Propósito - Revista temática de Jornalismo Científico

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PROPÓSITO Revista de Jornalismo Científico Ano 1 - Edição 1: Alimentação e Nutrição

QUEM NÃO COME CARNE É O QUE?

Quase 30 milhões de brasileiros não consomem produtos animais

CADERNO FOTOGRÁFICO

Vitrines chamativas escondem grande quantidade de açúcares presentes em doces de padaria

QUANTO VALE UM ORGÂNICO?

Quem são as pessoas que decidiram plantar produtos sem agrotóxicos em MS?


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EDITORIAL

FALE CONOSCO

A primeira edição da Revista Propósito tem como objetivo utilizar as características do Jornalismo Científico para abordar temas relacionados à alimentação e nutrição. Através da linguagem acessível e predomínio de fala dos profissionais entrevistados, a Propósito valoriza um jornalismo ético e firma, a partir de seu primeiro exemplar, o compromisso com a veracidade das informações aqui colocadas e a pesquisa e entrevista em profundidades. Boa leitura! - Danielle Errobidarte Matos

Seção destinada à sugestões de pauta, comentários, críticas, enviados à redação por e-mail ou redes sociais.

EXPEDIENTE Projeto Experimental ANO 1 apresentado para conEDIÇÃO 1 NOVEMBRO DE 2019 clusão do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul no segundo semestre de 2019 sob orientação da Profa Dra Daniela Cristiane Ota

Av. Senador Filinto Muller s/n - Campo Grande (MS)

Reportagem, fotografia, edição e diagramação: Danielle Errobidarte Matos

SUMÁRIO

QUEM NÃO COME CARNE É O QUE?

A MINHA ALIMENTAÇÃO NÃO É SUFICIENTE

Pág. 4

Pág. 9

MEU FILHO NÃO COME ISSO

QUANTO VALE UM ORGÂNICO?

Pág. 13

Pág. 16

DOCES DE PADARIA

A ÚNICA QUE DEU CERTO

Pág. 24

Pág. 32


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QUEM NÃO COME CARNE É O QUE?

quais alimentos podem substituir as carnes numa dieta vegana? feijão

soja

lentilha

grão-de-bico

Quase trinta milhões de brasileiros se declaram vegetarianos. 14% da população do país, que respondeu à pesquisa do Ibope Inteligência até abril de 2018, reduziu ou eliminou alimentos de origem animal em suas dietas. Não existe nenhum marco histórico que relate, com precisão, quando as dietas vegetarianas e os estilos veganos começaram no Brasil. O que se sabe é que os movimentos de redução do consumo de proteína animal são recentes e se popularizaram nos últimos 10 anos. Em outubro de 2009 foi lançado no país uma campanha, já praticada mundialmente, para conscientização dos impactos do uso de produtos de origem animal na alimentação, a “Segunda Sem Carne”. No site segundasemcarne.com.br, idealizado pela Sociedade Vegetariana Brasileira, um painel estampa celebridades internacionais que apoiam o movimento, como a culinarista e apresentadora Bela Gil, a atriz Sabrina Sato, os atores Marcos Palmeira e Reynaldo Gianecchini, a ativista Luísa Mell, a apresentadora Xuxa Meneghel e outros. O site também apon-

ta que de janeiro a junho de carne, não tem uma dieta balan2019, 42 milhões de refeições ceada com outros alimentos”. feitas às segundas-feiras não incluíam qualquer tipo de carne. Além das proteínas, as carnes contêm nutrientes que são enA escolha de retirar um com- contrados apenas no reino aniponente da dieta alimentar vai mal. Os que mais preocupam muito além de preferências e nutricionistas como Bruna, que ideologias. A deficiência da acompanham esse público, são proteína animal pode levar a a vitamina B12 e o ferro. Eles desnutrição e perda de força podem ser absorvidos com a muscular. Por isso, é comum ingestão de alimentos do reique veganos e vegetarianos pre- no vegetal e, em certos casos, cisam de reposição de alguns com suplementação. “Vai denutrientes, principalmente a vi- pender do tipo de alimentação tamina B12 e o ferro. A nutri- que a pessoa leva e se ela não cionista e pesquisadora Bruna tem nenhuma doença associaMurino explica que a retirada da. Existem poucos alimentos da carne, por si só, não acar- do reino vegetal que têm a B12, reta prejuízos nas funções da mas a gente ainda não consegue vida humana. “Estudos na lite- determinar com clareza como o ratura científica apontam que corpo consegue absorver essa pessoas que consomem menos vitamina específica quando encarne têm uma prevalência me- contrada nos vegetais. O ferro nor de doenças crônicas, mas a presente nas carnes também gente sabe que depende do tipo é um tipo de ferro que o nosde dieta. A pessoa pode mudar so corpo aproveita melhor”. o estilo de vida, não consumir carne e ingerir alimentos industrializados, com açúcar branco. Isso não significa que ela vai ter mais saúde. As doenças causadas pela falta de proteína aparecem se, quando você tira a

Independente da origem, quem opta por ser vegano, vegetariano, ovolactovegetariano, lactovegetariano ou ovovegetariano, precisa se atentar ao que coloca no prato. Entender os componentes de cada alimento é fundamental para manter uma dieta balanceada e o acompanhamento de um profissional de nutrição é indispensável. Se o problema for a proteína, Bruna explica que algumas leguminosas contém ricas quantidades do macronutriente mais temido por quem faz esse tipo de restrição. “Feijão, soja, lentilha e grão-de-bico têm um perfil de aminoácido que, junto ao arroz, por exemplo, fornece as proteínas da carne e uma quantidade de ferro importante. Normalmente esse alimentos, para quem é vegano e vegetariano, são a base da alimentação. Associados à frutas e verduras, eles conseguem suprir a carência de ferro”.

disponível na plataforma de streaming Netflix, faz relação entre o consumo de carne, a indústria farmacêutica e o crescimento de doenças como câncer. A partir dessas análises surgiram também questionamentos sobre a relação dos vegetarianos com o alto consumo de soja para reposição das vitaminas já citadas. Quem discorda que a diminuição da procura de carne tenha relação com a queda também no desmatamento. Outras vertentes de pesquisa indica, segundo Bruna, que o consumo de carne, pensando a partir do meio ambiente, traria tanto ou mais poluição do que pastagens, por precisar de um campo vasto para conseguir cultivar vegetais na demanda necessária. “A carne não oferece apenas a proteína, ela tem também a gordura animal, que tem sido associada a maiores riscos de infartos e Acidente Vascular Cerebral (AVCs). Na soja não O excesso de carne tem sido existe essa relação comprovaassociado, na literatura, com o da, então esse perfil de doença aumento de doenças cardiovas- estaria excluído. O que eu já li, culares, por exemplo. O docu- mas não possui uma literatura mentário estadunidense “What específica muito substancial, the Health”, dirigido por Kip é a relação da soja com alguns Andersen e Keegan Kuhn, e hormônios. A soja tem um

componente que imita o estrogênio, então poderia estar ligada à alguns distúrbios da parte hormonal, e talvez seja essa a relação que façam com o tratamento hormonal em animais”. Os benefícios e malefícios de carne das dietas ainda não são confirmados. A sugestão da nutricionista é que que haja a redução, uma vez que a dieta do brasileiro em geral é classificada como hiperproteica. “A gente consegue viver sem carne? Sim, consegue. Mas ainda não sabemos quais consequência isso pode causar. Eu acho que diminuir o consumo é interessante. A gente come carne em pelo menos três refeições do dia, se formos pensar em bacon ou salsicha no café da manhã, além de almoço e jantar. Não precisamos de tanta carne assim. A redução para uma ou duas vezes por dia já conseguiria diminuir o impacto que causamos no meio ambiente. Mas esse é um assunto novo. Nós nutricionistas ainda precisamos de mais dados científicos para fazer qualquer recomendação”.


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quais tipos de dieta não incluem o consumo de carnes ou derivados animais?

lariane garnes

Eu me considero ovolactovegetariana. A princípio não parei com todo tipo de carne, fiquei dois anos sem comer carne vermelha e no início do passado, literalmente no dia 1º de janeiro de 2018, eu parei totalmente. Um dia meu professor de biologia do ensino médio passou um documentário em sala de aula chamado “Cowspiracy”, e me CONSOMEM: produtos (vestuádespertou um sentimento de CONSOMEM: ovos, laticínios rio, beleza e entretenimento). que eu poderia realmente fazer (leites, iogurtes e queijos), algo pela natureza se eu mudasprodutos (vestuário, beleza e algumas atitudes minhas. Deentretenimento). NÃO CONSOMEM: carne (bovina, se pois de ficar pensando dias no peixe, frango e crustáceNÃO CONSOMEM: carne (bovina, suína, assunto, eu me senti irônica por os), laticínios (leites, iogurtes e suína, peixe, frango e crustácedizer que amava os animais mas queijos) e ovos. os). consumia a carne deles, sendo que eu poderia muito bem viver sem. Esse foi meu despertar. A nossa cultura faz com que desde criança sejamos acostumados a consumir carne. Como ia dar os primeiros passos nessa camiCONSOMEM: laticínios (leites, NÃO CONSOMEM: carne (bovina, nhada, optei por cortar a carne iogurtes e queijos), produtos suína, peixe, frango e crustáce- vermelha a princípio. Minha (vestuário, beleza e entretenios), laticínios (leites, iogurtes família estranhou no começo e mento). e queijos), ovos e produtos mais ainda quando parei com (vestuário, beleza e entretenitodos os tipos de carne, mas eles NÃO CONSOMEM: carne (bovina, mento). aceitaram bem. O consumo de suína, peixe, frango e crustácecarne na minha casa foi bastanos) e ovos. te reduzido depois que eu parei, e fico muito feliz com isso. Não faço nenhum acompanhamento com nutricionista. Gostaria, mas não tive a oportunidade ainda e como ainda consumo Você sabe como são classificados os grupos de pessoas que, volunleite e ovos, não vi uma necessitariamente, não consomem carne, derivados ou produtos que condade tão imediata. Eu geralmentenham em sua composição qualquer relação com animais? Confira te leio bastante sobre alimentrês exemplos de pessoas que fazem parte dos 14% dos brasileitação e em nenhum momento ros que não compactuam com a indústria da carne e quais motidesde que parei de consumir vos as levaram a mudar seus hábitos alimentares e estilo de vida. carne eu me senti fraca. É até engraçado porque eu fiquei doente menos vezes do que quando eu ainda consumia. Também tento variar bastante minha

ovolactovegetarianos

vegetarianos

lactovegetarianos

veganos

alimentação, consumir vegetais diversos, proteína de soja e leguminosas. Isso nunca foi um problema para mim, porque como de tudo que colocam no meu prato. O único problema foi que no início, até eu acertar minha alimentação e aprender quais ingredientes devia consumir, acabei aumentando muito o consumo de carboidratos como macarrão e arroz. Isso fez meu peso aumentar um pouco, mas após o segundo e terceiro meses eu já consegui regularizar, e foi bem satisfatório pra mim. Ainda pretendo me tornar vegana e eliminar totalmente os derivados e produtos de origem animal, mas acredito que isso deva acontecer quando eu adquirir minha independência financeira em relação aos meus pais.

