Enredo de Fé: Festa da Padroeira de Ladário | Paula Andreia Marques Navarro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE JORNALISMO

ENREDO DE FÉ: FESTA DA PADROEIRA DE LADÁRIO

PAULA ANDREIA MARQUES NAVARRO

Campo Grande NOVEMBRO/2018


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ENREDO DE FÉ: FESTA DA PADROEIRA DE LADÁRIO

PAULA ANDREIA MARQUES NAVARRO

Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projeto Experimental II do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Orientador(a): Profa. Msc. Débora Alves P. Cabrita

Campo Grande NOVEMBRO/2018



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SUMÁRIO

Resumo

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Introdução

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1. Atividades desenvolvidas

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1.1 Execução

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1.2 Dificuldades encontradas

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1.3 Objetivos alcançados

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2. Suportes teóricos adotados

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2.1 História, Cultura e Religiosidade

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2.2 Documentário

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2.3 O papel social do jornalista

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Considerações finais

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Referências

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Apêndice

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RESUMO: O documentário “Enredo de Fé: Festa da Padroeira de Ladário” é um projeto experimental realizado como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo, com objetivo de documentar a Festa de Nossa Senhora dos Remédios, padroeira de Ladário. O produto audiovisual é resultado da apuração e produção jornalística, com base nos três pilares que permeiam a festividade: história, cultura e religiosidade. A Festa da Padroeira possui relevância para a comunidade católica do município e para o fomento da economia e turismo local. De 15 a 24 de outubro, milhares de fiéis se unem para celebrar o dia de Nossa Senhora dos Remédios, com programação religiosa e cultural, na praça do Santuário. Em 2014, a festa foi reconhecida pela Fundação de Cultura e Governo do Estado de Mato Grosso do Sul como uma das manifestações culturais e religiosas de maior destaque do Estado. Portanto, cumpre-se neste projeto o papel social do jornalismo em registrar e divulgar essa manifestação e popularizar esse conhecimento.

PALAVRAS-CHAVE: jornalismo – documentário – ufms – festadapadroeira – ladárioms - cultura


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INTRODUÇÃO O documentário Enredo de Fé: Festa da Padroeira de Ladário é um projeto experimental desenvolvido como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo, com objetivo de registrar a Festa de Nossa Senhora dos Remédios – Padroeira de Ladário, realizada há 125 anos no município, e contemplar a singularidade das simbologias e significados contidos na manifestação cultural e religiosa. Para isso, foram utilizadas técnicas de pesquisa jornalística por meio da pesquisa de campo, análise de dados, levantamento de fontes documentais e pessoais e gravação das entrevistas – conforme a contribuição de cada um para os pilares que norteiam este trabalho: história, cultura e religiosidade. Localizada em Mato Grosso do Sul, distante 435km da capital Campo Grande, Ladário é um município com extensão territorial de 340km². Popularmente conhecida como “Pérola do Pantanal”, a cidade possui um relevante valor histórico e cultural para o país em razão da instalação da réplica do Arco do Triunfo (o Arsenal de Marinha), no ano de 1873. Conforme a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ladário possui 22.968mil habitantes. A economia é subsidiada pela pesca, pecuária, turismo e transporte de navegação. Rodrigues (2016) afirma que “o turismo aliado à vocação e riqueza históricocultural da população proporciona grandes eventos para o município, que acaba sendo uma opção de oportunidade de geração de emprego direto e indireto”. Nesse sentido, a administração municipal instituiu, em 2012, o Calendário Municipal de Eventos Culturais¹, com todas as festividades do ano, no intuito de fortalecer a cultura e a classe artística regional e divulgar os eventos culturais. Entre os maiores eventos relacionados no calendário, estão: o Carnaval, o Banho de São João, Semana da Pátria e Aniversário de Ladário, Festa do Peixe, Festa da Padroeira Nossa Senhora dos Remédios – Padroeira de Ladário, e o Espetáculo Natalino. Cada evento é formado por atividades paralelas, com duração de um ou mais dias. Em reconhecimento a essas manifestações culturais que nos últimos anos se destacaram a nível estadual, este trabalho de conclusão de curso (TCC) propôs resgatar o contexto histórico-cultural de um dos principais eventos realizados no município: a Festa da Padroeira. A festividade começa tradicionalmente no dia 15 de


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outubro e se estende até o dia 24, data em que os cristãos católicos comemoram o dia de Nossa Senhora dos Remédios com atividades culturais e religiosas, que culminam na Procissão Luminosa. Milhares de fiéis saem em caminhada cantando e rezando, para pagar promessas ou agradecer pelas graças alcançadas; alguns seguem descalços, outros de mãos dadas, e todos iluminam o trajeto com as velas nas mãos, traçando um caminho iluminado, para celebrar o dia de Nossa Senhora dos Remédios. Nos últimos anos, a festividade ganhou o apoio do poder público, possibilitando maior investimento em estrutura profissional para as atividades concentradas na praça do Santuário, aluguel de barcos para a procissão fluvial, produção de material de divulgação em grande escala, e contratação de shows até mesmo nacionais – como do Padre Antônio Maria, em 2016. O resultado dessa parceria pode ser notado no aumento do público e em reconhecimentos a nível estadual. Em balanços realizados pela Polícia Militar nos anos anteriores, estimou-se que mais de 25 mil pessoas estiveram na festividade, somados todos os dias de celebração. Um dos marcos da Festa da Padroeira é datado em 2014, quando foi reconhecida como uma das maiores manifestações culturais e religiosas de Mato Grosso do Sul. A Fundação de Cultura do Estado (2014, p. 101) mapeou as 16 maiores manifestações festivas, religiosas e culturais do estado. Na região do Pantanal, estão mapeadas a Festa de São João, em Corumbá/MS; a Festa de Nossa Senhora dos Remédios, em Ladário/MS; e a Festa em homenagem à Nossa Senhora do Carmo, em Forte Coimbra. No entanto, para compreender como os festejos alcançaram essa grande proporção, é fundamental o embasamento histórico sobre a santidade no município. A chegada da imagem de Nossa Senhora dos Remédios à cidade e as consequentes celebrações estão intrinsecamente ligadas à história de Ladário e às contribuições que proporcionou à cidade, principalmente ao que diz respeito à formação religiosa. A imagem foi doada ao povo ladarense pelo Capitão-Tenente da Marinha, José Raymundo de Souza Lobo, em 1893. As primeiras celebrações foram realizadas no Arsenal de Marinha – no qual existia uma capela onde foram realizadas as primeiras missas para os militares e todo povo de Ladário.


