terror REVISTINHA PULP - VOL. #01
Saulo A. Sisnando (org) Breno Torres Fรกbio de Andrade Georgina Cavendish Igor Quadros Lenmarck
Índice Vampiro
Uma noite em Veneza Saulo A. Sisnando
pag. 07
Bicho Papão
Não esqueça de gritar quando vir o Bicho-Papão Lenmarck
pag. 16
Zumbi
Não seja mau! Igor Quadros
pag. 29
Lobisomem
O ultimo lobisomem de Whitestone Fábio de Andrade
pag. 39
Bruxa
O rio escarlate da Rainha Bruxa Breno Torres
pag. 54
Múmia
O estranho caso da Múmia Perdida Georgina Cavendish
pag. 69
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Papai teve que ir mais cedo para o seu compromisso. Vou ajudar a comprar comida e bebidas, e arrumar algumas coisas para essa noite. NĂŁo me espere acordado! PS: T em comida no congelador, CampeĂŁo.
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1 4 de novembro de 201 7 Amor, eu sei que as minhas mensagens não vão chegar tão cedo no seu WhatsApp, já que eu estou sem internet aqui. Mas eu vou te mandar mesmo assim porque quando o sinal voltar, você lê. E também porque assim eu sinto como se eu tivesse alguma companhia nesse lugar estranho. 1 4:30 Aconteceu uma coisa terrível na nossa pesquisa de campo... 1 4:31 Mas não se preocupe, Carlos. Nada de ruim aconteceu comigo. Eu estava na pesquisa do meio biótico, como te falei, as caranguejeiras Golias estão fugindo do habitat natural, como uma grande migração, preciso estudar mais sobre o que tá acontecendo nessas matas, mas não vem ao caso agora. Dois pesquisadores e eu aceitamos ficar um pouco mais na floresta, mesmo com os conselhos dos nossos guias de que devíamos ter partido antes, o que eu me arrependo agora de não ter ouvido. O que aconteceu é que fomos atingidos por ventos violentíssimos, e muita chuva. Eu posso jurar que foi uma verdadeira tempestade tropical. Perdemos nossa cabana, mas pior que isso: nos perdemos uns dos outros. Não podíamos enxergar nada, e eu espero que todos estejam bem neste momento. Para completar, o meu GPS falhou, eu corri por muito tempo (o que sempre me aconselharam a não fazer em uma situação dessas), mas, graças a Deus, encontrei uma gruta, que foi meu refúgio até o
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fim da tempestade, no dia seguinte. Eu estava em um ponto da floresta sem referência nenhuma das que tínhamos feito, tentei não me desesperar, mas acho que não viveria muito ali. A minha sorte foi que levei o equipamento que consegui segurar e minha mochila, além de estar com o EPI (equipamento para proteção individual). Isso me garantiu a sobrevivência por um dia. Então eu tive sorte pela segunda vez, fui encontrada por Virginia, uma mulher de meia idade, que tinha um cabelo loiro muito esquisito (lembrava de uma boneca) e usava uma blusa de mangas longas, o que era estranho por causa do nosso clima, mas enfim, ela ficou muito feliz em me ver e disse que seria um prazer me acolher em sua casa até que eu achasse o caminho novamente. E assim eu fiz. 1 4:35 Foi aí que eu vi uma das cenas mais chocantes e absurdas da minha vida. Não muito longe de onde nos encontramos, quando eu já via Santa Constância, a cidade de Virginia entre as árvores, eu enxerguei um homem acocado mexendo em alguma coisa. Eu quis saber o que era na mesma hora, mas quando me aproximei dele o suficiente para ver o chão, vi ele segurando duas caranguejeiras Golias. Carlos, ele estava comendo aqueles animais! Quando ele se virou, eu vi uma aranha inteira dentro da boca dele, o rosto do sujeito estava em carne viva, com certeza causado pelo processo inflamatório provocado por pelos das aranhas, as patas dela ainda se mexiam nos lábios dele. Nossa, eu não consigo nem pensar nisso que sinto vontade de vomitar. 1 4:38 Quando cheguei na cidade, Virgínia logo me apresentou seu marido, Josué, um homem que poderia ser um clone da esposa por causa das roupas quase idênticas e pelos mesmos cabelos loiros, de mesmo corte e sem vida. Ele me recebeu da mesma maneira também: com uma felicidade quase inumana. A casa deles fica na entrada de Santa Constância. Ela é feita de uma arquitetura antiga, de dois andares, e os cômodos são bem amplos. Tinha uma TV ligada em um programa de auditório na sala, o que me animou, pois achei que, se tinham energia elétrica, talvez tivessem internet ou telefone, mas Josué me informou que só tinham energia elétrica, e ainda assim só podiam usá-la em alguns momentos. Virginia me levou ao andar de cima e me deixou no primeiro quarto. Ela falou diversas vezes que eu adoraria conhecer o filho dela e também que: o quarto estava reservado para a minha chegada. Isso me deixou muito assustada, Carlos. Que povo é esse?
