Breve histรณria de Imperatriz
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Adalberto Franklin
Breve história de Imperatriz
Série Ciências Humanas Volume 1
Copyright © 2005 by Adalberto Franklin Todos os direitos reservados
Projeto gráfico: Ética Editora Coordenação editorial: Eduardo Franklin Adalberto Franklin Impressão: Ética Editora (Impressão digital)
Dados de Catalogação na Publicação Franklin, Adalberto. 1962Breve história de Imperatriz. / Adalberto Franklin. — Imperatriz, MA: Ética, 2005. 101 p. ; 18 cm; – (Série Ciências Humanas, v.1) ISBN 85-88172-20-7 1. Maranhão – História. 2. Pará – História. I. Franklin, Adalberto. II. Título. CDD 981.21
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
SUMÁRIO 1 O território .......................................................11 2 O rio Tocantins ................................................19 3 Os aborígenes ..................................................26 4 As frentes colonizadoras e as missões do Tocantins ....................................... 26 5 Procópio funda a nova Santa Teresa ............... 41 6 Sob o domínio do Maranhão ........................... 49 7 A Vila Nova da Imperatriz ................................ 54 8 A vida na Vila da Imperatriz ............................ 63 9 O Município de Imperatriz .............................. 71 10 À espera do desenvolvimento .......................... 75 11 A estrada para o Nordeste ............................... 81 12 A grande estrada do presidente Juscelino ....... 84 13 Francionamento do território ......................... 87 14 Economia ciclotímica ...................................... 90 15 Dados estatísticos de Imperatriz ..................... 95 Referências ......................................................97
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Apresentação Este livro nasceu de uma brincadeira entre amigos. No final de uma reunião da Academia Imperatrizense de Letras, discutindo-se a relação dos lançamentos previstos para a III Feira Imperatrizense do Livro, a ser realizada pela AIL dali a três semanas, o escritor Livaldo Fregona aproxima-se de mim e, em voz elevada, para que o também acadêmico Gilmar Pereira, a quem eu acabara de entregar uma prova de um dos seus livros a serem lançados nessa feira, também ouça. Fregona então provoca: – Eu não duvido que o Gilmar vá lançar esses livros na feira, mas aposto que ele somente os receberá faltando um minuto para o lançamento. Sem demora, e com ironia, respondi: – Que nada!, tempo mais curto terei eu, que ainda vou escrever o livro que vou lançar. – E no mesmo momento dirigi-me ao presidente da Academia, Luiz Carlos Porto, em voz alta, solicitando a inclusão de meu nome na relação dos que tinham livro para lançamento. 7
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Até aí, era uma brincadeira, porém, encerrada a reunião, pensei seriamente na provocação e perguntei a mim mesmo: – E por que não escrever um livro e publicálo no prazo de três semanas, mais de vinte dias? Convenci-me de que havia prazo e condições suficientes para a realização dessa inusitada tarefa. Na reunião seguinte da AIL, uma semana depois, Livaldo retoma a brincadeira: – E daí, cadê o livro? – Ah!, desisti daquele, comecei a escrever outro ontem – assegurei-lhe. Era verdade! Dirigi-me ao presidente da Casa e solicitei-lhe a mudança do tema e do título do livro informado na semana anterior. Agora seria Breve história de Imperatriz. O anterior, do qual já escrevera dois capítulos, deixei para outra oportunidade. Assim começou a história deste pequeno livro, que com brevidade trata de uma longa história. •••
Breve história de Imperatriz, no entanto, não é um trabalho improvisado, é uma obra científica. Contém ele, de forma abreviada, registros, anotações e conclusões de vinte anos de pesquisas relativas à história, geografia, antropologia e etnologia 8
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que empreendi sobre a região que este trabalho aborda, e que futuramente darão suporte a obra mais densa. O diminuto tempo havido para escrevê-lo, por certo, deve ter deixado lacunas, mas acredito que a escolha dos assuntos abordados tenha sido o essencial, o fundamental para a compreensão da história da povoação de Santa Teresa do Tocantins, fundada por Frei Manoel Procópio em 1852. Centenas de livros, relatórios, atas, discursos, documentos oficiais e anotações li sobre o tema nessas duas décadas, muitos destes em meu poder, aos quais recorri neste curto período de nove dias nos quais este livro foi escrito. Por isso ele é permeado de citações de outros autores que trataram desse tema e mesmo de documentos primários não muito conhecidos ou até inéditos. Procurei neste trabalho dar mais ênfase ao período e circunstâncias que antecederam a fundação de Santa Teresa e aos primeiros tempos de colonização de seu território, por serem menos conhecidos e as poucas informações publicadas são às vezes controversas. Sobre o período a partir da construção da rodovia Belém-Brasília, existem diversas publicações acessíveis, como as locais de Edelvira Barros e a Enciclopédia de Imperatriz, coordenada por Edmilson Sanches. Minha intenção é que esta pequena obra sir9
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va de motivação para um mergulho mais profundo em direção ao conhecimento histórico sobre a região de Imperatriz e do sul do Maranhão. Sentir-me-ei gratificado em saber que estas breves palavras, acondicionadas em livro de pequeno formato, auxiliaram alguém a compreender melhor o passado e o presente desta região, para que assim possa ajudar a projetar o seu futuro. O Autor
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1 O TERRITÓRIO Apesar de o litoral maranhense ter recebido o interesse e a presença de exploradores europeus desde o final do século XVI, a parte sul do Maranhão somente foi colonizada a partir do final do século XVIII, quase duzentos anos depois da fundação de São Luís pelos franceses. Até a segunda metade do século XIX, o povoamento do Maranhão se resumia à faixa litorânea e a algumas poucas vilas e povoados às margens dos rios Mearim, Pindaré e Itapecuru, sendo Aldeias Altas (atual Caxias) a vila que se localizada mais ao sul e também a mais distante da capital da Província. Havia completo desconhecimento sobre o vasto território ao sul, intensamente povoado pelas temidas nações indígenas, em sua maioria timbiras, que provocavam pavor aos habitantes das fazendas instaladas nas margens dos rios navegáveis, distantes dos povoados e pouco protegidas militarmente. Os governos do Maranhão não haviam se interessado em explorar nem colonizar essa região. 11
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Por isso não sabiam ao certo onde ficavam as nascentes dos principais rios que desembocavam no litoral, nem em que latitude o rio Tocantins se parava o Maranhão de Goiás. Somente a partir do surgimento da povoação de Pastos Bons, originada da entrada dos sesmeiros da Casa da Torre no território do Piauí, que afugentavam e aprisionavam índios para alargar as áreas de criação de gado, foi dado início ao processo de povoamento do sul do Maranhão. Depois de tomar as terras dos indígenas do sul do Piauí e instalar diversas fazendas, os sesmeiros e vaqueiros do senhor da Casa da Torre, sob o comando de Domingos Afonso Mafrense, também conhecido como Domingos Sertão, cruzaram o Parnaíba e ocuparam as belas pastagens do lado maranhense, território a que denominaram “pastos bons”. A vila de Pastos Bons tornou-se o centro de irradiação do povoamento do sul da Província. Lá eram organizadas as “bandeiras” de guerra aos índios e as “entradas” para a ocupação da nova fronteira a ser colonizada. Instalaram novas fazendas e fizeram surgir, nas primeiras décadas do século XIX, as povoações de Riachão, São Pedro de Alcântara (atual Carolina) e Chapada (hoje Grajaú).
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O termo “sertão dos Pastos Bons” passou então a designar, de acordo com o major Francisco de Paula Ribeiro, “todo o espaço que do último território de Caxias se descreve até as cabeceiras do rio Parnaíba, Balsas e Manoel Alves Grande” e “se limita com a capitania de Goiás pelas margens deste [rio Tocantins] e por uma parte também das do Turi até defronte da foz do Araguaia”. Os “sertões de Pastos Bons” compreendiam 13
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todo o território maranhense abaixo de Caxias, em toda sua extensão leste-oeste, do Parnaíba ao Turiaçu. Fica patente que não se considerava o rio Gurupi como linha limítrofe entre Maranhão e Pará. Nesse período, a Corte de Lisboa encaminhou diversas cartas régias aos governadores do Maranhão exigindo a organização de expedições de reconhecimento do rio Tocantins e estudos para sua navegabilidade desde Goiás até Belém, no que não foram atendidos. Somente em 1809, sob pressão de D. João VI, depois de a Corte ter se mudado para o Brasil, foi realizada oficialmente a primeira expedição de reconhecimento da região sul da Província, sob o comando do coronel Sebastião Gomes da Silva Belfort (ou Berford), no governo do capitão-general Francisco de Melo Manoel da Câmara. O roteiro da viagem de Belfort, que seguiu até o Rio de Janeiro, limitou-se a cruzar o Maranhão ladeando o rio Itapecuru e o Alpercatas, depois seguindo rumo à confluência do Manoel Alves Grande com o Tocantins, entrando daí em Goiás. Do território a leste, não colheu qualquer informação in loco. O “roteiro e mapa da viagem” que produziu para entregar ao Príncipe Regente, no Rio de Janeiro, apesar de ter merecido publicação na Imprensa Régia, no ano seguinte, não re14
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fletia a vastidão deste desconhecido território nem do rio Tocantins. Coube a Francisco de Paula Ribeiro, em 1815, em seu “Roteiro da viagem que fez o capitão Francisco de Paula Ribeiro às fronteiras da Capitania do Maranhão e da de Goiás”, escrever a primeira memória da região, quando foi designado como comissário da Província nas questões de limites entre Maranhão e Goiás, e depois, mais detalhadamente, em 1819, quando elaborou a “Descrição do território de Pastos Bons”. O litígio territorial com Goiás se deu porque o comerciante goiano José Pinto de Magalhães – que em Belém vendia couro de gado e índios aprisionados e retornava com mercadorias de interesse dos sertanejos goianos – se impôs como “comandante” da nascente povoação de São Pedro de Alcântara, onde fundou um porto e estabeleceu pacto com os índios macamecrãs (Krahô) para fazer guerra a outras tribos, a partir do que, em vista da inexistência de qualquer autoridade maranhense na região, passou a proclamar estas terras como de domínio da província vizinha, com o consentimento do governo de Goiás. Os limites entre as das províncias somente ficaram definidos em 1816, com intervenção do Príncipe Regente, depois de difíceis negociações, nas quais Paula Ribeiro foi o comissário represen15
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tante do Maranhão. Esse mesmo conflito ressurgiu em 1834, tendo sido definitivamente resolvido somente em 1854, pela Câmara dos Deputados, no Rio de Janeiro. Até 1852, o avanço da colonização sertaneja não havia conseguido ultrapassar o rio Farinha, afluente do Tocantins, abaixo de São Pedro de Alcântara. O temor aos índios timbiras, especialmente aos Canelas, aos Gaviões e aos Krikatis, unidos contra os invasores, fez estacionar a marcha dos criadores de gado durante quase quarenta anos. Esse receio se fortaleceu a partir de 1815, depois que uma bandeira repressiva saiu de Pastos Bons para vingar a destruição do Porto da Chapada e a morte de seus habitantes pelos Sacamecrãs e Picobigês, resultando numa batalha em que os colonizadores foram derrotados em cima de uma montanha que ficou conhecida como “Serra da Desordem”, Usando bordunas contra armas de fogo, os índios mataram 86 homens das tropas de Pastos Bons e os demais, sem munição, empreenderam fuga. Com isso, a região abaixo do Farinha, onde dominavam os Canelas, a do alto Grajaú e Pindaré, habitada pelos Gaviões, e as margens do Tocantins, até a foz com o Araguaia, onde viviam os Krikati e haviam outras aldeias dos Gaviões, constituíram-se em território de alto risco para os colo16
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nizadores e viajantes do Tocantins até a fundação de Santa Teresa, atual cidade de Imperatriz. Esse temos é comprovado no relato do cientista francês Francis Castelnau, que em agosto de 1844 subiu o Tocantins a partir da foz do Araguaia e, entre os dias 24 e 25 cruzou o território onde oito anos mais tarde frei Manoel Procópio estabeleceria a povoação de Santa Teresa. Em sua Expedição às regiões centrais do Brasil, ele diz: Instalamos o nosso acampamento na margem esquerda do rio, por sabermos que, até Boa Vista [atual Tocantinópolis], havia perigo em ficar do lado oposto, por causa dos índios bravos que aí residem e são conhecidos pelo nome de Gaviões. [...] Mais de um pescador infeliz encontrou a morte sob suas flechadas, por ter querido apanhar algum peixe daquele lado. [...] A margem esquerda, pelo contrário, é habitada pela tribo pacífica dos Apinajés. Mais acima, e sempre na margem direita, achamse os Caracatis, tribo perigosa [...].
