Elas

Page 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE JORNALISMO

FOTOLIVRO ELAS: DA REPRESENTAÇÃO MIDIÁTICA AO COTIDIANO DAS MULHERES CAMPO-GRANDENSES

ISABELA HISATOMI JACQUELINE GONÇALO

Campo Grande Março / 2017


ELAS: DA REPRESENTAÇÃO MIDIÁTICA AO COTIDIANO DAS MULHERES CAMPO-GRANDENSES

ISABELA NANTES HISATOMI JACQUELINE APARECIDA REIS GONÇALO

Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Orientador(a): Prof. Dr. Marcos Paulo da Silva

UFMS Campo Grande Março/2017


SUMÁRIO Resumo

3

Introdução

4

1. Atividades desenvolvidas 1.1 Execução

6 6

1.1.1 Entrevistas

8

1.1.2 Capa

9

1.2 Dificuldades encontradas

11

1.3 Objetivos alcançados

12

2. Suportes teóricos adotados

14

2.1 Fotolivro

14

2.2 Conceito de estereótipo

16

2.3 Representação da mulher na mídia

20

2.4 Perfil da mulher campo-grandense

22

2.5 Jornais

25

3. Considerações finais

31

4. Referências

33

5. Apêndice

35


Resumo: Este trabalho consiste em uma análise das matérias dos dois principais jornais de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, de modo a retratar, por meio de um fotolivro, a contradição entre a representação da mulher campo-grandense e o dia a dia dessa mulher. Utilizamos como base teórica estudiosos que discutem a representação da mulher nos meios de comunicação de massa, bem como estudos que explicam o conceito de estereótipo e disseminação de padrões de beleza e comportamento na mídia feminina especializada. A partir da análise das matérias jornalísticas destacamos oito categorias de mulheres e partimos em busca de fontes que se encaixam nestes modelos para fazer um ensaio fotojornalístico. Obtivemos um rico material de depoimentos das entrevistas bem como fotos muito significativas que enriqueceram e deram suporte a base teórica que se concretizou num fotolivro composto por imagens e textos sobre as personagens. Palavras-chave: Fotolivro – estereótipo – mulher – campo-grandense.


4

INTRODUÇÃO Em um momento em que a discussão sobre o empoderamento feminino está constantemente em voga, vemos a mídia ser diariamente objeto de críticas por ainda propagar discursos opressores com relação às mulheres. Como parte desses discursos reconhece-se a afirmação de estereótipos e a disseminação de padrões estéticos nos quais a mulher deve hipoteticamente seguir para ser socialmente aceita, como, por exemplo, possuir cabelo liso, pele clara, ser magra, ser heterossexual, dentre outras classificações. Baseamos o presente projeto neste cenário que é global, porém buscamos um recorte regional. Restringimos, portanto, nosso trabalho inicial de análise à cidade de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, e à mídia local. Na sequência, por meio da interface entre as narrativas jornalística e fotográfica, visamos apresentar parte do contraste entre a representação da mulher na mídia e o cotidiano das mulheres do município. A tarefa não é fácil, por isso fez-se necessário desenvolver escolhas. Optamos por uma análise das matérias jornalísticas dos dois jornais de maior circulação na cidade, Correio do Estado e O Estado MS, com base no método da “semana construída”, que consiste na coleta de dados a partir de um determinado dia da semana e nos dias das semanas subsequentes (a segunda-feira da primeira semana, a terçafeira da segunda semana e assim sucessivamente), iniciando a coleta no Dia Internacional da Mulher (08/03/2016) e encerrando-a sete semanas depois, no dia 25/04/2016. O objetivo foi analisar todas as matérias jornalísticas que tinham mulheres como personagens e buscar localizar nas entrelinhas modalidades de estereótipos femininos. A partir dessa análise, separamos oito categorias de estereótipos que eram mais frequentes. As categorias são: a “mulher criminosa”, a “mulher vítima”, a “mulher vencedora”, a “mulher empreendedora”, a “mulher estrela”, a “mulher pioneira”, a “mulher transcendente” e a “mulher invisível”. Para construir o fotolivro, selecionamos mulheres campo-grandenses que pudessem se encaixar nessas classificações para serem entrevistadas e fotografadas. Dessa forma, além da análise exploratória inicial, o trabalho passou a ser composto por um ensaio fotográfico, um texto explicativo para


5

cada categoria e, junto das fotos, a história de cada personagem que, finalmente, compõem o fotolivro “Elas: da representação midiática ao cotidiano das mulheres campo-grandenses”. No interior das características de sua linguagem e do recorte regional, o fotolivro buscou ilustrar essa contradição entre a representação da mídia (ou a falta dela) e o cotidiano das mulheres na sociedade. Acompanhando as fotos, textos com os perfis das personagens deverão fazer o diálogo com o tema central. Cada seção terá o perfil de uma mulher campo-grandense que se encaixa na categoria que melhor se assemelha dentro das características encontradas nas matérias jornalísticas. A concretização deste fotolivro tem como principal motivação a responsabilidade social de afirmar às mulheres que não há a obrigação de lutar para se encaixar dentro de qualquer padrão ou estereótipo, seja ele de beleza ou comportamento, e sim combate-lo, pois o que os meios de comunicação, como revistas, TV e internet mostram, em geral, é algo desnecessário.


6

1- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 1.1 – Execução: Todo o trabalho de construção do fotolivro “Elas: da representação midiática ao

cotidiano

das

mulheres

campo-grandenses”

sustentou-se

numa

pesquisa

exploratória prévia sobre estereótipos das mulheres na imprensa. O método de amostragem escolhido para o levantamento exploratório foi o da “semana construída”, que consiste em um trabalho de coleta de dados a partir de determinados dias da semana selecionados em semanas subsequentes, conforme descrito na Introdução. Em busca das entrelinhas (ou seja, daquilo que não estava explícito na mídia), optamos por desenvolver tal análise na imprensa diária de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, uma vez que a pesquisa bibliográfica nos levou à hipótese de que os estereótipos e padrões de beleza são mais facilmente encontrados em outros meios de comunicação, como revistas temáticas de beleza ou programas televisivos nãojornalísticos (reality shows e programas de entretenimento, por exemplo). Nesse contexto, foi um desafio adicional identificar os estereótipos nas entrelinhas das notícias dos jornais diários devido ao fato de que tal linguagem – a do jornalismo informativo – não apresenta de forma tão explícita a demarcação de categorias estereotipadas. Como suporte teórico-metodológico, tomamos como inspiração o artigo de José de Luiz Aidar Prado (2003), “O perfil dos vencedores em Veja”, no qual o autor procura identificar um padrão nas matérias da revista semanal que se expressa em quatro categorias de homens representados como cidadãos “bemsucedidos”. A metodologia do autor serviu de apoio para elaborarmos nossos critérios e identificarmos as categorias de estereótipos nos jornais analisados. Voltamos o olhar para o conteúdo dos dois jornais impressos de maior circulação na cidade de Campo Grande – respectivamente, “Correio do Estado” e “O Estado MS” –, tentando identificar as representações e eventuais estereótipos sobre a imagem das mulheres locais. Como antecipado na Introdução, com base na discussão teórica sobre o conceito de estereótipo e na proposta do projeto, foram destacadas oito categorias nas quais as personagens das matérias podem ser enquadradas; a saber: a “mulher


