Emoções como uma forma de comunicar

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EMOÇÕES COMO UMA FORMA DE COMUNICAR



ÍNDICE Introdução Emoções Emoções, Afetos e Sentimentos Classificação das Emoções Universalidade e Diversidade de Emoções Micro-Expressões Conclusão Fontes de Informação

04 06 13 18 26 28 30 34

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INTRODUÇÃO Após tantos milhões de anos de existência,

elementos auxiliares visuais, como fotografias

o ser Humano criou inúmeros métodos de co-

e ilustrações, e citações de autores associa-

municação, desde a escrita à fala. Contudo,

dos ao assunto.

nenhum destes é tão primário e intrínseco ao

A comunicação consiste na partilha de

mesmo como as emoções, como provam os

algo, em torná-lo comum, e está directamente

bebés, cuja comunicação de necessidades

relacionada com a organização e desenvolvi-

se limita às suas expressões faciais e corpo-

mento dos sistemas sociais, sendo, para tal,

rais.

necessária a existência de um emissor e de

Assim sendo, e mediante a proposta de tra-

um receptor. É um processo através do qual

balho requerida para a cadeira de História e

se associam certos conceitos e significados

Teoria da Comunicação, sob o grande tema

a objectos, imagens, comportamentos, entre

“Comunicação”, procuraremos desenvolver

outros (é por isso que o estudo de símbolos

uma pesquisa sobre as emoções e a lingua-

sempre esteve associado à comunicação).

gem corporal, acompanhando a mesma com

Esta passa, portanto, pela transmissão de in-

4

4


formação entre indivíduos através da fala, da

vras de António Damásio, neurocientista luso-

escrita, de meios informáticos, de um código

-americano estudioso das emoções, são “con-

comum ou do próprio comportamento.

juntos de reacções corporais (algumas muito

Assim, e seguindo esta linha de pensa-

complexas) face a certos estímulos”.

mento, a linguagem corporal é uma forma de

Ao longo deste trabalho procuraremos res-

comunicação não-verbal que envolve expres-

ponder a perguntas como: qual é o funcio-

sões faciais, expressões corporais, olhares, a

namento deste tipo de comunicação? Que

postura, gestos, entre outros. Por outro lado,

emoções estão associadas a certos tipos de

uma “expressão” consiste, neste caso, na

comportamento? Esta linguagem varia con-

manifestação de pensamentos ou sensações

soante a cultura em que o sujeito está inseri-

através de gestos ou movimentos do corpo

do? É algo que é inato ou adquirido pelo su-

ou do rosto. A linguagem corporal deve a sua

jeito?

existência às nossas emoções que, nas pala-

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EMOÇÕES Na atualidade, as emoções são estudadas

Ainda assim, apesar de uma ciência, não é

como uma ciência. Contudo, nem sempre foi

exata, visto que vários fatores podem influen-

assim. De facto, somente a partir da década

ciar a leitura dos vários gestos ou expressões.

de 70 é que se começaram a realizar estudos

Por exemplo, um toque no nariz tanto pode

científicos que abrangiam as emoções, visto

significar nervosismo, alergias ou constipa-

que, por serem irracionais, considerava-se

ção, o que altera imediatamente a leitura da

que estas dificultavam o processo de pensar.

situação.

«Sem qualquer excepção, homens e mulheres de todas as idades, de todas as culturas, de todos os graus de instrução e de todos os níveis económicos têm emoções, estão atentos às emoções dos outros, cultivam passatempos que manipulam as suas próprias emoções, e governam as suas vidas, em grande parte pela procura de uma emoção, a felicidade, e pelo evitar de emoções desagradáveis.» DAMÁSIO, A., O Sentimento de Si, Europa-América, 1999, pp.55-56.

6

6


Desde o início da Humanidade que as emoções existem e a sua expressão era utilizada como método de comunicação entre indivíduos, ainda antes da invenção da fala, da escrita e da ilustração. Isto aconteceu porque as emoções são algo que nos é inato, facto que é provado pelos bebés que, devido à sua tenra idade, ainda não têm capacidade de comunicar as suas necessidades de qualquer outra forma. Assim, através do choro, do riso, do grito e das suas expressões faciais, é possível, para o receptor, determinar os seus desejos e assegurar a sua sobrevivência. Este foi um estudo desenvolvido por Carrol Izard, que observou comportamentos emotivos em crianças de tenra idade. Por ainda não se fazer notar nestas a influência do meio sociocultural, é relativamente fácil descobrir, nestas circunstâncias, de que emoção se trata.

