Um por dia | Fernanda Juliane de Almeida Sandoval

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE JORNALISMO

UM POR DIA

FERNANDA JULIANE DE ALMEIDA SANDOVAL

Campo Grande NOV /2018

FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


UM POR DIA

FERNANDA JULIANE DE ALMEIDA SANDOVAL

Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projeto Experimental II do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Orientador: Prof. Dr. Edson Silva



SUMÁRIO Resumo

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Introdução

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1. Atividades desenvolvidas

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1.1 Execução

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1.2 Dificuldades encontradas

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1.3 Objetivos alcançados

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2. Suportes teóricos adotados

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Considerações finais

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Referências

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RESUMO "Um por dia" é uma grande reportagem multimídia, voltada para a Web, sobre a rotina de personagens ligados à maconha em Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul. A reportagem objetiva relatar, partindo do ponto de vista dos personagens entrevistados, as diversas abordagens acerca do uso da substância, como o tráfico de drogas e suas consequências, o plantio para consumo próprio e o uso medicinal dos extratos da planta. Além disso, a narrativa pretende problematizar questões que permeiam o uso da droga, como o racismo inerente ao tráfico, a discussão sobre a abordagem como questão de saúde pública e a esperança e a luta de quem a usa como remédio. Em gênero narrativo-descritivo, o texto da reportagem é somado a componentes multimídia, como fotografias, áudios e infográficos para retratar o tema de forma imersiva. O trabalho está dividido em duas partes produzidas a partir de depoimentos e consultas a fontes documentais e está disponível no link: http://umpordiareportagem.com.

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo Investigativo - Grande Reportagem Multimídia Tráfico de drogas – Maconha - Campo Grande – Saúde Pública


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INTRODUÇÃO

"Um por dia" é uma grande reportagem multimídia sobre os diversos usos da maconha em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. O produto foi construído a partir de entrevistas com personagens intimamente ligados à rotina da droga na cidade para retratar as diferentes abordagens, visões e vivencias sobre o tema em caráter regional. O tema surge da urgência do debate humanizado sobre a Cannabis em nossa cidade e na sociedade em geral. No Brasil, a maconha se enquadra como substância ilegal de acordo com a Lei n° 11.343 de 23 de agosto de 2006, conhecida como Lei de Drogas; que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre Drogas. Isso, porém, não refreia seu uso ou transporte no país. O narcotráfico é, de acordo com a Lei de Drogas, o ato de "importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar". A pena varia de cinco a 15 anos de prisão. Em Mato Grosso do Sul, no ano de 2017, mais de 7 milhões de quilos de maconha foram apreendidos pela Delegacia Especializada em Repressão ao Narcotráfico (Denar) e mais de 157 mil quilos da mesma substância foram apreendidos pela Polícia Militar do estado (PMMS) em operações da rotina da guerra ao tráfico. A grande reportagem "Um por dia" objetiva oferecer maior visibilidade sobre o tema além da já ofertada pelas mídias tradicionais, que usualmente apenas reportam e relatam dados de apreensões realizadas pelos órgãos policiais presentes no estado. A proposta é mostrar intimamente a rotina dos personagens envolvidos e a relação deles com a droga. A realidade do tráfico de forma aprofundada é uma urgência jornalística. Com os debates cada vez mais midiatizados sobre legalização, descriminalização e uso medicinal, é importante ressaltar a necessidade da pesquisa sobre a realidade regional,