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Em 1896, foi finalizada a primeira etapa da construção da igreja para abrigar a imagem de Nossa Senhora dos Remédios, quando ocorreu a transladação da imagem para a igreja, no centro da cidade. “Apesar da inauguração em 1896, a igreja só ficou totalmente pronta em 1898” (SANTOS, 2015, p. 3.098); atualmente é reconhecida pela Igreja Católica como Santuário de Nossa Senhora dos Remédios. Diante de todo esse contexto, constata-se a relevância da festa tanto para a comunidade católica quanto para o desenvolvimento da economia e do turismo local. Assim, o documentário mostra a importância dessa manifestação para o município; além da memória, religiosidade, identidade, sentimento de gratidão e o respeito que a comunidade tem em relação à santidade e aos festejos que são passados de geração há mais de cem anos, por famílias que atribuem os milagres e graças recebidas à intersecção da mãe de Deus, e se dedicam no planejamento e execução da festa. Muito além de registrar essa festividade, o projeto teve o intuito de resgatar essa tradição católica ladarense e transmitir o enredo de fé que contextualiza a Festa da Padroeira em seus pilares histórico, cultural e religioso. Como resultado do processo de elaboração do produto audiovisual, foi possível compreender os motivos pelos quais a festa se popularizou e, a cada ano, desperta maior interesse do poder público e conquista uma população mais participativa. .


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1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS O primeiro processo aconteceu com a escolha e delimitação do tema em setembro de 2017. A relevância social da Festa da Padroeira para a cultura, economia e turismo de Ladário/MS e a proximidade com o tema formam decisivos. Para que o assunto fosse abordado no formato de documentário, foi necessário buscar referências bibliográficas para compreender a linguagem do documentário e a construção de uma narrativa que permite a presença ou não de um narrador. A pesquisa de campo com entrevistas prévias ajudaram a entender a importância, a repercussão e o reconhecimento que a festa tem em nível municipal e estadual, além de conhecer os rituais presentes durante toda a celebração. A festividade, que costuma durar de nove a doze dias, tem pontos culminantes como a Procissão Fluvial, com o apoio do Comando do 6º Distrito Naval, a Procissão Luminosa, Missa Campal e o show de encerramento. Pesquisa bibliográfica Foram consultados livros, artigos e fontes documentais sobre a história da chegada da imagem de Nossa Senhora dos Remédios ao município de Ladário. Assim como aporte teórico sobre jornalismo cultural e produção de documentário. Nesta etapa, também foram consultadas leituras feitas ao decorrer do curso de Jornalismo, para retomar as técnicas de entrevistas e elaboração do roteiro de perguntas. Pesquisa de campo e coleta de dados Embora as festividades religiosas costumem estar ligadas à tradição oral de uma comunidade, em Ladário, pesquisadores como cientista social, historiadora e o advogado responsável por manter e preservar o livro ata sobre a construção da igreja foram fontes fundamentais para a coleta de dados e posterior construção da narrativa do documentário. A pesquisa não se limitou às fontes especializadas na história. Esse trabalho foi buscar no depoimento da comunidade a percepção das pessoas a respeito das simbologias prestadas à imagem e por que tanta devoção.


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Análise dos dados Com as informações bibliográficas necessárias sobre o início da história da Festa da Padroeira, a importância cultural da imagem e a contribuição da Marinha – tudo aliado ao contato prévio com as pessoas que poderiam gravar os depoimentos, deu-se a fase de construção do pré-roteiro de produção. Definição do produto O documentário foi escolhido por ser um formato audiovisual de fácil similaridade e acesso ao conhecimento da realidade de uma comunidade ou região. Além disso, a riqueza de imagens, depoimentos, sons, cantorias e rezas presentes nos dias de festividade, aponta para uma produção que permite apresentar início, meio e fim nele mesmo, sem a intervenção de um apresentador ou âncora de jornal. Os demais meios de comunicação, como o rádio e a televisão – por meio de matérias jornalísticas, também têm condições de registrar com qualidade e fidelidade o que acontece nos festejos. No entanto, dificilmente teriam o espaço permitido pelo documentário que pode variar entre 15 a 25 minutos, ou até mesmo 60 minutos (longa-metragem). Outra vantagem que o documentário permite, e talvez a mais importante, é captar a emoção presente em todos os momentos da celebração da Festa da Padroeira. Defesa do Pré-projeto Com todas as etapas do pré-projeto definidas, a proposta foi apresentada na disciplina de Projeto Experimental I, ministrada pela Profa. Dra. Katarini Miguel, no primeiro semestre letivo de 2018. Àquele momento, foram ressaltadas as pesquisas bibliográficas, com leituras de artigos nacionais e regionais, a coleta e análise de dados e a escolha do produto, a fim de justificar criteriosamente a relevância da festa e as razões pelas quais a santidade é cultuada desde 1.893 – quando chegou ao município de Ladário/MS.


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1.1 Execução:

Pesquisa Bibliográfica Para justificar o tema, foram consultados livros, artigos, matérias, peças audiovisuais e até mesmo conteúdo das redes sociais. A pesquisa bibliográfica buscou aprofundar o conhecimento sobre a história da chegada da imagem de Nossa Senhora dos Remédios ao município de Ladário/MS e as contribuições que propiciou para o desenvolvimento da cidade, principalmente à formação religiosa. Os livros consultados registram a chegada da imagem, sua instalação no Arsenal de Marinha, a construção da igreja para abrigar a imagem peregrina e a transladação da imagem acompanhada do cortejo. Foi preciso ir além dos livros para compreender como a festividade teve início e é realizada há 125 anos. Neste sentido, pode-se entender que foi a partir do cortejo da transladação que os festejos tiveram início. E a partir de então, a imagem foi consagrada como Padroeira da cidade e símbolo de curas e milagres, principalmente para a comunidade cristão-católica ladarense. Nas leituras foi possível esclarecer que aos poucos a imagem da Santa conquistou lugar de respeito na cultura local, enraizando-se como parte fundamental da história de Ladário e da construção da identidade ladarense. Mesmo com publicações que abordam a festividade, como “Manifestações Culturais e Religiosas de MS” (2014), e “Sopa Paraguaia” (1980), de João Lisboa de Macêdo, percebeu-se a urgência de produzir novos materiais que registrem a festa e ampliem a divulgação desta celebração que reúne milhares de devotos anualmente. Com a pré-definição do documentário como o produto de reprodução deste trabalho, buscou-se aporte teórico sobre a produção audiovisual a fim de obter conhecimento sobre a produção de documentários, as etapas de elaboração e a finalização do produto. O documentário se destacou como a melhor ferramenta para a representação fiel da festa na composição de imagens abertas ou fechadas, ricas em detalhes.


