Terra livre 64 dezembro de 2013

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TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

BOLETIM Nº 64

DEZEMBRO DE 2013

PRESSÃO CONTRA INVESTIGAÇÃO ANTI-OGM

SEMENTES TRADICIONAIS EM PERIGO


A fELICIDADE DE TODOS OS SERES NA SOCIEDADE fUTURA

Cientista denuncia pressão contra publicação de pesquisa anti-OGM AFP –

Agence

France-Presse,

28/11/2013

(via em.com.br) O professor francês Gilles-Eric Séralini, que publicou há um ano um estudo sobre a toxicidade “alarmante” do milho transgênico nos

ratos,

a revista que

criticou

nesta

publicou

quinta-feira

seu

estudo

e denunciou que esta recebeu “pressões” para que suspendesse seu trabalho.

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“Mantemos

nossas conclusões“,

respondeu

Séralini em mensagem endereçada à revista que, conforme as regras habituais, publicou o estudo depois que um grupo de cientistas o avaliou. Interrogado pela AFP, o cientista vinculou esta decisão à “chegada ao comitê editorial da revista de Richard Goodman, um biólogo que trabalhou vários anos na Monsanto”, gigante americana

do

setor

dos

organismos

geneticamente modificados. “Um debate científico não é uma razão para retirar um artigo, só um caso de fraude ou erro pode justificá-lo”, acrescentou. O estudo chefiado por Séralini e publicado em “Rejeitamos que o artigo seja retirado”, afirmou

setembro

de

2012

dizia

que

os

ratos

o cientista durante coletiva de imprensa em

alimentados com OGM morrem antes e sofrem

Bruxelas.

de câncer com mais frequência que aos demais. “pressões

“Os resultados são alarmantes. Observamos,

insuportáveis”, destacando que o editor da

por exemplo, uma mortalidade duas ou três

revista Food and Chemical Toxicology não

vezes maior entre as fêmeas tratadas (com

tinha

OGM). Há de duas a três vezes mais tumores

O

pesquisador

constatado

denunciou

“nem

fraude,

nem

interpretação dos dados” em seu estudo. “Os resultados apresentados, que não são

em ratos tratados dos dois sexos”, explicou na ocasião Seralini.

incorretos, não permitem concluir”, alegou o

Para fazer o estudo, duzentos ratos foram

encarregado editorial da revista, em uma

alimentados durante um máximo de dois anos

mensagem dirigida a Seralini, datada de 19 de

de três formas diferentes: exclusivamente com

novembro e que o professor tornou pública.

milho OGM NK603, com milho OGM NK603

Por causa disto, o artigo foi retirado da revista. Terra Livre nº 64 Dezembro de 2013 Página 3

tratado com Roundup (o herbicida mais usado


no mundo) e com milho não geneticamente

experiência, o que Seralini refuta, afirmando

modificado tratado com Roundup.

que este debate não “tem bases científicas”.

Os dois produtos (o milho NK603 e o

As conclusões de Seralini foram rechaçadas

herbicida) são de propriedade da empresa

pela

americana Monsanto.

Alimentar (EFSA), mas permitiram fazer

Durante o estudo, o milho fazia parte de uma

interrogações aos protocolos usados para os

dieta

testes clínicos com OGM.

equilibrada,

servido

em

porções

equivalentes ao regime alimentar nos Estados

Autoridade

Europeia

de

Fonte: http://pratoslimpos.org.br/?p=6488

Unidos. “Os resultados revelam uma mortalidade muito mais rápida e importante durante o consumo dos

dois

produtos”,

havia dito Seralini. Em

sua

carta,

Sementes tradicionais em perigo o

encarregado editorial da revista, A. Wallace Hayes, explicou que um painel de cientistas voltou a analisar os dados do estudo e avaliou que “o artigo devia ser retirado”.

O QUE DEVEMOS FAZER?

O encarregado editorial criticou ao mesmo tempo a quantidade de ratos de cada grupo estudado, assim como a raça escolhida para a Terra Livre nº 64 Dezembro de 2013 Página 4

Segurança


luispaulo.alves@europarl.europa.eu regina.bastos@europarl.europa.eu luismanuel.capoulassantos@europarl.europa.eu mariadagraca.carvalho@europarl.europa.eu carlos.coelho@europarl.europa.eu antonio.campos@europarl.europa.eu mario.david@europarl.europa.eu edite.estrela@europarl.europa.eu diogo.feio@europarl.europa.eu josemanuel.fernandes@europarl.europa.eu elisa.ferreira@europarl.europa.eu joao.ferreira@europarl.europa.eu anamaria.gomes@europarl.europa.eu marisa.matias@europarl.europa.eu nuno.melo@europarl.europa.eu