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como Campo Grande hoje se encontra no cenário de guerra ao tráfico nacional e como, mesmo de forma ilegal, o consumo da erva se faz presente na sociedade. Na capital, o uso recreativo da Cannabis é facilmente identificado em bares, festas e demais atividades sociais. O extrato obtido a partir da flor da planta é utilizado puro ou dissolvido em óleo para o tratamento medicinal aplicado em diversos pacientes na cidade. Não há estimativa de quantos usuários, recreativos ou medicinais, existam na capital sul-mato-grossense. Mesmo assim, um levantamento1 realizado em 2016 pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados estimou que quase três milhões de pessoas usam maconha mensalmente no Brasil. A grande reportagem "Um por dia" é derivada do trabalho realizado durante a disciplina de Projetos Experimentais I do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, com o título original de "A Rota da Maconha". O nome foi alterado no decorrer da realização do trabalho para que a o produto se adequasse às informações absorvidas durante a fase de entrevistas e pesquisas jornalísticas. Para proporcionar a imersão do leitor no tema proposto, o texto é construído no gênero narrativo-descritivo e utiliza material multimídia como áudios, fotografias e infográficos. Coimbra (1993) ressalta a necessidade da observação direta e relação direta com os personagens para este tipo de gênero. O produto é dividido em duas partes complementares que devem ser lidas em sequência. O acesso às partes é disponibilizado através de hiperlinks localizados ao final de cada parte da reportagem para garantir que sua leitura ocorra de forma linear. O produto pretende abordar diversas vivências de personagens envolvidos com a maconha, seja pelo viés do tráfico ou do viés medicinal. A metodologia abordada para a execução deste projeto experimental é dividida entre pesquisa bibliográfica de fontes documentais, ida a campo para observação do modus operandi do tráfico e do uso medicinal e entrevistas realizadas com fontes populares e fontes especializadas. Os objetivos deste projeto experimental foram a produção de uma grande reportagem multimídia que proporcionasse a imersão do leitor nas abordagens que 1

Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas-tecnicas/publicacoesda-consultoria-legislativa/areas-da-conle/tema10/2016_4682_impacto-economico-da-legalizacao-dacannabis-no-brasil_luciana-adriano-e-pedro-garrido>. Acesso em 07 de nov de 2018.


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envolvem o uso de maconha em Campo Grande e a construção de uma reportagem de gênero narrativo-descritivo a partir de entrevistas e observação direta da rotina dos personagens.


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1- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 1.1 Execução: O projeto de conclusão de curso teve início no mês de março de 2018, quando foi ministrada a matéria Projetos Experimentais I pela professora doutora Katarini Miguel. Nesta disciplina ocorreu grande parte da pesquisa documental e projeção de fontes para o desenvolvimento do projeto. Durante os meses de abril, maio e junho de 2018 foi montado o pré projeto para a realização deste produto. Nesses meses foram traçados os objetivos gerais e específicos, a metodologia utilizada e o cronograma para a realização do produto escolhido como projeto de conclusão de curso. No dia 11 de maio foi realizada a primeira entrevista para a produção da grande reportagem, com o sociólogo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Fabiano Cunha dos Santos e com o historiador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Saulo Conde Fernandes. A entrevista ocorreu em meio à produção do pré projeto porque o sociólogo estava visitando Campo Grande para compor uma mesa de debates sobre substâncias ilícitas realizada no dia 10 de maio na UFMS. No dia cinco de junho ocorreu a apresentação do pré projeto para a banca formada pelo professor doutor Oswaldo Ribeiro, pela professora doutora Katarini Miguel e pelo professor doutor Edson Silva, orientador deste projeto experimental. Foram feitos apontamentos para a viabilidade e consumação do projeto. Durante o mês de agosto foram feitas leituras sobre o tema e projeções de fontes pessoais para entrevistas sobre a rotina do uso da droga. Todas as entrevistas descritas a seguir foram gravadas com o aparelho celular Motorola G5 e o material multimídia foi registrado por uma câmera Canon T6i. No dia cinco de setembro foi realizada a segunda entrevista para a produção da narrativa com a usuária de drogas Maria*2. Foram abordados temas como racismo, machismo, preconceito e violência policial na guerra às drogas. Não foi produzido material multimídia a pedido da fonte, para preservar sua identidade. 2

O asterisco (*) aponta o uso de nome fictício. A identidade foi protegida para preservar a segurança e a intimidade da fonte.