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Mesmo já em criança, depois de aprender outros métodos mais elaborados de comunicar, por vezes recorrem à expressão das emoções para uma demonstração mais efectiva do seu estado psicológico. Pode-se então concluir que, apesar de menos precisa do que a comunicação linguística, a comunicação emocional é mais rápida e poderosa. Para além de inatas, as emoções

são também difíceis de esconder. Pequenos movimentos e gestos que fazemos involuntariamente permitem aos outros reconhecer o que estamos a sentir e, na maioria das ocasiões, é-nos muito difícil escondê-lo. Com o arquear das sobrancelhas, semicerrar dos olhos, através da alteração do tom de voz, entre muitos outros, é possível comunicar.


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Consequentemente, saber identificar e ava-

tificar algumas expressões faciais e corporais

liar emoções partindo dos vários comporta-

mais básicas, sendo que este conhecimento

mentos externos e (muitas vezes) involuntários

vai sendo enriquecido ao longo da nossa vida.

de um indivíduo traz muitas vantagens, sendo

Descrever o conceito “emoção” é algo

que permite desvendar certas características

complexo e complicado. No entanto, é possí-

dessa mesma pessoa, mesmo que esta esteja

vel determinar as suas características.

a mentir. Todos nós sabemos, à partida, iden-

TEMPO

VERSATILIDADE

Em primeiro lugar, as emoções estão re-

Caracterizam-se ainda pela sua ver-

lacionadas com o tempo, tendo um início e

satilidade, aparecendo e desaparecen-

um fim. Por exemplo, quando alguém nos

do rapidamente.

dá uma má notícia, as repercussões são mais prolongadas. Por outro lado, quando somos surpreendidos, as expressões são imediatas e nunca duram mais do que meros segundos.

INTENSIDADE Adicionalmente, as emoções variam de intensidade, permitindo-nos distinguir o receio do medo e do terror.

ALTERAÇÕES CORPORAIS

POLARIDADE Possuem ainda polaridade, ou seja, podem ser positivas (como a alegria) ou negativas (como o desgosto).

REAÇÕES As emoções são reações a situações específicas, nunca sendo, portanto, iguais.

Outra característica importante é o facto de estas se refletirem em alterações corporais, como referido anteriormente, que passam por gestos, movimentos, expressões faciais, aceleração do ritmo cardíaco, alteração do tom da voz, entre outros.

CAUSAS E OBJETOS Para além disso, têm sempre uma causa e um objeto a que se dirigem, isto é, surgem devido a algum acontecimento, pessoa, situação, etc.

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INTERPRETAÇÃO Finalmente, as emoções não são determinadas pelos factos, mas sim pela interpretação subjetiva que o sujeito faz destes.


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Finalmente, as emoções não são determi-

itens sugeridos, tais como a intensidade, a du-

nadas pelos factos, mas sim pela interpreta-

ração e a sua colocação o eixo agradável-de-

ção subjetiva que o sujeito faz destes.

sagradável. O que o sujeito sente quando está

Para tentar saber algo sobre a experiência

emocionado é altamente subjectivo, só tendo

interna da emoção, os psicólogos pedem as

ele próprio acesso ao seu estado psicológi-

pessoas que estão a estudar que caracterizem

co. Por este motivo, torna-se difícil conhecer e

o que sentem em emoções diversas, segundo

estudar a experiência consciente da emoção.

12 12


Ao contrário do que o pensamento comum dita, emoções, afetos e sentimentos não são sinónimos.

EMOÇÕES, AFETOS E SENTIMENTOS À semelhança das emoções, os afetos as-

prolongadas. Adicionalmente, os afetos não

sociam-se a relações, ou seja, uma troca que

surgem somente das relações estabelecidas

envolve dois sujeitos, o emissor e o receptor, e

com as pessoas mas também das relações

que os modifica. É algo absolutamente neces-

estabelecidas com objetos e lugares.

sário para o ser humano e, sem estas, sentirá

Por outro lado, os sentimentos são privados

sofrimento. Os afetos que estabelecemos ao

e íntimos, enquanto que as emoções, por se-

longo da nossa vida constroem a matriz da

rem dirigidas para o exterior e públicas, estão

nossa vida pessoal e a sobrevivência psico-

mais interligadas com a comunicação. Assim

lógica do ser humano funda-se nas relações

sendo, é possível observar e interpretar emo-

interpessoais.