Precisamos urgentemente de pressionar os

vital.moreira@europarl.europa.eu

nossos deputados no Parlamento Europeu para

mariadoceu.patraoneves@europarl.europa.eu

defenderem a nossa biodiversidade agrícola,

paulo.rangel@europarl.europa.eu

legado dos nossos antepassados que urge preservar. no

Parlamento

Europeu

as

nossas/suas preocupações quanto à manutenção da biodiversidade agrícola, segurança alimentar e liberdade de escolha dos cidadãos, deverá encaminhar o texto que se segue num e-mail dirigido aos 22 deputados portugueses do Parlamento

rui.tavares@europarl.europa.eu nuno.teixeira@europarl.europa.eu

Para dar a entender aos deputados portugueses presentes

alda.sousa@europarl.europa.eu

Europeu,

para

os

seguintes

endereços:

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ines.zuber@europarl.europa.eu


Esta proposta ameaça seriamente a preservação e

o

desenvolvimento

da

nossa

agro-

biodiversidade, com restrições severas para as pessoas e entidades que produzem e distribuem (TEXTO A ENVIAR AOS DEPUTADOS EUROPEUS)

sementes que devem continuar a ser do domínio público. Na prática, as pretendidas alterações a este regulamento

vão

contribuir

para

o

desaparecimento das variedades de plantas que hoje

são

usadas

por

três

quartos

dos

agricultores em todo o mundo. Assim, vimos solicitar que no âmbito da discussão desta legislação no Parlamento Europeu, nomeadamente nas Comissões AGRI Ex.mo Senhor/Ex.ma Senhora,

e ENVI, tenha em atenção o seguinte:

Venho expor-lhe a minha preocupação com a proposta de Regulamento do Parlamento e do Conselho Europeus relativo à produção e disponibilização no mercado de material de reprodução vegetal [2013/0137 (COD)].

1. As sementes e plantas de polinização aberta, que são do domínio público (não protegidas por um direito de propriedade intelectual), devem ficar fora do âmbito do regulamento, dando primazia à biodiversidade sobre os interesses comerciais de um grupo de multinacionais que

Algumas das alterações à proposta aprovada pela Comissão Europeia em 6 de Maio de 2013, agora apresentadas pelo relator da Comissão AGRI, Sergio Silvestris, vão no sentido de eliminar ou alterar derrogações importantes que foram uma conquista da sociedade civil em prol da biodiversidade.

operam no mercado das sementes. 2. O registo e a certificação de variedades de plantas

deverão

ser

opcionais

e

não

obrigatórios, disponíveis para quem queira concorrer no mercado específico das sementes certificadas. 3. O regulamento deverá referir-se apenas às espécies do Anexo I (150), e não a todas as

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espécies cultivadas, que são cerca de trezentas

5. Deverá ser considerada a eliminação de

mil.

quaisquer restrições geográficas, históricas ou

4. A definição de «Operador Profissional»

quantitativas para as sementes tradicionais e de

adoptada

pessoas

polinização aberta, não protegidas por direitos

singulares ou colectivas que desempenhem a

de propriedade intelectual. (As sementes destas

título profissional as actividades de produção,

variedades

propagação, melhoramento, manutenção da

viajaram livremente e adaptam-se facilmente a

selecção de manutenção, prestação de serviços,

novos climas e tipos de solo.)

preservação,

armazenagem,

6. As alterações que venham a ser feitas ao

disponibilização no mercado, relacionadas com

regulamento passíveis de colidir com a

material de reprodução vegetal com vista à sua

biodiversidade e a livre escolha do agricultor e

comercialização. E

uma

consumidor devem ser sujeitas a consulta

as

pública e a uma tomada de decisão por

deverá

exploração

incluir

apenas

incluindo

não com

vista

comercial. (Uma

vez

a que

de

polinização

aberta

sempre

sementes e material de reprodução vegetal

representantes eleitos.

guardadas pelos próprios agricultores para

7. Nos

serem por eles semeadas no ano seguinte não se

comercializadas deverá constar a informação

destinam a comercialização, mas têm em vista

sobre se foram ou não seleccionadas e/ou

uma exploração comercial.) Uma definição

multiplicadas recorrendo ao uso de processos

como a que propõe o Relatório do Sr. Silvestris

microbiológicos. (Cada vez mais, as grandes

obrigaria na prática todos os agricultores que

multinacionais da produção de sementes estão a

guardam

usar

as

inscreverem-se

suas

próprias como

sementes

a

«operadores

profissionais» no âmbito desta legislação.

rótulos

de

todas

nanotecnologia

as

e

variedades

processos

microbiológicos para criar novas variedades, procurando esconder do público em geral esses processos contrários à natureza.) A maioria dos cidadãos europeus que recusa os Organismos Geneticamente Modificados também não quer ter à mesa variedades manipuladas dessa forma e tem direito a ser informada. Atentamente,

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(recebido por e-mail)

jornal, entre outros, João Anglin, que mais tarde foi reitor do Liceu Nacional de Ponta Delgada. a ele dedicou pelo menos um texto.