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Pesquisa de Campo e Coleta de Dados Pelo fato de existir poucos registros bibliográficos sobre a festa em si, foi preciso buscar referências nas experiências vividas em outros anos da festividade. Na oportunidade, foram ouvidas pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para a realização da festa em anos anteriores, e que pudessem colaborar com informações específicas sobre a programação, as atividades principais e o momento em que o ato simbólico aconteceria durante a celebração da missa ou da programação paralela. As leituras revelaram que a festividade está além de um evento religioso e público, e que está intrinsecamente ligada à história do município, principalmente à formação religiosa. Análise dos Dados A partir da coleta de todos os dados necessários sobre a história da santidade e o contexto cultural e religioso no qual está inserida, foi possível fazer a análise do conteúdo para finalmente definir o produto dessa representação. Aclarou-se, neste momento, que a festa seria mais bem representada por meio de um produto capaz de despertar a emoção da audiência. Definição do Produto A definição do produto veio a partir das contribuições que os documentários têm proporcionado para as produções jornalísticas, por oferecer mecanismos de divulgação que contemple um tempo maior de execução do projeto e, até mesmo, de reprodução do conteúdo. Nesse aspecto, a riqueza dos detalhes, como as luzes das velas na procissão luminosa, seriam representadas em sua essência neste formato. Fontes Pessoais Para finalizar o pré-projeto, as fontes pessoais foram previamente definidas, de forma a direcionar as entrevistas às pessoas que já tinham conhecimento sobre a manifestação cultural e religiosa, ou estivessem dispostas a compartilhar as graças, curas e milagres atribuídos a interseção da Santa. Para compreender mais a fundo os três pilares que sustentam este projeto, foram ouvidos relatos de devotos,


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pesquisadores e pessoas envolvidas com a festividade. Esta etapa foi fundamental para definir as fontes que seriam entrevistadas na etapa de gravação. Os entrevistados foram escolhidos com base na contribuição que cada um poderia oferecer de acordo com a sua área de conhecimento e atuação. Projeto Experimental A elaboração deste projeto experimental teve continuidade no início de agosto 2018, sob a orientação da Profa. Msc. Débora Alves. Neste momento, resgatouse todas as pesquisas feitas anteriormente, somadas às novas pesquisas bibliográficas e de campo. A elaboração deste trabalho, a partir desta etapa, consistiu na elaboração do roteiro de entrevistas, nas gravações, decupagem do material, roteirização e edição, e finalização do relatório. Roteiro de Entrevistas A partir do levantamento de fontes documentais e fontes pessoais, tornou-se possível planejar o roteiro de entrevistas que abordasse todo conteúdo necessário para a composição do trabalho jornalístico. As primeiras entrevistas e filmagens foram programadas para serem gravadas entre os dias 19 e 26 de setembro/2018. As fontes foram agendadas para essa semana, para que posteriormente, na semana da festa de 19 a 26 de outubro, fossem gravadas as imagens e demais depoimentos. Gravações Devido à logística de sair de Campo Grande até Ladário, distante 435 km, e ao curto prazo para realização das entrevistas, foram antecipadas as gravações de depoimentos para antes da semana programada para a festa. Em setembro, foram entrevistados o pároco do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, Padre Celso; o Ministro de Eucaristia e um dos organizadores da festa, Nivaldo Paes; e a historiadora Daiane Lima dos Santos. Na semana do dia 19 ao dia 26 de outubro, foram entrevistados a cientista social, Wanessa Rodrigues; o ex-prefeito de Ladário, José Antonio Assad e Faria; o mestre em desenvolvimento local, Alexandre Ohara; os devotos Margarida Melgar e Gerson Cabral; e o Capitão dos Portos do Pantanal, o Capitão de Fragata Roberto Pita Medeiros.


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Neste mesmo tempo foram realizadas as filmagens da festa, principalmente nos dias 23 e 24, nos quais as atividades são todas voltadas para representar “Nossa Senhora dos Remédios junto ao seu povo”. As principais atividades da festa aconteceram nessas datas, e reuniram milhares de fiéis para celebrar o dia da Padroeira de Ladário. Buscou-se priorizar o som ambiente para dar originalidade ao documentário. No dia 20 de outubro, foi gravada a Procissão Fluvial – que revive a chegada da imagem ao município. Em seguida, foi realizada a Carreata com Nossa Senhora dos Remédios, na qual a imagem foi à frente dos carros, em cima do caminhão de combate a incêndio do Corpo de Bombeiros. Com exceção das entrevistadas Wanessa Rodrigues e Daiane dos Santos, e do Capitão de Fragata Roberto Medeiros – por questão de logística, as gravações foram feitas no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios e na praça do Santuário. Decupagem Com todo material necessário gravado e devidamente descarregado em uma pasta própria no computador, deu-se início ao processo de decupagem. Foram assistidas todas as entrevistas e filmagens, e ouvidos todos os áudios, a fim de selecionar o melhor conteúdo para o documentário. Nesta etapa foi levada em consideração a complementação de contextos dos entrevistados em relação aos pilares história, cultura e religiosidade. Roteirização e Edição Após a decupagem dos depoimentos e das imagens, foi realizado o roteiro técnico para o início da edição do documentário. Na execução desta etapa, foi necessário o acompanhamento da orientadora Débora Alves e do editor Lucas Navarro. Ao analisar todo conteúdo, constatou-se a importância de um off de 1’30” (um minuto e meio) dividido em cinco partes para complementar aspectos importantes da festa gravado pelo jornalista André Navarro. Foram utilizadas apenas duas músicas para trilhar o documentário: “Pérola do Pantanal”, composta pelo militar ladarense Sérgio Cunha; e o “Hino da Padroeira”,


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de autoria desconhecida, interpretado por Jéssica Sousa. Reforça-se que os demais sons utilizados (músicas, rezas, cantorias) foram captados durante o evento. Pela riqueza de imagens e detalhes que situam as celebrações, foi importante inserir imagens (fotos e filmagens) de anos anteriores na composição do documentário. Escolha que enriqueceu o produto ao apresentar diferentes momentos da manifestação. Após todos os ajustes necessários, foi possível obter o resultado final. O processo de edição teve duração de duas semanas.