ções, mas não é possível observar sentimen-

Os afetos exprimem-se através das emoções,

organizando-se pelas

tos.

experiências

Em oposição às emoções, que são instan-

emocionais que se repetem. São, portanto

tâneas, automáticas, de grande intensidade e

construídos ao longo do tempo, levando-nos

cuja causa é identificável, os sentimentos pro-

para o passado e estruturando a nossa vida

longam-se no tempo, têm uma menor intensi-

mental. Pelo contrário, a emoção concretiza-

dade de expressão e não se associam a uma

-se no presente, sendo experimentada como

causa imediata.

um estado intenso, mais momentâneas que

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António Damásio também distingue emo-

dessas “emoções” corporais, quando estas

ção de sentimento, associando emoções a al-

são transferidas para certas zonas do cérebro

terações corporais como, por exemplo, a ace-

onde são codificadas sob a forma de activida-

leração dos ritmos circulatório e respiratório, e

de neuronal» (DAMÁSIO, A., Entrevista a M.

alia os sentimentos à experiência consciente

Lanzen, in Cerveau & Psycho, nº 6, 2004, p.

dessas mesmas alterações. O sentimento é,

37).

portanto, a consciência ou experiência do que

Na mesma entrevista, Damásio afirma ain-

se está a passar no organismo, no momento

da que os sentimentos nascem das emoções.

da emoção. Nas suas palavras, os sentimen-

O corpo envia constantemente sinais ao cére-

tos «surgem quando tomamos consciência

bro. Cada estado do corpo tem associada a si

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uma determinada combinação de actividades

modificações dos parâmetros fisiológicos a

neurológicas distintas umas das outras, em

esta associada, informação esta gravada num

centros chamados somatossensoriais. Desta

conjunto de neurónios do córtex somatossen-

forma, cada um de nós tem um mapa distin-

sorial. Os sentimentos surgem, portanto, da

to de sentimentos: quando experimentamos

leitura destes mapas onde se relacionam as

uma determinada emoção, estamos incons-

alterações emocionais.

cientemente a memorizar a combinação de

15


“

os sentimentos tomamos consciĂŞn corpo


surgem quando ncia das emoções orais


CLASSIFICAÇÃO DAS EMOÇÕES Existe um número enorme de emoções e

ser o prazer e a dor e outros acreditam ser o

muitas teorias quanto à sua divisão em grupos

medo e a cólera. E ainda há quem apresente

e categorias. Alguns psicólogos consideram

uma lista mais alargada, incluindo seis emo-

que existem apenas duas emoções básicas,

ções primárias: cólera, tristeza, medo, alegria,

dividindo-se na sua escolha: alguns afirmam

surpresa e aversão.

A preocupação em determinar quais as emoções básicas levou à criação de critérios, tais como: — as emoções básicas têm que ser praticamente as mesmas para todas as pessoas, independentemente da cultura em que estão inseridas, obedecendo a uma espécie de padrão natural para a universalidade e generalidade;

— as emoções básicas têm que se manifestar muito cedo na vida do sujeito, sendo, portanto, inatas, e não dependendo da sua experiência.

18 18


Os psicólogos por trás do primeiro critério

Por sua vez, a cólera poderia ir da irritação

chegaram à conclusão de que todas as pes-

ao furor. Quanto a estados emocionais do polo

soas vivem e expressam a alegria e a tristeza

positivo, a felicidade poderia surgr sob a for-

de forma semelhante. Quanto ao segundo cri-

ma de calma, serenidade, prazer, alegria ou

tério, emoções como o medo e a cólera são

êxtase.

inatas, ao contrário da nostalgia e do orgulho,

À semelhança de Plutchik, António Damásio

que surgem mais tarde na vida do Homem.

também distingue as emoções entre primárias

Apesar de todos os critérios até hoje aponta-

e secundárias, sendo que o seu critério é o da

dos, não existe uma lista consensual de emo-

altura da vida em que se manifestam. Citando-

ções básicas.

-o, «começo (...) por esclarecer as diferenças

Robert Plutchik, psicólogo estadunidense,

entre as emoções que experienciamos na in-

idealizou uma lista de oito emoções básicas,

fância (...) e as emoções que experienciamos

o pressentimento, a cólera, a alegria, a sere-

em adultos, as quais se formam gradualmente

nidade, a surpresa, o medo, o pesar e a re-

alicerçando sobre os pedaços daquelas emo-

pulsa. Segundo o psicólogo, partindo destas

ções “iniciais”. Proponho chamar às emoções

oito e através da variação da sua intensidade

“iniciais” primárias e às emoções “adultas” se-

seria possível chegar a outras emoções, por

cundárias» (DAMÁSIO, A., O erro de Descar-

ele consideradas derivadas ou secundárias.