A Felicidade de todos os seres na sociedade futura No continente "Gonçalves Correia dá-me vontade de rir pela sua ingenuidade e tolstoianismo mas acaba por se me impor. Este homem, que pretende realizar um sonho, dá a esse sonho tudo o que ganha, e, apesar da guedelha, das considerações ingénuas, faz-me pensar" (Raul Brandão)

português,

Leão

Tolstói

foi

referência para António Gonçalves Correia, anarquista tolstoiniano que esteve em São Miguel, em 1910, e que colaborou em quatro números do quinzenário micaelense “Vida Nova”.

Nas minhas pesquisas em jornais antigos cheguei a uma reportagem publicada no jornal “A Vila”, publicada no dia 7 de Julho de 1994, onde se dá conta da presença em Vila Franca do Campo de um bisneto do escritor e pensador russo Leão Tolstói que havia adquirido naquela vila uma propriedade onde passou a residir Gonçalves

durante alguns meses do ano.

Correia

(1886-1967)

foi

um

anarquista português que nasceu em Castro Quase em simultâneo, também dei conta que o

Verde e faleceu em Lisboa. Vegetariano, foi

projeto de sociedade e as ideias defendidas pelo

ensaísta e poeta, tendo criado a primeira

famoso escritor russo eram muito apreciados

comunidade anarquista em Portugal, a Comuna

em todo o mundo nos primeiros anos do século

da Luz, no Vale de Santiago, em Odemira.

passado sobretudo por quem se reclamavam do

De acordo com José Maria Carvalho Ferreira,

pensamento libertário.

defendia um tipo de anarquismo que era

Em São Miguel, a sua obra e pensamento foi

“marginal” em relação às teorias e práticas

difundida pelo jornal “Vida Nova”. Naquele

(anarco-sindicalismo e anarco-comunismo) que eram dominantes na época em que viveu.

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alegria nos seres humanos, pois que a alegria, assim, se As ideias de Gonçalves Correia ainda hoje mantêm

irá refletir até mesmo nos seres inferiores”.

atualidade já que o mesmo não se limitava a defender

E como alcançar a felicidade?

uma melhor vida para os humanos mas também para

Gonçalves Correia acreditava que a felicidade, a alegria

todos os animais. Mas, se assim pensava melhor o fazia.

de viver, podia ser alcançada “pela clarificação da

Sobre o assunto Carvalho Ferreira escreveu: “Comprar

inteligência, pela bondade, pela pureza de intenções,

passarinhos que estavam prisioneiros nas gaiolas aos

pela sinceridade, pelo trabalho”. Mas não qualquer

comerciantes que os vendiam nas feiras do Alentejo

trabalho, apenas o trabalho “consciente, metódico, que

para depois os libertar, ou desviar-se com a sua bicicleta

não seja a tirania do salariato, que não seja a escravidão,

dos caminhos percorridos pelas formigas para não as

o trabalho feito com alegria, com boa vontade, com

matar, são exemplos paradigmáticos de como nós

consciência, o trabalho que dimana da nossa vontade

devemos agir para se construir um equilíbrio

soberana!”

ecossistémico entre todas as espécies animais”.

E o que queriam os militantes que pensavam como

Gonçalves Correia, que é para alguns considerado um

Gonçalves Correia?

precursor da permacultura, numa palestra intitulada “A

“ A abundância de pão para todas as bocas, a fartura de

Felicidade de todos os seres na sociedade

luz, essa luz bendita do amor, para todas as almas”.

futura”, proferida em Évora, em 1922, e que mais tarde foi publicada em livro, dizia que o sofrimento, “obra maléfica do homem”, afeta não só os seres humanos mas também os “irracionais” que “vieram ao mundo para serem a ajuda fraternista de todos nós e nunca escravos tristes e submissos que chocam a nossa sensibilidade”.

Na sociedade futura que é perfeitamente alcançável, segundo Gonçalves Correia, não só será possível a felicidade para todos os homens, mas também para os “irracionais”. A este propósito dizia ele: “ O próprio irracional não terá, como o boi simpático e paciente, olhos mortiços o corpo cansado e esquelético. Compreenderá o homem, enfim que ser rei dos animais não significa ter o direito à sua tortura. Os próprios

Para ultrapassar a condição degradante em que viviam todos os seres vivos, que segundo ele tinha como causa principal a “fórmula errada da propriedade privada “, Gonçalves Correia defendia que se devia empregar “todo o esforço sincero e ardente no sentido de criar a

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irracionais terão lugar no grande banquete da vida, inundando-se a terra de pura, de generosa alegria” T. B.


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