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1.2 Dificuldades Encontradas A maior dificuldade para a produção deste trabalho foi o deslocamento. Ladário está a 435 km de distância da capital Campo Grande. Além de conciliar as viagens com os períodos de aula e estágio, o deslocamento foi altamente custoso para viagens curtas, de um final de semana, por exemplo. Para a semana dedicada à festa, foi necessário o apoio da empresa Seriema, que disponibilizou as passagens de ida e volta. O conhecimento e domínio básico de produção de documentários também dificultou o processo. Ao ver que todas as gravações necessitavam de enquadramentos específicos, despertou a insegurança de produzir materiais errados. No entanto, o empréstimo de equipamentos do curso de Jornalismo da UFMS, o apoio de familiares e amigos, e a contratação de um cinegrafista e um operador de drone foram imprescindíveis para manter a qualidade adequada das gravações. Marcar as entrevistas na semana da festa dificultou o acesso a uma quantidade maior de devotos, pois estavam diretamente envolvidos com a organização da celebração. Por isso, a gravação com os dois devotos entrevistados foram feitas dentro das barracas de alimentação. São gravações diretas como essas que enriquecem o documentário, porque não interferimos nas locações; por outro lado, a qualidade do som ficou comprometida, mesmo os personagens usando o microfone lapela. Algumas entrevistas precisaram ser desmarcadas e não puderam ser remarcadas depois. Por último, o tempo limite destinado ao documentário (até 25 minutos) foi um dos maiores desafios, pois as entrevistas tiveram duração média de 40 minutos, com falas extensas e difíceis de serem decupadas e cortadas. O sotaque típico do povo ladarense, que em alguns momentos a própria fala se sobrepõe, foi interessante; mas ao mesmo foi preciso deixar alguns trechos mais longos para que o depoimento fizesse sentido. Como no caso do Sr. Nivaldo Paes ao relatar um milagre alcançado para a irmã. Neste ponto, construir o roteiro tornou-se, por alguns instantes, uma etapa desafiadora, já que todos os relatos pareciam ser importantes para a utilização na íntegra.


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1.3 Objetivos Alcançados O objetivo geral do projeto, de produzir um documentário sobre a história, cultura e religiosidade da Festa de Nossa Senhora dos Remédios – Padroeira de Ladário foi alcançado. Os

objetivos

específicos

de

pesquisa

bibliográfica,

escolha

dos

entrevistados, gravações e produção do documentário também tiveram êxito. Cada um desses objetivos trouxe à tona informações desconhecidas e imagináveis, como a ata original, escrita à mão pelo Capitão-Tenente José Raymundo de Souza Lobo. Para alcançar todos os objetivos, falta disponibilizar o documentário nas plataformas onlines, para as Fundações de Cultura de Ladário e do Estado, e para as escolas da rede pública de ensino. Este objetivo tem como finalidade divulgar a festividade e democratizar o acesso à informação e à cultura.


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2 SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS: 2.1 História, Cultura e Religiosidade Para dar início ao projeto, foi necessário recorrer aos estudos e pesquisas realizados sobre a Festa de Nossa Senhora dos Remédios. O aporte teórico sobre a manifestação foi escasso. Além das matérias publicadas em sítios de notícias, apenas publicações de reconhecimento da festa foram encontradas. Nelas, um breve resumo sobre a festividade, do que muito se ouve em relatos. Em 2014 a Festa da Padroeira foi reconhecida no livro de Manifestações Culturais e Religiosas de MS, publicado pela Fundação de Cultura e Governo de Estado do Mato Grosso do Sul. A festa teve título de uma das 16 manifestações mais reconhecidas do Estado. Farra (2014, p.101) afirma que os festejos tiveram início quando “a população passou a pedir graças à santa, dando origem a uma festa que já completou mais de 120 anos”. A Igreja em estilo semigótico, com sua torre majestosa, reúne de 15 a 24 de outubro, peregrinos de várias cidades brasileiras e da Bolívia. Ladário fica em festa. Os visitantes são recebidos com atrações culturais, barracas organizadas pelos fiéis, música e comida. Nas missas, realizadas diariamente, objetos pessoais são benzidos. E a Igreja Matriz, centro de peregrinação que recebeu a consagração de Santuário em 2008, coleciona relatos de milagres atribuídos a nossa Senhora dos Remédios. (FARRA, 2014, p. 101)

Rodrigues (2016) afirma que a partir de então, a festa ganhou reconhecimento na revista Corumbella, Ano 2 – número 02, da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de MS (Fundect), “reconhecendo a Festa de Nossa Senhora dos Remédios como elemento de destaque da cultura pantaneira e iniciativa empreendedora local, entre os nove municípios da região do pantanal e borda”. No entanto, é importante compreender que a festa está diretamente ligada com a chegada da imagem no município de Ladário, e todos os episódios que cercam esse acontecimento. De acordo com o registro em livro-ata apresentado pelo


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entrevistado Nivaldo Paes, a imagem chegou à cidade em 1893, como um presente do Capitão-Tenente José Raymundo de Souza Lobo. O capitão esteve à frente das tropas da Marinha do Brasil, em defesa do país na Guerra do Paraguai. E só após a finalização da construção da igreja e a transladação da imagem, os festejos tiveram início. Anterior a isso, as primeiras missas foram celebradas na capela do Arsenal de Marinha. No Arsenal da Marinha existia a capela velha do arsenal e do povo de Ladário. A 8 de janeiro de 1893 o Pe. Constantino Tarzio (SDB), vigário, abriu o livro de “Fábrica, da igreja nova de Ladário”. A pedra fundamental da igreja foi lançada no dia 02 de setembro de 1878, no entanto, só em 1892 teve início a sua construção. A igreja, trabalho do construtor italiano Germano dos Santos Mauro, foi inaugurada em 1896. (BAÉZ, 1965, p.152)

A igreja de construção com aparência semigótica começou com materiais simples até passar por reformas e, 41 anos depois, ser elevada a Paróquia e posteriormente se consolidar como Santuário. Santos (2015) afirma que “o coro da igreja vinha desde o tempo de sua fundação, era de madeira, mas depois foi concretado. A torre possuía sinos fabricados em Sorocaba, no ano de 1947, encomendado pelo frei Liberato, responsável na época”. Knob (1988) apud Santos (2015) explica que quando os padres franciscanos assumiram a igreja, as instalações foram restauradas e, então, foi assinada a planta de construção da torre. Santos (2015, p. 3098), complementa que parte da torre que já existia foi derrubada junto à fachada para construir a nova, “e com a ajuda da população e do comando naval conseguiram terminar a obra e inaugurar os novos sinos no alto da torre em 1946”. Quando os franciscanos assumiram a paróquia de Ladário, já havia a igreja de Nossa Senhora dos Remédios. Ela era grande, construída de pedras naturais. As paredes de fora estavam sem reboque. Ao lado, na frente, existia uma escada encimada por um telhado, como de um baldaquino, para abrigar os sinos. O forro e o telhado da igreja estavam furados, as paredes de cima mostravam aberturas, pelas quais muitos morcegos entravam na igreja. Estes males foram sanados por um novo telhado e pelos consertos que foram feitos em 1943. Segundo o Pe. Frei Mateus Hoepers, visitador geral em 1943: “Aqui em Ladário, vocês pelo menos tem uma igreja que merece este nome” (Crônica, f. 3v). Em 1945,


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foi realizado uma reforma total da igreja, sob os cuidados do irmão Frei Valfrido Stahle. (KNOB, apud SANTOS, 2015, p. 3098).