7

criminalizada”, a “mulher vítima”, a “mulher vencedora”, a “mulher empreendedora”, a “mulher estrela”, a “mulher pioneira”, a “mulher transcendente” e a “mulher invisível”. Para melhor visualizarmos o que foi encontrado nos jornais nesse período, separamos duas tabelas com as matérias onde encontramos as mulheres como personagens. As tabelas, na íntegra, estão localizadas no Apêndice deste relatório. Após análise das matérias do jornal “Correio do Estado”, podemos perceber uma maior ocorrência nas categorias “vencedora”, “vítima” e “invisível”. Podemos observar também que, na maioria das vezes, os estereótipos vistos como “positivos” se encontram em matérias maiores, mas de menor relevância informativa factual, como, por exemplo, no caderno “Correio B” – voltado a temas de entretenimento e programação cultural e artística. Com base na análise jornalística do jornal “O Estado MS”, foram destacadas 25 matérias que citam mulheres. Um número relativamente baixo para um período longo de análise. Cada matéria foi analisada a fim de identificar as categorias de estereótipos mais recorrentes. Para cada matéria listada na tabela foi identificada uma ou mais categorias. Na leitura e análise das matérias jornalísticas foram atribuídas uma categoria a cada personagem, de modo que a contagem totalizou: 14 personagens identificadas como “vítimas”; quatro mulheres representadas como “criminalizadas”; duas mulheres “pioneiras”; nove “vencedoras”; uma “estrela”; três mulheres “transcendentes” e sete mulheres “invisíveis”. Por fim, devido ao conteúdo adquirido desde a pesquisa bibliográfica até as entrevistas, decidimos criar uma plataforma digital para agregar todos os relatos, fotografias e informações que não estarão disponíveis devido às limitações do formato fotolivro. O objetivo da criação do blog é também a possibilidade de divulgação do projeto e a facilidade de acesso ao material catalogado. O livro também será disponibilizado integralmente no blog (https://fotolivroelasblog.wordpress.com/). A solução encontrada para o e acesso ao material disponível na internet é o QR Code. Trata-se de um recurso gráfico em duas dimensões que permite, por meio de um leitor, acesso direto ao blog. O QR Code pode conter um URL (Uniform Resource Locator) – link – o qual deverá ser legível pelos dispositivos móveis e permitir o acesso


8

a informações. O link deverá igualmente dirigir o utilizador para uma página online. (Lowette, 2012). 1.1.1 – Entrevistas: Optamos por começar a elencar as fontes somente após fazer a análise nos jornais “Correio do Estado” e “O Estado MS”, pois a escolha das personagens esteve diretamente ligada com as características de cada categoria encontrada no material jornalístico.

Identificamos

oito

categorias

de

mulheres

mais

frequentemente

representadas. A partir desta constatação, iniciamos a busca por fontes que se encaixariam na descrição das categorias. Cada categoria deu origem a um capítulo do fotolivro, com uma mulher para ilustrá-lo. Na tarde do dia 07/02/2017 foi feita a entrevista com Bárbara Vitoriano, mulher que se encaixa na categoria “empreendedora”. Na mesma semana conversamos com João Paulo Pompeu, agente e filho da cantora Delinha. No dia 15/02/2017 realizamos a entrevista e o ensaio fotográfico da cantora, que se encaixou na categoria “estrela”. Por meio de grupos LBGT de uma rede social chegamos a Carla Catelan, atual tesoureira da Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul (ATMS). A entrevista foi feita no dia 17/02/2017, em sua casa. Porém a entrevistada não quis participar do fotolivro como personagem que ilustra a categoria. Carla preferiu contribuir apenas com uma explicação didática acerca da diferença entre identidade de gênero, sexo e orientação sexual, que está disponível no blog do projeto. No dia 20/02/2017 entrevistamos duas mulheres “pioneiras” as majores Carla Moretti e Tatiane Oliveira, as primeiras mulheres a integrarem a corporação dos Bombeiros de Mato Grosso do Sul. Na quarta-feira da mesma semana, no dia 22/02/2017, conversamos com a pastora Scheilla de Fátima, que se encaixa na categoria “vencedora” por ter superado um quadro de depressão e atualmente comanda um projeto de ressocialização para exdependentes químicos e moradores de rua. Na manhã do dia 23/02/2017 entrevistamos Rosa Maria Batista Santos, que se encaixou na categoria “vítima” por ter sofrido violência doméstica do ex-marido.


9

No dia 01/03/2017 conversamos com Sula Brunê, mulher transexual que retrata a categoria “transcendente”. A última entrevistada, Edileuza Francisca dos Santos, representa a categoria “criminalizada” por ter sido presa, traficante, viciada em drogas e prostituta em seu passado. Nosso encontro aconteceu no dia 03/03/2017. 1.1.2 – Capa: O projeto gráfico e a capa foram pensados para englobar todos os conceitos que estamos trabalhando no conteúdo do fotolivro. As cores utilizadas na capa foram escolhidas após a definição das categorias. Procuramos, nesse sentido, encaixar as descrições de cada categoria com uma cor cujo significado se assemelhasse ao que estávamos descrevendo. Portanto, as categorias foram associadas com as seguintes cores: Pioneira – azul escuro Vencedora – laranja Estrela – amarelo Criminosa – violeta Vítima – rosa claro Transcendente – azul piscina Empreendedora – verde Invisível – cinza Seguindo a ordem acima, escolhemos o tom azul escuro para a categoria “Pioneira”, pois, as mulheres escolhidas como fonte são majores do Corpo de Bombeiros e seus uniformes possuem uma tonalidade de azul escuro semelhante ao que está na capa. Segundo o livro “Psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão”, de Eva Heller (2013), o azul escuro é a cor associada à seriedade, ordem e profundidade de pensamentos. O laranja utilizado para representar a categoria “Vencedora” é a cor situada entre a perfeição (vermelho) e a felicidade (amarelo). De acordo com Heller (2013), esta também é a cor da transformação, palavra que se encaixou na representação das mulheres nas matérias jornalísticas que analisamos (vide suporte teórico).


10

A “Estrela” é representada pela cor amarela, associada à riqueza e felicidade. De acordo com Heller (2013), na área do simbolismo sentimental, o amarelo é a representação do otimismo e vontade de progredir, alegria de viver e luminosidade. Encontramos essas características na mulher que representa a categoria. Dentre a diversidade de tons de roxos e lilases, optamos pelo violeta para representar a categoria “Criminalizada”. Definimos esta cor novamente com base em uma das explicações contidas na obra “Psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão”, onde a autora coloca o violeta como a cor que mais se assemelha a hematomas, sendo consequentemente associada à violência. O violeta também pode ser associado ao poder, misticismo e religiosidade. Para a categoria “Vítima” escolhemos a cor rosa claro. Segundo a autora Eva Heller (2013), trata-se da cor que simboliza os fracos, a sensibilidade e sentimentalidade. Também está associada ao romantismo e à inocência, o que consideramos adequado para a historia da personagem, que se casou muito jovem e suportou anos de violência por ser apaixonada pelo marido. O azul-piscina representa a categoria “Transcendente”, que se refere às mulheres transexuais. Escolhemos esta cor por ser a mesma presente na bandeira do orgulho transgênero. A mulher “Empreendedora” é representada pela cor verde, que segundo a autora Heller (2013) simboliza a capacidade de se impor e a perseverança. Pode ser associado ao dinheiro, à fertilidade e à esperança. Julgamos adequada a categoria por se tratar de mulheres que alcançaram a independência financeira abrindo seu próprio negócio. Cinza foi a cor escolhida para representar a categoria “Invisível”. Eva Heller (2013) coloca o cinza como uma cor neutra e como símbolo da insegurança. Julgamos mais adequado usar o cinza como cor neutra – ao invés do branco ou o preto –, pois representa uma categoria que não tem uma só mulher como representante, já que se tratam de números estatísticos. As cores estão dispostas em faixas diagonais como alusão a falta de perfeição. Representando que algo está fora de lugar ou mal encaixado, neste caso, as mulheres que não se sentem inseridas na sociedade por fugirem da representação feita pela mídia.


11

O símbolo universal transgênero presente na capa foi escolhido tanto por opção estética quanto pelo seu significado abranger uma das categorias representadas. Segundo a reportagem online TRANS-portar, dos alunos do sexto período de Jornalismo da PUC Campinas (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), publicada em dezembro de 2015, o símbolo transgênero é a junção dos símbolos biológicos dos dois sexos. Ou seja, a combinação do círculo e seta apontando para cima, que representa o homem, e a cruz apontando para baixo, que representa a mulher. As formas triangulares do centro da capa possuem caráter estético de simetria e equilíbrio. 1.2 – Dificuldades Encontradas: A pesquisa bibliográfica, que dá suporte a este projeto, se mostrou a parte menos problemática ao encontrarmos materiais a respeito dos temas que gostaríamos de tratar. Abordamos o conceito de estereótipo, estudos sobre a representação da mulher na mídia e o próprio conceito de fotolivro. Este último nos exigiu uma pesquisa um pouco mais aprofundada por se tratar de um gênero que, não necessariamente, tange ao jornalismo, mas com a ajuda de nosso orientador encontramos bibliografias que combinadas nos deram a definição exata do formato de fotolivro que fazemos. Ao darmos início a análise das matérias jornalísticas, a primeira dificuldade se fez presente na escolha de se trabalhar com a mídia diária de Campo Grande. Em nossas leituras a respeito da representação da mulher nos meios de comunicação (vide Suportes Teóricos Adotados), ficou claro que bastava voltar os olhos a mídia especializada, ou seja, revistas femininas e programas de TV destinados às mulheres. Ao optarmos por analisar a mídia diária, notamos que os estereótipos são menos explícitos e se encontram nas entrelinhas. Assim, identificar representações explicitamente distorcidas sobre a mulher campo-grandense na imprensa informativa diária seria um desafio adicional, pois, os possíveis estereótipos estavam diluídos no texto, podendo passar despercebidos aos nossos olhos. Ao longo do processo de pesquisa de dados estatísticos que nos dessem uma ideia de perfil da mulher campo-grandense, não conseguimos encontrar uma pesquisa que mostrasse explicitamente este perfil. Apenas encontramos dados acerca


