um espaço onde eles pudessem revelar quais foram os pontos positivos e negativos da graduação. Como a pesquisa feita é de forma anônima, os jornalistas tiveram a oportunidade de contar a verdade sem serem expostos. As respostas foram as mais variáveis possíveis. Tiveram egressos que traçaram muitas críticas e não relataram nenhum ponto positivo do curso e o mesmo aconteceu com egressos que só elogiaram e afirmaram que o curso está perfeito, possuindo nenhum ponto negativo a ser relatado. De acordo com as respostas, apesar das várias críticas feitas durante essa questão, a maioria das respostas manteve um equilíbrio de pontos negativos e positivos. Vale lembrar


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que as críticas e elogios feitos pelos egressos representam a realidade de cada um durante o tempo de graduação, não sendo, portanto, a realidade atual do curso de Jornalismo da UFMS.

2.2.1 Pontos positivos

A nuvem de palavras é um gráfico [Tabela 19] onde se pode visualizar e compreender melhor as palavras que mais apareceram nas respostas. Entre os pontos positivos destacados pelos acadêmicos dos últimos 10 anos, o curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da UFMS está referenciado como sendo uma graduação de formação teórica, humanística e ética, com professores engajados e atenciosos com os acadêmicos. De acordo com os egressos, o curso abarca: “Professores com alto nível de formação acadêmica”. “A base teórica é bem ampla, passando desde as teorias do jornalismo até a antropologia, o que eu acho essencial para a formação de um profissional com olhar mais social na escolha de pautas, algo que vejo como de extrema importância no nosso mercado atual”. “Mesmo que não seja 100% presente no dia a dia da comunicação/jornalismo, a parte teórica do curso abre as portas para o pensamento crítico. Boa parte dos professores são bem acessíveis”. Outros argumentaram dizendo que: “formação humana e ética, boas noções sobre o papel e sobre o impacto da informação, capacitação para fazer análises críticas, debates de ideias, ensino que defende a entrevista como ferramenta importante de trabalho e que valoriza


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o aprofundamento das questões. Professores, em sua maioria, muito abertos à troca”. “O curso proporciona uma bagagem cultural e crítica muito grande. Esse acervo teórico e não 100% mercadológico faz com que o profissional consiga pensar sobre a sua atuação. Quando falta isso, o curso se assemelha a um curso técnico. Não penso que essa seja a função do nível superior. Não basta apenas ensinar a apurar e redigir textos, isso aprendemos com a prática, mas a ter senso crítico”. Segundo os egressos, o curso possibilitou a troca de contatos, debates durante as aulas e uma visão diferente de mundo, focando sempre no senso crítico da sociedade. Um egresso falou que: “realização de eventos com convidados nacionais e internacionais que contribuem muito para o networking e para o conhecimento. Interação entre as turmas”. A questão de projetos de ensino, pesquisa e extensão foram um dos pontos abordados pelos pesquisados, nos quais elogiaram a liberdade e as possibilidades que o curso ofereceu durante o período de estudo. Afirmaram que: “projetos de pesquisa e extensão que colocam em prática o que é aplicado em sala de aula”. “O curso conta com bons projetos de extensão e pesquisa, (posso citar a agência fotográfica e a empresa júnior que pude acompanhar durante minha graduação)”. A interdisciplinaridade e a liberdade dos alunos em fazer matérias em outros cursos também foi apontado como algo positivo. “Formação voltada ao jornalismo raiz (o que faz com que os alunos se destaquem perante os das demais universidades) ”. “O fato dos acadêmicos realmente terem que "colocar a mão na massa" com edição de vídeos, construção de sites, edição de áudios e fotografias nos deixa muito mais preparados para diversas situações que podemos encontrar”. “Como nada vem fácil no curso de comunicação na UFMS, acaba sendo interessante que os alunos aprendem a "se virar", correr atrás da pauta, buscar a informação, mesmo que pareça difícil.