Compreender o enlace da história com o início do enraizamento dessa devoção foi fundamental para dar sequência ao trabalho, pois só a partir dessas etapas, os festejos começaram e tomaram grandes proporções. Tomaz (2010, p.2) afirma que: Ao se contemplar um espaço de relevância histórica, esse espaço evoca lembranças de um passado que, mesmo remoto, é capaz de produzir sentimentos e sensações que parecem fazer reviver momentos e fatos ali vividos que fundamentam e explicam a realidade presente. Essa memória pode ser despertada através de lugares e edificações, e de monumentos que, em sua materialidade, são capazes de fazer rememorar a forma de vida daqueles que no passado deles se utilizaram. Cada edificação, portanto, carrega em si não apenas o material de que é composto, mas toda uma gama de significados e vivências ali experimentados. (TOMAZ, 2010, p.2).

Essa afirmação pode ser constatada nos relatos dos devotos. A gama de significados e o culto à santidade são compreendidos como um fenômeno social de devoção, pela relação de troca de pedidos feitos e graças alcançadas. Peter Brow (1982) apud Menezes (2011, p.22) explica que essa santificação surgiu na antiguidade, a partir da crença em uma conexão entre o Céu e a Terra, “cuja manutenção se daria pela mediação de um ser humano morto, o santo (ou a santa) ao qual seriam atribuídas qualidades especiais no trato com o sagrado”. Menezes (2011) ressalta que para compreender o universo simbólico de uma santidade é necessário analisar também as comunidades e os devotos que atribuem tal legitimidade.

A santidade envolve termos que se definem relacionalmente: não há santos sem devotos, nem devotos sem santos. É de uma relação que estamos falando, a relação de devoção, em que uma pessoa ao entregar-se a um santo que é seu protetor constrói-se como devoto enquanto que simultaneamente atribui a seu sujeito de louvor a capacidade de ser portador ou “emanador” de santidade. Assim, estudar um santo implica em analisar também a comunidade, ou as comunidades, de seus devotos, aqueles que atribuem legitimidade e consistência a seu título. (MENEZES, 2011, p.23)


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2.2 Documentário No intuito de abordar todos os aspectos da festividade propostos por este projeto, optou-se pelo documentário como o melhor produto para transformar as informações em um conteúdo audiovisual de fácil compreensão. Para Melo (2002), a produção audiovisual é o conjunto de convenções que permiti associações que levam aos sentidos e aos significados. A autora afirma que a relação de proximidade com a realidade é característica fundamental na garantia de autenticidade do que é retratado. O documentário ocupa uma posição ambígua e polêmica na história, teoria e crítica do cinema. Se por um lado, recorre a procedimentos próprios desse meio: escolha de planos, preocupações estéticas de enquadramento, iluminação e montagem, separação das fases de pré-produção, produção, pósprodução etc; por outro, procura manter uma relação de grande proximidade com a realidade, respeitando um determinado conjunto de convenções: registro in loco, não direção de atores, uso de cenários naturais, imagens de arquivo etc. Vale salientar que é o segundo conjunto de convenções acima referido que melhor identifica o documentário como gênero, pois são essas características que garantem autenticidade ao que é retratado. (MELO, 2002)

A festividade que acontece há 125 anos reúne atos simbólicos que representam momentos importantes dentro da programação, e por ser tradição da comunidade católica, os ritos se tornam comuns e cotidianos. Nesse sentido, o documentário apresenta um maior apreço para captar esses momentos com aspecto documental. Nichols (2012, p. 20) alega que “a tradição do documentário está profundamente enraizada na capacidade dele nos transmitir uma impressão de autenticidade. E essa é uma impressão muito forte”. Para Zandonade e Fagundes (2003), o documentário é um mecanismo importante para a construção da realidade a partir da projeção do conhecimento real do acontecimento idealizado pelo produtor. Em toda trajetória histórica do documentário, desde o início do século passado, os assuntos abordados no cinema ou na televisão sempre envolveram a realidade de determinados fatos ou pessoas. Com isso, reforça-se a teoria de que ele pode ser um importante instrumento para o conhecimento real dos acontecimentos, de maneira a compreender os mecanismos de construção daquela realidade. Nesse sentido destacase o papel da televisão e do jornalismo, na difusão das informações pertinentes ao desenvolvimento crítico da sociedade, com o vídeo documentário. (ZANDONADE e FAGUNDES, 2003)


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Para produzir o produto audiovisual, foi elaborado um planejamento que nortearia todas as outras decisões. O ponto inicial desta proposta está na escolha das fontes e das entrevistas – técnicas jornalísticas imprescindíveis para a produção do projeto. Também foi elaborado um esqueleto de imagens (ver em apêndice) com as ideias principais de gravação. A produção do roteiro aconteceu inversamente à forma tradicional do documentário. Optou-se por deixar o roteiro para acontecer após as gravações, pois como pontua Field (2001, p. 183), “em jornalismo, vai-se do particular para o geral; primeiro coletam-se os fatos, depois encontra-se a história”. Um jornalista aborda sua pauta conseguindo fatos e reunindo informações, fazendo pesquisa de texto e entrevistando gente relacionada à matéria. Uma vez que tenha todos os fatos, pode imaginar a história. Quanto mais fatos um jornalista conseguir coletar, mais informação ele tem; ele pode usar toda, parte ou nada dela. Uma vez coletados os fatos, ele procura “gancho” ou “ângulo” da matéria e então escreve a história usando somente aqueles fatos que valorizam e dão apoio ao material. Isso é bom jornalismo. (FIELD, 2001, p.183)

A edição, parte final e mais importante de todo esse processo, foi realizada no método não linear. Quer dizer que foram utilizados pedaços de vídeos para compor o produto final. O formato permite que as cenas possam ser deslocadas de um lugar para o outro, sem perder seu significado. Lucena (2012, p.99) explica: Nesse tipo de edição, o filme é digitalizado e “renderizado” no disco rígido (transformado em arquivo), podendo ser editado em qualquer ordem – o editor escolhe as imagens que deseja utilizar, copia os pedaços de filme e os coloca em uma linha do tempo (timeline). (...) É possível afirmar que a edição não linear permitiu a manipulação da imagem de uma forma surpreendente. (LUCENA, 2012, p.99)

Lucena (2012) defende que não importa o equipamento usado para filmar o documentário, o mais importante é disponibilizar, facilitar o acesso das pessoas a produção audiovisual. “A rede é hoje um repositório de filmes profissionais e amadores de todo o mundo; por meio dela, seu vídeo poderá ser visto por pessoas nos quatro cantos do planeta.” (LUCENA, 2012, p.115). E esse sem dúvida é o objetivo final.