As cachoeiras de Santo Antônio, acima, e as de Itaboca, abaixo, onde hoje se localiza a usina hidrelétrica de Tucuruí, lugares em que os navegantes tinham que retirar as cargas das embarcações para ultrapassar as corredeiras e canais, 17
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também se constituíam em dificuldades para o povoamento dessa área. A quase totalidade dos barcos que de Goiás desciam rumo ao Pará utilizavam o Araguaia, melhor navegável que o Tocantins. Faziam esse trajeto pelo Tocantins, de ida e volta, geralmente os que partiam de Porto Real, a atual Porto Nacional. Protegidos pelos obstáculos naturais e pela valentia dos timbiras, o sudoeste maranhense foi, portanto, o último recanto nordestino de resistência à colonização sertaneja.
EMBARCAÇÃO DO RIO TOCANTINS Embarcação típica do rio Tocantins no início do século XIX. Desenho do explorador inglês William John Burchell, feito às 6h30 do dia 10 de maio de 1829, próximo à embocadura do rio Farinha, início das “matas gerais’.
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2 O RIO TOCANTINS
O rio Tocantins foi o caminho pelo qual os colonizadores conseguiram alcançar e tomar posse das terras do cerrado e da pré-Amazônia, regiões conhecidas somente um século depois da chegada de Cabral. Alguns historiadores apontam a última década do século XVI como o período de descoberta das nascentes do Tocantins, por bandeirantes paulistas, e creditam ao bandeirante Domingos Rodrigues Velho o mérito de ser seu primeiro explorador, a partir a partir de suas nascentes. Pouco se sabe, porém, de suas descobertas. Há consenso entre os historiadores de que a primeira expedição a navegar o Tocantins rio acima foi comandada pelo francês La Blanjartier, em 1610, pouco antes da fundação de São Luís (1612) e Belém (1616). La Blanjartier teria subido o Tocantins a partir de sua foz e alcançado a Serra dos Pacajás (Carajás), esbarrando nas cachoeiras e corredeiras de Itaboca, local de difícil passagem para embarcações. 19
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Em 1613, Daniel de La Touche, o fundador de São Luís, chefiou uma grande expedição de reconhecimento do Tocantins. A partir da foz, essa expedição conseguiu ultrapassar as cachoeiras de Itaboca, já sob o comando de La Planque, e chegar à confluência do Araguaia, onde se dividiu em duas: uma para subir e explorar o Araguaia, a outra, o Tocantins. La Planque ficou no comando da expedição que subiu o Tocantins, uma viagem que teria durado nove meses. Resolvera ele permanecer nas margens do Tocantins, em busca de riquezas minerais, e quando desejou retornar a São Luís soube da expulsão dos franceses do litoral maranhense, depois que Daniel de La Touche e seus homens haviam sido derrotados pelos portugueses na conhecida Batalha de Guaxenduba, em 1614. Com isso, La Planque se estabelecera entre os índios do Tocantins, com quem teria vivido durante 13 anos. Em dezembro de 1653, o padre Antônio Vieira, superior dos jesuítas no Maranhão, comandou uma grande expedição de catequese e exploração pelo rio Tocantins, a partir de Belém. Sua frota contava com vinte canoas e trezentos homens – duzentos eram índios. Depois de subir 130 léguas e ultrapassar com dificuldades as cachoeiras de Itaboca, o escritor dos Sermões se viu diante de uma trama montada pelo governador 20
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do Pará, que não desejava a implantação da catequese jesuíta em seu Estado, por ser essa congregação contrária à escravização dos índios. Sem que Vieira soubesse, o governador mandara contraordem ao comandante militar da expedição para impedir as pretensões do sacerdote. Ao tomar conhecimento disso, decide então Vieira encerrar a expedição e voltar ao Maranhão. Outras importantes expedições de catequese e exploração do Tocantins foram realizadas até o final do século XIX, dentre as quais destacamos algumas. w Em 1719, o governador e capitão-general do Maranhão, Bernardo Pereira de Berredo, mandou organizar uma expedição “com dez canoas armadas em guerra” com o fim de “descobrir o curso do rio Tocantins”, sob o comando do capitão Diogo Pinto de Gaia. O seu regimento determinava que ela deveria subir o Tocantins até a confluência com o Araguaia e daí continuar por este, coletando drogas e buscando minérios. Equivocadamente, Berredo acreditava que “segundo as melhores notícias, o rio Araguaia desemboca no reino do Peru, que é das Índias de Espanha”. w Em 1780, um grupo de comerciantes, com auxílio do governador do Pará, Tristão da Cunha Menezes, envia uma expedição para reconhecimento do Tocantins até sua nascente, em Goiás. 21
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w Em 1792, Thomaz de Souza Villa Real deu início a uma expedição de reconhecimento dos rios Vermelho, Araguaia e Tocantins, com finalidade mercantil, desde Vila Boa, então capital de Goiás, até Belém.] w Em agosto de 1844, o conde Francis Castelnau, naturalista, empreendendo sua Expedição às regiões centrais da América do Sul, sobe o Tocantins em missão científica a partir do presídio de São João das Duas Barras, confluência com o Araguaia. Em suas anotações, faz interessante registro sobre a navegação do Tocantins e as primeiras habitações de colonos na região: Passaram [...] duas grandes embarcações que tinham subido o rio desde Belém, gastando nada menos de três meses em percorrer esse curto trajeto, o que poderá dar idéia dos obstáculos que o rio oferece à navegação. A este gênero de embarcação dá-se no país o nome de botes. Têm elas a aparência de choças flutuantes e deslocam cerca de vinte toneladas; fazem sempre a viagem de Belém a Porto Imperial e sua tripulação é constituída geralmente de vinte a trinta homens. Descem carregados de couro de boi, que em Goiás valem aproximadamente dois francos e 50 cêntimos e alcançam oito francos no Pará. Esse trajeto é feito em vinte e cinco ou trinta dias, ao passo que a subida do rio demanda quatro ou cinco meses.
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Configuração do rio Tocantins [Exerto. 1795?]
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w Em 1897, o geógrafo e naturalista francês Henri-Anatole Coudreau, contratado pelo governador paraense Lauro Sodré, fez uma expedição científica pelos rios Tocantins e Araguaia que resultou no livro Voyage au Tocantins-Araguaya, publicado em Paris nesse mesmo ano. *** Desde a expedição francesa de La Blanjartier, em 1610, até a construção da rodovia Belém-Brasília e da barragem de Tucuruí, apesar de suas perigosas cachoeiras e corredeiras, o rio Tocantins foi a principal estrada de ligação dos sertões e do cerrado brasileiro com a Amazônia. Por ele navegavam militares, religiosos, cientistas, comerciantes e exploradores, no cumprimento de suas missões públicas ou interesses privados. A professora e escritora sertaneja Carlota Carvalho, no livro O Sertão, avaliou que não fossem seus “obstáculos irremovíveis, Tauiri e Itaboca”, o Tocantins seria “um dos maiores rios do mundo, talvez o mais belo”, “o caminho preferido para importação de mercadoria manufaturada fora do país e para exportação das riquezas naturais do vasto sertão de Goiás, Mato Grosso e Maranhão grograficamente uno”.
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Sobre o rio TTocantins ocantins O rio Tocantins nasce numa altitude aproximada de 1.100 metros, na serra do Paranã, cerca de 60 quilômetros ao norte de Brasília, com o nome de rio Maranhão, tomando o nome de Tocantins após a confluência com o rio Paranã. Após um percurso total de cerca de 2.400 quilômetros, desemboca na baía de Marapatá (rio Pará), nas proximidades de Belém. As principais cidades banhadas pelo rio Tocantins são: No Tocantins: Porto Nacional, Miracema e Tocantinópolis; no Maranhão: Carolina, Estreito, Porto Franco e Imperatriz; no Pará: São João do Araguaia, Marabá, Tucuruí e Cametá. Afirma-se atualmente que o Governo Federal tem projetos para a construção de 40 usinas hidrelétricas nas bacias nos rios Tocantins, onde já estão em pleno funcionamento as de Tucuruí, Serra da Mesa, Lajeado e Cana Brava e uma está em construção (Peixe Angical); quatro em processo de licitação (São Salvador, Estreito, Santa Isabel e Couto Magalhães) e nove prontas para serem licitadas (Marabá, Serra Quebrada, Araguanã, Ipueiras, Tupiratins, Maranhão, Torixoréu, Novo Acordo e Mirador). Fontes: 1. Ministério dos Transportes [http://www.transportes.gov.br/ bit/hidro/detriotocantins.htm] 2. O mundo de Carolina [http://www.carolina.com.br/ int_desabafo.asp?id=10]
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3 OS ABORÍGENES Na época do descobrimento do Brasil, os índios tupis dominavam praticamente toda a costa brasileira. Seus diversos subgrupos, nos quais predominavam os tupiniquins, os tupinambás, os tamoios e os caetés, viviam em permanente guerra entre si. Os potiguaras e os tupinambás eram os senhores de todo o litoral nordestino. Os sertões eram ocupados pelos “tapuias”. Esse termo designava os “povos do sertão” e demais grupos não falantes da língua tupi. Também designava os inimigos, os não-tupis. Nestes se incluíam as diversas nações timbiras que ocuparam as margens dos rios São Francisco, Parnaíba e Tocantins. Desde a segunda metade do século XVI, após a fundação de Salvador e instalação do forte de Tatuapara, onde se levantou a Casa da Torre, de Garcia d’Ávila, os tapuias passaram a ser perseguidos e afugentados por bandeiras de apreamento e extinção, que visavam desocupar terras para a instalação de fazendas de gado. Os senhores da Casa da Torre – Garcia d’Ávila 26
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e seus descendentes – patrocinaram por mais de duzentos anos as expedições de “entradas” e “bandeiras” que devastaram os índios do sertão nordestino, da Bahia ao Piauí, e formaram o maior latifúndio conhecido na história do Brasil. O seu poderio militar e econômico intimidava até a Corte portuguesa, de quem exigiam e obtinham concessões de sesmarias a cada favor concedido ao príncipe e governadores. Ocuparam o sul do Piauí e fundaram a vila da Mocha, que logo se transformou em Oeiras, primeira povoação e capital do Piauí. Exterminaram e afugentaram índios, tomando para si todo aquele território. Muitas tribos remanescentes fugiram para o Maranhão, outras para o norte de Goiás, ao longo dos rios Itapecuru, Alpercatas, Tocantins e Manoel Alves Grande. Por volta de 1750, os sesmeiros e vaqueiros da Casa da Torre atravessaram o Parnaíba e fundaram a povoação de Pastos Bons, que se tornou a primeira vila ao sul da Província do Maranhão e de onde partiram as primeiras bandeiras de conquista e povoamento dos sertões maranhenses, estabelecendo-se por isso uma nova frente de batalha entre colonizadores e aborígenes. Na primeira década do século XIX, quando se intensificou o processo de povoamento do sul do Maranhão, dezenas de nações indígenas habita27
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GUERRILHA TAPUIA Gravura “Guerrilha”, do desenhista alemão Johann Moritz Rugendas, que fez uma “viagem pitoresca pelo Brasil” a partir de 1821
vam este território, com predominância dos povos timbiras. O militar português Francisco de Paula Ribeiro, que comandou o Destacamento Militar de Pastos Bons entre 1800 e 1823, e foi o primeiro historiador destas terras e gentes, em sua Memória das nações gentias que presentemente habitam o continente do Maranhão, cita mais de quinze diferentes povos habitantes na região dos “sertões de Pastos Bons”, tais como os amanajós, angetgês, apinajés, augutgês, canaquetgês, capiecrãs, gamelas, guajajaras, macamecrãs, norocoagês, piocobgês (gaviões), poncatgê (krikatis), ponecras, purecamecrãs, sacamecrãs, tacamedus, xavantes e xerentes. 28
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Relatos de outros estudiosos e viajantes apontam que o sudoeste maranhense, a partir da barra do rio Farinha até as matas do Gurupi; e das margens do Tocantins até o Grajaú, era ocupado pelos índios Timbira, com destaque para os gaviões, poncatgês (designados também caracatigês e caracatis, depois krikatis) e canelas. Curt Nimuendaju, o mais conhecido etnólogo do Brasil, que por volta de 1945 elaborou o trabalho que ficou conhecido como Mapa etnohistórico de Curt Nimuendaju, confirma a presença dos krikatis e gaviões, na metade do século XIX, espalhados desde as nascentes do Pindaré até as margens do Tocantins. Em seu livro The eastern timbira, publicado em 1946 nos Estados Unidos, Nimuendaju chama a atenção para o fato de que os krikatis foram muitas vezes confundidos com os gaviões (picobgês), o que explicaria o aparecimento tardio do termo “caracati” nas fontes históricas, e diz que esse erro foi cometido também por Paula Ribeiro, o que teria sido “o único erro que cometeu esse bom conhecedor dos antigos timbira”. A resistência desses índios, impedindo o avanço da colonização sertaneja oriunda de Pastos Bons até a metade do século XIX, tornou-os temidos e evitados até pelos navegadores do Tocantins. A destruição que provocaram na nascente povoa29
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ção do Porto da Chapada (futura Grajaú), em 1813, e na colônia militar de Leopoldina, instalada nas margens do alto Grajaú pelo governo do Maranhão, em 1817, para pacificá-los, concorreu para desencorajar as investidas dos colonizadores por muitos anos. Com isso, as “matas gerais” – termo com que se designava o território a oeste, ocupado pelos timbiras – tornou-se o último reduto indígena do nordeste não alcançado pelos vaqueiros e fazendeiros que, a partir do século XVI, devassaram e ocuparam os sertões nordestinos. Mais amedrontados ficaram os colonizadores, ainda, depois da fragorosa derrota imposta pelos timbiras a uma bandeira de Pastos Bons, no dia 28 de junho de 1813, no lugar que ficou conhecido como “Serra da Desordem”. Esse fato é assim nararado em O Sertão, de Carlota Carvalho: Derrubados pelas balas, arremessadas em incessante fuzilar, passando sobre seus mortos e feridos e avançando sempre, os timbiras entraram em meio dos bandeirantes e se apoderaram da carga de munições sem saber o que tomavam. [...] Mortos a tacape ficaram 86 bandeirantes em cima da serra. [...] Os que escaparam levaram a Pastos Bons a notícia da “desordem acontecida”.