kamila kosinski Ainda me considero ovolactovegetariana porque ainda não consegui ainda fazer a eliminação completa do ovo, mas com a parte vegana de produtos. Essa transição começou em 2012, quando comecei pesquisar mais sobre o vegetarianismo. Mas eu retirei a carne da minha alimentação mesmo no final de 2013, quando passou em todos os jornais o resgate dos beagles no Instituto Royal, com a atuação e trabalho de ativistas. A partir daí eu estava decidida que não queria mesmo consumir carnes. Não consigo fazer essa seletiva, esse especismo, de consumir uns, como vacas, bois e porcos, e dar amor a outros, como cachorros e gatos. Então, no dia 19 de outubro de 2013 eu parei totalmente de consumir car-

ne vermelha. Mas como cresci com uma dieta hiperproteica, fiz esse processo aos poucos. Em meados de 2014 aboli da minha dieta todo tipo de animal, incluindo peixes. A minha escolha foi primeiramente baseada na empatia que eu sinto por todos esses animais, e como já apresentava alguns problemas cardiovasculares, eliminar a carne fez eu me sentir muito melhor, não tinha ataques tão frequentes quanto antes de acelerar os batimentos cardíacos. Apesar de eu não fazer acompanhamento com nutricionista, faço exames de rotina todos os anos. Creio que as proteínas, vitaminas e demais nutrientes podem ser encontradas também nos vegetais, leguminosas e frutas e até em maiores quantidades que a carne. Por exemplo, a couve tem mais ferro que a carne vermelha, e o cálcio presente nela é mais fácil de ser absorvido pelo nosso organismo do que o do leite. Conseguimos encontrar e substituir o ferro da carne por alimentos como beterraba, feijão, couve, cebola e brócolis. A vitamina B12 é algo que sempre gera muitas dúvidas nas pessoas, mas a realidade é que até mesmo quem consome carne precisa suplementar a B12, porque só o consumo de carne não garante a absorção dela. Podemos encontrar a vitamina B12 em cogumelos, alga, ovo, brócolis, acelga, entre outros. No início foi a substituição mesmo da carne por outros alimentos. Eu pesquisava mas não consiga elaborar algo pra comer. Morava com minha mãe e isso dificultou muito. No começo ela não aceitava e não entendia. Quando comecei a morar sozinha, percebi que fi-


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8 cou “mais fácil”, porque agora sou eu quem escolho e preparo meus alimentos e faço isso com base em artigos, sites, documentários e vídeos. Como estou eliminando o ovo agora, estou tendo mais dificuldade do que quando parei com as carnes. Parece que não têm opções, e quando você decide mudar sua rotina, parece ser impossível fazer qualquer receita sem aquele ingrediente. Hoje em dia acabo olhando rótulo de muita coisa, que para mim representa a qualidade do alimento. Busco não comprar alimentos transgênicos também e só de bater o olho a gente percebe a diferença. Tento optar, na medida do possível, por marcas que não realizam testes em animais. Consigo fazer isso olhando o verso do produto e conferindo se existe um símbolo indicando que ele é vegano e cruelty-free, ou seja, não faz teste em animais.

emanuelly danta Apesar do veganismo não ser restrito apenas à hábitos alimentares, eu tenho uma dieta vegana. Parei completamente de consumir produtos de origem animal no início deste ano. O motivo principal para mudar minha alimentação radicalmente foi a causa animal. Sempre achei essa seletividade de decidir qual espécie merece o sofrimento e qual não deve sofrer, algo muito cruel. Mas só esse ano parei com o consumo. Abracei a causa vegana junto a alimentação justamente porque além da dieta tem toda uma preocupação com questões de sustentabilidade e meio ambiente.

Faço acompanhamento regular com nutricionista para conferir a questão dos nutrientes e adaptar a dieta quando necessário. Mas acredito que procurar um profissional deveria ser um hábito de todos, independentemente do tipo de dieta adotada. Algumas faltas de nutrientes no meu corpo precisam ser resolvidas com suplementação, como a vitamina B12, porque não há nenhum alimento do reino vegetal que contenha esse micronutriente - no caso do veganismo deve ser a b12 sintética. Mas acontece que até em carnívoros a deficiência de b12 é muito comum. Já em relação ao ferro e outras micronutrientes, uma alimentação equilibrada e saudável consegue tranquilamente suprir todas as minhas demandas fisiológicas e nutricionais de maneira adequada. Acredito que a carne e os produtos de origem animal não são necessários ao nosso organismo e, por isso, não precisamos de algo que tenha o intuído de substituir. Uma alimentação “boa” e completa é importante para saúde de qualquer pessoa, e a nossa sociedade precisa se preocupar com as questões alimentares com urgência. Eu nunca enxerguei dificuldades relacionadas à dieta no que se refere a mudança de parar de comer carne. Sempre prestei muita atenção na questão alimentar, principalmente por cursar Nutrição, e decidi parar de consumir produtos de origem animal pensando em uma alimentação saudável e equilibrada. Acredito que a maior problemática que enfrentei e enfrento é lidar com o meio social quando vou em festas ou em algum lugar em que as opções que eu possa comer

sejam pouquíssimas ou nenhuma. Apesar de não me importar, algumas pessoas se incomodam e se sentem mal de eu estar por perto e não comer como elas. O veganismo engloba uma série de pensamentos que ultrapassam a dieta. Por esse motivo, além de me atentar mais aos rótulos, passei a buscar os procedimentos utilizados pelas empresas na hora da produção do alimento, verificando testes em animais e controle de qualidade, por exemplo. Comecei a me preocupar também com a questão sustentável, reduzindo embalagens e preferindo comprar produtos a granel em empórios e em feiras orgânicas.

A MINHA ALIMENTAÇÃO NÃO É SUFICIENTE O Brasil é o país com o segundo maior número de academias por habitante. Uma pesquisa divulgada pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos mostrou que, em 2017, o Brasil possuía quase oito milhões de alunos que praticavam exercícios físicos nesses locais. O uso de suplementos alimentares para aumento de performance esportiva acompanha o crescimento anual no número de frequentadores de academia. A principal finalidade do uso de suplementos nas dietas, para 86% dos consumidores, é a saúde. Outra pesquisa encomendada pelas Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad), Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde (Abifisa) e Associação Brasileira das Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri) revelou que os compostos mais consumidos são ácidos graxos (ômega-3), aminoácidos (BCAA) e minerais cálcio. Entre os jovens são mais comuns aqueles relacionados à estética, como

o Whey Protain e o BCAA. Já Outra preocupação da nutrientre os idosos predominam os cionista é com pacientes que multivitamínicos e o ômega-3. tenham dietas alimentares restritivas, como veganos e vegetaOs suplementos alimentares rianos. O plano alimentar, prestêm por finalidade modular as crito para cada paciente de forma deficiências nutricionais de um única, deve ser adequado para organismo. Além do uso mais fazer a reposição dos nutrientes comum, por pessoas que prati- encontrados no reino animal e cam exercícios físicos, eles tam- que estão presentes em menor bém podem ser ingeridos por quantidade nessas pessoas. Na aqueles que o corpo não faça a maioria das vezes a substituição absorção adequada de macro e dos alimentos não é suficiente e micronutrientes. A nutricionista a suplementação é fundamental esportiva Tatiana Sarmento ex- para o bom funcionamento do plica que é necessário realizar, organismo. “A gente consegue, junto ao plano alimentar, o ras- muitas vezes, adequar o plano treamento metabólico, exames alimentar somente com alimenque identificam deficiências tação, mas é muito mais difícil. nutricionais adquiridas por uma Não vamos ter, por exemplo, o doença ou treinamento físico ferro M, que é o ferro de origem intenso. “Hoje existem testes animal; existe uma deficiência como o nutrigenômica e de in- de B12 muito grande e de vitolerância alimentar que nos tamina D3, que é a vitamina D ajudam a dar um direcionamen- de origem animal; então é um to maior para cada indivíduo. O público que, se ele não aceiteste de intolerância não aponta tar a suplementação, fica muiexatamente para a questão da to mais difícil você trabalhar”. suplementação, mas o nutrigeCreanômica sim. Por exemplo, se a tina é pessoa tem um polimorfísico, um dos ou seja, uma alteração genésuplementos tica, às vezes ela vai precisar mais de mais B12, mais B9 ou mais usados alguma vitamina específica”.


