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Lula: de falas escabrosas à perplexidade
from J3NEWS EDIÇÃO 340
by terceiravia
Nada mais cansativo do que escrever a mesma coisa de forma diferente. É o que se tem visto na mídia sobre as falas impróprias, inócuas e inúteis – para citar apenas palavras que começam com ‘i’ – do presidente Lula da Silva, desde que venceu a eleição.
É chato repetir os disparates lançados contra o teto de gastos, o Agronegócio, a autonomia do BC e por aí vai... Todos já estamos cansados de ler e ouvir. E não precisou mais do que duas ou três semanas para que até os veículos ‘amigos’, os militantes, perdessem a paciência com o presidente petista.
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Agora, porém, o despautério – a aberração – que marcou os contornos da visita do presidente venezuelano ao Brasil, bem como os desatinos ditos por Lula sobre o amigo Nicolás Maduro, passaram do limite. As falas do presidente brasileiro já não causam (apenas) surpresa. Mas perplexidade.
“Não é ditadura”
Dizer que o regime truculento e opressivo do presidente Venezuelano não caracteriza uma ditadura é, no mínimo, desconsiderar a mais rudimentar inteligência de todos.
Agora, acrescentar ao comentário desastroso que o regime de Maduro é vítima de uma “narrativa” montada contra ele, deixa o Brasil numa situação não apenas ridícula perante o resto do mundo (exceção para as ditaduras, claro), mas de perplexidade. Afinal, se o país vizinho não é controlado por um governo totalitário, o Brasil, em tese, também poderia importar o modelo, porque é ‘plenamente democrático’.
Jornais não contemplaram
Do muito que se escreveu sobre o comportamento escabroso, vimos os mais delicados, como o de Mirian Leitão, que ressaltou que apesar do Lula ter feito “algo bom, ao se reunir com países vizinhos, fez algo ruim, ao avaliar o governo venezuelano como democrático”:
“Pisou na bola”.
Gagá – Já o jornalista Ricardo Noblat, que ao longo do processo eleitoral escrevia pró-Lula, foi curto e grosso: “Lula sofre de um apagão de inteligência, na melhor das hipóteses. Ou o peso da idade e a falta de atualização o estão deixando gagá.”
Noblat ainda acrescentou que “os abusos do regime Maduro caem à vista de todos como frutas podres. Estão quase todos documentados pela Organização das Nações Unidas”.
Tempestade perfeita – No que definiu como ‘tempestade perfeita’ os 5 meses do governo Lula, Malu Gaspar, de O Globo, disse que “num discurso repleto de elogios, exortou o colega a falar para sua “imprensa livre”, como se tal coisa existisse na Venezuela.”
Outros presidentes
Nem os nossos vizinhos puderam fingir que não ouviram o que foi dito. Os presidentes do Equador, Chile, Uruguai e Paraguai manifestaram discordância ante as falas de Lula.
O do Uruguai disse estar surpresa em ouvir que a seria uma ‘narrativa’ dizer que a Venezuela não é uma democracia. Para o presidente chileno Gabriel Boric, “não se pode fazer vista grossa ao que ocorre no país governador por Maduro”. E por aí foi...
Desfecho
Fechando com ‘chave de ouro’, o presidente brasileiro calou-se quando os seguranças do Planalto agrediram a repórter Delis Ortiz, numa tentativa truculenta de blindar Maduro do acesso da imprensa.
Em tempo: o valor da dívida da Venezuela para com o Brasil – em números sujeitos a alteração – remetem R$ 6,4 bilhões.
Deltan foi cassado por unanimidade pelo TSE face ao entendimento que o ex-procurador pediu exoneração para escapar de punições.
Não funcionou para ele a ‘presunção de inocência’ – a mesma que ele negou a vários investigados no período da Lava Jato.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, sequer o recebeu. Sua cassação é irreversível. Só ele não sabe.
Sem refresco
De acordo com o ‘Estado de Minas’, depois de um longo período de silêncio, Ciro Gomes voltou a disparar contra o presidente Lula da Silva: “Corrupção continua solta”, acrescentando, ainda, que “Lula não foi inocentado”.
Apesar das tentativas de afago de Lula ao longo da campanha, Ciro não dá refresco. Em recente palestra na Universidade Lisboa, o ex-ministro disse que “a corrupção continua solta no governo, bancada pelo Orçamento Secreto”.
Ciro Gomes ainda culpou o chefe do Executivo pelo reacionarismo no país.
Certo ou errado, o que não se pode negar é a coerência do ex-governador do Ceará para com suas convicções.
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Collor, again
Há 31 anos, em 1992, o então presidente Fernando Collor sofria impeachment, como desfecho de longos meses de turbulência política gerada por seu governo surreal e distanciado dos padrões que liturgia do cargo exige.
Foi a primeira grande crise nacional desde o fim do regime militar, em 1985. Agora, novamente Collor volta às manchetes, condenado pelo STF a uma pena de 8 anos e 10 meses por corrupção. A pena decorre de uma das ações da Lava Jato, envolvendo a BR Distribuidora, antiga subsidiária da Petrobras. Collor é acusado de ter recebido R$ 20 milhões por facilitar contratos.
Inicialmente a pena deverá ser cumprida em regime fechado. O ex-presidente não será preso imediatamente porque ainda poderá ingressar com recursos.
É prerrogativa do presidente da República indicar os ministros do Supremo Tribunal Federal. Logo, nada há que se surpreender que o presidente Lula formalize a indicação deste ou daquele nome para a Suprema Corte. Aliás, o próprio Lula já indicou vários ministros. Na semana passada, Lula escolheu o advogado Cristiano Zanin para a vaga aberta com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski.
Trata-se de procedimento perfeitamente regular, que não deve ser visto como uma espécie de premiação, mas de reconhecimento. Zanin foi seu advogado particular na maioria dos processos criminais da Lava Jato.
Além disso, foi o autor, em 2021, do pedido de habeas corpus impetrado no STF que resultou na anulação das condenações de Lula, após a Corte ter reconhecido a incompetência e parcialidade do então juiz federal Sergio Moro.
A anulação das sentenças restaurou os direitos políticos de Lula – que ficou preso por 580 dias – viabilizando sua candidatura em 2022 e a eleição para o Planalto. Por outro lado, além do critério de “notório saber jurídico”, é perfeitamente compreensível que a escolha leve em conta o alinhamento político do indicado com o governante. Foi assim com Bolsonaro.
De mais a mais, a palavra final caberá ao Senado, quando o escolhido será sabatinado.
Campos Neto
Até agora vencendo a queda de braço com o Planalto – com o PT, em particular –que num retrocesso desvairado queria retirar a autonomia do Banco Central, Campos Neto lembrou o avô, o renomado economista Roberto Campos, que evitou nos anos 60 a hiperinflação no Brasil, que ‘chegaria’ 20 anos depois com o governo Sarney.
Disse Campos Neto: “Meu avô falava: achei que vinha fazer o bem; me dei por contente em evitar o mal”
O presidente do Banco Central, certamente mandando recado aos que criticam a taxa Selic de 13,75%, lembrou “ser a primeira vez que temos surto de inflação mundial e o Brasil apresenta índices de preços abaixo da média internacional.”
(*RobertoCamposfoirenomado economista, escritor, ministro de estado, senador, deputado federal e embaixador do Brasil em Washington. Nos anos 90 esteve em Campos para proferir palestra na CDL. Na época, tive a honra de entrevistá-lo. Enviei o exemplar para ele e, dias depois, para minha surpresa, recebi um gentil cartão de cumprimento.Claro,puragentileza,muito comumemdiplomatas).