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No dia oito de setembro foram realizadas duas entrevistas com os usuários Matheus* e Thiago*. A rotina do uso de ambos foi observada durante uma tarde. Foi observado o modus operandi de um dealer, traficante que entregou a droga na rua do condomínio onde os usuários dividem um apartamento. Durante as entrevistas foram abordados temas como o racismo e a opressão inerentes à guerra ao tráfico, a constituição e a formação da Lei de Drogas e suas diversas interpretações, conflitos psicológicos causados pelo uso da maconha e a relação dos usuários com a família antes e depois do início do consumo regular da Cannabis. Foi produzido material multimídia focado em detalhes para preservar a identidade das fontes ao mesmo tempo em que ilustra a rotina do uso recreativo da maconha. No dia 17 de setembro foram realizadas duas entrevistas sobre o uso medicinal de maconha com a paciente Bruna*, que possui paralisia cerebral e faz o uso regular de medicamento importado para diminuir a intensidade das dores que sente pelo corpo; e com sua mãe. Foram abordados temas como a dificuldade em se obter o remédio, displicência médica, falta de suporte para esse tipo de tratamento, custo elevado e a própria rotina de Bruna. O material multimídia produzido foi focado em detalhes. No dia um de outubro foi realizada a entrevista com a psicóloga Júlia* sobre o uso medicinal de maconha em crianças com autismo para diminuição de comportamento agressivo e padrões repetitivos de comportamento, conhecidos como estereotipias. Foram abordados assuntos como o espectro autista, a experiência da psicóloga com a observação e participação empírica na rotina de crianças que utilizaram a substância, a influência da droga no comportamento dessas crianças, as consequências do uso para a psiqué. A entrevista foi gravada, mas não há divulgação do material para preservar a fonte. No dia dois de outubro foi realizada a entrevista com o militante da Marcha da Maconha, Sérgio*. Foram abordados os temas como a própria militância sobre o tema, a importância da legalização para o país, as consequências do tráfico para o sistema prisional, a articulação de movimentos em prol da liberação do uso no Brasil e o preconceito que envolve o consumo da droga. Foi produzido material multimídia, mas apenas uma foto foi utilizada para preservar a identidade da fonte.


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No dia três de outubro foi realizada a entrevista com o delegado titular da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (DERF), Rodrigo Yassaka. Ele já havia atuado como delegado da Delegacia Especializada em Repressão ao Narcotráfico (Denar) e explicou a rota da maconha em Campo Grande, os principais focos do comércio de substâncias ilícitas, as diversas interpretações da Lei De Drogas para a polícia, como funciona o monitoramento de traficantes e a relação entre tráfico e violência. Foram produzidos vídeos, fotografias e áudios, e dos três apenas os dois últimos foram utilizados. Também ocorreu, no dia três de outubro, a entrevista com Tereza*, mãe de Gustavo*, criança autista que faz uso de dois óleos produzidos a partir da maconha. Durante a entrevista foi possível observar o comportamento de Gustavo*, que não possui fala desenvolvida. Em tom de conversa, a entrevista abordou a rotina da família, como foi o processo da inserção do remédio aos medicamentos já utilizados por Gustavo*, as mudanças provenientes do uso, a interrupção do quadro grave de convulsões de Gustavo*, o processo de obter autorização para importação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e as dificuldades enfrentadas pela família. Durante a conversa, Tereza* deixou clara sua posição favorável à legalização da droga e principalmente a vontade de plantar sua maconha em sua casa, para que possa produzir os óleos que seu filho utiliza. Não foi registrado vídeo para manter a identidade da fonte em sigilo. As fotografias que ilustram a entrevista e a rotina da família são focadas nos brinquedos de Gustavo*. No dia quatro de outubro foi realizada a entrevista com o delegado titular da Denar, Rodrigo Ferraris. Foram abordados temas como o monitoramento de traficantes em Campo Grande, a atuação da instituição na guerra ao tráfico e às drogas na cidade, o monitoramento de vias terrestres que interligam o estado de Mato Grosso do Sul ao Paraguai, a relação entre violência e tráfico e a importância da conscientização sobre o uso de maconha e demais substâncias ilícitas ainda na adolescência. Foram produzidos vídeos, fotografias e áudios, e dos três apenas os dois últimos foram utilizados. No dia cinco de outubro foi realizada a entrevista com a psicóloga especialista em saúde pública e presidente da atual gestão do Conselho Estadual de