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2.3 O papel social do jornalista Apesar de muitos autores e cineastas ainda discordarem de que o documentário pode ser utilizado para produções jornalísticas, está na história a sua utilização para fins jornalísticos, desde a criação das primeiras salas de cinema. Até a década de 50, era comum que as pessoas frequentassem as salas de cinema em busca de notícias. Bahia (2009, p. 184) diz que “o cinema é jornalismo à medida que informa, documento, influencia e diverte”. Dessa forma, o cinema possibilita criar formas de fazer o jornalismo, seja pelas reportagens filmadas, os programas jornalísticos ou o próprio documentário. O documentário no cinema e, depois, na televisão, assemelha-se à grande reportagem que, no jornal e na revista, desenvolve elementos de investigação, interesse, curiosidade e análise, associando aspectos humanos, históricos, científicos, religiosos, educacionais, pitorescos, etc. E é provavelmente a técnica de informação que o cinema melhor executa. (BAHIA, 2009, p. 184)

Os temas escolhidos para documentários abordam pessoas reais, que falam por si só ou por um grupo de mesmo pensamento, sobre situações que vivenciaram ou para transmitir credibilidade a um acontecimento. Normalmente, essas falas são norteadas pelo ponto de vista do documentarista, que direciona as falas e entrevistas para a produção real dos dados e fatos que serão transformados em notícia. O documentário fala de situações e acontecimentos que envolvem pessoas reais (atores reais) que se apresentam para nós como elas mesmas em histórias que transmitem uma proposta, ou ponto de vista, plausível sobre as vidas, as situações e os acontecimentos representados. O ponto de vista particular do cineasta molda essa história numa maneira de ver o mundo histórico diretamente, e não numa alegoria fictícia. (NICHOLS, 2007, p.37)

Sobre o papel social do jornalista, Lobo (2013) afirma que “na sociedade de consumo, é interpretar e traduzir informações”, e não apenas informar. Assim, cabe ao jornalista o papel de ser mediador e divulgador da informação, que contribui para a formação do pensamento crítico da sociedade, e não somente, mas para o crescimento de toda forma de conhecimento. Para Melo (2010, p.8), o jornalista é responsável,


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principalmente, por interpretar a informação e repassá-la ao seu receptor de maneira compreensível. É o jornalista a pessoa responsável por pesquisar, entrevistar, apurar, selecionar e codificar de forma clara as informações que envolvem o fato em questão. Assim, é fundamental que o jornalista tenha a capacidade de compreender a obra cultural em questão. O jornalista como mediador, deve ser aquele capaz de revelar de forma simples a complexidade de relações a que cada acontecimento está ligado. (MELO, 2010, p.8)

No entanto, a produção jornalística está ligada, quase sempre, à áreas de afinidade. Nas redações dos jornais onlines e impressos, comumente o editor dispõe a vaga para determinada editoria e o repórter demonstra interesse. Entre as editorias, a de cultura ocupa lugar reduzido nos jornais. Na maioria trata de apresentações culturais, como teatro, música, dança. Nesse sentido, cabe também ao jornalista cultural propor pautas mais aprofundadas, com abrangência até mesmo antropológica, para reconhecimento e conhecimento das manifestações culturais existentes em sua região. Melo (2010, p.5-6) propõe duas regularidades fundamentais para o jornalismo cultural, “como uma prática singular e importante para a sociedade”: democratizar o conhecimento e o caráter reflexivo. A autora afirma que o jornalismo cultural “nasce com a função de mediar o conhecimento e aproximá-lo do maior número de pessoas”, e define que “é a sua reflexividade que distingue, efetivamente, o jornalismo cultural de outras editorias”. O jornalista assume o controle da informação e busca as técnicas necessárias para traduzir e humanizar o acontecimento. À medida que estabelecido o assunto, o jornalista inicia o procedimento de apuração das informações, consultando fontes pessoais, documentais e de dados. Para a realização das entrevistas, foi feita a avaliação e escolha pessoal das fontes. Foram formuladas questões antes da gravação, no entanto, algumas entrevistas saíram do roteiro. Lucena (2012, p. 59) afirma que “em documentários históricos, é natural trabalhar com questões determinadas, pontuais”. O autor pontua que o importante é satisfazer os realizadores com o resultado final, “e que a mensagem


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transmitida chegue ao público de maneira compreensível, levando-o a refletir sobre ela”. Lage (2001, p. 33-35) afirma que a palavra “entrevista” é ambígua e possui três significados: (a) qualquer procedimento de apuração junto a uma fonte capaz do diálogo; (b) uma conversa de duração variável com personagem notável ou portador de conhecimentos ou informações de interesse para o público; (c) a matéria publicada com as informações colhidas em (b). (LAGE, 2001, p. 33)

O autor aponta, também, a existência de oito tipos de entrevistas: rituais, temáticas, testemunhais, em profundidade, ocasionais, confrontos, coletivas e dialogais. De acordo com as características atribuídas pelo autor, este projeto se apropria das entrevistas temáticas e testemunhais. Para Lage (2001, p. 33), as entrevistas temáticas são realizadas com entrevistados que têm autoridade para falar sobre um assunto específico; e testemunhais quando se utiliza o relato do entrevistado. (b) temáticas - são entrevistas abordando um tema, sobre o qual se supõe que o entrevistado tem condições e autoridade para discorrer. Geralmente consistem na exposição de versões ou interpretações de acontecimentos. Podem servir para ajudar na compreensão de um problema, expor um ponto de vista, reiterar uma linha editorial com o argumento de autoridade (a validação pelo entrevistado) etc. 33 (c) testemunhais - trata-se do relato do entrevistado sobre algo de que ele participou ou a que assistiu. A reconstituição do evento é feita, aí, do ponto de vista particular do entrevistado que, usualmente, acrescenta suas próprias interpretações. Em geral, esse tipo de depoimento não se limita a episódios em que o entrevistado se envolveu diretamente, mas inclui informações a que teve acesso e impressões subjetivas. (LAGE, 2001, p. 34-35)