12

de índices de violência contra mulher, Mapa da Violência, empreendedorismo em Mato Grosso do Sul e mercado de trabalho. Encontramos uma reportagem local do programa Bom Dia MS, da TV Morena, onde é citada uma pesquisa do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Mato Grosso do Sul) sobre empreendedorismo feminino em Mato Grosso do Sul. Entretanto, quando feita a checagem não conseguimos encontrar os dados divulgados no programa, mesmo após exaustiva pesquisa no portal do Sebrae e em demais portais na internet. Quando iniciamos a fase prática do projeto, a obtenção de fontes que se encaixavam nas categorias determinadas foi um pouco trabalhosa. Além de ter se mostrado uma tarefa difícil encontrar as mulheres, o processo entre o primeiro contato e explicação da proposta do fotolivro até a conclusão da entrevista e das fotos é demorado. 1.3 – Objetivos Alcançados: Como forma de se atingir o objetivo geral de “construir uma narrativa jornalística no formato de fotolivro sobre a diversidade dos padrões da mulher campo-grandense e a contradição com os estereótipos construídos pela mídia regional”, os seguintes objetivos específicos elencados no anteprojeto foram alcançados:

1. Realizamos revisão bibliográfica sobre o conceito de estereótipo e sobre estudos prévios que tratam da representação da mulher na mídia. 2. Identificamos a partir de pesquisa exploratória com matérias jornalísticas veiculadas pela mídia regional os principais estereótipos das mulheres campo-grandenses. 3. Encontramos os principais estereótipos. 4. Identificamos mulheres campo-grandenses que ilustraram as séries fotográficas. 5. Realizamos

ensaios

fotojornalísticos

com

mulheres

campo-

grandenses ilustrando seu cotidiano em que estão inseridas e o contraponto com os estereótipos sistematizados no levantamento com veículos de comunicação.


13

6. Selecionamos e editamos as imagens captadas no ensaio fotojornalĂ­stico. 7. Redigimos o texto, organizamos, diagramamos e imprimimos o fotolivro.


14

2 – SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS: 2.1 – Fotolivro: O modelo escolhido para o produto final do projeto experimental é o de um fotolivro. Porém, para darmos forma a ele, devemos entender o que é um fotolivro e qual sua definição. Por meio da pesquisa bibliográfica nos deparamos com diversas concepções. Devemos destacar também a importância do fator visual no fotolivro em relação à composição gráfica. Rafael Souza Silva (1985) ressalta que o arranjo gráfico atua como um discurso na visualização de uma peça jornalística, permitindo com uma linguagem específica, e como isso foi um avanço desde a fase tipográfica de Gutenberg, em meados do século XV.

A diagramação dos modernos jornais, revistas, cartazes, etc. dos nossos dias estão repletos dessa linguagem, imposta pela comunicação visual. Conteúdo e forma devem caminhar juntas, onde a peça arquitetônica final deve traduzir exatamente a consciência do seu valor informacional e estético. (SILVA, 1985, p. 40).

O conceito de fotolivro é descrito pela professora Daniela Nery Bracchi (2016) como um livro, com ou sem texto, onde a composição é feita em sua maior parte com fotografias. De acordo com a autora, “apesar de serem compostos de fotografias, os fotolivros tem filiação enquanto obras advindas da produção de livros de artistas, que num primeiro momento se baseavam na interação entre imagem e textos literários”. Segundo Bracchi (2016), a fotografia auxilia na desconstrução da narrativa que se apoia no sentido figurativo da imagem. Seguindo definições do campo jornalístico, temos como exemplo o livro “Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura”, de Edvaldo Pereira Lima (2004). O autor faz uma viagem pelo universo do livroreportagem, explicando suas origens e especificidades. Lima (2004) elucida as conexões entre o jornalismo de profundidade, a literatura, a história, a antropologia e a sociologia, além de descrever e analisar procedimentos que dão forma ao livroreportagem. Na perspectiva do autor, o livro-reportagem se caracteriza como uma iniciativa de composição textual que tem por finalidade prestar informação ampliada


15

sobre fatos, ideias e situações de relevância social, expandindo um determinado tema com profundidade narrativa. Segundo Lima (2004, p 27.), o diferencial do livro-reportagem quanto ao livro são o conteúdo, objeto de abordagem, e sua correspondência ao real e factual e o conceito de verossimilhança.

O livro-reportagem distingue-se das demais publicações classificadas como livro por três condições essenciais: quanto ao conteúdo, o objeto de abordagem de que trata o livro-reportam corresponde ao real, ao factual. A verdade e verossimilhança são fundamentais.

Quanto ao conteúdo do livro-reportagem, sua característica principal é se estender pelos estilos de confecção textual jornalística. Sua função é informar, orientar, explicar. Ainda segundo Pereira Lima, o livro-reportagem estende a narrativa de forma qualitativa, sendo superior aos periódicos. O livro-reportagem pode trabalhar sua narrativa de uma maneira apenas extensiva – com horizontalização de dados e fatos, mas sem um salto verticalizador significativo, direcionado a apreensão qualitativamente intensiva do objeto abordado – superior aos periódicos (LIMA, 2004, p 28.).

No que tange o presente projeto, as ramificações do livro-reportagem descritas pelo autor, especificamente o livro-reportagem perfil e o livro-reportagem retrato, são as que mais se assemelham com a nossa proposta de fotolivro. Já no campo da pesquisa fotográfica e do design, o projeto “Croa: Fotolivro e Design”, publicado nos anais do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste pelas autoras Letícia Azevedo de Andrade Bombonati e Daniela Nery Bracchi (2016), descreve o fotolivro como um produto em que a fotografia conversa com o texto, porém possui mais destaque e é predominante, por ser o principal. Um elemento bastante citado pelas autoras como de extrema importância para se identificar um fotolivro é o design. Para que um fotolivro cumpra seu objetivo, é preciso planejá-lo graficamente,

pensar

na

composição

das

encadernação; ou seja, no visual como um todo.

fotos,

diagramação,

impressão

e


16

Para complementar o sentido de produção do fotolivro, as autoras afirmam que o formato auxilia na linearidade da narrativa. No século XXI, a eficácia maior de fotografias como narrativa são os fotolivros, eles são um suporte onde podemos fazê-lo ser parte do ensaio, além de ser um suporte que dá linearidade a história que a série fotográfica quer registrar. (BOMBONATI, BRACCH, 2016, p. 7).

Nesse contexto, as autoras enumeram duas categorias de apresentação: livro de fotografia como extensão da exposição e livro narrativo. “Há duas vertentes na construção de livros compostos por fotografias, o livro de fotografia como uma extensão da exposição e o livro narrativo, onde a fotografia conversa com suporte, no caso o fotolivro” (BOMBONATI, BRACCH, 2016, p. 8). Em

sentido

semelhante,

Daniela

Nery

Bracchi

(2016),

no

artigo

“Experimentações Plásticas ao Longo da História dos Fotolivros”, também publicado nos anais do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, conceitua o fotolivro a partir dos livros de artistas, projetos comuns na década de 1960 e 1970. O livro de artista é uma obra que vai além do livro literário, tem forma tridimensional e acaba tornando-se um objeto, podendo ser uma caixa, escultura, etc. Portanto, a denominação de fotolivro consiste numa combinação de texto e foto e possui uma narrativa que deve ser interpretada pelo seu leitor. Neste formato, o foco são as imagens, e o texto serve somente como apoio para o relato. A obra pode ter um viés mais artístico, mas também pode ser jornalístico, desde que gire em torno do mesmo tema e as fotos tenham características que conversem entre si. 2.2 – Conceito de estereótipo: Decidimos pautar a pesquisa teórico-conceitual de nosso projeto em dois pilares, o conceito de estereótipo e a representação da mulher na mídia. Portanto escolhemos leituras que discutissem e analisassem os temas de maneira crítica. Apesar de não ser o foco de nossa pesquisa, quando se trata de estereótipos, a maioria das obras encontradas tratam da beleza feminina, por isso utilizamos também de base para a nossa investigação teórica.