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Políticas Públicas Sobre Drogas, ou Conselho Estadual Antidrogas (Cead), Denise Silva. Foram abordados a influência da maconha na vida dos usuários, as adaptações no sistema de saúde provenientes de uma possível legalização, as ações do Conselho que abordam esses assuntos em instituições de ensino, a importância do debate sincero sobre o uso de drogas e a relação entre tráfico e violência em Campo Grande. Foram produzidos vídeos, fotografias e áudios, e dos três apenas os dois últimos foram utilizados. Ainda no dia cinco de outubro foi realizada a primeira imersão em um dos bairros citados pelos delegados Rodrigo Yassaka e Gustavo Ferraris como ponto explícito de venda de drogas na cidade, o bairro Guaicurus. Após observação da rotina do bairro foi identificado, por meio de um usuário, um dos pontos de venda de substâncias ilícitas da região. Nele, foi realizada uma conversa com o traficante Marcos* sobre sua história, seu envolvimento com o tráfico, sua relação com os moradores e a rotina de vendas do local. A observação do local ocorreu durante uma tarde e a observação do ponto de vendas de Marcos* durou o tempo que foi autorizado por ele, cerca de meia hora. Não foi produzido material multimídia durante a imersão para preservar as fontes envolvidas. No dia seis de outubro foi realizada a segunda imersão em outro bairro citado pelos delegados, o Tiradentes. Um usuário indicou a localização do traficante Daniel*. Ele não conversou muito abertamente sobre o comércio, mas contou sua história, seu envolvimento com o tráfico e as manobras realizadas para fugir da polícia. Foi realizada a observação do bairro durante a manhã e a noite, a entrevista aconteceu durante a tarde. Não foi produzido material multimídia para preservar a identidade das fontes envolvidas. No dia sete de outubro foram realizadas duas entrevistas. A primeira foi com o estudante Igor*, que planta dois pés de maconha em sua residência. Foram abordados o início do envolvimento dele com a droga, o interesse por começar a plantar, a influência do uso em sua rotina e os cuidados com a planta. Foram produzidos vídeos, fotografias e áudios, e apenas fotografias e vídeos em formato GIF foram utilizados na produção da reportagem.


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A segunda entrevista foi realizada com o psicólogo Paulo*, que já trabalhou com crianças autistas que fazem ou fizeram uso do remédio produzido à base de maconha. Foram abordadas as diferenças comportamentais pré e pós uso, a influência do uso nas famílias e nas crianças, os gastos com o remédio e a importância da legalização no país. Não foi produzido material multimídia para preservar a identidade da fonte. A transcrição e das entrevistas acontecia logo após o descarregamento do material no notebook. Do dia oito de outubro ao dia 22 do mesmo mês o texto da reportagem foi redigido por mim e lido e anotado pelo professor doutor Edson Silva. Nas reuniões de orientação foram combinadas técnicas de construção do texto e abordagens utilizadas para proporcionar ao leitor a imersão no tema. No dia 23 de outubro foi aprovada a versão final do texto e deu-se início à diagramação do produto, com auxílio do software Adobe Muse. A diagramação durou cerca de três dias. Durante a diagramação houve o uso de tutoriais disponibilizados na Web e consulta à jornalista Iasmim Amidem para entender as ferramentas disponibilizadas pelo software. O produto foi hospedado na Web no link <http://umpordiareportagem.com/> no dia sete de novembro, após a diagramação ser aprovada pelo professor doutor Edson Silva. 1.2 Dificuldades Encontradas A principal dificuldade encontrada para a execução deste projeto experimental foi à falta de material sobre o tema em caráter regional. A maior parte da informação veiculada pela mídia tradicional se restringe à quantidade de drogas apreendidas e ao nome dos criminosos. No Mato Grosso do Sul, estado considerado o maior corredor de drogas do país, se torna urgente construir um perfil socioeconômico do tráfico e do uso de maconha, substância mais apreendida pela guerra ao tráfico. O gasto para a realização do trabalho de conclusão de curso ultrapassou o valor de R$600,00, dispostos entre deslocamento via aplicativo de caronas pagas, compra de um tripé para suporte da câmera ao gravar entrevistas e compra do domínio e hospedagem para a veiculação do produto final na Web. Outra dificuldade foi conciliar as atividades do Estágio Obrigatório, a realização dos trabalhos da disciplina de Jornalismo Especializado e as entrevistas e