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10 COMO ESCOLHER UM SUPLEMENTO? “Periodização” é o termo que se usa para o rodízio da ingestão de suplementos diferentes para um mesmo objetivo. “Existem muitos Wheys, marcas de suplementos em pó, que não têm um bom edulcorante, por exemplo, eles tem muitos compostos ruins. A longo prazo isso pode dar uma sobrecarga de intestino e hepática, ou seja, no fígado, e renal”, explica Tatiana. Além disso, os suplementos podem ser classificados em dois: prescrição ou manipulação, e industrial. “A forma industrial tem a grande vantagem de você não correr o risco de ser uma dosagem errada, porque é a produção é sistematizada, tem um gosto bom e tempo de prateleira longo. Mas a prescrição é individual, tem um grau de pureza melhor, você tem que fazer por menos tempo e o profissional consegue dar um outro suporte, porque acompanha caso a caso”. Em ambos os casos a procura de um profissional de saúde é fundamental. Em dosagens erradas, os suplementos podem atrapalhar o funcionamento de órgãos como rins, fígado e bexiga. Os riscos do consumo também acontecem na ingestão crônica de determinada substância. “No excesso também pode acontecer de você indisponibilizar a absorção de outros nutrientes, como por exemplo, o zinco em excesso pode depredar o cobre; o ferro em excesso pode inflamar, ter o aumento da ferritina (proteína de reserva do ferro), e isso pode gerar uma inflamação

crônica no paciente e sobrecarga de fígado”. Para verificar se as informações nutricionais dos suplementos tomados estão de acordo com o prescrito pelo profissional, Tatiane dá dicas de como consultar os rótulos das embalagens. “Quando você olha os ingredientes, o que está escrito em primeiro lugar é o que tem em maior quantidade. Se você quer um suplemento que contenha menos açúcar, então o primeiro ingrediente não pode ser carboidrato. Também é preciso ficar atento e observar os edulcorantes, ou adoçantes, se tiverem muitas siglas, nomes de produtos importados ou nomes desconhecidos”. Marcus Vinícius de Arruda começou, há um ano, uma loja de suplementos online. Formado em Biologia e cursando a segunda graduação, em Educação Física, ele decidiu entrar no mercado de produtos que consome há 10 anos quando percebeu que, em algumas lojas que comprava, a preocupação com a saúde dos clientes não era o valor principal. A comodidade de uma loja virtual e a vantagem de conseguir vender os produtos mais baratos que a concorrência, por não precisar arcar com impostos e aluguel com local fixo, despertou o interesse em criar a Hustel Suplementos. “Às vezes eu ficava observando que as pessoas chegavam nas lojas que eu comprava e pediam um suplemento que, em muitos casos, elas nem precisavam. A pureza dos produtos e vender marcas confiáveis são coisas que tomo cuidado antes de trazer para minha loja também. Muitos acabam se iludindo com falsos objetivos, até mesmo de

vendedores que recomendam os produtos. Por isso que, sempre que recebo um cliente, faço diversas perguntas e verifico se ele consultou um nutricionista ou entende o porquê de estar querendo uma suplementação. Pela loja ser online, consigo vender com valor abaixo do mercado. A creatina, por exemplo, que custa R$50 lá fora, vendo a R$35. O Whey, que chega a custar R$100, vendo por R$85”. As fórmulas farmacêuticas dos suplementos podem ser líquido, em pó, em gel e goma. A escolha para cada tipo de dieta depende do plano alimentar elaborado pela nutricionista de cada pessoa. As atividades físicas praticadas também influenciam na rotina de consumo. É o caso de Gustavo Vasconcelos, Jéssica Lopes e Manuela Haick, que tomam suplementos há cinco anos, um ano e quatro meses e um ano, respectivamente. Confira abaixo esses três exemplos de pessoas que ajudam a elevar a taxa de consumidores de suplementos anualmente no Brasil.

MANUELA HAICK Eu tomo suplementação faz um ano: Whay, BCAA e, às vezes, arginina, é manipulado. Não decidi por conta própria, foi indicado pela minha nutricionista, porque eu faço muito treinamento de alta intensidade. Ano passado eu fazia muay thay e cross fit; davam quase três horas e meia de treino então só com a alimentação não daria pra manter meu organismo e eu ficar saudável ainda. Ela me disse que iria ficar em fase de definhamento muscular. Apesar de

não morar na mesma cidade que res. Já o Whey é o que eu mais ela atende, eu faço exames de percebo que tem contribuído pra sangue a cada seis meses para acrescentar a minha dieta, porver como estão minhas taxas de que ele me sacia bastante e tira nutrientes no sangue e consulto minha vontade de doce, já que apenas quando vou para Corum- o sabor do meu Whey é cookie. bá. Quando comecei, os resulta- E também porque eu sinto que dos esperados eram o aumento tenho uma energia melhor, é da massa muscular magra, que é como se meu corpo aceitasse a definição dos músculos em si, bem tomar Whey no pós-treie a perda de gordura. Eu já con- no e me dá resultado, tanto que sigo notar bastante diferença no consigo perceber visualmente meu organismo. Ano passado nos musculaturas dos braços e cheguei a perder quase 17 kg. pernas. Além dos suplementos Esse ano, apesar de ser um pou- eu sigo a restrição Low Carb co mais complicado por eu estar e faço jejum intermitente, que morando sozinha, consegui se- é uma reeducação do seu corguir a dieta. Notei que existem po em si em relação a comida, diferenças de quando eu me diferente da Low Carb, que é dedico na preparação dos ali- só uma reeducação alimentar. mentos e das dosagens. Quando preparo minhas Na minha aliQuando tomo BCAA marmitas com mentação eu por um longo período antecedência e faço um tipo deixo separado de tempo, às vezes sinto de dieta que as dosagens de que me vicio em tomar é comumensuplemento, dá para não sentir aquela te chamada pra notar a difede Low Carb, dor pós-treino, como se rença. De agosjunto com to até o começo estivesse tomando um uma que é dorflex. de outubro eu jejum inter- Manuela Haick já tinha perdido mitente, que 8 kg, seguindo é uma reeducertinho a dieta com a suple- cação do seu corpo em si em mentação. É claro que não exis- relação a comida, diferente tem apenas pontos positivos na da low carb, que é só uma resuplementação. Dos efeitos ne- educação alimentar. Como eu gativos eu percebi que, quando faço esse jejum, pela manhã tomo BCAA por um longo pe- eu não como nada, e também ríodo de tempo, às vezes sinto é o período do dia que pratico que eu me vicio em tomar pra exercícios físicos. Por ter esse não sentir aquela dor pós trei- intervalo na alimentação, foi inno, como se estivesse tomando dicado pela minha nutricionista um dorflex para dor de cabeça. que eu comesse um pouco mais Você acaba meio que viciando, de proteína do que eu comeria achando que seu corpo precisa normalmente. A primeira sudaquilo pra dores mínimas, sen- plementação do dia pode entrar do que não é assim. Depois que após esse período. Nos dias em isso acontece, eu consigo perce- que eu sinto dores incessantes ber e volto a tomar apenas em após o treino eu tomo duas cápcasos de extremo cansaço e do- sulas de BCAA. Depois eu al-


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12 moço e, quando chega o horário que comumente é o do lanche da tarde para as pessoas, pra mim já é o horário da janta por causa do jejum intermitente. É quando eu como praticamente só ovo e frango, e tomo o Whey, duas scoops, equivalente a 40g, em 400ml de água. Eu compro suplementos em lojas de suplementação mesmo, uma lá de Corumbá, e aqui em Campo Grande onde minha academia tem convênio. Tenho um pouco de dificuldade para encontrar o Whey isolado, porque pra mim ele é o mais indicado. O 100% concentrado é como se fosse a opção B. Mas o isolado também é mais caro, a partir de R$160, então na maioria das vezes eu acabo optando pelo concentrado. Outra dificuldade é encontrar lugar que venda a marca que eu gosto de consumir, porque ela não me deu efeito colateral de ter espinha, que é muito comum, e a pureza é maior. Tomo suplementos há cinco

gustavo vasconcelos anos, aproximadamente, e são muitos: multivitamínicos com anti-oxidantes e enzimas digestivas, ômega-3, creatina, beta-alanina, glutamina, BCAA, magnésio e cafeína. Já utilizei alguns termogênicos para fases específicas de definição muscular, mas hoje em dia não uso mais com tanta frequência. Eram suplementos como clenbuterol e ioimbina. Já usei também alguns pré-treinos, mas não consegui enxergar muitas vantagens, então parei. Tomava Jack3D, nano vapor e dragonpharma. Comecei a treinar sete anos atrás e vi a necessida-

de de complementar minha die- BCAA e a cafeína, por exemplo, ta com alguns micronutrientes utilizo em jejum antes do treino e aminoácidos, para conseguir de cardio, e a glutamina princimais desempenho nos exercí- palmente para aumentar a imucios de musculação que faço. nidade, se pego algum resfriado, Nunca fiz acompanhamento por exemplo. Os termogênicos com nutricionista, apesar de também consumo de pré-treino. sempre antes de tomar qualquer As demais refeições do dia são um desses eu achar importante normais, eu suplemento apeler artigos científicos e tenho a nas na primeira e no pós-treino. consciência de que preciso saber exatamente como age cada substância que estou colocando dentro do meu corpo. Também costumo pesar cada refeição que Eu tomo suplementos há um ano faço e medir a quantidade de su- e quatro meses e eles vão desde plemento Whey, creatina, gluVi necessidade de que estamina, ômega-3, pocomplementar minha tou tolivitamínico até prom a n d o . dieta para conseguir mais bióticos. Decidi quais A crea- desempenho nos exercícios tomar com a minha tina, por de musculação que faço. nutricionista, porque - Gustavo Vasconcelos exemplo, faço acompanhameneu li que to regular, todos os nosso meses, até por causa corpo absorve apenas seis gra- da quantidade. Não tive nenhum mas por dia, então eu peso e di- efeito colateral e também não vido, tomo três gramas comple- percebi nenhuma desvantagem. mentando a refeição pela manhã Como eles são complementares e três a tarde. Quando decidi a dieta, o meu objetivo de tomácomeçar a tomar foi para, além -los é pra rendimento, aumento de melhorar minha qualidade de da massa magra. Encontro eles vida, desenvolver massa magra, facilmente em lojas de produtos perder gordura e ter ganho de naturais ou lojas especializadas força. Nunca tive efeitos inde- em produtos fitness e para acasejáveis com a suplementação, demias, e como existem várias porque eu sei que com uma na cidade, nunca tive problema dieta rica em macronutrientes, para encontrar. Os suplementos é necessário complementarmos estão inseridos na minha dieta com os micronutrientes e al- somente para melhor a minha guns aminoácidos encontrados alimentação, que hoje em dia nos alimentos - a não ser que a eu considero saudável. Nunpessoa coma diversos alimentos ca foi meu objetivo tomar para com todos os necessários, o que substituir qualquer alimento. O é bem difícil. Então suplemen- horário que eu tomo também tar, para mim, foi uma saída varia, como faço acompanhamais fácil para conseguir uma mento constante com a nutridieta balanceada e eu ter tudo o cionista, tudo se baseia no meu que preciso no meu organismo. plano alimentar e eu não arrisco O que eu tomo durante o dia tomar nada por conta própria. depende dos meus treinos. O