tes, Publ. Europa-América, 2011). Segundo

Desta forma, dependendo da intensidade,

este autor, as emoções primárias são inatas e

o medo poderia assumir a forma de timidez,

instintivas, correspondendo a uma espécie de

apreensão, pânico ou terror.

equipamento básico, necessário para a reação dos seres vivos ao meio de forma mais ou menos autónoma. Na mesma publicação, Damásio ainda disse que «(...) Estamos programados para reagir com uma emoção de modo pré-organizado quando determinadas características dos estímulos, no mundo ou nos nossos corpos, são detectadas». É o caso do medo, que seria, portanto, uma emoção já existente no indivíduo e determinante na fuga repentina face ao perigo. Do mesmo modo, a raiva, também inata, contribuiria para afugentar competidores perigosos. As emoções secundárias (por alguns também denominadas “sociais”), como a vergonha, o ciúme, a culpa e o orgulho, são mais complexas e envolvem uma avaliação cognitiva dos acontecimentos, o que implica associações com determinados estímulos já presenciados e com aprendizagens anteriormente feitas. 19


ALEGRIA Pés de galinha enrugados; Bochechas empurradas para cima; Movimento do músculo que orbita o olho.

SURPRESA Sobrancelhas levantadas; Olhos bem abertos; Boca semi-aberta.

CÓLERA Sobrancelhas para baixo e juntas; Brilho nos olhos; Estreitamento dos lábios.

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MEDO Sobrancelhas levantadas e próximas; Tensão das pálpebras inferiores; Lábios ligeiramente esticados horizontalmente em direcção as orelhas.

AVERSÃO Nariz enrugado; Lábio superior levantado.

TRISTEZA Pálpebras superiores descáidas; Perda de foco no olhar; Cantos da boca semi descaídos.

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COMPONENTES DAS EMOÇÕES As emoções envolvem um conjunto de componentes que varia no número e na ordem que são apresentadas. Muitos autores propõem um número de componentes distinto a este, devido ao desdobramento de algumas ou integração de outras, contudo, o conteúdo geral é o mesmo. Aqui serão descritas seis componentes da emoção:

—▷componente cognitiva. É o conhe-

— componente expressiva. Esta con-

cimento de uma determinada situação que

siste na expressão física, corporal e visível

provoca a emoção. Se o sujeito não soubes-

da emoção e tem uma função social impor-

se desse acontecimento, não experimentaria

tante, porque é uma forma de comunicação.

qualquer emoção.

O recetor, através do conjunto de expressões corporais, fica a conhecer o estado emocional

— componente avaliativa. O sujeito rea-

do emissor. Estas expressões incluem o cerrar

ge à situação em função dos seus interesses,

das mãos, franzir as sobrancelhas, alteração

valores e objetivos.

do tom da voz, entre outros.

— componente fisiológica. Perante a

— componente comportamental. Refe-

causa da emoção, o sujeito experiencia alte-

re-se ao comportamento que o sujeito toma

rações fisiológicas, isto é, manifestações or-

perante a emoção. O seu estado emocional

gânicas da emoção (que incluem alteração da

pode desencadear um conjunto de comporta-

tensão muscular, dos batimentos cardíacos,

mentos físicos, verbais ou psicológicos.

da respiração, entre outros).

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— componente subjetiva. É o estado afe-

cada uma influencia as restantes. Por este

tivo associado à emoção, o mais difícil de co-

motivo, os psicólogos fazem estudos para as

nhecer e estudar.

conhecer melhor individualmente e averiguar as consequências e as ligações entre todas

Concluindo, a emoção não se pode reduzir

como um grupo.