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observações necessárias para a construção dessa grande reportagem. Durante todo o curso de Jornalismo na UFMS, a maior parte das disciplinas incentivam o trabalho em grupo com responsabilidades compartilhadas, como nas matérias de Laboratório de Radiojornalismo I e II e Laboratório de Ciberjornalismo I e II, entre outras. Exigir um trabalho de conclusão de curso na modalidade individual e somá-lo à matéria de Estágio Obrigatório durante o último semestre demanda muito esforço para que o acadêmico conclua as duas tarefas de modo que possa extrair conhecimento de ambas sem torná-las exaustivas. Durante a ida a campo e fase de entrevistas não foram encontrados problemas para a execução deste projeto.

1.3 Objetivos Alcançados O objetivo geral de observar a realidade do tráfico da maconha em Campo Grande por meio de entrevistas e observações de campo com personagens relacionados ao tema foi concluído. Dos objetivos específicos, a relação entre tráfico e violência na capital de Mato Grosso do Sul foi abordada durante as entrevistas, mas não inserida foi como ponto principal do produto jornalístico. A produção de vídeos e fotografias para ilustrar a rotina do tráfico foi realizada, porém grande parte do material não foi divulgado para manter a identidade das fontes em sigilo. A opção da não veiculação de vídeos segue este viés. Fotos em superzoom foram escolhidas para capturar detalhes e trejeitos dos personagens e os retratos divulgados são de fontes oficiais. A produção da grande reportagem multimídia para a Web foi realizada e o produto foi divulgado (link: <http://umpordiareportagem.com/>). O tema central do projeto, a rota da maconha, sofreu alterações por motivos de segurança e dificuldade na abordagem de fontes para debater o tema. Por conta disso, a grande reportagem multimídia abordou a rota de outra forma, observando a realidade do consumidor final da erva: o usuário. Durante a produção do projeto não foi possível fazer o debate sobre as drogas na cidade ou no país, apenas observá-lo. Espera-se que, com a divulgação do produto, este debate seja posto em pauta.


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2- SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS:

O narcotráfico é, de acordo com a Lei n° 11.343 de 23 de agosto de 2006 conhecida como Lei de Drogas, o ato de "importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar". Mato Grosso do Sul é considerado o maior corredor de drogas do país. Com fronteira terrestre com o Paraguai e Bolívia, alguns dos maiores produtores de maconha e cocaína, respectivamente, a ação de monitoramento fronteiriço por parte da polícia torna-se um desafio. Mesmo assim, no ano de 2017, mais de 7 milhões de quilos de maconha foram apreendidos pela Delegacia Especializada em Repressão ao Narcotráfico (Denar) e mais de 157 mil quilos da mesma substância foram apreendidos pela Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS). Os dados de apreensões refletem a perspicácia do Estado em insistir na guerra às drogas. Um levantamento realizado pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados aponta que dos R$ 19.5 bilhões do orçamento federal do ano de 2014 destinados às despesas com o policiamento, mais de R$ 405 milhões foram destinados diretamente ao aparato da guerra às drogas. O mesmo levantamento indica que os gastos com o sistema prisional, tratamentos de saúde, repressão policial e processos jurídicos que envolvem a maconha somam, por ano, R$ 4.792 milhões aos cofres públicos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que haja 181,8 milhões de usuários das derivações da Cannabis Sativa (maconha e haxixe) entre 15 e 64 anos no mundo. Segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgado em 2016, pelo menos 8 milhões de brasileiros já tiveram contato direto com a maconha. A estatística da Polícia Militar do estado de Mato Grosso do Sul aponta que o valor do montante de maconha apreendido no ano de 2017 gira em torno de R$ 314