Tratando da ribeira do Grajaú, na sua Descrição do Território de Pastos Bons, datada de 1819, Paula Ribeiro assevera que esta região 30
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[...] fica cercada de muitas povoações timbiras, que a hostilizam, especialmente os piocobgês, sendo estes aqueles que mais cruelmente a tem perseguido, não só obstando o aumento de sua população, mas diminuindo-lhe aquela que já está promovida.
Do outro lado do rio, terras goianas, ao longo de toda a margem do Tocantins, desde Boa Vista (Tocantinópolis) até a confluência com o Araguaia, habitavam os pacíficos Apinajés, que desde o início do século XIX mantinham bom relacionamento com navegantes e colonizadores, chegando a permitir até o estabelecimento de alguns em suas terras.
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4 A S FRENTES COL ONIZADOR COLONIZADOR ONIZADORAA S E A S MISSÕES DO TOCANTINS Na primeira metade do século XIX, quatro frentes colonizadoras avançavam em direção à préAmazônia maranhense: 1.A frente pastoril nordestina, originária das entradas e bandeiras da Casa da Torre, que a partir da vila de Pastos Bons ocupou o sul do Maranhão, tendo sido forçada a estacionar antes das margens do rio Farinha, na povoação de São Pedro de Alcantara, pelos índios timbiras. 2.A frente de expansão litorânea, patrocinada pelo governo do Maranhão para a conquista e povoamento do seu território, que avançava lentamente pelas margens dos rios melhores navegáveis, como o Itapecuru, o Mearim, o Pindaré e o Grajaú. 3.A frente de ocupação goiana, de interesses mercantis, que se dava a partir de Vila Boa de Goiás, capital da Província, Natividade e Porto Imperial, buscando a exploração mineral, a criação de gado e o comércio com o Pará, através dos rios Araguaia e Tocantins. Chegou a tomar posse 32
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de uma parcela do território maranhense, através do domínio de São Pedro de Alcantara (Carolina), tendo depois em Boa Vista (Tocantinópolis) a sua povoação mais ao norte. 4.A frente colonizadora do Pará, que desde o século XVII avançava ao longo das margens do rio Tocantins, até sua confluência com o Araguaia, instalando missões religiosas para catequese dos índios, fortificações militares e povoados, para apoio à difícil navegação desse rio. As “matas gerais” da pré-Amazônia, porém, continuavam inacessíveis, sob a proteção dos timbiras. Mais de 300 quilômetros das margens do Tocantins, do lado maranhense, desde os últimos currais da ribeira do Farinha até a confluência com o Araguaia, divisa com o Pará, tinham como habitantes apenas os índios. A Província do Pará tinha um interesse especial pelo melhoramento da navegação do Tocantins, o que lhe favoreceria no comércio com Goiás, na exploração das desconhecidas riquezas de suas margens e na posse definitiva da região, através da instalação de missões religiosas e militares para aldeamento e pacificação dos índios, dando com isso segurança aos navegantes e aos empreendimentos governamentais. Desde a metade do século XVIII, o governo do Pará apelava à Corte portuguesa pedindo que 33
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fosse incentivada a navegação do Tocantins. Os governos do Maranhão, sem qualquer plano de ocupação da região do Tocantins, não via interesse em sua exploração; acreditavam que isso traria mais vantagens ao Pará que ao Maranhão. Mesmo assim, em 1755, o governador e capitão-general do Maranhão, Gonçalo Pereira Lobato de Souza, encaminhou carta ao rei João I solicitando a organização de expedições aos rios Mearim, Grajaú, Tocantins e Itapecuru e o aldeamento dos índios encontrados. Em 1798, o então príncipe regente de Portugal, do João, futuro dom João VI, determinou em carta régia que o então governador do Maranhão, dom Fernando Antônio de Noronha, cumprisse um plano de navegação do rio Tocantins proposto pelo governador do Grão-Pará, dom Francisco de Souza Coutinho, para a navegação dos rios Tocantins e Araguaia. Essa determinação, e outras posteriores, nesse sentido, não foram cumpridas. Em 1840, através da Lei Provincial n.º 76, de 2 de outubro, a Província do Pará criou cinco missões, uma delas a de São João do Araguaia, na confluência dos rios Araguaia e Tocantins, fronteira com o Maranhão. Em 1844, em discruso à Assembléia Provincial, o presidente da Província do Pará, desembar34
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gador Manoel Paranhos da Silva Vellozo, informou que a missão de São João do Araguaia ainda não tinha missionário designado e revelou sua pretensão de estabelecer uma missão no Remansão, nas proximidades das cachoeiras de Itaboca. Na confluência do Tocantins com o Araguaia já funcionava, desde 1797, um registro para cobrança de impostos e o forte de São João das Duas Barras. O melhoramento da navegação do Tocantins vinha recebendo largo apoio do governo imperial, que em 1844 chegou a nomear um engenheiro para “fazer a exploração das cachoeiras e indicar os meios de melhorar nelas a navegação”. Chegando à vila de Baião, porém, o engenheiro adoece e pede exoneração dessa comissão. Empossado na presidência da Província do Pará em 5 de agosto de 1848, o conselheiro do Império Jerônimo Francisco Coelho, militar catarinense, atendendo à meta provincial, deu continuidade às tentativas de redução das dificuldades de navegação do Tocantins e estabelecimento de missões militares e religiosas em suas margens. Assim, nesse mesmo ano, tratou de provindenciar a instalaçõa da missão de Itaboca, anunciada em 1844. À falta de missionários experientes no trato com os indígenas, o presidente da Província do 35
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Pará contratou o carmelita baiano frei Manoel Procópio do Coração de Maria, que se deslocou para o Pará especialmente para essa missão. Em 29 de janeiro de 1849, o conselheiro Jerônimo Francisco Coelho recebeu um aviso imperial incumbido-o de “remover aqueles obstáculos impostos pela natureza à livre navegação e comércio do Tocantins”, motivo por que “preparou logo uma expedição encarregada de fundar uma colônia militar no centro das cachoeiras, a qual teria o nome de Santa Teresa”. De acordo com o relatório do secretário da Província do Pará, Francisco Paraibuna dos Reis, publicado em 1864, o presidente do Pará Confiou a execução de seu plano ao tenente-coronel reformado Ayres Carneiro, reputado como um dos militares paraenses de maior capacidade para desempenhar tão importante comissão. Este honrado oficial, porém, por falta de conhecimento das condições do rio, escolhendo o local Remansão para assento da colônia, condenou, sem o prever, o nascente estabelecimento a uma próxima destruição.
A expedição organizada por Jerônimo Francisco Coelho, composta por onze embarcações e muitos colonos, deixou o porto de Belém no dia 26 de junho de 1849 sob o comando do tenentecoronel João Roberto Ayres Carneiro, tendo como 36
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capelão Frei Manoel Procópio do Coração de Maria, jovem frade da Ordem do Carmo, então com 35 anos, experiente na lida com tribos indígenas. Três meses depois da partida dessa expedição, o próprio presidente da Província do Pará, em fala à Assembléia Legislativa Provincial, no dia 1.º de outubro, deu detalhes sobre essa por ele denominada “Missão do Alto Tocantins”. Adjunto à comitiva, que em junho deste ano partiu para o Tocantins superior, a fundar a colônia militar de Santa Teresa, e de que tratarei em lugar próprio, foi o missionário religioso carmelita Frei Manoel Procópio do Coração de Maria, conventual da Província da Bahia, e que a rogo meu ao Exmo. Arcebispo metropolitano, veio para este fim especial. Vai ele incumbido de missionar e aldear onde for mais conveniente, e segundo a oportunidade das circunstâncias, as tribos que habitam não só as margens do Tocantins, mas as do seu confluente Araguaia, até onde chegam as extremas da Província com a de Goiás.
A determinação, em obediência ao aviso imperial, portanto, era de “estabelecer um presídio e colônia militar perto da cachoeira de Itaboca, a mais difícil e perigosa” do rio Tocantins. Logo acima das primeiras corredeiras de Itaboca, no Remansão, mesma região em que, em 1653, o padre Antônio Vieira paralisou e encer37
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rou sua expedição pelo Tocantins, Ayres Carneiro e frei Manoel Procópio instalaram a “Colônia Militar de Santa Teresa”. Em seu relatório, Paraibuna dos Reis detalhou as circunstâncias em que a expedição ali se instalou: Estava-se então em outubro, época em que o Tocantins apresenta o aspecto mais encantador e aprazível. A beleza das margens, a abundância da caça, de peixes e de frutas, a altura e a fertilidade do terreno, a excelência das águas, a situação no centro das cachoeiras e o espetáculo grandioso das cataratas, tudo indicava que aquele lugar reunia ao feliz concurso dessas circunstâncias a mais perfeita salubridade. Sabe-se qual foi o triste resultado dessa agradável perspectiva: com a entrada do inverno, a ilusão dissipou-se e a realidade apareceu terrivelmente. A caça, o peixe, a beleza, a salubridade, tudo desapareceu; e a peste afugentou dali os que a morte ainda havia poupado.
Pouco tempo, portanto, existiu a Colônia Militar de Santa Teresa fundada por Ayres Carneiro e frei Manoel Procópio. O presidente da Província foi informado desse insucesso, no qual morreram muitos colonos que acompanharam a expedição. 38
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Nesse período, Jerônimo Francisco Coelho adoece e solicita ao governo do Império sua exoneração. No relatório entregue na posse do seu sucessor, Fausto Augusto d’Aguiar, ele trata dessa expedição dizendo que O religioso carmelita Frei Manoel Procópio do Coração de Maria, tendo partido desta capital com a comitiva que foi fundar a Colônia Militar de Santa Teresa seguiu, depois da extinção desta, para o presídio de São João do Araguaia, destinando-se a catequisar os índios que vivem nas margens do Tocantins e Araguaia.