17

O conceito de estereótipo é descrito pela autora Maria Aparecida Baccega em seu artigo “O estereótipo e as diversidades”. “Aí está o estereótipo: são ‘os tipos aceitos, os padrões correntes, as versões padronizadas’. Eles interferem na nossa percepção da realidade, levando-nos a ‘ver’ de um modo pré-construído pela cultura e transmitido pela linguagem” (BACCEGA, 1998, p. 8). O estereótipo é como um “pré-juízo”, um preconceito incorporado como senso comum que é passado de geração a geração. As concepções que atribuímos valor, sejam emocionais ou não, são o que formam os estereótipos. A professora destaca a importância da diferenciação entre conformidade e conformismo. Na conformidade, a pessoa se instrui buscando uma aceitação social, por meio dos estereótipos e normas impostos daquela sociedade. Já o conformismo é quando não são cedidos espaços para que a pessoa se insira na sociedade, onde não há uma interação no qual ele possa ter uma voz e ser ouvido e respeitado. Nessa situação, ela passa a ser moldada apenas pelas normas da sociedade. A autora cita que uma saída para quebrar estereótipos são os meios de comunicação e imprensa diferentes dos tradicionais. "Nada mais importante na atualidade para quebrar estereótipos do que uma imprensa independente, criativa e que trate os temas da atualidade com profundidade e visão ampla" (BACCEGA, 1998, p. 12). Baccega ainda coloca os meios de comunicação convencionais como colaboradores na difusão dos estereótipos, a visão de mundo que carregamos. Vivemos num mundo que nos chega editado pelos meios de comunicação, que nos contam a ‘realidade’ através de relatos impregnados de estereótipos que no mais das vezes nos são desfavoráveis. São esses os relatos que recebemos cotidianamente que vão preencher nossa visão de mundo não apenas sobre os fatos de que não participamos, mas muitas vezes, também sobre os fatos do universo em que vivemos. (BACCEGA, 1998, p. 10).

A autora recorre a Walter Lippmann para esclarecer o conceito de estereótipo. Em “Meios de comunicação de massa”, de 1972, Lippmann (apud BACCEGA, 1998) explicita: “não vemos primeiro para depois definir, mas primeiro definimos para depois ver”. Todas essas “versões padronizadas” são o que nos leva a


18

“ver” de uma forma já pré-construída pela cultura e transmitida pela linguagem no cotidiano. Ainda discutindo o conceito de estereótipo, no artigo “Mídia, Estereótipo e Representação Social”, de João Freire Filho (2004), o autor faz uma análise do termo conceituando seu significado por meio de outros estudiosos e mostrando como ele é usado na mídia. João Freire também faz uma reflexão acerca da obra do jornalista e escritor João do Rio e utiliza-se dela para elucidar que os estereótipos existem devido ao um fenômeno na sociedade que faz com que sejam projetados moldes de comportamento, vestimenta, fala, etc, para manter a ordem e os costumes mais antigos. Como se tudo que se desviasse desse padrão fosse ruim para a sociedade e para o sistema vigente. Freire explica que é muito importante entender que é por meio do sentido dado por essas representações que o ser humano dá sentido à sua existência e ao que pode ou não tornar-se. O autor esclarece que essa pressão social em atingir o estereótipo de beleza feminina, é explorada de forma simbólica pelas artes e pela indústria. No campo de batalha simbólico das artes e das indústrias da cultura, a análise crítica da sub-representação ou da representação distorcida de identidades sociais (classes, gêneros, sexualidades, raças, etnias, nacionalidades) nos meios de comunicação de massa se consolidou, desde os anos 1960, como um dos temas centrais da agenda de estudos culturais e midiáticos. (FREIRE FILHO, 2004, p. 45)

O autor faz menção a um livro que seria um dos precursores dos estudos midiáticos americanos, a obra “Public Opinion” ([1922] 1956) de Walter Lippmann. No trecho destacado por Freire, Lippmann descreve duas noções de estereótipo. A primeira delas é de base psicológica e diz que na sociedade moderna é muito fácil perder a sensação de ordem e para mantê-la é necessário que haja um modo de processamento da informação que classifiquem as experiências, eventos e objetos complexos de uma forma simplificada ao processo cognitivo. Consequentemente, essa simplificação atrapalha a visão crítica, deixando-nos inertes diante do racismo, discriminação sexual e religiosa, xenofobia, etc.


19

Em contraponto aos efeitos atuais que pressionam a mulher a obedecer e se integrar no estereótipo de beleza, existem fatores de divergência, com caráter mercadológico, que buscam igualar fatores que antes eram depreciativos na mulher, como um diferencial. A outra visão citada por Freire é a de base política, onde Lippmann coloca o estereótipo como uma construção simbólica que dificulta o processo democrático. Por exemplo, a representação distorcida de estrangeiros ou classes sociais nos meios de comunicação de massa demanda do cidadão um esclarecimento prévio. Caso não tenha, estará sujeito aquela visão que está sendo passada e não poderá questioná-la. É com base nestes dois pilares que João Freire Filho constrói seu artigo, reforçando sempre que os estereótipos da mídia trabalham como forma de impor uma organização ao mundo social e inflexibilizar a apreensão e avaliação da realidade. Mantem-se, assim, a desigualdade, exploração e força das relações de poder. O

estereótipo

da

beleza

feminina

apresenta

diversas

ramificações

conceituais, que, em suma, problematizam as características sociais dos modelos de beleza e estética feminina ao longo dos séculos. A dinâmica dos mecanismos impostos desse estereótipo são, em sua maioria, exigências da cultura de sociedades machistas. Segundo a autora Naomi Wolf, no livro “O Mito da Beleza”, as instituições de poder dos homens criaram o mito com um fim e as mulheres são submetidas a esse mecanismo de inferiorização. Segundo a autora, a razão para criar essa forma de controle social distorcida de ética e igualdade na atualidade é a libertação da mulher do estereótipo estritamente doméstico. Nesse sentido, quanto mais poder as mulheres possuem, maior será a pressão imposta pelo estereótipo feminino e seu contexto de sucesso e projeção social. Estamos em meio a uma violenta reação contra o feminismo que emprega imagens da beleza feminina como uma arma política contra a evolução da mulher: o mito da beleza. (…). À medida que as mulheres se liberaram da mística feminina da domesticidade, o mito da beleza invadiu esse terreno perdido, expandindo-se enquanto a mística definhava, para assumir sua tarefa de controle social. (WOLF, 1992, p. 12 e 13).


20

Wolf declara que a mídia tem um papel fundamental na criação e modernização do estereótipo de beleza feminina vigente em uma sociedade. Esse fenômeno se estende pela projeção de moldes de comportamento, que estipulam modelos comportamentais, físicos, sociais e estéticos sobre o que a mulher "ideal" representa. A autora também ressalta que essa busca por um ideal é explorada pela mídia como assunto de interesse social, com relevância comportamental. É comum atribuições ao estereótipo de beleza dentro da mídia, como aconselhamento e difusão de estilo de vida compatível com sucesso, determinação para alcançar esse estereótipo e vitória na conquista do estilo de vida compatível com a sociedade. Porém, na mídia diária, após a pesquisa realizada, essas atribuições são menos explícitas, e muitas vezes, inexistentes. O conceito de estereótipo se resume, finalmente, num juízo, emocional ou não, que está no interior de uma sociedade. É uma ideia concreta que passa de geração em geração, depende de sua cultura e é acentuada e imposta através dos meios de comunicação de massa. 2.3 – Representação da mulher na mídia: A autora Naomi Wolf (1992), em sua obra “O mito da beleza”, descreve a opressão sofrida pelas mulheres ao buscarem atingir um padrão de beleza irreal nos ambientes de trabalho, na cultura e na religião. Publicado na década de 1990, o livro mantem-se atual ao fomentar o debate acerca do papel do sexo feminino na sociedade. Apesar de não ser uma obra jornalística, a visão crítica da autora foi muito importante para termos outro olhar sobre a mídia. A autora afirma o homem como criador dos padrões de beleza que objetificam a figura feminina. A mulher é descrita por Wolf como um ser colocado à prova e que depende de aprovação externa em todos os quesitos, como aparência e comportamento, e que esse tipo de padrão muda conforme o tempo. No campo das pesquisas jornalísticas está o livro “Mulher de papel: a representação da mulher pela imprensa feminina brasileira”, da autora Dulcília Schroeder Buitoni (2009). A obra surgiu a partir de sua tese de doutorado e faz uma análise detalhada de como os meios de comunicação voltados ao público feminino