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Ah, outro detalhe incomum é que Virginia insistiu para que eu usasse uma roupa do guarda-roupas dela. Eu não iria recusar, é claro, depois do que eles fizeram por mim, mas sem mentira nenhuma, TODAS as roupas eram iguais. Um vestido branco (de mangas longas, é claro) cheio de bolinhas rosas, que ela complementou com um laço da mesma cor. Estou me sentindo esquisita com isso. 1 4:50 1 5 de novembro de 201 7 Bom dia, amor. Estou preocupada com os meus colegas. Queria ter notícias, mas... Voltemos aos acontecimentos dos meus estranhos salvadores. A princípio eu os achei engraçados, mas quando amanheceu, entendi que a estranheza deles ia muito além. Na sala de estar, muito organizada, como tudo que eles tinham, a TV estava sintonizada no mesmo programa de ontem, e haviam cinco pessoas quase uniformizadas que estavam lá. Ignoravam o aparelho, olhavam apenas umas para as outras, sem pronunciar uma única palavra. O mais estranho não foi isso. Assim que eu cheguei, eles se voltaram pra mim e abriram largos sorrisos, que me pareceram falsos. Não que eu achasse ruim uma boa recepção, mas eu me sentia como uma espécie de cobaia. Todos se levantaram juntos e foram me cumprimentar como se eu fosse a pessoa mais importante na vida deles. Eu toquei na mão de cada um, mas sem transparecer que eu estava nervosa pelos comportamentos inusitados. Virgínia, a anfitriã, pegou uma xícara de café e pôs na minha mão. Em seguida, todos me perguntaram sobre a situação na floresta que passei e se eu já estava bem. Cada um deles me olhava ávido para que eu respondesse, mas ao mesmo tempo eu percebia que era óbvio que eles não tinham interesse algum nas minhas condições físicas. Eles tinham interesse em alguma coisa, mas eu ainda não tenho certeza do que era. 11 :23 O dia foi cheio. Eles me levaram para conhecer a cidade. E pasme-se, TODA a cidade se veste e tem os mesmos cabelos esquisitos como os meus salvadores. Não só isso como também se portam parecido. É, no mínimo, incomum. Quero dizer, qual a probabilidade disso? O lugar é realmente antigo, ele tem aquelas características da formação de cidades paraenses, sabe? Uma igrejinha no centro de uma praça e as casas e demais construções em volta dela, só que, as ruas, pavimentadas de paralelepípedos, ainda são trafegadas por cavalos, que eles usam como transporte. Às vezes eu acho que eles pararam no tempo. O que é presente em todos eles é aquela sensação de que estão fingindo alguma coisa quando falam comigo. Eu pensei em
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questioná-los para que entregassem algo, mas eu temia que eles não reagissem bem. Outro assunto delicado para eles: o homem que encontrei na entrada da cidade. Sempre que eu o menciono, eles desconversam e repetem a mesma frase de que é um doente que não vive mais no lugar. A verdade é que eu não consigo esquecer aquilo! Até mesmo agora, que estou deitada, eu ainda vejo as patas da aranha na boca daquele homem. 