jéssica lopes

MEU FILHO NÃO COME ISSO Mais de ⅔ dos comerciais sobre alimentos veiculados na televisão são destinados ao público infantil. Sabendo da influência que exercem nas escolhas de compra das famílias, fabricantes utilizam-se de elementos visualmente atrativos, como personagens conhecidos, cores vibrantes e músicas chamativas para influenciar a introdução de hábitos alimentares e de consumo que podem durar a vida inteira. Os alimentos ultraprocessados que chegam através de imagens hipnotizadoras, são usados com frequência pelos pais para atribuir situações de felicidade. “Se você não se comportar, não vai ganhar sorvete” ou “se você comer toda a comida salgada do prato, vai ganhar sobremesa” são frases que condicionam a alimentação de muitas crianças e supervalorizam as comidas

doces em detrimento das salgadas. Assim, é cada vez maior o número de crianças e adolescentes que não incluem na rotina alimentar verduras, legumes e frutas. Na fase adulta, quando podem escolher o que consumir, se veem “livres” de terem que comer esses alimentos. Segundo o Guia Alimentar da População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014, a escolha do que colocar nos pratos de bebês e crianças nos primeiros anos de vida definem características da personalidade deles. É comum ouvirmos que os pais devem optar por alimentos coloridos, ricos em vitaminas, evitar a introdução precoce de açúcar e, até os seis meses, alimentá-los apenas com o leite materno. Mas muitas mães que não conseguem produzir uma quantidade suficiente de leite precisam fazer mudanças significativas na alimentação de seus filhos já nos primeiros dias de vida. O leite de fórmula, preparado em mamadeiras e oferecidos ao bebê, pode ser o principal alimento quando a produção do chamado “leite do peito” é escassa. O leite materno acaba se tornando, então, uma complementação à alimentação

da criança, quando o indicado por pediatras é o inverso. A chegada de um novo membro também muda a rotina da família, e não apenas no tempo disponível para o casal e nas tarefas domésticas. Ter hora para dormir e acordar, acrescentar itens na lista do supermercado e até receber visitas de parentes e amigos são tarefas que sofrem mudanças significativas quando se tem um filho. Todas as atividades da casa, que incluem o bebê, refletem diretamente no hábito que mais lhe prejudicará ou beneficiará no futuro: a alimentação. O que se come na infância reflete por toda a vida do ser humano, e decidir quais alimentos compõem os pratos deles já nos primeiros meses de vida é fundamental para garantir a quantidade de nutrientes necessários para manutenção de atividades como desenvolvimento motor e fonético. A nutricionista infantil Karine Freitas explica que os hábitos alimentares da mãe nas fases de gestação e amamentação definirá os alimentos aceitos pela criança. “Os hábitos alimentares são formados a partir de influências genéticas e ambientais, ou seja, existem predisposições genéticas para se gostar ou não de


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14 complementar. Assim, o desjejum ainda deverá ser o leite materno e apenas no meio da manhã recomenda-se a oferta de frutas variadas, numa consistência adequada à faixa etária”.

determinados alimentos que são herdados dos pais. Mas essa influência vai sendo moldada por experiências que temos ao longo da vida, especialmente nos primeiros mil dias, que começam ainda na gestação, onde o estado nutricional da mãe e seus hábitos alimentares começaram a definir as preferências também do ser humano que se forma. Foi assim quando Maria Vitória chegou à casa onde já estavam Danielle Zampiere e Lúcio Rodrigues, há um ano e quatro meses. Danielle não produziu leite e precisou recorrer ao leite de fórmula para alimentação de Maria. Os hábitos alimentares da família mudaram. Se antes eram acostumados a tomar refrigerante, a introdução alimentar com papinhas, frutas e sucos fez com que a família excluísse a bebida e outros tipos de açúcar do cardápio. Segundo a nutricionista Karine, até os dois anos de idade não deve ser ofertado às crianças nenhum alimento que contenha açúcar ou industrializados. “Até o sexto mês de vida, a criança deve receber apenas o leite materno exclusivo, em livre demanda, ou seja, nos horários e volume que desejar. Após essa faixa etária, recomenda-se a manutenção da oferta do leite materno, com introdução da alimentação

leira mostra que existe a troca desses alimentos naturais ou dos minimanente processados como arroz, feijão, mandioca, batata, legumes e verduras, por produtos industrializados prontos para consumo, colaborando Os cuidados com açúcares es- para a frequência da obesidatão, inclusive, na alimentação de e do diabetes, hipertensão, enviada à escola. Maria estuda doenças do coração e certos na escola onde os pais traba- tipos de câncer, atingindo meslham em período integral. Ela mo adolescentes e crianças”. faz quatro refeições por dia. Após o desjejum, a próxima Márcia Rezende é mãe de João refeição servida já na escola Henrique, de oito anos. Ela deiacontece na metade da manhã. xou de comer alimentos mulO almoço é por volta das 11h e tiprocessados já nos primeiros às 13h Maria toma mamadeira meses de gestação e aumentou novamente. Às 16h acontece o o consumo de líquidos. Assim segundo lanche, no intervalo como Danielle, Márcia não proentre o almoço e a janta, que é duziu leite suficiente para a licedo, entre 17h30 e 18h. “Todos vre amamentação de João e preos lanches da Maria são frutas. cisou complementar com leite Eu sempre mando a mais, umas de fórmula. Apesar de não fazer quatro por dia, porque se ela re- parte da rotina da família, algujeitar uma, tem a outra. Quan- mas vezes João tem curiosidado eu ou a avó faz bolo, nunca de de experimentar alimentos colocamos açúcares e são sem- processados, como salgadinhos pre com ingredientes naturais, e bolacha. A escolha dos pais é como bolo de laranja, banana oferecer, mas nem sempre é bem ou cenoura. Nada que é de pa- aceito por ele. “Ele tem curiosicotinho a Maria comeu ainda. dade, mas nós não compramos, Mas ela já chegou a nos ver para evitar que ele coma. Bocomendo em festas de aniver- lacha recheada é um alimensário, por exemplo. Demos para to que ele experimentou e não provar e ela cuspiu, porque não gosta, então eu não compro. Já tem paladar para açúcar ainda”. tiveram episódios de ele pedir porque viu as embalagens e o O consumo de alimentos com formato daquelas bolachas tipo alto teor de sódio e açúcar, tortas, mas expliquei para ele como os alimentos industriali- que não tinha gostado. Às vezados está diretamente relacio- zes ele nos surpreende também, nado ao desenvolvimento de como quando fomos comer doenças como diabetes, obe- sobá e ele viu eu e o pai, João, sidade e hipertensão arterial. colocando gengibre. Achei que Karine ainda destaca a subs- não ia gostar, mas ele gostou”. tituição de alimentos in natura por outros processados, que João Henrique, como Maria, podem causar atrasos no desen- faz algumas refeições na esvolvimento infantil. “O Guia cola, como o almoço. Servido Alimentar da População Brasi- espontaneamente pelos alunos,

com auxílio de uma professora para evitar o desperdício, eles são estimulados a ter autonomia. Para conquistar a confiança dos pais, uma das estratégias adotadas pela escola é enviar o cardápio do que foi servido no almoço pelo WhatsApp. Além disso, não entram no pratos dos alunos alimentos fritos e gordurosos, e sucos são oferecidos apenas no lanche. “Eu mando sempre pão com presunto ou queijo, cookie integral, bolacha de água e sal e três opções de lanche, para ele decidir o que prefere comer. Quando não mandamos ele compra fichas e o cardápio é salgado assado e suco de polpa”. Além da escola, a ingestão de alimentos junto a família é importante para estimular a participação de crianças e adolescentes nas atividades da casa. Envolvê-los na compra e preparo das refeições permite que eles conheçam novos alimentos e saibam de onde vêm. A origem do que é colocado no prato é a principal preocupação de Andreza Alves. Mãe de Tom, de apenas oito meses, a escolha dos hábitos alimentares do filho vai muito além de como preparar as refeições. Andreza optou por uma dieta vegetariana para ele. Sem comer comer qualquer alimento de origem animal, ela também segue o método BLW (Baby Led Weaning) na introdução alimentar. Após estudar como deve ser a oferta dos alimentos nesse método, ela acompanhava canais no Youtube e perfis de mães no Instagram ainda na gestação.