As famílias dos colonos remanescentes da extinta colônia foram levadas para Belém, de onde seguiram no brigue Niterói para a Colônia do Araguari, novo local para onde foram encaminhados pelo governo. Algumas destas, por ordem do presidente do Pará, seguiram com o tenente Constâncio Dias Martins, o frei Manoel Procópio e alguns soldados “para fundar uma nova colônia em São João do Araguaia”, onde já existia o presídio e registro de São João das Duas Barras. Essa nova colônia, segundo o mesmo relatório, encontrou “mais felicidade”: “até as últimas notícias não havia experimentado as contrariedades com que teve de lutar na Itaboca e às quais sucumbira”. Contava então ela com “57 colonos de ambos os sexos, os quais se empregam na cultura de mandioca e outros gêneros”. 39
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TRÍPLICE FRONTEIRA (MA/PA/GO)
Produzido a partir de recorte do “Mapa Orográfico Brasileiro”, carta desenhada por Cândido de Souza Bispo sob a direção de Carlota Carvalho
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5 PROCÓPIO FUNDA A NOV NOVAA SANT SANTAA TERESA A partir da Colônia de São João do Araguaia, na confluência com o rio Tocantins, divisa tríplice das províncias do Pará, Goiás e Maranhão, frei Manoel Procópio dá início, em 1850, aos contatos com os índios da região, buscando aldeá-los de acordo com o termo firmado com o governo do Pará. Primeiramente, buscou ele contato com os apinajés, que habitavam a margem esquerda do Tocantins, território de Goiás, desde a povoação de Boa Vista até a confluência com o Araguaia, considerados pacíficos pelos muitos navegadores que os contataram. Estranhamente, o carmelita não tem sucesso com estes, que, pouco depois de aceitarem se aldear, rebelam-se e retornam às matas. Frei Manoel Procópio inicia então contatos com os temidos caracatis (krikatis) e gaviões, habitantes da margem direita do Tocantins, em território ainda indefinido se maranhense ou paraense. 41
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Com estes, surpreeendemente, o frade conseguiu estabelecer relações de amizade, depois de visitar suas aldeias. Ganhou a confiança e a promessa dos tuxauas, os chefes das tribos, de se aldearem sob sua direção. Frei Manoel Procópio escolheu, então, o lugar denominado “Campo dos Frades” (atual povoado de Frades, nas margens do rio Tocantins, agora município de Cidelândia), que achou mais apropriado para esse estabelecimento, e, também, por se situar próximo da Colônia de São João do Araguaia. Só a tribo dos gaviões teria “perto de mil almas”, de acordo com a estimativa do próprio missionário. Apesar da dedicação e esforços do frei Manoel Procópio, ressaltados em diversos relatórios dos presidentes da Província do Pará, o aldeamento dos índios do Araguaia-Tocantins se mostrava de difícil consolidação. Em relatório apresentado ao seu sucessor na presidência da Província do Pará, José Joaquim da Cunha, dia 20 de agosto de 1852, o comendador Fausto Augusto d’Aguiar relata que A missão do Alto Tocantins não tem produzido resultados satisfatórios. Creio no zelo do religioso, que dela está incumbido; mas infelizmente os índios que habitam essa parte da província e cujas principais tribos são as dos apinajés, caracatis, caracatigês e gaviões, aferra-
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dos aos hábitos da vida erradia, têm resistido aos seus esforços. Por vezes tem ele conseguido persuadir algumas dessas tribos a estabelecerem-se as aldeias, mas pouco depois as abandonaram, regressando para o estado que anteriormente se achavam. É de esperar, porém, que a insistência por mais tempo no emprego de meios brandos vença essas dificuldades com que se luta.
Foi exatamente a persistência do frei Manoel Procópio que manteve de pé sua missão e a existência da Colônia de São João do Araguaia, num período em que se reduziam as demais mantidas pelo governo do Pará, sobretudo depois da desanexação do Amazonas, ocorrida nesse período. Os caracatis, temidos pelos navegantes do rio Tocantins e pelos vaqueiros e bandeirantes dos Pastos Bons, a quem fizeram estacionar além das margens do Farinha por quase quarenta anos, renderam-se ao carmelita baiano. Submeteramse ao aldeamento e direção de frei Manoel Procópio. Em vista desse sucesso, no verão de 1852, o frade carmelita resolve refundar a sua Colônia de Santa Teresa, agora na margem direita do Tocantins, acima do aldeamento de Frades, local mais salubre que São João do Araguaia, por ele já conhecido e escolhido, onde ficaria mais próximo de Frades e dos aldeamentos que pretendia estabelecer entre as cachoeiras de Santo Antônio e a 43
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confluência do Araguaia, área até então considerada de domínio da Província do Pará. Assim, no dia 16 de julho de 1852, quando o rio Tocantins se mostrava com todo seu explendor, as praias e as margens se apresentavam exuberantes, frei Manoel Procópio aportou ao lado da confluência com o riacho Cacau, local que imaginou livre das águas durante o período invernoso. Com ele seguiam os colonos Juvenal Simões de Abreu e Zacarias Fernandes da Silva e suas famílias, além de quatro soldados, todos estes recrutados na Colônia de São João do Araguaia, da qual o religioso era capelão. A chegada do inverno, que nas grandes cheias represa o riacho Cacau e inunda todo o o campo escolhido por frei Manoel Procópio, demonstrou que a escolha não tinha sido adequada. A nascente povoação foi então mudada para outro local, pouco abaixo, nas ribanceiras que compreendem hoje a Praça da Meteorologia e suas imediações. Ali, o missionário logo construiu uma capela em honra a Santa Teresa d’Ávila, santa espanhola de quem carregava uma imagem e a quem deu o patronato da missão. Assim se fundou e estabeleceu a povoação de Santa Teresa, denominada também de Santa Teresa do Tocantins e Colonia de Santa Teresa. 44
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Exímio no trato com os indígenas, frei Manoel Procópio tratou logo de expandir seus contatos com as demais tribos da região. No mesmo ano, contatou com os índios das proximidades da barra do Farinha, que viviam em permanente conflito com os fazendeiros de Carolina, e convenceu-os a se aldearem sob sua direção. Da região do Farinha, o frade fez descer 302 indígenas para as proximidades de Santa Teresa, e, em seguida, mais 500 dos sertões. A isso fez referência, no dia 15 de agosto de 1854, o conselheiro Sebastião do Rego Barros, presidente da Província do Pará, em fala à Assembléia Legislativa Provincial: O missionário de Santa Teresa do Tocantins, que é um dos poucos dignos desse nome, comunicou-se em fins do ano passado que nessa ocasião haviam descido do sertão para a sua missão 500 indígenas, em consequência do que, e a seu pedido, mandei remeter-lhe novos objetos de ferramentas para lhes serem distribuídas, e ultimamente participa haver reunido aí mais 302 da tribo cracati.
Duas aldeias dos caracatis foram estabelecidas nas proximidades de Santa Teresa, uma rio acima, nas proximidades da embocadura do Cacau, outra abaixo, cerca de uma légua da povoa45
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ção. Os que desceram do Farinha teriam sido levados para as proximidades de Barra do Corda. A convivência entre os colonizadores e os indígenas, apesar do zelo e esforços de frei Manoel Procópio, em pouco tempo se deteriorou. As fazendas foram ocupando cada vez mais as matas e tomando o território antes livre dos timbiras, nascendo daí conflitos que perduraram durante décadas. O frade, que não se desligara do contrato com o governo do Pará, a ele prestava contas e recorria nos momentos de dificuldades, como demonstra o mesmo conselheiro Sebastião do Rego Barros em exposição feita em 1855: Ultimamente tive participação de que à missão de Santa Teresa do Tocantins haviam descido uns 8000 indígenas da tribo “gaviões” e que a requisição do respectivo missionário, que manifestara receios, tinha ido lá com algumas praças, das quais deixou algumas o comandante do destacamento de S. João do Araguaia. O dito missionário, por ocasião dessa mesma descida, representou-me sobre a necessidade de se criar ali um distrito de Paz e de subdelegacia de Polícia, bem como de um destacamento mais forte; reconhecendo fundamentos nesse pedido, não pude anuir à ultima parte dele à vista da pouca força de linha de que hoje dispõe a Província; no entretanto consultei-lhe-o sobre pessoa que pudesse ser nomeada subdelegado na intenção de criar o distrito de Polícia, e resolver posteriormente sobre o de Paz.
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Ressalta-se que o documento grafa 8.000 indígenas, o que deve ser erro tipográfico; provavelmente desejava-se grafar 800 índios, que é o numero aproximado dos que desceram para o Campo dos Frades. Mesmo afirmando reconhecer os “fundamentos nesse pedido”, o governo do Pará não atendeu ao rogo de frei Manoel Procópio, “à vista da pouca força de linha de que hoje dispõe a Província”. Com isso, o frade recorreu às autoridades do Maranhão, através do juiz de Direito de Carolina, pedindo socorro diante das ameaças dos indígenas, conforme informou em 1856 à Assembléia Legislativa o presidente da Província do Maranhão, Antônio Cândido da Cruz Machado: O missionário da nova missão de Santa Teresa [...] recorreu ao juiz de Direito da Comarca da Carolina pedindo força e proteção por causa das ameaças e depredações de gado que cotidianamente eram feitas, segundo sua frase, por mil arcos que circundam a missão.
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FRONTEIRAS DO MARANHÃO, 1821
Excerto da “Nova Carta do Brazil e da América Portuguesa’, de Alphonse de Beauchamp, em que os limites do Maranhão e Pará se dão no rio Turiaçu
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6 SOB O DOMÍNIO DO MAR ANHÃO MARANHÃO
Com a extinção e divisão do Estado do Maranhão e Grão Pará, pelo Decreto Real de 20 de agosto de 1772, coube ao então governador do Pará, João Pereira Caldas, definir a linha divisória entre as duas capitanias, e ele a estabeleceu pelo rio Turiaçu. Em seu Compêndio das eras da Província do Pará, editado em 1838, registrou Antônio Ladislau Monteiro Baena que Em virtude dessa determinação ele designa o rio Turiaçu para linha de demarcação dos respectivos territórios do Pará e Maranhão; devendo-se entender isso meramente quanto ao governo secular, pois que no pertencente ao eclesiástico toca ao monarca depois de informado legitimar a linha divisória do bispado pelo rio Gurupi lançada em provisão de dois de maio de 1758 pelo bispo dom frei Miguel de Bulhões. E que do lado da Capitania de Goiás termina o território civil do Pará na cachoeira nominada “O Seco do Curuá”, que marca a separação das duas capitanias, e que jaz entre a cachoeira de Santo Antônio e as Três Barras formada por duas ilhas; mas que a
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Diocese passava além, e compreendia o distrito da freguesia da Natividade nas Minas de São Félix.
Até a metade do século XIX, então, era consenso que divisa do Maranhão com o Pará, no rio Tocantins, se dava nas cachoeiras de Santo Antônio, enquanto no sentido leste-oeste o limite era o rio Turiaçu. A faixa, portanto, entre o Turiaçu e o Gurupi seria território paraense, o mesmo se dando entre as cachoeiras de Santo Antônio e a confluência do Tocantins com o Araguaia. Quando estabeleceu a nova povoação de Santa Teresa, sem saber, frei Manoel Procópio estava em terras maranhenses, porque, um mês antes, no dia 12 de junho de 1852, o Decreto Imperial n.o 639 havia designado o rio Gurupi como novo limite entre Pará e Maranhão. Definidos esses limites, em julho de 1854 a Assembléia Provincial do Maranhão aprovou uma lei determinando “o levantamento das cartas hidrográficas dos principais rios navegáveis da província”, com recomendação especial para a exploração do Tocantins, no trecho entre a cachoeira de Santo Antônio e São João do Araguaia, onde já estava fincada a povoação de Santa Teresa. Na exploração do Tocantins, além de outras circunstâncias, que depois se mencionarão, verificará o engenheiro quais sejam as ilhas, que
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ficam mais próximas à margem direita deste rio, e que na conformidade da Lei de 23 de agosto, deverá pertencer à Província do Maranhão; assim como o lugar mais próprio, abaixo da cachoeira de Santo Antônio, para o assentamento de um presídio, que sirva de ponto de escala às embarcações que navegarem da Carolina para o Araguaia.