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milhões. Uma das maiores discussões acerca da possibilidade de regulamentar o uso recreativo no Brasil - e nos demais países que adotam a cultura de proibição - é do investimento que a venda da substância injetaria na economia nacional. Tokatlian (2000) critica a cultura proibicionista sobre as drogas: É possível afirmar que enquanto se mantenha e se reforce o proibicionismo das drogas psicoativas se preservará e se incrementará o poder do crime organizado ligado a este produto. O proibicionismo, portanto, está na raiz do fenômeno criminal e este feito não pode passar inadvertido nem ser tergiversado. (TOKATLIAN, 2000, p. 59, tradução nossa)

Os sistemas que abrangem a política favorável ou contrária ao uso de substâncias psicoativas estão acima das leis. São ações de incentivo ou repressão moral que envolvem a cultura de um local, incentivando ou criminalizando naturalmente o uso. Burgierman (2011) explica que há drogas aceitas socialmente, porém não legalmente, como a maconha, e drogas com consequências sociais piores, como o álcool. O sistema é muitíssimo mais importante que a lei, porém as pessoas falam muito sobre leis e pouco sobre sistemas. É comum que digam “Eu sou a favor da legalização” ou “Eu sou contra”; “Eu sou a favor da descriminalização” ou “Eu sou contra”. Qualquer dessas opiniões é legítima. No entanto, estudos mostram que as leis têm efeito insignificante na decisão de usar ou não determinada droga. O que importa é o sistema, e, nesse aspecto, é inegável que o que temos hoje é terrivelmente ruim. A não ser os traficantes, os políticos, os fabricantes de armas e helicópteros, os construtores de cadeias e os donos de clínicas, ninguém pode estar satisfeito com nosso sistema atual. (BURGIERMAN, 2011, p. 14)

Burgierman (2011), ao analisar diferentes sistemas no mundo, conclui que a guerra às drogas como um todo falhou e tende a definhar com a naturalização do uso de certas substâncias. Nosso atual sistema para lidar com as drogas fracassou, obviamente. O que precisamos agora não é encontrar os culpados por esse fracasso. O sistema foi construído em outra época, por gente com outra cabeça e conhecimento científico de outro nível. O mundo criou o melhor sistema possível naquelas condições. Deu errado, fazer o quê? Não faz sentido perdermos tempo atribuindo aos outros a culpa pelo fracasso. “A culpa é dos usuários, que financiam o tráfico”, “é dos traficantes, criminosos hediondos”, “é dos policiais, corruptos e violentos”, “é dos


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proibicionistas, fundamentalistas religiosos”. Não interessa de quem é a culpa. Interessa é que o sistema não está funcionando. Num sistema ruim todo mundo tem incentivos para se comportar mal. O que precisamos é de um novo sistema. (BURGIERMAN, 2011, p. 263)

Os dados da PMMS e da Denar indicam que mais de 90% das apreensões de drogas realizadas no Mato Grosso do Sul são de maconha. No contexto em que o estado está inserido, torna-se uma necessidade traçar o perfil socioeconômico do usuário de maconha para compreender como é realizado o tráfico de drogas na cidade. Para atingir este objetivo, Coimbra (1993) ressalta que o relato psicológico aprofundado por meio da narrativa da reportagem é fator diferencial do Jornalismo. Ao empregarmos teorias como a da comunicação não-verbal, criadas para interpretar o comportamento das pessoas que estão no mundo real, na análise de elementos do texto relativos a comportamento de personagens, sabemos que isto se pode fazer somente no Jornalismo, onde o universo composto de palavras, criado no texto, pretende conter, também, de alguma maneira, o mundo real. Somente no Jornalismo, um dado de comunicação não-verbal, que está numa personagem do texto, está (ou deverá estar), de alguma forma, também numa pessoa. Por isso, pode-se falar nele de personagem, falando ao mesmo tempo de pessoa. (COIMBRA, 1993, p. 121)