21

retratam a mulher desde o século XIX até os anos 2000. A jornalista deixa claro seu objetivo de medir até que ponto os conteúdos veiculados pelos meios de comunicação influenciaram na forma como a mulher pensa a respeito de si mesma. A mulher é instada a renovar-se dia a dia, da cabeça aos pés. Da roupa, da maquiagem, dos cabelos, passa-se ao corpo: faça plástica, é preciso ser totalmente nova. E a moda entra até na safa de seios siliconados à semelhança da atriz de sucesso daquele ano. O mito da juventude, explorado até a exaustão na imprensa feminina, também se insere dentro da categoria do novo. Um conceito que chega a se concretizar em nome da revista: Nova. O novo é virtude máxima do objeto de consumo. A utilidade, a praticidade são virtudes secundárias. E o novo passa a ser exigido também na pessoa. (BUITONI, 1981, p. 196).

Ainda no campo da mídia, a autora Rachel Moreno, em seu livro “A beleza impossível: mulher, mídia e consumo” (2008), menciona que os fatores mercadológicos são os contrapontos que identificam modelos de estereótipos negativos, como pobreza e etnia. Mas o segmento das mais cheinhas hoje parece interessar – a moda para GG lança um novo mote publicitário: 'Acredite, fashion mesmo é a saudável'. Isso porque, segundo as consultoras de moda, ‘muitas confecções já perceberam a demanda e estão fabricando modelos interessantes para as mais avantajadas, seguindo o mesmo padrão das magrinhas, só que com números maiores’. (MORENO, 2008, p. 20).

Além disso, Rachel Moreno elenca fatores que abrangem o estereótipo de depreciação: Por enquanto, somos as mais pobres entre os pobres (e também entre os remediados e os ricos), embora, cada vez mais, sejamos chefes de família ou simplesmente as principais responsáveis por sua manutenção. Por isso, hoje a pobreza tem cara e cor – tem a cara de uma mulher negra. (MORENO, 2008, p. 26 e 27).

Finalmente, para analisar as matérias dos jornais “O Estado MS” e “Correio do Estado”, utilizamos como inspiração o artigo “O perfil dos vencedores em Veja”, de José de Luiz Aidar Prado (2003). No trabalho, o autor faz um estudo de várias edições


22

da revista e percebe um padrão no momento de descrever como homens se tornaram sucedidos. Dessa forma, nos baseamos nesse modelo adotado pelo autor para nossa pesquisa exploratória, onde analisamos as notícias e identificamos as categorias de estereótipos publicadas nos jornais. 2.4 – Perfil da mulher campo-grandense Para traçar um contraponto entre os estereótipos encontrados nos jornais, pretendíamos encontrar um perfil da mulher campo-grandense. Campo Grande é a cidade brasileira que possui o maior índice de violência contra a mulher per capita do país. A pesquisa mais significativa que nos deparamos foi o Mapa da Violência 2015 – Homicídio de mulheres no Brasil, publicado em 2015, com autoria de Julio Jacobo Waiselfisz, divulgada pela Organização Pan-Americana da Saúde – Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres – ONU Mulheres, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais. De 2003 a 2013, quando o dado geral de amostragem entre as capitais brasileiras apresentou uma queda do feminicídio de 5,8%, Campo Grande apresentou um aumento de 40%, com 21 casos em 2013. Segundo o estudo Mapa da Violência, Mato Grosso do Sul tem a maior taxa de mulheres vítimas de violência sexual, física ou psicológica que buscam por atendimento em unidades do SUS (Sistema Único de Saúde). Ocupando o primeiro lugar no ranking dos estados, por aqui, 37,4 mulheres a cada 10 mil habitantes integram as estatísticas. Os dados foram coletados em 2014 pelo Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) e divulgados pelo jornal Estadão, de São Paulo. Estes dados relacionam com a análise das matérias jornalísticas, onde identificamos que uma das categorias mais frequentes é a de mulher vítima. Em Campo Grande, de acordo com o censo realizado em 2010, a população feminina é maior que a masculina. A população masculina representa 381.333, enquanto a população feminina é de 405.464. Porém, mesmo com a apresentação


23

desses dados, não existem outros dados consistentes em amostragem especificamente feminina. A violência contra a mulher e o machismo possuem uma relação intrínseca, onde a postura machista nega a responsabilidade masculina em agressões verbais, assédio e violência física, enquanto a mulher é pressionada por mecanismos de controle e aceitação da sociedade. Em uma pesquisa realizada no Brasil pelo Instituto Avon, com jovens de 16 a 24 anos, homens e mulheres, é possível observar a opressão e o machismo presente na sociedade atual. Apesar do crescente engajamento feminista entre jovens e o reflexo legislativo e funcional na sociedade brasileira, como a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006) e a Delegacia da Mulher Brasileira, a opressão segue em porcentagens alarmantes. Segundo a pesquisa, entre os jovens, 96% são a favor da Lei Maria da Penha, mesma porcentagem daqueles que reconhecem a presença do machismo na sociedade brasileira. Porém, a afirmação de valores machistas é uma constante. Como a questão de que a mulher "Deve ficar com poucos homens", que chega a 41% dos entrevistados. Há também os comportamentos considerados incorretos. Segundo a pesquisa, 80% dos jovens desaprovam que a mulher fique bêbada em festas, 68% reprovam que a mulher tenha relações sexuais no primeiro encontro e 76% dos entrevistados consideram incorreto que uma mulher tenha vários "ficantes”. Sobre o assédio, 76% das jovens dizem ter sofrido algum tipo de situação relacionada, como receber cantada ofensiva e violenta, ser abordada de maneira agressiva ou ser assediada no transporte público. Em relação ao parceiro, a pesquisa mostra que 66% das jovens já sofreram com violência e controle excessivo. No quesito mercado de trabalho, a mulher sul mato-grossense tem se destacado no ramo do empreendedorismo. Um estudo realizado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) revelou que houve um crescimento de mulheres empreendedoras, com um aumento de 20 mil mulheres empreendedoras em dez anos (82.000 em 2003 e 102.000 em 2013) ocupando a condição de empregadora ou conta própria. Dessas, 21.000 são empregadoras e 81.000 trabalham por conta própria.


24

O Sebrae também traçou um perfil das mulheres nas empresas, através de uma pesquisa elaborada pela Unidade de Orientação Empreendedora, realizada nos anos de 2014 e 2015. No estado, a estimativa é que 37,2% trabalhem por conta própria e 25,4% estejam em Micro Empresas. O mundo do trabalho tem importância fundamental na vida social, pois possibilita a autonomia econômica e realização individual, tendo em vista ainda a produção de bens e serviços para a coletividade. Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística) em uma pesquisa de 2003 a 2012, em comparação com o aumento das vagas de emprego geral, quando os dados são analisados com a amostragem de mulheres, há um diferencial estatístico maior em relação aos dados gerais. Enquanto na população ocupada a participação feminina aumentou 2,6 pontos percentuais (de 43,0% em 2003 para 45,6% em 2012), a população ocupada feminina com carteira de trabalho assinada no setor privado cresceu 9,8 pontos percentuais (de 34,7% em 2003 para 44,5% em 2012). Porém, os percentuais de ocupação no mercado de trabalho praticamente não se alteraram entre 2003 a 2015, apresentando pequenas oscilações. Entre as mais jovens, apresentou aumento significativo. Segundo os dados divulgados pelo IBGE, o nível da ocupação das mulheres (44,3%) continua inferior ao dos homens (61,0%). A pesquisa aponta ainda o avanço do nível da ocupação dos jovens de 18 a 24 anos de idade entre 2003 (53,8%) e 2012 (61,0%), ano em que atingiu seu maior valor. A partir de 2013, quando o indicador passou para 59,3%, observou-se a reversão dessa tendência, tendo sido registrada uma estimativa de 57,3% em 2014 e de 53,8% em 2015 – sendo que essa última corresponde ao mesmo valor de 2003. A queda acentuada de 2014 para 2015 foi provocada tanto pela retração da ocupação nesse grupo de idade: de 8,1%, em comparação com a queda de 1,6% registrada para a população ocupada total. Ainda de acordo com a pesquisa divulgada pelo instituto, a porcentagem de ocupação de mulheres com carteira assinada também é inferior à dos homens, assim como as que trabalham por conta própria e entram na amostragem geral de ocupação. Aproximadamente 35,5% das mulheres estavam inseridas no mercado de trabalho