23:57 1 6 de Novembro de 201 7 Oi, Carlos. Hoje conheci Roger, o filho de Virginia, aquele que ela insistia que eu conhecesse. Um homem alto, de olhos e cabelos pretos (longos e sem vida como os dos demais). Assim que eu desci para tomar café, encontrei o mesmo semblante que já vira nos outros, agora até consigo entender um pouco melhor o que é. Você já ouviu falar do vale da estranheza? É aquela sensação de repulsa que temos quando nos deparamos com aqueles robôs que são baseados em humanos. Nós enxergamos claramente os mesmos traços nossos, mas sabemos que tá faltando alguma coisa ali. Eu diria: uma alma. E é exatamente assim que eu sinto quando olho para todos eles. São perfeitos, sorrisos largos, aparentam se preocupar comigo, mas tudo é falso, como os robôs. Ele mal se apresentou e me disse que tá solteiro e que me achou bonita. Você acredita nisso? Ele estava com umas margaridas e assim que me viu as entregou. Eu agradeci, é claro, mas tentei sair o mais rápido possível dele. O que foi inútil, pois a mãe dele também estava lá e logo me questionou sobre o que achei do filho dela. Eu disse que ele era muito bonito, puxara a mãe (espero que ela não tenha percebido a minha ironia). Virginia queria que fossemos passear por um caminho muito belo, segundo ela, que terminava em um igarapé próximo à praça. O que eu podia fazer? Fui visitar o tal lugar belo, ao lado dela e do filho, que passou o trajeto inteiro com uma sombrinha sobre a minha cabeça para me proteger do sol das 8 horas (hahaha). Eu disse que não precisava, mas ele fez mesmo assim. O lugar era belo realmente, eu encontrei uma grande variedade de flores pelo caminho, além de aves que eu nunca vira antes e o igarapé, que era um espetáculo à parte: águas muito claras. E foi justamente por causa dele que Virginia mostrou sua verdadeira face. Ela queria que eu e o filho dela entrássemos na água. E ele, como se aquilo fosse uma ordem, já estava desabotoando a calça, quando eu falei que não entraria. Ela se virou pra mim com o rosto em fúria e bradou: Por que não vai entrar? Tem algum problema com o igarapé? Ou é o lugar? Ah, já sei, você tem algum problema com o nosso povo, não é? (Olha a audácia dessa vaca!) Eu, nervosa, atropelei as palavras, mas acho que deixei bem claro pra ela que não, que eles eram todos amáveis. Mas ela continuou. Disse que eu era uma ingrata, que só pensava em mim, mesmo depois de tudo o que eles haviam feito.
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E por causa de pessoas que nem eu, que não pensam nos outros, o mundo está como está. Eu juro que pensei que ela iria me bater naquele momento, mas como em um passe de mágica, ela voltou para a expressão falsa novamente. A maluca disse: “vamos voltar para a casa, nosso passeio já acabou”, voltamos calados. 1 7:02 Carlos... Quero voltar pra casa. Amanhã irei partir. Procurar meus colegas ou uma cidade vizinha. 1 8:1 2 1 7 de Novembro de 201 7 Amor, eu não sei se é possível que eles estejam lendo essas mensagens, mas eles me responderam algumas coisas que mencionei com você. Ontem, antes de eu ir dormir, conversei com Josué. Ele não era diferente deles no comportamento, mas me pareceu ser o mais franco até agora. Depois do jantar ele pediu para conversar comigo e se desculpou pelos modos com que as pessoas estão agindo. Ele me disse que essa é uma cidade que cresceu afastada das demais do estado, e quando alguém de fora aparece é uma novidade grande para eles, de modo que todos querem tratar bem, só que às vezes não sabem como. Eu disse que entendia perfeitamente e que ele ficasse sossegado. Mas então ele me pediu que eu não saísse da cidade ontem. Ficasse mais um tempo para conhecer mais do lugar. Eu confesso que não queria, não. Mas aceitei o pedido dele, só porque estava escuro e eu não queria me perder na floresta. O engraçado é que quando saímos da casa, havia umas 1 5 pessoas na porta, aí o seu Josué anunciou pra eles: “ela vai ficar!” e todos comemoraram como se fosse um grande acontecimento. 