De modo a lidar com o tema de forma imparcial, todas as vozes devem ser ouvidas. A observação de locais onde ocorre a venda explícita de drogas torna possível a compreensão da rotina do tráfico na cidade e seus desdobramentos para a sociedade que habita os arredores de onde acontece o comércio. Com o primeiro remédio à base de Cannabis Sativa (Mevatyl, usado para diminuir sintomas de esclerose múltipla) regulado em 2017 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o uso medicinal ainda requer autorização judicial no Brasil. O remédio ainda não é produzido no país. Para conseguir realizar o tratamento com essa medicação é necessária a aprovação para importação pela Anvisa. O procedimento é realizado de acordo com as exigências da Agência, disponibilizadas em seu site3. Para importar o remédio, laudos e prescrições médicas são analisadas para comprovar que se trata do último recurso testado para manutenção

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Disponível em: < http://portal.anvisa.gov.br/importacao-de-canabidiol>


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da saúde, sendo excluídos todos os outros métodos de tratamento. Segundo Campos (2014), os efeitos já eram conhecidos e explorados por civilizações antigas: A Cannabis, conhecida por maconha, marijuana, diamba, liamba ou fumo de Angola, já era conhecida há mais de dois mil anos antes de Cristo na Índia, China e Egito, por seus efeitos medicinais e por suas fibras têxteis. A Cannabis Sativa (cânhamo indiano) é cultivada na maioria dos países e consumida (em 2010) por uma população equivalente à brasileira. (CAMPOS, 2014, p. 36)

Para este produto foi escolhida a grande reportagem em narrativa longform como método que pretende imergir o leitor nos temas abordados na grande reportagem. Longhi (2015) destaca que a principal característica deste formato é proporcionar

ao

leitor

a

melhor

compreensão

da

contextualização

e

gerar

aprofundamento no tema. A reportagem de John Brach para o jornal The New York Times, Snow Fall The Avalanche at a Tunel Creek4 inseriu na Web um novo formato de jornalismo online, que além de oferecer ao leitor um texto aprofundado, desencadeou o uso de uma nova linguagem que abraça o conteúdo multimídia e vai além da transposição do impresso para o online. Longhi e Winques (2015) caracterizam este formato como consolidado a partir da década de 2000 e como a linguagem online que resgata o jornalismo de profundidade com excelência na apuração e no planejamento visual do produto final. O jornalismo longform vai muito além do texto longo. A abundância do texto verbal sinaliza um resgate da qualidade, apuração e contextualização já conhecidos do jornalismo impresso, especialmente consagrados pela reportagem. Vários autores têm se debruçado sobre o gênero da internet, apontando sua reconfiguração e remodelação. A grande reportagem multimídia, neste sentido, tem sido marcada, dentre outras características, pelo jornalismo longform. ( LONGHI; WINQUES, 2015, p.8)

A entrevista em tom de conversa com os personagens inseridos nos contextos sociais do uso da maconha objetiva entender a realidade na qual eles estão inseridos. Além de oferecer os fatos, Medina (1978) argumenta que também é necessário interpretá-los. 4

Disponível em: < http://www.nytimes.com/projects/2012/snow-fall/index.html#/?part=tunnel-creek>


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As linhas de tempo e de espaço se enriquecem: enquanto a notícia fixa o aqui, o já, o acontecer, a grande reportagem abre o aqui num círculo amplo, reconstitui o já no antes e depois, deixa os limites do acontecer para um estar acontecendo atemporal ou menos presente. Através da contemplação dos fatos que situam ou explicam o fato nuclear, através da pesquisa histórica de antecedentes, ou através da busca do humano permanente no acontecimento imediato – a reportagem leva a um quadro interpretativo do fato. (MEDINA, 1978, p. 134)

O gênero narrativo-descritivo pretende tornar a reportagem mais atrativa para o leitor ao torná-lo próximo dos personagens, seus trejeitos e expressões. Coimbra (1993) ressalta que este gênero enaltece as histórias e explora a riqueza delas, propiciando ao leitor a experiência de se aprofundar na reportagem. Portanto, a construção do texto permite que o leitor compreenda e sinta empatia pelas histórias e relatos dos personagens retratados.