O texto acima deixa patente que até então o governo do Maranhão demonstrava não ter qualquer conhecimento da existência da nova povoação de Santa Teresa, fundada na margem direita do Tocantins. Os registros fazem supor que somente em 1855, após o apelo de frei Manoel Procópio ao governo da Província, através do juiz de Carolina, foi que a povoação ficou conhecida em São Luís. O Decreto n.o 773, de 23 de agosto de 1854, havia estabelecido os limites entre Maranhão e Goiás, alargando o território maranhense até São João do Araguaia. Em seu relatório apresentado em 1856 à Assembléia Legislativa do Maranhão, o presidente da Província, Cruz Machado, detalhou que Pelo Decreto n.o 773, de 23 de agosto de 1854, que marcou os limites entre esta e a Província de Goiás, foram ainda eles entre esta e a do Pará fixados do ponto da confluência do Araguaia no Tocantins, no presídio de São João do Araguaia,
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até encontrar as vertentes setentrionais do rio Gurupi. Dantes, o espaço que se compreendia entre o mencionado ponto e a cachoeira de Santo Antônio pertencia à Província do Pará, que ali se limitava com a de Goiás; não obstante isso, os limites da Diocese do Maranhão por aquele lado foram sempre os que ultimamente se deram à Província; o bispado do Pará, portanto, terminava na margem direita do Tocantins no ponto fronteiro ao presídio, e por este até a sua foz no oceano, em conformidade com o disposto na provisão de 2 de maio de 1758. Como, porém, este território, ultimamente incorporado à província do Maranhão pertencia à do Pará, a presidência desta determinou que para ele se transferisse a missão de Santa Teresa, que, não obstante estar compreendida no território da jurisdição da Diocese do Maranhão, recusou prestar-lhe obediência. Tendo sido criada a freguesia do Senhor do Bonfim da Chapada pela Lei Provincial de 8 de maio de 1835, esse território da diocese, mas não ainda da província, foi unido à provisão do respectivo pároco pelo Revdmo. Bispo Dom Marcos Antônio de Souza. Esta questão, depois que o Revdmo. Bispo do Pará, a quem se dirigiu o do Maranhão, declarou ao missionário quais eram as raias da sua diocese, deve se considerar ultimada. O missionário da nova missão de Santa Teresa, depois que se recolheu ao presídio de São João do Araguaia o destacamento, que nela existia
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por parte da província do Pará, em consequência da desanexação desse território, que, conquanto esteja incorporado ao município da Carolina, em virtude da Lei Provincial n.o 398, de 21 de julho do ano passado, nem por isso deixou de pertencer, como dantes, à jurisdição do pároco da Chapada, desde a cachoeira de Santo Antônio e Serra da Desordem até as raias do Pará, recorreu ao juiz de Direito da Comarca da Carolina pedindo força e proteção por causa das ameaças e depredações de gado que, quotidianamente eram feitas, segundo a sua frase, por mil arcos que circundam a missão, como o dito juiz acaba de trazer ao conhecimento da presidência. [...] A perte deste extenso território, que demora entre a Serra da Desordem e o rio Gurupi, está ocupada por criadores que ali estabeleceram suas fazendas, distante 50 e mais léguas da vila e sede da freguesia da Chapada.
Desta forma, a missão paraense de Santa Teresa do Tocantins transformou-se em povoação maranhense, retornando os militares daquela província a São João do Araguaia, à qual, mesmo residindo em Santa Teresa, permaneceu ligado frei Manoel Procópio.
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7 A VILA NOV NOVAA DA IMPER IMPERAATRIZ A povoação de Santa Teresa crescia rapidamente. Fazendeiros do Grajaú, do Riachão e de Carolina logo se estabeleceram nesse território de muitas matas, rios, riachos e vegetação mais consistente, as “matas gerais” durante muitos anos cobiçadas. Menos de dez anos depois da chegada de frei Manoel Procópio, já havia grandes fazendas de gado e muitos milhares de bovinos. A prosperidade econômica dos fazendeiros e colonos se mostrava surpreendente e propícia, em vista das facilidades de comércio através do grande rio, por onde freqüentemente desciam os botes de Goiás. Ainda em 1856, antes de assumir a povoação de Santa Teresa, o presidente da Província do Maranhão, Antônio Cândido da Cruz Machado, atesta em seu relatório à Assembléia que Pertence a esta província a parte da margem oriental deste rio desde a foz do Manoel Alves Grande até o ponto fronteiro ao presídio de
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São João do Araguaia, e por ele descem para o Pará os barcos denominados botes, que vêm carregados de mercadorias do lugar do Peixe e vilas da Palma e Porto Imperial, da Província de Goiás, e os que partem da vila da Carolina e da Boa Vista, situada na margem ocidental.
O relatório de Francisco Carlos de Araújo Brusque, apresentado à Assembléia do Pará em 1862, também atesta esse movimento: A descida regular de botes de Goiás é de 25 por ano. Cada bote acompanha de 10 a 24 remos, conforme a lotação, e trazem piloto. Não usam velas; toda a viagem na descida é feita a remos, e à mercê da corrente; e na subida é feito a remos, vara, cirga, ganchos etc. O piloto ganha de 100 a 300$000 réis por viagem redonda; o proeiro 70 a 80$000 réis, os remeiros 40 a 60$000 cada um. A carga na descida é somente de couros secos e espichados, e na subida conduzem sal, louça, ferragens, fazendas e líquidos.
O governo do Pará e os comerciantes de Belém, que mantiveram permanentes contatos com os moradores de Santa Teresa, procuraram viabilizar o comércio e o transporte de gado de Santa Teresa para Belém, que se transformara numa grande metrópole nas duas décadas seguintes ao sangrento período da Revolta dos Cabanos. 55
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O Pará não produzia carne suficiente para a demanda de Belém, e sua principal fonte de abastecimento, a ilha de Marajó, não conseguia suprila. Por isso, aquela província tinha interesse de financiar a construção de uma estrada que partisse de Goiás, atravessasse o município de Carolina e a povoação de Santa Teresa, até chegar a um ponto navegável do rio Capim, de onde se chegaria com facilidade a Belém sem os inconvenientes das cachoeiras do Tocantins. Através dela, seria transportado o gado necessário ao abastecimento de Belém. Ao tomar conhecimento, por volta de 1855, da nova e exitosa povoação em seu território, o governo do Maranhão viu contemplado um projeto que acalentava desde 1854, quando a Assembléia aprovara a instalação de “um presídio que sirva de ponto de escala às embarcações que navegarem da Carolina para o Araguaia”, no “lugar mais próprio abaixo da cachoeira de Santo Antônio”. A Assembléia do Maranhão aprovou, assim, a Lei Provincial nº 398, de 27 de agosto de 1856, que criou a “Vila Nova da Imperatriz”, sancionada pelo barão de Coroatá, Manuel Gomes da Silva Belfort, então presidente da Assembléia. A localização da nova vila maranhense, de terminada pelo art. 1º dessa lei, foi motivo de muitas controvérsias e acirradas disputas políticas: 56
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Art. 1º. Fica criada a Vila Nova da Imperatriz sobre a margem direita do rio Tocantins, no sítio que o governo julgar mais apropriado para o assento da mesma, fronteiro, com pouca diferença, à Vila da Boa Vista da Província de Goiás, logo que haja nele começo de povoação, e casas para funcionarem as respectivas autoridades locais.
Não era essa a localização de Santa Teresa, transmudada para Vila Nova da Imperatriz em homenagem à imperatriz Teresa Cristina, mulher do imperador Dom Pedro II, a quem os moradores da povoação solicitaram proteção em suas demandas. Essa era a localização de Porto Franco, um incipiente povoado maranhense fronteiriço com a punjante Boa Vista. Os imperatrizenses contestaram e pediram a correção da lei, com o estabelecimento da sede da vila na povoação de Santa Teresa. Comenta o historiador Mílson Coutinho, em Imperatriz, subsídios para a história da cidade, que “pela primeira vez se viu um governo criar uma vila num lugar onde nada existia e deixar de lado um vilarejo já em franca ascensão”. Mílson Coutinho afirma ainda que Com a Lei 398, de 27.8.1856, muitas pessoas, ao dela conhecimento tomarem, trataram de se fixar defronte de Boa Vista, e logo um pequeno arraial
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foi ali se formando, à testa do qual alguns fazendeiros construíram suas casas residenciais às margens do Tocantins.
Esses novos habitantes de Porto Franco empenharam-se em manter ali a sede da vila, construindo benfeitorias, melhorando o aspecto da povoação, apelando a políticos da capital e mesmo comprometendo-se a erguer os prédios públicos necessários à sede da vila. Até então, a Vila Nova da Imperatriz, criada pela Lei 398, de 1856, não fora instalada. De acordo com a lei, isso aconteceria “logo que haja nele começo de povoação, e casas para funcionarem as respectivas autoridades locais”. Numa manobra atribuída ao frei Manoel Procópio, a sede se estabeleceu em Santa Teresa, em 1858, conforme relata a historiadora imperatrizense Edelvira Marques de Moraes Barros em seu livro Imperatriz: memória e registro: [...] em maio de 1858, o presidente da Província do Maranhão, Dr. Francisco Xavier Paes Barreto, remete ofício à Comarca Municipal da Vila de São Pedro da Carolina informandolhe que “na forma do Decreto de 13 de novembro de 1832, fosse tornada efetiva a criação da Vila Nova da Imperatriz, devendo proceder à eleição dos vereadores no primeiro domingo do mês de junho de 1858”.
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O juiz de Direito de Carolina manda realizar as eleições na povoação de Santa Teresa, em vez de Porto Franco, segundo ainda Edelvira Barros, “por uma mesa eleitoral constituída pelos vereadores de Carolina”. Foram assim eleitos os vereadores da primeira legislatura da Câmara de Vila Nova da Imperatriz, composta por cinco membros: Amaro Batista Bandeira, Didier Batista Bandeira, Atanásio Maciel Parente, Domingos Pereira da Silva e José Crispiniano Pereira. Partidários da causa de Santa Teresa em desfavor de Porto Franco, o juiz de Direito de Carolina e os vereadores da Câmara desse município, sem dúvida, foram parte dessa maquinação que teve como desfecho a instalação da Vila Nova da Imperatriz em Santa Teresa, apesar da determinação legal. Os moradores de Porto Franco protestaram. Recorreram ao governo provincial e à Assembléia Legislativa. Deu-se início a uma intensa disputa em que não faltaram muitas hostilidades entre os moradores das duas povoações. Essa situação, no entanto, durou pouco. No ano seguinte, a Assembléia Provincial aprovou a Lei nº 524, de 9 de junho de 1959, confirmando a sede da vila em Porto Franco. Em seu relatório de 1859, o presidente da Província do Maranhão, João Lustosa da Cunha Paranaguá, registra que 59
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A sede da nova Vila da Imperatriz da Comarca da Carolina foi transferida da povoação de Santa Teresa para a do Porto Franco pela Lei nº 524 daquela mesma data, na qual foi autorizado o governo da Província a receber oferecimento feito pelo cidadão Leonardo Pereira de Araújo Brito relativamente à construção da nova matriz, e a aceitar a casa que ofereceu José Joaquim Severino para as sessões da Câmara e do Júri e para as audiências judiciá-rias, até que possa ser outra construída com esse destino às expensas da Província. Nesta conformidade assinou o referido cidadão Leonardo Pereira de Araujo Brito um termo de obrigação por si e pelo cidadão Severino.
Dá-se então início a uma batalha ainda mais acirrada entre os líderes das duas povoações. As contestações, debates e controvérsias acerca do local da sede da nova vila envolveram o governo provincial, a Assembléia Legislativa, as câmaras municipais da região e o Judiciário, convidados a dar parecer sobre a demanda. Os vereadores de Boa Vista do Tocantins afirmaram que em Porto Franco havia apenas “uma única casa, que é a de José Joaquim Severiano, as mais são cabanas que, ao todo, farão uma dezena pouco mais. A Câmara de Carolina, em seu relatório, afirmou que “Porto Franco mais parece fazenda de fazendeiro pobre do que uma vila, e sem proporções para futuro engrandecimento”, estabelecida “em local pedregoso, lamacento e sepa60
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rado dos campos vizinhos por uma légua de mata”. O juiz de Direito da Comarca de Carolina, Antônio Buarque de Lima, defensor de Santa Teresa, faz elogios ao dinamismo econômico e localização privilegiada desta povoação. Essa questão chegou até a imprensa de São Luís, onde o Publicador Maranhense publicou, em 1º de junho de 1861, uma extensa matéria assinada pelo líder porto-franquino José Joaquim Severiano, onde faz a defesa e argumentos dos moradores de Porto Franco, detratando os terrenos e a salubridade de Santa Teresa. Edelvira Barros registra, em seu livro citado, que em São Luís, junto às autoridades estaduais, o juiz de Carolina, Antônio Buarque de Lima, intercedeu pelo retorno da sede da vila a Santa Teresa, e que Outras providências foram tomadas, até conseguir que o presidente da Província, Antônio Manoel de Campo Mello, assinasse a Lei nº 631 em 5 de dezembro de 1862, mudando de Porto Franco para Santa Teresa a sede da Vila Nova da Imperatriz.