1 0:24 Estou em um almoço com várias pessoas, incluindo o prefeito. Comida muita estranha, eu nunca tinha provado essa carne, não gostei. 1 3:05 O almoço foi constrangedor. Eu contava alguma coisa e todos riam escandalosamente. Eles não tinham assunto entre eles. Perguntavam como era viver na minha cidade e com os meus costumes. Eu disse que era muito bom, eles acharam isso muito estranho, por algum motivo. Nesse momento que o lado humorado deles voltou a dar lugar ao lado de ódio. Falaram baixinho que era um absurdo o que eu disse, que como era possível viverem em um lugar tão liberal e que agora entendiam o porquê de eu ser assim. Vê se pode uma coisa dessas? E eles continuaram. Perguntaram como era que eu fazia para viver em um lugar sem os valores,
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como as outras pessoas se portavam nesse mundo, etc. Suportei até onde pude, você me conhece. Então falei pra eles que eu estava muito bem ambientada lá e que eu achava estranho o comportamento DELES. Todos se calaram e me olharam com uma expressão espantada. Então Virginia, que estava do outro lado da mesa, perguntou o que eu via de estranho neles. (Por onde eu começo?), eu respondi que achava diferente alguns costumes, como as roupas e o fato deles usarem cavalos. Isso foi suficiente para que todos eles me encarassem com ódio como se eu os estivesse insultado profundamente. Virginia me falou com a acidez que eu já vira antes: estão ouvindo o que essa imbecil falou da gente? Eu tentei rebater, mas eles me calaram com expressões e gestos de que a palavra era de Virginia. Ela prosseguiu em sua explanação do quanto sou horrível. Disse que me sinto superior, mas, na verdade, não seguir o que eles fazem é se afundar em desgraça. E que ela se recusava a continuar o almoço ao lado de uma pessoa como eu. Eu me revoltei e disse que eu não tinha feito nada para ser recebida daquela forma e que era impossível pra mim continuar almoçando com eles também. Amanhã ninguém me impedirá de sair dessa cidade! 22:35 1 8 de Novembro de 201 7
Carlos, eles não me deixarão sair... Estou com medo... 07:40 Eu acordei cedo, e antes de ouvir qualquer barulho pela casa, eu peguei as minhas coisas, havia arrumado depois da última mensagem que te mandei, e saí o mais rápido e cautelosamente que consegui. A cidade estava idêntica à casa, inclusive eu podia ouvir o mesmo programa de TV em todas as residências que eu passava. Começo a pensar que talvez não exista diferença entre essas pessoas, elas fazem as mesmas coisas, todos os dias, você me entende? Caminhei quase meia hora até chegar no início da floresta onde Virginia me encontrou. Eu não sabia exatamente qual era o caminho que eu deveria fazer para chegar à cidade mais próxima, então segui para o sul e pensava em me guiar pelo som de algum rio quando estivesse próxima, mas não foi possível. Antes que eu sequer adentrasse na floresta, saíram de dentro dela 1 5 pessoas, entre elas, os meus anfitriões. Eu fiquei espantada olhando para eles. Josué rompeu o silêncio e me disse em tom de ameaça que ele quis ser um amigo e falar com a maior paciência que tinha, mas que eu os estava irritando de uma maneira que logo não seria mais possível ter conserto. Eu nem sabia o que dizer, então Virginia, sem dizer nada, segurou o meu braço, que eu logo me livrei, mas ainda assim os outros me coagiram a voltar novamente para esta casa. Eu estou muito assustada.