cações que vão desde a definição de Tom, sem deixar de lado sua do termo até orientações sobre independência. Para que ele os riscos da prática como úni- se sinta parte da família, outra ca forma de oferecer alimentos estratégia do BLW é regular o aos bebês, Karine explica que o horário das refeições dos bebês documento sugere que este seja com o dos pais e entes próxium dos métodos de consumo e mos. “Se eu vou oferecer a baque sejam feitas complementa- nana, por exemplo, tenho que ções. “O BLW, que em portu- seguir alguns cortes recomendaguês significa ‘desmame guiado dos. Abro uma imagem que tepelo bebê’, defende a oferta dos nho como referência, depois de alimentos fazer muitas c o m p l e - O BLW NÃO INCLUI A ALI- pesquisas e m e n t a - MENTAÇÃO COM COLHER ler sobre o res em método na NEM PROCESSOS COMO pedaços, internet, e AMASSAR, TRITURAR E a partir vou acomDESFIAR. dos seis panhanKarine Freitas, nutricionista meses, do. Muitas quando o mães senleite materno não é mais sufi- tem medo de dar o alimento ciente. Não inclui alimentação inteiro para o bebê por causa com colher e nem processos do engasgo, mas fico acompacomo amassar, triturar e desfiar, nhando ele. Se ele não gostar e encoraja os pais a confiarem do alimento, tento fazer de ounessa capacidade, digamos que tra forma, como aconteceu com nata, que o lactante tem de se a berinjela, por exemplo, que auto alimentar. A Sociedade quando eu fiz cozida no vapor Brasileira de Pediatria não re- ele não gostou, mas gratinei e comenda esse método exclu- ele comeu tranquilo. Ele almoça sivamente, mas também não lá por meio-dia, uma hora, que é condena. O ideal é que seja um o horário que meus pais e meu misto entre o BLW e a alimenta- namorado chegam em casa. ção tradicional. O principal ris- Comemos todos juntos, porque co é o engasgo, então a criança não é legal eu comer e depois deve estar bem sentada para que dar o almoço para ele sozinho. seja oferecido o alimento. Fora Quero que ele se sinta parte que ela não se adapta a textura da família para ele acrescentar da colher, por exemplo, porque na nossa rotina, e não mudar. não tem esse contato. Mas nesse ambiente obesogênico que temos vivido hoje, deixar a criança desenvolver a capacidade de saciedade é interessante, porque no BLW ela pega o quanto quiser e come com as próprias mãos”.

Para fazer o corte dos alimenA Sociedade Brasileira de Pe- tos, Andreza se preocupou em diatria emitiu um documento aprender técnicas que garantis- Andreza optou pelo método BLW sobre a dieta BLW. Com expli- sem a segurança das refeições de alimentação para Tom


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QUANTO VALE UM ORGÂNICO? O Brasil possui atualmente mais de 17 mil produtores de alimentos orgânicos. Em sete anos, o número de pessoas que plantam legumes e verduras orgânicas triplicou, saltando de 5.934 em 2012 para 17.730 até março de 2019. Os dados são do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), órgão do Governo Federal respon-

sável por, além de monitorar a sentar um dos três tipos de cerexpansão do setor, certificar tificação disponibilizada pelo e fiscalizar esses produtores. Mapa, seja para comercialização em feiras livres, hortifrutis, A certificação de um produ- restaurantes, lojas ou até mesmo tor de orgânicos pode demorar para distribuição e revenda. A anos. Quem deseja vender um validação é feita pelos Organisproduto assim, precisa estam- mos da Avaliação da Conformipar em suas embalagens o selo dade Orgânica (OAC), credenSisOrg, se colocado nas gôndo- ciados no Ministério. Confira las de supermercados, ou apre- abaixo os tipos de certificação:

Para obter o registro no Brasil, o agrotóxico precisa passar pela avaliação de três instituições. A primeira é o MAPA, responsável por avaliar a eficiência e o potencial de uso do produto na agricultura. O Instituto

AUDITORIA Uma instituição é contratada para fazer a certificação do produto como orgânico. Ela fiscaliza os produtores conforme a legislação vigente e orienta-os para se adequarem à regulamentação. A certificadora também é responsável por visitar pessoalmente as produções, além de conferir o “caderno de campo”, que contém todos os processos realizados na plantação.

SISTEMA PARTICIPATIVO Baseado na parceria dos membros, eles visitam uns aos outros para garantir os processos de produção, armazenamento, colheita e distribuição. São divididos em Membros do Sistema e Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC). A OPAC é uma pessoa jurídica e corresponde à certificadora no processo de auditoria.

ORGANIZAÇÃO DE CONTROLE SOCIAL Interessados em comprar de pequenos produtores financiam a produção pagando adiantado e combinando a quantidade desejada. O excedente pode ser vendido em feiras ou na própria chácara. Baseado na sazonalidade dos produtos, eles geralmente recebem as frutas e legumes “da época”.

Sanitária (Anvisa). Cabe a ela indicar o quão tóxico é o produto para a população e quais as condições seguras para uso.

como obter registro de agrotóxico no brasil? anvisa ibama mapa

tipos de certificação para produtos orgânicos disponibilizadas pelo mapa

Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) produzirá um dossiê informando a toxicidade e grau de poluição. O último órgão a fiscalizar é a Agência Nacional de Vigilância

Produz um dossiê informando a toxicidade e grau de poluição

Indica o nível do toxicidade para a população e quais as condições seguras para uso

Avalia a eficiência e o potencial de uso do produto na agricultura

Em Campo Grande, produtores se organizam para plantar e comercializar hortaliças que não utilizam nenhum desses agrotóxicos. O consumo, assim como o número de produtores, vem crescendo ano a ano. Os esforços se voltam para desmistificar pensamentos criados para que a população não veja vantagens em comprar produtos orgânicos. Quem produz, garante que classificar um produto como orgânico vai muito além de não usar fertilizantes e pesticidas. A segurança de ter um produto que introduza novos hábitos alimentares é mais importante para eles do que o crescimento do mercado ou o lucro ganho em cima de cada maço. Jéssica Vianna, Jair Azambuja e Luiz são algumas das pontas dessa rede de

interação que indicou um novo estilo de vida para cada um. Seja após problemas enfrentados pelo consumo de alimentos intoxicados ou pela busca de um novo nicho de mercado, os três contam a relação que têm com a terra e com a vontade de desmistificar o que existe por trás de alimentos orgânicos.

2015, 1846 pessoas foram intoxicadas devido à alta quantidade de agrotóxico nos alimentos ingeridos. Uma delas é a filha de Luiz, que sofreu intoxicação por agrotóxico ao comer morangos. Com uma bebê de três anos de idade e após uma sucessão de erros médicos, que não conseguiam identificar o motivo da reação, Luiz decidiu mudar sua alimentação e hoje é produtor de hortaliças orgânicas. Numa chácara de 12 hectares e potencial para produzir até 30 canteiros, entregar dois mil itens por semana e empregar em torno de 40 pessoas, o médico veterinário largou seu antigo emprego para se dedicar à plantação.

O Brasil é o sexto maior produtor de agrotóxicos do mundo e ocupa a 44ª posição no consumo. Mato Grosso do Sul é o sétimo maior consumidor do país. No ranking divulgado pelo Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas à Agrotóxicos, sete das 50 cidades que mais produzem pesticidas no país são Luiz ficou três anos e meio em sul-mato-grossenses. De 2007 à período sabático. Se sentisse


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18 fome, comia apenas brotos, encomendas via WhatsApp. “A arroz integral e ovos. Redugente lança no grupo, toda seziu o consumo de carne em gunda-feira, a lista de produtos 90% e não consegue calcular que temos para aquela semana, quantos quilos perdeu. Após com os respectivos preços. É largar o casamento e a emum grupo de 80 e poucos clienpresa da qual era proprietário, tes e semanalmente temos de 6 a começou uma dieta vegana 10 pedidos. Na quarta-feira ene sentiu-se psicologicamentregamos na Praça do Peixe das te abalado pela doença que 18h30 às 20h30”. Eles também atingiu a filha. “Eu olhei pro expõe o que está disponível na meu diploma de médico vehorta na feira da Praça da Bolíterinário e pensei “eu estudei via, que acontece todo segundo pra saber tudo sobre doença e domingo de cada mês. Há cernão sei”. Depois que conheci ca de um mês o casal acolheu minha companheira, entendi uma Comunidade que Sustenque a saúde não está necessata a Agricultura (CSA) em sua riamente no que a gente põe propriedade. O movimento, que pra dentro, mas teve início nos no que colocamos anos 1970 no Ja“O QUE pra fora. No priFAZEMOS AQUI pão, Alemanha e meiro dia que a vi É TOTALMENTE Suíça, nasceu da ela falou pra mim busca de pessoas O OPOSTO DA ‘eu gosto de copor uma alimenmer carne e gosto PROPAGANDA DO tação mais sauAGRO” de tomar cerveja’. dável e que se - Luiz Cobalchini Disse a ela que depararam nas tudo bem. Voltei gôndolas dos sua comer carne e a tomar cerpermercados com orgânicos de veja. Não adianta às vezes alto valor e decidiram financiar você ser vegano num proa produção desses alimentos. cesso neurótico que você “O consumidor nessa relação vai acabar ficando mais doé chamado de co-agricultor. ente do que quem não é”. Ele paga adiantado os produtos que quer receber e, dentro de Ao começar a horta de verduum processo de sazonalidade, ras e legumes orgânicos, Luiz são estabelecidas algumas codeposita o sucesso de sua tas. Geralmente uma cota tem nova vida no objetivo do emnove itens, entre raízes, legupreendimento: desmistificar a mes, folhas e temperos, e cada ideia de que alimentos orgânisemana tem uma mudança no cos são caros e feios, e fazer que é entregue. Quem está recom que mais pessoas tenham cebendo, recebe aquilo que é acesso a eles. O casal “faz feipossível produzir no momento. ra” semanalmente no bairro E aí entra a criatividade na culiRita Vieira e participa de ounária também, quando a pessoa tros projetos esporádicos. Na tem a oportunidade de experiPraça do Peixe, onde já chementar uma diversidade maior garam a vender de forma fixa, de produtos, como o inhame, a entregam hoje produtos para cará moela e outras coisas que um grupo de clientes que faz não são tão usuais no mercado”.