O art. 2º da Lei 631, que devolveu a Santa Teresa a sede da Vila Nova da Imperatriz, estabelecia responsabilidade aos vereadores em exercício, tenente-coronel Amaro Batista Bandeira, capitães Atanásio Maciel Parente e Domingos Pereira da Silva, Didier Batista Bandeira, Alexandre José Mari61
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nho e Manoel da Abreu Valadares, de realizarem, às suas custas, “uma casa para as sessões da Câmara Municipal, com separação para prisões e aquartelamento” e de concluírem, em quatro anos, o prédio da igreja Matriz. A animosidade entre os líderes das duas povoações somente terminaram após a criação da Vila de Porto Franco.
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8 A VIDA NA VILA DA IMPER IMPERAATRIZ Nas três últimas décadas do século XIX, a povoação de Santa Teresa consolida-se como sede da vila, passando a ser denominada apenas Imperatriz ou Vila da Imperatriz. Firma-se como território divisor entre Maranhão, Pará e Goiás, pólo de criação de gado e porto fluvial estratégico para os navegantes do Tocantins. De acordo com o historiador César Marques, pouco antes de 1870 os habitantes de Imperatriz “são geralmente criadores de gado, mas lavram também arroz, milho, feijão e cana-de-açúcar somente para seu consumo e aguardente”, acrescentando que a vila – incluindo-se Porto Franco – tem “Câmara Municipal, dois juízes de paz, dois subdelegados, coletoria, e poderia ter júri e foro civil, pois que cada um dos dois distritos pode fornecer o número legal para constituir o tribunal”. Imperatriz possuía, ainda, “um batalhão da Guarda Nacional, formado por seis companhias, e agência dos Correios, instalada em 1865”, e a economia tinha como suporte a exportação de 63
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couros secos de gado e a exploração de óleo de copaíba, comercializados com o Goiás e o Pará. A historiadora Edelvira Barros diz que, no Tocantins, “era a vila da Imperatriz o porto preferido, o mais movimentado”, razões pelas quais recebeu “não somente alguns membros das famílias sertanejas, como também migrantes de locais mais distantes”. E assegura que É difícil identificar as famílias que moravam na sede e as do sertão. Elas estavam sempre se entrelaçando. Os fazendeiros mais abastados mantinham casas na vila, onde passavam algum tempo cumprindo muitas vezes mandatos políticos ou empregos públicos.
Em relação à situação financeira dos habitantes da vila, diz a historiadora imperatrizense que Dos que se estabeleceram nesta região, poucos eram considerados ricos. Mesmo estes, residiam inicialmente nas fazendas em casas simples e labutavam na lida, bem como suas famílias. Foram trabalhando, utilizando-se dos campos naturais, tendo como vaqueiros homens brancos e também mestiços e em menor escala negros. As condições propiciaram o enriquecimento, possibilitando a transformação dos ranchos primitivos em grandes casarões, que às vezes até capela tinham.
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Mas a grande maioria era modesta, sendo os próprios e os filhos, os vaqueiros.
Além da criação de gado, os imperatrizenses do final do século XIX dedicavam-se também a atividades agrícolas, artesanais e industriais. Cultivavam arroz, milho, mandioca, algodão, cana-deaçúcar, tabaco e produtos destinados ao consumo familiar. Produziam peças artesanais com o couro do boi. Fabricavam farinha, açúcar, rapadura, cachaça, fumo e diversos outros derivados da produção agrícola. Pela Lei Provincial nº 985, de 20 de maio de 1872, foi criada a Comarca de Imperatriz, em território desanexado da de Carolina, com jurisdição sobre Porto Franco. Seu primeiro juiz, nomeado em 3 de maio de 1873, foi o bacharel Francisco Domingues da Silva Júnior – pai do futuro senador Luís Domingues –, que faleceu em janeiro do ano seguinte, depois de uma longa viagem a cavalo. Seu substituto, Antônio Pereira da Silva Brambilla, nomeado por Carta Imperial em 1874, faleceu em 1875, em Imperatriz, onde foi enterrado. Diversos magistrados que conquistaram grande reputação no cenário maranhense e mesmo nacional judicaram em Imperatriz nas últimas décadas do século XIX, em sua maioria oriundos da Faculdade de Direito do Recife. 65
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O ensino oficial das letras demorou a chegar a Imperatriz. Uma lei provincial de 1864, dois anos depois do estabelecimento da sede da vila, criara “duas cadeiras de primeiras, com o ordenado anual de 600 mil réis na Vila Nova da Imperatriz, sendo uma para o sexo masculino e outra para o sexo feminino”. A intenção, porém, não saiu do papel. Diz Edelvira Barros que o padre Domingos Elias da Costa Morais, sucessor de frei Manoel Procópio, contrariado com essa situação, vai a São Luís e faz protestos na imprensa contra o descaso do governo da Província para com esta vila, tendo de lá retornado com recursos para abrir uma escola de primeiras letras. Em seu Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, César Marques reitera que A aula primária, desde que foi criada, não teve professor em exercício. Condoído de ver aquela pobre gente privada até do ensino das primeiras letras, abriu esse bom vigário uma aula que, desde outubro de 1867, tem sustentado gratuitamente.
Em muitas fazendas, porém, os jovens eram alfabetizados pelos próprios familiares ou por um mestre-escola contratado, como foi costume nos sertões até a metade do século XX. 66
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No mesmo período, em 8 de abril de 1869, o jornalista Temístocles Maciel Aranha havia escrevido, no jornal O Paiz, um reclamo em vista do abandono governamental a que a nascente Imperatriz era submetida: Lá para as margens do Tocantins existe esta Vila e o seu estado mostra bem quanto está longe das vistas do governo. Sem templo para Matriz, sem casa da Câmara, é a Vila da Imperatriz uma pobre povoação, rica de elementos para ser uma grande cidade, que vegeta abandonada, inteiramente esquecida.
Apesar desse descaso, a acanhada vila fortalecia-se economicamente. No final do século, registrava um rebanho de quarenta mil cabeças de gado, que era vendido em pé para várias localidades vizinhas e outras mais distantes, como o baixo Mearim e o Engenho Central (atual Pindaté-Mirim), no Maranhão, e Belém, no Pará. Na virada para o século XX, os irmãos Pimentel, de Grajaú, descobriram caucho nas matas do sul do Pará, culminando com a fundação de Marabá. Isso deu novo dinamismo ao movimento do porto de Imperatriz e ao comércio da vila, tornando-a o principal centro abastecedor dos exploradores da castilloa ulei, a árvore de alto porte que produz látex para o fabrico de borracha e de alto preço no mercado internacional, 67
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apesar de menos consistente que a seringueira amazônica. Carlota Carvalho, no livro O Sertão, destaca que A fama dessa riqueza atraiu quantidade inumerável de gente de todas as partes do Brasil e uma onda interminável de emigrantes da Bahia, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Maranhão transitou pelo porto da Imperatriz em busca do Eldorado do Itacaiúna.
O historiador balsense Eloy Coelho Neto, em seu livro História do Sul do Maranhão, anotou que Em reportagem publicada em O Norte, de Barra do Corda, em 1904, registra-se que o porto de Imperatriz, além da lancha belga que faz duas ou três viagens mensais a São João, na foz do Araguaia, conserva-se diariamente repleto de botes, batelões, reboques, montarias, que vivem em completa evolução, descendo umas, subindo outras.
Durante quase vinte anos, a exploração do caucho foi a principal atividade da região, decaindo somente na década de 1920, depois da expansão dos seringais asiáticos, o que fez esse produto perder interesse no mercado internacional. Mesmo assim, a sede da Vila da Imperatriz continuava acanhada, sem a estrutura urbana e 68
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serviços públicos que correspondessem ao seu dinamismo e crescimento econômico. Embora tenha se tornado na última década do século XIX a segunda maior fonte de arrecadação do Estado, os governantes não a retribuíam com obras. Essa condição é confirmada pelo historiador Mílson Coutinho, ao asseverar que Após pacientes pesquisas, em velhos livros e registros do Arquivo Público do Estado, exame de receitas e despesas, podemos afirmar que, por volta de 1895, a Coletoria da Vila da Imperatriz rendia Rs 2:027$000, o 2º lugar em todo o Estado.
Nessa época, de acordo com o professor e historiador José Ribeiro do Amaral, em 1896 a Vila da Imperatriz tinha 48 casas de telha, 88 de palha; igreja Matriz coberta de telha e tapada em parte de adobos e em parte de palha, em estado de ruína. Uma capela sob a invocação do Bom Jesus, coberta de telha e tapada de adobos, de propriedade de Francisco Calixto de Araújo Catuaba. Cemitério murado, ameaçando ruínas; coletoria e agência de correios; duas cadeiras de instrução primária, mantidas pelo Estado, e uma aula particular fundada em janeiro do corrente ano (1896) com freqüência de dez alunos. Tem 47 casas de negócio de secos e
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molhados e algumas tendas de artes e ofícios, sendo: 2 alfaiates, 5 sapateiros, 1 ourives, 5 ferreiros, 1 oleiro e 1 funileiro.
Assim, Imperatriz chegou ao alvorecer do século XX. Embora com sinais de prosperidade e pujança, distante e sem ligação por estradas com a capital, esquecida pelo poder público do Estado. Por causa desse isolamento, que perdurou ainda por muito tempo, era cognominada de “Sibéria maranhense”, para onde os governantes enviavam muitos servidores indesejados. Dessa forma Imperatriz chegou ao alvorecer do século XX. Embora com sinais de prosperidade e pujança, distante e sem ligação por estradas com a capital, esquecida pelo poder público do Estado. Por causa desse isolamento, que perdurou ainda por muito tempo, foi cognominada “Sibéria Maranhense”, para onde os governantes enviavam muitos os servidores indesejados.
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9 O MUNICÍPIO DE IMPER IMPERAATRIZ
Passaram-se 62 anos entre a instalação definitiva da sede da Vila Nova da Imperatriz na povoação de Santa Teresa, em 1862, até que esta fosse elevada à categoria de cidade, através da Lei nº 1.179, de 22 de abril de 1924. Era esse um período do início da retomada da economia extrativista, depois da queda de mercado do caucho. Na mesma região, descobriu-se a Bertholletia excelsa, conhecida como castanha-dopará, e Marabá tornou-se, a partir de 1927, seu principal ponto de extração. O porto de Imperatriz retoma o movimento da década anterior e seus habitantes se envolvem em massa nessa nova promessa de riqueza. O lucros daí advindos, no entanto, conforme a historiadora Edelvira Barros, “não era do castanheiro, aquele que se embrenhava na mata, sujeito a ataques de índios, cobras, malária e outros; estes continuavam pobres e com eles a cidade”. 71
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Essa assertiva da historiadora imperatrizense ganha lastro em anotação do pároco de Imperatriz, frei Cherubim de Carpiano, no livro de tombo da paróquia de Santa Teresa, datada de 22 de fevereiro de 1824: O pessoal masculino, hábil ao trabalho, passa o inverno nos igarapés das vizinhanças de Marabá, ajuntando castanhas, cuja colheita só pode ser em pleno inverno, porque, todos dizem, as castanhas só caem pelas chuvas. O pessoal começa a descer no fim de outubro e já pelo janeiro-fevereiro e parte de março a vila de Imperatriz está quase deserta, pois contavam-se, em dito tempo, apenas 18 ou 20 pessoas, homens quase todos inválidos. Coisa digna de ponderação é o saber da boca dos mesmos negociantes, metidos na colheita supra, que de 100 pessoas que vão ajuntar castanhas, voltam somente mais ou menos 75, e assim mesmo uns deles voltam inábeis a qualquer serviço e incomodados por todo o ano seguinte.