a nenhuma destas componentes, sendo que

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Relativamente à componente fisiológica, Baroni escreveu o seguinte: «Uma das modificações fisiológicas mais estudadas é a do chamado “reflexo galvânico cutâneo”, isto é, da condutabilidade eléctrica da pele (…). Trata-se de um fenómeno conexo do aumento do suor. Um outro índice que sofre modificações é o da irrigação sanguínea, isto é, da distribuição diferenciada do sangue entre a superfície e o interior do corpo, provocando manifestações externas, como o enrubescimento ou o seu contrário, a palidez da face. A aceleração do ritmo cardíaco e o aumento da pressão arterial estão ligados ao medo, bem como a diminuição da secreção salivar. Mesmo a motilidade gastrointestinal está ligada a fortes emoções, a ponto de longos períodos de stress poderem favorecer patologias como a úlcera; e ainda o ritmo respiratório (duração e frequência das inspirações e expirações) e a tensão muscular são índices fisiológicos que variam na presença de emoções. Outros índices não tão aparentes são a variação da composição do sangue: entre os mais comuns tem-se a alteração (…) de algumas taxas hormonais. A hormona que é influenciada de um modo mais evidente por uma experiência emocional do sujeito é a adrenalina, que tem como efeito o aumento da pressão arterial, o aumento da taxa de glicemia e permite uma coagulação mais rápida de sangue: todas as reações de preparação para combate e que, de facto, estão associadas às emoções de raiva e medo. (…) Mesmo o sistema nervoso central tem um papel na fisiologia das emoções, por exemplo, na expressão através da mímica facial.» BARONI, M. Psicologia, A. Vallardi Ed., 2000, pp. 133,135.

24 24


Efetivamente, qualquer que seja a emoção,

so autónomo e do sistema nervoso central.

faz-se sempre acompanhar de uma série de

Contudo, e apesar de mesmo variações

reações corporais ou fisiológicas (entre elas,

mínimas dos parâmetros fisiológicos serem

respiração ofegante, tremores musculares,

captadas com instrumentos laboratoriais re-

modificação da cor do rosto, dilatação das pu-

gulares, é, para já, impossível estabelecer

pilas, aceleração do ritmo cardíaco, aumento

ligações seguras entre todas as emoções e

da pressão arterial, decréscimo da secreção

um determinado padrão de reações fisiológi-

salivar, libertação de açúcar pelo fígado, rea-

cas. Isto acontece porque algumas emoções,

ções pilomotoras, alterações na resistência

como verificado no excerto anterior, têm um

elétrica da pele ou na composição química do

efeito fisiológico semelhante, o que impede a

sangue, paragem da digestão ou até estimu-

determinação precisa de qual a emoção ex-

lação das glândulas endócrinas).

perienciada pelo sujeito em questão a partir

Algumas destas alterações são facilmente

do registo das variações fisiológicas.

detetáveis pelas outras pessoas. Pelo contrá-

As emoções não só provocam um conjunto

rio, existem outras que exigem a utilização de

de reações fisiológicas no sujeito, mas tam-

instrumentos auxilares para a sua deteção,

bém são expressas através de sinais como

como o polígrafo, instrumento de observação

lágrimas, sorrisos, gestos, vozes, contracções

usado para acusar mentiras. No entanto, tal

musculares entre outros. Estes conjuntos de

como referido anteriormente, qualquer uma

sinais, quando visíveis numa pessoa, permi-

destas reações fisiológicas são coordenadas

tem-nos saber que essa mesma pessoa está

pela colaboração integrada do sistema nervo-

a viver uma emoção e adivinhar qual é. Deste

25


modo, é-lhe permitido ao sujeito comunicar os

a outras pessoas, de forma a permitir uma

seus estados emocionais sem sequer utilizar

adaptação comportamental destas e uma res-

qualquer outro tipo de comunicação, como a

posta, conforme reconhecem que a outra pes-

fala.

soa está zangada, amedrontada, estupefacta

Enquanto que algumas emoções são clara-

ou indignada.

mente identificáveis através da sua expressão

Inúmeros estudos com foco na expressão

facial, existem outras que necessitam de uma

facial das emoções parecem indicar a existên-

contextualização (como a sua causa) para se-

cia de uma certa estrutura ou padrão signifi-

rem passíveis de serem compreendidas. Por

cativos mais ou menos coerentes por trás da

exemplo, através do rubor, o franzir da testa, o

diversidade das expressões emocionais. Es-

cerrar os dentes e o aumento do tom de voz,

tes estudos visam a correta identificação dos

pode-se concluir que o sujeito está encoleri-

diferentes estados emocionais, como alegria,

zado. O medo exprime-se através do empali-

cólera, medo e repulsa, sentidos por sujeitos

decer do rosto, do suor, olhos muito abertos,

distintos, utilizando esse mesmo padrão de

voz fina e alta. Pelo contrário, no caso da aver-

sinais. Porém, nem sempre os estados emo-

são e do desprezo, a sua manifestação não é

cionais observados em fotografias são corre-

tão óbvia e característica e exigem mais in-

tamente reconhecidos, em virtude de estas

formação externa, para além das reações ex-

só apresentarem os rostos, excluindo a voz e

pressivas.

os gestos. Para se tornar mais significativa, a

Com efeito, a função mais importante da expressão emocional é, provavelmente, a comunicação dos próprios estados emocionais 26 26

expressão facial precisa de todo um contexto corporal e situacional.