TECNOLOGIA A tecnologia empregada na horta de Luiz se baseia em canteiros cobertos por palha e que utiliza a microbiologia do solo para o bem estar do que é plantado. Na segunda fase do projeto, ainda em implantação, toda a horta ficará debaixo de moringas, planta utilizada para minimizar os impactos da radiação solar nas folhas. “O que fazemos aqui é totalmente o oposto da propaganda do ‘agro’. Você tem um peão pra cuidar de 30 mil hectares, por exemplo, onde a terra é um mero substrato, tudo vem de fora. E aqui não, tudo vem de dentro. Os microrganismos de superfície do solo tem um ‘alimento’ primordial que dá o start em todos os processos de sustentação: o carbono atmosférico. A palha é uma forma de ajudar a vida do solo a se alimentar desse carbono”. O processo de produção de alimentos em larga escala e sem rotação de cultura também o influenciou a pensar na relação que o homem estabelece com a natureza antes de tomar qualquer decisão. Luiz decide o que plantar de acordo com a temperatura predominante nas estações do ano. “No final do ano estamos entrando no verão, quando começa a aumentar a temperatura, estender as horas-luz do dia e aumentar as chuvas. Então, não é favorável produzir folhagens como alface, por exemplo, mas não paramos de produzir porque temos o sistema de palha. Para essa estação já está plantado maxixe, quiabo, berinjela e jiló. Outras plantas como repolho, couve e couve manteiga a gente só tem que fi-

Após a filha de três anos ser intoxicada com agrotóxicos, Luiz decidiu produzir orgânicos

car mais atento porque aumenta a probabilidade de dar pulgão. Quando entra o outono, começa a diminuir a temperatura e as horas-luz por dia. É quando começamos a pensar no tomate, espinafre, brócolis e couve-flor”. O sistema de retenção de nutrientes por camadas de palha não impede o aparecimento de pragas. A solução para não utilizar produtos químicos no combate é elaborar caldas com sementes e frutas, de acordo com o inseto que pretende combater. A mudança repentina de temperatura e ataques de colônias são imprevistos que podem atrapalhar a produção de orgânicos. Nos meses de março e abril de

2018 a horta reduziu significativamente sua produção. A plantação fica ao lado de uma mata fechada onde existem colônias da formiga saúva, também conhecida por formiga cortadeira. O ‘ataque’ da espécie durou três noites e na horta onde existiam 1200 mudas, entre couve, brócolis e repolho, não sobraram 70 pés. O casal diminuiu o atendimento aos clientes e passou a entregar menos produtos. Já nos primeiros meses de 2019, Luiz precisou aplicar novamente caldas à base de produtos naturais após a invasão de lesmas. “Eu fiquei quase sem produto por 40 dias e ia toda noite catar lesma com a mão, de chegar a subir com os baldes dando 2kg

de lesma. Foi então que eu tive que cercar a horta e soltar os patos para eles comerem. Quando voltei a soltar as mudas, estava monitorando todas as noites e a plantação foi atacada por correição, uma formiga que escaneia o solo e vai atacando tudo que é vivo. Pensei “as correições tinham desaparecido, elas voltaram, está resolvido o problema das lesmas”. Temos que entender que na natureza cada forma de vida tem sua função. Nós sabemos muito pouco e temos muito o que aprender com elas”. O esforço de quem produz para atender a procura de alimentos orgânicos em Campo Grande fez com que Jéssica montasse


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20 uma rede de distribuição na cidade. Pioneira quando o assunto é alimentos orgânicos, a loja “Orgânicos da Jé” hoje vende além das hortaliças, bolos, biscoitos, geléias e salgados que têm em sua composição apenas ingredientes de produtores como Luiz. Quando começou o empreendimento, em setembro de 2015, tinha o objetivo de intermediar quem produz e quem compra. Hoje presidente da Associação de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul (APOMS), Jéssica deixa uma vez por semana a loja sob responsabilidade do marido e da mãe para visitar as propriedades de onde ela compra. O comércio de orgânicos deu início com as feiras ambulantes pela cidade e deliverys. Jéssica era encontrada pelas redes sociais e suas vendas dependiam de indicações de antigos clientes. Para conquistar a confiança dos fregueses, ela tenta passar o que vê nas plantações para quem leva as sacolas. “Segunda-feira é dia de ir até a propriedade buscar os produtos, mas eu

também vou até as propriedades sempre que necessário. Mostro pro consumidor aquilo que ele não enxerga, que é o trabalho de quem planta, de onde sai. Mas até 2017 nós não tínhamos voz. As pessoas nos achavam em redes sociais e através de indicações de quem conhecia. O consumo vem aumentando, mas acho que as pessoas ainda não entendem a importância de se procurar o orgânico na prateleira do supermercado, nas feiras, seja onde for. As pessoas têm que exigir que seu alimento não tenha veneno. Mas acho que não existe esse conhecimento do tanto de veneno que é colocado na comida e os malefícios só aparecem a longo prazo. De repente as pessoas se pegam questionando “eu como super bem, faço atividade física, não bebo e não fumo, como vou ter câncer?” e a base da alimentação é vegetal, então você está se entupindo de veneno. Jéssica é formada em Biologia e tem especialização em botânica. Trabalhava no comércio va-

rejista e, após pedir demissão, realizou ela mesma uma pesquisa de mercado local sobre o comércio de orgânicos em Campo Grande. Decidiu começar do zero e, se não desse certo, trabalharia no ramo em qualquer outra cidade, a meta era trabalhar com orgânicos. Filha de uma naturalista e criada para aprender a valorizar os que coloca no prato, ela e a família hoje têm consciência do movimento que iniciaram na cidade. Assim como Luiz, Jéssica trabalha para desmistificar a ideia de que orgânicos são caros. Em setembro de 2019, 63 novos agrotóxicos foram liberados pelo Mapa. Uma vez liberados, os agrotóxicos têm validade indeterminada. Eles podem ser suspensos se houver necessidade de reavaliação toxicológica, se constatada fraude durante o processo de liberação ou se identificada alguma irregularidade que não possa ser consertada. Após esse episódio, a procura aumentou, mas o público consumidor fixo continua o mesmo. “As vendas aumentaram bastante do co-

A horta de Luiz tem capacidade para produzir 30 canteiros de hortaliças por semana

Produtos orgânicos apresentam maior durabilidade na comercialização

meço do ano pra cá, mas ainda falta muita informação sobre o que é um produto orgânico, e quando chega às pessoas, chega distorcida. Mães são as que mais procuram, com bebês em período de introdução alimentar, além de pacientes oncológicos e pessoas que têm um conhecimento maior em relação à saúde, como médicos, nutricionistas e biólogos. Eu tenho clientes muito fiéis, que estão desde quando comecei até hoje consumindo comigo. Não existe um crescimento diário de novas pessoas, o que eu tenho às vezes é um aumento do consumo de pessoas antigas”. Por importar algumas das hortaliças, alguns produtos vendidos por Jéssica podem ter valor superior ao mercado, o que não ocorre com folhagens e legumes que aparecem mais na rotina alimentar das casas. Uma das vantagens de consumir alimentos orgânicos está na durabilidade. Se armazenados e higienizados corretamente, a durabilidade pode chegar a 15 dias e evita que haja desperdícios. “Folhagens e hortaliças no geral são preços muito parecidos com o convencional para

quem costuma comprar em su- que precisam de rastreabilidade permercados. Quem compra or- de entrada e saída para serem gânico não desperdiça, a pessoa vendidos no Brasil. A garantia vai comprar só aquilo que ela para quem consome é conseguir vai consumir, ela não compra utilizar o número de inscrição nada que vai sobrar. Ninguém do produtor ou distribuidor para compra um quilo de batata or- consultar a regulação deles no gânica para deixar na geladeira. Cadastro Nacional de ProdutoToda vez que me perguntam se res e essas informações devem orgânico é caro eu questiono o estar na própria embalagem. que é caro para pessoa. Só é caro Caso não consiga confirmar que você parando para comparar o alimento é orgânico, a opção com um pé de alface puro vene- é pedir a nota fiscal do produto no que estraga em dois ou três com o CPF, CNPJ ou até mesdias na sua geladeira e depois mo o nome de quem está produvocê tem que comprar de novo, zindo ou distribuindo. Além da certificação, sendo que com R$0,50 a mais “QUEM COMPRA é feito um rastreio de você compra um ORGÂNICO NÃO controle de orgânico que dura compra de DESPERDIÇA” o dobro ou triplo”. sementes e - Jéssica Vianna insumos de Para fazer a districada probuição dos alimentos orgânicos, Jéssica precisa priedade avaliada. “Para Camcomprar de produtores certifi- po Grande existe apenas uma cados e ter sua própria certifica- Organização de Controle Social ção. No caso deles, podem optar (OCS), localizada em Terenos. por um dos três tipos de certi- É um conjunto de produtores ficação disponibilizados pelo que auditam entre eles e usam a Mapa. Já ela, precisa estampar certificadora para dar esse cerem seus produtos revendidos tificado com cadastro no Mapa. em feiras, empórios e na pró- Na certificação por auditoria é pria loja o selo de distribuição. feito amostra de solo e sementes Além disso, importa produtos e os produtos são enviados para da Espanha, Itália e Argentina, laboratórios credenciados para


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22 “EU VEJO NOVOS CLIENTES NESSES MOVIMENTOS DE VEGANISMO E VEGETARIANISMO” - Jair Azambuja análise. Só existe uma certificadora participativa no estado, porque é um sistema complexo que exige muita confiança. Então, a auditoria acaba sendo o mais procurado, porque é direto, a certificadora com o produtor. Já os meus produtos importados precisam de um certificado que se adeque ao Orgânicos Brasil. Às vezes a certificação internacional é muito mais rígida que a nossa, mas por exigências burocráticas nacionais, o produto não entra no Brasil”.