Um dos pioneiros da coleta de castanha nas matas de Marabá foi o comerciante e político Simplício Moreira, de Imperatriz. Ele se tornou um dos mais prósperos coletores e comerciante de castanha-do-pará; foi proprietário de extensos castanhais naquela região, comprados do governo daquele estado. 72
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RUA 15 DE NOVEMBRO Rua 15 de Novembro, no início da década de 1920, pouco antes da criação do Município de Imperatriz. Ilustração publicada no “Annali Francescani”, edição de 16 de janeiro de 1924 (Milão, Itália)
Em dezembro de 1923, pouco antes de a Vila da Imperatriz ser elevada à condição de cidade, foi realizado um recenseamento de sua população. O livro de tombo da paróquia de Imperatriz registra que, “no mês de dezembro de 1923, foi escrupulosamente contado o pessoal desta Vila e verificou-se ser composta de 823 pessoas”. Antes, em 1912, as linhas de telégrafo chegaram a Imperatriz, a partir do Engenho Central, instalando uma residência de guarda-fios que deu origem ao povoado de Montes Altos. A partir daí, a vila passou a sair do isolamento, podendo comunicar-se com o Brasil e o mundo, embora ne-nhuma estrada possuísse ainda que a ligasse por terra com outras regiões. 73
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Registros oficiais do governo do Maranhão apontam que em 1917 havia 445 propriedades registradas no território da vila. Em 1917, a Coletoria estadual arrecadou 4:120$890 réis; e em 1919, 6:500$000, o que significava uma boa receita, embora Caxias, a mais próspera cidade do interior, tivesse arrecadado Rs 38:000$000 em 1917. Quando o governador Godofredo Viana assinou a lei que elevou a vila à categoria de cidade, Imperatriz era governada por Gumercindo de Sousa Milhomem, o primeiro prefeito eleito da Vila e também o mais jovem de sua história. Nascido na Boa Vista do Tocantins (atual Tocantinópolis), em 1901, tinha somente 21 anos quando eleito em 1922, e, portanto, 23 anos recém-completados quando Imperatriz se transformou em cidade. Empossado no dia 1º de janeiro de 1923, governou o município até 1º de janeiro de 1928.
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10 À ESPER ESPERAA DO DESENVOL VIMENTO DESENVOLVIMENTO
Desde sua elevação a cidade, Imperatriz ainda esperou três décadas para se ver ligada por estradas ao restante do Maranhão e do país, o que veio a ocorrer somente a partir de 1953, com a abertura de uma estrada ligando-a a Grajaú. Nesse período, porém, a cidade recebeu importantes benefícios patrocinados pelo governo federal, pelo próprio município e mesmo por empresas privadas, como veremos a seguir. ••• Em 1931, o governo federal, desejando ampliar os vôos do Correio Aéreo Nacional pelo interior, nomeou, por indicação do Ministério da Guerra, o major-aviador Lysias Rodrigues para chefiar uma missão de estudos e proposta de implantação de novos campos de pouso. Um dos objetivos era facilitar a realização de vôos do Rio de Janeiro para a Amazônia, ao mesmo tempo em que se 75
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criava uma rota econômica para os vôos entre os Estados Unidos e os países do Cone Sul. Uma expedição comandada por Lysias Rodrigues parte da então capital federal no dia 19 de agosto desse mesmo ano e percorre os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Maranhão, estudando as possibilidades de rotas e locais de campo de pouso. Imperatriz foi um dos locais escolhidos. Mas estourou a Revolução Constitucionalista de 1932 e esse plano foi suspenso. Apesar de nascido no Rio da Janeiro, Lysias Rodrigues combateu por São Paulo, comandando o 1º Grupo de Aviação Constitucionalista, com sede no Campo de Marte. Em outubro, os paulistas se renderam e Lysias e seus companheiros foram reformados e exilados. De volta ao Brasil, em 1934, Lysias reassume o projeto das novas rotas do Correio Aéreo. Cobra insistentemente dos prefeitos a construção dos campos de pouso. Em Imperatriz, o prefeito Martiniano Miranda retarda o início das obras, alegando falta de recursos. É freqüentemente cobrado por telegrama. Em 17 de junho o prefeito telegrafa ao secretário-geral do governo do Maranhão solicitando autorização para a construção da obra, orçada em quatro contos e quinhentos mil réis. Um mês depois o prefeito Martiniano é substituído interinamente pelo seu secretário Manoel Milhomem, que constrói o campo de pouco. Lysias 76
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pretendia fazer o vôo de inauguração desses campos no mês de julho, mas se vê obrigado a adiar o evento por mais de 90 dias. Em artigo sobre o perfil de Lysias Rodrigues, o coronel-aviador Manuel Cambeses Júnior relata o vôo inaugural dessa rota: Em 14 de novembro de 1935, decolando do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, em companhia do sargento Soriano Bastos de Oliveira, em uma aeronave Waco C.S.O., deu início ao levantamento aéreo da área anteriormente esquadrinhada, inaugurando todos os campos de pouso que havia implantado em seu famoso périplo, quatro anos antes. [...] Por onde passaram causaram estupefação, curiosidade e incredulidade, trazendo alegria e esperança àquela gente simples do sertão.
Estava então Imperatriz ligada à capital federal e a mais de uma dezena de cidades que integravam a rota do Correio Aéreo Nacional até Belém. Registrou a historiadora Edelvira que os serviços do CAN Atendiam encomendas de coisas pequenas, como remédios e livros. Traziam eles jornais das capitais e o jornal A Tarde, de Carolina. Também as revistas em circulação no país vinham até aqui, como a bem impressa e
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versátil Vida Doméstica. Tudo isso, além do essencial: a mala do correio e as encomendas para cá enviadas.
••• Em 1939, período inicial da Segunda Guerra Mundial, Imperatriz foi mais uma vez escolhida como rota aérea. A companhia Condor, privada, que fazia transporte de passageiros e cargas, pretendeu utilizar a mesma rota do Correio Aéreo Nacional, encurtando suas viagens do Rio de Janeiro para Belém. Contratou na cidade o comerciante Guilherme Cortez como seu agente. Essa empresa era pioneira no transporte aéreo de passageiros no Brasil e utilizava hidroa-viões que pousavam no rio Tocantins, entre o a-tual cais e o Porto da Balsa. Essa rota da Condor durou, porém, menos de três anos. Depois do ataque dos japoneses a Pearl Harbour, no Havaí, em dezembro de 1941, o governo brasileiro passou a ser pressionado por causa da simpatia do presidente Getúlio Vargas aos alemães. Em fevereiro de 1942, o presidente brasileiro autoriza os Estados Unidos a usar as bases militares de Belém, Natal, Salvador e Recife. Com isso, a Condor e suas rotas foram extintas no país, por ter acionistas alemães. Com os aviões da Condor, são fundados os Serviços Aéreos Cruzeiro do 78
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Sul, a mesma empresa que existiu até a década de 80, quando foi absorvida pela Varig. ••• Embora experimentasse um surto de “modernidade”, Imperatriz manteve-se praticamente no mesmo patamar populacional até o final dos anos 50. Somente depois da construção da estrada para Grajaú, abrindo-se os caminhos para o Nordeste, os migrantes começaram a chegar e tomar conta das terras devolutas no município. Em 1935, o médico sanitarista Júlio Paternostro, autor do livro Viagem ao Tocantins, esteve em Imperatriz e assim a descreveu: Desembarquei em completa escuridão e percorri Imperatriz. É uma aglomeração de maranhenses da margem direita do Tocantins, com 340 habitações e 1.115 habitantes.
Em 1940, conforme estatísticas do governo do Maranhão, o município de Imperatriz tinha população total de 9.331 habitantes, sendo mil os residentes na sede. Nessa década, a população pouco aumentou. Quase dez anos depois, o Departamento de Geografia, História e Estatística, no governo de Sebastião Árcher (1947-1951), publicou que a população de Imperatriz era de 10.857 79
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habitantes, embora ressalte que seu comércio havia duplicado em relação à década anterior. No final dos anos 40, as principais povoações eram Montes Altos, Primeiro Cocal, Saranzal, Lago, Santa Rita e Clementino, onde existia um garimpo de diamantes. A primeira, era uma próspera vila, a mais movimentada do interior, que tinha inclusive vereador na Câmara de Imperatriz. Nessa época, o jornal imperatrizense O Astro registrou que a vila de Montes Altos tinha 800 habitantes, 85 casas, 8 estabelecimentos comerciais e um pronto-socorro farmacêutico. Em 1949, ganhou uma escola pública e depois um campo de pouso de aviões. Em 1948, o prefeito Simplício Moreira conclui o novo prédio da Prefeitura, iniciado por seu antecessor, Urbano Rocha. Diz a escritora Zequinha Moreira, no livro em que biografa o seu pai, que, na época, era esse “o mais belo e suntuoso prédio da cidade”. Atualmente, é a sede da Academia Imperatrizense de Letras.
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11 A ESTR ADA ESTRADA PAR ARAA O NORDESTE Em 1950, o jovem Urbano Rocha, de 31 anos, que, apesar idade, já havia sido prefeito de Imperatriz por duas vezes – a primeira, por seis meses, com apenas 24 anos –, candidata-se a prefeito tendo como vice o então prefeito Simplício Moreira, que havia sido seu sucessor. São eleitos em 3 de outubro. No dia 31 de janeiro de 1951, Urbano da Rocha Miranda toma posse. A principal meta dessa sua administração era dotar a cidade de energia elétrica, benefício muito desejado pelos moradores. Em Belém, comprou um motor e trouxe de lá um técnico para orientar os serviços necessários de posteamento e instalação da usina. Impetuoso e bairrista, Urbano Rocha manteve uma acentuada discórdia com representantes do governo do Estado na cidade, sobretudo o coletor de impostos e o delegado de polícia. Em junho de 1953, um sargento da polícia, no calor de uma discussão entre os dois, atira no prefeito e este revida. Morrem os dois. 81
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O vice, Simplício Moreira, assume então a titularidade do cargo, que se estende até 1956. Logo que assumiu, o novo prefeito cuidou de providenciar a inauguração do sistema elétrico, dando à usina o nome de Urbano Rocha. Em 3 de julho de 1953 a cidade ficou iluminada. A prioridade do prefeito Simplício Moreira era acabar com o isolamento terrestre de Imperatriz. Por isso, construiu uma estrada que possibilitou chegar-se a Grajaú, passando pela vila de Montes Altos, e outra que dava em Amarante. Recorda Edelvira Barros que essa obra Foi a abertura das portas para o Nordeste há muito desejada. Os comerciantes de Imperatriz passaram a negociar até com Recife. E os migrantes começaram a chegar. A Prefeitura adquiriu o primeiro caminhão (não havia outros), que foi batizado com o nome de Vitorino Freire.
A escritora Zequinha Moreira, filha de Simplício, avalia em seu livro que Essa estrada foi também um marco no desenvolvimento comercial da cidade, porque os empresários passaram a fazer compras de mercadorias em Recife, 25% mais baratas que Belém, e tinham ainda a vantagem de serem transportadas em caminhão, bem mais rápidos que os barcos.
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Com a abertura dessa estrada, uma leva de migrantes começou a chegar ao território de Imperatriz, ocupando terras devolutas, plantando arroz e formando novos vilarejos. Os primeiros a chegar teriam vindo da região do Mearim, principalmente de São Domingos do Zé Feio e Pedreiras, que faziam parte do então chamado “Japão” maranhense. Outras estradas e muitas pontes foram construídas na gestão de Simplício Moreira, fazendo com que o município saísse do seu secular isolamento terrestre, contra o qual pelejaram desde sua fundação os moradores de Santa Teresa.