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1 9 de Novembro de 201 7 Carlos, estou te mandando mensagem agora mais para tentar não entrar em desespero do que te avisar. Já passava da meia noite quando eu comecei a ouvir uma conversa muito esquisita. Roger dizia que não queria que me fizessem alguma coisa, mas a mãe dele disse que deu todas as chances e que eu não soube aproveitar. A conversa ficou mais estranha quando ela começou a falar que vai saborear muito e que Roger poderia cortar um pedaço também. Meu Deus, Carlos, acho que eles vão me MATAR. Eu coloquei minha mochila pra tentar segurar a porta do meu quarto, caso eles resolvam vir agora... Eu estou desesperada. Eu queria tanto que você pudesse ler as minhas mensagens. 02:23 Eu estou saindo agora daqui. Tentarei pegar outro caminho. O último barulho que ouvi deles foi por volta das 4 horas, acho que agora foram dormir. Eu preciso sair daqui urgente. Estou me tremendo de pavor, não quero fazer nenhum som, mas não sei se conseguirei. Que Deus me ajude... 05:01 Carlos, esse lugar todo é perturbado. Quando eu encontrei aquele homem comendo a aranha e me disseram que ele era um doente que perambulava pela floresta, eu acreditei. Mas eu estava muito enganada, não era um apenas, mas vários. Eu entrei na floresta e já estava feliz por achar que, desta vez, eu poderia escapar, mas aí eu avistei o primeiro. Estava todo sujo, com marcas de sangue e fezes pelo corpo, era como um animal quanto aos instintos básicos, mas andava como se estivesse anestesiado. Eu me senti enojada no mesmo instante e queria correr, mas eu não podia fazer muito barulho com medo de que ele me visse. Quando ele se afastou um pouco mais, tomei a direção contrária, o que foi uma péssima ideia porque encontrei dois, que tentaram me pegar assim que me viram, mas parece que eles eram incapazes de correr. A floresta estava infestada dessas pessoas. Eu fugi, estou escondida atrás da igreja, que não deve ser aberta faz muito tempo. Até Deus abandonou essa cidade. Agora vejo movimento, eles estão se organizando para me procurar. Não sei o que fazer para sair desse lugar. 09:40 Eu não os vejo mais pela rua. Não sei se voltaram para as casas ou estão me procurando pela floresta. Estou muito cansada e com fome... 1 6:34
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Nenhum movimento ainda. Eu vou voltar na casa e pegar alguma coisa que eu possa me defender dos estranhos na floresta. Não aguento mais ficar aqui. 1 8:03 Eu estou em pânico, Carlos... 20:1 5 Não sei se um dia você conseguirá ler isso. Se conseguir saiba que eu te amo. 20:1 7 Ninguém pode me ajudar. 20:1 8 Agora eu sei o que está acontecendo. Assim que eu chegar em um local seguro eu te conto o que vi. 23:40 20 de Novembro de 201 7 Como eu gostaria que você estivesse aqui. Eu estou atrás da igreja novamente, eles não vão me achar. Mais cedo, quando eu cheguei na casa, pensei que não havia ninguém, entrei na cozinha, que fica logo em frente a sala de estar, e peguei uma faca. Eu não queria machucar ninguém, mas se eu pudesse ameaçar aquelas coisas para eu passar, seria excelente. Mas eu não tive essa chance. Quando eu saí da casa, todos os meus anfitriões estavam em frente à porta, aguardando meu próximo passo. Roger disse que não adiantava eu fugir. Não havia saída da cidade. E que seria muito bom se eu me juntasse a eles. Eu não entendia o que de fato eles eram, mas eu sabia que não eram humanos. Eu estava enganada. Virginia me contou que eles retiraram deles mesmos os comportamentos “maus”. Agora eram todos iguais. Vou lhe dizer exatamente como eles me disseram: “comemos um pedaço do cérebro de cada um”. Virginia é uma espécie de pajé, que realiza um ritual muito antigo em todos os moradores da cidade. Eles precisam ingerir uma mistura criada por ela, e a sangue frio, ela abre a cabeça da pessoa a ser purificada, por isso eles usam perucas. Querem esconder a cicatriz. E, Meu Deus do céu, eles comem um pedaço do cérebro daquele ser humano. Disseram que assim o mau é devorado por eles. Alguns ainda tem pedaços do corpo mutilados pelo canibalismo deles, as camisas com mangas longas são para esconder as marcas. As pessoas que encontrei na floresta são os casos que deram errado. Eles esperam há muito tempo uma companheira para Roger, a
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cidade já está limitada por causa dessa prática macabra deles. Roger não queria que eu passasse pelo mesmo processo deles porque tinha medo que eu ficasse que nem o povo da floresta, por isso eles resolveram me dar uma chance para saber se eu poderia conviver com eles, mas decidiram que os meus hábitos não eram corretos, então iriam me transformar. Eu não ia deixar isso acontecer, então os ameacei com a faca para que não avançassem, e quando ganhei um espaço, corri até a porta e fugi. Eles gritaram que os outros estavam em todas as saídas da cidade, e que eu nunca escaparia. Era verdade, eu já corri o máximo que pude e sempre tem um vigiando. Não sei mais o que fazer. 00:07 Um momento, ouvi uns passos. 00:07 Meus Deus, Carlos, eles estão aqui perto. Vão me achar. 00:1 8 30 de Novembro de 201 7 Bianca?! Suas mensagens chegaram agora. Meu Deus! Você está bem?