tifrutis, por exemplo”. O acesso também aumentou desde o início do trabalho de Jéssica. Hoje, é possível encontrar uma diversidade maior nas grandes redes de supermercados. “Mas eles colocam os orgânicos como se fossem estrelas. Eu vejo que estão melhorando de dois anos para cá, até em questão de variedade, você encontra até cogumelos, por exemplo, mas não é o foco porque têm isso como uma linha premium, não como uma linha natural. O pensamento dos supermercados Alguns dos produtos vendidos é porque as pessoas estão prona Orgânicos da Jé podem ser curando eles têm de oferecer”. encontrados na gôndolas dos supermercados pela cidade. Outra pessoa que descobriu um Para que sejam realmente orgâ- vasto mercado de produtos ornicos, além do selo, é necessá- gânicos fora das gôndolas dos rio que estejam separados em supermercados é Jair. Parte de “alas” com uma barreira que um projeto que reúne pequeimpeça o contato físico entre nos comerciantes na Praça dos eles e os alimentos convencio- Imigrantes, no centro de Camnais. Há também quem confun- po Grande, ele começou partida os orgânicos com os agroe- cipando de feiras ao ar livre e cológicos, vendidos no período foi com a ajuda de amigos arde adaptação para que recebam tesão que conseguiu o espaço as avaliações necessárias para para centralizar suas vendas. A conquistar o selo e os cadas- produção e comércio são realitros. “O agroecológico tem um zados pela família de Jair, que prazo de dois anos. Após isso, também possui uma chácara ou você vira orgânico ou volta para plantar e divide a área com a ser convencional. Agroecoló- outros 13 produtores, todos de gico é um tempo entre quem é hortaliças orgânicas, cedidas convencional e está se tornan- pela Prefeitura Municipal. A do orgânico. O transporte dos autonomia também faz parte da produtos que eu trago de fora é relação de trabalho dos 14 profeito em caixas fechadas, com dutores. Alguns plantam e veno frete refrigerado e não entra dem em feiras, como Jari, mas em contato com outros de hor- há também os que plantam para

consumo próprio e outros que preferem se certificar para atender distribuidores como Jéssica. “Eu já vim de feira, virei produtor por necessidade pessoal. Ajudava meus irmãos no tempo livre, porque trabalhava a noite, e comecei a fazer workshops e participar de cursos. Geralmente é natural, quando você vê a parte teórica, quer aplicar na prática. No começo plantava só para consumo e surgiu a oportunidade de ter a chácara. Foi então que larguei o emprego onde trabalhava e passei a me dedicar só a isso. Decidi ficar mais perto da família e também teve o meu filho, que nasceu com paralisia cerebral. Precisava ficar mais perto dele!”. Para tentar se adequar ao mercado, Jair produz o “arroz e feijão das verduras”. As folhagens são o carro chefe da plantação e ele precisa de adequar ao clima de Mato Grosso do Sul. Assim como Luiz, observar a temperatura é fundamental para conseguir colher a quantidade certa. “Como a gente está falando de Campo Grande, o clima aqui é bem tudo ou nada, os próximos meses vão ser calor, chuvoso e úmido, não adianta querer plantar uma coisa que não vai dar. Por questão financeira, preciso trabalhar num segmento que as pessoas consomem muito, no caso alface, cheiro verde, couve e rúcula. Mas a ideia principal desses alimentos é livrar as pessoas de consumir tanto veneno”. Com o comércio dos produtos nas feiras livres e fazendo

novas amizades a cada ano, Jair hoje possui uma clientela fixa. O público varia de jovens com novos estilos de vida à idosos enfermos. Há três anos ele atende a Feira Vegana, realizada aos sábados a cada 15 dias também na Praça dos Imigrantes, e que se tornou mais um segmento de clientes para o produtor. “A Feira Vegana é jovial, são pessoas de até 25 anos, porque nas feiras de orgânicos mesmo é muito idoso, é uma clientela que tem data para acabar e não se renova. Eu vejo novos clientes nesses movimentos de veganismo e vegetarianismo, e também nos frequentadores da Igreja Adventista, que são na maioria ovolactovegetarianos. Mas além disso têm os enfermos, pessoas que têm problemas de saúde e o organismo já está com tanta química que dependendo, até o alimento orgânico não pode comer mais. E depois existem as pessoas que vem só pela verdura mesmo, porque sabem que sou produtos e os alimentos vão ser sempre frescos”.

tentamos fazer foi propor que disponibilizassem uma gôndola para colocarmos o que tava dando no momento, a cultura da época, para poder sincronizar com a sazonalidade. Como não tivemos sucesso, desistimos. O mercado desistiu dos orgânicos e a gente desistiu do mercado”. Alguns deles também participam de programas dos governos federal e municipal para atender a demanda da merenda escolar. Cada produtor tem o direito de fazer até dois projetos por ano e recebe um adicional de 30% sob o preço dos produtos por serem orgânicos. A partir do início de 2019, novos projetos de fomento para produtores orgânicos com os que Jair participa foram cortados pelo governo de Jair Bolsonaro. “A gente tinha isso até o ano passado. Mas os projetos que ainda estão vigentes a gente recebe por quilo. Então se eu vendo, por exemplo a alface a R$8,50 o quilo, recebo mais 30% por ela ser orgânica. O problema de enviar para esses projetos é que não existe escalonamenJair e outros produtores de Cam- to. Assim que entregamos eles po Grande tentaram colocar os são misturados com as verduras alimentos orgânicos produzidos convencionais, então já deprepor eles, nas gôndolas dos su- cia na hora, é só para atender permercados. Através de uma os produtores que participam”. parceria com as redes varejistas, o tempo de produção foi de en- A rotação de cultura é feita secontro com a alta demanda. “A parando as mudas em talhões, gente não conseguia entrosar pequenas porções de terreno. com o mercado. Eles queriam, Diferente de grandes plantapor exemplo, 500 pés de alfa- ções, mudar o que coloca na ce por dia, 200 de couve e 100 terra é fundamental na plande cheiro verde e essa não é a tação de produtos orgânicos, realidade dos orgânicos. O que pois garante a saúde do solo.


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DOCES DE Padaria “As vitrines estão cada vez mais coloridas e diversificadas. As padarias investem cada vez mais em doces diferentes”. A nutricionista Monyque Amaral foi convidada para falar sobre o que existe além da beleza dos doces encontrados em padarias.

Depende da porção oferecida, se considerarmos que UMA carolina tem em média 52 Kcal, e que em 100g de carolina vEm aproximadamente seis unidades, teríamos uma porção de 312 Kcal. O sonho tem em média 153 Kcal. já o quindim 131 Kcal (se for feito com glucose aumenta mais ainda).


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Os doces ativam nossas memÓrias afetivas, e o encantamento já inicia nas vitrines das padarias. Os comerciantes precisam montar vitrines atrativas, afinal ela é a porta de entrada do comércio. se tratando de alimento o consumidor julga o estabelecimento pela vitrine.

Além do mais, quando vemos um doce ocorre em nosso organismo a liberação da dopamina, conhecida como “o neurotransmissor do prazer”, e a vontade de comer mais doces aumenta, principalmente se vier acompanhada do aroma presente nas padarias.

A origem dos doces de padaria, inicia-se da década de 1920, quando os padeiros começaram a aproveitar as sobras de massa para fazer pães doces. Ainda nessa época, logo após a Primeira Guerra Mundial, chega o sonho nas padarias brasileiras, doce originalmente alemão. Com o passar dos anos, e esse tipo de pão caindo na aceitação dos consumidores, as padarias viam a necessidade de expandir seu leque de doces


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Os doces podem ser consumidos de forma complementar com moderação, não como refeição principal.

Não há recomendação nutricional para doces. O recomendado é que se consuma com moderação, com cuidado. E isso é muito sério, porque apesar de deliciosos, o açúcar em excesso é um dos grandes vilões da atualidade, contribui para o aumento de peso, o que pode levar à obesidade e pode aumentar o risco de diabetes e acelerar o envelhecimento.


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A ÚNICA QUE DEU CERTO Conheça a estratégia alimentar que é a luz no fim do túnel para algumas mulheres que já tentaram de tudo para emagrecer Especialistas não sabem ao certo quando essa estratégia alimentar ganhou fama no Brasil. Feita por pessoas que desejam perder peso, ela se diferencia das outras dietas de emagrecimento por restringir o que pode ser ingerido a quantidades próximas a zero. Para diversas mulheres ela é considerada a última opção em meio a tantos outros processos de perda de peso fracassados, e a única que deu certo. Apesar de muito discutida em consultórios médicos, quem a pratica nem sempre procura orientação de um profissional. Com aproximadamente 280 milhões de resultados de busca no Google, quem deseja testá-la facilmente encontra artigos, páginas de receitas, contas no Instagram e no Facebook e até digitais influencers que usam as redes sociais (e ganham dinheiro com isso!) com perfis dedicados exclusivamente àqueles que pretendem começar. Eles passam dicas, mostram a rotina de preparação dos alimentos, exibem resultados na balança e até indicam o que pode ou não pode entrar na cozinha dos menos experientes.

Conhecida como Low Carb, é quase um insulto para quem segue, chamá-la de “dieta”. A estratégia alimentar consiste em um tipo de alimentação com baixa quantidade de carboidratos e com alimentos de baixo índice glicêmico. Nutricionistas explicam que apesar de eficiente na perda de grande quantidade de gordura, ela não é indicada para qualquer pessoa. Além das pré-disposições de cada organismo, a restrição de pequenas quantidades que contenham carboidrato, faz com que alimentos muito comuns na mesa dos brasileiros sejam excluídos quase que completamente, como pães, bolos e mas-

sas. Quando acompanhada por profissionais de saúde que realizam a manutenção das taxas de açúcar e gordura no sangue necessárias para o bom funcionamento do organismo, a Low Carb é uma alternativa eficaz para quem deseja postar selfies no estilo “antes e depois”. A advogada Tatiana Pimentel preparou durante meses o aniversário de um ano da filha. A escolha de decorações, lista de convidados, buffet e fotógrafos deixaram de lado uma importante coisa a se pensar, que mexia com sua autoestima desde os 15 anos de idade: a escolha da roupa. Acostumada a fazer

dietas, ela lembra de poucos períodos da sua vida em que pôde comer de tudo. A calça que exibe em suas redes sociais, vestida quase que em apenas uma das pernas, era antes a principal peça de seu guarda roupa repleto de peças encontradas apenas em lojas plus size. Quando o álbum do aniversário da filha ficou pronto, a recordação foi estampada em um porta retrato na mesa de trabalho. Após dias olhando para a foto, percebeu uma Tatiana que não mais a representava. O corpo já não agradava ao olhar no espelho, e a decisão de mudança veio ao refletir sobre os problemas de saúde que poderiam aparecer