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12 A GR ANDE ESTR ADA GRANDE ESTRADA DO PRESIDENTE JUSCELINO No segundo semestre de 1957, o então prefeito de Imperatriz, Raimundo de Moraes Barros conhecido como Mundico Barros, foi a um congresso de prefeitos no Rio de Janeiro, quando, acompanhado do senador maranhense Assis Chateaubriand, foi recebido pelo presidente Juscelino Kubitschek, que tencionava construir durante seu governo a nova capital do país, Brasília. O prefeito saiu da entrevista com o presidente convicto de que, além de Brasília, Juscelino construiria uma estrada ligando a nova capital a Belém, passando por Imperatriz. E isso aconteceu. No começo de 1958, engenheiros e técnicos chegaram à cidade para fazer o levantamento topográfico da grande rodovia e instalar um escritório da Rodobrás, empresa governamental que dirigiria a obra. O comandante dessa grande e desafiadora empreitada era o engenheiro carioca Bernardo Sayão, ex-vice governador de Goiás e reconhecido por abrir estradas e novas fronteiras de povoamento naquele estado. 84
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Esse empreendimento transformou a pequena Imperatriz. Aviões, helicópteros e máquinas passaram a fazer parte do cenário cotidiano da cidade. A derrubada das matas ocupava centenas de pessoas, em diversos pontos diferentes. Chegavam homens, às vezes com suas famílias, de diversas partes do Brasil, mas principalmente do Nordeste. Aconteceu a primeira grande explosão demográfica do município. Bernardo Sayão era presença constante na região. Acompanhava as frentes de serviço e às vezes se juntava aos trabalhadores em suas atividades; mantinha-os animados para ganhar tempo e garantir os prazos acertados diretamente com o presidente Juscelino, seu amigo particular. No dia 15 de janeiro de 1959, no lugar denominado “Ligação”, onde as frentes de trabalho do Maranhão e do Pará deveriam se encontrar, Bernardo Sayão, que se encontrava dentro de uma barraca, foi gravemente atingido por uma grande árvore. Agonizou durante horas, até chegar um helicóptero que o levaria a Açailândia, onde pouco depois faleceu. Foi enterrado no dia seguinte em Brasília, no Campo da Esperança, demarcado por ele próprio antes de entrar nas matas amazônicas. Apesar dessa tragédia, o presidente Juscelino manteve o ritmo das obras e concluiu a estrada na época prevista. Dois anos depois, no dia 25 de janeiro de 1961, 85
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o presidente Juscelino Kubitschek visitou Imperatriz, quando inaugurava o trecho maranhense da rodovia Belém-Brasília. Almoçou no galpão do aeroporto, depois percorreu as ruas da cidade num jeep e conversou demoradamente com alguns migrantes debaixo das mangueiras então existentes na rua 15 de novembro. A Enciclopédia de Imperatriz, maior obra de referência sobre a cidade, publicada em 2003 sob a coordenação do acadêmico Edmilson Sanches, registra que No caso de Imperatriz, de 1960, quando a Belém-Brasília foi inaugurada, até 20 anos depois, em 1980, a cidade apresentou uma das maiores taxas de crescimento em sua população e em sua economia, o que não atingiria se o traçado da rodovia não passasse pelo município.
Diz a mesma publicação que em 1960 Imperatriz tinha 39.169 habitantes; tendo passado para 80.827 em 1970, e para 220.095 em 1980, a partir do que extrai a seguinte conclusão: A decisão de Juscelino Kubitschek, de construir – como efetivamente fez, em dois anos – a rodovia Belém-Brasília tornou-se o principal marco histórico-econônico da vida do município. Pode-se afirmar que, fundada em 1852, Imperatriz foi “refundada” em 1960.
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13 FR ACIONAMENTO FRACIONAMENTO DO TERRITÓRIO A área original de Imperatriz era de aproximadamente vinte mil quilômetros quadrados, excluindo-se a da Vila de Porto Franco, que inicialmente a integrava. Foi um dos municípios de maior extensão territorial do Estado. Depois da abertura da estrada que ligou o município com o Nordeste, houve um crescimento populacional da cidade e na zona rural, surgindo novos povoados e aumentando a população de outros. Com isso, alguns se destacaram e adquiriram vida própria, conquistando também a condição de município. O primeiro foi o a vila de Montes Altos, que em 8 de setembro de 1955 se transformou em município, levando consigo uma área de 3.326 quilômetros quadrados do território imperatrizense. Em 15 de dezembro de 1961, foi a vez do povoado Gameleira, que se tornou o município de João Lisboa, com área de 2.697 quilômetros quadrados. Vinte anos depois, no dia 6 de junho de 1981, 87
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TERRITÓRIO DE IMPERATRIZ – 1950
Mapa territorial do Município de Imperatriz que prevaleceu até 1955, quando se iniciou o processo de desmembramento para a criação de novos municípios. Em destaque, a área atual de Imperatriz
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o distrito de Açailândia ganhou também sua emancipação, reduzindo-se com isso o território de Imperatriz de 13.352 quilômetros quadrados para apenas 6.687 quilômetros quadrados. Em 1º de janeiro de 1997, o município de Imperatriz perde mais de cinco mil quilômetros quadrados de seu território para a criação dos municípios de Cidelândia, Governador Edison Lobão, Davinópolis, São Francisco do Brejão, São Pedro da Água Branca e Vila Nova dos Martírios, passando a ter somente 1.367,9 quilômetros quadrados de área total e tornando-se em município eminentemente urbano, com aproximadamente 95% da população vivendo na cidade. Do território de Imperatriz, a partir da década de 50, portanto, foram desmembrados diretamente nove municípios, mais cinco outros indiretamente, estes desmembrados também de áreas que haviam pertencido a Imperatriz: Lajeado Novo e Ribamar Fiquene, nascidos do território de Montes Altos; Buritirana e Senador La Rocque, de João Lisboa; e Itinga do Maranhão, de Açailândia.
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14 ECONOMIA CICLOTÍMICA
A partir da chegada dos migrantes nordestinos, no começo da década de 50, ocorreu no município de Imperatriz um substancial aumento da produção agrícola. Motivados pelas excelentes terras, ocuparam as áreas devolutas no interior, onde plantavam produtos de subsistência e grandes extensões de arroz, para comercialização, dando início a uma nova etapa econômica da região, o chamado “ciclo do arroz”. Até a metade dos anos 70, Imperatriz foi um dos maiores produtores de arroz do Estado. E o Maranhão tornou-se, nesse período, o segundo maior produtor de arroz do Brasil. A disputa pela terra com fazendeiros, no entanto, afastou os lavradores dos campos plantados, que levavam desvantagem nesse embate e, muitas vezes, eram retirados por força de documentos falsos apresentados por pretensos proprietários, os chamados “grilos” e “grileiros”. Então, os campos de arroz deram lugar ao pasto e aos cascos dois bois. 90
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ESTRADA DO ARROZ Carregamento de caminhões na Estrada do Arroz, no início dos anos ’70. (Arquivo do jornal O Imparcial)
No começo dos anos 70, por causa da imensa riqueza de florestas nobres ao seu redor – às quais vinte anos antes, em entrevista ao jornal O Imparcial, Simplício Moreira referiu-se como “50 léguas de riquezas não tocadas” –, Imperatriz viu florescer o ciclo da extração de madeira. Além da exportação de madeira em tora, os imperatrizenses presenciaram a instalação de dezenas indústrias madeireiras, e essa se tornou a principal atividade econômica da região. A abundante riqueza florestal de Imperatriz se estendia até a divisa com o Pará, atraindo cada vez mais investimentos e investidores. Estima-se que, por volta de 1977, o município de Imperatriz sediava mais de trezentas indústrias madeireiras. Esse extrativismo começou a arrefecer antes da chegada da década de 80, com o início da es91
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cassez de madeira nas proximidades da cidade e a insuficiência de capacidade de energia elétrica para movimentar tantas indústrias e ao mesmo tempo garantir o abastecimento da cidade, que nessa década cresceu num dos mais altos índices populacionais do país. Assim, a indústria de exploração da madeira rumou floresta amazônica adentro: Açailândia, Itinga, Rondon do Pará, Paragominas... Na década de 70, Imperatriz tornou-se o município mais populoso do Estado, depois da capital. Sua privilegiada posição geográfica, eqüidistante das principais capitais e cidades do Norte e Meio-Norte. Dotada de boas estradas, navegação fluvial e aérea, consolidou-se, na década de 80, como pólo de abastecimento comercial de todo o sul maranhense, do sul do Pará e do norte de Goiás. Nos primeiros meses de 1980, aconteceu a descoberta de ouro na “Serra Pelada”, no sul do Pará. Inicialmente em toda esta região, depois em todo o país, aconteceu uma corrida ao ouro paraense. Uma das principais portas de entrada para o garimpo era Imperatriz, que também o abastecia com alimentos, remédios, máquinas e homens. Esse garimpo movimentou a economia regional e enriqueceu vários imperatrizenses, mas também faliu muitos que nele investiram, sem êxito, na perspectiva de grandes achados. 92
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O garimpo de Serra Pelada, devido ao alto risco de sua exploração manual e muitos acidentes, foi fechado antes de completar uma década. Na década de 80, Imperatriz teve grande oportunidade de implantar um pólo industrial. Entretanto, não estabeleceu uma adequada política de recepção das muitas indústrias que aqui pretenderam se instalar, nem executou o projeto de instalação de um pólo industrial para o qual havia recursos específicos do governo do Estado. Também não estimulou nem definiu incentivo a investidores. Apesar de possuir diversas indús-trias de importância, passou ao largo da industrialização. Mesmo mantendo-se como centro abastecedor de toda a região, durante quase duas décadas, o município se viu indefinido quanto à sua identidade econômica. A partir do final do milênio, porém, começa a se estabelecer como centro de serviços especializados. Com um numeroso contingente de profissionais especializados, principalmente na área da educação, da saúde, do direito, da administração, e de muitas outras atividades, Imperatriz tem se fortalecido ultimamente como pólo de prestação de serviços. Em 2005, conta com dois campi universitários públicos e quatro faculdades particulares, to93
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talizando mais de quarenta cursos de graduação oferecidos, e mais diversos outros em nível de pósgraduação. Além desses, outras instituições de ensino superior oferecem na cidade cursos semipresenciais e virtuais. A área do conhecimento é, portanto, o novo rumo que Imperatriz se projeta, com potencialidades de dar caráter definitivo à sua identidade sócio-econômica.
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15 DADOS EST ESTAATÍSTICOS DO MUNICÍPIO DE IMPER IMPERAATRIZ Área territorial ...................................... 1.367,9 km² População residente (IBGE, 2001) ............... 230.566 Altitude ............................................................. 116m Longitude ..................................................... 5o31’32’’ Latitude ...................................................... 47o29’30’’ Economia: PIB (mercado corrente - 2002) .. R$ 489.051.000,00 Agências bancárias ................................................15 Saneamento: Água potável (população abastecida) ................ 90% Ligações de água ativas (ago /2002) ............... 46.298 Saúde: Estabelecimentos hospitalares (IBGE, 2002) ....... 17 Óbitos hospitalares (ago/2002) ........................... 294 P olítica: Número de eleitores (2004) ........................ 138.484 Número de vereadores (2005) .............................. 13
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Ensino: Matrículas na Pré-Escola (2004) ................... 10.534 Matrículas no Ensino Fundamental (2004) .. 48.540 Matrículas no Ensino Médio (2004) ............... 19.388 Matrículas no Ensino Superior (2003) ............ 4.563 Veículos: Automóveis ..................................................... 12.416 Caminhão – Tipo de Veículo ............................. 1.723 Caminhonete – Tipo de Veículo ....................... 1.617 Ônibus e Micro-ônibus ........................................ 246 Motocicletas e motonetas .............................. 15.807 P ecuária: Bovinos (efetivo dos rebanhos, 2003) ............ 88.085 Suínos (efetivo dos rebanhos, 2003) ................ 2.134 Eqüinos (efetivo dos rebanhos, 2003) ............. 1.444 Vacas ordenhadas (quantidade, 2003) ............. 9.689 Ovos de galinha (dúzias, 2003) ....................... 39.000
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SOBRE O AUTOR Adalberto Franklin nasceu em 1962, em Uruçuí (PI). Desde os primeiros dias, morou com os pais no município de Balsas (MA), de onde seguiu com a família para Imperatriz, em 1972. Autodidata. Técnico em artes gráficas e editoração eletrônica. Cursou, sem concluir, o curso de História na Universidade Estadual do Maranhão. Jornalista provisionado. Na segunda metade dos anos 80 e início dos anos 90, exerceu profissionalmente o jornalismo. Há mais de vinte anos pesquisa questões indígenas e a colonização dos sertões do Maranhão. Membro fundador da Academia Imperatrizense de Letras, ocupa a cadeira nº 20, patroneada por Dunshee de Abranches. Em 2005, juntamente com o historiador João Renôr F. de Carvalho, recebeu o Prêmia AIL, concedido anualmente ao melhor trabalho ou conjunto de obras relevante para a região. Em 2000, foi agraciado com a Comenda do Mérito Legislativo Barão de Coroatá, da Câmara Municipal de Imperatriz. Atualmente, é coordenador editorial da Ética Editora, tendo preparado a publicação de mais de duzentos títulos, entre 1992 e 2005.
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Composto na fonte Garamond Cond. 12/14. Miolo impresso em papel Sulfite 75g/m² e capa em cartão Offset 240g/m². no sistema digital da Ética Editora. 3.a impressão Imperatriz, MA, março de 2012