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2.2.2 Pontos negativos

Entre os pontos negativos, a nuvem de palavras [gráfico 20] permite concluir quais vocabulários mais aparecerem nas respostas. Entre os pontos negativos destacados pelos egressos estão em primeiro a problemática do curso em não preparar o aluno para o mercado de trabalho, apesar de possuir uma boa formação teórica, a prática fica em falta, prejudicando assim, a atuação no mercado. Alguns argumentaram que “em relação aos profissionais formados em algumas instituições particulares, com os quais tive contato já no mercado de trabalho, a maior deficiência do curso, na minha opinião, é o baixo contato com a parte mais técnica e com a atuação de fato que vá além do básico proporcionado pelas disciplinas. Particularmente eu tive algumas vivências a mais dentro do curso por ter me envolvido em diversos projetos extracurriculares, mas hoje percebo que, de maneira geral, o contato com a realidade do mercado de trabalho atual é muito rasa”. Para outro egresso, a graduação em jornalismo “foi longa demais para aquilo que ela entrega no final. Acredito perfeitamente que o curso que fiz poderia ser ministrado em dois anos, com alguma seriedade. Não vejo necessidade nenhuma de jornalismo ser uma graduação, talvez uma pós”. Alguns ex-acadêmicos considerarem o curso defasado e desatualizado com a realidade. “Pecava pelo excesso desatualizado. Meu TCC foi uma revista multimídia digital, e


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o curso não me mostrou nenhuma ferramenta nova que eu pude usar para desenvolvê-lo. A disciplina de Planejamento Gráfico, por exemplo, tinha horas suficientes para um curso tecnólogo, mas todas as ferramentas usadas eram desatualizadas e não usadas no mercado. A carga horária semestral era absurda, e os professores agiam como se não houvessem outras disciplinas no mesmo semestre”. Apesar dos professores serem citados como ponto positivo, os mesmos aparecem novamente, porém como ponto negativo. Uma das críticas feitas é a falta e a escassez de docentes para as disciplinas. Outra questão é a presença de professores de outras graduações, destoando o quadro de docentes do curso. A não atualização em relação ao que acontece nas redações, a falta de engajamento e compromisso com o ensino, são argumentos utilizados pelos egressos. Houve críticas apontando que “alguns professores ainda possuem uma visão mais "clássica" sobre o jornalismo, o que acaba por ser vista como antiquada, pois nossa profissão passou por mudanças extremas nos últimos anos. Todo o mercado está em crise e a universidade e os professores não perceberam isso. Digo isso em relação a diversos cursos de comunicação e não apenas ao jornalismo [...] professores assim continuarão criando apenas mão de obra fraca e barata pro mercado de trabalho. Atualmente como empresário na área de marketing digital, não contrato jornalistas [...], administradores e até engenheiros que escrevem bem estão mais adaptados às mudanças do mercado, mas isso é uma longa história...” A ausência de recursos e investimentos em equipamentos e laboratórios foi um dos pontos negativos levantados pelos egressos, e que atrapalhou o aprendizado. “De uma forma geral, o sucateamento da infraestrutura do curso: os equipamentos, os laboratórios. Não sei como estão hoje, mas, quando cursei, era uma fase de transição do analógico para o digital, e nossa estrutura ainda era muito velha. Quando me formei, o mercado me exigiu coisas na prática que não aprendi ou aprendi de forma obsoleta na faculdade”. As disciplinas consideradas pelos egressos como “engessadas” e “teóricas” foram alvos de crítica. Igualmente, a falta de matérias que trabalhassem fundamentos básicos para o jornalista, como a gramática. De acordo um egresso: “em algumas áreas do jornalismo o curso ainda não se arrisca muito. Como a universidade é um ambiente onde podemos experimentar mais, acredito que poderíamos explorar melhor os meios de comunicação que não estão em grande ascensão como a internet e criar novos produtos, novas linguagens. Mesmo avançado em algumas áreas (no quesito modernidade, como citei na pergunta anterior), há outras que ainda precisam de mudança. Como trabalho na universidade, ainda tenho proximidade com o


