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Criminalidade é novo desafio para delegado

Experiente, Carlos Augusto encara nova onda de violência em Guarus

Clícia Cruz

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O delegado Carlos Augusto Guimarães assume pela segunda vez a responsabilidade de conduzir a 146ª Delegacia de Polícia (Guarus), em Campos dos Goytacazes. Ele chega num momento em que os índices de criminalidade voltam a crescer no subdistrito e enfrenta o desafio de solucionar dezenas de homicídios que foram registrados este ano na área sob responsabilidade da unidade. Experiente, Carlos Augusto já conduziu outras delega - cias fluminenses. Nesta entrevista, Carlos Augusto fala dos desafios impostos pelo cargo, sobre a violência no subdistrito e sobre como enxerga esse novo momento à frente da Delegacia de Guarus.

Como o senhor iniciou a sua carreira na Polícia Civil?

Tenho quase 15 anos como delegado e seis como agente de autoridade. Eu iniciei a carreira aqui na Polícia Civil do Rio de Janeiro em 2002.

Fui oficial de cartório, na época era escrivão de polícia. Fiquei quatro anos aqui na 146ª e em seguida eu passei no concurso para agente da Polícia Civil de Brasília. Então, fui trabalhar no Distrito Federal como agente de lá e nesse meio tempo passei para delegado. Daí, vim em 2007 como delegado. Já passei por diversas delegacias na capital, Baixada Fluminense e interior.

Em todo esse tempo, quais investigações foram mais desafiadoras?

Eu posso recordar aqui de uma investigação que eu fiz, por exemplo, em São João da Barra, quando um rapaz matou a namorada e enterrou o corpo na praia. Nós filmamos ao vivo o resgate dos Bombeiros. Ali, foi um caso com bastante repercussão. No último caso de repercussão eu estava em Itaocara, foi daquele bebê que o casal matou, eles quebraram os ossos da criança. Também foi um caso marcante.

O senhor esteve à frente da 146ª DP em 2015 e retorna agora. O que o senhor encontra de diferente?

Agora a gente encontrou a delegacia muito melhor do que aquela época. Ainda temos déficit de policiais, mas, de certa forma, o poder público municipal nos ajudou com estagiários, então não temos do que reclamar aqui. Nossos estagiários são muito eficientes, ajudam muito aqui na atividade-meio, é óbvio que eles não podem investigar e não podem fazer diligência na rua, mas a parte administrativa eles atuam com excelência. Agora, com relação à criminalidade, a gente percebe que continua a mesma coisa, essas mortes sempre existiram. Se a gente pegar o histórico desses homicídios, vai perceber que sempre foi grande o número de mortes violentas... às vezes menos, às vezes mais, depender do ano, depende da estação. Eu queria aproveitar para enaltecer o trabalho das administrações anteriores até da minha administração, pois na unidade sempre teve uma resolutividade muito alta.

Janeiro, muito mais perniciosa a violência gerada em consequência do tráfico de drogas do que o próprio tráfico de drogas em si. A gente vê as pessoas utilizando drogas lícitas, como álcool, tabaco, às vezes causam até um mal maior. Pessoas que usam remédios controlados sem receita ou com receitas falsas. O mal que o usuário de drogas faz é a ele mesmo. Mas tem aquele cidadão que se vicia e vai furtar uma joia de uma avó, vai querer roubar uma pessoa no sinal. Isso existe, por isso é um assunto muito complexo e que demanda muito estudo. É muito mais pernicioso um disparo de fuzil que pega um inocente do que um simples uso de droga. Mas repito: como delegado, óbvio que eu vou prender as pessoas que estiverem fora da lei.

Com relação à criminalidade, a gente percebe que continua a mesma coisa, essas mortes violentas em Guarus sempre existiram

A área da 146ª passou por um período de aparente calmaria e agora novamente voltaram a crescer os casos de homicídios. A que o senhor atribui esse aumento?

Na verdade, em relação à estatística, a gente não pode esquecer de que os homicídios não são só os consumados, existem os tentados também, que não entram com essa estatística do Instituto de Segurança Pública (ISP). Se você reparar o número de homicídios tentados, não aparece nessa estatística que a gente tem, né? O fato de não terem homicídios consumados não significa que a criminalidade esteja baixa. Não tenho como apontar uma causa para isso, as causas são diversas.

É notório que as regiões mais pobres são aquelas onde o tráfico exerce um domínio maior. Como o senhor acre - dita que os governos podem contribuir para minimizar esses índices de violência?