UNIVERSALIDADE E DIVERSIDADE DAS EMOÇÕES Anteriormente, foi dito que as emoções bá-

tiam quando ouviam frases como: “Estás triste

sicas, como a alegria e a tristeza, eram carac-

porque o teu filho está muito doente”, “Estás

terizadas pela sua generalidade e universali-

alegre porque o teu amigo regressou”, etc.

dade, sendo expressas de forma semelhante

Quando chegou aos EUA, fez a mesma expe-

por todas as pessoas.

riência com norte-americanos, recorrendo às

Este conceito foi confirmado pelos estudos

fotografias que tirou na Nova Guiné.

do antropólogo Paul Ekman, a finais da dé-

Contrariamente à hipótese que colocara,

cada de 60. O seu estudo, desenvolvido na

concluiu que havia emoções que estavam

Universidade da Califórnia, pretendia provar

presentes e que se manifestavam de forma

que indivíduos inseridos em culturas distintas

semelhante nos dois povos que apresentavam

sentiriam emoções diferentes. Por este motivo,

culturas tão diferentes. Nas pesquisas que

decidiu deslocar-se até à Nova Guiné e, junto

desenvolveu entre diferentes culturas, testou

da tribo Foré – um grupo isolado que nunca

as expressões faciais de seis emoções bási-

contactara com ocidentais –, Ekman inicia a

cas: a cólera, a alegria, a tristeza, o medo, a

sua experiência, que consistia em contar uma

surpresa e o desgosto. O medo e a surpresa

história, apresentando de seguida fotografias

foram as emoções que o povo Foré mais difi-

de norte-americanos com diferentes expres-

culdade teve em reconhecer.

sões emocionais. Perguntava-lhes, então,

Investigações levadas a cabo por ele e

qual é que estaria mais de acordo com o sen-

pela sua equipa, bem como por outros antro-

tido da história contada. De seguida, fotogra-

pólogos, junto de mais vinte culturas espa-

fou as expressões faciais de outros indivíduos

lhadas por todo o Mundo, confirmaram o que

a quem pedia que manifestassem o que sen-

ele constatara na sua primeira pesquisa: há

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emoções que são universais, independentes

diversificados e cuja causa é a sociedade e

dos processos de aprendizagem e da cultura

a cultura em que o sujeito está inserido. Isto

onde se observam.

acontece porque todas as culturas possuem

Crianças com cegueira congénita apresen-

regras que ditam em que situações se deve

tam as mesmas expressões das crianças que

tomar determinada atitude, quais os aconte-

vêem. Por outro lado, os bebés apresentam

cimentos que são susceptíveis de provocar

desde muito cedo expressões muito seme-

certa emoção, entre outros. Compreende-se,

lhantes às dos adultos, tal como foi comprova-

por este motivo, que os significados das ex-

do por Carrol Izard, o que confirmaria a exis-

pressões faciais e da linguagem corporal va-

tência de um património comum ao nível das

riem de cultura para cultura. Por exemplo, um

emoções e da sua expressão facial.

desgosto profundo pode ser sentido de forma

De notar que Ekman não exclui a influência

igual por pessoas de diferentes países. Con-

da cultura na expressão das emoções. Há re-

tudo, a forma como este é expresso varia de

gras que orientam a sua manifestação, e isto

local para local.

não contraria o fundamental da sua teoria. Ou

Efetivamente, Otto Kineberg, analisando a

seja, apesar da universalidade da alegria, da

cultura chinesa, concluiu que, em oposição ao

tristeza e de outras emoções como estas, há

que se verifica na nossa cultura, a inquietação

outras cujos comportamentos emotivos são

ou a decepção podem ser expressas pelo ba-

«Ainda que as culturas compartilhem uma linguagem facial universal, diferem no modo e na intensidade com que a usam. Nas culturas que encorajam a individualidade, como é o caso da Europa Ocidental, Austrália, Nova Zelândia e América do Norte, as expressões emocionais costumam ser intensas e prolongadas. As pessoas concentram a atenção nos seus próprios objectivos e atitudes e expressam-se de acordo com isso. Na Ásia e noutras culturas em que a ênfase se coloca nas relações de interdependência social, a exteriorização de emoções como a simpatia, o respeito e a vergonha são mais usuais que no Ocidente. Mais ainda, os asiáticos quase nunca exprimem os sentimentos que acentuem a importância do eu ou que sejam negativos e possam, portanto, prejudicar o sentimento comunitário dos grupos fortemente unidos.» MYERS, D. G., Psychologu, Worth Publishers

timento de palmas, a cólera pelo riso e a sur-

gesto positivo, noutras pode ser considerado

presa deitando a língua de fora. Enquanto que

negativo e insultuoso.