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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema abordado neste projeto experimental demonstra-se cada vez mais discutido em sociedade. A maconha já foi legalizada para uso recreativo em vários países do mundo, sendo o Canadá o mais recente. Durante a pesquisa bibliográfica, as informações apuradas junto às delegacias apontam que a droga é, sem dúvidas, a mais consumida no Brasil. O livro de Burgierman indica que ela é, também, a mais consumida no mundo. A importância deste trabalho é demonstrar que o usuário dessa substância não é um criminoso - sequer pela lei. São pessoas com trejeitos, manias, histórias, rotinas e vidas normais e que convivem em sociedade tal qual qualquer cidadão comum. O diálogo estabelecido com essas pessoas fez com que elas desabafassem sobre seus medos e suas angústias. Não houve resistência por parte dos usuários, mas a identidade de todos foi protegida. A produção nacional do extrato utilizado terapeuticamente torna-se urgente na medida em que seus resultados são comprovados. As histórias de quem utiliza derivados da maconha como método medicinal são relatos de luta, dor e sofrimento. O remédio surgiu, na maioria das vezes, como a última esperança para uma família que já havia sofrido por muitos anos ao ver um ente com uma dor incurável. Convulsões de até quinze minutos, sendo que o tempo considerado de maior periculosidade é de cerca de menos de um minuto, cessaram completamente após seis meses do uso do óleo da planta. Apesar disso, é inegável que ao comprar a droga prensada da mão de um traficante sustenta-se um sistema agressivo, corrupto e com as mãos manchadas de sangue. Mesmo assim, os traficantes entrevistados durante as observações diretas nos bairros onde há maior registro de casos de tráfico de drogas se mostraram surpreendentemente gentis. Havia, claramente, armamento durante as conversas e desconfianças no início, mas ao perceberem que se tratava de um diálogo entre duas pessoas comuns o comportamento mudou. São humanos, afinal. Há história humana em todo lugar, basta haver a disposição para ouvi-la.


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Talvez esta tenha sido a chave para a conclusão deste projeto: ouvir. Em uma sociedade que se mostra cada vez mais conservadora, ouvir a voz que ecoa das ruas, dos bares, das festas, das delegacias, dos condomínios fechados e dos outros ambientes em que a maconha é utilizada - seja de forma recreativa ou medicinal proporciona a experiência de compreender parte do ser humano. Mesmo assim, também é necessário ouvir quem acredita que a maconha seja prejudicial - em todos os sentidos. O contato com os delegados nos mostra que a polícia ecoa em uníssono: a maconha não deve ser legalizada, ela deve ser combatida. A polícia, no geral, é plenamente preparada para conter a maior parte das situações dispersas na cidade. A oportunidade de presenciar, viver e relatar a rotina que envolve a maconha em Campo Grande é única. Durante o processo, a maior parte das dificuldades apresentadas proporcionou grandes transformações em concepções pré-estabelecidas de acordo com o padrão cultural que nos é passado dentro de nossa sociedade. As lições aprendidas durante a conclusão deste projeto experimental são gratificantes e contribuem para um crescimento profissional incomparável ao experimentado durante a Universidade. Houve um amadurecimento do olhar jornalístico e principalmente humanitário, ao entender que cada pessoa merece ter sua liberdade respeitada.


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4. REFERÊNCIAS

LARANJEIRA, Ronaldo et. al. II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) – 2012. São Paulo: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas de

Álcool

e

Outras

Drogas

(Inpad),

Unifesp,

2014.

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