As características jornalísticas, portanto, foram essenciais para que o documentário fizesse a interpretação de todas as informações. Como discorrido em todo projeto, trata-se de uma festividade secular, que possui ligação histórica e cultural com o desenvolvimento do município de Ladário. Sendo essa, por fim, a contribuição social do jornalismo para divulgação da festividade em sua essência e relevância para a sociedade.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora a festividade deste ano tenha apresentado falhas em sua execução, por aparente falta de recursos, as atividades foram realizadas com extrema dedicação da comunidade envolvida. Isso demonstra que, a cada ano, há um envolvimento maior dos fiéis na organização da festa. Essa relação é explicada pela devoção, pela gratidão, pelo amor e pela fé. É uma forma que os religiosos encontram de agradecer pelas graças alcançadas. Mais importante que registrar as atividades do festejo foi compreender o contexto em que a manifestação cultural e religiosa está inserida. A celebração existente há 125 anos transfere por gerações a tradição de celebrar o dia de Nossa Senhora dos Remédios, em 24 de outubro. E essa movimentação revive, então, a chegada da imagem da santidade ao município de Ladário/MS, que é onde tudo começou, em 1893. Há muito que se contar sobre essa e outras festividades espalhadas pelo estado e pelo país, como o Banho de São João de Corumbá e Ladário. São festejos que se popularizaram por meio dos próprios festeiros, pela comunidade e pelos devotos que ano após ano se engajam na realização das festas, e resgatam, principalmente, a história que entrelaça essas comemorações. Com a finalidade de concluir o curso de Jornalismo com uma temática que somasse ao meu crescimento profissional, o tema proposto envolve a afinidade e o respeito pela santidade e, sobretudo, a necessidade de documentar a festa e divulgá-la para o maior público possível, principalmente nas escolas, onde estão os cidadãos formadores da futura sociedade brasileira. Assim, é fruto de quatro anos de estudo e do último semestre da graduação, o projeto experimental Enredo de Fé: Festa da Padroeira de Ladário, que aborda em 22 minutos a história, cultura e religiosidade presentes na celebração. São momentos de devoção e fé, que emocionam fiéis e despertam o profundo sentimento de pertencimento em pessoas que passaram por Ladário. Este é o registro jornalístico que traduz as informações e humaniza os relatos, a fim de não somente atribuir o devido valor à festa, mas de levá-la aos quatros cantos do país.


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REFERÊNCIAS BAÉZ, Renato. Corumbá: Evocações e realidades. São Paulo: Composto e Impresso, 1965.

FARRA, Denise Del. Manifestações Culturais e Religiosas de MS. Campo Grande: Gerência do Patrimônio Histórico e Cultural/FCMS, 2014. Disponível em: < http://www.fundacaodecultura.ms.gov.br/wpcontent/uploads/sites/19/2014/11/Livro_manifesta%C3%A7%C3%B5es_religiosas_ms_ completo.pdf> Acesso em: 02 de set. de 2018. FIELD, Syd. Manual do roteiro: os fundamentos do texto cinematográfico. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LAGE, Nilson. Teoria e técnica de reportagem, entrevista e pesquisa jornalística. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Editora Record, 2001 LOBO, Tiago. Sobre o papel social do jornalismo. In: Observatório da Imprensa – Ed. 743.

Disponível

em:

<

http://observatoriodaimprensa.com.br/feitos-

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LUCENA, Luiz Carlos. Como fazer documentários: conceitos, linguagem e prática de produção. – 2ª ed. – São Paulo: Summus Editorial, 2012.

MELO, Cristina Teixeira Vieira de. O documentário como Gênero Audiovisual. In: INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação; XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Salvador, BH. 1 a 5 de set. 2002. Disponível

em:

<http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/4580436673819116901315069090695680644 3.pdf> Acesso em: 23 de abr. de 2018.


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MELO, Isabelle Anchieta de. Jornalismo Cultural: por uma formação que produza o encontro da clareza do jornalismo com a densidade e a complexidade da cultura. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação (BOCC), 2010. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/melo-isabelle-jornalismo-cultural.pdf> Acesso em: 17 de set. de 2018.

MENEZES, Renata de Castro. Além do Cotidiano: repensando fronteiras entre antropologia e história a partir do culto aos santos. In: Oracula 7.12 (2011) – Edição Especial. ISNN: 1807-8222. São Paulo, 2011.

NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário/Bill Nichols; Trad. Mônica Saddy Martins – 5ª ed. – Campinas, SP Papirus, 2012. – (Coleção Campo Imagético)

RODRIGUES, Wanessa Pereira. Diagnóstico Cultural do Município de Ladário. Ladário,

MS.

2016.

Disponível

em:

<https://culturaladario.wordpress.com/2016/03/28/diagnostico-geral-do-municipio-deladario-ms/> Acesso em 19 de abr. de 2018.

SANTOS, Daiane Lima dos. Ladário/MS e seu Patrimônio Cultural: mais de 100 anos de história. In: VII Congresso Internacional de História; XXXV Encuentro de Geohistoria Regional; XX Semana de História. Universidade Estadual de Maringá: Paraná, 2015. TOMAZ, Paulo Cezar. A preservação do patrimônio cultural e sua trajetória no Brasil. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais, Maringá, Vol. 7, Ano VII, nº 2, p. 1 – 12, 2010.

ZANDONADE, Vanessa; FAGUNDES, Maria Cristinade Jesus. O vídeo documentário como instrumento de mobilização social. Assis, SP. 2003. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/zandonade-vanessa-video-documentario.pdf> Acesso em: 19 de abr. de 2018. .


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APÊNDICES APÊNDICE A- ESQUELETO DE FILMAGEM


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APÊNDICE B- ROTEIRO DE EDIÇÃO DO DOCUMENTÁRIO VÍDEO

TEMPO

DESCRIÇÃO TELA PRETA

7907

07:20 – 07:26

DEPOIMENTO: “Pra quem quer que seja (...) ela é milagrosa.” ABERTURA SOBE SOM: Cantoria Procissão Luminosa IMAGENS: Recortes Procissão Luminosa G.C - NOME DO DOC: “Enredo de Fé: A Festa da Padroeira de Ladario”

CEL

7905 B L O C 0029 O U 0009 M

00:12 – 00:24 / CENA: Chegada do navio com Nossa Senhora 01:33 – 01:42 dos Remédios e Cortejo com pétalas de rosas ENTREVISTADO: Nivaldo Paes: “Com a edificação da Marinha (...) dedicada à Nossa Senhora dos Remédios” 06:00 – 06:59 G.C: Nivaldo Paes – Ministro da Eucaristia SURGE: Foto antiga do Arsenal de Marinha SURGE: Foto da imagem da Padroeira 00:40 – 00:51 CENA: Reza no Santuário com militares 00:37 – 01:11