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Chamada de voz perdida às 1 3:1 6 Chamada de voz perdida às 1 3:1 7 Chamada de voz perdida às 1 3:1 7 Chamada de voz perdida às 1 3:1 7 Chamada de voz perdida às 1 3:1 8 Chamada de voz perdida às 1 3:1 8 Chamada de voz perdida às 1 3:1 8 Chamada de voz perdida às 1 3:1 9 Chamada de voz perdida às 1 3:1 9 Bianca??
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Bianca???
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CADÊ VOCÊ?
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1 º de Dezembro de 201 7 Estou bem. Meus amigos me tratam bem. Quero que você venha. Aqui todo mundo é feliz. Tudo que é mau se foi de mim. 1 4:02
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Sobre os Autores: Saulo A. Sisnando (org.)
Breno Torres
Fรกbio de Andrade
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Georgina Cavendish (Bรกrbara Braganรงa Ferreira)
Igor Quadros
Lenmarck
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Uma noite em Veneza
Uma donzela é perseguida pelas apertadas ruas de Veneza por um feroz e belíssimo vampiro, que conheceu em um clássico baile de máscaras veneziano. O que havia naquele drique misterioso que a fez perder os sentidos? Conseguirá chegar ao Hoteo Ateneo – mesmo com passos cambaleantes – antes de ser alcançada pelo seu algoz? E por onde anda Sarah sua companheira?
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Não esqueça de gritar quando vir o Bicho-Papão
Não seja mau!
Andy tem oito anos, sofre bullying na escola, mora sozinho com o pai desde a morte da mãe e tem medo do escuro – ou do que se esconde no escuro, como ele prefere afirmar. Graças a essa sua fraqueza, boa parte dos objetos do seu quarto já foi removida do cômodo, já que quase tudo pode ser usado como esconderijo por certas criaturas; mas o velho guarda-roupa continua encostado na parede e aguarda pela noite que se aproxima. Andy está sozinho em casa.
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Bianca, uma bióloga competente, se perde de seus colegas no meio da floresta. Ela vai parar em uma cidade estranha. Lá encontra um homem que come tarântulas, uma mulher com fortes distúrbios de humor, pessoas bizarramente padronizadas. Mistério, horror, tensão. Nesse conto, bom e mau tem outro conceito. Descubra as consequências da liberdade de Bianca.
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O último Lobisomem de Whitestone
A antiga floresta de Whitestone que antes era o local preferido para os caçadores de lobo agora serve de abrigo de verão para os ricos integrantes de família Radcliff, que em sua última geração conta com Martha, Jhonathan e o pequeno George. Por muito tempo o menino foi impedido de visitar o local devido a sua estranha doença, mas com uma possível melhora; Jhon preparou uma viagem que promete ser inesquecível para a família, entretanto, o homem não contava que a floresta ainda possuía um terrível perigo selvagem, e não é de lobos que eu estou falando.
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O rio escarlate da Rainha Bruxa
Se gritos aterrorizados forem ouvidos cortando estridentemente as madrugadas do reino, sabe-se que a bruxa tem fome. Fome de quê, afinal? Tudo o que se sabe é que de eras em eras, um número assombroso de virgens são arrastadas pelos cabelos para as masmorras da frígida rainha bruxa e nunca se sabe o que acontece em seu covil de reclusão. Só o que se espera é que mais uma geração viva em paz. Afinal: a bruxa sempre renasce. E esse ciclo é infinito.
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O estranho caso da Múmia Perdida
O que você faria se descobrisse que foi encarregado de encontrar uma múmia em pleno inverno londrino? Era uma noite como outra qualquer para o Detetive Inspetor Basil Elliot, que curtia suas férias despreocupadamente, quando seu telefone tocou. Algo inesperado havia acontecido no Museu Britânico. Convocado às pressas, o relutante detetive acabou por se encontrar no meio de uma cena que misturava corpos em alto grau de decomposição, sarcófagos destruídos e uma valiosa múmia perdida.
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