na nossa sociedade o polegar levantado é um

28 28


Em muitas circunstâncias, é imposto ao

Concluindo, o condicionamento social im-

indivíduo pela sociedade que racionalize os

plica uma modificação das reações naturais

impulsos emotivos e adopte expressões que

da emoção, impondo-lhe características que

denotem polimento e educação. Pode mesmo

estão relacionadas com a cultura em que o

exigir uma reação completamente oposta à

sujeito vive. Nas expressões emotivas adqui-

emoção que o indivíduo está a experienciar,

ridas por imitação dentro do contexto social,

como no caso de um sorriso, quando na ver-

a acção de racionalização provém do córtex

dade o sujeito se encontra furioso.

cerebral.

29


MICRO-EXPRESSÕES Micro-expressões são expressões faciais

abordar foi o tocar a cara com o dedo do meio.

breves e involuntárias, reflectidas no rosto

O gesto de levantar o dedo do meio a alguém

do ser humano quando este tenta omitir uma

é conhecido como sendo um gesto de ódio.

emoção. Costumam acontecer em momentos

Muita gente faz este gesto sem se aperceber,

de tensão e são muito mais difíceis de disfar-

principalmente quando essas pessoas se en-

çar que as expressões faciais normais. Como

contram perante um público, como é o caso

estes movimentos duram tão pouco tempo

de alguns políticos. Um dos exemplos mais

(cerca de um quinto de segundo) a sua aná-

mediáticos foi o caso de Barack Obama, que

lise nem sempre é a mais acertada, pelo que

fez esse mesmo gesto, sem se aperceber, ao

muitas vezes se recorre ao auxílio de fotogra-

falar de McCain. Apesar de parecer um sim-

fias ou vídeo. Mesmo assim, a sua leitura pode

ples coçar da boca, este gesto consiste num

ser influenciada por vários fatores. Por exem-

reflexo corporal inconsciente, cuja causa é a

plo, um coçar do nariz pode significar que a

necessidade de suprimir a raiva.

pessoa está a mentir, pois quando se mente,

A segunda micro-expressão que quisemos

é comum ficar-se com comichão no nariz. Po-

estudar foi a expressão de raiva contida. Se

rém, a pessoa pode coçar o nariz por estar

alguém está irritado mas quer esconder esse

constipado, ter alergias ou alguma irritação no

facto, tentando controlá-lo, a sua boca irá fi-

nariz. Isto muda logo a interpretação da situa-

car na posição de tristeza, com os cantos dos

ção. Optamos então por seleccionar algumas

lábios descaídos, olhando para baixo e com

micro-expressões e falar um pouco sobre elas,

os olhos fechados ou semi-fechados. Passa-

dando como exemplos imagens de celebrida-

mos para o gesto de coçar o pescoço: neste

des e políticos para as ilustrar.

caso, o dedo indicador coça por baixo da ore-

A primeira micro-expressão que decidimos 30 30

lha e/ou mesmo o pescoço. Este é um sinal


de dúvida ou incerteza. Costuma ser bastante

te quando se fala sobre Edward Snowden, o

visível quando a linguagem verbal contradiz a

ex-analista da NSA que revelou detalhes dos

gestual. (Exemplo de Putin durante a sua Con-

programas de vigilância do governo dos Esta-

ferência de imprensa anual, mais precisamen-

dos Unidos).

Levantar o dedo do meio

Levantar o dedo do meio

Dúvida ou incerteza

Levantar o dedo do meio

Raiva contida

31


Passaremos agora ao exemplo de Lance Armstrong, durante várias entrevistas que deu relativamente ao seu caso de doping. Várias foram as micro-expressões expressadas por Armstrong, muitas delas contradizendo o que saía da sua boca. A expressão mais obvia é o desdém que este demonstra. Em diversos pontos durante a entrevista, um canto da boca de Armstrong puxado para cima e enrolado para dentro, quase como um sorriso. Esta

desdém

expressão facial involuntária é um indicador universal de desprezo. “O desprezo é a superioridade moral, vemos isso muitas vezes em mentirosos, porque eles estão a tentar justificar as suas ações.”

Outro dos comportamentos contraditórios que Armstrong teve foi o abanar a cabeça inapropriadamente,

contradizendo-se.