Tatiana chegou a pesar 108kg. (Fotos cedidas pela fonte)

Manira Pilonetto é fotógrafa e pretendia perder 16kg quando iniciou a Low Carb. Assim como outros adeptos do estilo de vida, ela entrou, após atingir o objetivo, na fase de manutenção. Nessa segunda etapa, os pacientes não se preocupam tanto com a redução da gordura corporal e os números na balança já não são mais a preocupação maior. “Eu não coloquei uma meta, queria perder a quantidade necessária para me sentir bem comigo mesma. Quando vi que conseguia me controlar, entrei na fase de manutenção, que é quando, para você não emagrecer mais, começa a aumentar a quantidade de carboidratos. O que eu fiz após isso foi adequar os alimentos que consumo à Low Carb. O açúcar é diferente, existem bolos, tortas e doces com ingredientes com pouco carboidrato”. Assim como Tatiana, Manira já havia tentando emagrecer com outras restrições alimentares. A Low Carb surgiu após diversas tentativas que resultaram no “efeito sanfona”, quando ela emagrecia rápido, mas engordava rápido também. “Fiz dieta paleolítica, tomei herbalife, fiz dieta de redução de calorias e nenhuma deu certo por um longo período, eu engordava tudo de novo. A fase de adaptação é a mais difícil, porque eu ia em lugares com pessoas que não tem essa restrição e as via comendo pizza, hambúrgueres e frequentando rodízios. Quando aprendi a preparar os mesmos alimentos, mas com as mudanças nos ingredientes, não sentia mais tanta falta”.

daqui há alguns anos. “Esperei passar natal e ano novo e conversei com minha nutricionista, que também é minha amiga. Estava pesando 108kg. Meu prato na hora do almoço era 70% carboidrato e 30% dividido entre vegetais e proteína. O meu jantar sempre era pizza, macarrão, sanduíche ou batata recheada. No início ela liberou algumas frutas, apesar de não ser comum na estratégia Low Carb, e passou mais carboidrato do que eu comia normalmente, mas eram os provenientes de vegetais, como carboidratos de tubérculos. Em três ou quatro meses A empresária Paula Zagonel eu perdi de 20 a 30 quilos”. também tentou emagrecer seguindo dietas e outros métodos

que prometiam uma redução significativa de peso em pouco tempo. Assim como Tatiana, ela chegou a colocar balão intragástrico, um instrumento médico utilizado no combate à obesidade. O efeito produzido por ele é “esticar” o fundo do estômago para aumentar a sensação de saciedade do paciente e reduzir o apetite. “Quando eu coloquei o balão, eliminei 24kg em apenas um ano. Mas depois que tirei, engordei 36kg. A Low Carb foi a única reeducação alimentar que eu consegui eliminar naturalmente 25kg e manter”. Quando colocou o aparelho, nas vésperas do seu casamento, Tatiana precisava de um procedimento que a fizesse perder peso em poucos dias. Entretanto, o que ela perdeu não foi apenas gordura. “Usei o balão intragástrico para ‘terminar’ de emagrecer, ainda faltavam 20kg da minha meta e eu ia casar. Fiquei três meses com ele, perdi 30kg e nunca mais coloco na vida. Fiquei desnutrida, adoeci, estava num nível alto de desidratação e com potássio no meu corpo super baixo”. Apesar da mudança no estilo de vida, a redução do consumo de carboidrato pode trazer algumas desvantagens para os adeptos da estratégia, e precisa de um tempo de adaptação. Para Tatiana esse tempo foi de três meses. Já Paula percebeu que o organismo demorou para acostumar com a falta do nutriente e precisava se esforçar mais para fazer algumas atividades. “O ponto negativo de ser Low Carb é que eu percebi que durante esse um ano eu fiquei extremamente preguiçosa, parece que me falta energia. Seja


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32 dentro de casa, no trabalho, ou fazendo algum exercício físico, eu tenho que lutar diariamente contra esse cansaço físico, porque o máximo de carboidrato que eu consumo é uma batata inglesa, de vez em quando, porque a doce eu não gosto”. Manira também sentiu fraquezas e observou em seu corpo efeitos colaterais da mudança na alimentação, antes repleta de pizzas e pães. “Eu senti muita dor de cabeça no começo. Acho que por eu ter perdido muito peso, meu cabelo começou a cair muito e teve uma época que eu achei até que eu ia ficar careca de tanto cabelo que eu perdi. Até que, quando atingi meu objetivo de perder 16kg, comecei a acrescentar alguns carboidratos bons, como a batata doce”.

e compartilham em suas redes sociais recomendações para outras pessoas. Manira e Paula não fazem acompanhamento com nutricionista. O que aprenderam após mais de um ano de adaptação à estratégia foi compartilhando suas experiências e recebendo orientações dessas pessoas que são “exemplos” da efetividade da Low Carb. “Tive orientação de amigas, de digitais influencers que sigo no Instagram, Facebook e Youtube. Foi assim que aprendi e fui pesquisando na internet os alimentos, quais eram os melhores e quais podiam ou não comer”, afirma Paula. Manira recebeu dicas de uma amiga próxima que costumava ajudar outras pessoas a começarem a estratégia. “Tenho uma amiga que sigo ela no instagram, e As três seguidoras da Low Carb hoje em dia ela é até referência são também seguidoras de di- de pessoas que são Low Carb; versos perfis de influenciadores ela conseguiu eliminar 40kg só digitais, em sua maioria mulhe- com a restrição. Eu pedi orienres, que conseguiram se adaptar tação pra ela, ela foi me falando ao novo estilo de alimentação o que eu podia, o que não po-

dia, eu fui aprendendo o que é ser Low Carb”, explica Manira.

O QUE É A LOW CARB?

O crescente acompanhamento da vida pessoal dessas pessoas que decidem mudar seus hábitos alimentares é o que motivou Tatiana a criar uma conta no Instagram dedicada a compartilhar seu dia a dia com a Low Carb. O perfil @projetotatipimentel surgiu com o intuito dela ser cobrada pelos seguidores a permanecer na dieta. “Eu pensei ‘se eu tiver um Instagram e postar tudo o que eu como, as pessoas vão, além de me incentivar, me cobrar quando eu não fizer postagens e vai ser mais difícil eu falhar’. Hoje me perguntam quem é minha nutricionista, qual meu plano alimentar e até me pedem receitas. Eu recomendo sempre buscarem ajuda de um profissional de saúde, porque tenho receio de sugerir que comam algo e depois, se não funcionar, vão dizer que fui eu que influenciei”.

Fernanda: Dieta Low Carb

ESPECIALISTA RESPONDE Como identificar se a Low Carb será benéfica para seu estilo de vida? Quais são as pessoas que fazem parte dos grupos que tendem a procurar essa estratégia alimentar para redução de peso e melhora na saúde do organismo como um todo? Será que você faz parte desse grupo? Perguntamos a duas especialistas em Low Carb, as nutricionistas Fernanda Tosi e Tatiane Atillio, como são orientados os pacientes que procuram seus consultórios para iniciar a “dieta”. As respostas podem te ajudar na identificação de um novo estilo de vida.

consiste em um tipo de alimentação com baixa quantidade de carboidratos ou com alimentos de baixo índice glicêmico. Em português “Low” quer dizer baixo e “Carb” carboidratos.

pre deixando personalizada de acordo com o estado fisiológico-nutricional de cada pessoa.

QUAIS OS PRINCIPAIS ALIMENTOS QUE FAZEM PARTE DOS CARDÁPIOS MONTADOS?

Fernanda: Podemos incluir Tatiane: Todo alimento indus- em um cardápio os tubérculos, trializado, refinado ou que passou por algum tipo de industrialização não é considerado um carboidrato benéfico. Nós trabalhamos com controle de carboidratos, desde que eles estejam presentes o mais próximo do alimento in natura. A quantidade de carboidratos a comer no dia é variada de pessoa para pessoa.

EXISTEM RESTRIÇÕES PARA ESSA DIETA? Fernanda: Nem tudo é para

todo mundo. Pessoas que precisam melhorar a performance, desempenho na sua modalidade esportiva, que tenham um gasto calórico muito alto, ou que possuam qualquer problema de saúde, que cause emagrecimento, não devem fazer a Low Carb.

Tatiane: Quem tem proble-

ma, por exemplo, de diabetes, é necessário fazer uma readequação. Inclusive a Sociedade Americana de Diabetes e a Sociedade Médica Americana, esse ano, tornaram público seu posicionamento a respeito da Low Carb afirmando que é uma estratégia eficaz tanto para tratamento quanto até para reversão de diabetes do tipo 2. A gente vai trabalhar a Low Carb como trabalhamos qualquer outro tipo de dietoterapia, sem-

carnes magras e ovos, alguns tipos de frutas e, moderadamente, leite e seus derivados.

Tatiane: Os alimentos que

compõe uma dieta Low Carb são isentos de produtos químicos, como os alimentos industrializados. Esses não entram.

QUEM SÃO AS PRINCIPAIS PESSOAS QUE PROCURAM ESSE TIPO DE ALIMENTAÇÃO? Fernanda: Pessoas que pre-

cisam perder muito peso e aquelas que possuem algum problema relacionado a alimentação errada, como hipercolesterolemia, diabetes do tipo 2 e esteatose hepática.

Tatiane: Também são pesso-

as que querem emagrecer, já tentaram de tudo e não conseguiram, além de pessoas que estão pensando em fazer cirurgia bariátrica, que tem diabetes tipo 1 e 2 e hipertensão. Normalmente os pacientes precisam ter uma alimentação mais padronizada e mais próxima ao natural, como os que possuem doenças celíacas, intolerância a glúten e lactose ou que tem reação alimentar tardia.


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PROPÓSITO Ano 1 - Edição 1: Alimentação e Nutrição


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