Primeiro, é importante destacar que o comércio de drogas existe em todas as áreas, porém, nas localidades mais afastadas a violência é maior. O que a gente pode fazer para minimizar isso aí é investir em educação, em políticas sociais. As pessoas são muito carentes de tudo, né? E essas pessoas não sabem como resolver os problemas, não sabem a quem recorrer, acaba resolvendo da forma que aprenderam, com base na violência e no tráfico de drogas. Quando as pessoas não têm seus direitos básicos garantidos, elas acabam dependendo do dinheiro do tráfico. O tráfico dá aquilo que o sistema não oferece. Além disso, o tráfico gera um certo prestígio, então essas pessoas se sentem importantes, coisa que nunca foram, nunca foram vistas pela sociedade como importante.

Como o senhor enxerga o tratamento dado pelas instituições socioeducativas aos menores infratores, uma vez que grande parte deles é detida e logo retorna às ruas? Hoje esse já é um problema enraizado, mas, para as próximas gerações, é possível trabalhar para que essas crianças, que já começam a se envolver com o crime, não se tornem lideranças como eu vi agora. Um deles, que nós conhecemos adolescente, agora está comandando o tráfico de drogas. Para cuidar do menor infrator, não basta que esteja na lei uma determinação de cumprir certo programa, é necessário que esse programa seja eficaz. O juiz determina internação, mas como é o processo lá de internação propriamente dito? Realmente existe algum programa que reabilite, que capacite esses adolescentes? É preciso uma atuação forte na recuperação desse jovem.

Como funciona a interação das delegacias da região?

Sem dúvida, os delegados são muito unidos, são muito integrados. Existe um departamento regional aqui, que é o 6º DPA (Departamento de Polícia de Área), que é a integração tanto das delegacias da região quanto do comando dos batalhões.

Em relação à tecnologia para solução de crimes, como a Polícia Civil está equipada hoje?

A tecnologia interna é muito boa e muito eficaz. Com o nosso sistema aqui, o nosso banco de dados, a gente consegue rapidamente levantar a autoria de crimes. Nesse caso específico dos atentados registrados no último mês, por exemplo, recebemos a ima gem de um órgão externo e conseguimos melhorar. Os

O comércio de drogas existe em todas as áreas, porém, nas localidades mais afastadas a violência é maior. O que a gente pode fazer para minimizar é investir em educação novos policiais já nascem com isso introjetado em si, eles já têm a facilidade de trabalhar com tecnologia e nós que somos mais antigos também vamos aprendendo.

O tráfico de drogas é o grande promotor da violência nas cidades. Muito se fala em descriminalizar a maconha, por exemplo. Qual sua opinião a respeito da descriminalização? Esse é um assunto complexo. Eu posso responder como delegado e como cidadão. O delegado Carlos Augusto, é óbvio que ele vai atuar dentro da legalidade. Enquanto for crime, enquanto tiver positivado o direito penal, quando tiver sanção e pena, eu vou ter que atuar. Agora, com relação ao cidadão Carlos Augusto, com relação à minha pessoa, a minha opinião é que é muito mais nocivo à sociedade que a gente vive aqui no Estado do Rio de

Voltando a falar da 146ª, quais são os crimes com maior incidência de registro nesta delegacia? Registramos muitos furtos, roubos, tráfico de drogas, homicídios, mas, na verdade, o crime mais em alta hoje é o estelionato. Porque é um crime que tem crescido muito, ele gera uma dificuldade enorme de investigar por questões legais e burocráticas. Por exemplo, você não pode ter acesso a dados bancários de uma pessoa. Então, tem que representar e demora um tempo. Nós encontramos muitos empecilhos legais, como, por exemplo, uma pessoa que já é morta... os estelionatários registram contas com nomes dessa pessoa, números, CPF... são pessoas que moram em outros estados, outras cidades e o acesso a pessoas de outros lugares é muito difícil, porque as polícias não têm um banco de dados que integre todos os estados.

Nesse retorno à 146ª, qual o seu grande desafio?

O meu desafio é convencer a população de que ela pode confiar na polícia, que ela pode denunciar. É dar sensação de segurança à população e ajudar a diminuir esses números de crimes violentos. Esse é o nosso desafio. A população não quer saber a cor do gato, ela quer que se pegue o rato. O meu recado para a população é que ela confie no trabalho da polícia e que nos ajude denunciando. O anonimato é garantido.

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