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curso e consigo ver que algumas áreas que não estavam tão modernas como, por exemplo, o telejornal e o jornal laboratório, estão mudando, se arriscando, melhorando, e acho isso ótimo. Mostra que o curso está evoluindo, mesmo que lentamente. Porém, acho que o curso tem que olhar além do mercado atual (principalmente o de campo grande que é atrasado), pois os tempos mudam e mudam muito rápido” Outro afirma que: “no meu ponto de vista, nos últimos anos, o curso tem se desviado um pouco da formação do estudante como jornalista em sua essência, aquele que vai até o local do fato e confere o que está acontecendo para, assim, passar da melhor maneira possível o acontecimento ao público. Tenho visto um curso muito voltado para a cobertura de eventos e marketing, sem investir no jornalista preocupado com as questões sociais, que ultrapassa as barreiras da universidade e se insere em comunidades que vivem, constantemente, a violação de direitos. O entrevistado observa que se discute muito, por exemplo, o papel da internet no jornalismo, debate-se as novas tecnologias como recurso para o jornalismo, mas a questão é: para que toda essa discussão? Para que novas tecnologias se o que se tem feito foge da essência do jornalismo? Por que não utilizar essas novíssimas ferramentas que a internet proporciona para fazer um jornalismo conforme estabelecido no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiro, Art. 3, que estabelece que "o exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social, estando sempre subordinado ao presente Código de Ética". E complemento com o inciso XI do artigo 3°: defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, dos adolescentes, das mulheres, dos idosos, dos negros e das minorias. Ele finaliza recomendando que é preciso realizar mais reportagens e matérias dentro das disciplinas que foquem mais nas questões sociais. Essas disciplinas poderiam se articular e, em cada semestre, desenvolver um tema específico, que permite o aprofundamento nas questões abordadas. Tenho acompanhado o movimento da grande imprensa nacional e de universidades fora, que deixam MS muito atrás na produção jornalística. O que temos feito por aqui ainda está longe do que tem sido feito fora daqui. Exemplos são as grandes reportagens multimídias construídas a partir de jornalismo de dados produzidas por acadêmicos e profissionais, com engajamento social e jornalismo investigativo (os produtos podem ser conferidos no site da Abraji). Como ainda não temos uma disciplina chamada Jornalismo de dados? Essa é a área em maior discussão atualmente no país. Penso que temos muito o que avançar ainda”.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS O profissional jornalista passou por diversas transformações ao longo da história. De “historiador do presente” no século XVII, a produtor de conteúdo que atua simultaneamente em diferentes veículos de comunicação e em diferentes plataformas digitais para atender às demandas de informação da sociedade contemporânea regida pelas novas tecnologias e por novos valores econômicos, culturais, políticos e sociais. Os egressos do Jornalismo da UFMS também passaram por transformações nestes 29 anos de existência do curso. Por este motivo, é necessário realizar um acompanhamento com esse grupo específico para entender a realidade e assim traçar novas propostas de ensino e sempre estar atualizado com o jornalismo praticado fora da Universidade. Para facilitar visualmente como seriam os egressos do curso no período pesquisado, será criado uma persona mostrando suas principais características. Para a área do Marketing, a persona é uma representação fantasiosa sobre o cliente ideal, sendo criado a partir de dados demográficos e comportamentais. É por meio da persona que a empresa se guia e traça novos nortes e estratégias para uma venda completa. Como este trabalho não é da área de marketing, utilizaremos, com as adaptações necessárias, deste conceito para definir a persona do curso de Jornalismo, com base nos dados da pesquisa realizada. A persona do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da UFMS, dos últimos 10 anos é: uma pessoa do sexo feminino (69%), que tem entre 25 a 30 anos (36%). Atualmente, ela mora em Campo Grande (63%), mas ela veio de outra cidade (58%). Não possui pós-graduação (43%), mas se posteriormente vier a fazer, será uma especialização (26%). Hoje, atua como jornalista (57%), porém não é filiada ao sindicato da categoria (86%). Trabalha com carteira assinada (28%) e atua como assessora de comunicação (23%) no setor privado (37%), em empresa de grande porte (21%). Sua renda mensal é de 2,1 a 4 salários mínimos (22%), e não demostra satisfação com sua faixa salarial (34%). Diariamente, trabalha de 6 a 8 horas (36%) e possuiu apenas um emprego (24%). Para ela, o curso foi bom e aponta alguns aspectos positivos, como os professores e a base teórica, porém, a infraestrutura física do curso, a ausência de aulas práticas e o déficit de professores formados na área, precisam ser melhorados.


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APÊNDICES


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