ENTREVISTADO: Roberto Medeiros “A Marinha do Brasil participa (...) perdas de vida” G.C: CF Roberto Medeiros – Capitão dos Portos do Pantanal IMAGENS: Recortes do navio na Procissão Fluvial e recepção da santidade BG: Música Pérola do Pantanal

121_633 1

10:55 – 11:39

ENTREVISTADA: Daiane Lima: “Com relação à Procissão Fluvial (...) até a construção da igreja” G.C: Daiane Lima - Historiadora IMAGENS: Recortes de cenas da festa BG: Hino da Padroeira OFF 01: “E foi a partir daí que o povo adotou (...) católica ladarense”

7894

04:01 – 04:34

ENTREVISTADO: Padre Celso: “A Festa da Padroeira é a décima maior festa (...) por Nossa Senhora” G.C: Celso Ricardo - Pároco


30

IMAGENS: Sino da Igreja BG: Badalos IMAGENS: Recortes da peregrinação BG: Música do show na praça do Santuário 7688

05:25 – 05:43

ENTREVISTADO: Alexandre Ohara: “O café da manhã iniciou (...) graças durante o ano” G.C: Alexandre Ohara – Msc em Desenvolvimento Local IMAGENS: Recortes da festa OFF 02: “São dias de festa e congraçamento (...) grandioso show” BG: Canto da Missa Campal

CEL

00:03 – 01:06

7920

02:20 – 02:51

0005

01:30 – 02:17

7907

04:53 – 06:57

CENA: Show com Pe. Antonio Maria e convidada IMAGENS: Recortes da festa OFF 03: “A esperança de saúde (...) de todos os lugares” BG: Canto da Missa Campal ENTREVISTADA: Wanessa Rodrigues: “Muitos alegam já ter recebido alguma graça (...) fé que tem à santa” G.C: Wanessa Rodrigues – Cientista Social DEPOIMENTO: Margarida Melgar: “Eu fui diagnosticada com câncer em 2012 (...) a fé é tudo na nossa vida” G.C: Margarida Melgar - Devota CENA/IMAGENS: Procissão Luminosa/recortes DEPOIMENTO: Nivaldo Paes: “Quando cheguei na casa da minha mãe (...) vida da minha irmã à Nossa Sra. dos Remédios” IMAGENS: Recortes da festa BG: Hino da Padroeira

7905

121_633 1

09:57 – 10:35

06:20 – 06:39

ENTREVISTADO: Nivaldo Paes: “Benção da capela... (...) foi lavrado esse livro-ata aqui” IMAGENS: Recortes da festa BG: Canto da Missa Campal OFF 04: “24 de outubro (...) com o fogo aceso das velas” ENTREVISTADA: Daiane Lima: “A partir do momento (...) que é a Nossa Senhora dos Remédios”


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CENA: Missa IMAGENS: Recortes da festa BG: Canto da Missa Campal OFF 05: “há 120 anos, ela atrai essa gente (...) amor e emoção”

B L O C O D 7920 O I S CEL

12:48 – 13:35

7590

03:13 – 03:42

7688

08:58 – 09:36

B L 121_633 O 1 C O 0039 T R 0005 Ê S 0011

02:50 – 03:26

ENTREVISTADA: Wanessa Rodrigues: “A Festa de Nossa Senhora dos Remédios (...) religiosidade que as pessoas têm” CENA: Descida da imagem de Nossa Senhora dos Remédios ENTREVISTADO: José Antonio: “A devoção em Nossa Senhora dos Remédios (...) divulgada no Brasil todo” G.C: José Antonio – Ex-prefeito de Ladário IMAGENS: Recortes da festa BG: Canto da Missa e Missa Campal ENTREVISTADO: Alexandre Ohara: “A religiosidade no nosso município é muito forte (...) ele é devoto” G.C: Alexandre Ohara – Msc em Desenvolvimento Local

18:20 – 18:45

ENTREVISTADA: Daiane Lima: “A gente consegue observar (...) uma santa milagrosa” SURGE: Imagem do Brasão

02:02 – 02:13

CENA: Descida da imagem do altar

07:14 – 07:32 06:32 – 07:17

DEPOIMENTO: Margarida Melgar: “Um momento que ela mais tocou meu coração (...) ela me curou” DEPOIMENTO: Gerson Cabral: “Eu perdi minha esposa (...)só ela pra fortalecer a gente” G.C: Gerson Cabral – Devoto IMAGENS: Recortes da Procissão Luminosa BG: Canto da Procissão

7907

7572

07:14 – 07:25

DEPOIMENTO: Nivaldo Paes: “Nos momentos mais difíceis da minha vida (...) ela nunca me faltou” CENA 01: Coroação de Nossa Sra. dos Remédios CENA 02: Imagem aérea do drone BG: Canto da Missa


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7894

05:15 – 05:44

ENTREVISTADO: Padre Celso: “Olhando para Nossa Senhora (...) pra cada um” CENA 01: Entrada da imagem de Nossa Sra. dos Remédios na igreja CENA 02: Entrada de Nossa Sra. dos Remédios na igreja CENA 03: Aplausos BG: Canto da Missa CRÉDITOS IMAGEM: Aérea do drone ROTEIRO E EDIÇÃO: Paula Navarro FILMAGEM E CAPTAÇÃO DE SOM: Alexandre Luz Leonardo Amaral Lucas Navarro Nayanna Ximenes Paula Navarro EDIÇÃO Lucas Navarro

DRONE

APOIO Alexandre Ohara

AGRADECIMENTOS Alexandre Ohara Ana Alice Navarro Ana Carolina Monteiro Analua Elias de Arruda André Navarro Cassio Sanches Daiane Lima Débora Cabrita Gabriel Assad Gerson Cabral José Antonio Faria Lucas Navarro Maria Vitória Elias de Arruda Margarida Melgar


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Michael Couller Nayanna Ximenes Nivaldo Paes Padre Celso Rodrigo Arruda Rose Pinheiro Tainah Navarro Thays Ávila Wanessa Rodrigues Wânia Navarro MÚSICAS Pérola do Pantanal Composição: Sergio Cunha Hino da Padroeira Intérprete: Jéssica Sousa TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE JORNALISMO FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO (FAALC) COORDENADOR DO TCC Prof. Msc. Alfredo Lanari Aragão ORIENTADORA Profa. Msc. Débora Alves Pereira Cabrita FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL 2018 Fade out: tela preta


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