25

como empregadas com carteira de trabalho assinada, percentual inferior ao observado na distribuição masculina (43,9%). As mulheres empregadas sem carteira e trabalhando por conta própria correspondiam a 30,9%. Entre os homens este percentual era de 40%. O percentual de mulheres inseridas como empregadores era de 3,6% enquanto na distribuição masculina era 7,0%. Quanto ao estereótipo tipicamente atribuído às mulheres, o trabalho doméstico apresenta pequena retração com o passar dos anos, nas metrópoles brasileiras (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre). As mulheres representavam 94,7% dos trabalhadores domésticos em 2003 e, 94,5% em 2009. Nas seis regiões metropolitanas o comportamento foi similar. Se a análise for comparada com dados de décadas atrás, é evidente que a partir dos anos 1970 o trabalho feminino aumentou significativamente. Dados dos Censos Demográficos apontam que, em 1970, apenas 18,5% das mulheres eram economicamente ativas. Em 2010, este valor foi de quase 50% (ALVES, 2013, p. 1). Em aspecto social, a mulher sofre sozinha com a pressão dos estereótipos femininos e responsabilidades atribuídas a elas. As que se caracterizam como inativas, que não apresentam ocupação, possuem ainda a responsabilidade familiar. Elas ainda possuem mais filhos de idades mais novas do que os homens inativos. Essas responsabilidades familiares impostas quase que com exclusividade a elas prejudicam sua vontade de entrar no mercado de trabalho. 2.5 – Jornais Todo o trabalho de construção do fotolivro “Elas: da representação midiática ao

cotidiano

das

mulheres

campo-grandenses”

sustentou-se

numa

pesquisa

exploratória prévia sobre estereótipos das mulheres na imprensa. O método de amostragem escolhido para o levantamento exploratório foi o da “semana construída”, que consiste em um trabalho de coleta de dados a partir de determinados dias da semana selecionados em semanas subsequentes (a segunda-feira da primeira semana, a terça-feira da segunda semana e assim sucessivamente). Em busca das entrelinhas (ou seja, daquilo que não estava explícito na mídia), optamos por desenvolver tal análise na imprensa diária de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, uma vez


26

que a pesquisa bibliográfica nos levou à hipótese de que os estereótipos e padrões de beleza são mais facilmente encontrados em meios de comunicação como revistas temáticas de beleza ou programas televisivos não-jornalísticos (reality shows e programas de entretenimento, por exemplo). Nesse contexto, foi um desafio adicional identificar os estereótipos nas entrelinhas das notícias dos jornais diários devido ao fato de tal linguagem – a do jornalismo informativo – não apresentar de forma tão explícita a demarcação de categorias estereotipadas. Como suporte teórico-metodológico, tomamos como inspiração o artigo de José de Luiz Aidar Prado (2003), “O perfil dos vencedores em Veja”, no qual o autor procura identificar um padrão nas matérias da revista semanal que se expressa em quatro categorias de homens representados como cidadãos “bemsucedidos”. A metodologia do autor serviu de apoio para elaborarmos nossos critérios e identificarmos as categorias de estereótipos nos jornais analisados. Voltamos o olhar para o conteúdo dos dois jornais impressos de maior circulação na cidade de Campo Grande – respectivamente, Correio do Estado e O Estado MS –, tentando identificar as representações e eventuais estereótipos sobre a imagem das mulheres locais. Com base na técnica da semana construída, optamos por começar nossa análise no Dia Internacional da Mulher (08/03/2016), uma terça-feira, pelo potencial simbólico da data. A partir de então, foram analisadas as edições das seguintes datas: 08/03/2016 – Terça-feira 16/03/2016 – Quarta-feira 24/03/2016 – Quinta-feira 01/04/2016 – Sexta-feira 09/04/2016 – Sábado 17/04/2016 – Domingo / 18/04/2016 - Segunda-feira1 25/04/2016 – Segunda-feira

O jornal “O Estado MS” não possui circulação aos domingos. Devido a este fato, na sexta semana de coleta optamos por analisar a publicação de segunda-feira (18/04/2016) do periódico de modo a evitar o enviesamento da análise. 1


27

A partir da análise exploratória inicial, foram identificadas 49 matérias que representam as mulheres em primeiro plano. No jornal “O Estado MS”, foram selecionadas 25 matérias distribuídas nas seguintes editorias: Esportes (duas matérias); Cidades (18 matérias); Caderno especial de entrevista (uma matéria); Política (uma matéria); Artes & Lazer (três matérias). No jornal “Correio do Estado” foram encontradas 24 matérias, distribuídas nas editorias: Cidades (12 matérias); Economia (uma matéria); Esportes (uma matéria); Política (uma matéria); Correio B (nove matérias) e Emprego e Carreira (uma matéria). Com base na discussão teórica sobre o conceito de estereótipo e na proposta do projeto, foram destacadas oito categorias nas quais as personagens das matérias podem ser enquadradas; a saber: a “mulher criminosa”, a “mulher vítima”, a “mulher vencedora”, a “mulher empreendedora”, a “mulher estrela”, a “mulher pioneira”, a “mulher transcendente” e a “mulher invisível”. A categoria “criminosa”, como o próprio nome diz, reúne matérias em que a mulher é agente do ato criminoso. Em sua maioria, são mulheres entre 25 e 50 anos, de classe baixa e, geralmente, desempregadas. Aparece com frequência na editoria de Cidades. As matérias estão focadas no crime em si e não há um aprofundamento em relação às personagens. Sua descrição está limitada ao nome (ou iniciais), à idade, e somente às vezes, ocupação. A categoria mais presente nas matérias é de “vítima”. A mulher aparece como vítima de crime, de agressão, de violência doméstica, acidente de trânsito, entre outros. Outra forma de colocação é a da mulher vitimizada, aquela que não necessariamente sofreu alguma violência, mas que é representada como uma pessoa sofrida, que não teve oportunidades ou que está à margem da sociedade. Em outra categoria identificada, ao mesmo tempo em que a mulher é tratada como submissa, ela é também enaltecida de forma exagerada ao alcançar sucesso profissional e/ou pessoal. Por isso, a definição da categoria “vencedora”. O termo “vencedora” abrange não só aquelas que literalmente tiveram uma conquista, seja uma competição ou premiação, mas também aquelas que superaram alguma dificuldade


28

durante a vida. Por exemplo, a esposa que cuidou do marido até sua morte ou a mulher que sofreu discriminação racial e agora é militante do movimento antirracismo. A categoria “estrela” dialoga com a categoria vencedora, pois ambas são estereótipos positivos, que colocam a mulher como protagonista de sua própria história. A mulher estrela é aquela que se destaca de alguma forma na notícia, seja no esporte ou na arte. Ela não precisa ser necessariamente famosa, mas tem sua imagem enaltecida pelo veículo devido a algum acontecimento que é assunto no momento – o que desconsidera as características mais gerais da sua vida cotidiana. Outra categoria que dialoga com frequência com as categorias anteriores (“vencedora” e “estrela”) é a “empreendedora”. Contudo, normalmente tal categoria se apresenta relacionada ao sucesso na ocupação profissional e ao dinheiro. Por exemplo, a mulher que largou sua profissão de arquiteta para se tornar pecuarista por conta própria ou aquela que trocou a carreira administrativa para vender uma receita tradicional de família. A categoria “pioneira” carrega também essa imagem de mulher vencedora, pois é a primeira na história a realizar determinado feito. Normalmente, todas essas quatro

últimas

categorias

estão

relacionadas;

se

a

mulher

é

“pioneira”,

consequentemente vai ser “vencedora”. Por isso, ela é muitas vezes homenageada em seu ramo, seja a primeira médica do Estado, a primeira cacique mulher de uma aldeia, etc. Em nossa análise esta representação não enaltece a mulher pelo feito em si, mas pelo fato de ser uma mulher a enfrentar muitas dificuldades e conquistar o seu espaço. Elas venceram o preconceito, venceram os homens, para chegarem como “a primeira mulher a conquistar algo”. Decidimos denominar a próxima categoria como “transcendente” para falar das mulheres transexuais. É a mulher que menos se apresentou nas matérias jornalísticas. Quando mencionada, ela pode vir de forma positiva ou negativa. Muitas vezes como vítima ou como a mulher “vencedora”, que venceu suas dificuldades e, principalmente os preconceitos para se tornar aquilo que queria. Em termos gerais, não possui a complexidade de sua condição de gênero respeitada pelos meios de comunicação.