Isto

aconteceu quando Oprah lhe pergunta se sentia que tinha feito batota ao utilizar PED’s (performance enhancing drugs), ao que ele respondeu que não, mas acenando afirmativamente com a cabeça (para cima e para baixo), contradizendo assim a sua resposta. Para finalizar, decidimos apresentar uma úldesconfor to e stress

tima expressão presente na mesma entrevista: comum de stresse ou desconforto. Armstrong fê-lo quando Oprah Winfrey perguntou o que ele estava a fazer quando processou pessoas que o tinham acusado de utilizar doping.

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CONCLUSÃO As emoções constituem um aspeto tão

mos comunicar com os outros sem nada dizer,

complexo do ser humano que são objeto de

e mesmo sem muitas vezes o querermos fa-

várias interpretações que se organizam em

zer, por ser algo tão involuntário que por mais

várias perspetivas. O seu estudo encontra

que tentemos não o conseguimos esconder.

múltiplos desafios, com muitas respostas por dar e outras por refutar.

Tudo o que sentimos é reflectido para o exterior, e ter noção disso faz com que con-

Contudo, um aspeto inegável e inerente

sigamos compreender melhor os outros e a

às emoções é o facto de servirem como um

nós mesmos. Isto pode ser bastante vantajo-

método de comunicação, já utilizado desde

so para toda a gente pois se aprendêssemos

o início da Humanidade e desde que somos

a interpretar micro-expressões, posições do

bebés. Mesmo após a criação de outros mé-

corpo, tiques, poderíamos compreender-nos

todos de comunicação, este persiste e ajuda-

muito melhor: conseguiríamos distinguir um

-nos, como nenhum outro, a perceber os pro-

sorriso verdadeiro de um sorriso forçado; a

cessos emocionais pelos que as pessoas que

verdade da mentira.

nos rodeiam estão a passar.

Mas será que isso é sempre favorável?

Após a realização deste trabalho, sentimos

Queremos nós que qualquer pessoa nos con-

que conseguimos responder a muitas ques-

siga ler assim tão facilmente? Será que com

tões que tínhamos por responder e que en-

o treino conseguimos controlar as nossas ex-

contrámos outras novas.

pressões corporais? Se sim, como consegui-

Demos conta de que, mesmo que nunca tenhamos pensado muito sobre isso, consegui-

ríamos perceber se alguém está realmente a falar a verdade?

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FONTES DE INFORMAÇÃO — BARONI, M. Psicologia, A. Vallardi Ed., 2000, pp. 133,135 — DAMÁSIO, A., Entrevista a M. Lanzen, in Cerveau & Psycho, nº 6, 2004, p. 37 — DAMÁSIO, A., O Sentimento de Si, Europa-América, 1999, pp.55-56 — MONTEIRO, M. M. e FERREIRA, P. T., Ser Humano, vol. 2, Porto Editora, 2006, pp. 67-84 — ABRUNHOSA, M. A e LEITÃO, M. Psicologia B, vol. 1, 12º ano, Edições ASA, 2009, pp. 185196

— DAMÁSIO, A., O erro de Descartes, Publ. Europa-América, 2011 — http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/comunica%C3%A7%C3%A3o — http://www.academia.edu/9501964/Desvendando_os_Segredos_da_Linguagem_Corporal — http://www.academia.edu/5469319/Ant%C3%B3nio_Ferreira_-_Estudos_de_Express%C3%B5es_Faciais_para_Anima%C3%A7%C3%A3o_3D_CONFIA_2013

— http://www.academia.edu/5549086/A_Linguagem_do_Corpo — http://pt.wikipedia.org/wiki/Linguagem_corporal — http://pt.wikipedia.org/wiki/Microexpress%C3%A3o — http://pt.wikipedia.org/wiki/Comunica%C3%A7%C3%A3o — http://ernopaulinyi.com/2013/07/02/2/ — http://www.significados.com.br/linguagem-corporal/ — http://www.mindtools.com/pages/article/Body_Language.htm — http://www.paulekman.com/micro-expressions/ — http://pt.slideshare.net/kaurwakee/reading-microexpressions-lie-to-me-session-barcammumbai

— http://microexpressoes.pt/consegue-fingir-as-microexpressoes/ 37


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Clara Junqueira (up201404618)

História e Teoria da Comunicação Professor: Pedro Góis

Eva Tavares (up201405017) Maria Teresa Teixeira (up201403599)

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FBAUP - Design de Comunicação 1º ano

2014/2015




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