29

A última categoria é a mulher “invisível”. Chegamos nessa terminologia para distinguir a mulher que está na notícia, mas não apresenta, na maioria das vezes, alguma relevância para o fato. Seria aquela mulher que aparece nas matérias somente como estatística. Não há um aprofundamento sobre ela. Como fonte, é a especialista, entrevistada somente para dar as informações relacionadas ao tema, para embasar alguma pesquisa; o que interessa é seu cargo, sua ocupação. Como estatística é aquela mulher que é tratada como vítima de vários acidentes de trânsito que aconteceram na Capital num final de semana, por exemplo. Geralmente, a mulher “invisível” não está presente para ser notada. Para melhor visualizarmos o que foi encontrado nos jornais nesse período, separamos duas tabelas (ver apêndice) com as matérias onde encontramos as mulheres como personagens. Após análise das matérias do jornal “Correio do Estado”, podemos perceber uma maior ocorrência nas categorias “vencedora”, “vítima” e “invisível”. Podemos observar também que, na maioria das vezes, os estereótipos vistos como “positivos” se encontram em matérias maiores, mas de menor relevância noticiosa, como por exemplo no “Correio B”. Na tabela discriminamos apenas as categorias mais predominantes dentro da matéria, mas, na maioria delas, foram encontradas mais de uma categoria em cada. Depois de categorizar e contabilizar cada categoria, chegamos na contagem total: 39 mulheres “invisíveis”, uma “transcendente”, seis “pioneiras”, 11 “estrelas”,

4

“empreendedoras”, 13 “vencedoras”, oito “vítimas” e cinco “criminosas”. Com base na análise jornalística do jornal “O Estado MS”, nos dias 08/03/2016; 16/03/2016; 24/03/2016; 01/04/2016; 09/04/2016; 18/04/2016 e 25/04/2016 foram destacadas 25 matérias que citam mulheres. Um número relativamente baixo para um período longo de análise. Cada matéria foi analisada a fim de identificar as categorias de estereótipos mais recorrentes, a cada matéria listada na tabela foi identificada uma ou mais categorias. Na leitura e análise das matérias jornalísticas foram atribuídas uma categoria a cada personagem, de modo que a contagem totalizou: 14 personagens identificadas como “vítima”; quatro mulheres representadas como “criminosas”; duas mulheres


30

“pioneiras”; nove “vencedoras”; uma “estrela”; três mulheres “transcendentes” e sete mulheres “invisíveis”.


31

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este trabalho consiste em uma análise das matérias dos dois principais jornais de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, de modo a retratar a contradição entre a representação da mulher campo-grandense e o dia a dia dessa mulher. A partir de uma base teórica sobre estudos que discutem a representação da mulher nos meios de comunicação em massa, bem como livros que explicam o conceito de estereótipo e disseminação de padrões de beleza e comportamento na mídia feminina especializada, identificamos, nas entrelinhas, modalidades de estereótipos femininos. Após análise das matérias jornalísticas dos dois maiores jornais impressos de Campo Grande, destacamos os principais estereótipos de mulheres que se consolidaram em oito categorias. Partimos então em busca de personagens que se encaixariam nestes modelos para fazer um ensaio fotojornalístico que compõe o fotolivro. Realizamos as entrevistas e fotos de modo a ilustrar no fotolivro o cotidiano dessas mulheres e o contraste com os estereótipos sistematizados que encontramos nos veículos de comunicação. Devido ao rico material coletado nesse processo, decidimos criar um blog com mais informações sobre a metodologia de estudo, fotos, as histórias completas de todas as personagens e a versão digital do fotolivro. Dessa forma, o projeto se torna mais acessível. Portanto, todos os objetivos iniciais foram cumpridos com êxito, onde chegamos num material informativo que mostra à sociedade, principalmente às mulheres, que não há obrigação em buscar por ideias de beleza ou aparência estipulados pela mídia, e que todos possuem peculiaridades que nos tornam únicos. Realizar esse projeto, desde seu início, foi um verdadeiro desafio. Escolher um tema que está em voga e retratá-lo de forma jornalística, com uma boa base teórica e de uma forma diferente foi o que nos motivou a continuar para que ele se concretizasse. A consolidação do projeto traz a bagagem didática e moral que absorvamos durante todo o período letivo. Praticar o que aprendemos com um empreendimento


32

pessoal que consome horas de trabalho e dedicação nos ajudou a entender métodos criativos de uma nova forma. A cada dia, cada foto e entrevista, aprendemos mais e tentamos colocar esse progresso em prática no próximo passo. Com cronograma apertado, negativas de fontes e remarcações, é difícil manter o otimismo e a determinação. Mas profissionalmente, essa é a nossa realidade. Nesse caminho, a lição principal foi manter uma posição firme diante das dificuldades de produção. O processo em si é prazeroso. Criar, definir metas e alcançálas, ver o material resultante, é a melhor recompensa que tivemos durante a produção do fotolivro. Nos impressiona a realidade dessas mulheres e a maneira como enfrentaram as dificuldades, preconceito e estereótipos. Mesmo numa sociedade onde o politicamente correto tem se estabelecido publicamente, percebemos que a realidade é muito diferente: conservadora, hipócrita e machista. Esperamos que o resultado desse projeto traga uma nova consciência sobre o processo de criação jornalística nos meios de comunicação de Campo Grande, auxiliando na desconstrução dos estereótipos sobre gênero, tão comuns no cotidiano.


33

4 – REFERÊNCIAS: ALVES, José Eustáquio Diniz. O crescimento da PEA e a redução do hiato de gênero nas taxas de atividade no mercado de trabalho. Aparte Inclusão Social em Debate. Rio de Janeiro, 2013. Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em Micro e Pequenas Empresas 2014-2015 – DIEESE/SEBRAE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). <http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/cd 949ce3599faa1e095bea15e2ac8ba5/$File/5861.pdf >. Acesso em 13.fev.2017. BACCEGA, Maria Aparecida. O estereótipo e as diversidades. Revista Comunicação & Educação, v. 13. São Paulo: ECA/USP, 1998. BOMBONATI, Letícia Azevedo de Andrade e BRACHI, Daniela Nery. Croa: Fotolivro e Design. Universidade Federal de Pernambuco, PE. In: Anais do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru – PE – 07 a 09/07/2016. BRACCHI, Daniela Nery. Experimentações plásticas ao longo da história dos fotolivros. Universidade Federal de Pernambuco, PE. In: Anais do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru – PE – 07 a 09/07/2016. BUITONI, Dulcília Schroeder. Mulher de Papel: a representação da mulher pela imprensa feminina brasileira. 2009. FREIRE FILHO, João. Mídia, estereótipo e representação das minorias. Revista ECO-Pós, v. 7, n.2. Rio de Janeiro, 2004. GARCIA, Alba Onrubia, MENOR, Andrea Gago e DAUDÉN, Laura Toledo. Mulheres brasileiras: do ícone midiático à realidade. 15min. 2014. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=WdWjKBzCWO8>. Acesso em 23.nov.2016. GONÇALVES, Sandra Maria Lucia Pereira. Por uma fotografia “menor” no fotojornalismo diário contemporâneo. Brasília: revista Compós, 2009. HELLER, Eva. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. Tradução Maria Lúcia Lopes da Silva, São Paulo, Gustavo Gili, 2013. Instituto Avon/Data Popular. Violência contra a mulher: o jovem está ligado?. Disponível em <http://agenciapatriciagalvao.org.br/wpcontent/uploads/2014/12/pesquisaAVON-violencia-jovens_versao02-12-2014.pdf>. Acesso em 30.dez.2016.

LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. São Paulo, 2004.


34

LOWETTE, T. Mobile marketing and QR: it’s all in the promise. Bélgica: Grid Publishing. 2012. MORENO, Rachel. A beleza impossível: mulher, mídia e consumo. São Paulo, 2008. PESQUISA MENSAL DE EMPREGO: Evolução do emprego com carteira de trabalho assinada 2003-2012. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). <https://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/ Evolucao_emprego_carteira_trabalho_assinada.pdf>. Acesso em 18.jan.2017. PRADO, José Luiz Aidar. O perfil dos vencedores em Veja. Revista Fronteira (UNISINOS), Porto Alegre, v. V, n.2, p. 77-96, 2003. ROUILLÉ, André. A fotografia: entre o documento e a arte contemporânea. São Paulo: Senac, 2009. Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ms/sebraeaz/empreendedorismofeminino-em-mato-grosso-do-sul,bb92fe3fb2a52510VgnVCM1000004c00210aRCRD> Acesso em: 13.fev.2017. SILVA, Rafael Souza. Diagramação: o planejamento visual gráfico na comunicação impressa. São Paulo: Summus, 1985. TEIXEIRA, S. Produção e consumo social da beleza. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v.7, n.16, p.189-220, 2001. TRANS-portar. 2015. PUC Campinas (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Disponível em: <http://trans-portar.wixsite.com/trans-portar>. Acesso em: 02.mar.2017. WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: Homicídio de mulheres no Brasil. Brasília, 2015. WOLF, Naomi. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Tradução de Waldéa Barcellos, Rio de Janeiro, Rocco, 1992.


35

5 – APÊNDICE: 

Sistematização das notícias pesquisadas no jornal “Correio do Estado” conforme a semana construída entre 08/03/2016 e 25/04/2016.

Tabela 1. Jornal “Correio do Estado” TÍTULO “Mais de 80% dos agressores domésticos continuam soltos” “Homem ataca a ‘ex’ a pauladas e ainda atira três vezes contra ela” “Com outros olhos” “Registros fotográficos e obra artísticas destacam mulheres” “Suspeito não teria participado de crime” “Adolescente detida em táxi com remessa de droga” “Carne bovina responde por metade das exportações da Capital” “Entre a euforia e a depressão” “Fotógrafa de MS registra

DATA

EDITORIA

ESPAÇO

CATEGORIA PREDOMINANTE

08/03/2016

Cidades

29,5x29cm (Com foto)

Vítima

08/03/2016

Cidades

29,5x6,5 cm

Vítima

08/03/2016

Correio B

29,5x46,5 cm (Com foto)

Vencedora

08/03/2016

Correio B

29,5x22,5 cm (Com foto)

Pioneira

16/03/2016

Cidades

9x20 cm (Com foto)

Vítima

16/03/2016

Cidades

9x7 cm

Criminosa

16/03/2016

Economia

29,5x34,5 cm (Com foto)

Empreendedora

16/03/2016

Correio B

29,5x43 cm (Com foto)

Vencedora

16/03/2016

Correio B

29,5x23 cm (Com foto)

Vencedora


36

as belezas do Alentejo” “Atleta de MS vai à final da Superliga” “Garantias legais” “Passageira com gripe leva Infraero a reter avião” “Quadrilha paulista é desarticulada em MS” “Antonieta se recupera de cirurgia em CTI” “Delinha sinfônica” “Caravana encerra espera de 35 anos por cirurgia” “Acidentes matam dois motociclistas na Capital” “Homem assassinado no peito durante briga em bar” “Mel com pimenta representará MS nas Olimpíadas” “Doulas: a arte de humanizar o parto” “Estado tem fim de

01/04/2016

Esportes

29,5x19,5 cm (Com foto)

Vencedora

01/04/2016

Correio B

29,5x42 cm (Com foto)

Estrela

09/04/2016

Cidades

9x10,5 cm (Com foto)

Invisível

09/04/2016

Cidades

10x13,5 cm

Criminosa

09/04/2016

Política

19,5x8,5 cm

Vencedora

09/04/2016

Correio B

29,5x47 cm (Com foto)

Estrela

17/04/2016

Cidades

24,5x31 cm (Com foto)

Vencedora

17/04/2016

Cidades

5x36 cm (Com foto)

Vítima

17/04/2016

Cidades

5x11 cm (Com foto)

Invisível

17/04/2016

Correio B

14,5x19 cm (Com foto)

Empreendedora

17/04/2016

Emprego & Carreira

29,5x46 cm (Com foto)

Estrela

25/04/2016

Cidades

29,5x11,5 cm (Com foto)

Vítima


37

semana violento, com nove mortes” “Família consegue ressonância, mas precisa de dinheiro” “Desafios do século 21” “Grávidas e a gripe H1N1: descubra quais os riscos para a mulher e para o bebê” 

25/04/2016

Cidades

9,5x6 cm (Com foto)

Invisível

25/04/2016

Correio B

29,5x47 cm (Com foto)

Invisível

25/04/2016

Correio B

29,5x24 cm (Com foto)

Invisível

Sistematização das notícias pesquisadas no jornal “O Estado MS” conforme a semana construída entre 08/03/2016 e 25/04/2016.

Tabela 2. Jornal “O Estado MS” TÍTULO “Lentes cor de rosa” “Mulheres podem desfrutar de serviços de beleza gratuitos” “Especial Dia da Mulher” “Jovem é agredida pelo marido com paulada e coronhada na cabeça” “Mulher morre após tropeçar

DATA 08/03/2016

ESPAÇO (ALTURA X LARGURA) 22,9x29,1cm Artes&Lazer (Com foto) EDITORIA

CATEGORIA PREDOMINANTE Pioneira

08/03/2016

Artes&Lazer

14,9x9,3cm (Com foto)

Invisível

08/03/2016

Ponto a Ponto, Moisés Palácios

23,4x22,1cm (Com foto)

Vencedora

08/03/2016

Cidades

13,1x19cm

Vítima

08/03/2016

Cidades

8,1x8,8cm

Vítima


38

em meio fio” “Para avançar politicamente mulheres precisam vencer a barreira do preconceito” “E quando ela tem de lutar até pelo direito de ser mulher” “’Fomos jogados que nem porcos’, afirma exmoradora da favela Cidade de Deus “Pivô da morte de manicure nega participação no crime” “Padrasto que estuprava enteada há 5 anos é preso” “Moradores denunciam mulher por tentar jogar filho em córrego” “Adolescente estupra ex, tira fotos e ameaça” “Ladróes levam R$ 600 em cosméticos de casa” “Jogadora de MS busca o seu 1° título na Superliga como

08/03/2016

Política

46,8x13,1cm (Com foto e infográfico)

08/03/2016

Cidades

31,8x19,2cm (Com foto)

Transcendente Vencedora

16/03/2016

Cidades

17,7x19cm (Com foto)

Vítima

16/03/2016

Cidades

10,1x8,5cm

16/03/2016

Cidades

12,5x8,5cm

24/03/2016

Cidades

15,2x19,1cm

24/03/2016

Cidades

9x9cm

Vítima

24/03/2016

Cidades

7x8,9cm

Vítima

01/04/2016

Esportes

23,9x19,3cm (Com foto)

Vencedora

Vencedora

Vítima

Vítima

Criminosa


39

titular” “Brasileiras esperam adversárias ‘raçudas’ no tatame em Desafio” “Mulher é presa com cocaína escondida no carro” “Homem é preso após fazer mulher de refém” “Positividade é receita para enfrentar o câncer” “Cinco pessoas morrem em acidentes em Campo Grande” “Mulher tenta adentrar presídio com droga” Entrevista Maria Teresa Casadei “Em fim de semana violento, 4 pessoas são assassinadas” “Dia de visita foi tranquilo, mas clima ainda é tenso” “Embriagado, rapaz atropela duas pessoas e invade casa” “Moradores

09/04/2016

Esportes

26,7x19,1cm (Com foto)

Vencedora

09/04/2016

Cidades

6,9x8,7cm

Criminosa

09/04/2016

Cidades

7,5x8,4cm

Vítima

09/04/2016

Cidades

15,5x24,1cm (Com foto)

Vencedora

18/04/2016

Cidades

15,3x19,2cm

18/04/2016

Cidades

5,8x8,5cm

Criminosa

18/04/2016

Entrevista

54,1x29,1cm (Com foto)

Vencedora

25/04/2016

Cidades

23,2x19,3cm (Com foto)

25/04/2016

Cidades

16,8x19,3cm (Com foto)

Invisível

25/04/2016

Cidades

10,2x9,5cm (Com foto)

Vítima

25/04/2016

Cidades

15,8x18,9cm

Invisível

Vítima

Vítima


40

protestam por mais segurançaâ€?

(Com foto)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.